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O trabalho intitulado A era dos direitos

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O trabalho intitulado A era dos direitos, de autoria de Norberto Bobbio, consiste em uma das principais fontes que afirmam um primeiro momento de proteção no histórico do constitucionalismo que, na linha do pensamento determinou o surgimento dos denominados direitos civis e políticos como prerrogativas de primeira geração ou dimensão. 
Para Bobbio, o fundamento dos direitos do homem é constituído por coisas desejáveis, ou seja, fins que merecem ser persuadidos e que ainda não foram devidamente reconhecidos, independente do desejo de obtê-los.
No primeiro capítulo, Bobbio nos remete aos seguintes temas: sentido do fundamento absoluto dos direitos do homem, a possibilidade de um fundamento absoluto e, no caso de esse último ser possível, se seria também por acaso desejável.
O autor elenca quatro dificuldades quanto a tentativa de muitos sobre o empreendimento usado no absolutismo dos direitos do homem:
Primeiramente Bobbio diz que o termo “direitos do homem” é vago; Em seguida, ele diz que os direitos do home variam de classe em classe ao longo da história no decorrer do tempo. 
Em terceiro, ele abrange a heterogeneidade da classe dos direitos, visto que para Bobbio, considerando o caráter heterogêneo dos direitos, não seria possível falar em um fundamento único, mas sim em fundamentos variáveis dos direitos do homem. 
Em quarto e por fim, o autor afirma que um outro problema oriundo do absolutismo dos direitos do homem encontra-se na contradição nos direitos invocados pelas mesmas pessoas. 
Quanto aos direitos do homem que temos atualmente e o que nos reserva, presente e futuro respectivamente, Bobbio entende que não é a fundamentação da natureza dos direitos do homem que consiste no desafio filosófico ou jurídico que enfrentamos, mas sim qual seria a maneira mais eficaz de defendê-los remetendo a uma discussão mais política do que filosófica.
Os direitos humanos e as liberdades fundamentais ganham respeito coletivo e internacional a partir do momento que são devidamente reconhecidos universalmente. Desta forma, é possível interpretar que os direitos do homem nascem naturalmente de forma universal e mais tarde tornam-se positivos e particulares, para que por fim sejam não apenas positivos, mas também internacionalizados.
Até chegarmos a esse ponto, porém, a declaração dos direitos do homem, segundo Bobbio, passa por três fases: filosófica, da transição da ideia para prática e a positivação.
“Como pode fazer o cidadão de um Estado que não tenha reconhecido os direitos do homem como direitos dignos de proteção?” questiona Bobbio e responde em seguida: “só lhe resta o caminho do chamado direito de resistência”.
Os direitos do homem são heranças de produtos e frutos da história recente e surgem de 3 fases: liberdade do indivíduo com o Estado; a liberdade do Estado; proclamação dos direitos sociais por meio da liberdade do Estado.
O processo de proteção dos direitos determinados na Declaração deve ser constante e cotidiano, enquanto às novas demandas e carências sociais.
Bobbio mantem uma visão crítica positivista quanto ao futuro da humanidade, e defende a ideia de que quanto mais debates entre líderes e formadores de opinião acontecerem ao redor do mundo, tanto em seminários ou conferências abordando o tema dos direitos do homem, mais harmonia estará presente no futuro dos povos.
O problema apontado pelo autor, a proteção dos direitos do homem, surgiu a partir dos jusnaturalistas em conjunto com as constituições dos Estados Liberais, sendo que da segunda guerra mundial em diante, o debate saiu do âmbito nacional e internacionalizou-se.
Com o surgimento dos direitos políticos, os direitos do homem adquiriram mais respeito e considerações, ainda que o ideal (que consistia na reprodução do estado natural de liberdade e igualdade) não tenha sido atingido.
Além disso, todo o positivismo, generalização e internacionalização de novos valores contribuíram para um progresso e desempenho para os sujeitos de direito. Ressaltando, porém, que: quanto mais as pretensões expandiam-se, as efetivações correlatas se tornam cada vez mais difíceis. A denominação deste impasse chama-se concessão, afligindo a proteção efetiva dos direitos.
Com relação aos direitos do homem e da sociedade, Bobbio afirma que é necessária uma distinção entre teoria e prática.
Em regra, os direitos do homem, assim como qualquer outro fenômeno jurídico, são frutos de um fenômeno social.
Bobbio faz menção a Revolução Francesa relacionando-a com os direitos do homem, retomando à Kant dando ênfase para a proclamação dos direitos de liberdade, que considera uma inovação para época. Para Kant, “a liberdade jurídica é faculdade de só obedecer às leis externas às quais pude dar o meu assentimento”.
Nesta Segunda Parte da obra, Bobbio atenta-se ao conteúdo histórico vivido pelos Direitos do Homem, baseando-se não apenas nas duas Declarações, mas também no caráter pessoal e individual de cada.
O marco histórico que foi a Revolução Francesa, colocando um ponto final no feudalismo e ratificando a Declaração dos Direitos do Homem, demonstra que o homem possui então direitos estes que antecedem à instituição do poder civil, devendo ser respeitados, reconhecidos e aplicados por esse poder devidamente, sendo direitos, portanto imprescritíveis, ou seja, não se perdem pelo não exercício.
A importância do reconhecimento dado aos direitos originários foi um divisor de águas nas políticas causando uma revolução.
Na Idade Média, a política e seu meio continham muita desigualdade de forma que os governantes abusavam de seu poder, gozando de superioridade perante os demais indivíduos.
Para que esse comportamento abusivo fosse corrigido, era necessário um abandono das tradições até então, que se baseavam no modelo de Aristóteles (onde o homem é tido como um animal político e social).
Foi necessário retomar à um estado originário, que antecedia a organização da sociedade da época, para que dali pudesse surgir um novo estado civil abandonando o estado natural. Teríamos então um estado artificial, erguido por indivíduos naturais e com direitos individualistas, contrapondo-se as concepções organicistas da sociedade de Aristóteles e da concepção individualista sistematizada por Kant.
Para Bobbio, a noção moderna de democracia que temos nasce da concepção individualista de sociedade onde: “a democracia repousa na soberania não do povo (concepção organicista), mas, dos cidadãos”.
Na terceira parte da obra, Bobbio demonstra forte resistência quanto a pena de morte. Para Bobbio a resistência (que se submete a uma atitude passiva), é o oposto da obediência, assim como a contestação é o oposto da aceitação.
A resistência representa para ele atualmente um fenômeno que contrasta como o individual, ou seja, coletivo. Juridicamente, em termos de oportunidade e eficácia, e não se há justiça ou fundamento absoluto.
Para iniciar seus comentários a respeito do tema de pena de morte, Bobbio propõe fazer uma análise do problema quanto ao direito de punir em meio a
uma sociedade, utilizando como base autores e textos clássicos. Apesar disso, para ele o debate que remete a este tema nem ao menos iniciou-se.
Antigamente, o uso da pena de morte tinha vingança empregada e disfarçava-se de forma de justiça e repasse de segurança à comunidade em relação ao autor do crime
Retomando aos tempos de hoje, Bobbio aborda o mesmo tema afirmando que judicialmente a maior discussão a respeito da pena de morte atualmente é sobre moralidade versus ilicitude, por parte do Estado, sobre matar e punir, ainda que todas as garantias processuais próprias do Estado de Direito fossem respeitadas. Salvação da humanidade, abolição da pena de morte seria um passo, ainda que modesto, para tal.
 Na quarta parte do livro, que se dedica aos direitos do homem atualmente, o autor defende que a democracia e a paz são fundamentais para os direitos do homem sendo necessário fazerem parte de um único conjunto de forma interligada.
Para Bobbio, o reconhecimento e a proteção dos direitos do homem são justamente os pilaresde sustentação das constituições democráticas, sendo que ao mesmo tempo, a paz funciona como um pré-requisito essencial para a efetivação da proteção dos direitos do homem não apenas cada qual em seu Estado, mas também no sistema internacional

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