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História Econômica I Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo - Eric J. Hobsbawm Prefácio & Introdução O intuito do livro é explicar a ascensão da Grã-Bretanha à categoria de primeira potência industrial, seu declínio após a dominação temporária, passado o período de pioneirismo, seu relacionamento um tanto peculiar com o resto do mundo e os efeito de tudo isso sobre o povo britânico. “O ponto de vista defendido neste livro é de que o relativo declínio da Grã-Bretanha deve-se, em termos gerais, à sua dianteira, mantida por muito tempo, como potência industrial.” Dois motivos para estudar essa história: 1. Ainda influi de sobremaneira sobre o presente, logo auxilia na compreensão dos problemas da atualidade e de como solucioná-los; 2. Explica genericamente o surgimento da industrialização como fenômeno na história do mundo; 1. A Grã-Bretanha em 1750 Partir de relatos de visitantes ilustres e numerosos: ● Prosperidade do campo; ● Prosperidade das manufaturas; ● Grandeza de Londres; ● Riqueza trazida pelo comércio sustentado por uma forte marinha - “nação dos lojistas”; ● Regime estável e voltado para a “classe média honesta” - sem privilégios régios; ● Ausência de campesinato tradicional - cercamentos e dispersão da manufatura rural; ○ Interesse de grandes proprietários de terras por minas e manufaturas; ○ Prevalecia o interesse político das manufaturas sobre o comércio; ● Nobreza ou elite pós-revolucionária, herdeira puritana dos dias de Cromwell, sabia que o poder do país repousava na disposição de ganhar dinheiro ativo e comercialmente. 2. A Origem da Revolução Industrial Teorias Refutadas Explicações baseadas em um único fator ou, ainda, deterministas como posição geográfica privilegiada, abundantes reservas de carvão mineral, safras sucessivas de boas colheitas, predominância do espírito protestante, ordem política burguesa ou em qualquer item puramente endógeno são consideradas insuficientes. A razão do pioneirismo inglês “A rigor, por volta de 1750 não havia muitas dúvidas de que a corrida pelo título de primeira potência industrial seria ganha pela Grã-Bretanha.” “Podemos, pois, resumir o papel dos três principais setores da demanda na gênese do industrialismo. As exportações, apoiadas pelo auxílio sistemático e agressivo do governo, proporcionaram a centelha e constituíram - juntamente com a produção têxtil de algodão - o ‘setor básico’ da industrialização. Além disso, conduziram importantes melhorias no transporte marítimo. O mercado interno proporcionou a base para uma economia industrializada em grande escala e (através do processo de urbanização) incentivou grandes melhorias no transporte terrestre, uma importante base para o carvão e para algumas inovações tecnológicas. O governo dava apoio sistemático a 1 comerciantes e manufatureiros, além de incentivos de modo algum desprezíveis para inovação técnica e para o desenvolvimento das indústrias de capital” A razão de ocorrer no séc. XVIII Novo padrão de expansão europeia: “Repousava sobre três coisas: na Europa, o surgimento de um mercado para produtos ultramarinos de uso cotidiano, mercado este que podia expandir-se ao se tornarem esses produtos disponíveis em maior quantidade e a preço menor; no exterior, a criação de sistemas econômicos para a produção desses bens (como, por exemplo, plantations mantidas por escravos); e a conquista de colônias destinadas a servir os interesses de seus proprietários europeus.” “Enquanto se engrossava a corrente das trocas internacionais, em certo momento de meados do séc. XVIII tornou-se perceptível um aceleramento das economias internas.” 3. A Revolução Industrial, 1780-1840 “Em sua forma mais óbvia o novo mundo do industrialismo não é visto nessas cidades, mas sim em Manchester e em torno dela.” “A manufatura do algodão foi um subproduto típico daquela crescente corrente de comércio internacional, e principalmente colonial, sem a qual, como vimos, a Revolução Industrial não pode ser explicada.” “O algodão era uma atividade principalmente de exportação, especificamente para os países subdesenvolvidos.” “A fabricação britânica de algodão era decerto a melhor do mundo em sua época, mas terminou, como tinha começado, por basear-se não em sua superioridade competitiva e sim num monopólio dos mercados coloniais e subdesenvolvidos que lhe era garantido pelo Império Britânico, pela Marinha de Sua Majestade e pela supremacia comercial inglesa.” “Os primórdios da Revolução Industrial foram um tanto primitivos, tecnicamente, não porque não houvesse à disposição melhor ciência e tecnologia mais avançada, porque as pessoas não pudessem ser persuadidas a usá-las. Ela foi simples, de modo geral, porque a aplicação de ideias e dispositivos simples, ideias muitas vezes conhecidas há séculos, muitas vezes pouco dispendiosas, era capaz de produzir resultados espetaculares.” “Em outras palavras, aquela situação minimizou os requisitos básicos de qualificação, capital, volume de negócios ou organização e planejamento governamentais, sem os quais nenhuma industrialização pode ter êxito.” “Assim, com notável rapidez e facilidade, surgiu entre as fazendas e aldeias brumosa de Lancashire um novo sistema industrial baseado numa nova tecnologia. A inovação prevaleceu sobre o já estabelecido.” “Podemos mencionar as consequências disto. A primeira é a estrutura extremamente descentralizada e desintegrada do algodão (na verdade, da maioria das atividades britânicas do séc. XIX), resultado de ter ela nascido das atividades sem planejamento de pequenos fabricantes.” ● Vantagens iniciais: flexibilidade e rápida expansão; ● Desvantagens: muitas ineficiências e grande rigidez; “A segunda consequência foi o aparecimento de um forte movimento sindicalista em atividades normalmente caracterizadas por uma organização de trabalhista fraquíssima ou instável, pois utilizava uma força de trabalho constituída em grande parte de mulheres e crianças, imigrantes desqualificados etc..” Não obstante, pelos padrões do séc. XVIII, ela era revolucionária. Características do novo sistema: 1. Divisão da população ativa entre empregadores capitalistas e trabalhadores que nada possuíam senão sua força de trabalho, que vendiam em troca de salários; 2. Produção na fábrica, integrando força humana e maquinário; 3. Dominação de toda economia - na verdade, da vida - pela procura e 2 acumulação de lucro por parte dos capitalistas. A visão acima, da época, é falha pois apresenta o purismoteórico e um caráter de modernidade sem bases na realidade. “Nessa primeira fase da industrialização britânica, nenhuma outra atividade podia ser comparada, em importância, à do algodão.” Já o carvão e a siderurgia só passariam por uma revolução em meados do século XIX, ou aproximadamente 50 anos depois do algodão. “Isto se explica pelo fato de que, enquanto os bens de consumo têm mercado de massa mesmo nas economias pré-industriais, os bens de capital só adquirem esse tipo de mercado em economias em processo de industrialização ou já industrializadas.” Outros setores passavam por um expressivo crescimento, contudo não se pode falar de uma revolução, pois majoritariamente continuavam a empregar métodos inteiramente tradicionais. Uma industrialização tão limitada, que se baseava apenas em um produto, não podia ser nem estável ou sólida. De forma que a Inglaterra sofreu de uma verdadeira crise entre 1830 e 1840. As agitações sociais são evidências desse processo. Dois pressupostos do capitalista industrial: 1. Importância da acumulação de capital (taxa de lucro máximo e maximização das transferências de renda dos trabalhadores para os empregadores); 2. Salários devem ser mantidos baixos. Causas do processo: ● Deflação; ● Taxa de crescimento dos mercados não acompanhava a taxa de crescimento da produção; Hoje sabemos que foram apenas dores de crescimento, mas "Como Marx e Engels acertadamente observaram, na década de 1840 o espectro do comunismo rondava a Europa. Embora relativamente menos temido na Grã Bretanha, o espectro da derrocada econômica apavorava igualmente a classe média.". 3
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