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Profa. Simone Biangolino Constituem uma nova categoria no DSM-5. Este capítulo inclui os diagnósticos de: Transtorno de sintomas somáticos; Transtorno de ansiedade de doença; Transtorno conversivo (transtorno de sintomas neurológicos funcionais); Fatores psicológicos que afetam outras condições médicas; Transtorno factício; Outro transtorno de sintomas somáticos, e Transtorno relacionado especificado Todos os transtornos incluídos nesta categoria diagnóstica, compartilham de um aspecto comum: A proeminência de sintomas somáticos associados a sofrimento e prejuízo significativos. Indivíduos com transtornos com sintomas somáticos proeminentes costumam ser encontrados em contextos de atendimento primário e em outros contextos médicos, porém menos comumente em contextos psiquiátricos e em outros de saúde mental. Esses diagnósticos reconceitualizados, baseados em uma reorganização dos diagnósticos de Transtorno Somatoforme do DSM-IV, são mais úteis para profissionais de atendimento primário e outros médicos clínicos (não psiquiatras). O principal diagnóstico nessa classe diagnóstica, Transtorno de Sintomas Somáticos, enfatiza o diagnóstico feito com base em sinais e sintomas positivos (sintomas somáticos perturbadores associados a pensamentos, sentimentos e comportamentos anormais em resposta a esses sintomas) em vez da ausência de uma explicação médica para sintomas somáticos. O que caracteriza indivíduos com Transtorno de Sintomas Somáticos não são os sintomas somáticos em si, mas como eles se apresentam e como são interpretados. A integração de componentes afetivos, cognitivos e comportamentais aos critérios do transtorno de sintomas somáticos proporciona uma reflexão mais abrangente e precisa do verdadeiro quadro clínico do que seria possível avaliando-se apenas as queixas somáticas. Além dos quadros claramente conversivos, transtornos de sintomas somáticos também podem acompanhar doenças médicas diagnosticadas. Não é apropriado dar a um indivíduo um diagnóstico de transtorno mental unicamente por não se conseguir demonstrar uma causa médica. A presença de um diagnóstico médico não exclui a possibilidade de um transtorno mental comórbido. É importante observar que alguns outros transtornos mentais podem manifestar-se inicialmente com sintomas essencialmente somáticos (p. ex., transtorno depressivo maior, transtorno de pânico). Embora sintomas somáticos estejam com frequência associados a sofrimento psicológico e psicopatologia, alguns transtornos de sintomas somáticos e transtornos relacionados podem surgir de forma espontânea, e suas causas podem permanecer obscuras. O componente somático agrega gravidade e complexidade aos transtornos depressivos e de ansiedade, e resulta em maior gravidade, prejuízo funcional e até mesmo refratariedade aos tratamentos tradicionais. Uma série de fatores pode contribuir para o transtorno de sintomas somáticos e transtornos relacionados: Vulnerabilidade genética e biológica (p. ex., maior sensibilidade à dor); Experiências traumáticas precoces (p. ex., violência, abuso, privação); Aprendizagem (p. ex., atenção obtida por causa da doença, ausência de reforço de expressões não somáticas de sofrimento); Normas culturais/sociais que desvalorizam e estigmatizam o sofrimento psicológico em comparação com o sofrimento físico. Variações na apresentação sintomática provavelmente resultam da interação de múltiplos fatores em contextos culturais que afetam como os indivíduos identificam e classificam sensações corporais, percebem a doença e buscam atenção médica para si. Dessa forma, apresentações somáticas podem ser vistas como expressões de sofrimento pessoal inseridas em um contexto cultural e social. Todos esses transtornos são caracterizados pelo foco predominante em preocupações somáticas e por sua apresentação inicial sobretudo em contextos médicos em vez de nos de saúde mental. Aproximadamente 75% das pessoas previamente diagnosticadas com hipocondria estão inclusas no diagnóstico de transtorno de sintomas somáticos. A. Um ou mais sintomas somáticos que causam aflição ou resultam em perturbação significativa da vida diária. Embora às vezes apenas um sintoma grave, mais comumente dor, esteja presente. Os sintomas podem ser específicos (p. ex., dor localizada) ou relativamente inespecíficos (p. ex., fadiga). Os sintomas referidos pelos pacientes por vezes representam sensações ou desconfortos corporais normais que, em outras condições, não significam doença grave. Sintomas somáticos sem uma explicação médica evidente não são suficientes para fazer esse diagnóstico. O sofrimento do indivíduo é autêntico, seja ou não explicado em termos médicos. Os sintomas podem ou não estar associados a uma outra condição médica. Os diagnósticos de transtorno de sintomas somáticos e uma doença médica concomitante não são mutuamente excludentes e com frequência ocorrem em conjunto. B. Pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos relacionados aos sintomas somáticos ou associados a preocupações com a saúde manifestados por pelo menos um dos seguintes: 1. Pensamentos desproporcionais e persistentes acerca da gravidade dos próprios sintomas. 2. Nível de ansiedade persistentemente elevado acerca da saúde e dos sintomas. 3. Tempo e energia excessivos dedicados a esses sintomas ou a preocupações a respeito da saúde. Se outra condição médica ou o alto risco de desenvolver uma estiver presente (p. ex., forte história familiar), os pensamentos, sentimentos e comportamentos associados a essa condição são excessivos (Critério B). Indivíduos com transtorno de sintomas somáticos tendem a manifestar níveis muito elevados de preocupação a respeito de doenças Eles avaliam seus sintomas corporais como indevidamente ameaçadores, nocivos ou problemáticos e com frequência pensam o pior a respeito da própria saúde. Mesmo quando há evidência do contrário, alguns pacientes ainda temem a gravidade médica de seus sintomas. No transtorno de sintomas somáticos grave, as preocupações acerca da saúde podem assumir um papel central na vida do indivíduo, tomando- -se um traço da sua identidade e dominando as relações interpessoais. Os indivíduos geralmente sentem angústia, a qual é sobretudo focada em sintomas somáticos e em seu significado. Quando questionados diretamente a respeito de seu sofrimento, alguns o descrevem como associado a outros aspectos de suas vidas, enquanto outros negam qualquer fonte de sofrimento que não os sintomas somáticos. A qualidade de vida relacionada à saúde é com frequência prejudicada, tanto física quanto mentalmente. No transtorno de sintomas somáticos grave, o prejuízo é marcante e, quando persistente, pode levar à invalidez. Há, com frequência, alto nível de utilização de serviços médicos, o que raramente alivia as preocupações do indivíduo. Consequentemente, o paciente pode acabar buscando múltiplos médicos para os mesmos sintomas. Esses indivíduos muitas vezes parecem não responder a intervenções médicas, e novas intervenções podem apenas exacerbar os sintomas presentes. Algumas pessoas com o transtorno parecem incomumente sensíveis aos efeitos colaterais de medicamentos; outras sentem que a avaliação e o tratamento médico foram inadequados. C. Embora algum dos sintomas somáticos possa não estar continuamente presente, a condição de estar sintomático é persistente (em geral mais de seis meses). Especificar se: Com dor predominante (anteriormente transtorno doloroso): Este especificador é para indivíduos cujos sintomas somáticos envolvem predominantemente dor. Especificar se: Persistente: Um curso persistente é caracterizado por sintomas graves, prejuízo marcante e longa duração (mais de seis meses). Atenção focada em sintomas somáticos, atribuição de sensações corporais normais a doenças físicas (possivelmente com interpretações catastróficas), preocupação a respeito de doenças e medo de que qualquer atividade física possa prejudicar o corpo. Aspectos Cognitivos Podem incluir verificações repetidas do corpo à procura de anormalidades, busca reiterada de ajuda e de garantias médicas e evitação de atividades físicas. Aspectos Comportamentais Esses aspectos comportamentais são mais proeminentes no transtorno de sintomas somáticos grave persistente e geralmente estão associados a pedidos frequentes de ajuda médica para tratar diferentes sintomas somáticos, o que pode levar a consultas médicas nas quais os indivíduos estão tão concentrados em suas preocupações acerca do(s) sintoma(s) somático(s) que não é possível redirecioná-los para outros assuntos. Qualquer garantia recebida do médico no sentido de que os sintomas não são indicativos de doença física grave tende a ser fugaz e/ou é sentida pelos indivíduos como se o médico não estivesse levando a sério seus sintomas. A sugestão de encaminhamento a um especialista em saúde mental pode ser recebida com surpresa ou até mesmo recusa franca por indivíduos com o transtorno. O fato do transtorno de sintomas somáticos está associado a transtornos depressivos, existe um risco maior de suicídio. Não se sabe se o transtorno de sintomas somáticos está associado ao risco de suicídio independentemente da sua associação com transtornos depressivos. A prevalência do transtorno de sintomas somáticos na população adulta em geral pode ser em torno de 5 a 7%. Pessoas do sexo feminino tendem a relatar mais sintomas somáticos do que as do sexo masculino e, por conseguinte, é provável que a prevalência do transtorno de sintomas somáticos seja maior nelas. Em indivíduos mais velhos, sintomas somáticos e doenças médicas concomitantes são comuns, e um foco no Critério B é crucial para se fazer o diagnóstico. O transtorno de sintomas somáticos pode ser subdiagnosticado em adultos mais velhos tanto porque certos sintomas somáticos (p. ex., dor, fadiga) são considerados parte do envelhecimento normal quanto porque a preocupação com a saúde é considerada "compreensível" em adultos mais velhos, que sofrem mais de doenças médicas gerais e usam mais medicações do que pessoas mais jovens. Em crianças, os sintomas mais comuns são dor abdominal recorrente, cefaleia, fadiga e náusea. A presença de um único sintoma proeminente é mais comum em crianças do que em adultos. Se, por um lado, crianças pequenas podem apresentar queixas somáticas, por outro, elas raramente se preocupam com uma "doença" em si antes da adolescência. A resposta dos pais ao sintoma é importante, já que pode determinar o nível de sofrimento associado. É o pai/a mãe quem pode determinar a interpretação dos sintomas e o tempo de ausência da escola e de busca por ajuda médica. Temperamentais. ◦ O traço de personalidade afetividade negativa (neuroticismo) foi identificado como um fator correlacionado/de risco independente para muitos sintomas somáticos. ◦ Ansiedade ou depressão comórbida é um aspecto comum e pode exacerbar os sintomas e a incapacidade. Ambientais. ◦ O transtorno de sintomas somáticos é mais frequente em indivíduos com poucos anos de instrução e baixo nível socioeconômico e nos que tenham sofrido recentemente eventos estressantes na vida. Modificadores do Curso. ◦ Sintomas somáticos persistentes estão associados a aspectos demográficos (sexo feminino, idade mais avançada, menos anos de instrução, baixo nível socioeconômico, desemprego), história relatada de abuso sexual ou outra adversidade na infância, doença psiquiátrica crônica ou transtorno psiquiátrico concomitante (depressão, ansiedade, transtorno depressivo persistente [distimia], pânico), estresse social e fatores sociais reforçadores como benefícios obtidos com a doença. Modificadores do Curso. ◦ Fatores cognitivos que afetam o curso clínico incluem sensibilidade à dor, atenção elevada a sensações corporais e atribuição de sintomas corporais a uma possível doença médica em vez de reconhecê-los como um fenômeno normal ou estresse psicológico. Outras condições médicas Transtorno de ansiedade generalizada Transtorno de pânico Transtornos depressivos Transtorno obsessivo-compulsivo Transtorno dismórfico corporal Transtorno delirante Transtorno conversivo Transtorno de ansiedade de doença AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. 5a.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
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