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A Pejotização no Direito Do Trabalho Brasileiro

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Faculdade Mauá de Brasília
Campus Taguatinga
Curso de Licenciatura em Matemática
Gabriel Eduardo Carvalho Dos Santos
Sara Carvalho dos Santos
A Pejotização no Direito Do Trabalho Brasileiro
BRASÍLIA
2020
Gabriel Eduardo Carvalho Dos Santos
Sara Carvalho Dos Santos
A Pejotização no Direito Do Trabalho Brasileiro
Artigo apresentado no curso de ba-
charelado em Direito do Campus
Taguatinga da Faculdade Mauá de
Brasília, como requisito necessário para
termino da componênte de Direito do
Trabalho 01.
Orientador: Priscilla Ferreira Fernan-
des
Brasília, abril de 2020
14 de abril de 2020
Resumo
O presente artigo tem o interesse de discutir o fenômeno da pejotização no direito
brasileiro. O objetivo geral é buscar a origem bem como caracterizar, esclarecer e
demonstrar a anacronia do assunto em epígrafe frente a lei, jurisprudência e doutrina.
Recomemos a busca de julgados e a periódigos para formarmos nosso convencimento
que essa prática não é legal no direito brasileiro.
Palavras-chave:Pejotização, Trabalho, Relação
Abstract
This article is interested in discussing the phenomenon of pejotization in Brazilian law.
The general objective is to search for the origin as well as to characterize, clarify and
demonstrate the anachronism of the subject in question before the law, jurisprudence
and doctrine. We recommend the search for judges and periodicals to form our
conviction that this practice is not legal under Brazilian law.
Keywords:Pejotization, Work, Relationship
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Sumário
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2 Conceitos preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
3 O Fenômeno da Pejotização - Origem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
4 A Pejotização sobre Aspectos Legais, Jurisprudencial e Doutrinários . . . . 8
5 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
6 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1 Introdução
Com o avanço econômico brasileiro da década de noventa advinda da globalização,
a criação de novos postos de trabalhos, as novas necessidades do mercado de trabalho
desencadeou no direito do trabalho o processo de flexibilização das atividades trabalhistas.
Esse processo não é único do direito brasileiro, inciou-se no século XVIII com as revoluções
industriais ocorridas na Inglaterra e França, onde o salto foi tamanho que não humanamente
possível o direito acompanhar essas evoluções.
A politicas de estados mínimos e liberdade econômica exacerbada já no século
XX, geraram anormalidades econômicas e sociais visíveis. Práticas para proteção dos
trabalhadores em um estado não intervencionistas erram inimagináveis. Com a criação
do estado democrático de direito e a segunda geração de direitos e garantias deram os
primeiros passos para a busca de aspectos de proteção da parte hipossuficiente da relação
trabalhista. Só que algumas práticas ainda sobreviveram mesmo com as reformas entre
elas, nosso objeto de estudo será a pejotização.
Esse artigo tem como objetivo detalhar o que é a pejotização no Direito do Trabalho
Brasileiro, buscando perpassar por todas as suas características e origem, bem como suas
implicação no legislação vigente, jurisprudência e doutrina.
Na primeira seção construiremos o conceito de pessoa jurídica a luz do direito civil,
detalhando suas características até a criação da Teoria da Realidade Técnica. Para tal,
fizemos uso das principais obras dos doutrinadores clássicos bem como artigos e periódicos.
Na segunda seção fizemos uma breve recapitulação histórica sobre a flexibilização
das atividades trabalhistas, até a criação de nosso objeto de estudo a pejotização. Nessa
seção mostraremos como se iniciou esse processo no direito brasileiro e as decisões em que
levaram a esse cenário.
A Terceira seção abordará a definição de pejotização sobre Aspectos Legais, Juris-
prudencial e Doutrinários até a conclusão que este artifício é uma deturbação do processo
de terceirização.
2 Conceitos preliminares
Nesse tópico pretendemos fazer uma breve apanhado dos conceitos que serão
abordados durante todo texto. Daremos ênfase ao conceito de pessoa jurídica desenvolvendo
no direito pátrio perpassando pelos diplomas legais, doutrina concluindo com a Teoria Da
Realidade Técnica.
Em nosso ordenamento temos sujeitos de direito que possuem personalidade jurídica,
esta que é aptidão genérica para ser titulares de direito e deveres, estes sujeitos são divididos
em duas espécies a pessoa natural e pessoal jurídica.
A pessoa jurídica, ou como Tartuce (2018) denomina de pessoas coletivas, morais,
fictícias ou abstratas, dá indícios do que seria está criação. Assim é possível conceituarmos a
pessoa jurídica como o grupo de pessoas ou de bens arrecadados, que adquirem personalidade
jurídica própria por uma ficção legal. Abalizando nossa linha de raciocínio o professor
Carlos Roberto Gonçalves dirá:
“A pessoa jurídica é, portanto, proveniente desse fenômeno histórico e
social. Consiste num conjunto de pessoas ou de bens dotado de personali-
dade jurídica própria e constituído na forma da lei para a consecução de
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fins comuns. Pode-se afirmar, pois, que pessoas jurídicas são entidades
a que a lei confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de
direitos e obrigações” (Gonçalves, p.45, 2007)
O nascimento de uma pessoa jurídica desta forma é própria de uma ficção legal,
ou seja, reflexo do princípio da legalidade no direito civil assim podemos afirmar sem
problemas que a pessoa jurídica pode fazer tudo o que a lei não proíba.
O Código Cívil em seu Art.45 define o início das atividades de uma pessoa jurídica
como o ato constitutivo de registro, possuindo assim efeitos prospectivos(eficácia ex nunc),
logo possui natureza constitutiva, diferente da certidão de nascimento para pessoas naturais
que tem natureza declaratória. A baixo o diploma legal referido:
“Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito
privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o
ato constitutivo. Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular
a constituição das pessoas jurídicas de direito privado, por defeito do ato
respectivo, contado o prazo da publicação de sua inscrição no registro.”
Além do ato constitutivo, elemento objetivo da constituição da pessoa jurídica,
há existência elementos subjetivos como à vontade humana criadora(em conjunto ou
individualmente) e o objeto lícito das atividades da pessoa jurídica.
A teoria que melhor unifica os aspectos formais e subjetivos supra citados é a
Teoria da Realidade Técnica como Maria Helena Diniz exemplifica:
“A personalidade jurídica é um atributo que a ordem jurídica estatal
outorga a entes que o merecerem. Logo, essa teoria é a que melhor
atende à essência da pessoa jurídica, por estabelecer, com propriedade,
que a pessoa jurídica é uma realidade jurídica”. (Diniz, p.70, 2007)
A Teoria da Realidade Técnica é um somatório da Teoria da Ficção de Savigny
mais a Teoria da Realidade Objetiva ou Organicista de Clóvis Beviláqua. Substancia-se a
Teoria da Realidade Técnica que a pessoa jurídica teria existência real, não obstante a sua
personalidade ser conferida pelo direito. Posto a pessoa jurídica seja personificada pelo
direito, tem a atuação social na condição de sujeito de direito e não se confunde com seus
membros, sendo essa regra inerente à própria concepção da pessoa jurídica.
Desta forma, as características subjetivas existentes inerentes da pessoa natural que
envolvem todas as faculdades do ser humano seriam afastadas na criação da pessoa jurídica
seja ela individual ou coletiva, a luz da teoria adotada pelo direito brasileiro sendo de fato
um novo ser com vida própria como o professor Arnold Wald deixa claro: “... personalidade
ao grupo, distinta da de cada umde seus membros, passando este a atuar na vida jurídica
com personalidade própria”(Gonçalves apud Wa ld , p.46, 2007).
3 O Fenômeno da Pejotização - Origem
Com o avanço econômico brasileiro da década de noventa advinda da globalização,
a criação de novos postos de trabalhos, as novas necessidades do mercado de trabalho
desencadeou no direito do trabalho o processo de flexibilização das atividades trabalhistas.
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Esse processo não é único do direito brasileiro, inciou-se no século XVIII com as revoluções
industriais ocorridas na Inglaterra e França, onde o salto foi tamanho que não humanamente
possível o direito acompanhar essas evoluções, mais tarde com os estados mínimos e
liberdade econômica exacerbada as relações foram desgastadas.
A busca por uma desburocratização na relação de emprego e a busca por minimizar
os encargos trabalhistas por parte dos empregadores para maximizarem seus lucros, criaram
práticas de mercado de não proteção dos empregados. A mais recente entre elas é a
Pejotização.
A origem no direito brasileiro deste fenômeno data-se 2005 com a entrada em vigor
da Lei no11.196 que em seu Art.129 unifica para fins fiscais e previdenciários de qualquer
serviços intelectuais, inclusive os de natureza científica, artística ou cultural, em caráter
personalíssimo ou não, com ou sem a designação de quaisquer obrigações a sócios ou
empregados da sociedade prestadora de serviços a legislação aplicável a pessoas jurídicas,
na forma da lei:
“Art. 129. Para fins fiscais e previdenciários, a prestação de serviços
intelectuais, inclusive os de natureza científica, artística ou cultural, em
caráter personalíssimo ou não, com ou sem a designação de quaisquer
obrigações a sócios ou empregados da sociedade prestadora de serviços,
quando por esta realizada, se sujeita tão-somente à legislação aplicável
às pessoas jurídicas, sem prejuízo da observância do disposto no art. 50
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil. ”
vale ressaltar que não se restringe aos setores mencionados diretamente na lei,
atingindo todas esferas de trabalho, inclusive, a advocacia.
Com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da ADPF 324 e RE 958252
que decidiu pela licitude da terceirização ou qualquer forma de divisão, seja ela atividade-
meio ou atividade-fim, entre pessoas jurídicas mantendo a responsabilidade subsidiária da
empresa contratante.
7
4 A Pejotização sobre Aspectos Legais, Jurisprudencial e Doutrinários
Vale a esta altura, definirmos o que de fato seria a Pejotização. Entende-se como
Pejotização a contratação de pessoa natural constituída por pessoa jurídica, ou seja, a
relação não seria entre pessoa jurídica(empregador) – pessoa natural(empregado) e sim,
pessoa jurídica(empregador) – pessoa jurídica(empregado). Portanto sobre o prisma formal,
a empresa empregadora efetuaria um contrato de terceirização com a empresa contratada
não ocorrendo vinculo empregatício.
A Lei no 13.429/17 – Lei de Terceirização – não revogou tácita ou formalmente
nenhum dispositivo da Consolidação das Leis Trabalho(CLT) que mantém os critérios para
a existência do vínculo empregatício independentemente do carácter, pessoa natural ou
jurídica, do empregado a subordinação, a habitualidade, a pessoalidade, a dependência e a
onerosidade requisitos legais são ainda incidentes em qualquer relação de trabalho.
A Súmula n331 do Tribunal Superior do Trabalho(TST) admite apenas nesse
fenômeno, a contratação por terceirização para relação empregatícia, sobre quatro aspectos:
a) situações empresariais que autorizem contratação de trabalho temporário2 ; b) atividades
de vigilância3 ; c) atividades de conservação e limpeza; e d) serviços especializados ligados
à atividade-meio do tomador.
Desda forma como defende Martins(2014), Carvalho(2010) a contratação de em-
pregado sobrevestido por pessoa jurídica (pejotização) descaracteriza a relação de trabalho
e sobre e desta forma é clara e imediata a aplicação do Art 9 da CLT que determina a
nulidade destes atos praticados. Batista e Silva(2017), descrevem com primazia o que os
referidos autores defendem.
A inexistência de trabalho por pessoa física implica na descaracteri-
zação da relação de emprego por ausência de um de seus elementos
fático-jurídicos, conceituados nos arts. 2o e 3o da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), afastando a proteção conferida pela legislação
trabalhista.(Batista e Silva, p.174, 2017)
Batista e Silva(2017) ainda acrescentam que a pejotização é a deturpação da
terceirização, objetivando a ocultar a relação empregatícia, desprezando o tipo de serviço
terceirizado.
5 Considerações Finais
Em suma, o presente artigo buscou construir e mostrar o que de fato é o a pejotização
dentro do direito brasileiro. Sua origem, sem desenvolvimento na Doutrina, Jurisprudência
e Diplomas Legais presentes no ordenamento pátrio. Acreditamos que fornecemos ao leitor
argumentos relevantes na qual acreditamos que é nulo e ilegal esta prática.
A Teoria da Realidade Técnica adotada pelo código para constituir a pessoa jurídica
leva em conta apenas requisitos objetos, não prestando conta a esfera subjetiva do individuo,
já que o legislador ao recepcionar essa teoria ao código tinha apenas a intenção de criação
de atividades empresariais que gerariam lucro e como vimos criar uma entidade totalmente
desvinculada da sua personalidade jurídica de pessoa natural. A relação de emprego leva
em consideração a parte subjetiva humana do trabalhador garantindo-lhe a direitos básicos
da consequência da jornada de trabalho. Assim desde o princípio, a contratação de pessoas
jurídicas não é legal já que contraia o próprio conceito de pessoa jurídica.
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Acreditamos que a Lei no11.196/05 e o a ADPF 324 e RE 958252 criaram prece-
dentes de maneira indireta. Todos os atos processuais são regidos pela boa fé objetiva, uma
má aplicação e entendimento gerou essa anacronia entre a prática e os institutos citados.
Concordamos com os autores citados, ao defenderem que a pejotização é uma
deturpação do conceito de terceirização e funciona em total falta de sintonia com a súmula
311 do TST que deixa claro o rol em que se deve utilizar o instituto da terceirização.
Propomos para estudos futuros, que os futuros pesquisadores busquem institutos
para conciliar o precedente criado indiretamente pelo STF, também indicamos que o TST
se manifeste sobre esse instituto formalmente com o intuito de pacificar esse fenômeno já
que em nossa pesquisa constatou-se que algumas turmas tem intendimento diversificado.
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6 Referências
BATISTA, Isabel de Oliveira; SILVA, Patrick Luiz Martins Freitas. A pejotização
sob o prisma dos princípios do direito do trabalho. Revista do Tribunal Superior de São
Paulo, São Paulo, SP, v. 83, n. 2, p. 171-194, abr./jun. 2017.
CARVALHO, Maria Amélia Lira de. Pejotização e descaracterização do contrato
de emprego: o caso dos médicos em Salvador – Bahia. 2012. 154 f. Dissertação (Mestrado).
Pontifícia Universidade Católica do Salvador, Programa de Mestrado em Políticas Sociais
e Cidadania, Salvador, 2010.
Código Civil. Lei n.o 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Brasília, DF, Presidência da
República, 2002.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro 1-Parte Geral. Editora
Saraiva, 2017.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Teoria geral do Direito Civil.
24. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1, p. 230.
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do trabalho. 30. ed. São Paulo: Atlas, 2014
10
	Resumo
	Abstract
	Sumário*
	Introdução
	Conceitos preliminares
	O Fenômeno da Pejotização - Origem
	A Pejotização sobre Aspectos Legais, Jurisprudencial e Doutrinários
	Considerações Finais
	Referências

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