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15/12/12Psicologia: Ref lexão e Crítica - A constituição do mundo psíquico na concepção winnicottiana: uma contribuição à clínica das psicoses
1/28www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000300005&lng=pt&nrm=iso
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Psicologia: Reflexão e Crítica
versão impressa ISSN 0102-7972
Psicol. Reflex. Crit. v.12 n.3 Porto Alegre 1999
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79721999000300005 
A constituição do mundo psíquico na
concepção winnicottiana: uma
contribuição à clínica das psicoses
Manoel Antônio dos Santos 1, 2
Universidade de São Paulo
 
 
Resumo
A importância da obra de Winnicott para a psicanálise vem
sendo reafirmada nos últimos anos, junto ao seu interesse
crescente para o campo das psicoses. O propósito do presente estudo é apresentar as
bases teóricas dessa que é uma das abordagens mais fecundas para a compreensão do
fenômeno psíquico, não apenas em condições patológicas, como em condições normais de
desenvolvimento. Trata-se de um arcabouço conceitual que nos permite pensar a
problemática resultante das organizações não edipianas do aparelho psíquico, cujas
 
 
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incidências na clínica contemporânea são cada vez mais freqüentes. Enfoca-se, sobretudo,
a gênese da organização psicótica, em suas relações com a constituição do mundo interno
e o papel estruturante do objeto e da experiência ilusória no desenvolvimento psíquico.
Palavras-chave: Psicanálise; abordagem winnicottiana; objeto transicional; realidade
psíquica; psicoses.
The constitution of the psychic world in winnicott’s conception: A contribution to the
clinical treatment of psychosis
Abstract
Over the last few years, the importance of Winnicott’s work for psychoanalysis has been
reaffirmed together with its growing interest to the field of psychosis. The purpose of the
present study was to present the theoretical basis of this approach, which is one of the
most fecund for the understanding of the psychic phenomenon, not only in pathological
conditions but also in normal developmental conditions. This is a conceptual framework
that allows us to reflect about problems resulting from non-oedipal organization of the
psychic apparatus, which incidence in contemporary clinical practice is increasingly
frequent. Major emphasis is placed on the genesis of psychotic organization, on its
relations to the constitution of the inner world and the structuring role played by the
object, and the illusory experience in the psychic development of the human being.
Keywords: Psychoanalysis, winnicottian approach; transitional object; psychic reality;
psychosis.
 
 
As contribuições de Winnicott enriqueceram a concepção psicanalítica sobre as bases do
desenvolvimento emocional precoce (Winnicott, 1945/1978), principalmente no que
concerneao conceito de fenômenos e objetos transicionais, produzidos em uma área
intermediária situada entre o mundo interno e o mundo externo. Winnicott formulou uma
concepção sobre a constituição do mundo interno bastante original, afastando-se da
doutrina freudiana à medida que não recorre à teoria pulsional. Se para Freud o objeto é
pensado como objeto da pulsão (Laplanche & Pontalis, 1967/1983), na vertente
winnicottiana o objeto adquire outro estatuto, relacionado à experiência da
transicionalidade e não mais à organização pulsional do sujeito.
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transicionalidade e não mais à organização pulsional do sujeito.
A importância da obra de Winnicott para a psicanálise vem sendo reafirmada nos últimos
anos. Seu interesse para o campo das psicoses, em particular para a investigação da
esquizofrenia, tem sido cada vez mais valorizado, à medida que essa patologia é
caracterizada essencialmente pelo transtorno do pensamento, e a preocupação com o
desenvolvimento da capacidade de pensar por conta própria é um traço distintivo da
psicanálise winnicottiana. Winnicott (1963c/1983) considera a esquizofrenia como
resultado de certas falhas de construção da personalidade, decorrentes de um ambiente
que não pôde ser suficientemente facilitador para ajudar o lactente a atingir várias metas,
tais como a integração, a personalização e o desenvolvimento das relações objetais. A
esquizofrenia faria parte do quadro das doenças mentais propriamente ditas, isto é,
aquelas doenças que não são conseqüência secundária das patologias cerebrais ou de
qualquer outra doença orgânica. O termo mental é aqui empregado em sua conotação
tradicional, ou seja, excluindo-se as "doenças do cérebro" e as "doenças do corpo".
O presente artigo tem como propósito apresentar a concepção de mundo interno elaborada
por Winnicott e sistematizar suas contribuições no que concerne à constituição dos
fundamentos da organização psicótica. Tendo em vista esses objetivos, procuraremos ao
longo de nossa exposição traçar um paralelo entre os processos normais de estruturação
do psiquismo e as suas perturbações correlatas observadas na personalidade psicótica.
Procuraremos explicitar, no decorrer de nossa argumentação, o vértice que privilegiamos
em nossa leitura, segundo o qual a psicose está ligada à privação emocional em um
estádio anterior àquele em que o bebê possa perceber essa privação. Isso acarreta uma
interrupção no sentimento de continuidade do existir, que nem sequer é experimentada
como tal, dada a indiferenciação em relação ao ambiente.
A teoria winnicottiana acentua o papel do ajustamento defeituoso do ambiente em relação
às necessidades da criança, atribuindo um papel secundário à sua reação. Em nossa
exposição, procuraremos demonstrar que essa contribuição introduz um pensamento
original dentro do referencial psicanalítico, cujas conseqüências tanto conceituais como
clínicas necessitam ainda ser pensadas.
 
Os Primórdios do Desenvolvimento Emocional
No quadro de sua teoria do desenvolvimento emocional, Winnicott (1945/1978) enfatiza
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que no princípio o bebê não constitui uma unidade em si mesmo. A unidade corresponde a
uma organização entre o indivíduo e o meio ambiente. A base da saúde mental é
estabelecida nos primórdios da infância pelo provimento de cuidados dispensados à criança
por uma mãe suficientemente boa. O bebê depende da disponibilidade de um adulto
genuinamente preocupado com os seus cuidados, isto é, que possa contribuir para uma
adaptação ativa e sensível às necessidades da criança, que a princípio são absolutas.
Portanto, a psique só pode ter origem dentro de um determinado enquadre, dentro do qual
a criança pode gradualmente vir a criar um meio ambiente pessoal, que a capacitará, mais
tarde, a se desembaraçar do mesmo. Para superar esse estado inicial de dependência e
atingir a independência, o meio ambiente criado e subjetivado pela criança transforma-se
em algo suficientemente semelhante ao ambiente percebido. Essa é uma etapa
especialmente delicada do desenvolvimento e de seu sucesso depende o estabelecimento
da saúde ou da psicose.
Winnicott (1952/1978) parte do ponto de vista de que a aquisição saudável da posição
depressiva no desenvolvimento emocional pressupõe, além de um cuidadoso manejo do
desmame, um desenvolvimento anterior adequado. Para compreender as psicoses,
precisamos remeter a esses estádios mais primordiais da psique. A desilusão, para
Winnicott (1952/1978), é um fenômeno mais amplo que antecede ao desmame. Enquanto o
desmame implica uma alimentação bem-sucedida, a desilusão está relacionada ao
fornecimento adequado de "oportunidades para ilusão". Ou seja, a mãe deve inicialmente
fornecer ao bebê a ilusão de que o que ele cria está mesmo lá para ser encontrado.
O desenvolvimento saudável está relacionado ao estabelecimento de uma tendência à
redução dos estados esquizóides nos momentos iniciais da vida, quando o bebê está sendo
gradualmente introduzido à realidade externa. Para Klein (1946/1982), o amor e a
compreensão materna são capazes de reduzir os estados de desintegração que a criança
normalmente vivencia. Winnicott (1952/1978) avança por essa trilha, mostrando a
necessidade de uma mãe-ambiente que exerça uma função altamente especializada no
início do desenvolvimento. A dedicação materna, tanto do ponto de vista físico (através do
holding) como psicológico (através da relação empática e da adaptação sensível às
necessidades do bebê), funciona como uma espécie de membrana protetora que viabiliza o
isolamento primário, fundamental para que se articule um espaço psíquico.
Em outras palavras, através de uma adaptação ativa às necessidades da criança, o meio
ambiente a torna capaz de permanecer em um estado de isolamento imperturbado,
ocupando um espaço em que ela possa desenvolver sua vida de fantasia – um mundo
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secreto sentido como só seu, onde mais tarde vai se alojar um aparelho psíquico e uma
organização dos processos de pensamento. O bebê, que não tem consciência desse
suprimento por parte do objeto, entrega-se à fruição de um movimento espontâneo. Se
tudo correr bem, o meio ambiente é descoberto, sem que haja uma perda do sentido de
self.
Quando, entretanto, ocorre uma adaptação falha às necessidades da criança, e isso a
obriga a reagir a essa experiência – sentida como invasiva –, o sentido do self se perde. A
criança se afunda no não-senso, isto é, na impossibilidade de atribuir significado, nomear e
organizar as experiências sensoriais e o próprio corpo, devido à fenda profunda que o
atravessa. Nesse caso, a criança reage a essa experiência traumática retornando ao estado
inicial de isolamento.
À medida que se reitera a experiência de uma adaptação não suficientemente boa, começa
a ser produzida uma distorção psicótica da organização meio ambiente-indivíduo. As
relações com os objetos produzem, sucessivamente, a perda do sentido de integridade do
self, de modo que, para recuperá-lo, o indivíduo é obrigado a recorrer cada vez mais ao
retorno ao isolamento primário. Essa operação vai adquirindo um caráter crescente de
organização defensiva como repúdio à invasão ambiental. O self pode ser esmagado no
espaço da realidade que ele nunca alcança e da subjetividade que carece de sentido.
O fracasso ambiental nesse ponto do desenvolvimento acirra o potencial paranóide. O bebê
se vê obrigadoa se defender de intensas ansiedades paranóides, e para tanto organiza
defesas igualmente vigorosas. Além disso, recolhe-se para seu próprio mundo interno
(introversão patológica), um mundo que ainda não está bem organizado. Para se livrar da
perseguição do ambiente, deixa de adquirir o status de unidade, "renunciando" ao
compromisso de crescer e conquistar sua própria autonomia.
Essa é a versão pessoal que Winnicott (1952/1978) dá para o conceito de posição
esquizoparanóide descrito por Klein (1946/1982). Nela introduz, contudo, uma diferença
fundamental em relação ao pensamento kleiniano, que ele não deixa de acentuar: é o
fracasso ambiental nos primórdios do desenvolvimento que leva à edificação dessa
organização defensiva, e não um suposto impulso de auto-aniquilamento, um sadismo
destrutivo inato ou qualquer tendência que possa ser atribuída à hereditariedade (loparic,
1996). Nesse ponto, podemos detectar a dissensão de Winnicott (1945/1978; 1952/1978)
em relação à importância que Klein (1946/1982; 1957/1974) atribui à herança filogenética,
aos precursores do ódio e aos prenúncios da inveja, como constituintes da matriz de
impulsos, defesas e ansiedades primitivas. Segundo Loparic (1996), para Winnicott esses
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impulsos, defesas e ansiedades primitivas. Segundo Loparic (1996), para Winnicott esses
fenômenos não têm raízes em profundezas oceânicas, nem são tão inevitáveis assim na
história dos seres humanos. Parafrasendo a famosa frase atribuída ao poeta francês Paul
Valéry, também para Winnicott "o mais profundo é a pele".
 
Uma Teoria do Amadurecimento Humano
Winnicott (1963c/1983) considera que, para compreendermos as desordens do tipo da
esquizofrenia, é necessário examinarmos os processos de maturação nos estágios iniciais
do desenvolvimento emocional, uma época em que muito desse desenvolvimento está se
iniciando e nenhum processo se completando. Nesse momento, as tendências básicas
correspondem à maturação e à dependência.
A psicanálise winnicottiana implica uma teoria do amadurecimento humano. Como vimos,
as bases da saúde mental do indivíduo são estabelecidas nos estádios iniciais do
desenvolvimento, e envolvem basicamente os processos de maturação, que são tendências
herdadas, e as condições ambientais necessárias para que eles se realizem (Winnicott,
1963b/1983). Mas não é o ambiente que faz o bebê crescer, nem determina o sentido
desse crescimento, mas apenas facilita, quando for suficientemente bom, o processo de
maturação.A única herança admitida por Winnicott é o potencial inato para o
amadurecimento, que ocorre entre dois estados de não-vida 3. Toda a existência decorre
nesse intervalo entre o não-ser e o ser, na luta do indivíduo para não sucumbir aos
estados de dissolução e estender, ao longo do tempo, a continuidade do seu ser, mediante
o funcionamento do processo maturacional.
Essa continuidade não pode ser assegurada pelo indivíduo por si só, mas depende de um
meio ambiente facilitador. Por conseguinte, a falha da provisão básica inicial perturba os
processos de maturação, barrando o crescimento emocional da criança. Nesse sentido, o
que constitui a etiologia das psicoses, em particular da esquizofrenia, é uma falha do
processo de maturação e integração. "Psicose é uma doença de deficiência do ambiente"
(Winnicott, 1963b/1983, p. 231) 4. Isso não deve ser entendido como a presença de
experiências traumáticas severas ou a ocorrência de eventos adversos durante a primeira
infância 5. O ponto central é que essas falhas são imprevisíveis. Elas não podem ser
consideradas pelo bebê como projeções, porque ele ainda não atingiu um estado tal em
que a estrutura de ego torne possível atribuir ao ambiente a produção desses fracassos, já
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000300005&lng=pt&nrm=iso#4n
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000300005&lng=pt&nrm=iso#not5
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que não há uma oposição inicial entre o externo e o interno 6. O resultado mais marcante
das falhas ambientais é um sentimento permanente de aniquilamento e pânico que toma
conta do bebê. A continuidade de sua existência é subitamente interrompida Loparic,
1996).
Winnicott (1963c/1983) chama essas falhas da provisão básica de privação, opondo esse
conceito ao de perda, já que, ao tratar das psicoses, ele não se refere àqueles casos
intermediários, em que a provisão ambiental é boa de início (logo, há uma mãe que evita
esse tipo de deficiência em um primeiro momento), e depois falha em um estádio em que
a criança ainda não foi capaz de estabelecer um ambiente interno que lhe permita ficar
independente. Isso é uma perda e não leva à psicose. O que mostra que a psicose não
pode ser explicada no quadro da função sexual.
O complexo de Édipo é uma função do amadurecimento, e não o inverso (Loparic, 1996). E
pode ocorrer de ele nem se formar, ou que os efeitos da situação edípica não incidam
sobre o indivíduo, a tal ponto que o complexo possa ser sentido como tal. Por essa visão,
o que especifica a condição humana não é o fato de sermos, desde o início, um Édipo em
potencial (Loparic, 1996), mas de sermos seres frágeis, finitos, que precisam de um outro
ser humano para continuar existindo. A sofisticada metapsicologia freudiana, apesar de
todo o seu aparato dinâmico e estrutural, tem um poder limitado para explicar os
transtornos nos quais incidem as angústias impensáveis, que cada vez mais têm se
transformado no paradigma da demanda de tratamento na época contemporânea.
Essa afirmação não se baseia em dados de pesquisa, ainda não disponíveis nessa área,
mas em observações não sistemáticas oriundas da experiência clínica de psicanalistas
como Alvarez (1994) e Zimerman (1999), que têm constatado que "...a maioria das
pessoas que hoje procura análise apresenta importantes problemas caracterológicos, de
baixa auto-estima e de prejuízo do sentimento de identidade, derivados da permanência
de um estado depressivo subjacente, muitas vezes resultantes das primitivas feridas
narcisísticas" (Zimerman, 1999, p. 312). Como ressalta Loparic (1996), é preciso buscar
novos modelos explicativos para lidar com esses casos que interrogam os limites da
psicanálise, uma vez que a metapsicologia não é capaz de, por si só, elucidar a essência
trágica do homem contemporâneo, com sua existência fraturada e descontínua.
Desse modo, investigando as particularidades dos fenômenos que têm origem nesses
estádios mais elementares do existir humano, segundo Loparic (1996), Winnicott rejeita a
idéia do conflito edípico como motor do desenvolvimento psíquico e fonte precoce das
neuroses. O que move o bebê, segundo ele, é o próprio fato de estar vivo. O bebê não
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neuroses. O que move o bebê, segundo ele, é o próprio fato de estar vivo. O bebê não
deseja incorporar a mãe, e muito menos castrar o pai (Winnicott, 1987/1990). Tudo o que
ele anseia é a presença reasseguradora da mãe, que lhe inspire uma confiança básica em
si mesmo e no mundo. Somente quando o seu contato com a mãe-ambiente for
satisfatório, o bebê poderá adquirir a capacidade de usar os seus mecanismos mentais.
 
As Angústias Impensáveis
De acordo com Loparic (1996), Winnicott, em sua obra, reconheceu que nas psicoses e em
outros distúrbios severos correlatosas angústias maciças não parecem se enquadrar no
clássico modelo da regressão aos pontos de fixação pré-genitais, vinculadas ao conflito
edípico mal resolvido (ver também Winnicott, 1955/1978). Nesses pacientes, não é
possível identificar a origem da problemática em termos de dificuldades de resolução de
um complexo de Édipo plenamente desenvolvido. Ainda que tenha acatado, inicialmente,
as reformulações kleinianas em termos da posição depressiva, Winnicott acabou se
convencendo da existência de problemas iniciais do desenvolvimento humano que
desencadeiam o que ele denominou de angústias impensáveis, que não podem ser
entendidas por meio da concepção edipiana 7.
Segundo Loparic (1996), são angústias relacionadas não à função sexual, mas às múltiplas
ameaças ao sentimento de existir que assolam o bebê, tais como o temor do retorno a um
estado de não-integração (levando ao aniquilamento e à ruptura da linha de continuidade
do ser), o medo da perda de contato com a realidade e o temor da desorientação no
espaço, o pânico do desalojamento do próprio corpo (o despencar no vazio) e de um
ambiente físico imprevisível, etc. Essas angústias primárias são impensáveis porque não
podem ser definidas em termos de relações pulsionais de objeto, baseadas no modelo
representacional (isto é, relações mediadas por representações de objeto, ou seja,
representações mentais). Ocorre que tais angústias não acedem à percepção, nem chegam
a ter um estatuto de fantasia, e à medida que não ganham conteúdo representacional, são
impedidas de alcançar a simbolização.
Essas angústias eclodem em uma etapa bastante precoce da vida, antes que tenha sido
claramente configurado um sujeito capaz de experimentá-las como algo interno. Os
estados que as originam precedem, portanto, ao início da atividade dos mecanismos
mentais e das forças pulsionais, o que implica que essas angústias não possam ser
compreendidas em termos do conflito gerado pela situação edípica. Pode-se, então,
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compreendidas em termos do conflito gerado pela situação edípica. Pode-se, então,
interrogar sobre sua verdadeira origem. Essas angústias assaltam a mente do bebê em um
estágio do desenvolvimento primário quando há o encontro com um mundo sentido como
incompreensível.
Ou seja, tudo começa com o nascimento, que é um problema fundamentalmente do bebê,
não da mãe (Loparic, 1996). E o bebê, como tal, não existe no início, segundo a conhecida
expressão de Winnicott (1971/1975). Há apenas uma configuração inicial e indissolúvel,
formada pelo bebê e o ambiente, do qual a criança não se diferencia. Isso porque nenhuma
distinção primordial entre o interno e o externo é pressuposta, como em Melanie Klein. O
que para Klein constitui o bom objeto (seio bom), para Winnicott resume-se tão somente à
maternagem acompanhada da amamentação. Em contrapartida, não existe algo
semelhante a um mau objeto (seio mau), alvo de sucessivos ataques desferidos pela
criança. E, à medida que não há noção de exterioridade, não se pode falar de mecanismos
de projeção ou introjeção operando desde o nascimento. Só é possível projetar se há um
continente para acolher a projeção. Em uma situação como essa, o bebê não pode sentir
ódio pelo objeto, pois não sabe o que é possuir algo diferente de si mesmo. A própria
capacidade de possuir e de usar o objeto (evolução da "relação de objeto" para o "uso do
objeto") deve ser construída na relação satisfatória com a mãe-ambiente (Winnicott,
1969/1975a).
Para Klein (1946/1982), a ênfase está posta no interno, enquanto que para Freud (segundo
Pereda, 1997) a angústia é sempre marcada pela carência dos primórdios e pela perda do
objeto (ou nas fantasias de castração). Ou seja, se em Klein importa a pulsão de morte,
em Freud contam as perdas. Já Winnicott (segundo Pereda, 1997) introduz a importância
radical do outro no processo de estruturação da subjetividade, rompendo com a dicotomia
interno-externo.
"O que ele descreve em sua transicionalidade é a perda do objeto para
que surja o sujeito. Objeto que ‘demora’ em sua representação mais
autônoma (disponibilidade da representação), que se encarna nele
perdendo-se (metáfora a meio caminho, que é objeto transicional), mas
que finalmente desaparece e marcará com isto a simbolização mais
acabadamente realizada e a disponibilidade da fantasia" (Pereda, 1997,
p. 85).
Talvez o que sobreviva não seja o objeto (que existe para ser "morto"), mas o sujeito
marcado pela perda ou pela destruição do objeto, testemunhando o aparecimento da
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marcado pela perda ou pela destruição do objeto, testemunhando o aparecimento da
fantasia, como uma "metáfora viva" que dá acesso ao pensamento e à cultura. Winnicott
destaca que no estabelecimento da alteridade algo se perde ao se adquirir essa conquista.
Já as falhas e distorções do brincar (processo simbólico) levam à formação de formações e
divisões que se estruturam em pseudo-identificações, na linha do falso self. As
perturbações ou a detenção do brincar criam condições para o desenvolvimento de
patologias infantis e a base para os transtornos do adulto.
 
A Experiência Ilusória e o Advento do Objeto Transicional
O êxito do desenvolvimento, que permite avançar no sentido do objeto percebido como
exterior ao self, está intimamente ligado à capacidade da criança de se sentir real. Essa
capacidade tem ainda que se harmonizar com a noção de se sentir real no mundo e de
sentir que o próprio mundo é real. O esquizofrênico não pode alcançar um sentimento de
realidade no mundo particular das relações que ele mantém com seus objetos subjetivos.
Nesse sentido, os sentimentos de desrealização e a perda do contato com a realidade
compartilhada representam o oposto da tendência maturativa.
No decorrer do desenvolvimento psíquico normal, a adaptação ativa que a mãe propicia,
procurando atender às necessidades que variam de acordo com as diferentes etapas do
desenvolvimento, nutre o potencial criativo da criança. Isso origina uma prontidão para a
alucinação. O amor e a compreensão proporcionam a identificação da mãe às necessidades
do bebê, a ponto de ela fornecer-lhe algo além do alimento, que é a possibilidade de usar
criativamente seu potencial para alucinar o seio provedor. A repetição dessa experiência
desencadeia a habilidade do bebê de usar o recurso da ilusão, sem a qual é impossível o
contato entre a psique e o meio ambiente. Isso permite que o bebê construa, nesse
espaço de ilusionamento propiciado pela mãe, um objeto que o console e lhe dê conforto:
o objeto transicional (Winnicott, 1951/1978).
Esse objeto pode ser materializado em qualquer suporte da realidade, como o polegar, a
ponta de uma manta, um urso de pelúcia ou uma boneca de pano, já que o que importa é a
função que ele desempenha e não o objeto em si. Desse modo, entre a realidade externa e
a realidade subjetiva, que de início são incomunicáveis e imissíveis, funda-se um campo
intermediário de ilusão. Para o bebê, significa uma zona de compromisso que não é
contestada quanto ao fato de pertencer ao mundo puramente subjetivo ou ao território da
realidade compartilhada.
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É nessa área constituída pelo jogo e pelo fantasiar que a criança pode colocar em uso o
sonho e os seus impulsos de vida e, através desses recursos, começar a manipular a
realidade externa, modelando-a de acordo com suas necessidadese possibilidades de
assimilação8. O fato é que o adulto, porque intui essa verdade, concede ao bebê licença
para que ele exercite à vontade "essa loucura". Só gradualmente exige que ele discrimine
entre a realidade subjetiva e a realidade compartilhada. Essa indulgência dos pais, uma
espécie de "moratória" do juízo crítico da realidade, prolonga-se na vida adulta, quando se
manifesta no campo cultural sob a forma de arte e religião, por exemplo. Nessas áreas, de
que todos necessitamos, também se observa esse "descanso do teste de realidade e da
aceitação da necessidade" (Winnicott, 1951/1978, p. 382).
As manifestações geralmente reconhecidas como psicóticas nascem de uma tendência à
clivagem básica na organização meio ambiente-indivíduo, desencadeada como uma reação
a experiências de fracasso da adaptação ativa do ambiente inicial. A extrema clivagem faz
com que a vida interior – o mundo particular de fantasias do indivíduo, contenha poucos
elementos derivados da realidade externa. A vida secreta torna-se, assim, incomunicável.
O indivíduo se deixa levar por uma vida falsa, e essa submissão a um ambiente sedutor
acaba por produzir um falso self, em que as pulsões ficam do lado do meio ambiente
sedutor, traindo a verdadeira natureza humana. Com isso, o indivíduo não consegue atingir
uma autêntica maturidade, que é substituída por uma pseudomaturidade, em um meio
ambiente psicótico.
A impossibilidade de configurar uma área segura para desenvolver o fantasiar impede o
bebê de conviver com o segredo, necessário para que ele se sinta fortalecido o suficiente
para deixar, em segurança, a proteção do isolamento primário. O campo transicional não se
constitui como tal, impedindo que a criança flutue para dentro e para fora do seu mundo
interno, de acordo com suas necessidades.
Winnicott (1952/1978) chama a atenção para o papel que os processos intelectuais
assumem nessa época. Através deles, os fracassos do meio ambiente podem ser
gradualmente levados em conta e tolerados. Eles funcionam como um elo de ligação entre
a adaptação incompleta e a completa, permitindo ao indivíduo preencher a lacuna existente
entre ambas e assim obter uma compensação para as falhas ambientais. Desse modo,
através desse mecanismo propiciado pelos processos cognitivos que é o fantasiar, uma
adaptação não suficientemente boa pode se transformar em uma adaptação
suficientemente boa - o que nos remete à descrição de Freud (1920/1969) sobre o bebê
que, através do jogo e da fantasia, encontra um meio de transformar uma experiência
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desagradável em uma atividade prazerosa. O brincar "verdadeiro" permite ampliar a
compreensão do processo simbólico e de sua função, através da representação, conceito
essencial também na formulação freudiana – basta pensar no jogo do carretel, que instala
um fenômeno novo em que imagem e palavra se amalgamam.
Se o ambiente se comporta de modo uniforme, tanto mais fácil será essa tarefa que a
criança tem de estruturar. Já uma adaptação variável (meio ambiente imprevisível e pouco
sensível) tende a ser traumática, anulando o efeito positivo dos períodos de adaptação
adequada. Winnicott (1952/1978) afirma que uma capacidade intelectual restrita induz
maiores dificuldades nessa tarefa de transformação dos traumas resultantes da adaptação
insuficiente às necessidades. Disso resultam as psicoses comuns nos deficientes mentais.
Por outro lado, também se observa que um indivíduo com uma elevada potencialidade
cognitiva, que o capacita a lidar com sérios fracassos na adaptação à necessidade, pode
desenvolver um tipo de distorção da personalidade que Winnicott (1960/1983) denomina
falso self, juntamente com uma perversão da atividade mental, à medida que ela é
utilizada contra a psique. A hipertrofia dos processos intelectuais, nesses casos,
corresponderia a uma reação defensiva contra um colapso esquizofrênico potencial. A
atividade de pensamento acaba por se tornar inimiga da psique.
 
O Verdadeiro e o Falso Self
Mannoni (1970, p. 90) mostra que falso e verdadeiro self não são "dois tipos de
personalidades (...), mas uma bipolaridade em um mesmo indivíduo", sendo que a função
primordial do falso self é precisamente ocultar e proteger o self verdadeiro. Assim, ambos
permanecem como vicissitudes naturais de expressão da vida psíquica (Pereda, 1997).
Ao formular a questão da constituição do self verdadeiro e falso, Winnicott (1960/1983)
evidencia que o elemento autêntico no self constrói-se sobre a identificação com o objeto,
ali onde se constitui um campo relacional, de onde a criança vai emergir como sujeito caso
se aceite o paradoxo de que o objeto está ali porque ela o criou magicamente, ao passo
que o falso self se constrói sobre a base do submetimento, quando o gesto espontâneo
não pôde ser acolhido.
Winnicott (1960/1983) inscreve na patologia do falso self um amplo leque de doenças,
como as psicoses, os quadros borderline, a depressão e o suicídio. De um modo geral, nas
enfermidades, incluindo-se aí as neuroses, encontram-se presentes os aspectos menos
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enfermidades, incluindo-se aí as neuroses, encontram-se presentes os aspectos menos
autênticos (mais falsos) da personalidade: "O autêntico fica do lado do verdadeiro: a
saúde, a cultura, a criatividade", o que contrasta com a proposta freudiana de que as mais
nobres qualidades humanas são feitas do mesmo estofo que os vícios" (Pereda, 1997, p.
81).
Por outro lado, o verdadeiro self não surge como resultado do conflito, mas previamente. É
uma área não reativa, talvez primária e livre de conflitos, celeiro de possibilidades da
evolução espontânea na fecunda tessitura da trama subjetiva. Pode-se fazer uma
aproximação entre a noção winnicottiana de que o self encontra-se situado no corpo com a
gênese do ego como um ego corporal, projeção mental da superfície do corpo, conforme a
descrição de Freud (1923/1969). Mas nunca é demais lembrar que talvez não existam
equivalências possíveis e que a maioria dos conceitos não se harmonizam e dificilmente
podem ser enquadrados na metapsicologia habitual. A propósito, a elucidação de
determinadas noções é lenta e complexa, devido às suas múltiplas conceituações e usos, e
a distintas visões do aparelho psíquico, que não se harmonizam com as noções conhecidas,
como as da metapsicologia tradicional. Além do que é necessário ter muita cautela quando
se faz uma confrontação de modelos teóricos em psicanálise e respeitar as diferenças
conceituais existentes entre os diversos autores e suas teorias inspiradas em bases
epistemológicas distintas.
O encontro com o objeto é uma potencialidade, como vimos anteriormente, que dará um
sentido ao gesto espontâneo do bebê e validará (ou não) o "ser verdadeiro em potência"
(Winnicott, 1971/1975). A mãe, portanto, é vista sempre em sua dimensão potencial, "e
esta mãe compreendida como entorno ou como semelhante se afasta dos objetos parciais"
(Pereda, 1997, p. 82), marcando aí um novo contraste entre a teoria winnicottiana e o
pensamento freudiano e kleiniano.
Assim, a fonte do gesto espontâneo – aquele que expressa um impulso genuíno, expresso
através de um gesto, ato ou balbucio – , é o self verdadeiro potencial, mas também o ser
espontâneo representa o ser verdadeiro em ação, que se dirige ao outro, o qual percebe e
dá lugar a que o gesto se realize. Como diz Pereda (1997, p. 87): "Quase poderíamos dizer
que o self verdadeiro é o resultado de um encontro simbolizado".
A mãe suficientemente boa como função materna, queresponde à onipotência do bebê e
de certo modo lhe dá sentido, como diz Winnicott (1971/1975c) em O brincar e a realidade,
tem também uma função simbólica, à medida que outorga sentidos imaginários e,
simultaneamente, tem de se fazer falhante na sua capacidade de dar resposta, embora
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deva introduzir a falha de modo gradual. É necessário que ela suporte profundamente e
sustente por um bom tempo – o tempo suficiente – o gesto através do qual o desejo da
criança tenta se escrever com o corpo.
Winnicott (1971/1975) descreve, em contrapartida, a mãe que não responde ao gesto
espontâneo, mas que, em vez disso, coloca ali seu próprio gesto, levando à submissão do
bebê. Em O Brincar e a Realidade lemos que o que cobra realidade é o gesto ou a
alucinação do bebê e sua capacidade para utilizar um símbolo é o resultado desse
processo. Se o anseio que esse gesto expressa não pode ser alcançado (alucinação não
gratificada), ele é reiterado, ou aparece o grito, testemunhando uma ausência. O gesto
retorna, então, como símbolo, resultado de uma perda que acontece no encontro materno.
E ali está o paradoxo que existe em torno da criação do objeto e, por fim, na constituição
do self, objeto que é encontrado para ser criado (Pereda, 1997).
A constituição do falso self surge também como uma defesa paradoxal, solução de
continuidade que vem preservar a continuidade do ser no self verdadeiro ameaçado. Com a
organização do falso self, o sujeito almeja proteger o self verdadeiro de novos ataques.
Trata-se de uma estratégia de sobrevivência baseada na resignação, na qual importa
sobreviver em vez de viver. Proteção contra a regressão a estados de não-integração,
testemunhando o esforço que demanda ao self esta tarefa de unificação, de manter
separado o que é ego do que não é. É a função materna que garantirá a continuidade do
sentimento de existir da criança e evitará a reação que resultará na dissociação,
culminando com a organização de um falso self.
 
Fundação do Campo Transicional: Os Efeitos do Paradoxo Aceito
Com sua concepção do verdadeiro e falso self, Winnicott (1960/1983) afasta-se da
perspectiva topológica. Contudo, embora a teoria winnicottiana não acate a noção
freudiana de conflito como eixo do funcionamento psíquico, resgata a importância do papel
do outro na constituição subjetiva. O outro como campo de possibilidade simbólica de
organização psíquica.
Winnicott (1951/1978) soube reconhecer o papel necessário e estruturante da ilusão. O
espaço transicional produz um tipo particular de objetos, que são modelados pelos
desejos. Esse espaço obedece a um pensamento paradoxal, cuja característica essencial é
escapar da dicotomia instaurada pela atribuição do juízo de existência, que opõe o ser e o
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não-ser sob a primazia do princípio de realidade. Esses objetos materializam os efeitos de
uma suspensão de juízo em relação à realidade. Do ponto de vista da criança, esses
objetos criados são e não são o que representam. Essa noção introduz algo de novo no
conceito de equivalência que, por exemplo, está subjacente às teorias sobre a formação do
símbolo e da capacidade representacional (por exemplo, a homologia entre um
determinado aspecto da experiência corporal e um símbolo).
Green (1994) especula que esse conceito talvez acrescente um terceiro tipo de processo,
que viria completar a clássica oposição entre processos primários e processos secundários,
propondo designá-los como processos terciários. Esses processos serviriam de agentes de
ligação entre os primários e os secundários, que estão sempre em perpétua interação. No
campo cultural, por exemplo, o mito desempenha essa função de ligação social entre a
realidade subjetiva, absolutamente singular e impermeável, e a realidade exterior, coletiva
e compartilhada. Green propõe que pensemos o mito como um objeto transicional coletivo.
Isso nos permite compreender melhor a noção de transicionalidade.
O mito, tal qual o brincar, coloca em jogo uma forma de lógica que não pode ser formulada
nos termos da lógica da não-contradição, da linguagem binária dos filósofos. É uma lógica
do equívoco e da ambigüidade, em vez da lógica do sim-ou-não. Um mito é e não é real,
pertence à categoria da ilusão. Como todo objeto transicional, não deve ser interpretado
ao pé da letra, mas como construções as quais não se concede a menor crença, uma vez
que elas não a reivindicam para operarem sua eficácia simbólica e desempenharem sua
função reguladora. Contudo, o consenso lhe concede uma existência inegável,
reconhecendo seu valor intrínseco.
Desse modo, o mito se liga tanto à realidade psíquica, pelas relações que mantém com o
sonho e a fantasia (ou seja, com um sentido inconsciente), como à realidade
compartilhada por toda uma sociedade, modulada pelos desejos coletivos.
Assim, a contribuição que Winnicott (1952/1978; 1962/1983; 1963b/1983) trouxe à
problemática da representação nas psicoses parte da apropriação que ele faz da noção
freudiana de que as origens do mundo psíquico remetem à construção de um espaço para a
fantasia. Não é sem razão que todo o seu trabalho é atravessado por uma preocupação
que remonta às origens da criatividade. Para desenvolver suas pesquisas, ele construiu um
aparato conceitual bastante engenhoso, que tem sua base na noção de espaço, objeto e
fenômenos transicionais (Winnicott, 1951/1978).
O campo transicional é constituído, como vimos, no desdobramento entre o subjetivo e o
objetivo. Os objetos e fenômenos transicionais pertencem ao domínio da ilusão, que está
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objetivo. Os objetos e fenômenos transicionais pertencem ao domínio da ilusão, que está
na base do início das experiências que marcam o desenvolvimento emocional precoce. É o
campo da experimentação intensa e da ilusão por excelência, sustentado por um paradoxo
que, ao longo do processo de desenvolvimento da criança, deve ser aceito e respeitado
(Winnicott, 1951/1978). Trata-se da relação da criança com sua primeira possessão não-eu
(objeto transicional), que está ligada tanto ao objeto externo (seio materno), quanto aos
objetos internos (seio magicamente introjetado), porém é diferente de ambos. Daí seu
paradoxo.
O objeto transicional sinaliza a transição do bebê desde um estado de fusão com a mãe
até um estado em que ele está em relação com ela como um objeto externo e destacado.
Mas, para que a criança evolua desse estado de dependência absoluta, essencial nos
estádios mais primitivos, para uma condição de autonomia possível, é preciso que ela
primeiro tenha se certificado de que pode existir algo que não faz parte dela – o que
Winnicott (1951/1978) chama de primeira possessão não-eu, representada pelo objeto
transicional.
Winnicott (1951/1978) diz que os fenômenos transicionais são permissíveis ao bebê porque
os pais reconhecem intuitivamente a tensão inerente à percepção objetiva, e não
contestam o bebê acerca da subjetividade ou da objetividade desses fenômenos,
exatamente neste ponto onde está situado o objeto transicional. Esse primeiro estádio do
desenvolvimento depende, assim, da capacidade especial da mãe de efetuar as adaptações
às necessidades do bebê, sustentando a ilusão de que aquilo que ele cria realmente
existe. Esse paradoxo não deve ser resolvido. Só assim o bebê estará capacitado a
suportar as situações precoces de separação, de perda e privação, sem o que o
desenvolvimentopsíquico fica comprometido, dando margem para a instalação de algum
núcleo patológico.
Assim, o paradoxo aceito pode ter um valor positivo, conduzindo ao desenvolvimento de
uma organização defensiva do Eu (um self verdadeiro). O adulto psiquicamente saudável
seria aquele capaz de extrair prazer desta área pessoal intermediária, sem reivindicar do
outro a aceitação da objetividade de seus fenômenos subjetivos. Isso porque ele sabe que
essa área, de fato, faz parte de um jogo, o jogo possível com a realidade (Chabert, 1993).
Assim, ele favorece na criança o reconhecimento gradual de suas próprias áreas
intermediárias de experiência. Reconhecimento que exige, a princípio, que elas não sejam
contestadas quanto a pertencer à realidade interna ou externa (realidade compartilhada),
para que a vida imaginativa possa ser fortalecida o suficiente, antes de começar a ser
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proporcionado à criança o "desilusionamento".
Desse modo, na presença de condições favoráveis, à medida que se desenvolvem os
interesses culturais, o objeto transicional do bebê vai sendo gradualmente desinvestido,
embora uma parte desta área intermediária de experimentação seja conservada na vida
adulta no plano das artes, da religião, das ciências e de todas as manifestações criativas
do ser humano (Green, 1978/1988).
 
A Capacidade para Estar Só e o Jogo Possível com a Realidade
Segundo Winnicott (1958/1983), a capacidade para estar só depende da criação de um
espaço de solidão na presença da mãe, porém como se ela não estivesse realmente lá.
Entretanto, é preciso que ela esteja lá de fato, para que a criança possa experienciar o
sentimento do ausentar-se. É necessário guardar uma distância ótima da figura materna, o
que significa que ela deve estar suficientemente próxima e suficientemente distante. A
criação de um espaço de solidão torna possível a elaboração fantasmática. Portanto, o
fracasso na constituição dessa área de solidão, seja por excesso de ausência ou por
presença em demasia do objeto materno, produziria uma paralisia na atividade de pensar.
Sabemos que a paralisia do pensamento é uma característica muito comum dos pacientes
psicóticos. Essa estagnação tem sua origem na falência precoce da organização de um
espaço de intimidade psíquica, que serviria de continente que abrigaria os pensamentos e
a própria atividade do pensar.
A situação do brincar - da qual a situação analítica pode ser vista como uma variante -,
solicita o arranjo de um espaço de solidão, isto é, apela para esta possibilidade de uma
"meditação associativa em presença do outro" - no caso da situação clínica, o psicólogo ou
o psicoterapeuta (Chabert, 1993). Aí se constitui um campo de experiência, em que
podemos observar a capacidade do sujeito para situar-se em uma área transicional, o que
permite apreciar a qualidade da distância que ele assume em relação ao objeto. Dessa
distância depende, fundamentalmente, a capacidade do sujeito de jogar com o real, isto é,
de manejá-lo de maneira eficiente, através de representações que são construídas de
acordo com as necessidades de seu mundo interno.
As eventuais falhas no uso desse campo transicional nos permitem estimar as
potencialidades do indivíduo, em termos de saber qual é, para ele, o jogo possível com a
realidade, e se esse jogo lhe permite alcançar, ou não, o pensamento verdadeiramente
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criativo. O nível de eficácia do funcionamento psíquico dependeria da medida em que o
paciente se mostra capaz de utilizar esse espaço transicional, no qual possa,
simultaneamente, se auto-representar e representar o objeto. É justamente a perda da
possibilidade de pensar secretamente que está no fundamento da psicose, e é contra suas
conseqüências que o delírio se insurge e tenta lutar.
O equilíbrio psíquico depende da possibilidade de se preservar um prazer em pensar que
derive, primariamente, do puro prazer de criar esse pensamento. A impossibilidade de
constituição segura de um espaço de solidão e de um espaço transicional, precursores do
continente psíquico que abrigaria os elementos oníricos, tem conseqüências decisivas para
o destino do sujeito. Devido às falhas na capacidade de simbolização decorrentes, o
sujeito não consegue constituir um objeto da realidade psíquica vinculada ao corpo, nem
limitar um espaço pessoal interno que o contenha. Os sonhos passam a ter apenas uma
função evacuatória (Green, 1975/1988). As fantasias são produtos de uma atividade
compulsiva, destinada apenas a preencher maniacamente um vazio insuportável,
decorrente da falta de linearidade do espaço e do tempo (Winnicott, 1971/1975). Os afetos
não adquirem uma função representativa (Green, 1973). As ações já não mais têm a
capacidade de transformar a realidade, e freqüentemente servem apenas para aliviar o
aparelho psíquico de um quantum intolerável de estímulos e excitações, gerado pela
impossibilidade de reduzir a quantidade maciça de afetos, que não puderam ser elaborados
pelo pensamento.
 
Implicações para uma Intervenção Psicanalítica nas Psicoses
Discutimos, anteriormente, o desenvolvimento de uma organização defensiva como repúdio
à invasão do meio. Esse tipo de perturbação vai exigir um tipo de psicoterapia que forneça
uma adaptação ativa ao indivíduo, e que respeite a noção de processo, isto é, que procure
atender à necessidade de construção gradual das diferentes etapas do desenvolvimento.
Os psicóticos precisam ser alimentados em seu potencial criativo, que se origina do
contato com a realidade psíquica e suas necessidades de suprimento.
Com vistas ao tratamento desses casos, Winnicott (1955/1978; 1963/1983a; 1963/1983b)
apregoa uma aplicação mais ampla da técnica psicanalítica, desde que o analista aceite a
mudança na teoria da etiologia dos distúrbios, que por sua vez implica a necessidade de
modificação da técnica clássica. O tratamento pode ter êxito, mas somente se a atuação
do analista não ficar confinada à relação transferencial. A técnica analítica clássica
continua sendo válida, mas sua aplicação deve ser limitada aos casos para os quais ela foi
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continua sendo válida, mas sua aplicação deve ser limitada aos casos para os quais ela foi
concebida, "de modo que a interpretação possa ser feita, se o paciente está preparado
para interpretações desse tipo" (Winnicott, 1963/1983b, p. 210). Em contrapartida, o
psicanalista que deseja trabalhar no campo das psicoses deve saber que sua técnica
terapêutica tende a ser inócua nesses casos, a menos que ele aceite sair de seu papel em
momentos apropriados. O analista deveria efetuar um tal manejo da situação analítica de
modo a procurar suprir aquelas falhas do ambiente que comprometeram o desenvolvimento
psíquico, fornecendo a provisão necessária para a evolução do self e, conseqüentemente,
diminuindo a necessidade do paciente recorrer às defesas primitivas.
O significado do conceito de regressão na metapsicologia mudou desde Freud (Winnicott,
1959-64/1983). Ele já não implica um retorno a fases mais precoces da vida pulsional e a
determinados pontos de fixação. Essa visão corresponde a uma ênfase excessiva que era
dada aos elementos pulsionais da criança, ignorando-se os cuidados ambientais. A partir
da observação de crianças em situação natural, isto é, de uma criança concreta, deve-se
incluir a consideração do ambiente e da dependência. Winnicott propõe restringir o termo
regressão a uma aplicação clínica, em termos de regressão à dependência. Há uma
tendênciaao restabelecimento da dependência, e por isso a natureza e o comportamento
do meio devem ser necessariamente examinados. Mantém-se, por outro lado, a idéia de
regressão ao processo primário.
A tendência à regressão, nesse sentido, deve ser vista como a expressão de parte da
capacidade do paciente de se curar, à medida que funciona como uma comunicação da
parte sadia do indivíduo, que proporciona ao analista a indicação de como deve se conduzir
no processo (conduzir-se no sentido de criar um ambiente propício à criação de novos
significados, mais do que interpretar, isto é, decodificar sentidos que já estariam
presentes ali). Cremos que é nesse sentido que Winnicott (1959 [1964] /1983), ressalta
que "a regressão representa a esperança do indivíduo psicótico de que certos aspectos do
ambiente que falharam originalmente possam ser revividos, com o ambiente dessa vez
tendo êxito ao invés de falhar na sua função de favorecer a tendência herdada do indivíduo
de se desenvolver e amadurecer." (p. 117)
Assim, Winnicott (1959 [1964]/1983) deduz que não se deve partir do modelo da neurose
para compreender a psicose, como uma espécie de negativo da neurose (até porque Freud,
1905/1969, já evidenciara que o negativo da neurose é a perversão). A psicose não é uma
espécie de neurose às avessas, ou uma neurose que ficou a meio caminho e não completou
todos os seus estágios. A neurose pressupõe que o paciente, durante a infância, atingiu
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um determinado estágio de desenvolvimento emocional, em que as várias etapas do
complexo edípico foram superadas e organizadas sob a primazia da genitalidade, de modo
que certas defesas contra a ansiedade de castração puderam ser estabelecidas. A
personalidade do indivíduo está intacta, o que, em termos evolutivos, significa que ela
pôde ser construída e mantida, conservando sua capacidade para as relações objetais.
Quando, pelo contrário, predomina a ansiedade de aniquilamento, então tendemos a
considerar que o quadro se inclina mais para uma psicose. A questão parece ser a de saber
se a ameaça é em termos de parte do objeto, ou do objeto total. Em todo caso, há pouca
semelhança com a neurose, uma vez que o indivíduo não atingiu ainda o complexo de
Édipo, de modo que a ansiedade de castração ainda não representa uma ameaça maior
para a personalidade. Mas raramente há um movimento irreversível no sentido contrário ao
crescimento pessoal, ou seja, rumo à fragmentação. Se o trabalho com a neurose leva até
o inconsciente reprimido, a psicose leva até os estádios mais primitivos do
desenvolvimento e da organização da mente, quando ainda não se fixou uma diferença
nítida entre o self e o não-self. Ou seja, conduz à relação de dependência materna,
durante a fase de identificação primária, prévia ao estabelecimento dos mecanismos de
projeção e de introjeção.
A psicose está ligada à privação emocional em um estádio anterior àquele em que o bebê
possa perceber essa privação. Além da falha ambiental em si, a provisão necessária está
completamente fora da percepção e da compreensão do bebê. Nesse caso, não chegou a
existir uma provisão sentida como suficientemente boa e que, em determinado momento,
cessou. Em vez de uma interrupção no sentimento de continuidade da existência, que fazia
parte do ambiente suficientemente bom, o bebê é surpreendido por uma interrupção de seu
existir que não pôde ser atribuída a ninguém e a nada, e que nem sequer é experimentada
como tal, já que ele se encontrava em um estágio evolutivo que ainda não o capacitava a
se diferenciar minimamente do ambiente. Assim, o ponto de origem da privação é mais
precoce e totalmente indeterminado, ocasionando não propriamente uma perda, total ou
parcial, mas uma incapacidade absoluta de se relacionar com objetos (Loparic, 1996).
Essa é uma visão completamente nova e revolucionária, e não uma mera rearticulação de
conceitos já conhecidos, que aparecem reciclados sob uma nova roupagem. A ênfase é
posta no ajustamento defeituoso do ambiente, e só secundariamente na reação da criança,
o que contrasta vivamente com a tradição kleiniana, que coloca a fantasia inconsciente
como eixo da organização psíquica, minimizando o papel exercido pelo objeto externo no
processo de constituição dos pilares da subjetividade.
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Por outro lado, Winnicott (1959 [1964]/1983) lembra que os mecanismos primitivos que
atuam no psicótico não são privilégio das psicoses. Portanto, o que tipifica a psicose, na
visão winnicottiana, não são os mecanismos psíquicos, nem o tipo de ansiedade em jogo,
mas as defesas primitivas, que não teriam de ser organizadas nos estágios subseqüentes
do desenvolvimento caso houvesse, nas etapas mais precoces de dependência quase
absoluta, a provisão suficientemente boa. As falhas do ambiente favorável levam a esse
comprometimento da evolução da personalidade e do self do indivíduo, cujo "resultado é
chamado esquizofrenia" (Winnicott (1959-64/1983b, p. 124).
Loparic (1996) sublinha que Winnicott (1951/1978; 1955/1978; 1963/1983c; 1971/1973c;
entre outros), trabalha a questão da falta, da ausência, da expectativa não correspondida,
do encontro frustrado, do desejo não contemplado, o que fica evidente quando ele
diferencia o no-thing (ausência de coisa) do nothing (coisa alguma, ou sua inexistência),
que caracteriza a organização psicótica.
Winnicott é um analista do vazio, para usarmos uma expressão de Green (1975/1988). Ele
aponta para a valorização da dimensão do negativo, isto é, a necessidade, em primeiro
lugar, da análise daquilo que não pôde ser construído ao longo do processo de
desenvolvimento mental, evidenciando-o nas organizações narcísicas, e, em seguida, na
organização psicótica.
A análise nesses casos tem de se dedicar à tarefa de criação de significados – mais do que
de desvendamento e interpretação de sentidos latentes e, portanto, existentes embora
cifrados – , visando levar o indivíduo à simbolização, que irá permitir que o psiquismo
supere suas fraturas e entre em conexão com o corpo e suas moções pulsionais. À medida
que estimulamos o mundo interno, facultamos ao paciente a possibilidade de desenhar os
contornos de sua subjetividade, através de um processo de amadurecimento progressivo. A
partir daí, a psicanálise pode se defrontar com alguns fenômenos mais arcaicos, como as
angústias impensadas (Winnicott), que nos permitem meditar sobre a solidão essencial do
homem contemporâneo, com sua natureza essencialmente trágica (Loparic, 1996).
A psicanálise tradicional não comporta o desafio das psicoses e toda uma ampla gama de
patologias que, paradoxalmente, constituem parte significativa do universo da demanda
contemporânea de tratamento (Alvarez, 1994). Nesse sentido, o pensamento winnicottiano
traz um alento para aqueles que trabalham com situações limítrofes, com os chamados
casos borderlines, os transtornos de caráter e as psicoses em suas diferentes
configurações.
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1 Texto apresentado no Grupo de Trabalho "Psicanálise Contemporânea: Convergências e
Divergências". VII Simpósio de Pesquisa e Intercâmbio Científico da ANPEPP, Gramado,
maio de 1998. Artigo baseado na Tese de Doutorado (Santos, 1996). Projeto de pesquisa
financiado pela CAPES/PICD.
2 Endereço para correspondência: Av. Bandeirantes, 3900, 14040-901, Ribeirão Preto, SP.
Fone: (16) 602-3645 Fax: (16) 602 3632. E-mail: masantos@ffclrp.usp.br3 Essa capacidade para o crescimento não é, contudo, biológica, e tampouco um
mecanismo mental, mas uma função a ser desenvolvida. Não se baseia em uma herança
filogenética, constituída ao longo da história da espécie humana. Isso porque "o homem
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mailto:masantos@ffclrp.usp.br
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winnicottiano não faz parte da natureza física, ele é uma pessoa, não uma coisa, ele não é
efeito de um processo natural, mas de um acontecer resultante da temporalização da
natureza humana, concebida sem qualquer recurso ao momento biológico do homem"
(Loparic, 1996, p. 13). Portanto, não há na teoria winnicottiana qualquer paralelismo com
as protofantasias de Melanie Klein, nem com as preconcepções inatas de Bion.
4 "...na psicose há defesas muito primitivas que são trazidas à ação e organizadas, por
causa de anormalidades ambientais" (Winnicott, 1959 [1964]/1983).
5 Por vezes, o fator ambiental não é um trauma específico e isolado, mas um padrão de
influências distorcidas, que se mantêm por um período de tempo suficientemente
prolongado, forçando o estabelecimento de defesas primitivas para a proteção do self,
antes que a realidade psíquica pudesse ser localizada em seu interior. Isto é o oposto do
que Winnicott denomina de ambiente favorável, isto é, aquele que permite a maturação da
criança.
6 A noção de externalidade é uma construção posterior do bebê, quando ele aprende a usar
o objeto. Por esse prisma, o bebê de início não internaliza, nem projeta o objeto; não o
ama, nem o odeia, nem lhe é indiferente, mas sobretudo depende do objeto (Loparic,
1996). Nessa etapa da vida, o amor é uma mera questão de dependência física; nesse
sentido, a mãe inicialmente não seria um objeto libidinal, mas uma mãe-ambiente da qual
ele necessita de maneira absoluta para não despencar no vazio. Se a mãe falhar, ele entra
em colapso, porque é sensível a algo em algum lugar, mas esse lugar não é nem dentro,
nem fora. Não é um objeto interno, e tampouco um objeto externo.
7 Além disso, Winnicott (1962) reputa como "contribuições duvidosas" de Melanie Klein a
manutenção do uso da teoria da pulsão de vida e da pulsão de morte, formulada por Freud,
bem como sua tentativa de considerar a destrutividade do bebê como um aspecto
hereditário ou como produto da inveja (Loparic, 1996). Em sua opinião, o conceito de
pulsão de morte não é necessário, já que a agressividade é vista mais como uma evidência
de vida, à medida que expressa a tentativa de separação e individuação em relação ao
objeto (Winnicott, 1959 [1964]/1983).
8 Talvez o dramaturgo irlandês Bernard Shaw (1856-1950) tivesse essa idéia em mente ao
escrever que: "O homem razoável se adapta ao mundo. Aquele que não é razoável persiste
em querer adaptar o mundo a si próprio. Por isso, qualquer progresso depende do homem
não razoável."
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http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000300005&lng=pt&nrm=iso#n5
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Recebido em 15.01.99
Revisado em 12.06.99
Aceito em 15.06.99
 
 
Sobre o autor:
Manoel Antônio dos Santos é psicólogo, Doutor em Psicologia Clínica pelo Instituto de
Psicologia da USP e Professor do Curso de Pós-Graduação em Psicologia do Departamento
de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da
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15/12/12Psicologia: Ref lexão e Crítica - A constituição do mundo psíquico na concepção winnicottiana: uma contribuição à clínica das psicoses
28/28www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79721999000300005&lng=pt&nrm=iso
de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
Coordena o Núcleo de Ensino e Psicologia Clínica (NEPP).
 
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