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ARTES VISUAIS LINGUAGEM VISUAL Cíntia Borges Ribeiro Denise Batista Furtado Marlene Graciano Carvalho Marli Gonçalves http://unar.info/ead2 APRESENTAÇÃO Caro aluno Seja bem-vindo ao conteúdo da nossa disciplina: Estudo das Linguagens Visuais on-line. Espero que seja de grande proveito para cada um de vocês. Muitas vezes, traçamos ou esboçamos ou projetamos algo para nos comunicar com alguém, mas nem sempre nos damos conta de que o conteúdo visual desta comunicação é composto por uma série de Elementos Visuais, que, de primeira mão, podemos chamar de alfabeto visual. São os elementos deste alfabeto visual que constituem a substância básica daquilo que observamos na produção visual. A linguagem visual constitui a base da criação. Há princípios, fundamentos ou conceitos, com relação à organização visual, que podem resolver situações problemáticas na realização de um projeto visual ou mesmo numa atividade artística cotidiana de uma sala de aula. O artista e o professor podem trabalhar sem esse conhecimento de forma consciente, usando seu gosto pessoal e sensibilidade estética que são muito importantes, porém, uma compreensão dos fundamentos ampliará sua capacidade de organização, facilitando enormemente seu processo de criação. Se quiséssemos refletir sobre o número de elementos suficientes para se formar uma Linguagem Visual, poderíamos ter como resposta que os principais são basicamente: o ponto; a linha; o plano; o volume e a cor. Com tão poucos elementos básicos, e que nem sempre se apresentam em conjunto, forma-se toda a expressão visual na arte na sua mais imensa variedade de técnicas e estilos. Sendo assim, podemos dizer que os elementos visuais constituem a substância básica do que vemos - são a matéria-prima de toda informação visual. PROGRAMA DA DISCIPLINA Ementa: Conhecimento dos elementos (formas, cores, tipologia) e princípios que articulam a linguagem visual. Desenvolvimento do repertório visual e ampliação da capacidade de manipulação consciente dos seus conteúdos. Noções introdutórias sobre o processo de Comunicação Visual e sobre planejamento e desenvolvimento de projetos que envolvam essa linguagem. Objetivos: Conhecer e aplicar em atividades, aulas e projetos os elementos da linguagem visual. Conteúdo: Símbolos; Linguagem; Volume; Luz e Cor; Tipos de linguagem. Metodologia: Disciplina oferecida na modalidade a distância (EAD). Incentiva-se a formação de grupos de estudo autônomos, orientados pelo professor. Avaliação: No sistema EAD, a legislação determina que haja avaliação presencial, sem, entretanto, se caracterizar como a única forma possível e recomendada. Na avaliação presencial, todos os alunos estão na mesma condição, em horário e espaço pré-determinados, diferentemente, a avaliação a distância permite que o aluno realize as atividades avaliativas no seu tempo, respeitando-se, obviamente, a necessidade de estabelecimento de prazos. A avaliação terá caráter processual e, portanto, contínuo, sendo os seguintes instrumentos utilizados para a verificação da aprendizagem: 1) provas realizadas presencialmente; 2) trabalhos de pesquisa bibliográfica. As estratégias de recuperação incluirão: 1) retomada eventual dos conteúdos abordados nos módulos, quando não satisfatoriamente dominados pelo aluno; Bibliografia Básica ARGAN, Carlo (1999). Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras. GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1993. OSTROWER, Fayga. Universos da arte. Rio de Janeiro: Campus , 1987. Bibliografia Complementar BOSI, A. Reflexões sobre a arte. São Paulo: Ática, 1991. CHIPP, H. B. Teorias da arte moderna. São Paulo: Martin Fontes, 1988. FERREIRA, G. e COTRIM, C. (orgs.). Clement Greenberg e o debate crítico. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura/Funarte e Jorge Zahar Editor, 1997. GOMBRICH, E. Norma e Forma. São Paulo: Martins Fontes, 1990. __________. Arte e Ilusão. São Paulo, Martins Fontes, 1986. GULLAR, F. Etapas da arte contemporânea. Rio de Janeiro: Revan, 1998. HAUSER, A. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1998. KANDINSKY, W. Ponto e Linha sobre Plano. São Paulo, Martins Fontes, 1997. PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 2002. READ, H. O sentido da arte: esboço da história da arte, principalmente da pintura e da escultura, e das bases dos julgamentos estéticos. São Paulo: SP WONG, W. Princípios de formas e desenho. São Paulo: Martins Fontes, 1998. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 1 UNIDADE 01 – SERES SIMBÓLICOS, SERES DE LINGUAGEM. ................................. 1 UNIDADE 02 – LINGUAGEM VISUAL .................................................................... 4 UNIDADE 03 – O PONTO .................................................................................... 8 UNIDADE 04 – A LINHA ..................................................................................... 12 UNIDADE 05 – A SUPERFÍCIE ............................................................................. 16 UNIDADE 06 – VOLUME .................................................................................... 19 UNIDADE 07 – LUZ E COR ................................................................................. 22 UNIDADE 08 – A INTERAÇÃO DAS CORES ......................................................... 26 UNIDADE 08 – CORES PRIMÁRIAS, SECUNDÁRIAS E COMPLEMENTARES. ......... 30 UNIDADE 10 – CORES QUENTES E FRIAS, PROFUNDIDADE E VIBRAÇÃO. ........... 33 UNIDADE 11 - ESCALA ....................................................................................... 37 UNIDADE 12 - DIMENSÃO ................................................................................. 40 UNIDADE 13 – EQUILÍBRIO. ................................................................................ 44 UNIDADE 14 – FORÇAS COMPOSITIVAS ............................................................ 48 UNIDADE 15 - MOVIMENTO E RITMO................................................................ 54 UNIDADE 16 - FORMAS ..................................................................................... 58 UNIDADE 17 - SOMBRA E NEGATIVO ................................................................ 61 UNIDADE 18 – COMPOSIÇÃO PICTÓRICA E COMPOSIÇÃO LINEAR. .................. 65 UNIDADE 19 – LEITURA VISUAL ......................................................................... 69 UNIDADE 20 – LINGUAGEM VISUAL NA ESCOLA ............................................... 75 1 Pode-se afirmar que signo é algo duplamente constituído por um Plano de Expressão - suporte material por onde se transmite uma informação e Plano de Conteúdo- conteúdo da informação veiculada. UNIDADE 01 – SERES SIMBÓLICOS, SERES DE LINGUAGEM. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Refletir sobre o processo de Comunicação. Ao falarmos em linguagem, logo nos vem à mente a fala e a escrita. Estamos tão condicionados a pensar a linguagem como tão somente a linguagem verbal, oral ou escrita e, não nos damos conta de outras formas de linguagem que, de modo não verbal, também expressam, comunicam e produzem conhecimento. ESTUDANDO E REFLETINDO O que é então, a linguagem? Pode-se dizer que linguagem é um sistema simbólico e toda linguagem é um sistema de signos. Falando de uma forma bem genérica, signo é tudo aquilo que representa algo. Esse amplo conceito de signo pode incluir desde a palavra mais simples até um sinal de trânsito que nos faz parar ou prosseguir, o recurso sonoro ou visual de mensagem publicitária que nos leva rapidamente a pensar em algo e até mesmo um aroma ou sabor que nos provoca uma lembrança. Somosseres rodeados por ruidosas linguagens verbais e não verbais, enfim sistemas de signos que servem como meio de expressão e comunicação entre nós e podem ser percebidas pelos diversos órgãos dos sentidos: a linguagem oral (a fala, os grunhidos de um bebê), a linguagem gráfica (a escrita, um gráfico), a linguagem tátil (um beijo, um abraço), a linguagem auditiva (um 2 apito, uma música, o canto de um pássaro), a linguagem olfativa (o aroma de uma flor, o perfume de alguém querido), a linguagem gustativa (o sabor de um bom doce de leite, o gosto amargo do jiló) e a linguagem artística que pode, na contemporaneidade, envolver não somente o órgão visual que é o olho, mas todos os demais sentidos. Nossa penetração na realidade, conforme a definimos, ela é sempre mediada por linguagens, por sistemas simbólicos. O mundo, por sua vez, tem o significado que construímos para ele. Quando paramos e nos damos conta disso, verificamos que a linguagem permeia nossa vida constantemente e que ela é uma forma essencial da nossa experiência no mundo. Toda linguagem é um sistema de representação pelo qual olhamos, agimos sobre os outros e nos tornamos conscientes da realidade e com a possibilidade de sempre transformá-la. Para termos uma ideia, vamos voltar um pouco no tempo. Reflitamos juntos. Antes mesmo de saber escrever, o homem expressou e interpretou o mundo em que vivia pela linguagem da arte. A caverna, conforme conhecemos, foi o ateliê desses nossos ancestrais. Imagine! Diante dos mistérios do que era desconhecido, o artista retirava-se para ficar a sós na caverna. Por dia e noite, nela habitava, desvendando, pelo fazer das mãos e pela sua força imaginativa, o que não compreendia, mas sonhava compreender. Nas cavernas, eles desenharam, gravaram, pintaram possíveis danças, bisões, mamutes e outros animais. Portanto, mais do que uma reprodução dos animais selvagens de uma forma tão realista que nos impressiona, os desenhos e pinturas da arte rupestre nos falam da sensibilidade visual e da capacidade de abstração daquele homem antigo, mas que também continua sendo a nossa nos dias de hoje. No ato da criação, este artista, que costumamos chamar de pré-histórico, tornou conhecido e compreensível não só para ele, criador da imagem, mas para todo o grupo, que depois a olhava, o mistério dos animais que caçava e ao qual sua vida estava intimamente ligada. 3 Observe as imagens abaixo: Figura 1 (esquerda) Gruta de Lascaux, França Figura 2 (direita) Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí http://www.google.com.br/images?q=imagens+pinturas+rupestres&hl=pt&gbv=2&sa=X &oi=image_result_group&ei=uxc0U6TwEa-g0gGA7oCIAg&ved=0CCEQsAQ [acesso em 27/03/2014] BUSCANDO CONHECIMENTO Todo este processo artístico da história da humanidade, observado nas imagens acima, mesmo nos parecendo hoje tão natural, veio muito antes da palavra. Olhando, atentamente, para essas pinturas, podemos concluir que elas não se referiam somente ao que era visível naquele mundo, mas também ao invisível, como instrumento de magia. E, como seres simbólicos que somos, realizamos, desde os primórdios, a ação de sempre simbolizar. Sendo assim, dá para perceber que a arte, vinculada ao cotidiano da humanidade, foi utilizada, desde os primórdios, como forma de simbolizar, significar e comunicar. Acesse o link para maiores informações: http://pt.slideshare.net/jeffreitas/2-aula http://www.google.com.br/images?q=imagens+pinturas+rupestres&hl=pt&gbv=2&sa=X&oi=image_result_group&ei=uxc0U6TwEa-g0gGA7oCIAg&ved=0CCEQsAQ http://www.google.com.br/images?q=imagens+pinturas+rupestres&hl=pt&gbv=2&sa=X&oi=image_result_group&ei=uxc0U6TwEa-g0gGA7oCIAg&ved=0CCEQsAQ http://pt.slideshare.net/jeffreitas/2-aula 4 UNIDADE 02 – LINGUAGEM VISUAL CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender linguagem como uma estrutura de comunicação e campo de estudo necessário para refletir criticamente sobre a forma como transmitimos as mensagens e as informações. ESTUDANDO E REFLETINDO O estudo da linguagem visual passa pelo estudo da semiótica, que de forma mais livre, podemos entender como o estudo da linguagem, porém, a semiótica estudo todos os tipos de linguagem, para compreender um pouco melhor o significado deste campo de estudos propomos um trecho introdutório do livro “O que é Semiótica” de Santaella. [...] O nome Semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência dos signos.”. Contudo, pensando esclarecer, confundimos mais as coisas, pois nosso interlocutor, com olhar de surpresa, compreende que está querendo apenas dar um novo nome para a Astrologia. Confusão instalada, tentamos desenredar, dizendo: - “Não são os signos do zodíaco, mas signo, linguagem. A Semiótica é a ciência geral de todas as linguagens.”. Mas, assim, ao invés de melhorar, as coisas só pioram, pois que, então, o interlocutor, desta vez com olhar de cumplicidade – segredo desvendado -, replica: - “Ah! Agora compreendi. Não se estuda só o português, mas todas as línguas”. Nesse momento, nós nos damos conta desse primordial, enorme equívoco que, de saída, já ronda a Semiótica: a confusão entre língua e linguagem. (SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. 1983, p. 7) A linguagem pode estar dividida em VERBAL e NÃO VERBAL. A linguagem verbal está associada às palavras, enquanto a linguagem não verbal está associada a imagens e gestos. Dentro das linguagens não-verbais nós 5 encontramos as linguagens artísticas, como a linguagem visual, a linguagem musical e cênica (vocês estudarão no decorrer do curso). Apesar de parecer muito simples estabelecer estas fronteiras entre visual, musical, cênica, verbal e não-verbal, de verdade essas fronteira funcionam no campo acadêmico, em caráter de introdutório e esquemático, pois quando analisamos mais profundamente essas linguagens, percebemos que em muitos momentos elas se relacionam, se justapõem, se interligam e se completam. Essas fronteiras não ficam tão claras ao analisarmos obras modernas e contemporâneas, por isso, não se frustre ao se deparar com um happening e não conseguir encaixá-lo em uma linguagem específica. Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-RDtMuWq8Rcc/UL- Z6GxTzlI/AAAAAAAAAVM/NfODngxNu6A/s1600/alan-kaprow-yard-pasadena-art-museum-300x204.jpg BUSCANDO O CONHECIMENTO Para esclarecer Linguagem Visual o texto abaixo é de grande colaboração. Linguagem da visão - Jorge Bacelar Para estes autores, assim como para muitos outros, comungando destes mesmos pressupostos, o design é, na sua essência, uma actividade formal e 6 abstracta; o texto é secundário, um elemento adicional, acrescentado e integrado na estrutura formal depois desta se encontrar estabelecida. Uma teoria do design que isola a percepção visual da interpretação linguística, encoraja a indiferença à significação cultural. Não obstando a que os estudos da composição abstracta sejam, por si, inquestionáveis, os aspectos linguísticos e sociais do design são trivializados ou mesmo ignorados, quando essa abstracção invade e ocupa o fulcro da atividade conceptual. Em Arte e Percepção Visual, Arnheim define a sua ideia de "conceito visual" como a imagem mental de um objecto que se adquire por uma multiplicidade de percepções visuais do mesmo, pela sua captação através de inúmeros pontos de vista e contextos. Num tom humorístico, explica que esta imagem de um mexicano não é uma representação válida, pois não se refere ao verdadeiro "conceito visual" de um mexicano. Por outras palavras, é necessário acrescentar uma informação textual - uma legenda - de modo a poder ser compreendida. Mas o que poderia constituir verdadeiramente o "conceito visual" de um mexicano? O sombrero (observado a partir de um nível mais elevado) já constitui uma trivialidade turística; o "conceito visual" do mexicano teria de consistirentão em mais estereotipos, acumulados não da experiência e do contacto com verdadeiros mexicanos, mas apropriados dos filmes, da televisão e da banda desenhada: um grande bigode, poncho, botas de couro, siestas e tequilla... O exemplo de Arnheim pretendia ser jocoso. O seu objectivo era tornar tão universal quanto possível a premissa inerente a esta piada, sugerindo que a compreensão do 7 mundo se baseia apenas num conjunto de percepções visuais e que a linguagem desempenha um papel subalterno, limitando-se a preencher os espaços deixados vazios pela informação sensorial. Sabemos, no entanto, que a percepção é filtrada pela cultura. O conceito de um objecto tanto tem de visual (espacial, sensorial e pictórico) como de linguístico (convencional, pré-determinado pela compreensão e aceitação colectivas). O conceito constitui-se a partir de pontos de vista individuais e atributos convencionais, apreendidos com a educação e os media. A expressão "linguagem visual" surge constantemente nos textos de design: um vocabulário de elementos básicos (pontos, linhas, formas, texturas e cores) está organizado numa gramática de contrastes (equilíbrio/instabilidade, simetria/assimetria, duro/suave, leve/pesado). Esta teoria foi elaborada no Curso Básico de Johannes Itten, na Bauhaus. Um programa idêntico foi posteriormente continuado por Kandinsky e Moholy-Nagy. Livros como Linguagem da Visão de Gyorgy Kepes, professor na New Bauhaus de Chicago, nos anos 40, continuaram a desenvolver esta teoria do design como uma linguagem baseada na abstracção. Kepes escreve: "(...) tal como as letras do alfabeto podem ser combinadas de inúmeras formas para constituir palavras e obter significados, também as qualidades ópticas das formas podem ser combinadas... e cada combinação específica dá origem a uma sensação espacial distinta." A "linguagem visual" de Kepes assentaria, assim, apenas num glossário de significações sensoriais. O artigo pode ser lido integralmente em: http://bocc.unisinos.br/pag/bacelar_linguagem.pdf Além do texto disponibilizado acima, fica a sugestão de leitura de um artigo bastante interessante: https://estudospeirceanos.files.wordpress.com/2012/07/matrizes-da- linguagem-e-pensamento-por-talita-takeda.pdf http://bocc.unisinos.br/pag/bacelar_linguagem.pdf https://estudospeirceanos.files.wordpress.com/2012/07/matrizes-da-linguagem-e-pensamento-por-talita-takeda.pdf https://estudospeirceanos.files.wordpress.com/2012/07/matrizes-da-linguagem-e-pensamento-por-talita-takeda.pdf 8 UNIDADE 03 – O PONTO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conhecer os elementos e princípios que articulam a linguagem visual: ponto, linha, superfície, volume, luz... Uma obra de arte é percebida pela nossa inteligência e pela nossa sensibilidade simultaneamente. A informação transmitida pela obra chega até nós pelos nossos cinco sentidos. No caso das artes visuais, o olhar é o privilegiado e será determinada pelo funcionamento do cérebro, ao reorganizar e interpretar aquilo que vemos. Ao olharmos um grupo de pontos próximos, temos a tendência a enxergar uma linha. Reconhecemos um padrão e captamos a forma como um todo. Para ler imagens, ou para construí-las, é necessário estudarmos os elementos da linguagem visual. ESTUDANDO E REFLETINDO O ponto é a unidade básica da linguagem visual. Sua representação gráfica é arredondada, pois é muito difícil encontrar, na natureza, a linha reta e o quadrado. Quando se faz uma marca com um objeto macio ou duro, ou quando a ponta do pincel toca o papel, marcamos na superfície um ponto, que se torna um ponto de referência para todos os outros elementos. Para que possamos observar o simbolismo de uma estrutura gráfica, é necessário começar pelo elemento mais simples que compõe a matéria: o ponto. Qualquer ponto possui um grande poder de atração visual sobre o olho, exista ele naturalmente ou tenha sido colocado pelo homem por um objetivo qualquer. Como Elemento Conceitual, um ponto indica posição. Não tem comprimento nem largura. Pode representar o início e o fim de uma linha e está onde duas linhas se cruzam. Ele é um “ser vivo”. A unidade mínima da presença. Estamos muito acostumados a usá-lo na escrita, porém existem outras posições, 9 além desta. O ponto é a representação da partícula geométrica mínima da matéria e do ponto de vista simbólico, é considerado como elemento de origem. Como Elemento Visual, o ponto possui formato, cor, tamanho e textura. Suas características principais são: • Tamanho - devendo ser comparativamente pequeno • Formato - devendo ser razoavelmente simples. A capacidade única que uma série de pontos tem de conduzir o olhar é intensificada pela maior proximidade dos pontos. Kandinsky também aponta relações interessantes com as outras áreas da arte, no que diz a ideia de ponto, por exemplo, a música e a dança. Observe a imagem abaixo. Perceba que, mesmo os pontos não estando desenhados, sabemos que eles existem como uma forma de marcação no movimento executado. Figura 3 Wassily kandinsky, no livro “Ponto e Linha Sobre Plano” . 10 BUSCANDO CONHECIMENTO Veja abaixo outro exemplo relacionado à música. Trata-se do fragmento de uma partitura de John Cage. Clique aqui, para saber um pouco sobre este músico que, atualmente, é referência para o ensino de música nas nossas escolas. John Cage (1912-1992) rockloco.blogspot.com musicadiscreta.blog.uol.com.br. Ainda sobre música clique aqui e veja o vídeo de uma animação com intervalos gráficos que, no caso, são pontos, a partir de um estudo de Frederico Chopin. Abaixo, trabalhos de alunos realizados a partir dos conceitos sobre o ponto, embasados principalmente em Kandinsky no seu livro “Ponto e linha sobre plano” Fragmento de ‘Partitura visual’ de John Cage http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u223.jhtm http://www.youtube.com/watch?v=Tj1hDqf8Pm0&feature=relmfu 11 Figura 4 Wassily kandinsky: Composição VIII (1923) Figura 5 de aluno do ensino médio da Etec de Hortolândia, SP Figura 6 Trabalhos de alunos do ensino médio da Etec de Hortolândia, SP Para finalizar nossa conversa sobre ponto, clique aqui e veja um vídeo inspirador para uma aula de Ponto. http://www.youtube.com/watch?v=Riv1LiA6DM4 12 UNIDADE 04 – A LINHA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Na Unidade anterior estudamos o Ponto. E a Linha? O que você sabe ou pensa sobre esse elemento tão importante nas artes? A linha é formada por pontos tão próximos que não podemos ver sua individualidade. Também pode ser definida como um ponto em movimento ou a história do movimento de um ponto, o registro de um trajeto. É importante considerarmos que, na composição de uma imagem, cada elemento visual configura o espaço de uma maneira diferente. Para estudarmos a linha, devemos substituir a pergunta o que é uma linha por outra: o que ela faz quando configura o espaço? Como ela se comporta no espaço do plano pictórico? ESTUDANDO E REFLETINDO A linha forma um espaço que é linear, que tem uma única dimensão. Apreendemos uma direção, ou seja, ela conduz o olhar e cria movimento. As forças direcionais são importantes para a intenção compositiva dirigida a um efeito e a um significado determinado. Quando desenhamos, a linha nasce de um poder de abstração em nossa mente, pois não há linhas no espaço natural. Quando você olha para uma de suas mãos e realiza um desenho de observação, você escolhe um contorno para representar, mas, se você alterar seu ponto de vista, o contorno que representou através das linhas também se altera. Nas imagens, a linha também está ligada a um caráter rítmico, ou seja, sua repetição, a introdução de intervalos e os contrastes de direção apresentam ritmos ao nosso olhar. Oinstrumento que traça a linha ou a intensidade dada pela mão a este traço pode criar diferentes possibilidades expressivas. A qualidade da linha expressa a intenção do desenhista. Para ilustrar esse estudo sobre o ponto e as linhas, apresentamos imagens do inventor e fotográfo Étienne-Jules Marey (1830-1904). Ele realizou 13 inúmeros registros, utilizando a fotografia instantânea. Num mesmo negativo, ele registrava uma sequência demonstrativa de diferentes instantes do movimento. Na primeira imagem, podemos observar como as diferentes posições da haste configuram um espaço e nos dão a sensação de movimento. Figura 7 Etienne-Jules Marey, http://content.stamen.com/talks/where_20_2008/6.html [acesso em 27/03/2014] Na segunda imagem, Marey coloca um modelo com uma roupa com linhas (ao longo dos braços, pernas e pés) e pontos (um na cabeça e um no ombro) nas laterais. É evidente como a repetição dos pontos e linhas imprime um ritmo ao olhar e como nosso ritmo de leitura se altera com a mudança de direção dessas mesmas linhas. Figura 8 Etienne-Jules Marey - SÉMIA http://www.inrp.fr/she/semia/accueil.htm. [Acessado em 27/03/2014] http://content.stamen.com/talks/where_20_2008/6.html http://www.inrp.fr/she/semia/accueil.htm 14 BUSCANDO CONHECIMENTO Clique aqui e veja um trecho do documentário O Mistério de Picasso, 1956, realizado pelo diretor Henri Clouzot. Curiosa tentativa de registrar a obra de Picasso, o que se passa na cabeça de um artista na hora de criar uma obra. Para a gravação, eles utilizam uma tinta especial e também se mostra o lado inverso da tela. Originalmente, em widescreen (Cinemascope), primeiro em preto e branco, depois, em cores, quando ele passa a pintar em óleo (usando também técnicas de animação tipo stop-motion). Todas as telas pintadas para o filme foram destruídas, quando o filme foi finalizado, de acordo com contrato feito entre as partes. Ganhou Prêmio Especial do Júri em Cannes 1956.Observe a desenvoltura como Picasso traça a linha. É impressionante perceber seu domínio, agilidade e flexibilidade. Seguem abaixo, desenhos de alunos do ensino médio, em que a proposta era que desenhassem, pensando na linha como a principal estrutura do desenho e que fosse realizada de forma fluída, solta, assim como nos mostra Picasso. http://www.youtube.com/watch?v=X59U4mUqWtw Figura 9 Desenho da fiação elétrica, aluno do ensino médio da Etec de Hortolândia, SP http://www.youtube.com/watch?v=oImtgprsdjI http://www.youtube.com/watch?v=X59U4mUqWtw 15 Figura 10 Auto-retrato de aluna do ensino médio da Etec de Hortolândia, SP Figura 11 Auto-retrato de aluno do ensino médio da Etec de Hortolândia, SP 16 UNIDADE 05 – A SUPERFÍCIE CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Nesta Unidade veremos outro elemento: a Superfície ESTUDANDO E REFLETINDO Quando as linhas delimitam uma área, um novo elemento visual surge, com novas propriedades e com um caráter espacial peculiar. Esse elemento é a superfície. As linhas perdem, então, seu movimento e sua autonomia, pois, ao comporem uma superfície, não indicam mais uma direção no espaço e sim uma área. Não há mais o caráter de direção e movimento da linha, apesar de ela ainda estar presente. Uma superfície pode ser fechada ou aberta. Na primeira, o movimento do olhar acontece em seu entorno, à margem de seu contorno, enquanto, na segunda, adquire um caráter mais transparente e imaterial. Segundo a artista Fayga Ostrower, as superfícies abertas são aquelas em que não há contornos que condensam o espaço interior da área. As superfícies abertas são configuradas por áreas de pontos, ou linhas que delimitam sem contorno preciso um espaço. Figura 12 Ilustração do autor da apostila. 17 A sobreposição de duas ou mais superfícies pode acontecer de três maneiras principais: Figura 13 Ilustração do autor da apostila. a) quando as duas mantêm seu contorno integralmente e temos a sensação de sobreposições e de transparência. b) quando o contorno de uma se interrompe para o de outra manter-se íntegro, temos a sensação de sobreposições de planos, surgindo um espaço em profundidade pelas sobreposições. Figura 14 Ilustração do autor da apostila. c) quando o contorno de duas ou mais se interrompem e as superfícies se somam, criando uma superfície maior. 18 Figura 15 Ilustração do autor da apostila. As superfícies podem constituir, desde as formas geométricas básicas até formas irregulares, não geométricas, sinuosas ou pontudas. Do mesmo modo que nosso olhar agrupa um conjunto de linhas, ele também agrupa superfícies semelhantes e evidencia o contraste de superfícies diferentes. As superfícies semelhantes, dispostas em um espaço, imprimem um ritmo ao olhar (mais lento do que acontece somente com as linhas, pois a complexidade de informações é maior). As superfícies díspares interrompem o ritmo apresentando-nos contrastes e oferecendo ao nosso olhar intervalos maiores para a leitura das formas. 19 As três dimensões são comumente chamadas de comprimento, largura e profundidade. UNIDADE 06 – VOLUME CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conhecer os elementos e princípios que articulam a linguagem visual: volume. ESTUDANDO E REFLETINDO O espaço em que habitamos, em que nos movemos e manipulamos objetos é um espaço tridimensional, com altura, largura e profundidade. Quando representamos este espaço no papel, utilizamos os elementos da linguagem visual, para traduzir esse espaço tridimensional em um espaço bidimensional do plano pictórico (que tem apenas duas dimensões: altura e largura). O assunto desta unidade é o Volume. Ele se compõe geralmente dos dois últimos elementos estudados: a linha e a superfície. As linhas aparecem geralmente como diagonais, e a superfície aparece com sobreposições, ambas em sua forma mais dinâmica para representar a ilusão de profundidade. Veja como as linhas diagonais contribuem para que vejamos um retângulo à frente, como um cartão com duas dobras. Figura 16 Ilustração do autor da apostila. 20 Veja aqui como as várias sobreposições de superfícies criam diferentes profundidades e como deduzimos as áreas dos volumes que estão encobertas. Figura 17 Ilustração do autor da apostila. Observe, ainda, o trabalho do artista norte-americano Sol LeWitt, que, a partir do desenho da estrutura de um cubo, brinca com o nosso olhar e podemos ver as imagens como representação de volumes do cubo ou ainda como um conjunto de linhas. Figura 18 Sol LeWitt, Variations of Incomplete Open Cubes, 1974. Se a linha nos oferecia uma direção, no espaço, e a superfície prioritariamente uma área, o volume tem um espaço que é o da profundidade. 21 BUSCANDO CONHECIMENTO As regras da perspectiva geométrica são uma sistematização da representação do espaço em sua profundidade. A primeira vez que estas regras foram sistematizadas foi no Renascimento, no tratado Da Pintura de Leon Battista Alberti. Elas imperaram na representação, até o surgimento das vanguardas artísticas, no início do século XX e, ainda hoje, são muito utilizadas. Figura 19 "Cristo Pantocrator", afresco da abside na Igreja de São Clemente, Barcelona, Espanha Observe esta imagem da arte medieval. Veja que antes da utilização das regras da perspectiva, os tamanhos das figuras indicavam uma hierarquia de importância e havia um valor simbólico. A partir do Renascimento, as diferenças de tamanho passam a indicar as distâncias em relação ao observador da tela, o que é maior indica proximidade e o que é menor indica um maior distanciamento. 22 UNIDADE 07 – LUZ E COR CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Conhecer os elementos e princípios que articulam alinguagem visual: luz e cor. Nesta unidade, abordamos dois elementos fundamentais para as artes: a luz e a cor. Vamos a eles? ESTUDANDO E REFLETINDO Podemos identificar o elemento da linguagem visual, luz, a partir dos contrastes de claro/escuro. Esse contraste pode aparecer independentemente de haver foco de luz. Há determinadas cores que, independentemente de receberem um foco de luz externo, emanam luzes. A cor amarela. Compare-a com a cor verde escuro e marrom. Os contrastes de claro/escuro contribuem para a apreensão de uma ilusão de volume na representação, através das áreas de vibração/pulsação dos contrastes, eles imprimem um movimento visual que se desdobra no espaço da imagem através dessas diferentes gradações. Na luz, ocorre um ritmo, a partir das pulsações de claro/escuro esse ritmo constitui uma profundidade. Uma área clara parece avançar e a área escura parece recuar, uma atuando sempre em relação à outra. Observe a imagem: Figura 20 Rembrandt van Rijn, Christ Crucified between the Two Thieves: The Three Crosses, 1653. 23 Veja alguns personagens representados próximos de nós espectadores, da gravura acima, que apesar de estarem mais ao fundo, as figuras que estão próximas da cruz têm maior destaque, porque correspondem às áreas mais claras, a área iluminada. BUSCANDO CONHECIMENTO Vamos iniciar nosso estudo, tomando como tônica a cor. Partimos dos dois sistemas de cor: o subtrativo e o aditivo. Sistema Subtrativo Neste sistema, estudamos o comportamento da cor como pigmento. Há três cores primárias: magenta, o amarelo e azul ciano. Essas cores não podem ser formadas, por isso são chamadas de cores primárias. Exemplo o magenta: É claro que você conhece o amarelo, mas e o azul ciano? Vamos a ele? Quando misturamos duas cores primárias obtemos uma cor secundária. 1. Magenta + amarelo = laranja (o vermelho pode ser aqui compreendido como um laranja escuro). 2. Magenta + azul ciano = violeta. 3. Azul ciano + amarelo = verde. As três cores secundárias do sistema subtrativo são: laranja, verde e violeta. Com a compreensão das cores primárias e secundárias, podemos definir 24 as cores complementares. Para isso acompanhe o pensamento: a soma das três primárias no sistema subtrativo é um preto ideal (dificilmente atingiremos o preto, apenas os pigmentos de melhor qualidade se aproximam mais do preto, geralmente obtemos um marrom escuro). Daí o nome deste sistema, com a soma das cores subtrai-se luz, pois o preto é a ausência de luz. Figura 21 (Guimarães, 2004) A cor complementar é o que falta para uma secundária ou primária obter em uma mistura o preto ideal. Azul ciano COMPLEMENTAR Laranja (é a soma das duas primárias: magenta e amarelo) Magenta COMPLEMENTAR Verde (é a soma das duas primárias: azul ciano e amarelo) Amarelo COMPLEMENTAR Roxo (é a soma das duas primárias: azul ciano e magenta) A complementaridade é sempre recíproca, se o roxo é complementar do amarelo, o amarelo é complementar do roxo e o mesmo com as outras cores. Sistema Aditivo No sistema aditivo, estudamos a cor como luz. Neste sistema, as cores primárias são o verde, vermelho e azul violeta. A tela de um aparelho de TV ou monitor de computador, as cores são obtidas a partir de faixas de cor das três cores primárias da luz. Também aqui há três cores secundárias que são: o 25 magenta, o amarelo e o azul ciano. Mas diferentemente da cor pigmento a mistura das três cores na luz tem como resultado a luz branca. Figura 22 (Guimarães, 2004) BUSCANDO CONHECIMENTO Observe o círculo cromático abaixo. Observamos dois triângulos, nos vértices as cores primárias e secundárias, entre os vértices, aparecem ainda as gradações de tom, veja ainda que esses tons estão ligados por linhas tracejadas a suas respectivas complementares. Figura 23(Guimarães, 2004) 26 UNIDADE 08 – A INTERAÇÃO DAS CORES CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre a interação das cores. Nesta unidade, vamos estudar como cores diferentes, em determinados contextos tornam-se iguais. ESTUDANDO E REFLETINDO Figura 24 (Albers, 2009, p.117) Como duas cores diferentes podem parecer iguais? Acima, as duas faixas de cores, parecem as mesmas. Por que isso ocorre?É simples. Dependem do fundo em que estão inseridas. A cor mais clara com fundo claro fica idêntica à cor escura que tem o fundo azul esverdeado. Figura 25 (Albers, 2009, 113) 27 O inverso pode ocorrer, ou seja, uma cor pode parecer duas cores diferentes. A forma em x no fundo amarelo parece cinza, e no fundo cinza, parece amarelada. Na parte de baixo da figura, podemos ver que as duas formas em x têm a mesma cor. As dimensões da cor Se uma cor não é sempre a mesma, pois é influenciada pelo entorno, como poderemos defini-la ou estudá-la? Uma cor é determinada por pelo menos três dimensões: o matiz, o valor e a saturação. Matiz é a própria coloração, definida pelo comprimento de onda. É o que determina o que conhecemos por azul, vermelho, amarelo, etc. Por Valor, entendemos a luminosidade da cor, o quanto uma determinada cor se aproxima do branco ou do preto. A artista Fayga Ostrower refere-se ao valor como escala tonal de claros e escuros. Já a Saturação se refere ao aspecto que varia entre uma cor intensa ou de máxima pureza e um apagado acinzentado, e toda essa gradação com o mesmo matiz e mesmo valor. Para facilitar a comparação com os estudos de diferentes autores, apresentamos uma tabela com as nomenclaturas utilizadas por eles para as três dimensões da cor: Munsell Aumont Varela Pope V-Domínguez Arnheim outros Matiz Matiz Croma Matiz Matiz Matiz Tom Valor* Luminosidade Brilho Obscuridade Valor de luminosidade Claridade Brilho Croma Saturação Saturação Intensidade Grau de cromicidade Saturação Saturação 28 Figura 26 (Guimarães, 2004) O estudo das cores como luz e como pigmento, as primárias e secundárias, sua complementariedade e as dimensões da cor (o matiz, o valor e a saturação) são importantes numa leitura e análise de uma imagem. Mas há ainda um terceiro modo de estudarmos a cor: como as relações de cor constituem o espaço da imagem. E por tratar das relações entre elementos e da constituição do espaço da imagem essa terceira abordagem é ainda mais importante para a leitura de imagens. De acordo com as relações colorísticas, a mesma cor pode definir o espaço de maneiras diferentes, conforme se explicita abaixo. Relação entre valores – linearidade/ritmo Figura 27 Amélia Toledo, 1986. (Farias, 2004, p. 134 ) BUSCANDO CONHECIMENTO Quando uma imagem coloca em evidência as relações entre valores, nosso olhar percebe uma linearidade (considere o que já estudamos sobre a linha). Imprime-se um ritmo ao olhar, observe ainda que o suporte e o formato escolhidos pela artista ressaltam ainda mais o aspecto de linearidade – a linha nos faz perceber uma direção no espaço. 29 Observe, neste trabalho de Paul Klee, como as gradações de tom imprimem um ritmo ao olhar. Perceba que esta imagem é mais complexa que a anterior, pois há áreas de contrastes de cores complementares (cores quentes e frias) que abordaremos em seguida Figura 28 Paul Klee, Tenda Dupla, 1926 (Ferrier, 2001, p.143) No trabalho apresentado a seguir, da artista Angela de La Cruz, observe que os tons não são representados. Nesta obra o vermelho é um só, mas a incidência de luz e as sombras reais é que criam as gradações de tons. Figura 29 Angela de la Cruz, Loose Fit III, 2000, óleo sobre tela, 135 x 135 cm. 30 UNIDADE 08 – CORES PRIMÁRIAS, SECUNDÁRIAS E COMPLEMENTARES. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar a relação entre cores primárias, secundárias e complementares. Se as gradações de tons nos remetem a aspectos da linha, as relaçõesentre cores primárias e secundárias nos trazem a força presente no elemento da superfície. ESTUDANDO E REFLETINDO As três cores primárias não apresentam nenhum valor cromático em comum, elas se comportam como se fossem superfícies independentes coexistindo no mesmo plano. A independência entre elas é tão forte que nos causa impressão de superfícies distintas, querendo cada uma chamar nossa atenção. Observe a reprodução de uma obra de Piet Mondrian, como as áreas de cores primárias disputam nossa atenção. Atente ao esforço do artista para construir com essas cores uma composição em equilíbrio dinâmico (os elementos relacionam-se entre si de maneira harmônica, apesar de estarem distribuídos de maneira assimétrica, se imaginarmos um eixo central dividindo a figura, as duas metades são diferentes). Figura 30 - Piet Mondrian, Tableau I, with Black, Red, Yellow, Blue and Pale Blue, 1921. 31 BUSCANDO CONHECIMENTO Quando as áreas de cores complementares encontram-se separadas, elas criam uma forte tensão visual. As cores complementares, quando inseridas separadamente podem apresentar especificidades. Na imagem abaixo, há uma atração mútua entre essas áreas de cor. Observe esta reprodução de uma pintura de Matisse: Figura 31 Henry Matisse, Mulher com chapéu (Mme Matisse), 1905. As áreas de vermelho separadas das pinceladas verdes criam uma tensão visual, assim como acontece entre os azuis violetas e amarelos. Outro efeito possível entre as cores complementares é a fusão. Este recurso foi muito usado pelos artistas impressionistas. Quando as cores complementares são vistas lado a lado ou uma dentro da outra, o grupo complementar parece fechar-se em uma única unidade. 32 Figura 32 Claude Monet. Impressão Sol nascente, 1872. Quando observamos uma cor e fechamos os olhos, se olharmos em seguida para uma parede branca, essa cor induz nossos olhos a ver sua complementar, a cor induz a sua complementar ou nossos olhos tendem a complementar as cores. 33 As cores transmitem-nos sensações de calor e de frio. Por essa razão existe a denominação de cores quentes e cores frias. Vale dizer que as cores quentes: amarelo, laranja e vermelho são associadas ao sol e fogo, portanto, calor. Diferentemente, as frias: violeta, azul e verde, associam-se à água, ao gelo, ao céu e às árvores. Normalmente, as cores quentes são excitantes, enquanto as frias, calmantes. UNIDADE 10 – CORES QUENTES E FRIAS, PROFUNDIDADE E VIBRAÇÃO. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar as associações que fazemos com as cores, a partir de nossas sensações, determinando a classificação das cores em quentes e frias. ESTUDANDO E REFLETINDO O azul é relacionado ao gelo, ao céu e ao frio. Já o vermelho e o amarelo são associados ao calor, ao sol e ao fogo. Saiba que mesmo um vermelho pode adquirir um aspecto frio se for um vermelho azulado próximo a um vermelho mais puro (mais quente), ou ainda um azul pode adquirir um aspecto mais quente se for avermelhado comparado a um azul mais puro. O mesmo acontece com as outras cores, que dependendo de seu entorno e das cores que a ela se misturam, podem adquirir aspecto frio ou quente. As cores frias fazem o espaço recuar. Já as cores quentes avançam no espaço. Uma cor fria ao fundo de uma imagem, associada à presença de uma cor quente nas figuras, contribui para a criação de planos de profundidade. + quente + frio 34 Na miniatura persa, apresentada a seguir, assim como em muitas outras imagens, o azul contribui para que o fundo da imagem seja percebido com mais profundidade. Figura 33 Miniatura persa. (Ostrower, 1996, p. 134) As vanguardas do início do século XX contestaram muitos preceitos da arte que estavam em uso desde o renascimento. Uma questão para a arte moderna foi negar os recursos de ilusão de profundidade. Veja a pintura de Matisse em que há uma inversão do efeito cromático: o vermelho encontra-se ao fundo e o azul encontra-se na figura. Essa inversão contribui para tornar nossa percepção da tela mais plana. 35 Figura 34 Henry Matisse, Bailarina sentada em uma mesa, 1942. BUSCANDO CONHECIMENTO Um pintor não consegue distinguir entre o efeito luminoso de uma cor e a própria cor. Para colocar isso de outra forma: valor e cor são um só. Corot tinha dois métodos de aplicar a tinta, cada uma com um efeito de luz/cor diferente. No primeiro método, normalmente reservado para pequenas paisagens e trabalhos com modelos ele uma abordagem de tinta direta. Como em ‘Campanha Romana com Aqueduto Claudiano’, ele rebaixou o tom todas as cores sem deixar que as cores ficassem ‘embaçadas’. Quando ele trabalha nesse processo, Corot tem a irretocável habilidade de aplicar em um revestimento, o tom exato na escala de valor da cor de cada uma das formas representadas. Mesmo os tons mais escuros de Corot têm um caráter quente ou frio definitivo, de modo que as sombras mais profundas, os tons de ocre e siena mais baixos ainda emitem luz. 36 Este é o teste que determina se um tom é "vivo", pois se você não pode dizer se é quente ou fria, não está emitindo luz e, portanto, é uma área morta, sem vibração. No segundo método de Corot a forma de criar a luz e aplicar o pigmento é difícil de discernir. Toda a superfície de ‘O Porto de La Rochelle’ emana um brilho dourado de opalas, como se finas camadas de tinta se interpenetrassem. Corot parecia poder pintar duas camadas ao mesmo tempo. Um revestimento dirige-se para a manipulação do valor exato de cada seção de luz, mantendo-o em perfeito equilíbrio com todos os valores na superfície. A segunda camada se dirige para o brilho total da superfície. Esta interpenetração de efeitos paralelos ao imaginário, onde o céu e a água refletem um ao outro. Fonte: http://www.artcellar.net/colortheoryptg.html (tradução livre Cíntia Ribeiro) http://www.artcellar.net/colortheoryptg.html 37 UNIDADE 11 - ESCALA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Estudar os elementos visuais que são capazes de se modificar e se redefinir uns aos outros, esse processo é conhecido por escala. Em outras palavras, “o grande não pode existir sem o pequeno”. ESTUDANDO E REFLETINDO A relação entre os tamanhos é a escala, conceito de grande e pequeno, estabelece-se relação comparativa, é o próprio ser humano, conceito desenvolvido pelos gregos antigos, com proporcionalidade perfeita, obtida através do seccionamento de um quadrado. A escala traz em si um grande potencial de criação de efeitos e significados. O homem vitruviano, desenho de Leonardo da Vinci, baseado no modelo idealizado pelo arquiteto romano Marco Vitruvio Polião para as proporções humanas, 1492. Se formos buscar nos dicionários o termo escala, acharemos as mais diferentes definições: hierarquia, régua numerada, tempo que dura em parada um navio ou um avião etc. 38 Obras do escultor australiano hiperrealista Ron Mueck, suas esculturas são concebidas sempre maiores ou inferiores à proporção humana. Usa-se a escala em planos e mapas, para a proporcionalidade real, a arquitetura clássica produzida entre os anos 500 a 300 a.C, podemos observar que a característica principal é o senso absoluto de organização e equilíbrio, sendo subordinado a ordem matemática. Nesta época ocorreu o término do templo dos Alemeônidas em Delfos, início do “século de Péricles”, com embelezamento da acrópole de Atenas, os arquitetos concentraram seus esforços no aperfeiçoamento da ordem dórica. A seção áurea também foi usada pelos gregos na maior parte de suas criações, nas ânforas clássicas. Caros alunos, acessem o link abaixo para obterem mais conhecimento sobre escala, muito interessante. http://arquitetandoblog.wordpress.com/2011/02/23/as-quatro-escalas-de-brasilia/BUSCANDO CONHECIMENTO ESCALAS NUMÉRICAS E ESCALAS GRÁFICAS http://arquitetandoblog.wordpress.com/2011/02/23/as-quatro-escalas-de-brasilia/ 39 https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dI EYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 Escala (E) é a razão (o resultado) entre a distância apresentada no desenho e a distância real. Assim, podemos dizer o seguinte: E = 𝑑 𝐷 onde d é distância no mapa ou desenho e D é a distância real. - Se E for maior que 1 é uma escala de ampliação. - Se E for menor que 1 é uma escala de redução. Para calcular a escala (E), é usada a regra de três simples, a propriedade de proporcionalidade direta. Para entender como realizar a conta de escala, veja o exemplo: Sabendo que no mapa, duas cidades estão separadas por um segmento de reta de 6 cm e que a escala do mapa é de 1: 3.000.000, calcule a distância real. d = 6 cm D = ? E = 1 : 3.000.000 1 3.000.000 = 6 𝑐𝑚 𝑥 3.000.000 x 6 1 = 18.000.000 𝑐𝑚 = 180 𝐾𝑚 R: A distância real é de 180 km https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dIEYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dIEYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 40 UNIDADE 12 - DIMENSÃO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: A dimensão existe no mundo real, não só podemos senti-la, mas também vê-la com o auxílio de nossa visão. ESTUDANDO E REFLETINDO As representações da dimensão em formatos visuais podem ser bidimensionais (comprimento e largura definem conjuntamente uma superfície plana) e tridimensionais (comprimento, largura e altura). Bidimensional: Observe que possui superfície plana e comprimento, não possuindo profundidade, sendo figurativas ou abstratas. O desenho, pintura, tingimento e escrita levam ao mundo dimensional. https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dI EYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 Tridimensional: https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dIEYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dIEYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 https://www.google.com.br/search?q=bidimensional&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=dIEYU46YH8KgkAfl2oCQCA&ved=0CDQQsAQ&biw=1366&bih=585 41 O conceito tridimensional é aplicado em tudo ao nosso redor, isso quer dizer, com profundidade física, com terceira dimensão, ou seja, comprimento x largura x altura. Quando pegamos qualquer objeto e o giramos, para cada movimento criamos uma imagem, um ângulo diferente, essa imagem tridimensional se forma em nossa mente. http://www.elo7.com.br/mandala-tridimensional/dp/2F6967 Como podemos observar na imagem tridimensional acima, cada movimento que fizermos será criada nova imagem tridimensional. Para conhecermos a dimensão real, temos que considerar a pré- visualização do objeto com desenho, elaborando um esboço para então seguir para o desenho, destacando os detalhes para a elaboração da peça, como por exemplo um protótipo. No tridimensional, temos vários artistas que trabalham com este conceito, podemos citar Amilcar de Castro, Lygia Clark entre outros. http://www.elo7.com.br/mandala-tridimensional/dp/2F6967 42 AMILCAR DE CASTRO – 1920-2002 – BRASIL Faça pesquisa para conhecer outras obras do autor. http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/matematica/espaco_forma/figuras_tridimensio nais/figuras_tridimensionais.htm Lygia Clark As obras querem ganhar o espaço. O trabalho com a pintura resulta na construção do novo suporte para o objeto. Destas novas proposições nascem os “Casulos, 1959”. Feitos em metal, o material permite que o plano seja dobrado, assumindo uma busca da tridimensionalidade pelo plano, deixando-o mais próximo do próprio espaço do mundo. [http://comunicacaoeartes20122.wordpr ess.com/2013/02/19/lygia-clark/] [acessado em 28/03/2014] http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/matematica/espaco_forma/figuras_tridimensionais/figuras_tridimensionais.htm http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo4/matematica/espaco_forma/figuras_tridimensionais/figuras_tridimensionais.htm http://1.bp.blogspot.com/_SBlJ1p7UquA/TEBWjcdBjHI/AAAAAAAAABs/3pySDywIVt8/s1600/c.JPG 43 BUSCANDO CONHECIMENTO Há modalidades artísticas e expressões de visualidade ainda distintas das apresentadas até aqui, algumas delas serão mostradas a seguir. A estereoscopia é uma simulação de duas imagens da cena que são projetadas nos olhos, nosso cérebro funde as imagens criando a sensação de 3D Dentro da tridimensionalidade, podemos citar ainda o origami, arte tradicional japonesa, que é a dobradura (dobrar o papel), criando obras tridimensionais com muita criatividade. HTTP://douglasdim.blogspot.com.br/2011/09/tridimensionalidade.html [acessado em 28/03/2014] Clique neste link para aumentar seu conhecimento: http://www.youtube.com/watch?v=4QKWfRQKEys http://douglasdim.blogspot.com.br/2011/09/tridimensionalidade.html http://www.youtube.com/watch?v=4QKWfRQKEys 44 UNIDADE 13 – EQUILÍBRIO. CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Propiciar ao aluno o contato com o texto de Rudolf Arnheim sobre equilíbrio visual e percepção. Aprofundar os conhecimentos sobre equilíbrio compositivo. ESTUDANDO E REFLETINDO A Estrutura Oculta de um Quadrado Recorte um disco de cartão escuro e coloque-o sobre um quadrado branco na posição indicada pela Figura 1. A localização do disco poderia ser determinada e descrita por meio de medidas. Um metro poderia indicar em centímetros as distâncias existentes entre o disco e as bordas do quadrado. Poder-se-ia assim concluir que o disco se encontra fora de centro. Este resultado não seria uma surpresa. Não é preciso medir — percebemos de relance que o disco está fora de centro. Como ocorre este "ato de ver"? Será que nos comportamos como um instrumento de medida, observando primeiro o espaço entre o disco e a borda esquerda e em seguida transportando a imagem apreendida dessa distância para o outro lado, para compararmos as duas distâncias? Provavelmente não. Não seria o melhor procedimento. Observando a Figura 1 como um todo, percebemos, provavelmente, a posição assimétrica do disco como uma propriedade visual do padrão. Não se vê disco e quadrado separadamente. Sua relação espacial dentro do todo faz parte do que se vê. Tais observações relacionais constituem um aspecto indispensável da experiência comum em muitas áreas sensoriais. "Minha mão direita é maior que a esquerda." "Este mastro de bandeira não está reto.” “Aquele piano está desafinado.” "Este chocolate é mais doce que o que tomamos antes.” Percebem-se imediatamente os objetos com determinado tamanho, isto é, algo situado entre um grão de sal e uma montanha. Na escala de valores de claridade, o quadrado branco em questão encontra-se alto, o disco escuro, baixo. Da mesma forma, vê-se localizado cada objeto. O livro que você está lendo aparece num certo lugar, definido pela sala ao redor e os objetos que nela se encontram- entre eles notoriamente você mesmo. O quadrado da Figura 1 encontra-se em um certo lugar na página do livro, e o disco está descentralizado no quadrado. Não se percebe nenhum objeto como único ou isolado. Ver algo implica em determinar-lhe um lugar no todo: uma localização no espaço, uma posição na escala de tamanho, claridade ou distância. Já mencionamos a diferença existente entre a medição feita com instrumento e a efetuada com juízos visuais. Não estabelecemos simplesmente tamanhos, distâncias, direções para em seguidacompará-los parte por parte. Especificamente, vemos estas características como propriedades do campo visual total. Há, contudo, uma outra diferença igualmente importante. As várias qualidades das imagens produzidas pelo sentido da visão não são estáticas. O disco da Figura 1 não está deslocado apenas em relação ao centro do quadrado. 45 Há uma certa instabilidade nele. É como se, deslocado do centro, quisesse voltar, ou como se desejasse movimentar-se para mais longe ainda. E as relações do disco com as bordas do quadrado são semelhantes a um jogo de atração e repulsão. [...] O que urna pessoa ou animal percebe não é apenas um arranjo de objetos, cores e formas, movimentos e tamanhos. É, talvez, antes de tudo, uma interação de tensões dirigidas. Estas tensões não constituem algo que o observador acrescente, por razões próprias, a imagens estáticas. Antes, estas tensões são inerentes a qualquer percepção como tamanho, configuração, localização ou cor. Uma vez que as tensões possuem magnitude e direção pode-se descrevê-las como "forças" psicológicas. Note, além disso, que o disco visto esforçando-se em direção ao centro do quadrado deve estar sendo atraído por algo que não está fisicamente presente na figura. Na Figura 1, o ponto central não é identificado por nenhuma marca; tão invisível quanto o Polo Norte ou o Equador, é, não obstante, uma parte do padrão percebido, um foco invisível de força, estabelecido a uma distância considerável pelo contorno do quadrado. É "induzido," como uma corrente elétrica pode ser induzida em relação a outra. Há, portanto, mais coisas no campo da visão do que as que estimulam a retina. Exemplos de "estrutura induzida" existem em abundância. O desenho de um círculo incompleto parece um círculo completo com uma falha. Num quadro executado em perspectiva central pode- se estabelecer o ponto de fuga por meio das linhas convergentes, mesmo que não se possa ver o ponto real de encontro. Numa melodia pode-se "ouvir" por indução a medida regular da qual um tom sincopado se desvia, como o nosso disco se desvia do centro. Tais induções perceptivas diferem das inferências lógicas. Inferências são operações mentais que acrescentam algo aos fatos visuais dados, ao interpretá-los. Induções perceptivas são às vezes interpolações que se baseiam em conhecimento adquirido previamente. Caracteristicamente, contudo, são conclusão derivadas espontaneamente durante a percepção de determinada configuração do padrão. Uma figura visual como o quadrado na Figura 1 é, e, ao mesmo tempo, não é, vazia. Seu centro é parte de uma complexa estrutura oculta que se pode explorar por meio do disco, do mesmo modo que se exploram as linhas de força de um campo magnético usando-se limalhas de ferro. Colocando- se o disco em vários lugares dentro do quadrado, parecerá em completo repouso em alguns pontos: em outros apresentará um impulso para uma direção definida; em outros sua situação parece incerta e oscilante. O disco mostra maior estabilidade quando seu centro coincide com o do quadrado. Na Figura 2 pode-se ver o disco atraído pela borda direita. Se a distância foi alterada, este efeito se enfraquece ou toma-se até reverso. Pode-se encontrar uma distância na qual o disco parece "demasiadamente próximo," dominado pela urgência de ultrapassar a borda. Neste caso o intervalo entre a borda e o disco parecerá comprimido, como se mais espaço fosse necessário. Para qualquer relação espacial entre objetos há uma distância “correta”, que o olho estabelece intuitivamente. Os artistas são sensíveis a esta exigência quando organizam os objetos pictóricos numa pintura ou os elementos numa peça escultórica. Os “designers” e arquitetos buscam constantemente a distância 46 apropriada entre os edifícios, janela e móveis. Seria conveniente examinar, de maneira mais sistemática, as condições para estes juízos visuais. As explorações informais mostram que o disco sofre influência não apenas das bordas e do centro do quadrado, mas também da estrutura em cruz formada pelos eixos vertical, horizontal e pelas diagonais (Figura 3). O centro, o principal lugar exato de atração e repulsão, se estabelece através do cruzamento destas quatro principais linhas estruturais. Outros pontos das linhas são menos fortes do que o centro, mas exercem atração da mesma forma. O padrão esquematizado Um efeito desagradável resulta das localizações nas quais as atrações são tão equivocadas e ambíguas que o olho não pode decidir se o disco pressiona em uma direção em particular. Tal oscilação toma a afirmação visual obscura interferindo no juízo perceptivo do observador. Em situações ambíguas o padrão visual cessa de determinar o que se vê, entrando em jogo fatores subjetivos do observador, como o foco de atenção ou preferência por uma direção particular A menos que o artista pretenda ambiguidades deste tipo, elas induzi-lo-ão a uma procura de arranjos mais estáveis. Nossas observações foram testas experimentalmente por Gunnar Goude e Inga Hjortzberg no Laboratório de Psicologia da Universidade de Estocolmo. Ligou-se magneticamente um disco escuro de 4 cm de diâmetro a um quadro branco de 46 X 46 cm. À medida que o disco se movia em direção a várias localizações, solicitava-se às pessoas que indicassem se ele apresentava uma tendência a se esforçar em uma direção qualquer, e se tal ocorresse qual seria a força desta tendência em relação às oito principais direções do espaço. A Figura 4 ilustra os resultados. Os oito vetores em cada localização resumem as tendências de movimento observadas pelas pessoas. É óbvio que o experimento não prova que a dinâmica visual seja experimentada espontaneamente; mostra apenas que, ao se sugerir uma tendência direcional às pessoas, suas respostas não se distribuem ao acaso, mas se agrupam ao longo dos eixos principais do esqueleto estrutural. Notável também é o esforço em direção às bordas do quadrado. Nenhuma atração clara se evidenciou em relação ao centro, ao invés, uma área de relativa estabilidade ao seu redor. Quando as condições forem tais que os olhos não puderem estabelecer claramente a real localização do disco, as forças visuais discutidas aqui podem, possivelmente, produzir um genuíno deslocamento na direção do impulso 47 dinâmico. Observando-se a Figura 1 por apenas uma fração de segundo, vê-se o disco mais próximo do centro do que ocorreria num exame mais demorado? Ter-se-á muitas ocasiões pra observar que sistemas físicos e psicológicos apresentam uma tendência muito geral a mudar para a direção do nível mais baixo das tensões atingíveis. Obtém-se tal redução de tensão quando elementos de padrões visuais podem ceder às forças perceptivas dirigidas, inerentes a eles. Max Wertheimer demonstrou que não se vê um ângulo de 93 graus como realmente é, mas como um ângulo reto um tanto inadequado. Quando se apresenta o ângulo taquistoscopicamente, isto é, com curta exposição, os observadores frequentemente dizem ver um ângulo reto, temerosos talvez de alguma imperfeição indefinível. ESTUDANDO E REFLETINDO O disco oscilante, então, revela que um padrão visual consiste de algo mais que formas registradas pela retina. Quanto ao que concerne ao "input" registrado na retina, as linhas pretas e o disco são tudo o que existe para a figura em questão. Na experiência perceptiva, este padrão estimulador cria um esqueleto estrutural, um esqueleto que ajuda a determinar a função de cada elemento pictórico dentro do sistema de equilíbrio da totalidade; serve como moldura de referência, da mesma maneira que uma escala define o valor de altura de cada tom numa composição musical. Ainda de um outro modo, deve-se ir além do quadro em preto e branco desenhado no papel. O quadro mais a estrutura oculta induzida por ele é mais do que uma gelosia de linhas. Conforme a Figura 3, a percepção é realmente um campo contínuo de forças. É uma paisagem dinâmica, onde as linhassão realmente cumes que se inclinam em ambas as direções. Estes cumes são centros de forças atrativas e repulsivas cuja influência se estende aos arredores, dentro e fora dos limites da figura. Nenhum ponto da figura está livre desta influência. Aceita-se como verdadeiro a existência de pontos “estáveis”, mas sua estabilidade não significa ausência de forças ativas. O “centro morto” não está morto. Nenhum impulso para qualquer direção se faz sentir quando atrações em todas as direções se equilibram. Para o olho sensível o equilíbrio de tais pontos é animado de tensão. Considere uma corda imóvel enquanto dois homens de igual força puxam-na em direções opostas. Ela está em repouso, mas carregada de energia. Resumindo, da mesma forma que não se pode descrever um organismo vivo por um relatório de sua anatomia, também não se pode descrever a natureza de uma experiência visual em termos de centímetros de tamanho e distância, graus de ângulo ou comprimentos de onde da cor. Estas medições estáticas definem apenas o “estímulo”, isto é, a mensagem que o mundo físico envia para os olhos. Mas a vida daquilo que se percebe – sua expressão e significado – deriva inteiramente da atividade das forças perceptivas. Qualquer linha desenhada numa folha de papel, a forma mais simples modelada num pedaço de argila, é como uma pedra arremessada a um poço. Perturba o repouso, mobiliza o espaço. O ver é a percepção da ação. ARNHEIM, R. A Estrutura Oculta de Arte e Percepção Visual: Uma psicologia da Visão Criadora 48 UNIDADE 14 – FORÇAS COMPOSITIVAS CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Analisar o que são e como atuam as forças compositivas dentro das imagens e como elas influenciam a mensagem transmitida por ela. ESTUDANDO E REFLETINDO Que São Forças Perceptivas? O leitor deve ter notado, com apreensão, o uso do termo “forças”. São estas forças meras figuras de retórica ou são reais? Se forem reais, onde existem? Foram admitidas como reais em ambos os domínios da existência – isto é, tanto como forças psicológicas como físicas. Psicologicamente, os impulsos no disco existem na experiência de qualquer pessoa que o observe. Desde que estes impulsos tenham um ponto de aplicação, uma direção e uma intensidade, preenchem as exigências que os físicos estabeleceram para as forças físicas. Por esta razão os psicólogos falam de forças psicológicas, embora, até hoje, somente alguns deles tenham aplicado o termo, como faço aqui, para a percepção. Em que sentido pode-se dizer que estas forças existem não apenas na experiência, as também no mundo físico? Seguramente não estão contidas nos objetos que se observam, como o papel onde se desenhou o quadrado ou o disco de cartão escuro. É claro que as forças moleculares e gravitacionais são ativas nestes objetos, mantendo unidas suas micropartículas e impedindo que se desintegrem. Mas não existem quaisquer forças físicas conhecidas que tenderiam a empurras uma mancha de tinta de impressão descentralizada num quadrado, na direção do centro do mesmo. Tampouco linhas traçadas a tinta exercerão qualquer força magnética sobre a superfície de papel circundante. Onde, então, estão estas forças? A fim de responder a esta pergunta deve-se recordar como um observador toma conhecimento do quadrado e do disco. Os raios luminosos emanados do sol ou de alguma outra fonte incidem no objeto, que em parte absorve e em parte os reflete. Alguns dos raios refletidos atingem a lente do olho projetando-se no fundo sensível, a retina. Muitos dos pequenos órgãos receptores situados na retina combinam-se em grupos por meio de células ganglionares. Através destes agrupamentos consegue-se uma primeira organização elementar da forma visual muito próxima do nível da estimulação retiniana. À medida que as mensagens eletroquímicas caminha em direção ao seu destino final no cérebro, são sujeitas a uma posterior conformação em outros estágios do percurso até que se complete o padrão nos vários níveis do córtex visual. Em que fase deste complexo processo a contraparte fisiológica de nossas forças perceptivas se origina e por meio de que mecanismos especiais acontece, está além de nosso conhecimento. Se, contudo, se fizer a razoável conjectura de que cada aspecto de uma experiência visual 49 tem sua contraparte fisiológica no sistema nervoso, pode-se antecipar, de um modo geral, a natureza destes processos cerebrais. Pode-se afirmar, por exemplo, que devem ser processos de campo. Isto significa que tudo o que acontece em qualquer lugar é determinado por interação entre as partes e o todo. Se fosse de outra maneira, as várias induções, atrações e repulsões não poderiam ocorrer no campo da experiência visual. O observador vê as atrações e as repulsões nos padrões visuais como propriedades genuínas dos próprios objetos percebidos. Ele não pode distinguir melhor, por mera observação, a inquietação do disco descentralizado daquilo que ocorre fisicamente na página do livro, como não pode também separar a veracidade de um sonho ou alucinação partindo da realidade das coisas fisicamente existentes. Se se escolhe ou não chamar estas forças perceptivas de “ilusões” pouco importa, contanto que se as reconheça como componentes genuínos de tudo o que se vê. O artista, por exemplo, não precisa preocupar-se pelo fato destas forças não estarem contidas no pigmento sobre a tela. O que ele cria com materiais físicos são experiências. A obra de arte é a imagem que se percebe, não a tinta. Se uma parede parece vertical num quadro, ela é vertical; e se num espelho se vê espaço livro onde caminhar, não há razão para que imagens de homens não devam caminhar nele, como acontece em alguns filmes. As forças que impulsionam nosso disco são “ilusórias” apenas para o homem que resolve usar suas energias para acionar um motor. Perceptiva e artisticamente são absolutamente reais. Este tipo de raciocínio é comum nos dias de hoje, mas parece discutível. Devem- se distinguir duas coisas. Por um lado há o entendimento técnico do artífice, que trata desses fatores como métodos de construção e resistência dos materiais. Tais informações não podem ser conseguidas comumente olhando-se para o edifício terminado, e não há nenhuma razão artística para que isso deva ser assim. A relação visual entre, digamos, a resistência que se percebe nas colunas e o peso do telhado que elas parecem suportar é um assunto diferente. A informação técnica ou a desvirtuada tem pouca influência na avaliação visual. O que talvez realmente se deva levar em consideração são certas convenções estilísticas – com respeito, por exemplo, à largura do vão. Tais convenções se opõem à mudança, em toda parte nas artes, e podem ajudar a explicar a resistência à estática visual da arquitetura moderna. Mas o ponto principal é que a discrepância visual entre uma grande massa e um suporte em estaca delgado, em absoluto, não diminui pelo simples fato do arquiteto garantir que a estrutura não entrará em colapso. Em alguns dos primeiros edifícios de Le Corbusier, cubos ou paredes sólidos, cuja aparência é um remanescente dos métodos de construção abandonados, parecem apoiar-se precariamente em delgados pilares. Frank Lloyde Wright chamou tais edifícios de “grandes caixas sobre pilares”. Quando mais tarde os arquitetos revelaram o esqueleto de vigas mestras, reduzindo assim, drasticamente, o peso visual do edifício, o estilo nivelou-se com a tecnologia e os olhos deixaram de ser perturbados. 50 BUSCANDO O CONHECIMENTO PESO Duas propriedades dos objetos visuais exercem influência particular no equilíbrio: peso e direção. No mundo de nossos corpos chama-se peso a intensidade da força gravitacional que atrai os objetos para baixo. Pode-se observar uma atração semelhante, para baixo, nos objetos pictóricos e escultóricos, mas o peso visual manifesta-se em outras direções também. Por exemplo, quando se olha para os objetos numa pintura, seupeso parece provocar tensão ao longo do eixo que os liga aos olhos do observador, e não é fácil dizer se eles se afastam ou se avançam em direção a pessoa que os observa. Tudo o que se pode dizer é que o peso é sempre um efeito dinâmico, mas a tensão não é necessariamente orientada ao longo de uma direção dentro do plano pictórico. Uma posição “forte” no esquema estrutural (Figura 3) pode sustentar mais peso do que uma localizada fora de centro ou afastada da vertical ou horizontal centrais. Isto significa, por exemplo, que um objeto pictórico localizado no centro nas pinturas, com frequência, é totalmente pesado, com os pesos diminuindo na direção das bordas, mesmo assim todo o quadro parece equilibrado. Além disso, de acordo com o princípio da alavanca, que pode ser aplicado à composição visual, o peso de elemento aumenta em relação a sua distância do centro. Em qualquer exemplo em particular, é claro, todos os fatores que determinam o peso devem ser considerados juntos. Um outro fator que influencia no peso é a profundidade espacial. Ethel Puffer observou que as “vistas” que levam o olhar para o espaço distante têm grande forma para contrabalançar. Esta regra, provavelmente, pode ser generalizada como segue: quanto maior for a profundidade alcançada por uma área do campo visual, maior será seu peso. Pode-se apenas considerar que isto deve ser assim. Na percepção, há uma estreita correlação entre distância e tamanho de modo que se vê maior um objeto mais distante e talvez mais substancial do que seria se estivesse localizado perto do plano frontal do quadro. No Déjeuner sur l’herbe, de Manet, a figura de uma moça colhendo flores à distância tem peso considerável em relação ao grupo das três grandes figuras em primeiro plano. Até que ponto o peso provém do aumento de tamanha que a perspectiva distante lhe confere? É também possível que o volume de espaço vazio na frente de uma parte distante do cenário tenha peso. O fenômeno pode ser observado mesmo em objetos tridimensionais. Quais são os fatores, por exemplo, que equilibram o peso das partes em balanço de alguns edifícios da Renascença, como o Palácio Barberini ou o Cassino Borghese em Roma, contra o peso da parte central em rebaixo e o volume cúbico do espaço da área fechada criada por tal plano? O peso depende também do tamanho. Os outros fatores sendo iguais, o maior objeto será o mais pesado. Quanto à cor, o vermelho é mais pesado do que o azul, e as cores claras são mais pesadas do que as 51 escuras. A mancha de uma colcha vermelho-clara na pintura que Van Gogh fez de seu quarto cria um forte peso fora de centro. Uma área preta deve ser maior que uma vranca para contrabalançá-la; isto se deve em parte à irradiação, que faz com que uma superfície clara pareça relativamente maior. Puffer descobriu também que o interesse intrínseco afeta o peso compositivo. Um fragmento de pintura pode prender a atenção do observado ou devido ao assunto – por exemplo, o lugar ao redor do Menino Jesus numa Adoração – ou devido a sua complexidade formal, complicação ou outras peculiaridades. (Note-se nesta conjuntura o buquê de flores multicoloridas na Olímpia de Manet.) Exatamente a pequenez de um objeto pode exercer um fascínio que compensa o reduzido peso que de outra forma teria. Experiências recentes têm sugerido que a percepção pode também ser influenciada pelos desejos e temores do observador. Poder- se-ia tentar averiguar se o equilíbrio pictórico se altera com a introdução de um objeto altamente desejável ou por outro assustador. O Isolamento favorece o peso. O sol ou a lua num céu vazio pesa mais do que um objeto de aparência semelhante rodeado por outras coisas. No teatro, o isolamento é uma técnica já estabelecida para se conseguir ênfase. Por essa razão o ator, com frequência, insiste para que os outros elementos do elenco fiquem à distância durante as cenas importantes. A configuração parece influir no peso. A forma regular das figuras geométricas simples as faz parecerem mais pesadas. Pode-se observar este efeito nas pinturas abstratas, notadamente em algumas obras de Kandinsky, nas quais círculos ou quadrados proporcionam acenos fortes notáveis dentro de composições de formatos menos definidos. A densidade – isto é, o grau em que a massa se concentra ao redor de seu centro – também parece produzir peso. A figura 10, tirado do teste de Graves, mostra um círculo relativamente pequeno contrabalançando um retângulo e um triângulo maiores. Formas verticalmente orientadas parecem mais pesadas que as oblíquas. A maioria destas regras, contudo, aguarda exata comprovação experimental. Qual é a influência do conhecimento? Num quadro, nenhum conhecimento da parte do observador fará um fardo de algodão parecer mais leve do que uma massa de chumbo de aparência semelhante. O problema surgiu na arquitetura. Segundo Mock e Richards: “Conhecemos, por experiências repetidas, a resistência da madeira ou da pedra, pois com frequência as manejamos em outros contextos, e quando olhamos para um pedaço de madeira ou uma construção de alvenaria ficamos imediatamente satisfeitos pela capacidade que eles têm de cumprir o trabalho a que estão destinados. Mas a construção de cimento armado é diferente; assim também é um edifício de aço e vidro. Não podemos ver as barras de aço dentro do concreto e asseguramo- nos de que ele pode, com segurança, abarcar várias vezes a distância do lintel de pedra 52 com o qual tanto se parece, tampouco ver as colunas de aço atrás da vidraça de um edifício em balanço, de modo que o mesmo pode parecer inseguro sobre uma base de vidro. Deve-se entender, contudo, que a expectativa de que percebamos de relance por que um edifício se mantém de pé é um remanescente da idade artesanal que já havia desaparecido mesmo nos tempos de William Morris” Direção Já se percebeu que se consegue equilíbrio quando as forças que constituem um sistema se compensam mutuamente. Tal compensação depende das três propriedades das forças: a localização do ponto de aplicação, sua intensidade e direção. Vários fatores determinam a direção das forças visuais, entre eles a atração exercida pelo peso dos elementos vizinhos. Na Figura 11, o cavalo é atraído para trás pela força de atração exercida pela figura do cavaleiro, enquanto, na Figura 12, é atraído para frente pelo outro cavalo. Na composição de Toulouse-Lautrec da qual foi feito este esboço, os dois fatores se equilibram. O peso por atração já foi demonstrado anteriormente, na Figura 6. A configuração dos objetos também gera direção ao longo dos eixos de seu esquema estrutural. Percebe-se dinamicamente como uma flecha ou cunha o grupo triangular da Pietà de El Greco (Figura 13) arraigada em sua ampla base e voltada para cima. Este vetor contrabalança a atração gravitacional dirigida para baixo. Na arte européia, a tradicional figura em pé da escultura clássica grega ou da Vênus de Botticelli deve sua variedade compositiva à distribuição assimétrica do peso do corpo. Isto permite uma variedade de direções em vários níveis do corpo (ver, por exemplo, a Figura 115), produzindo assim um complexo equilíbrio de forças visuais. O assunto também cria direção. Ele pode definir uma figura humana avançando ou retrocedendo. No Retrato de uma Jovem, de Rembrandt, no Instituto de Arte de Chicago, os olhos da moça voltam-se para a esquerda, acrescentando assim à forma quase simétrica da figura frontal uma intensa força lateral. O olhar do ator cria direções especiais que, no teatro, são conhecidas como "linhas visuais". Em qualquer obra de arte 53 em particular, os fatores que acabamos de enumerar podem se apoiar ou se opor para criar o equilíbrio do todo. O peso conseguido através da cor pode ser contrabalançado pelo peso através da localização. A direção da forma pode ser equilibrada pelo movimento em direção a um centro de atração. A complexidade destas relações contribui grandemente
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