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MÓDULO 0
 
DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
 
Organização do material:
 
A disciplina contempla a apresentação das teorias psicanalíticas de Melanie Klein e de Donald W. Winnicott. Serão transmitidos os principais conceitos destes autores articulados ao método psicanalítico, à ética da psicanálise e à compreensão das experiências humanas contemporâneas. Com isto, visa-se a articulação entre textos clássicos da psicanálise e o pensamento psicanalítico contemporâneo.
 
O material poderá ser utilizado como orientação para seu estudo e como complemento das atividades realizadas nas aulas presenciais.
 
O programa da disciplina está distribuído em 8 módulos, que devem ser estudados ao longo do semestre letivo. Alguns tópicos serão objeto de avaliação na NP1 (Módulos 1 a 4) e outros serão avaliados na NP2 (Módulos 5 a 8).
 
Sugerimos que você siga a ordem abaixo apresentada, ao planejar seu estudo, uma vez que os temas mantém entre si uma relação lógica.
 
 
Modulo 1: Melanie Klein - Vida e Obra 
 
Panorama geral da vida e obra de Melanie Klein.
Contexto social, cultural, histórico e político.
A psicanálise de crianças. A técnica do brincar.
 
 
Módulo 2: Vida Emocional e Mundo Interno
 
Agressividade e destrutividade.
Sadismo infantil, angústia e culpa. 
Conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte (amor e ódio). 
Conflito edipiano e Édipo precoce, formação do superego e Superego implacável.
 
 
Módulo 3: O inconsciente kleiniano
 
Fantasia, projeção, introjeção, identificação projetiva.
Teoria das posições - esquizo-paranóide e posição depressiva.
Inveja, gratidão e reparação.
 
 
Módulo 4: Clínica kleiniana
 
Transferência e contratransferência: limites da dupla analítica. 
Elaboração enquanto finalidade da análise.
Limites à analisibilidade.
 
 
Módulo 5: Donald Winnicott - Vida e obra
 
Panorama geral da vida e obra de Donald Winnicott:
Contexto social, cultural, histórico e político.
O Grupo Independente da Sociedade Psicanalítica Britânica.
 
 
Módulo 6: Desenvolvimento emocional e o ambiente facilitador
 
Mãe suficientemente boa. 
Processo maturacional; da dependência à independência.
Agressividade e Tendência antissocial.
 
 
 
Módulo 7: Objeto transicional e Fenômenos transicionais em psicanálise
 
Objeto transicional - fenômeno transicional.
Gesto espontâneo - sua relação com o Falso e Verdadeiro self .
Espaço potencial.
 
 
Módulo 8: Clínica winnicottiana
 
O método psicanalítico: observação direta da criança;
Regressão e continência na análise.
Transferência e contratransferência. 
Limites do setting, da analisibilidade, limites pessoais ou contratransferências do analista.
 
 
Cada Módulo contempla a apresentação do tema a ser estudado, as leituras necessárias e exercícios de verificação da aprendizagem. Os temas só poderão ser minimamente apreendidos em sua complexidade se forem realizadas as leituras indicadas, pois este material servirá como um roteiro para organizar seu estudos e permitir que avance em sua formação acadêmica.
 
O presente conteúdo, por se tratar da apresentação do curso, não inclui exercícios. 
 
 
Bibliografia:
 
A Bibliografia apresentada a seguir relaciona as obras consideradas importantes para o estudo dos temas, assim como indicações de de fontes eletrônicas que serão úteis em seus estudos. Em cada módulo, serão indicados os trechos específicos que devem ser lidos.
 
Bibliografia Básica:
KLEIN, M. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991-1997. 
WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
WINNICOTT, D. W. Da Pediatria à Psicanálise. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1993.
 
Bibliografia Complementar:
 
CINTRA, E. M. U. ; FIGUEIREDO, L. C. Melanie Klein, estilo e pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
JOSEPH, B. Equilíbrio psíquico e mudança psíquica. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1992.
NASIO, J. D. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
OUTEIRAL, J. O. ; GRAÑA, R. B. Donald W. Winnicott: estudos. Porto Alegre: Artes Médicas Editora, 1991.
WINNICOTT, D. W. Natureza Humana. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1990.
 
Endereços eletrônicos para pesquisa na área:
 
Pepsic: http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php/lng_pt 
 
Scielo: http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_home/lng_pt/nrm_iso 
 
Pubmed: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?db=pubmed 
 
SBPSP: http://www.sbpsp.org.br 
 
SBPWSP: www.centrowinnicott.com.br
DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
MÓDULO 1
Desdobramentos e expansões da psicanálise:- a Psicanálise na Inglaterra, França e Estados Unidos.
Diferentes matrizes clínicas e suas consequências para a teorização psicanalítica.
Panorama geral da vida e obra de Melanie Klein. Contexto cultural, histórico e político.
A psicanálise de crianças. A técnica do brincar.
Édipo precoce e formação do superego. Conflito entre pulsão de vida e pulsão de morte (amor e ódio).
 
Bibliografia básica/obrigatória:
CINTRA, E.M.U.; FIGUEIREDO, L.C.M. Melanie: algumas informações introdutórias. In: ______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
______. Melanie Klein, a psicanálise e o movimento psicanalítico internacional: dados históricos. In: ______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
KLEIN, M. Estágios iniciais do conflito edipiano (1928). In: ______. Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
 
 
A psicanálise pós-freudiana tem em Melanie Klein (1882-1960) um de seus principais representantes, sendo seu pensamento, suas ideias e as inovações que trouxe para o campo da teoria e da clinica psicanalíticas só comparáveis ao ensino de Jacques Lacan e, por isto tendo repercussão mundial. Apesar de manter-se respeitosa quanto a anterioridade histórica representada pelo pensamento freudiano, promoveu transformações importantes - e algumas radicais - na teoria em questão, criando a psicanálise de crianças e instaurando o que viria a se chamar análise didática, fazendo dela, como disse Roudinesco (1998), “uma chefe de escola”.
 
Seu interesse pela psicanálise começou com a leitura do texto de Freud, Sobre os sonhos (1901), dando início em sua análise pessoal com Sandor Ferenczi, que será quem a levará para apresentar, em 1919, um trabalho sobre a análise de uma criança de cinco anos que era, na verdade, a análise empreendida por ela de seu próprio filho. 
Karl Abraham será seu segundo analista, tendo iniciado sua análise com ele em 1924 e, além disto, as ideias de Abraham lhe inspiraram no desenvolvimento de suas próprias perspectivas sobre a organização do desenvolvimento sexual, começando a questionar, principalmente, alguns aspectos do complexo de Édipo.
Sua compreensão do psiquismo humano, assim como a construção de sua teoria baseou-se na observação das crianças e principalmente destas na interação com os brinquedos. Destas observações iniciam-se suas contribuições à compreensão das causas dos distúrbios emocionais mais severos. Suas convicções conduzem a uma nova escola psicanalítica que enfatiza a influência do intrapsíquico do bebê na sua relação com o mundo externo; destaca a importância do que ocorre durante o primeiro ano de vida do bebê humano, como vivências determinantes de nossa personalidade. 
Tornou-se um expoente teórico das relações de objeto e uma pioneira na análise infantil. Entre suas principais contribuições podemos destacar a ênfase nas primeiras relações de objeto; a existência de um ego rudimentar (contrariando a ideia freudiana); a noção de fantasia inconsciente e o uso de defesas primitivas operando já desde o nascimento; a presença de um sadismo e agressividade constitucionais; o reconhecimento de um superego arcaico cuja manifestação acontece desde muito cedo no desenvolvimento psíquico da criança; o uso do brinquedocomo um meio de acesso ao psiquismo da criança e cuja para a interpretação; sua técnica psicanalítica de lidar com as forças intrapsíquicas por meio da interpretação precoce de impulsos inconscientes. 
Para Klein, os estágios iniciais do complexo de Édipo começam durante a posição depressiva. Ela parte da ideia de que a criança tem um conhecimento inato dos genitais de ambos os sexos e que fantasias orais e genitais influenciam desde o nascimento no uso qualitativo de mecanismos de projeção e introjeção que constituem o mundo interno e sua relação com o “objeto” externo - mãe. A constatação que o bebê realiza no decorrer da posição depressiva, a unificação do objeto (objeto bom e objeto mau são o mesmo), o faz temer fantasiosamente sua perda e o risco da retaliação, como respostas aos ataques dirigidos ao seio mau. 
 
Exercício
O Conceito Kleiniano de Complexo de Édipo se difere em partes do conceito desenvolvido por Freud, já que para Melanie Klein: 
A. O Complexo de Édipo pode ser verificado quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância e dá-se então conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do sexo oposto no ambiente familiar.
B. O Complexo de Édipo é o momento em que os impulsos sexuais da criança passam a ser direcionados ao progenitor do sexo oposto.
C. No momento em que o bebê se relaciona com um de seus progenitores de forma discriminada, ou seja, quando percebe que sua aproximação de um deles, objeto bom, o faz sentir-se mais seguro. 
D. O Complexo de Édipo se inicia quando surge na criança o medo da perda do objeto bom, momento em que a ansiedade persecutória perde força e os impulsos amorosos, ao contrário, tornam – se mais fortes. 
E. A chegada ao Complexo de Édipo representa uma conquista tardia no processo de amadurecimento, pois é preciso que a criança tenha passado com sucesso outras etapas no desenvolvimento emocional.
 
Resposta: D
 
 
Ainda em Viena, na década de 20, confrontou-se diretamente com Anna Freud, o debate era em torno do que deveria ser a psicanálise de crianças aparecendo sob duas posições: uma forma nova e aperfeiçoada de pedagogia (posição defendida por Anna Freud) ou a oportunidade de uma exploração psicanalítica do funcionamento psíquico desde o nascimento (como queria Melanie Klein). O conflito estendeu-se, provocando o descontentamento de S. Freud e, desde sempre, Melanie Klein ficou marcada como alguém que provocava paixões e repulsas à sua volta. Em 1927, com a apresentação de “Os estádios precoces do conflito edipiano” expôs explicitamente suas discordâncias com Freud sobre a data de início do complexo de Édipo, sobre seus elementos constitutivos e sobre o desenvolvimento psicossexual diferenciado dos meninos e das meninas. Já com A psicanálise de crianças (1932), expôs a estrutura de seus futuros desenvolvimentos teóricos, sobretudo o conceito de posição (posição esquizo-paranóide/posição depressiva), assim como sua concepção ampliada da pulsão de morte. 
Em Londres, onde Melanie já estava desde 1926, com a chegada dos analistas vienenses e berlinenses que fugiam do nazismo - inclusive a família Freud - as hostilidades irromperam e na década de 40 começou o período das Grandes Controvérsias, cujos autores eram essencialmente mulheres, umas reunidas em torno de Melanie Klein e outras em torno de Anna Freud. Em 1946, um Lady’s agreement resultou na institucionalização de uma divisão da Sociedade entre kleinianos, annafreudianos e Independentes (Winnicott).
 
 Exercício
Para Figueiredo (2004), Melanie Klein é um nome de grande importância e peso no cenário psicanalítico contemporâneo. Suas contribuições ao campo da psicanálise representaram uma ampliação e uma renovação da técnica analítica. Tendo em vista o percurso histórico da psicanálise kleiniana, assinale a alternativa CORRETA: 
A. Melanie Klein tem uma forte ligação teórica com a psicanálise. Seu primeiro contato com a mesma se deu diretamente com Freud, em uma conferência que ele proferia em Budapeste. Maravilhada com a proposta freudiana, Melanie Klein se torna uma leitora assídua da obra. 
B. Em Berlim, no início de sua carreira e antes de iniciar seu trabalho com crianças, Melanie Klein estabelece a análise de psicóticos e borderlines como uma área legítima da clínica psicanalítica a partir de um fazer clínico singular. 
C. Apesar do interesse mútuo pela psicanálise com crianças, Melanie Klein e Anna Freud tinham claras divergências teóricas, diferenças estas que em Londres contribuíram para a separação entre os kleinianos e freudianos. 
D. Melanie Klein possuía um espírito muito criativo e inovador, se propondo a discutir e desenvolver muitas idéias consideradas polêmicas mesmo dentro do meio psicanalítico. Sua impecável formação acadêmica e seu refinado estilo de escrita, a protegeram de maiores críticas ou ataques pessoais. 
E. A autora em questão é a principal integrante do grupo kleiniano inglês. Este grupo, que era muito forte e coeso, dominou o cenário psicanalítico internacional durante as décadas de 40 e 50, obtendo alcance teórico mundial.
 
 
Resposta: C
 
 Em 1955, no Congresso de Genebra, M. Klein apresentou sua comunicação intitulada “Um estudo sobre a inveja e a gratidão”, na qual desenvolvia o conceito de inveja, que articulava com uma extensão da pulsão de morte, à qual dava um fundamento constitucional. Assim, retoma o início de suas propostas aliadas às de Karl Abraham., mas dá início também a uma nova polêmica que gerou seu rompimento com outro grande expoente da psicanálise inglesa, D. W. Winnicott.
Assim, as propostas kleinianas constituem-se como um sistema de pensamento que modificou inteiramente a doutrina e a clinica freudianas, criando novos conceitos e instaurando uma prática da análise, da qual decorreu um tipo de formação didática diferente da prática freudiana clássica. 
Melanie Klein e seus sucessores tiveram o grande mérito de integrar à psicanálise não só o tratamento de crianças, como o tratamento das psicoses; quanto aos aspectos teóricos mais relevantes para uma introdução a este tema, é fundamental destacar as mudanças que sua perspectiva promoveu quanto ao complexo de Édipo, à relação arcaica mãe/bebê e o lugar do pai, cujas evidências encontrou na elucidação do ódio primitivo (inveja) que seria próprio dos primórdios da relação de objeto e, quanto à estrutura da psicose, fará entender-se pela conceituação das posições esquizo-paranóide e posição depressiva. Assim os kleinianos inscreveram a loucura no âmago da subjetividade humana.
Este interesse em relação à psicose e às relações arcaicas com a mãe foi passo fundamental na possibilidade de identificação do que há de recalcado já na criança - o bebê. Com isso propôs-se, ao mesmo tempo, uma teorização rica e complexa sobre a subjetividade humana, inscrevendo a loucura no seu centro e oferecendo um enquadre aos tratamentos especificamente infantis.
 
Exercício
A teoria desenvolvida por Melaine Klein é considerada por muitos psicanalistas de imensa contribuição para a Psicanálise, principalmente os conceitos sobre o desenvolvimento primitivo do psiquismo. Contudo, verificamos em sua biografia que apesar de viver em um rico meio cultural, artístico e filosófico não cursou uma universidade sendo considerada uma analista leiga. Sendo assim, Melanie Klein iniciou seus primeiros contatos com a psicanálise a partir de: 
A. Observações de crianças que estavam no período de latência. 
B. Por indicação de amigos que estudavam psicanálise. 
C. Por meio de diversas leituras de obras de autores que teorizavam sobre o porquê da guerra. 
D. Primeiramente pela leitura de Freud e logo em seguida pela experiência de análise como paciente de Sándor Ferenczi. 
E. Pela experiência de análise como paciente de Freud.
Resposta: D
 DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
MÓDULO 2
 
Vida emocional e mundo interno.
Objeto bom/objeto mau - relação de objeto.
Agressividadee destrutividade. 
 
 
Bibliografia: 
BARROS, R. E. M. Á guisa de introdução. In: ULHOA CINTRA, E. M. FIGUEIREDO, L.C. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
CINTRA, E.M.U.; FIGUEIREDO, L.C.M. Apreciação introdutória do estilo de pensamento e de escrita. In:______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
______. Pequena reconstituição da história dos sistemas kleinianos. In: ______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004
 KLEIN, M. Estágios iniciais do conflito edipiano (1929). In: ______. Obras Completas: Amor, culpa e reparação e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
______. Nosso mundo adulto e suas raízes na infância (1959). In: ______. Obras Completas: Inveja e Gratidão e Outros Trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
ROUDINESCO, E. PLON, M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 1998.
 
 
As modificações propostas por M. Klein na teoria psicanalítica inauguraram uma nova perspectiva vida emocional e do mundo internos. Relacionaremos, a seguir, alguns dos elementos que formam determinantes em seu pensamento.
Melanie Klein amplia profundamente a ideia de mundo interno, para a autora há duas fontes de ansiedade no começo da vida: uma interna - constitucional - e outra externa – ambiente.
Para ela, ao contrário de Freud, o ser humano ao nascer já é dotado de um ego primitivo e rudimentar que passa a estabelecer contato com o mundo externo em simultaneidade com as experiências e vivências corporais. O mundo interno para Klein, é um espaço “virtual” em que se inserem objetos, pulsões, instintos, funções e relações.
A relação inicial que se estabelece com a mãe, bem como todas as vivências com os elementos de convivência no mundo concreto confluem com as vivências corporais proprioceptivas e passam a incorporar imagens internas que formarão o mundo interno do bebê kleiniano.
Estas imagens internalizadas ou imagos constituem-se tanto das figuras reais, quanto imagens introjetadas, deformadas fantasiosamente, por meio do processo contínuo de múltiplas projeções e introjeções, formando os "objetos internos", que apesar de serem introjetadas a partir das figuras reais, não correspondem a estas. Esse mundo interno é vivenciado pelo bebê como “real”, tanto quanto o mundo externo, constituindo-se como determinante de nossa maneira de viver e nos relacionar.
O bebê após o nascimento vive um conjunto ansiedades de aniquilamento, decorrentes de vivências e sensações perturbadoras do mundo pós-natal, muito diferente daquilo que vivera antes do nascimento. Tais experiências aliadas à diminuta capacidade para compreender a realidade, passam a ser sentidas como ameçadoras, impelindo-o a recorrer às fantasias onipotentes como forma de defender-se de sentimentos e vivências não satisfatórias, bem como a ansiedade e agressividade projetada. Tais vivências forçam este bebê a recorrer maciçamente ao uso dos mecanismos de defesa negação, cisão, projeção e introjeção para poder suportar esta realidade, percebida de forma fragmentada e cindida em bom e mau.
Os mecanismos de defesa – introjeçao e projeção – são responsáveis pela constituição do aparelho psíquico e objetos internos, têm uma função reguladora de prazer-desprazer no aparelho. Enquanto a introjeçao insere no aparelho psíquico as experiências boas formando um registro dinâmico que constitui o bom objeto, que ajuda a criança a tolerar estados transitórios de frustração, a projeção expele as ansiedades provindas das fantasias inconscientes e inatas (phantasias) decorrentes das próprias tendências vorazes, originadas da realidade pulsional e vivenciadas das frustrações do mundo real (CINTRA e FIGUEIREDO, 2004).
A fantasia em Klein é originária ao ser humano, a criança já nasce com a capacidade de fantasiar; estas fantasias expressam impulsos e reações instintivas. Para Klein, as fantasias são representantes psíquicas das pulsões libidinais e destrutivas inatas.
 
Na década de 30 Melanie Klein introduziu a clivagem no objeto (até então, Freud havia falado em clivagem do eu), a fim de cindi-lo em objeto bom e objeto mau (ROUDINESCO, 1998). O mundo interno seria constituído por seus objetos, agora clivados. O objeto parcial, tal como o seio, por exemplo, passa a ser pensado como um objeto clivado (dividido): num seio ideal, objeto do desejo da criança (objeto bom), e num seio persecutório, objeto de ódio e de medo, percebido como fragmentado.
Essa terminologia permitiu repensar radicalmente o campo da realidade psíquica e mostrar a que ponto o universo fantasístico infantil, povoado por angústia, terror, ódio e idealização, encontra-se não somente na psicose, na qual o sujeito não consegue ver sua mãe como um objeto total e continua a apreendê-la à maneira de uma clivagem entre o bom e o mau objetos, mas também na evolução normal, uma vez que todo sujeito, no sentido kleiniano, passa pela posição depressiva para sair do estado persecutório (paranóico) que é próprio da perda da mãe como objeto parcial.
Do ponto de vista teórico, tratava-se, assim, de explorar as bases da personalidade humana - o si mesmo (self) como imagem ou relação com outro. O objeto seria: incorporado, introjetado, projetado; persecutório ou, ao contrário, gratificante. Esta perspectiva, ao oferecer uma nova concepção dos primórdios da vida psíquica, permite que se instaure uma esperança no tratamento das afecções que, até então, mostravam-se imunes ao tratamento psicanalítico, fazendo também ressonâncias no âmbito educacional, posto que, este mundo fantasístico que é encontrado na loucura, afinal, data dos primórdios das relações do sujeito com o outro, da constituição de sua personalidade e base de suas relações futuras, portanto, não estaria fora da condição humana, mas lhe é inerente.
Isto representou uma mudança na terminologia fundamental: ao invés de se trabalhar com a noção de fase, trata-se, a partir de então, de relação de objeto e a ênfase é colocada no papel primordial da mãe. (enquanto Freud sempre havia privilegiado o pai).
 
 
EXERCÍCIO
O bebê kleiniano representa alguém atormentado por necessidades e tensões internas e externas, que para suportar o mundo e vivências pós-natais utiliza-se de um importante e muito primitivo mecanismo de defesa contra estas angústias. Este primeiro mecanismo utilizado pelo ego frágil e indefeso denomina-se: 
A. Clivagem do objeto.
B. Angústia primária.
C. Sublimação.
D. Atitude psíquica.
E. Clivagem do ego.
 
 
RESPOSTA A
 
Para Klein (1937) a agressividade é inata na criança, sendo o principal motivo da ambivalência em relação ao objeto; o primeiro objeto de amor e ódio neste momento precoce do desenvolvimento é o seio materno, ainda que neste momento seja percebido de forma fragmentada, para posteriormente ser ampliado ao corpo da mãe. Esta relação objetal inicial será alvo dos impulsos de vida e dos de morte, numa constante interação entre os impulsos libidinais e destrutivos, que estarão dependentes das oscilações entre gratificações/satisfações - frustrações/privações.
Assim como Freud, Klein entendia o instinto agressivo como extensão do instinto de morte e a libido uma extensão do instinto de vida. Para a autora o instinto de morte tem um importante papel expresso após o nascimento sob a forma de sadismo oral, que por necessitar ser projetado para fora, abre espaço às fantasias inconscientes destrutivas dirigidas ao seio mau, tomado aí como destrutivo e ameaçador.
M. Klein, assim como Freud, propõe compreender o social a partir do individual e, lançando luz sobre as perturbações da infância, assevera que a lógica da vida psíquica, desde os seus primórdios, é emocional. Desde o nascimento, o bebê sente uma ansiedade de natureza persecutória e um desconforto é sentido como resultado de forças hostis sobre ele. A mãe equivale inicialmente ao mundo externo, havendo um conhecimento inconsciente inato da existência da mãe pelo bebê, que será base para as relaçõesfuturas.
Bons e maus objetos povoam tanto o mundo interno quanto estão no centro da teoria kleiniana, que se constitui a partir da análise das fantasias mais arcaicas e é a dualidade das pulsões de vida e de morte que vai operar no seu caráter irredutível desde a origem da existência do indivíduo, assim como está no princípio do jogo dos bons e maus objetos. 
No início da vida o sadismo está no seu apogeu, pois a balança entre libido e destrutividade pende mais para o lado desta última. Na medida em que as duas espécies de pulsões estão presentes desde a origem e são dirigidas para um mesmo objeto real (o seio), podemos falar de ambivalência. Mas a ambivalência, ansiógena para a criança, é de início posta em xeque pelo mecanismo de clivagem do objeto e dos afetos que lhe dizem respeito.
Klein menciona, esporadicamente, a existência de sentimentos invejosos ligados à voracidade, são fantasias de roubar, esvaziar e destruir o corpo da mãe; nestes se inclui a inveja como um elemento muito importante no desenvolvimento precoce. Klein ainda estabelece diferenças entre inveja ciúme e voracidade, como pulsões que interferem na introjeção do objeto bom. 
 A inveja é um sentimento de ódio voltado a uma pessoa que possui uma qualidade desejada;
 O ciúme existe em uma relação triangular, é quando se deseja possuir a pessoa amada e eliminar o rival;
 A voracidade quer extrair tudo de bom que o objeto possui.
 
EXERCÍCIO
De acordo com Klein, precocemente o bebê se dá conta do seio como fonte de vida e de experiências boas, por isso o pequeno bebê direciona ao seio:
A. Reparação e gratidão.
B. Inveja e voracidade.
C. Pulsão de vida.
D. Amor.
E. Ansiedades persecutórias
 
 
RESPOSTA B
 
O caráter fantasístico dos objetos não deve perder de vista que eles são tratados como se oferecessem uma consistência real (no sentido em que Freud fala de realidade psíquica). Segundo a teoria kleiniana, os objetos estão contidos no interior da mãe; ela define a sua introjeção e a sua projeção como operações que incidem sobre objetos dos quais as qualidades - boas ou más. - são indissociáveis. Mais ainda, o objeto, bom ou mau, é fantasisticamente dotado de poderes semelhantes aos de uma pessoa (maus seio perseguidor, bom seio tranquilizador, ataque ao corpo materno pelos maus objetos, luta entre os bons e os maus objetos dentro do corpo, etc). O sujeito se construirá pela maneira como se relaciona com seus objetos parciais.
O seio é o primeiro objeto clivado. Todos os objetos parciais sofrem clivagem análoga (pênis, fezes, filho, etc). Assim também os objetos totais, quando a criança é capaz de apreender. 
Estas relações de objeto, marcadas pela pulsão de morte desde sempre, terão na agressividade e na destrutividade elementos fundantes do mundo interno. O sadismo oral seria a manifestação desta pulsão, origem da agressividade. Isto é equivalente a dizer que desde tenra idade o ser humano sofre angústias e desilusões, tem ansiedades e defesas inatas, que, se não podem ser verbalizadas, não significa que não existam. Os objetos internos e as fantasias inconscientes compõem o mundo interno e o objeto externo seria uma externalização desta dinâmica psíquica (e não propriamente um objeto da realidade externa).
 DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
MÓDULO 3
O inconsciente kleiniano: fantasia, projeção, introjeção, identificação projetiva.
Posição esquizo-paranóide; posição depressiva; reparação; a inveja.
 
Bibliografia:
JOSEPH, B. Identificação Projetiva, alguns aspectos, In: Equilíbrio psíquico e mudança psíquica. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1992.
KLEIN, M. O luto e suas relações com os estados maníaco-depressivos (1940). In: Obras Completas: Amor, culpa e reparação e outros trabalhos, vol. I. Rio de Janeiro, Imago Editora Ltda; 1991.
______. Notas sobre alguns mecanismos esquizóides (1946). In: Obras Completas, Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1991.
______. Sobre a identificação (1955). Obras Completas, Inveja, Gratidão e outros trabalhos, Vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1991.
______. Inveja e Gratidão (1957). In: Obras Completas: Inveja, gratidão e outros trabalhos, vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1991.
______. Nosso mundo adulto e suas raízes na infância (1959). In: Obras Completas: Inveja, gratidão e outros trabalhos, vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1991.
______. Sobre a identificação (1955). In: Inveja, Gratidão e outros trabalhos, vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1991.
______. Psicogênese dos estados maníaco-depressivos (1935). In: Amor, Culpa e Reparação e outros trabalhos, Vol.I. Rio de Janeiro, Imago Editora Ltda; 1991.
 
Para M. Klein a relação arcaica com a mãe, em detrimento da sexualidade e do pólo paterno, são os elementos cruciais na constituição do psiquismo e nas possibilidades de relações saudáveis. 
A fantasia inconsciente, precoce, onipresente e dinâmica, influencia todas as percepções e relações da criança com o objeto. Esta concepção de fantasia determinará uma mudança: ao invés da ênfase nas fases do desenvolvimento libidinal, será postulada uma constituição do psiquismo a partir do desenvolvimento de relações de objeto. Em suas observações de crianças pequenas, Klein reconhece que as relações com o objeto, tanto os objetos da realidade como, especialmente, os objetos da fantasia, existem até onde é possível discernir nos começos da vida de uma criança; e, além disso, que a relação primitiva com o objeto parcial - seio/corpo da mãe e pênis do pai - desempenhou um papel muito importante na estrutura dos objetos internos da criança, em seu superego e em sua vida de fantasia.
 
Na teoria de relação de objeto de M. Klein, há uma ampliação do conceito de objeto. Ainda, e sempre referida ao seu trabalho com crianças, descobriu que, em fantasia, o bebê introjeta objetos tais como o seio da mãe, o pênis do pai e outras partes dos corpos parentais. Estes objetos serão internalizados, mas não são réplicas exatas dos objetos externos reais, são sempre coloridos pela fantasia e as projeções da criança. Eles são divididos em objetos ideais e persecutórios, como o seio bom e o seio mau e podem, também serem mais ou menos integrados. As introjeções podem ser de objetos parciais e dos pais como pessoas inteiras, em qualquer caso, a fantasia estará presente, distorcendo a percepção, marcando-a singularmente, mas à medida que a relação da criança com a realidade se aperfeiçoa, há uma tendência no sentido de permitir uma relação mais realista com seus objetos.
 
Exercício
Em sua teoria, M. Klein afirma que os mecanismos da projeção e da introjeção funcionam desde o início da vida pós-natal, como algumas das primeiras atividades do ego infantil. De acordo com esta teoria identifique abaixo o que envolve o uso destes mecanismos em período tão precoce do desenvolvimento. 
I. Projeção e introjeção estão a serviço das fantasias inconscientes do bebê contribuindo para amenizar angústias internas e ambientais.
II. Para Klein o ego rudimentar do bebê recorre a estes mecanismos por sua razoável discriminação da realidade.
III. Os mecanismos de projeção e introjeção de objetos, situações externas, pulsões e fantasias inconscientes se misturam e constroem o mundo interno.
IV. A ansiedade persecutória conduz o bebê á projetar suas emoções sobre a mãe convertendo-a num objeto bom.
 
Assinale a alternativa correta:
A. É correto o que se afirma em I, II e III.
B. É correto o que se afirma em II e IV.
C. É correto o que se afirma em I e III.
D. É correto o que se afirma em I e IV.
E. É correto o que se afirma em II, III e IV.
 
Resposta: C
 
 
A criança pode identificar-se ou sentir-se em relação com seus objetos. Em sua primeiras obras, Klein chamou “superego” a todos os objetos internos com os quais a criança não estava identificada. Mais tarde, percebendo a complexidade da relação com os objetos internos,falou mais frequentemente de objetos internos, seu caráter e suas funções, reservando o termo “superego” somente para o aspecto punitivo dos objetos. 
Para M. Klein há uma ligação entre divisão e relações com objetos parciais e as relações com o objeto parcial; a divisão, a projeção, a introjeção e a ansiedade persecutória pertencem à mesma classe e constituem os primeiros mecanismos de defesa. 
Desta forma, M. Klein desenvolve o conceito de posições considerando que o psiquismo funciona de acordo com as características da posição, o que supõe: certa angústia; certa defesa e, consequentemente, certo tipo de relação de objeto. Na constituição do sujeito psíquico, a autora descreve duas posições: posição esquizo-paranóide e posição depressiva, que determinarão o tipo de funcionamento e forma de estabelecer relações.
 
Posição esquizo-paranóide
Define-se por relações com o objeto parcial, dominada pela ansiedade persecutória e por mecanismos esquizóides, termos que designam e enfatizam a coexistência da divisão e da ansiedade persecutória. Desde os primórdios da vida do bebê existe ego suficiente para experienciar ansiedade e usar um mecanismo de defesa, trata-se de um ego primitivo que projeta a pulsão de morte e esta projeção origina uma fantasia de objeto mau. Para este ego primitivo, a ação da pulsão de morte origina o medo de aniquilamento e esse medo básico é que leva à projeção defensiva da pulsão de morte.
A fim de evitar o aniquilamento, o ego precoce lança mão de uma ação defensiva chamada deflexão e expulsa por projeção os objetos maus originários do instinto de morte, que compõem o psiquismo humano. Assim, por ordem da pulsão de vida, o ego divide-se e projeta no exterior a pulsão de morte, mas ao mesmo tempo, a pulsão de vida é parcialmente projetada a fim de criar um objeto ideal. Assim, do caos emerge uma organização primitiva. O ego divide-se numa parte libidinal e outra destrutiva, e relaciona-se com um objeto analogamente dividido.
Neste ponto, o ego introjeta e se identifica com seu objeto ideal, mantendo, assim, em xeque, os perseguidores, que também contém os impulsos destrutivos projetados (enquanto o objeto ideal é sentido como inteiro e intacto, o objeto mau está usualmente fragmentado).
O aumento da divisão entre o objeto ideal e o objeto mau é resultado do medo e da ansiedade dele decorrente de que o os perseguidores destruam seja o eu, seja os objetos bons; os mecanismos responsáveis por este aumento na divisão são os esquizóides e a idealização excessiva é uma consequência inevitável, assim como a negação onipotente. A fantasia subjacente nesse mecanismo é a de aniquilamento onipotente dos perseguidores.
Com isto, M. Klein apresentou um novo mecanismo: a identificação projetiva, que constitui um desdobramento da projeção primitiva. Na identificação projetiva, não é apenas o impulso, mas as partes do eu (por exemplo, a boca e o pênis do bebê) e produtos corporais (por exemplo, sua urina e fezes) que se projetam, em fantasia, no objeto. As finalidades da identificação projetiva podem ser: livrar-se de parte indesejável do próprio eu, posse e esvaziamento do objeto, controle do objeto, etc. Um dos resultados é a identificação do objeto com a parte projetada do eu (daí o termo identificação projetiva). No entanto, este mecanismo envolve partes do eu que são sentidas como más, e também aquelas sentidas como boas, estas últimas podem ser projetadas a fim de evitar a separação, a fim de idealizar o objeto, e também para evitar o conflito interno; quando o interior é sentido como se estivesse repleto de maldade, as partes boas do eu podem ser projetadas num seio ideal, dadas ao objeto para fiquem a salvo, levando à excessiva idealização do objeto e à desvalorização do eu. Se a identificação projetiva é o mecanismo dominante, amar significa projetar partes boas do eu no objeto e, portanto, o eu esvazia-se e sente-se esvaziado.
 
 
Exercício
De acordo com Melaine Klein na posição Esquizo-Paranóide torna-se evidente que: 
A. A cisão dos objetos ocorre pela necessidade de aniquilar o objeto bom.
B. A pulsão de morte ao ser defletida anula todas as fantasias de ameaça ao eu.
C. A cisão dos objetos torna suportável o existir, ante as pressões internas e externas a que está sujeito o bebê.
D. A introjeçao e projeção garantem no psiquismo da inveja e dos impulsos destrutivos.
E. A cisão decorre da necessidade de reparação, para restaurar o dano causado ao objeto.
 
 
Resposta: C
 
 
Posição depressiva
Quando a criança começa a experienciar sua relação com o objeto de uma posição diferente, de um ponto de vista diferente em que a mãe aparece-lhe como um ser total, é para essa mãe amada total que a criança se volta para aliviar seus medos persecutórios - o bebê quer introjetá-la de modo que a mãe possa protegê-lo da perseguição interna e externa. O trabalho de elaboração pelo bebê da posição depressiva consiste em estabelecer no âmago de seu ego um objeto interno total, suficientemente bom e seguro. 
A posição depressiva pode ser equiparada a uma encruzilhada no desenvolvimento entre o ponto de fixação das psicoses e o das neuroses. Quando e se a criança não consegue se sair bem nesta tarefa de integração que a posição depressiva exige dela, fica exposta a um sofrimento de ordem paranóide ou maníaco-depressiva. 
A dor depressiva, com a culpa e a ânsia de reparação do objeto bom, externa e internamente, mobiliza os desejos reparadores e as fantasias de restauração do bom objeto interno. A posição depressiva é o ponto em que pode advir um novo arranjo entre as forças pulsionais, em que a criança, no decorrer de seu desenvolvimento, deverá estabelecer, com segurança, no núcleo de seu ego um bom seio, mãe, pai e um casal parental criativo.
É isto o que implica o grande e árduo trabalho de elaboração da posição depressiva; a dor e as situações de perigo interno que isso envolve levam à formação de um conjunto de defesas - erigidas contra a posição depressiva e que impedem seu desenvolvimento. Este conceito habilitou-a ainda a diferenciar mais claramente entre as patologias psicótica e neurótica e pontos de fixação, assim como abriu caminho para o estudo do luto e reparação e dos processos criativos normais.
 
 
Exercício
A posição Depressiva definida por Klein representa uma nova organização da vida mental, constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a normalidade, por quê?
I. Os interesses narcisistas da posição esquizo-paranoide mudam para a preocupação central que agora o ego tem que cuidar e observar seus objetos, externos como internos.
II. Nesta configuração o bebê começa a reconhecer o sentimento de amor e dependência para com os pais, junto ao desamparo do ego e o ciúme sem causa especifica.
III. O vínculo com a realidade externa se modifica, fica mais realista, com melhor reconhecimento dos aspectos bom ou maus.
IV. Há uma menor discriminação entre fantasias e realidade, assim como realidade externa e interna.
 
Assinale a alternativa correta:
A. É correto o que se afirma em II, III e IV.
B. É correto o que se afirma em I, II e IV.
C. É correto o que se afirma em II e III.
D. É correto o que se afirma em III e IV.
E. É correto o que se afirma em I, II e III.
 
Resposta: E
 
Defesas maníacas
Se na posição depressiva o bebê a partir de um ego mais integrado já consegue reter e manter o amor pelo objeto bom mesmo quando o ódio está presente, disto deriva a culpa, que o conduz a experiência depressiva em decorrência da sensação de ter destruído o objeto mau que também é bom. A fusão do objeto bom e mau significa um avanço na constituição do psiquismo, já que a experiência da depressão faz com que o bebê deseje reparar o objeto danificado, restaurando e recuperando o objeto amado e perdido, pela força de seus ataques destrutivos em que seu amor poderá reverter os efeitos de sua agressividade.
Neste momento há um aumento da percepção e da relação do bebê com a realidadeexterna, assim o teste de realidade vai se estabilizando e amplia sua conexão com a realidade psíquica, possibilitando ao bebê perceber suas possibilidades enquanto alguém que também se afeta por uma realidade externa sob a qual não tem todo controle. Nos momentos iniciais da posição depressiva o bebê sente ainda a severidade e perseguição de seu superego, mas quanto mais se relaciona com o objeto total mais vão se atenuando estes aspectos ameaçadores e persecutórios superegóicos, o que aproxima a criança dos pais bons, gerando nela culpa e amor, o que contribui para o desenvolvimento do desejo de poupar seus objetos, permitindo à criança iniciar a sublimação de seus impulsos destrutivos.
O processo evolutivo organiza o ego, que vai gradativamente diminuindo o uso das projeções, substituindo-as pela repressão, dando origem à formação simbólica. A formação simbólica advém da necessidade de poupar o objeto, quando o bebê inibe uma parte de seus instintos, enquanto desloca ou substitui outros.
Quando a criança se sente incapaz de reparar o dano provocado ao objeto, sua consciência moral lhe impõe uma carga de culpa e remorso maior do que ele é capaz de suportar e, para se defender desvaloriza o objeto danificado, tomando-o como não necessário, afim de livrar-se da culpa e/ou remorso minimizando a angústia de sua perda, negando suas relação de dependência.
As defesas maníacas são, portanto, uma forma de enfrentar os sentimentos de culpa e perda, que culminam com a posição depressiva. As principais defesas são - triunfo, controle onipotente, desprezo – formando uma tríade que se baseia na negação onipotente da realidade psíquica, decorrente de incapacidade de reparação, quando o ego ao enfrentar sentimentos de culpa e de perda sente-os como insuportáveis.
 
Exercício
As defesas maníacas têm um importante papel na posição depressiva, pois: 
I. Servem para enfrentar suportar positivamente os sentimentos depressivos.. 
II. São defesas que se estabelecem pela culpa do bebê ao perceber os estragos cometidos e pela alta capacidade de consertar o que danificou.
III. Defesas maníacas coincidem com aceitação da condição de dependência.
IV. Denominam-se “maníacas”, pois ao invés do reconhecimento do outro como importante, ele é tomado como prescindível e desnecessário.
 
Assinale a alternativa correta:
A. É correto o que se afirma em II e III.
B. É correto o que se afirma em II.
C. É correto o que se afirma em I e II.
D. É correto o que se afirma em IV.
E. É correto o que se afirma em I e IV.
 
Resposta: D
 
A teoria da inveja
O domínio do ódio, da morte, da destruição e, sobretudo da agressividade primária é pensado de maneira arcaica, mais radical e mais interna ao sujeito. A inveja é o termo que será cunhado para designar o sentimento primário e inconsciente de avidez em relação ao objeto que se quer destruir ou danificar. Ela aparece desde o nascimento e é inicialmente dirigida contra o seio da mãe. Na posição esquizo-paranóide ou na depressiva, a inveja ataca o objeto bom para fazer dele um objeto mau, assim produzindo um estado de confusão psicótica.
Klein (1957) descreve a inveja primária como uma pulsão agressiva que o bebê sente desde o começo da vida e a dirige ao seio da mãe com o desejo de danificar os aspectos bons e protetores que o objeto nutritivo oferece. A autora inclui a inveja como um elemento muito importante no desenvolvimento precoce e afirma que a inveja primária tem um resultado muito prejudicial para o desenvolvimento mental, pois arruína as capacidades e bondades do objeto; destrói a própria origem da bondade e da criatividade.
Klein ainda separa inveja da frustração, pois se a inveja é constitucional o elemento frustrante do objeto materno ou da situação ambiental não provocam a pulsão invejosa, pelo contrário, esta inveja provém do sujeito, e sua finalidade é atacar o que o objeto tem de bom e valioso, independente de ser ou não frustrado.
Assim, a autora integra a inveja à sua teoria das posições, se as pulsões invejosas forem intensas, atacam o objeto ideal, que é o que provoca o sentimento invejoso, alterando o processo de dissociação normal da posição esquizo-paranóide. Isto produz uma confusão entre o bom e o mau, desta forma o psiquismo do bebê não consegue dissociar o objeto ideal do persecutório, ficando gravemente perturbados os processos de introjeção do objeto bom, que são a base para o êxito da estabilidade mental. O excesso de inveja também pode acentuar a dissociação entre o objeto idealizado e o persecutório, o que impede sua posterior integração e elaboração da posição depressiva. As pulsões invejosas podem ser elaboradas e mitigadas se a introjeção do objeto bom for adequada, o que permite tolerar a culpa pelo dano dos objetos e da reparação.
Esta teoria fornece elementos técnicos que permitem abordar situações difíceis e destrutivas no tratamento analítico, mas também põe um limite ao excessivo otimismo terapêutico que Klein tinha tido nos primeiros períodos de sua obra.
 
Exercício
De acordo com Melaine Klein a inveja é constitucional ao homem, isto equivale a dizer que: 
A. A ocorrência da inveja dependerá dos bons atributos do objeto bom.
B. Nos momentos precoces do desenvolvimento sua ocorrência independe dos atributos do objeto, pois sua ocorrência é derivada da pulsão de morte.
C. A ocorrência da inveja depende da experiência dos sentimentos ameaçadores advindos do mau objeto.
D. Nos momentos precoces do desenvolvimento a ocorrência da inveja dependerá dos atributos do objeto, pois sua ocorrência é derivada da pulsão de morte.
E. A inveja primária só se manifesta ante às frustrações e privações da vida pós-natal.
Resposta: B
 DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
MÓDULO 4
Clínica kleiniana
Transferência e contratransferência: limites da dupla analítica. 
Elaboração enquanto finalidade da análise. Limites à analisibilidade.
Análise infantil - A técnica do brinquedo.
 
Bibliografia:
CINTRA, Elisa M.U.; FIGUEIREDO, Luís Cláudio M. Apreciação introdutória do estilo de pensamento e de escrita. In:______. Melanie Klein, Estilo e Pensamento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
JOSEPH, Betty. A inveja na vida cotidiana. In: Equilíbrio psíquico e mudança psíquica. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1992.
______. Transferência: a situação total. In: Equilíbrio psíquico e mudança psíquica. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda; 1992.
KLEIN, M. As origens da transferência (1952). In: Obras Completas: Inveja, gratidão e outros trabalhos, vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991.
______. A técnica psicanalítica através do brinquedo, sua história e significado (1955), In: Obras Completas: Inveja, gratidão e outros trabalhos, vol. III. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1991.
 
 
Transferência
A fantasia não é somente a expressão de defesas mentais contra a realidade, mas também a manifestação das pulsões, assim, o ego se constitui de maneira complexa e, acima de tudo, sua constituição se dá num momento bastante precoce.
Desta forma, a transferência se origina nestes processos primitivos - de amor, ódio, agressão, culpa - que denominam-se relações objetais. Pensando assim, a transferência vai além - ou melhor dizendo, aquém - de uma referência direta ao analista e mesmo quando se pensa como tal, ela será concebida como uma reencenação (reenactment) durante a sessão de todas as fantasias inconscientes do paciente. Fantasias relativas às camadas mais profundas do inconsciente, às fases mais precoces do desenvolvimento, sendo considerada mais ampla. Por isto a técnica a ser utilizada deve permitir que, pelos relatos do paciente, se revelem o conteúdo inconsciente e as defesas contra as angústias despertadas na relação transferencial.
 
 
EXERCÍCIO
As fantasias ocorrem no nível inconsciente da mente e podem, eventualmente, tornarem-se conscientes, inclusive no processo analítico, assim é corretoafirmar que:
A. Constituem-se na "matéria prima" do inconsciente e por permearem a vida mental podem interferir no comportamento manifesto dos indivíduos e disso decorre a necessidade de interpretação dos conteúdos subjacentes a elas.
B. As interpretações da transferência no processo psicanalítico kleiniano não devem ter como foco as fantasias, pois estas são oriundas da realidade psíquica e excedem os limites da análise.
C. As fantasias, como substrato da vida mental, representam também pulsões, ansiedades e defesas, por isso dispensam interpretações.
D. A relação transferencial deve considerar todos os aspectos da realidade psíquica, contudo esta atualização junto ao analista não contribui à melhora da capacidade de elaboração.
E. A interpretação como um elemento da técnica psicanalítica deve ser direcionada à realidade factual do paciente, onde as fantasias inconscientes perdem sua potência, devido a elaboração.
 
 Resposta: A
 
 
Situação total
A psicanálise kleiniana vê a transferência no processo analítico como uma situação total, ou seja, não ocorre apenas com o material produzido verbalmente na sessão, mas tem como base os conflitos e sentimentos da biografia do sujeito.
Além do material falado, os materiais não verbais e todos aspectos que o paciente mostra ao analista, permitirão que este perceba forma como funciona o mundo interno do paciente (dinâmica interna de objetos e fantasias), revelando como estabelece suas relações internas que se repetem em suas relações externas.
A transferência kleiniana será sempre dirigida ao analista que, neste caso, por ser alvo das reatualizações, utilizará da interpretação como principal elemento da técnica, revelando ao paciente o sentido latente do que aparece na sessão. Em seu trabalho analítico, revelará transferencialmente o conflito subjacente do evento manifesto na sessão, que atrelado ao conteúdo da realidade psíquica, situa-se no âmago do mundo interno do paciente.
 
 
EXERCÍCIO
A atualização da história do paciente na transferência é um fenômeno psíquico que ocorre em todas as relações, nela todas as fantasias, ansiedades e defesas do mundo interno do indivíduo são expressas nas situações vividas no cotidiano. De acordo com Klein, podemos considerar que a transferência no processo analítico kleiniano deve:
 
 I. Ser considerado como a externalização de relações de objeto que são revividas na dupla analítica.
 II. Ser considerada como a resposta que reproduz protótipos de conflitos e defenas ante à pressão exercida pela ansiedade.
 III. Considerar que sua origem tem como protótipo as primeiras relações objetais.
 IV. Considerar que as fantasias que revelam o mundo interno do paciente adulto são sempre conscientes.
 
Assinale a alternativa correta:
A. É correto o que se afirma em I e IV.
B. É correto o que se afirma em I, II e IV.
C. É correto o que se afirma em I e III.
D. É correto o que se afirma em II e IV.
E. É correto o que se afirma em I, II e III.
 
Resposta E
 
 
Contratransferência
Quanto à contratransferência, M. Klein não dispensou-lhe atenção, serão suas discípulas e sucessoras que abordarão o tema, pelo viés do trabalho do analista com seus próprios afetos e como manejá-los na situação analítica, será vista como um instrumento facilitador da compreensão do inconsciente do analisando, uma vez que será considerado como o conjunto de sentimentos que o analista vive e experimenta na relação com o paciente.
 
Elaboração
A noção de elaboração estará em M. Klein referida ao desenvolvimento mental espontâneo da criança. As organizações persecutórias e depressivas são estruturantes do psiquismo e sua oscilação indica o modo intrínseco da mente operar: transitório, fugaz, com estados mentais que se alternam, e esta é sua condição. O sujeito necessita desenvolver a percepção através do uso da intuição, necessita desenvolver a atenção e a continência para os elementos da vida mental em suas tentativas de lidar com o desconhecido, com o sofrimento.
A elaboração é articulada ao processo perceptivo e a rapidez na passagem da posição esquizo-paranóide para a posição depressiva. A mudança psíquica decorre de um ganho de qualidade perceptiva que incide no relacionamento com os objetos internos e externos. Este processo perceptivo não depende de compreensões ou raciocínios, mas de um contato íntimo, aproximando-se das angústias e das fantasias, através da intuição, para a expansão do ser. Isto aponta a possibilidade do analisando viver os elementos dispersos e desconhecidos de si, até o alcance de alguma coerência, de um sentido de verdade para si. A expansão da percepção que se acompanha a uma maior integração do ego e dos objetos pode proporcionar ao sujeito uma vivência de mais tolerância consigo mesmo e com os outros, o aumento de recursos psíquicos para a elaboração das experiências emocionais.
A reorganização interna e a coesão do ego envolvem o desenvolvimento do pensamento para além da culpabilidade e das angústias que são frequentemente acionadas. A compaixão, a esperança, a criatividade, a confiança e a relativização das situações podem estar em lugar do sofrimento e da atrofia amorosa. Isto inclui suportar a aceitação de limites e poder realizar a reparação.
 
 
EXERCÍCIO
Num dia frio e chuvoso, uma paciente adulta de 35 anos entra na sessão demonstrando grande sofrimento físico e emocional, como se estivesse com dor. Após deitar-se no divã, mantém-se em silêncio para depois iniciar um discurso poli queixoso sobre todos os infortúnios a que estava submetida neste momento de sua vida (perda do emprego, rompimento amoroso, perda de uma amizade recente, brigas com a mãe com quem mora). Continua reclamando e diz que nada para ela dá certo, tudo parece estar desabando em sua cabeça, por isso é uma pessoa muito infeliz, por último completa que isso talvez o analista não entenda, pois “é difícil entender minha condição quando se está na proteção de um consultório tranquilo, confortável, quentinho e gostoso” (sic). Num processo analítico, como deve ser manejada a transferência?
A. A paciente traz para as novas relações, inclusive a analítica, toda sua história, seus objetos internos, seus medos e esperanças e transfere-as para a situação atual, por isso o analista deve ajudá-la a compreender o quanto a dimensão de tais dificuldades sem, necessariamente relacioná-las ao seu passado remoto.
B. Uma interpretação transferencial seria capaz de impedir novos ataques ao analista.
C. A melhor interpretação transferencial seria aquela que comunicasse à paciente a experiência emocional daquele momento: seu sofrimento pelo desamparo sentido, seu ódio por sentir-se abandonada e sua inveja do bem estar que pressupõe ser a condição do analista.
D. A melhor interpretação transferencial seria aquela que comunicasse à paciente seu desespero por não conseguir o quê quer e quando quer, ajudando-o a compreender intelectualmente tais dificuldades.
E. Uma interpretação transferencial adequada resguardaria a imagem do analista, como um bom pedagogo.
 
 Resposta: C
 
 Trabalho analítico com crianças - A técnica do brinquedo
Para Klein o setting analítico é representado como um cenário de batalhas, onde os pequenos personagens dramatizam as mais variadas situações: descargas de agressividade; ressentimentos; expressões do sadismo oral, uretral e anal; desejos e fantasias amorosas. Tais expressões são permitidas pelo analista, a criança normalmente fica sempre no papel do pai, mãe, professor e para os analistas, resta o papel da pobre criança vítima de adultos insensíveis, sádicos e cruéis.
A técnica do brinquedo foi inspirada no trabalho de Freud (1920) sobre o menino do carretel e por meio dele Klein compreende que o brincar da criança poderia representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias. Para a autora o brincar e o brinquedo são expressões simbólicas de conflitos inconscientes, revelando o mundo defantasias e das relações objetais das crianças. As observações de Klein confirmariam as hipóteses de Freud sobre a sexualidade infantil. A técnica do jogo permitiu à Klein a compreensão acerca do desenvolvimento precoce, dos processos inconscientes, favorecendo a ampliação sobre o papel das interpretações para abordar o inconsciente. Com esta técnica Klein mantém os elementos básicos da psicanálise, pois pelo brincar e pela técnica do brinquedo se desenvolve uma linguagem que corresponde ao princípio fundamental da psicanálise: a associação livre. Da mesma forma as intervenções do analista kleiniano serão de cunho interpretativo, não só das palavras, mas também das ações e atividades nos jogos e conduta da criança.
Os brinquedos são representantes das associações livres do adulto, da intimidade e privacidade que se desenvolve entre paciente e analista, sendo que só ambos têm acesso ao seu mundo interno. Devem ser variados, pequenos e simples, oferecendo a possibilidade de projeção de fantasias e experiências e facultando ao analista acesso coerente aos processos mentais da criança.
Com relação ao processo transferencial é necessário deixar claro que não é possível ataques ao analista, tal atitude não só protege o analista, mas tem importância para o processo analítico, pois se não há contenção destes gestos podem ser despertadas intensa culpa e ansiedade persecutória, agregando dificuldades ao tratamento. Klein destaca a transferência positiva e negativa e enfatiza a importância de se trabalhá-las por meio das interpretações às fantasias subjacentes. Para inibir ataques ao corpo do analista deve-se permitir a livre expressão das fantasias agressivas, oportunizando outra forma de represá-las, sem ataques físicos, mas talvez ataques verbais contra a analista. Quanto mais precocemente se interpreta a agressividade, maior será o controle da situação; até mesmo crianças muito pequenas são capazes de compreender as interpretações caso que emergem no material.
 
 
 EXERCÏCIO
Quando nos referimos ao setting psicanalítico no contexto infantil e pela adoção da Técnica do Brinquedo podemos afirmar que: 
A. A criança brinca e encontra no lúdico uma forma de mostrar o que se encontra no registro do inconsciente e enquanto técnica deve ser preterida em relação à interpretação dos sonhos, sonhos diurnos e dos desenhos.
B. Considerando sua função catártica, o jogo inibe a elaboração de situações excessivas ao ego e favorece a assimilação dos fatos cotidianos.
C. A proposta do brincar, dentro do processo psicanalítico, propicia a liberdade de expressão da criança, pois é uma atividade plena de sentido.
D. Pela possibilidade de expressão dos conflitos a criança potencializa o medo nos objetos internos e na realidade externa.
E. Pela expressão dos conflitos o brinquedo impede o estabelecimento de conexão entre fantasia e realidade.
 Resposta: C
 DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
 MÓDULO 5
 Panorama geral da vida e da obra de Donald W. Winnicott. Contexto cultural, histórico e político.
O Grupo Independente da Sociedade Psicanalítica Britânica
Tendência a integração
 
Bibliografia básica/obrigatória:
ARCANGIOLI, M.A Introdução à obra de Winnicott. In: NASIO, J. D. Introdução às obras de Freud, Ferenczi, Groddeck, Klein, Winnicott, Dolto, Lacan. Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
OUTEIRAL, J.O.; GRAÑA, R.B. Donald W. Winnicott: estudos. Porto Alegre: Artes Médicas Editora, 1991
WINNICOTT, D.W. Enfoque pessoal da contribuição kleiniana, In O Ambiente e os processos de maturação.Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.
 
 
D.W.Winnicott era médico pediatra e desenvolveu, ao longo de sua vida, um excepcional talento clínico, sendo responsável pela criação e ricos desdobramentos no campo da psicanálise de crianças na Inglaterra e o legado que deixou para este campo é fundamental até os dias atuais, para além dos limites da sua terra natal, seja no que diz respeito à prática clínica, seja no campo teórico e conceitual.
Começou a se dirigir para o que seria seu campo de interesses na década de 20 do século XX, primeiro como pediatra e em seguida como psicanalista.
Começou sua formação psicanalítica na British Psychoanalytical Society em 1913, época conturbada, posto que estavam no auge os conflitos e polêmicas entre as duas damas da psicanálise - Anna Freud e Melanie Klein - e seus partidários, conflitos justamente sobre o que seria a psicanálise de crianças. No meio destas controvérsias, Winnicott seguiu o seguinte percurso: de um lado, teoricamente, fazia sua formação tendo como princípios as ideias e conceitos kleinianos, fazendo, inclusive supervisão com a própria M. Klein. Mas isto não se transformou numa adesão ou submissão a certa tirania kleiniana, manteve-se independente quanto ao seu próprio modo de trabalhar e pensar a clínica, elaborando uma concepção original e pessoal no tocante a questões fundamentais no campo psicanalítico - a relação de objeto, o brincar e a própria concepção de self.
Sua grande paixão era a infância, sem, contudo ter para com esta uma relação de benevolência ou de idolatria, mas reservando-se uma liberdade e uma criatividade no seu trato com as crianças - e mesmo com os adultos - que não se alinhava com os padrões rígidos da IPA (não respeitava a decantada neutralidade nem a duração das sessões, estabelecendo, muitas vezes relações calorosas com seus pacientes).
Ainda que tenha permanecido dentro da IPA, não se absteve de críticas contra seu anacronismo e os riscos que corria a sustentação da psicanálise enquanto saber e prática ao ficar à mercê das disputas internas - Melanie Klein X Anna Freud - e se tendesse, como parecia a ele estar acontecendo, a um fechamento em torno de regras e técnicas, rigidamente.
Em termos teóricos, se aprendeu com M. Klein relevância das primeiras relações objetais, ou a importância da díade mãe-bebê na constituição do psiquismo, distancia-se do pensamento kleiniano ao privilegiar a dependência em relação ao ambiente (em detrimento de um interesse pela estruturação interna da subjetividade), desenvolvendo toda uma teorização em torno da importância do laço entre mãe e bebê para uma organização saudável e estável do ego e a noção de psicose que desenvolveu está estritamente ligada à proposição sobre um fracasso na relação mãe-bebê.
Winnicott pertence a uma geração de psicanalistas que surgiu no entre - guerras, em que uma ênfase no papel dos cuidados maternos e uma subvalorização da função e lugar do pai, o que redundará numa perspectiva distante das propostas freudianas quanto à importância do complexo de Édipo. Seu trabalho como pediatra e como psicanalista se deu muitas vezes com crianças que foram privadas, por estas circunstâncias históricas, da presença da mãe e disto resultou, também seu interesse na investigação e teorização em torno da relevância deste laço para a formação do psiquismo e para o estabelecimento de relações saudáveis e duradouras ao longo do tempo. Sua forma de pensar e trabalhar, única, singular, em que mantinha uma coerência invejável no que diz respeito à dimensão pessoal e profissional, não deixou sucessores à sua altura e ainda reverbera naqueles que se dedicam à prática clínica e se recusam aos dogmatismos.
 
Grupo dos Independentes
Este Grupo surgiu na Inglaterra, no seio da British Psychoanalytical Society e no momento histórico marcado pelas Grandes Controvérsias - as discussões e polêmicas entre Melanie Klein e Anna Freud a respeito de questões teóricas e sobre a formação de analistas. Os “independentes” tinham como ponto de partida para seu posicionamento na instituição uma recusa dos dogmatismos e por não aceitarem posições em termos de partidarismos., assim, eram analistas que procuravam manterem-se imparciais em relação aos grupos divididos pelas “damas”. Winnicott teve uma importante presença e contribuição neste Grupo, em função de seu estilo de pensamento e trabalho e o viés clínico também sempre foi uma característica importante dos representantes deste Grupo, ainda que, em termosteóricos tendessem mais para as ideias de Melanie Klein.
 
Tendência à Integração
A ideia chave na obra de Winnicott é a Integração, o autor propõe que a mente humana estrutura-se e organiza-se aos poucos, a partir de um estado natural de difusão, não integração. Defende a ideia de uma predisposição natural do organismo humano ao desenvolvimento, que, contudo, só ocorre se as condições do meio ambiente em que o indivíduo nasce lhe permitirem. Assim, para que surja um indivíduo humano normal, o fator ambiente tem uma função primordial. A ação do meio deve ser mediada, pois pode impedir, interromper o processo de integração.
Neste sentido, a mãe como representante dos cuidados maternos à criança, tem papel da mãe central, como representante deste “ambiente”. A mãe devotada comum funciona sem qualquer deliberação intelectual de sua parte, proporcionando ao bebê o meio ambiente necessário para que a sua tendência à integração ocorra.
Se o ser humano tem uma tendência inata a se desenvolver e a se unificar/integrar, alia-se a esta tendência o processo de maturação que permite que esta tendência se atualize e se efetive por meio de uma mãe ambiente que permite ou impede o livre desenvolvimento destes processos.
 
EXERCÍCIO
Winnicott concebia o mundo externo como algo que facilitava ou inibia a mente infantil. Desta maneira, considerava que os fatores mais importantes eram: a idade da criança e o tipo de ambiente de origem. Podemos afirmar que esse ambiente de origem, que pode funcionar como um ambiente auxiliar do ego, quando do início davida de uma pessoa, é função: 
A. Da mãe, biologicamente definida neste papel.
B. De qualquer pessoa significativa próxima à criança, independente do vínculo estabelecido.
C. Da mãe suficientemente boa e devotada à criança.
D. Da interação dos impulsos internos à criança e dos estímulos externos do ambiente.
E. Do ambiente externo como um todo, com seus diversos estímulos.
Resposta C
DESDOBRAMENTOS DA TEORIA PSICANALÍTICA
 
 
MÓDULO 6
 
O DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL E O AMBIENTE FACILITADOR.
 MÃE SUFICIENTEMENTE BOA – SUAS FUNÇÕES.
PROCESSO DE AMADURECIMENTO: DA DEPENDÊNCIA À INDEPENDÊNCIA.
AGRESSIVIDADE E TENDÊNCIA ANTISSOCIAL
 
Bibliografia
WINNICOTT, D.W. Desenvolvimento emocional primitivo (1945). In: Da pediatria à psicanálise, Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
______. Preocupação materna primária (1956). In: Da pediatria à psicanálise. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
______.Provisão para a criança na saúde e na crise (1962). In: O ambiente e os processos de maturação, Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.
______. A agressividade em relação ao desenvolvimento emocional (1950/55). In Da pediatria à psicanálise, In Rio de Janeiro: Imago Editora, 1993.
______. A tendência anti-social (1956). In O ambiente e os processos de maturação, Porto Alegre, Artes Médicas, 1983.
 
 
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL X AMBIENTE FACILITADOR
Para Winnicott o desenvolvimento emocional está estreitamente ligado a um princípio, a saber, o de que o bebê não constitui uma unidade em si mesmo ou, em outras palavras, se é possível falar em unidade ela se constitui como uma organização entre o indivíduo e o meio ambiente, este último representado inicialmente pela mãe ou pelo cuidador. Este ambiente seria facilitador na medida em que provê cuidados ao bebê que serão a base da saúde mental.
As necessidades da criança nos primórdios de sua vida são absolutas, não conhecem contemporizações ou meio termo e, assim, o bebê depende da disponibilidade de um adulto verdadeiramente preocupado com os seus cuidados, e disto depende o que podemos chamar de uma adaptação ativa e sensível às necessidades da criança. A origem da vida psíquica ocorre num contexto ou enquadre em que a criança vai gradualmente criando um meio ambiente pessoal, capacidade que vai se desenvolvendo e propiciando uma movimentação da dependência absoluta para a independência.
Esta movimentação - de um estado inicial de total dependência para a independência - ocorre como consequência da transformação de um meio ambiente criado e subjetivamente percebido em algo suficientemente semelhante ao ambiente percebido. Desta passagem depende a saúde mental. 
 
EXERCÍCIO
Winnicott entende que a provisão de um ambiente favorável é um fator essencial para o desenvolvimento do ser. De acordo com ele, podemos considerar que: 
A. Um ambiente favorável consiste em condições adequadas para uma maternagem tranquila e confortável, permitindo à mãe não se abster de suas próprias necessidades.
B. Um ambiente favorável consiste em uma maternagem na qual exista devoção e capacidade identificação por parte da mãe.
C. Um ambiente favorável consiste em condições materiais suficientemente boas, propiciando o conforto necessário ao desenvolvimento.
D. Um ambiente favorável consiste em um ambiente isento de qualquer perturbação ou tensão provenientes da vida cotidiana.
E. Um ambiente favorável consiste em uma maternagem que considere desde o início o projeto de desenvolvimento familiar.
 
Resposta B
 
 
MÃE SUFICIENTEMENTE BOA 
Winnicott, inicialmente seguidor do pensamento kleiniano, aponta para a necessidade de uma mãe suficientemente boa, uma mãe-ambiente que funcionará, de forma muitíssimo especializada no início da vida, analogamente à criação de um espaço de proteção que permitirá (pelo isolamento relativo aos embates com o meio, impossíveis de serem enfrentados pelo bebê) que a vida psíquica se constitua que a criança possa, com sua vida pulsional, caber em si, no seu corpo, através deste contato/cuidado tanto do ponto de vista físico - holding - quanto psicológico - sensibilidade e empatia em relação às necessidades e movimentos da criança em tenra idade.
Para desenvolver a vida de fantasia, mundo estritamente íntimo e pessoal, palco dos segredos de cada um e que está na base do que denominamos em psicanálise como aparelho psíquico, cuja função é organizar os processos de pensamento, o bebê e o ambiente mantêm uma relação/interação primordial em que a adaptação de um - ambiente/mãe suficientemente boa - deve corresponder às necessidades de outro - criança, sendo que, do primeiro, espera-se um posição mais ativa, enquanto do bebê, sabe-se que depende desta adaptação ativa do meio/mãe para entregar-se à fruição de um movimento espontâneo que culminará - nos casos bem sucedidos - em uma organização própria de si mesmo, o self.
A mãe suficientemente boa soube apresentar-se ao seu bebê como um suporte para seus esporádicos contatos com a realidade, como um ego auxiliar a mãe satisfaz as necessidade iniciais do bebê e promove, quando da saída desta matriz, a experiência fugaz de onipotência.
O ego auxiliar da mãe propicia um ambiente facilitador da relação da criança com objetos subjetivos que se alterna, homeopaticamente, com momentos em que se dá uma interação com objetos percebidos objetivamente ou objetos “não-eu”. A proteção que o ego auxiliar oferece - díade mãe-filho - concorre para o estabelecimento de um self, uma personalidade única, em conformidade com sua experiência existencial.
De que a mãe suficientemente boa protege? Das angústias impensáveis...
Angústias impensáveis são aquelas que ocorrem nos estágios mais precoces do desenvolvimento, numa etapa em que o bebê não tem capacidade para compreender ou discriminar sobre quaisquer mecanismos mentais, impulsos instintuais, vivências proprioceptivas, pressões ambientais, independente de ocorrerem em si mesmo ou no ambiente externo, o que amplifica sua intensidade em vivências ansiógenas insuportáveis. 
Mãe e criança formam uma díade que substitui um pensamento dicotomista, não existe, aqui, um fator externo em si mesmo, mas há a criação da possibilidade de se criar uma realidade pessoal tendo como ponto de partida a parelha materno-infantil.
Resumidamente, a criança ao nascer é indefesa, não integrada e desorganizada enquanto a percepção dos estímulos do meio, desta forma situa-se num estado de total dependênciado meio, em sua mente criança e meio são uma coisa só, cabendo à mãe oferecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento ótimo.
 
Preocupação materna primária
Se mãe e bebê estão no estado temporário de fusão que se requer para o início da vida é porque se instaurou o que Winnicott (1956) denominou de “preocupação materna primária”.
Este é um estado de sensibilidade exacerbada que ocorre durante e principalmente no final da gravidez e que dura até algumas semanas após o nascimento, neste estado, a mãe preocupada com o bebê chega ao ponto de excluir qualquer outro interesse, de maneira normal e temporária, para dedicar-se ao seu bebê. Este estado é de absoluta importância ao desenvolvimento do bebê, pois por meio dele a mãe consegue criar as condições e o contexto em que as tendências ao desenvolvimento comecem a desdobrar-se, permitindo que o bebê comece a experimentar movimentos espontâneos.
Este estado para se instaurar depende que a mãe esteja sendo sustentada material e psicologicamente pelo ambiente que a cerca, representado muitas vezes pelo seu parceiro. A fraqueza ou força do ego incipiente do bebê poderá ser aquilatada na estrita dependência da capacidade da mãe de sustentar o bebê.
 
Funções maternas
A adaptação da mãe às necessidades do bebê torna-se concreta e objetivada por meio das três funções maternas:
· Apresentação do objeto – Refere-se à oferta do seio ou a mamadeira nos momentos certos, dando ao bebê a ilusão de que é onipotente a ponto de criar o objeto.
· Holding - Significa “sustentação”, ações em que a mãe protege o bebê dos perigos físicos, pelos cuidados cotidianos e da rotina. A mãe sustenta o bebê física e psicologicamente.
· Handling – Refere-se à manipulação do bebê enquanto ele é cuidado.
Desta dependência absoluta, caminha-se para um tempo posterior em que o amadurecimento da criança - emocional e cognitivo - permite que a mãe possa retornar aos seus interesses pessoais - para-além da maternidade - e espera-se que nesta sequência a criança seja capaz de vivenciar um tempo de espera maior, posto que, houve no estágio de dependência absoluta, a internalização de cuidados e de confiança nestes cuidados, aumentando a capacidade de suportar possíveis falhas, ausências. Ser capaz de esperar, de aguardar pela satisfação de necessidades e desejos é característica de um período denominado de “dependência relativa”. 
Há aqui um especial trabalho de memória, registro de cuidados recebidos que se desdobram na possibilidade de cuidados consigo mesmo, relativizando a dependência em relação ao meio. Não se trata de um rompimento ou isolamento, mas da instauração de um contato, “rumo à independência”, em que meio e indivíduo tornam-se interdependentes. A saúde caracteriza-se por processos criativos em que indivíduo e meio, nos seus encontros, estabelecem trocas em que elementos pessoais configuram um campo comum, necessário sempre, em qualquer idade, mas sem aquela ilusão primeira de onipotência, não há a possibilidade de advir a desilusão, necessária para o reconhecimento das diferenças entre eu e não-eu, interno e externo. As falhas, portanto, as imperfeições são inerentes ao processo de constituição do si mesmo e das possibilidades de trocas humanas, se as condições não forem favoráveis no sentido descrito acima, defesas são criadas de acordo com os momentos em que as necessidades não foram minimamente supridas.
É, portanto, de suma importância que a tarefa materna responda pela: continuidade do ambiente humano; da confiança que torna o comportamento da mãe previsível; da adaptação gradativa às necessidades que impulsionam à independência e da possibilidade de aprovisionar e concretizar o impulso criativo da criança.
 
EXERCÍCIO
Para Winnicott, o ambiente é extremamente importante na constituição do ser. Nesse sentido, é correto afirmar que, para o autor:
A. O ambiente deve ser livre de frustrações, para não haver perturbações no self.
B. A criança deve viver num ambiente bom, isto é, isento de angústias impensáveis.
C. O ambiente inicialmente é representado pela continuidade entra mãe e bebê e, inevitavelmente, o ambiente afeta a criança e é afetado por esta. 
D. O ambiente deve ser bom para que a criança não sofra nenhuma frustração e inquietações devido a sua falta de defesas psíquicas.
E. Embora haja a falha ambiental, espera-se que a mãe não frustre a criança, espera-se que ela não cometa falhas ao tratar da criança.
 
Resposta C
 
PROCESSO DE AMADURECIMENTO – DA DEPENDÊNCIA À INDEPENDÊNCIA
Para Winnicott a provisão para saúde coincide com saúde mental; enquanto imaturidade corresponde à saúde mental deficiente, pois é pelo desenvolvimento emocional que se estabelecem as bases de uma vida de saúde mental. Portanto, prover condições favoráveis de vida à criança é prover o ambiente para facilitar o desenvolvimento emocional e a saúde mental individual.
O impulso para o desenvolvimento vem de dentro da própria criança, pois são forças no sentido da vida que se direcionam no sentido da integração da personalidade e da independência. Quando as condições não são suficientemente boas, estas forças ficam contidas dentro da criança e tendem a destruí-la, por isso saúde é maturidade e imaturidade é saúde mental deficiente.
Abaixo descrevemos a progressão do desenvolvimento descrito por Winnicott, da dependência para independência:- 
 
 
 
NECESSIDADES
 
 
FALHA AMBIENTAL
 
DEPENDÊNCIA ABSOLUTA ou EXTREMA
 
Nesta etapa devido às de dependência absoluta da criança, as condições devem ser suficientemente boas para o lactente iniciar seu desenvolvimento inato.
 
Deficiência mental não orgânica; esquizofrenia da infância; predisposição para doença mental hospitalizável mais tarde
DEPENDÊNCIA RELATIVA
Por falhar as condições de provisão ambiental, ocorrem traumas de fato, mas nesta fase há uma “pessoa” para ser traumatizada.
Predisposição a distúrbios afetivos; tendência anti-social
 
 
MESCLAS DEPENDÊNCIA-INDEPENDÊNCIA
 
A criança nesta fase realiza experimentações rumo à independência, mas precisa novamente experimentar a dependência.
Dependência patológica.
INDEPENDÊNCIA-DEPENDÊNCIA
 
A criança realiza experimentações rumo à independência, ainda precisa vivenciar a dependência, mas há predomínio da independência.
Arrogância; surtos de violência.
INDEPENDÊNCIA
 
Significa um ambiente internalizado em que a criança é capaz de cuidar de si mesma.
 
Não traz necessariamente prejuízos mais ostensivos.
SENTIDO SOCIAL
 
O indivíduo pode se identificar com adultos e com o grupo social sem perda demasiada de sua originalidade.
 
Falta parcial da responsabilidade do indivíduo como pai ou mãe.
 
 
 
AGRESSIVIDADE E TENDÊNCIA ANTISSOCIAL
Agressividade para Winnicott
Este autor buscou com muito empenho esclarecer a natureza da agressividade como um elemento inerente à natureza humana. Seu primeiro artigo "A agressão e suas raízes" (1939) já apresenta divergência das concepções freudiana e kleiniana sobre o tema.
Em relação ao pai da Psicanálise, a divergência situa-se na origem da agressividade, se para Freud esta constitui-se na reação às frustrações decorrente do contato do bebê com o princípio de realidade, para Winnicott a agressividade, como reação à frustração exigiria um maior amadurecimento, algo impossível nos primeiros momentos do desenvolvimento precoce do indivíduo. Já com relação aos pressupostos kleinianos, sua divergência manifesta-se em seu questionamento sobre a premissa fundamental de Klein, na qual a agressividade humana, expressa no sadismo e inveja nos momentos precoces do desenvolvimento, é decorrente da pulsão de morte, como elemento constitucional do ser humano.
 
A concepção winnicottiana sobre a agressividade
Para Winnicott (1939) a agressividade faz parte do ser humano, é inata, ou seja, irremediavelmente inerente à natureza humana, se integra à condição do ser humano de “estar vivo”. Para este autor, ainda que inserida como

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