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GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autoria: Magnus dos Reis CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Cristiane Lisandra Danna Norberto Siegel Camila Roczanski Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Bárbara Pricila Franz Marcelo Bucci Revisão de Conteúdo: Bárbara Pricila Franz Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2018 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 22 R357g Reis, Magnus dos Gestão estratégica de pequenas empresas / Magnus dos Reis. Indaial: UNIASSELVI, 2018. 130 p. : il ISBN 978-85-53158-06-5 1.Gestão Empresarial. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. Magnus dos Reis Doutor em Economia Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGE/ UFRGS). Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), com ênfase em Economia e Finanças, e mestrado em Economia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (PPGE/UNISINOS), área de Concentração, Organização Industrial e Economia Internacional. Tem experiência na área de Economia Internacional, modelos matemáticos e Econometria. Autor de diversos artigos publicados nas principais revistas de economia do país (Estudos Econômicos – USP, Revista Brasileira de Economia – FGV e Pesquisa e Planejamento Econômico – IPEA). Profissionalmente, atua há mais de 10 anos como pequeno empresário do setor industrial, sendo responsável pelas áreas financeira, fiscal e coordenação de equipes. Sumário APRESENTAÇÃO ..........................................................................01 CAPÍTULO 1 Introdução à Gestão Estratégica ............................................09 CAPÍTULO 2 Planejamento Estratégico ........................................................37 CAPÍTULO 3 Pessoas, Lideranças e Dinâmica ................................................97 APRESENTAÇÃO Os novos padrões econômicos e a globalização internacional têm transformado o mundo dos negócios no século XXI, impondo grandes desafios às empresas. Existem vários exemplos na história de empresas que possuíam sólida atuação e tecnologia de ponta na indústria, e que, em um determinado momento, foram surpreendidas por novos ou antigos concorrentes, quando esses lançaram produtos diferenciados ou bens com tecnologia superior ao mercado. Essas empresas retardatárias tiveram que se reinventar rapidamente, sob pena de encerrarem suas atividades. É o caso de algumas empresas fabricantes de videocassetes, que assistiram à margem a criação dos CDs e DVDs, uma nova tecnologia que proporcionou melhor imagem e mais capacidade de armazenamento que as fitas cassetes. Esses novos produtos dominaram o mercado rapidamente, requerendo uma reação estratégica rápida das empresas retardatárias. Esse processo de ciclo de vida dos produtos não é recente. Joseph Schumpeter, economista austríaco, em seu livro Capitalismo, Socialismo e Democracia, publicado em 1942, criou o conceito de destruição criativa, que justamente trata dessas questões relacionadas à inovação nos mercados. Essas transformações se tornaram mais intensas e frequentes, incorrendo em maiores incertezas e riscos desde a última década do século XX. Entretanto, o ciclo de vida dos produtos é apenas um dos desafios enfrentados pelas empesas. A natureza dos desafios enfrentados pelas empresas pode ser considerada diversa, estando relacionada com novos hábitos e costumes, por exemplo, consumo de alimentos mais saudáveis, com uma nova tecnologia (o caso do DVD), diferenciação de produtos (a gasolina aditivada), custos mais baixos de produção, questões ambientais e legais etc. Todos esses aspectos podem fazer com que uma empresa que, antes era sólida no mercado, torne-se insolvente, ou ainda, vivencie uma perda de rendimento e Market Share, por exemplo. Uma forma de mitigar esses possíveis problemas e tornar a empresa constantemente competitiva no mercado é através do planejamento estratégico, e de fato, as evidências convergem para isso, uma vez que quanto mais intensa a concorrência na indústria, mais útil pode ser a utilização do planejamento estratégico, isso porque, normalmente, as empresas bem-sucedidas são aquelas capazes de não somente se transformar, mas também transcender todos esses desafios. De modo geral, o planejamento estratégico estabelece as principais diretrizes que podem resultar em vantagens competitivas e sustentabilidade do negócio a longo prazo. Nos próximos capítulos, vamos estudar o planejamento estratégico, que é uma administração gerencial que se preocupa em formular objetivos, estabelecer estratégias, executar ações, monitorar resultados, levando em conta as condições internas e externas da empresa e considerando a visão que a mesma tem para o futuro. Contudo, o sucesso do planejamento estratégico depende, fundamentalmente da aceitação de todos os colaboradores, assim, será compreendido de forma permanente. Dessa forma, esse livro apresenta todas as etapas do processo de planejamento estratégico, tornando-se um guia para elaborá-lo em pequenas e médias empresas. Além disso, são demonstradas diversas ferramentas e ações utilizadas por grandes empresas, apresentando o que existe de mais relevante e atual no campo da gestão estratégica, através de uma abordagem aplicável em pequenas empresas. Bons estudos! CAPÍTULO 1 Introdução à Gestão Estratégica A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Definir estratégia. � Conhecer a evolução e as origens do pensamento estratégico. � Compreender a importância do planejamento estratégico para uma empresa. � Debater amplamente sobre o conceito de estratégia. 10 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS 11 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Contextualização No Brasil, as pequenas empresas são fundamentais para a economia, pois além de estarem em maior número nos mercados, elas são as que mais empregam. Curiosamente é notório que as pequenas empresas têm essa importância na economia nacional, o cenário econômico brasileiro é mais hostil à atividade empresarial justamente para as pequenas empresas, pois elas não conseguem atuar e se defender de forma eficiente como as grandes corporações fazem. O ambiente é adverso devido a diversos fatores, entre os quais encontram-se, por exemplo, as instituições econômicas e políticas que proporcionam incentivos errados à atividade empresarial, lentidão do judiciário e legislação arcaica, alta carga tributária (além de complexa), recursos escassos e baixa capacidade de investimento, o que dificulta a inovação. Independentemente do tamanho da empresa, as firmas possuem uma estratégia para atuarem no mercado. Essa estratégia pode ser explícita ou implícita, ou seja, ela pode ter sido criada através de um planejamento estratégico ou pode ter surgido durante o funcionamento dos diversos departamentos da empresa, especificamente no caso da estratégia implícita, a mais comum em pequenas empresas. Cada departamento funcional buscará métodos que maximizem seu funcionamento, entretanto nemsempre a soma desses métodos reproduz a estratégia ótima, ou seja, a estratégia definida por um planejamento. Nesse sentido, esse capítulo tem como ponto nevrálgico demonstrar como a estratégia está relacionada com as empresas. Serão apresentadas algumas definições relacionadas à estratégia, além de descrever as origens e a evolução do pensamento estratégico. Serão debatidas as necessidades, por exemplo, o desenvolvimento e as escolas do pensamento estratégico, e finalmente, como são descritas as estratégias competitivas genéricas. Definição e Relevância da Estratégia As empresas de um determinado mercado competem diariamente por insumos, recursos financeiros, fatores de produção, clientes e fornecedores, prestígio e imagem. O grau de concorrência dessa indústria depende das cincos forças competitivas básicas que foram propostas por Porter (2004). Essas forças serão apresentadas mais detalhadamente no próximo capítulo, a questão fundamental é saber que além da intensa e constante competição na indústria, os mercados são dinâmicos e repletos de incertezas, devido às rápidas mudanças que ocorrem na sociedade, na estrutura dos mercados, na tecnologia e na economia, além das constantes e mais rigorosas exigências e demandas por parte dos órgãos ambientais e dos consumidores, em busca de produtos sustentáveis, biodegradáveis e saudáveis à saúde do ser humano. 12 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Dessa forma, para as empresas manterem ou conquistarem maiores participações no mercado, elas deverão, necessariamente, propor inovações, na melhor das hipóteses, ou pelo menos acompanhar as transformações do mercado, sob pena de serem extintas da indústria. Para superar tudo isso, a empresa deverá ter uma excelente estratégia de atuação no mercado, possivelmente através de uma das estratégicas genéricas. Entretanto, antes de apresentar essas estratégias competitivas genéricas, é necessário definir o que é estratégia. A definição de estratégia no dicionário, conforme Ferreira (2010, p. 879), é a seguinte: Arte militar de planejar e executar movimentos e operações de tropas, navios e/ou aviões, visando alcançar ou manter posições relativas e potenciais bélicos favoráveis a futuras ações táticas sobre determinados objetos. Arte militar de escolher onde, quando e com quem travar um combate ou uma batalha. Arte de aplicar os meios disponíveis com vista à consecução de objetos específicos. Arte de explorar condições favoráveis com o fim de alcançar objetivos específicos. Usualmente, percebe-se que a palavra estratégia é utilizada em diversas situações e conjunturas, tais como políticas, guerras, jogos e esportes. De modo geral, uma característica comum a qualquer um desses contextos é que a estratégia envolve alcançar um determinado desempenho competitivo, e de fato, estratégia e competição têm uma longa história de relações e pode ser observada sob o prisma biológico, militar, político, esportivo e, mais recentemente, empresarial, conforme destacaram Chiavenato e Sapiro (2009). Entretanto, o conceito de estratégia no ambiente empresarial é um pouco mais abrangente. Para Andrews (1987), estratégia organizacional é um padrão de escolhas que determina e demonstra os propósitos, objetivos e metas organizacionais que, por sua vez, geram um plano de ações, no qual é definido o conjunto de atividades que a empresa executará. Ainda, a estratégia organizacional define a empresa em termos econômicos, humanos e tecnológicos, além de estabelecer a natureza das contribuições econômicas e não econômicas a serem oferecidas aos seus acionistas, funcionários, clientes e sociedade. Ainda, Chiavenato e Sapiro (2009, p. 4) definem estratégia da seguinte maneira: A estratégia é basicamente um curso de ação escolhido pela organização a partir da premissa de que uma futura e diferente posição poderá oferecer ganhos e vantagens em relação à situação presente. A estratégia é ao mesmo tempo uma arte e uma ciência, é reflexão e ação, ou simplesmente pensar para agir e não simplesmente pensar antes de agir. Essencialmente, a estratégia é uma escolha que envolve toda a organização e consiste em selecionar, dentre várias hipóteses existentes, qual 13 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 deve ser escolhida a respeito dos aspectos internos e externos da organização e tomar decisões com base nessa opção. Portanto, estratégia pode ser definida como um conjunto de metas e ações, as quais definem como a empresa pretende alcançar os objetivos almejados na Administração Estratégica. É a definição da rota, a organização dos recursos organizacionais para a caminhada da empresa no mercado. Vale a pena observar também como a definição de estratégia, no contexto empresarial, evoluiu ao longo dos anos, conforme pode ser observado no quadro a seguir: Quadro 1 – Evolução da definição de estratégia no contexto empresarial Autores Definição de Estratégia Barnard (1938) Estratégia é o que importa para a eficácia da organização, seja do ponto de vista ex- terno, em que salienta a pertinência dos objetivos face o meio envolvente, ou do ponto de vista interno, no qual salienta o equilíbrio da comunicação dos membros da organi- zação e a vontade de contribuir para a ação e para a realização de objetivos comuns. Von Neumann e Morgenstern (1947) Estratégia é uma série de ações realizadas por uma empresa conforme uma situação em particular. Drucker (1954) Estratégia é a análise de situação atual e de mudanças, se necessárias. Incor-pora-se a esta análise os recursos disponíveis e os que precisam ser adquiridos. Chandler (1962) Estratégia é a fixação de objetivos básicos de longo prazo de uma empresa e a adoção de ações adequadas e recursos para atingir esses objetivos. Ansoff (1965) Estratégia é um conjunto de decisões determinadas pelo mercado do produto a comercializar, crescimento objetivado, vantagens competitivas da organização e sinergia organizacional. Mintzberg (1967) Estratégia é a soma das decisões tomadas por uma organização em todos os aspectos, tanto comerciais como estruturais, sendo que a estratégia evolui de acordo com o processo de aprendizado do gestor da firma. Cannon (1968) Estratégias são as decisões voltadas à realização de ações direcionadas, que são requeridas para que a empresa seja competitiva e alcance os seus objetivos. Learned, Chris- tensen, Andrews e Guth (1969) Estratégia é o conjunto de objetivos, propostas, macro diretrizes e planos para alcançar estes objetivos, que declara em qual caminho a empresa deve seguir, ou qual é o tipo de negócio da empresa, ou ainda o que a empresa quer ser. Newman e Logan (1971) Estratégias são planos que veem o futuro e antecipam mudanças. Oferecem ações que levam a vantagens competitivas para aproveitar uma ou mais opor- tunidades, e são integradas na missão da organização. Schendel e Hatten (1972) Estratégia é definida como os objetivos básicos da organização, as diretrizes para orientar as ações e atingir estes objetivos, e a alocação de recursos para a organização se relacionar com seu ambiente. Uyterhoeven, Ack- erman e Rosen- blun (1973) Estratégia é prover direção e coesão na empresa, é composta por diversos pas- sos: identificar os vários perfis estratégicos, realizar uma previsão estratégica, au- ditar os recursos disponíveis, avaliar as alternativas de possíveis estratégias, testar a consistência das estratégias potenciais, realizar a escolha da estratégia a seguir. Ackoff (1974) Estratégia é ligada aos objetivos de longo prazo e os caminhos para con-quistá-los, e que afetam toda a organização. Paine e Naumes (1975) Estratégias são macro ações ou padrões de ações para o atingimento dos objetivos da empresa. McCarthy, Minichello e Cur- ran (1975) Estratégiaé uma análise do ambiente onde está a organização, e seleção de alternativas que irão orientar os recursos e objetivos da organização, conforme o risco e possibilidades de lucros, e viabilidade que cada alternativa oferece. Glueck (1976) Estratégia é um plano de unificação, compreensão e integração da empresa, desenhado para assegurar que os objetivos da organização serão alcançados. 14 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Michel (1976) Estratégia é a decisão sobre quais recursos devem ser adquiridos e usados para que se possam tirar proveito das oportunidades e minimizar fatores que ameaçam a consecução dos resultados desejados. McNichols (1977) Estratégia está inserida em uma formulação de políticas: ela contém uma série de decisões que refletem os objetivos básicos do negócio da organização, e como utilizar as capacidades e recursos internos para atingir estes objetivos. Steiner e Miner (1977) Estratégia é a formulação das missões, propósitos e objetivos organizacionais básicos; políticas e programas para atingi-los; e métodos necessários para as- segurar que as estratégias serão implementadas para se conseguir atingir os objetivos organizacionais. Ansoff (1979) Estratégia é um conjunto de regras de tomada de decisão em condições de desconhecimento parcial. As decisões estratégicas dizem respeito à relação da empresa com seu ecossistema. Mintzberg (1979) Estratégia é uma mediação de forças entre a organização e seu ambiente: estabelece padrões consistentes de decisões organizacionais conforme o am- biente vivenciado. Schendel e Hofer (1979) Estratégia provê sugestões de direções para a organização, que permite à em- presa alcançar seus objetivos e responder às oportunidades e ameaças do ambiente externo. Bracker (1980) Estratégia tem duas características: uma análise situacional ou ambiental que determina a posição da empresa no mercado; o uso apropriado dos recursos da empresa para alcançar os seus objetivos. Hambrick (1980) Estratégia é o padrão de decisões que orientam a organização em seu relacio- namento com o ambiente, afetam os processos e as estruturas internas, assim como influenciam no desempenho das organizações. Porter (1981) Estratégia é a escolha da firma de variáveis de decisão-chave, como preço, promoção, quantidade e qualidade. A empresa, para ter bom desempenho, deve se posicionar corretamente na sua indústria. Mintzberg e McHugh (1985) Estratégia é um padrão em uma corrente de ações ou decisões. Desconsidera possibilidades de diferentes estratégias para condições ambientais diversas. Porter (1985) Estratégia é um conjunto de ações ofensivas ou defensivas para criar uma posição defensável numa indústria, para enfrentar com sucesso as forças com- petitivas e, assim, obter um retorno maior sobre o investimento. Fahey (1989) Estratégia explicita como a empresa utilizará os seus recursos e capacidades para construir e sustentar as vantagens competitivas que influenciarão de for- ma favorável às decisões de compra dos clientes. Henderson (1989) Estratégia é, sob o enfoque emergente, o uso da imaginação e da lógica para responder ao meio ambiente de tal forma que se gere como resultante uma vantagem competitiva para a empresa. Ansoff e McDonell (1990) Estratégia é um conjunto de regras de tomada de decisão para orientação do comportamento de uma organização. Há quatro tipos distintos de regras: padrões pelos quais o desempenho presente e futuro da empresa é medido (objetivos, metas); regras para desenvolvimento da relação com seu ambiente externo (estratégia de produto e mercado, ou estratégia empresarial); regras para o estabelecimento das relações e dos processos internos na organização (conceito organizacional); regras pelas quais a empresa conduzirá suas ativi- dades do dia a dia (políticas operacionais). Andrews (1991) Estratégia é o padrão de decisão em uma empresa que determina e revela seus objetivos, propósitos ou metas, produz as principais políticas e planos para a obtenção dessas metas e define a escala de negócios em que a empre- sa deve se envolver, o tipo de organização econômica e humana que pretende ser, assim como a natureza da contribuição econômica e não econômica que pretende proporcionar a seus acionistas, funcionários e comunidades. Henderson (1991) Estratégia é a busca deliberada por um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem competitiva de uma empresa. As diferenças entre a organi- zação e seus competidores são a base da sua vantagem competitiva. 15 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Mintzberg e Quinn (1991) Estratégia é um modelo ou plano que integra os objetivos, as políticas e as ações sequenciais de uma organização, em um todo coeso. Rumelt, Schendel e Teece (1994) Estratégia é a definição da direção das organizações. Isso inclui assuntos de preocupação primária para o gestor, ou qualquer pessoa que busque razões para o sucesso e fracasso entre as organizações. Thompson Jr. e Strickland III (1995) Estratégia é um conjunto de mudanças competitivas e abordagens comerciais que os gerentes executam para atingir o melhor desempenho da empresa. É o plane- jamento do jogo de gerência para reforçar a posição da organização no mercado, promover a satisfação dos clientes e atingir os objetivos de desempenho. Miller e Dess (1996) Estratégia é um conjunto de planos feitos ou decisões tomadas num esforço para ajudar as organizações a atingirem seus objetivos. Porter (1996) Estratégia significa desempenhar atividades diferentes das exercidas pelos ri-vais ou desempenhar as mesmas atividades de maneira diferente. Wright, Kroll e Par- nell (1997) Estratégia é o conjunto de planos da alta administração para alcançar resulta- dos consistentes com a missão e os objetivos gerais da organização. Mintzberg, Ahl- strand e Lampel (1998) Estratégia é força mediadora entre a organização e o seu meio envolvente, centrando-se nas decisões e ações que surgem naturalmente. A formação da estratégia não se limita aos processos intencionais, mas pode ocorrer como um padrão de ações formalizadas ou não. Barney (2001) Estratégia é a teoria da firma de como competir com sucesso. Considera tam- bém o desempenho como um fator influenciado pela estratégia, já que se pode considerar que competir com sucesso significa ter um desempenho satisfatório. Fonte: Adaptado de Mainardes, Ferreira e Raposo (2011). Apresentadas as diferentes formas de definição de estratégia, parte-se agora para conhecer algumas estratégias genéricas competitivas que podem ser utilizadas pela empresa para atuar de forma competitiva na indústria. Atividades de Estudos: 1) Com suas próprias palavras, defina estratégia. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Qual a importância da estratégia para uma empresa? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 16 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS a) Estratégias Competitivas Genéricas Para Porter (2004), as estratégicas genéricas são métodos desenvolvidos para que uma determinada empresa consiga superar seus concorrentes em um determinado mercado. O autor argumenta, ainda, que uma empresa pode superar os demais competidores através de três abordagens estratégicas genéricas: i. Liderança no custo total. ii. Diferenciação. iii. Enfoque.Vale destacar que, embora seja possível, raramente uma empresa consegue utilizar com sucesso duas dessas abordagens ao mesmo tempo. Isso ocorre porque a empresa só será bem-sucedida se todos os seus gestores e colaboradores estiverem engajados em um mesmo objetivo e, quando duas estratégias ou mais forem definidas, o comprometimento total e as disposições organizacionais de apoio serão diluídos, dificultando colocar em prática as estratégias consideradas ótimas para a empresa, isso é, aquelas que maximizam seu lucro. Assim, deve-se analisar as características de cada uma dessas estratégias para que o administrador possa conhecê-las e, dessa forma, saiba escolher aquela que mais se adapte à empresa. O foco central da estratégia de liderança de custos é atingir um custo mais baixo em relação aos concorrentes. A Black and Decker e a Du Pont são exemplos de empresas que utilizaram com sucesso a liderança de custos. Essa estratégia tornou-se popular nos anos 1970 devido à difusão do conceito da curva de experiência – ou curva de aprendizado – como também é conhecida. A curva de aprendizagem relaciona as quantidades de insumos necessárias para produzir uma unidade de produto à medida que aumenta a produção cumulativa da empresa. Formalmente, essa relação pode ser expressa pela seguinte equação: A e β são constantes, sendo A > 0 e 0 < β < 1, CMe é custo médio unitário de produção e N representa a quantidade acumulada de produção. Ainda, o custo variável de produção da primeira unidade produzida é representado pelo A e β representa elasticidade de experiência, ou seja, a variação percentual do custo médio para um aumento de 1% no volume acumulado de produção. Perceba que o que determina a magnitude das reduções de custo atingidas através de uma maior experiência é a inclinação da curva de aprendizado, isto é, através do parâmetro β. CMe = AN –β As estratégicas genéricas são métodos desenvolvidos para que uma determinada empresa consiga superar seus concorrentes em um determinado mercado. O foco central da estratégia de liderança de custos é atingir um custo mais baixo em relação aos concorrentes. A curva de aprendizagem relaciona as quantidades de insumos necessárias para produzir uma unidade de produto à medida que aumenta a produção cumulativa da empresa. 17 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Figura 1 – Curva de aprendizagem CMe N Fonte: O autor. Enquanto as economias de experiência referem-se às vantagens de custo originárias da experiência acumulada em longo período de tempo, as economias de escala referem-se às vantagens em termos de custos que surgem da produção de um volume maior de produtos, dado um período de tempo. O termo economia de escala descreve as situações nas quais o custo médio unitário de produção diminui à medida que a produção aumenta. Dessa forma, as economias de escala seriam representadas, graficamente de forma semelhante à apresentada na Figura 1, porém a economia de escala tem origem nas propriedades físicas das fábricas, na necessidade de utilização de insumos indivisíveis e na especialização do trabalho que, nesse caso, está intimamente relacionada com a curva de aprendizagem. Ainda, dependendo de cada caso, as economias de escala podem ser preponderantes em determinada empresa, mesmo quando as economias de aprendizado são pequenas. Provavelmente, isso ocorre em processos produtivos nos quais são intensivos em capital. Ao contrário, a economia da experiência será preponderante quando o processo produtivo for intenso em mão de obra. O termo economia de escala descreve as situações nas quais o custo médio unitário de produção diminui à medida que a produção aumenta. A curva de aprendizado também pode ser analisada através de um gráfico. Suponha que o eixo vertical mensure o custo médio unitário de produção (CMe), enquanto o eixo horizontal representa a produção acumulada de determinado produto (N). A Figura 1 apresenta um exemplo de curva de aprendizagem, portanto as economias de experiência, ou de aprendizado, referem-se às vantagens de custo originárias da experiência acumulada ao longo de um período, possibilitando que a empresa obtenha um custo menor que as concorrentes: 18 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Entretanto, a liderança no custo total não ocorre exclusivamente através da curva de aprendizado, pois para colocar essa estratégia em prática, será necessária uma série de outros requisitos, recursos e habilidades, além de uma intensa atenção administrativa ao controle de custos. Assim, a empresa deverá adotar/atingir uma série de outras medidas/metas, por exemplo, manter-se com um grande Market Share; atender a todos os principais clientes do mercado de modo a expandir o volume de produção; ter um acesso favorável à matéria-prima; realizar um investimento pesado e sustentado em equipamentos de última geração; contratar e manter bons engenheiros de processo; projetar produtos fáceis de serem produzidos; acesso ao capital; possuir instalações que proporcionem uma escala eficiente; controle rígido das despesas gerais; estabelecer um sistema de distribuição com baixo custo; criar incentivos baseados em metas estritamente quantitativas; fixar preços agressivos; estar sujeito a encarar prejuízos iniciais para consolidar sua parcela de mercado e economizar nas compras. Visto que, com uma grande parcela do mercado, a quantidade de insumos comprados pela empresa aumentará, permitindo barganhar um preço melhor. O Market Share de uma empresa é um conceito que mensura o grau de participação da empresa no mercado em que ela atua. Usualmente, considera-se o volume de vendas de um determinado produto da empresa sobre o total movimentado desse produto no mercado, de modo a encontrar a fração do mercado atendida pela empresa. A empresa, ao produzir a um custo menor que os concorrentes, proporciona retornos maiores que a média de sua indústria, apesar da presença de intensas forças competitivas. Essa condição proporciona à empresa uma defesa contra seus concorrentes por diversos motivos. O primeiro deles, a proteção contra a rivalidade dos concorrentes, surge porque seus custos mais baixos permitem obter retornos depois que seus concorrentes tenham consumido seus lucros com uma maior competição na indústria. A empresa também estará mais protegida a qualquer tentativa de lobby dos grandes compradores (clientes) desse mercado, através do significativo poder de barganha que esses clientes têm sobre a empresa, porque esses compradores só poderiam fazer com que a empresa reduzisse seus preços ao nível do concorrente mais eficiente. 19 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Lobby é o nome atribuído à prática de influência formal ou informal que um grupo de interesse pode fazer sobre empresas, entidades, pessoas físicas, segmentos da sociedade ou governo, com o objetivo de interferir diretamente em determinadas decisões ou situações. Relacionado ao governo, em especial ao poder legislativo, o lobby ocorre em favor de causas ou objetivos defendidos pelo grupo de interesse sobre o senado ou câmara de deputados, enquanto, no contexto empresarial, os consumidores podem atuar barganhando preços menores. Uma empresa com custos menores estará protegida de fornecedores poderosos ao ter maior flexibilidade para enfrentar eventuais aumentos de custos dos insumos. Ainda, possuir um custo mais baixo de produção que os concorrentes, também estabelece barreiras à entrada substanciais no mercado, em termos de economias de escala e vantagens de custos, dificultando a entrada de novos concorrentes na indústria. Finalmente, a empresa terá uma posição favorável em relação aos produtos substitutosde seus concorrentes, quando utilizar a estratégia de liderança pelo custo total (PORTER, 2004). Por outro lado, a segunda estratégia genérica é a diferenciação, na qual a empresa busca diferenciar seu produto ou serviço em relação aos concorrentes, criando algo que possa ser considerado único no mercado. Nesse caso, a empresa que possuir um produto diferenciado passaria a atuar em um mercado de concorrência monopolística. Um grande exemplo da estratégia de diferenciação pode ser observado no mercado de sabonetes brasileiro, pois algumas empresas que atuam nessa indústria diferenciaram seus produtos. A Unilever criou o sabonete Dove, que contém um exclusivo hidratante para a pele em sua composição. A Colgate-Palmolive inventou o sabonete Protex, que possui uma exclusiva fórmula antibacteriana, fazendo com que esses produtos, embora tenham a mesma finalidade, apresentem peculiaridades diferentes e, dessa maneira, essas empresas criaram novos nichos de mercado através da diferenciação. Conforme destacou Porter (2004), existem vários métodos para a empresa se diferenciar dos concorrentes, mas isso ocorre principalmente através de um projeto ou imagem de marca, de uma tecnologia superior à utilizada pelos concorrentes de algumas peculiaridades em seu produto, de serviços sob encomenda e de uma rede de fornecedores. Estratégia genérica é a diferenciação, na qual a empresa busca diferenciar seu produto ou serviço em relação aos concorrentes, criando algo que possa ser considerado único no mercado. 20 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS A principal motivação para as empresas diferenciarem seus produtos dos concorrentes é obter retornos superiores à média da indústria. Esses retornos maiores ocorrem graças a vários mecanismos de defesa contra as forças competitivas que atuam no mercado, proporcionados pela diferenciação de um bem. Especificamente, a diferenciação provoca um certo isolamento contra a rivalidade competitiva, devido à fidelização de seus consumidores em relação à marca, além de fazer com que o produto diferenciado tenha uma menor elasticidade de preço e da demanda. Ademais, como a diferenciação gera retornos maiores, isso exclui a necessidade de a empresa assumir uma posição de baixo custo na indústria. Não obstante, quando um produto é diferenciado, seus clientes são mais leais e os concorrentes necessitam superar a supremacia da empresa líder, criando barreiras à entrada no mercado. Ainda, as margens mais altas permitirão que a empresa se defenda melhor do poder de fornecedores e clientes, dado que faltam alternativas compráveis. Por fim, a empresa estará em uma posição mais confortável em relação aos substitutos do que a concorrência (PORTER, 2004). No entanto, a diferenciação exigirá da empresa uma série de recursos e habilidades. Será necessário que ela conte com grandes profissionais na área de marketing; tenha um inteligente departamento de engenharia de produto; proporcione um bom ambiente de trabalho para viabilizar a contratação de profissionais com excelente capacidade de pesquisa e inovação; possua uma reputação de líder na indústria, seja em qualidade ou tecnologia; e disponha de uma longa tradição na indústria ou que ela traga habilidades de outros negócios. Em termos de requisitos organizacionais, a empresa deve realizar avaliações e incentivos subjetivos, ao invés de medidas quantitativas, ter uma boa coordenação entre os departamentos de P&D, desenvolvimento de produto e marketing, além de construir um bom ambiente de trabalho para propiciar a contratação e manutenção de bons profissionais. Segundo Porter (2004), a terceira estratégia genérica é enfocar em determinado segmento do mercado, grupo de compradores ou mercado geográfico. Diferentemente das estratégias de liderança por custo total e diferenciação, que buscam suprir toda a demanda do mercado, o enfoque tem como objetivo atender, com excelência, a um determinado segmento e, para isso, cada política funcional da empresa é desenvolvida com esse propósito. A ideia central da estratégia de enfoque é que, se a empresa focar em determinado público-alvo, então ela terá condições de atender de forma mais eficiente a esse tipo seleto de clientes do que as suas concorrentes, que atendem ao mercado como um todo. A ideia central da estratégia de enfoque é que, se a empresa focar em determinado público-alvo, então ela terá condições de atender de forma mais eficiente a esse tipo seleto de clientes do que as suas concorrentes, que atendem ao mercado como um todo. 21 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 A estratégia de enfoque pode ser considerada uma estratégia híbrida, pois ela possui características da liderança por custos ou por diferenciação. Especificamente, a empresa pode atingir a diferenciação ao satisfazer melhor às necessidades do seu segmento de mercado (possui custos mais baixos ao atender a esse público-alvo) e pode possuir ambas características. Entretanto, deve-se lembrar que a principal diferença do enfoque para as demais estratégias é que ela estabelece atender apenas a uma fatia do mercado. O enfoque proporcionará à empresa não somente um retorno acima da média da indústria, mas também um mecanismo de defesa contra as forças competitivas do mercado. Como trata-se de uma estratégia híbrida, essas defesas são semelhantes às apresentadas nas estratégias de liderança por custo ou por diferenciação, assim como os requisitos necessários para colocar em prática o enfoque serão uma mistura daqueles apresentados nas outras duas estratégias genéricas. Atualmente, planejar estrategicamente tornou-se um dos assuntos mais abordados nas organizações, embora ainda existam inúmeras interpretações em relação a essa poderosa ferramenta da administração. Na verdade, as empresas estão entendendo que a atenção sistemática à estratégia é proveitosa e necessária, pois é fundamental decidir os rumos que serão seguidos. Atividade de Estudos: 1) Considerando as estratégias competitivas genéricas, leia cuidadosamente as afirmações a seguir e assinale V para as verdadeiras e F para as falsas: 1 ( ) Uma empresa facilmente poderá utilizar mais de uma estratégia competitiva genérica e isso aumentará consideravelmente seu sucesso no mercado. 2 ( ) A questão fundamental da estratégia de liderança de custos é buscar um custo mais baixo que seus concorrentes. 3 ( ) A curva de aprendizagem relaciona as quantidades de insumos necessárias para produzir uma unidade de produto à medida que aumenta a produção cumulativa da empresa. 4 ( ) A curva de aprendizado é sinônimo de economias de escala. 5 ( ) A economia de escala ocorre em situações que o custo médio unitário de produção aumenta à medida que a produção aumenta. 22 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS 6 ( ) A estratégia genérica da diferenciação tem como objetivo diferenciar seu produto ou serviço em relação aos concorrentes, criando algo que possa ser considerado exclusivo no mercado. 7 ( ) A diferenciação, se bem executada, permite que a empresa saia do mercado de concorrência perfeita. 8 ( ) A utilização de qualquer uma das estratégicas genéricas competitivas permite que a empresa obtenha retornos superiores à média da indústria. 9 ( ) A ideia central da estratégia de enfoque é que, se a empresa focar em determinado público alvo, então ela terá condições de atender de forma mais eficiente esse tipo seleto de clientes do que as suas concorrentes, que atendem o mercado como um todo. 10 ( ) A diferenciação e o enfoque são estratégias similares, visto que elas focam em um determinado mercado. Origens e Evolução do Pensamento e do Planejamento Estratégico De acordo com Mainardes, Ferreirae Raposo (2011), a palavra estratégia foi criada pelos gregos para ser utilizada, inicialmente, no contexto militar. Os autores explicam ainda que ela é oriunda do grego strategos, podendo ser traduzida como general no comando de tropas, a arte do general ou ainda como plano de destruição de inimigos através do efetivo uso de recursos. Nesse período, a estratégia transmitia a ideia de objetivo a ser atingido e planos de ações a serem executados, considerando os diversos cenários possíveis e de acordo com o comportamento do inimigo, porém um indivíduo que possuísse uma habilidade administrativa, já na época de Péricles (de 495 a.C. a 429 a.C.), que foi um marcante estadista, orador e general da Grécia Antiga, era considerado um estrategista, dadas as suas habilidades gerenciais em termos administrativos de liderança, oratória e poder. Um bom livro sobre estratégia (guerras) pode ser obtido em: TZU, Sun. A Arte da Guerra: os treze capítulos originais. São Paulo: Jardim dos livros, 2011. 23 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Chiavenato e Sapiro (2009) salientam que até a metade do século XIX, a utilização do pensamento estratégico, no contexto empresarial, era escassa. Nessa época, as empresas não tinham muitos incentivos para crescer e mantinham um baixo capital fixo. A exceção era o setor de commodities que atuava internacionalmente há mais tempo e que aplicava, ainda que timidamente, estratégia no contexto empresarial. No entanto, no final do século XIX e início do século XX, princípios científicos relacionados à gestão estratégica foram refinados, essencialmente através dos trabalhos de Frederich Taylor, Henry Fayol e Elton Mayo. A partir da revolução industrial, surgiu a linha de montagem em série proposta pela Ford e a diversificação adotada pela General Motors. Assim nasceram as empresas verticalmente integradas e compostas por muitas divisões, tornando-se necessário o desenvolvimento de técnicas de coordenação de todas as funções, a partir de uma nova estrutura hierárquica e investimento pesado em processos de fabricação e marketing. Commodity é o nome dado aos produtos que podem ser considerados homogêneos em um determinado mercado. Isso implica em um preço de mercado único, determinado pela interação da oferta e demanda. Produtos agrícolas, petróleo, gasolina, cobre, ferro, madeira e algodão são exemplos de commodities. Entre os anos 1920 e 1950, as empresas com gestão e planejamento focavam na área financeira, que determinava os planos de produção, gastos e investimentos de curto prazo. Naqueles anos, o planejamento se resumia em prever as vendas e programar a produção, estimando os lucros, receitas e custos anuais. Durante a Segunda Guerra Mundial, uma vez que as ações militares eram extremamente arriscadas e incertas, foi necessário desenvolver ainda mais o pensamento estratégico para lidar com essas situações. Especificamente, o dilema enfrentado pelos países e empresas de como alocar os recursos escassos em uma economia mundial em guerra, fez com que a administração estratégica passasse por várias inovações, especialmente a programação linear, a qual tornou factível utilizar metodologias de análise quantitativas para elaboração do planejamento estratégico, além do desenvolvimento de vários controles orçamentários. O conceito de curva de aprendizado, apresentado anteriormente, foi introduzido nessa época e tornou-se uma ferramenta importante para o planejamento estratégico. 24 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Percebe-se ainda, que o desenvolvimento da estratégia no contexto empresarial foi inicialmente direcionado para mitigar os problemas operacionais e internos à empresa. Posteriormente, surgiu a necessidade de que fossem abordadas as dificuldades externas, dando origem aos primeiros modelos de análise estratégica. Drucker (1954) criou a abordagem de gestão por objetivos (MBO) e o conceito de capital intelectual, que foram fundamentais para o desenvolvimento do planejamento estratégico. Mais tarde, Chandler (1962) afirmou que o planejamento estratégico deveria criar estratégias coordenadas considerando o longo prazo, além de instituir uma gestão descentralizada. Para o autor, havia três estratégias de crescimento básicas: o crescimento horizontal, na qual a empresa se expande em mercados locais, nacionais ou internacionais; a integração vertical, que sugere a absorção de fornecedores e/ou clientes ao longo de sua cadeia produtiva; e a diversificação, que consistia em mercados ainda não explorados pela empresa, conduzindo a estruturas multidivisionais. Levando em conta o ambiente externo, Bain (1965) desenvolveu um modelo relacionando a estrutura, a conduta e o desempenho, que tinha como objetivo principal analisar o impacto da estrutura empresarial sobre o desempenho das organizações. A ideia principal do modelo sugere que o funcionamento de uma indústria depende da sua própria estrutura econômica, do comportamento das empresas que nele atuam e um conjunto de influências externas, fundamentalmente o ambiente econômico e a intervenção do governo, através de políticas públicas. Segundo Selznick (1957), trabalharam em conjunto os aspectos internos e externos da empresa ao analisarem os pontos fortes e fracos e as oportunidades e ameaças, que conduziram à criação da matriz SWOT. Para Ansoff (1965), deve- se necessariamente formalizar e detalhar o planejamento estratégico, visando atingir aos objetivos desejados. Este autor criou, ainda, outros conceitos relevantes que impactaram na maneira de fazer o planejamento estratégico, tais como o Gap Analysis, que permite o diagnóstico da situação atual comparada à situação futura almejada, e o Gap Reducing Actions, que tem como objetivo reduzir a diferença entre o atual e o planejado. A Matriz Produto Mercado, a qual possibilita determinar as estratégias de produto e de crescimento de mercado, é ilustrada na figura a seguir: O desenvolvimento da estratégia no contexto empresarial foi inicialmente direcionado para mitigar os problemas operacionais e internos à empresa. Posteriormente, surgiu a necessidade de que fossem abordadas as dificuldades externas, dando origem aos primeiros modelos de análise estratégica. 25 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Figura 2 – Matriz Produto Mercado Produtos Existentes Novos M er ca do s Ex is te nt es Penetração de Mercado Desenvolvimento de Produtos N ov os Desenvolvimento de Mercado Diversificação Fonte: O autor. Posteriormente, diversas outras teorias, abordagens e conceitos foram desenvolvidos, entre os quais destacam-se o modelo da organização setorial, modelo baseado em recursos. As matrizes BCG e GE, a teoria do portfólio, as cinco forças de Porter, o canal de valor, o grupo estratégico, o cluster, todas estas refletem o interesse crescente em planejamento estratégico. Além disso, todos contribuíram de certa forma e revolucionaram a forma de pensar sobre estratégia no contexto empresarial. Necessidades, Benefícios e Escolas do Planejamento Estratégico O planejamento estratégico, possivelmente, é um dos temas mais abordados nas organizações e nos cursos de administração, muito embora existam várias in- terpretações em relação a essa poderosa ferramenta da administração empresarial. Pode-se afirmar que cada vez mais as empresas estão percebendo que a atenção sistemática à estratégia não é somente proveitosa, mas necessária, pois é crucial decidir os rumos que serão seguidos nos próximos períodos. O planejamento estratégico é necessário em uma empresa por di- versos motivos, uma vez que a sua falta é um dos principais fatores responsáveis pela insolvência das empresas, e que elas atuamem um mercado altamente competitivo e repleto de incertezas e riscos. Uma forma de lidar com esses desafios é criar um bom planejamento es- tratégico para as empresas. Conforme afirmam Miller e Cardinal (1994), as evidências sugerem que as empresas que possuem um planejamen- to estratégico formal, em geral, atingem um desempenho superior às demais, o que demonstra a importância e a necessidade de se ter um. As evidências sugerem que as empresas que possuem um planejamento estratégico formal, em geral, atingem um desempenho superior às demais, o que demonstra a importância e a necessidade de se ter um. 26 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Entretanto, o planejamento estratégico será necessário não somente para manter a empresa ativa e competitiva no mercado, mas também em situações em que a empresa deseja ampliar um de seus setores produtivos, verificar a via- bilidade de expandir a empresa em novos mercados, visto que essa ferramenta é indispensável para a tomada de decisões. Por outro lado, o planejamento estratégico é benéfico às empresas, pois ele fornece uma evidente visão estratégica, um bom entendimento do mercado, uma convergência nos pensamentos sobre o que é estrategicamente relevante para a empresa no futuro, ao estabelecer objetivos de longo prazo, uma atuação proativa sobre as condições externas à empresa, sendo essa interdependente dos elemen- tos internos, um comportamento sistemático no qual engloba toda a organização, além proporcionar uma dependência do ambiente externo (WILSON, 1994). Cientes da necessidade e dos benefícios do planejamento es- tratégico, deve-se agora defini-lo. O planejamento estratégico é um método contínuo de avaliações, criações e execuções das estratégias organizacionais com o objetivo de tornar a empresa a mais competitiva possível, além de seguir sua missão no ambiente em que atua. Segun- do Chiavenato e Sapiro (2009), para o planejamento estratégico ser efi- caz, não deve ser apenas um método formal e burocratizado, mas deve atender a questões simples, como: 1 Como está a empresa hoje? Como está seu desempenho, compara- do à concorrência, e a satisfação de seus clientes? 2 Se a situação atual se mantiver, como será a empresa nos próximos anos? 3 Dependendo das respostas das perguntas acima, quais os riscos envolvi- dos e quais as decisões que os administradores devem tomar? Como já salientado anteriormente, o planejamento estratégico está associado aos objetivos da empresa, os quais determinam sua viabili- dade e evolução. Entretanto, se ele for utilizado isoladamente, é provável que a empresa não obtenha um resultado satisfatório, visto que ele não estaria se preocupando em estabelecer e analisar as ações mais ime- diatas, pontuais e operacionais. Examinando mais detalhadamente, o planejamento envolve três níveis diferentes: o estratégico, o tático e o operacional, podendo ser representado em forma de pirâmide: O planejamento estratégico é um método contínuo de avaliações, criações e execuções das estratégias organizacionais com o objetivo de tornar a empresa a mais competitiva possível, além de seguir sua missão no ambiente em que atua. O planejamento envolve três níveis diferentes: o estratégico, o tático e o operacional, 27 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Figura 3 – Níveis do planejamento PLANEJAMENTO TÁTICO PLANEJAMENTO OPERACIONAL PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Fonte: O autor. Perceba que no topo da pirâmide encontra-se o planejamento estratégico. Este caracteriza-se por ser o mais amplo e por envolver toda a empresa. Além disso, tem como foco, fundamentalmente, pensar a longo prazo, ou seja, suas consequências e efeitos percebidos nos próximos anos. Possui um conteúdo genérico e sintético que abrange toda a organização, recursos e áreas de atividade, preocupando-se em atingir as metas em nível organizacional. No meio da pirâmide localiza-se o planejamento tático. Diferente do estratégico, o tático aborda cada unidade da organização separadamente, possui um horizonte temporal de médio prazo, geralmente para o exercício anual da empresa, que é mais detalhado. Cada departamento é responsável por definir e atingir um determinado objetivo específico. Finalmente, na base da pirâmide é estabelecido o planejamento operacional, sendo que ele é definido em seu próprio nível. Esse planejamento tem como principais características a preocupação com o curto prazo e com objetivos bem específicos, além do estabelecimento do envolvimento isolado de cada tarefa empresarial. De modo geral, para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010), existem várias escolas de planejamento estratégico e elas podem ser divididas entre as que se caracterizam por serem prescritivas e normativas, e as que possuem um caráter descritivo e explicativo. Entre as escolas de caráter prescritivo e normativo, destacam-se a do planejamento, do design e a do posicionamento. A escola do planejamento considera a estratégia como um processo formal e sugere um desdobramento do planejamento em planos táticos e operacionais, estabelecendo uma hierarquia de planos interligados. A principal contribuição dessa escola foi através do desenvolvimento dos seguintes conceitos: objetivos, metas, estratégias, criação de valor, planos operacionais etc. A escola do planejamento considera a estratégia como um processo formal e sugere um desdobramento do planejamento em planos táticos e operacionais 28 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Paralelamente à escola do planejamento surgiu a escola do design, que se caracteriza por tratar a estratégia como um método de adequação, visto que tem como principal objetivo harmonizar aspectos endógenos (internos) e exógenos (externos) ao ambiente empresarial. Essa escola parte de duas premissas básicas: o mapeamento do ambiente, que caracteriza-se por fazer uma análise externa na qual permite verificar as oportunidades a serem exploradas e as ameaças a serem combatidas, e a análise interna da empresa, que avalia internamente a organização através da avaliação de seus pontos fortes e fracos. Essas premissas fornecerão os subsídios necessários para o desenvolvimento da matriz SWOT. Não obstante, a escola do posicionamento trata a estratégia como um processo analítico no qual o ambiente externo é fundamental para a definição de um posicionamento estratégico da empresa. O ambiente externo deve ser previamente analisado e conhecido, visando identificar a estrutura de mercado onde a empresa atua. Nessa escola, existem duas abordagens para o posicionamento estratégico da empresa, que é a decisão de portfólio e a de posicionamento. Embora diferentes, ambas decisões possibilitam a criação de valor econômico para tornar a empresa cada vez mais valiosa e oferecer valor aos clientes, em vez de simples produtos ou serviços, conforme destacaram Chiavenato e Sapiro (2009). A decisão de portfólio consiste em determinar, entre a carteira de produtos/ serviços da empresa, quais deles a organização vai aumentar ou cortar os investimentos, além de definir a rentabilidade de cada produto e o nível de risco de negócio. A principal ferramenta é a Matriz BCG, desenvolvida por Bruce Henderson para a empresa de consultoria BCG (Boston Consulting Group). Já a decisão de posicionamento é fortemente baseada nos trabalhos de Michael Porter, mais especificamente nos modelos das cinco forças de Porter e nas estratégicas genéricas competitivas. A ideia central é que, dado o mercado ou segmento de mercado onde a empresa atua, a decisão estratégica de posicionamento envolve diferentes possibilidades: atuar no mercado através de um custo total menor/ diferenciar seus produtos ou focar em determinadosegmento de mercado. A outra vertente de escola é de caráter descritivo e explicativo, a qual explora a criatividade e a imaginação no contexto empresarial. Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) afirmaram que essa abordagem foi dividida em sete escolas. A primeira delas é a escola do empreendedorismo, que trata a estratégia como um processo visionário. Nela, o principal executivo da organização (Presidente, CEO e Diretor geral) é responsável pela definição da estratégia a ser seguida pela A escola do design se caracteriza por tratar a estratégia como um método de adequação A escola do posicionamento trata a estratégia como um processo analítico no qual o ambiente externo é fundamental para a definição de um posicionamento estratégico da empresa. A escola do empreendedorismo, que trata a estratégia como um processo visionário. 29 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 empresa. Como consequência, essa escola depende da intuição do julgamento da criatividade, experiência e da sabedoria de seu líder. Paradoxalmente, o líder costuma apostar em uma ideia e, a partir disso, vai adequando seu plano às necessidades e peculiaridades que se sucedem, não definindo, portanto, sua estratégia com precisão antes de agir. Na escola cognitiva, a estratégia é estabelecida por um processo mental de como enxergar conceitos, mapas, esquemas e estruturas. Uma vez que a percepção e a interpretação da realidade são uma consequência da cognição, o ambiente pode ser objetivo, percebido ou simplesmente decretado pela cognição do estrategista, conforme sugerem Chiavenato e Sapiro (2009). Tratando a estratégia como um processo emergente, a escola do aprendizado formula sua estratégia através do processo da aprendizagem. De acordo com essa escola, ao longo do tempo as empresas aprendem a atuar no ambiente em que operam. Nela, todo entendimento e aprendizado decorrem da reflexão e da análise do passado, sendo que a realidade surge da interpretação e da atualização constante das experiências passadas. Seu ponto nevrálgico é a gestão de mudanças e não a estratégia. Ainda, o papel da liderança é administrar o processo de aprendizado estratégico pelo qual as estratégias emergem naturalmente. Já a escola do poder aborda a estratégia como um processo de negociação. Do ponto de vista interno, o planejamento estratégico é um processo de natureza política, com o poder sendo disputado internamente e envolvendo persuasão, negociação e barganha, enquanto na perspectiva externa, a empresa deve utilizar seu poder sobre as outras para criar parcerias, joint ventures ou qualquer outro tipo de negociação com o mercado que, por meio do exercício de sua influência, torne possível negociar estratégias favoráveis aos seus próprios interesses. Formulando a estratégia como um processo coletivo e social, fundamentado nas crenças e interpretações comuns a todos os membros da empresa, a escola da cultura caracteriza-se pelos valores essenciais utilizados pelas empresas, por exemplo, o atendimento diferenciado ao cliente, a qualidade e a inovação, os quais proporcionam e sustentam uma vantagem competitiva. Visto que são os valores dominantes da cultura que determinam as estratégias, a cultura atua como inibidora de mudanças estratégicas mais significativas nessa escola. Na escola cognitiva, a estratégia é estabelecida por um processo mental de como enxergar conceitos, mapas, esquemas e estruturas. A escola do aprendizado formula sua estratégia através do processo da aprendizagem. A escola do poder aborda a estratégia como um processo de negociação A escola da cultura caracteriza-se pelos valores essenciais utilizados pelas empresas 30 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS As duas últimas escolas são do ambiente e da configuração. A escola do ambiente define a estratégia como uma reação ao ambiente externo à empresa. Para essa escola, o ambiente se apresenta à organização como um conjunto de forças contrárias aos interesses empresariais, as quais ela precisa reagir. Além disso, o ambiente é um ator importante, pois é ele quem dita todas as condições e regras do jogo. Nessa perspectiva, a organização é o elemento passivo que reage com o ambiente, o qual determina as diretrizes a serem seguidas. Portanto, o ambiente é tido como agente central para a elaboração da estratégia, e o estrategista deve estar preparado para dar respostas estratégicas conforme vão ocorrendo mudanças no ambiente. Essa escola surgiu com a Teoria da Contingência, que aborda as respostas esperadas das empresas em terminadas condições econômicas e ambientais. Finalmente, a escola da configuração aborda a estratégia como um processo de transformação que interrompe os períodos de estabilidade. Especificamente, uma vez que o ambiente é considerado dinâmico, ele muda (ambiente) com o passar do tempo, com isso as empresas devem fazer uma transformação organizacional drástica para se readaptarem. Assim, a renovação irá requerer destruição criativa e o ciclo de vida das empresas deve ser entendido como uma sequência de configuração e transformação. Ainda, o principal desafio do estrategista, nessa escola, consiste em ter a capacidade de sustentar a estabilidade e a adaptabilidade em sua empresa durante o maior tempo possível, reconhecendo periodicamente, e quando for adequado, a necessidade de ruptura. A escola do ambiente define a estratégia como uma reação ao ambiente externo à empresa A escola da configuração aborda a estratégia como um processo de transformação que interrompe os períodos de estabilidade. Atividades de Estudos: 1) Explique como o planejamento estratégico pode ser útil à empresa. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Aponte as diferenças entre os planejamentos estratégico, tático e operacional. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 31 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 3) Faça um breve resumo das escolas do planejamento estratégico. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A Pequena Empresa Como salientado na contextualização deste capítulo, além de serem as que mais empregam, as pequenas e médias empresas estão em maior número em relação às grandes empresas no Brasil. O cenário enfrentado por essas empresas é hostil, devido ao chamado custo governo, como a falta de acesso a financiamentos, instabilidade macroeconômica e financeira nacional, baixo crescimento econômico vivenciado no país nos últimos anos, carência de instituições nacionais que incentivem a atividade empresarial, atual constituição e leis que não proporcionam a liberdade econômica e política necessárias para estimular as empresas. Todas essas condições fazem com que as pequenas e médias empresas tenham um tempo de sobrevivência muito pequeno no mercado. Os estudos do Sebrae (2016) sugerem que, considerando as empresas brasileiras criadas em 2012 e as informações disponíveis sobre essas até 2014, a taxa de sobrevivência das empresas com até dois anos de atividade foi de 76,6%,ou seja, aproximadamente uma a cada quatro empresas abertas no Brasil são fechadas em até dois anos. Apesar de alarmante, essa foi a maior taxa de sobrevivência de empresas já estimada, considerando dois anos após seu nascimento. Para se ter uma ideia, a taxa de mortalidade das empresas constituídas em 2008 foi de aproximadamente 46%, portanto quase metade das empresas nascidas em 2008 foram fechadas até 2010. O cenário enfrentado por essas empresas é hostil Todas essas condições fazem com que as pequenas e médias empresas tenham um tempo de sobrevivência muito pequeno no mercado. Para ter mais informações sobre o relatório da Taxa de sobrevivência das empresas no Brasil, acesse o link <https://m. sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/estudos_pesquisas/taxa-de- sobrevivencia-das-empresas-no-brasildestaque15,01e9f925817b341 0VgnVCM2000003c74010aRCRD>. 32 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Apesar do ambiente econômico pouco propício à atividade empresarial no país, o Sebrae (2016) aponta em seu estudo que a principal causa dessa mortalidade é a falta de planejamento estratégico e de uma gestão de negócios nessas empresas, além da baixa capacidade administrativa dos donos das empresas. Mais especificamente, o estudo afirma que: [...] verifica-se que, entre as empresas que fecharam, há uma proporção maior de empresários que estavam desempregados antes de abrirem o negócio, que tinham pouca experiência no ramo, que abriram o negócio por necessidade e/ou exigência de cliente/fornecedor, que tiveram menos tempo para planejar o negócio, que não conseguiram negociar com fornecedores nem conseguiram empréstimos em bancos, que não aperfeiçoavam seus produtos/serviços, que não investiam na capacitação da mão de obra, que inovavam menos, que não faziam o acompanhamento rigoroso de receitas e despesas, que não diferenciavam seus produtos e que não investiam na sua própria capacitação em gestão empresarial (SEBRAE, 2016, s.p.). Todos esses fatores estão relacionados à gestão empresarial, por isso ter conhecimentos de gestão estratégica e aplicá-los em empresas torna-se fundamental para o crescimento e implementação de um negócio rentável e sustentável ao empreendedor. Entretanto, muitos empresários têm a visão de que o planejamento estratégico é uma ferramenta aplicável apenas a grandes empresas, projetos milionários e utilizado por diretores ociosos, que muitas vezes implicaria em dezenas de reuniões que demandariam muito tempo para elaboração de um plano que vai estar velho no instante em que tiver que colocá-lo em prática, conforme destacou Barros (2005). De fato isso ocorre em algumas empresas, mas não é uma regra geral, pois as pequenas empresas costumam ter um planejamento estratégico informal e irregular. Lyles et al. (1993) realizaram um estudo contendo uma amostra com 188 pequenas empresas, com o objetivo de examinar três relações distintas relacionadas ao planejamento estratégico, processo de planejamento formal em relação aos processos de decisão estratégica, formalidade de planejamento em relação às estratégias adotadas e planejamento formal em relação ao desempenho da empresa. Os resultados demonstraram que as empresas com planejamento formal enfatizaram mais aspectos do processo de escolha estratégica, adotaram uma ampla gama de estratégias competitivas e cooperativas e cresceram mais rapidamente do que as empresas que não possuíam um planejamento formal. Essa evidência empírica mais uma vez realça a relevância do planejamento estratégico para as empresas. Apesar do ambiente econômico pouco propício à atividade empresarial no país, o Sebrae (2016) aponta em seu estudo que a principal causa dessa mortalidade é a falta de planejamento estratégico. 33 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 Outra forma de refletir sobre a importância do planejamento é considerar o caso de um determinado empreendedor que deseja montar uma barraca de pipoca na porta do cinema, portanto trata-se realmente de um pequeno empreendimento. Barros (2005) propôs esse exercício para fazer uma análise comparativa, considerando que o empresário faz ou não um planejamento para esse novo negócio. Dado que o ambiente empresarial é repleto de incertezas, será que essa ideia é viável do ponto de vista financeiro e será que realmente é necessário ter um planejamento para um empreendimento tão simples? Para responder a estas perguntas será necessário analisar as duas situações. No caso de não fazer um planejamento, o empresário simplesmente colocaria sua ideia em prática, comprando um equipamento qualquer, estabelecendo um determinado preço e começando a vender sua pipoca, deixando para pensar e avaliar somente após a atividade ter sido iniciada. Contudo, perceba o risco que ele está correndo, pois subitamente pode ter comprado uma máquina de fazer pipoca muito pequena para suprir a demanda existente, ou ainda, o preço estabelecido pode ter sido muito barato, não trazendo rentabilidade para a pequena empresa. Ao estabelecer um plano de negócio, cada etapa necessária para a implementação dessa atividade irá demandar um planejamento. Iniciando pela escala do negócio, será necessário estimar um volume de vendas diário de pipoca, até mesmo para dimensionar quais máquinas serão necessárias, número de funcionários, estoques mínimos etc. Essa informação pode ser obtida pela frequência diária de entradas vendidas no cinema. A partir disso, pode-se considerar que um percentual dos clientes que vão ao cinema compra pipoca, digamos 90%, e assim torna-se possível ter uma ideia da capacidade produtiva necessária para atender a essa demanda. Outra questão determinante para o negócio é o estabelecimento do preço de venda. Deve-se projetar quantos sacos de pipoca seriam vendidos para cada nível de preço e, a partir disso, avaliar ou não o estabelecimento de promoções, especialmente em dias com frequência reduzida. Outra ideia a ser analisada é a inclusão de bens complementares, como refrigerante e balas, por exemplo, que podem induzir o consumo de pipoca e vice e versa. É provável que a oferta desses bens, em conjunto com a oferta de pipocas, crie maiores possibilidades de faturamento para a empresa. Diante disso, percebe-se que mesmo considerando essas poucas questões existiriam várias outras, estimando uma receita de vendas e projetando os custos e as despesas do empreendimento. Isso reduziria os riscos do negócio e auxiliaria o empreendedor a obter um resultado melhor, além de avaliar se o negócio é viável ou não. É evidente que o caso planejado proporciona uma situação mais confortável ao empreendedor, demonstrando mais uma vez, através desse exemplo simples de uma pequena empresa, que o planejamento é fundamental para a atividade empresarial. 34 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Finalmente, ciente da necessidade de utilização de um planejamento estratégico em pequenas empresas, o desafio é apresentar os conceitos de planejamento estratégico com foco na pequena empresa, de modo que o leitor consiga aplicá-los em seu negócio ou ainda no seu ambiente de trabalho. Algumas Considerações São muitos os desafios enfrentados pelos administradores para manterem suas empresas competitivas no mercado, especialmente quando se trata de pequenas empresas. As evidências sugerem que as empresas, ao utilizarem um planejamento estratégico, serão bem-sucedidas que as concorrentes. Nesse sentido, é fundamental conhecer um pouco mais sobre a estratégia no contexto empresarial, suas origens, evolução e as escolas do pensamento estratégico. Entende-se que a estratégia é um processo de pensar e decidir um conjunto de ações para que a empresa atinja uma posição melhor no futuro, ao fornecer ganhose vantagens em relação à situação presente. É o caso das estratégias competitivas genéricas de Porter (2004), que foram apresentadas no início do capítulo. Além dessas, algumas outras serão apresentadas nos próximos capítulos. Por fim, deve-se lembrar de que a elaboração da estratégia é uma consequência da prática do pensamento estratégico exercida pelo CEO, diretor ou sócio da empresa. Esse processo de elaboração se caracteriza por ser um tipo de reflexão complexa que envolve criatividade, imaginação, sensatez, intuição, iniciativa, força mental e expertise. Portanto, não é algo fácil de ser explicado ou passado aos outros, uma vez que essas habilidades requerem não somente experiência profissional, mas também inteligências intrínsecas da pessoa. Referências ANDREWS, K. The concept of corporate strategy. 3. ed. Ann Arbor: Irwin, 1987. ANSOFF, I. Corporate strategy. 1. ed. Nova Iorque: McGraw Hill, 1965. BAIN, J. Industrial organization. 1. ed. Hoboken: John Wiley & Sons, 1965. BARROS, A. Gestão estratégica nas pequenas e médias empresas. 1. ed. Rio de Janeiro: Ciência moderna, 2005. CHANDLER, A. Strategy and structure: chapters in the history of industrial enterprise. 1. ed. Nova Iorque: Doubleday, 1962. 35 Introdução à Gestão Estratégica Capítulo 1 CHIAVENATO, I.; SAPIRO, A. Planejamento estratégico. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. DRUCKER, P. The practice of management. 1. ed. Nova Iorque: Harper and Row, 1954. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010. LYLES, M. A. et al. 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O processo de elaboração do planejamento estratégico pode ser compreendido como a união dos objetivos organizacionais das estratégias competitivas e corporativas elaboradas, visando alcançar esses objetivos, e das ações a serem seguidas pela empresa. Portanto, pode-se pensar que os requisitos para o processo de planejamento estratégico são: objetivos; estratégias; e cursos de ação. Enquanto os objetivos sugerem o que fazer, a resposta de como fazer será fornecida pelas estratégias. A figura a seguir apresenta as etapas da gestão estratégica: O planejamento estratégico é uma administração gerencial que preocupa-se em formular objetivos, estabelecer estratégias, executar ações, monitorar resultados levando em conta as condições internas e externas à empresa e considerando a visão que a empresa tem para o futuro. Figura 4 – Etapas da Gestão Estratégica Declarar a Missão, Visão e Valores Analisar o ambiente Estabelecer Objetivos Formular as estratégias Ações para implementar as estratégias Feedback e Controle Fonte: O autor. 40 GESTÃO ESTRATÉGICA DE PEQUENAS EMPRESAS Dessa forma, esse capítulo foi estruturado de maneira a possibilitar o melhor entendimento de cada uma dessas etapas do planejamento estratégico. Inicialmente, conceitos essenciais foram apresentados e definições foram estabelecidas. Após, será apresentada uma estrutura de plano de negócios que permite o leitor elaborar um plano para sua empresa. Por fim, apresenta-se o que é o planejamento estratégico, os objetivos, as estratégias possíveis, as ações e monitoramento de resultados. Conceitos e Definições Iniciamos este capítulo com a definição de alguns conceitos fundamentais relacionados ao planejamento estratégico e gestão empresarial. Para Chiavenato e Sapiro (2009, p. 82), intenção estratégica é: [...] conhecimento da essência da organização e representa a alavancagem de todos os recursos internos, capacidades e habilidades de uma organização com a finalidade de cumprir suas metas no ambiente competitivo. É essa intenção estratégica que proporciona aos membros da organização, em todos os níveis e áreas, a justificativa para a entrega e dedicação na busca de um desempenho que seja único, significativo e superior com relação aos concorrentes. Esse conceito de intenção estratégica de uma empresa é importante porque o planejamento estratégico inicia justamente com a reflexão desse conceito. Especificamente, deve-se pensar qual é o negócio da empresa, como será o negócio no futuro, o que é importante para a empresa, quem são potenciais interessados pelo negócio, quais são os clientes e o que eles avaliam como valioso e quais são os resultados projetados da empresa. Outros conceitos relevantes são os de valor, gestão e marca. Valor “é um resultado positivo e percebido da aplicação de um processo administrado” (BARROS, 2005, p. 15). Gestão “é um processo que pode agregar ou destruir valor” (BARROS, 2005, p. 17). Marca “é um símbolo que pode ser copiado e multiplicado, transferindo a percepção de valor no tempo e no espaço” (BARROS, 2005, p. 18). De modo geral, a estrutura de um planejamento estratégico e de um plano de negócios é muito semelhante, entretanto, enquanto o planejamento estratégico é frequentemente utilizado por empresas que já atuam no mercado, o plano de negócios comumente, mas não necessariamente, é usado por empreendedores que ainda não ingressaram no mercado. 41 Planejamento Estratégico Capítulo 2 O planejamento estratégico faz uma análise de curto, médio e longo prazo, procurando responder não somente como estará a empresa daqui há alguns meses, mas também daqui há vários anos. Ele define o negócio, a linha de atuação, as metas e os objetivos da empresa, além de estabelecer os caminhos a serem percorridos e o que a empresa pretende conquistar, mais especificamente,
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