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cRISE DAS INSTITUIÇÕES DE bRETTON wOODS E A EMERGÊNCIA DE NOVOS ARRANJOS MULTILATERAIS NO AMBITO DOS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO: DO BANCO DOS BRICS ÀS PLATAFORMAS PARALELAS DE COOPERAÇÃO EM ASSUNTOS FI

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” 
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
THALES ROMÃO MAGOGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CRISE DAS INSTITUIÇÕES DE BRETTON WOODS E A EMERGÊNCIA 
DE NOVOS ARRANJOS MULTILATERAIS NO ÂMBITO DOS PAÍSES EM 
DESENVOLVIMENTO: DO BANCO DO BRICS ÀS PLATAFORMAS 
PARALELAS DE COOPERAÇÃO EM ASSUNTOS FINANCEIROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÍLIA 
2017 
 
 
THALES ROMÃO MAGOGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CRISE DAS INSTITUIÇÕES DE BRETTON WOODS E A EMERGÊNCIA 
DE NOVOS ARRANJOS MULTILATERAIS NO ÂMBITO DOS PAÍSES EM 
DESENVOLVIMENTO: DO BANCO DO BRICS ÀS PLATAFORMAS 
PARALELAS DE COOPERAÇÃO EM ASSUNTOS FINANCEIROS 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao Conselho de Curso de 
Relações Internacionais da Faculdade de Filosofia e 
Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de 
Mesquita Filho” – UNESP –, Campus de Marília, para a 
obtenção do título de Bacharel em Relações 
Internacionais. 
Área de Concentração: Economia Política Internacional 
Orientação: Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MARÍLIA 
2017 
 
 
THALES ROMÃO MAGOGA 
 
 
 
 
A CRISE DAS INSTITUIÇÕES DE BRETTON WOODS E A EMERGÊNCIA 
DE NOVOS ARRANJOS MULTILATERAIS NO ÂMBITO DOS PAÍSES EM 
DESENVOLVIMENTO: DO BANCO DO BRICS ÀS PLATAFORMAS 
PARALELAS DE COOPERAÇÃO EM ASSUNTOS FINANCEIROS 
 
 
 
Monografia apresentada ao Conselho de Curso de 
Relações Internacionais da Faculdade de Filosofia 
e Ciências da Universidade Estadual Paulista 
“Júlio de Mesquita Filho” – UNESP –, Campus de 
Marília, para a obtenção do título de bacharel em 
Relações Internacionais. 
Área de Concentração: Economia Política 
Internacional 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
Orientador: 
 Prof. Dr. Marcos Cordeiro Pires – UNESP 
 
 
2º Examinador: 
 Prof. M.
a 
Thaís Caroline Lacerda Mattos – UNESP 
 
 
3º Examinador: 
 Prof. Dr. Tullo Vigevani - UNESP 
 
 
 
 
 
 
Marília, 17 de abril de 2017. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha mãe, Rosana, por ensinar-me o real 
significado de amor, força e carinho; 
A meu pai, Helio, pelo exemplo diário de 
dedicação, comprometimento e honestidade; 
 A minha irmã, Thaís, pelo aprendizado 
compartilhado. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A confecção desta monografia se constituiu como o maior desafio por mim enfrentado ao 
longo de minha vida acadêmica até o presente momento, do qual eu jamais teria saído como 
vencedor sem o incomparável suporte de meus pais, amigos, amigas, professores e professoras. 
Por estes motivos, agradeço, em primeiro lugar, a meus amados pais, Helio e Rosana, que 
me apoiaram não apenas durante os anos de graduação em Relações Internacionais com 
descomunal amor, dedicação, paciência, sacrifícios, sensatez e compreensão de minhas escolhas, 
como também desde o início de minha formação intra e interpessoal, mostrando-me, sempre, o 
caminho da honestidade, da razão e da justiça. Sou extremamente feliz por tê-los em minha vida 
e tenho pleno conhecimento do grande privilégio que é ser filho de vocês. 
A minha amada irmã Thaís, a meus estimados amigos André, Lucas, Marcos e Victor e às 
queridas amigas Mariana, Isadora, Lucineia e Simone, por caminharem ao meu lado neste 
percurso árduo e cheio de precipícios. 
Ao caríssimo professor Dr. Marcos Cordeiro Pires, por quem nutro profundo respeito, por 
me apresentar ao fascinante universo da Economia Política Internacional, pelas conversas 
pessoais e pelos incansáveis debates sobre as atuais conjunturas política e econômica mundiais; 
ao ilustríssimo Professor Dr. Tullo Vigevani, pelo apoio extraordinário a mim direcionado 
durante o desenvolvimento da pesquisa do programa PIBIC, e à prezada Professora M.
a 
Thaís 
Caroline Lacerda Mattos, por gentilmente aceitar o convite para participar desta Banca de 
avaliação. Agradeço também aos demais professores e professoras desta Universidade, aos 
colegas e funcionários da Unesp. Gratifico, ademais, os docentes que me auxiliaram desde minha 
tenra infância até a etapa pré-vestibular. Vocês são parte essencial deste conquista. Declaro, por 
fim, que saio desta instituição com uma bagagem pessoal, humana e intelectual muito maior e 
mais valiosa que eu pudesse um dia ter imaginado, sem me esquecer, todavia, de que ainda tenho 
muito a crescer e aprender durante esta jornada. 
Agradeço também ao Estado de São Paulo e a todos os contribuintes desta unidade 
federativa, responsáveis pelo financiamento do ensino público gratuito e de qualidade praticado 
na Unesp. Apresento sinceros votos para que a universidade pública no Brasil seja espaço cada 
vez mais amplo e plural para debate, desenvolvimento de ideias e produção de conhecimento e, 
mais importante, impacte positivamente a sociedade. Agradeço, por fim, ao programa 
CNPq/PIBIC pelo financiamento de projeto de pesquisa que resultou nesta monografia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os fenômenos monetários não deixam ninguém 
indiferente. Eles intrigam e inquietam todo mundo. 
Por um lado, a moeda é cercada de tal aura de 
mistério que sua manipulação e seu estudo parecem, 
para o leigo, atividades esotéricas, domínios fora do 
alcance de sua compreensão. Por outro lado, a 
moeda é a realidade social que penetra mais 
intimamente na vida privada de cada um, que 
dilacera as amizades mais sólidas, que desintegra as 
resoluções morais mais aguerridas. Diante da face 
enigmática da moeda, os economistas e os políticos 
não estão em posição mais vantajosa do que o 
homem comum. 
(Aglietta e Orléan, 1990). 
 
 
 
Imaginar que exista algum mecanismo de ajuste 
automático e funcionamento perfeito que preserve o 
equilíbrio, bastando para isso que confiemos nas 
práticas do ‘laissez-faire’ é uma fantasia doutrinária 
que desconsidera as lições da experiência histórica 
sem apoio em uma terra sólida. 
 
(John Maynard Keynes) 
 
 
A CRISE DAS INSTITUIÇÕES DE BRETTON WOODS E A EMERGÊNCIA 
DE NOVOS ARRANJOS MULTILATERAIS NO ÂMBITO DOS PAÍSES EM 
DESENVOLVIMENTO: DO BANCO DO BRICS ÀS PLATAFORMAS 
PARALELAS DE COOPERAÇÃO EM ASSUNTOS FINANCEIROS 
 
Resumo: 
 
O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS e o Banco Asiático de Investimento em 
Infraestrutura (AIIB) constituem-se como as mais recentes instituições multilaterais para 
financiamento de projetos de desenvolvimento internacional. O Arranjo Contingente de Reservas 
(CRA) do BRICS e as Iniciativas de Multilateralização de Chiang Mai (CMIM), por sua vez, 
caracterizam-se como novas plataformas de prevenção a crises de liquidez, compondo o quadro 
de segurança internacional contra ameaças cambiais. Criadas a partir do descontentamento e da 
sub-representação dos países emergentes e em desenvolvimento nas instituições tradicionais de 
Bretton Woods - como o FMI e o Banco Mundial - as primeiras realizarão suas operações na 
esfera financeira, enquanto as últimas terão seus exercícios limitados ao domínio monetário do 
sistema. À vista disso, o presente trabalho se preocupa com a possibilidade de que estas novas 
iniciativas de concessão de crédito internacional ao desenvolvimento e de prevenção a déficits no 
Balanço de Pagamentos desafiem a ordem hegemônica do sistema monetário e financeiro 
internacional, no qual a moeda estadunidense – o Dólar – se apresenta como principal reserva de 
valor e meio de pagamento mundiais. A hipótese sobre a qual a presente pesquisa se sustenta 
acredita que estas novas movimentações não alterariam a ordem vigente, muito embora 
disponham de capacidades para ampliar a participação dos países sub-representados nos 
processos decisórios dentroda mesma hierarquia para salvaguarda de seus interesses. Para a 
verificação desta hipótese, realizamos uma breve retomada dos fundamentos históricos e teóricos 
a respeito do desenvolvimento do sistema monetário-financeiro internacional, seguida de análises 
dos documentos fundacionais destas novas instituições a partir de fontes primárias e secundárias 
de pesquisa exploratória bibliográfica e documental, com a finalidade de levantar elementos que 
nos auxiliem na obtenção dos resultados. 
 
Palavras-Chave: Sistema Monetário e Financeiro. Bretton Woods. FMI. NBD. ACR. AIIB. 
Dólar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
THE CRISIS OF THE BRETTON WOODS‟ INSTITUTIONS AND THE EMERGENCY 
OF NEW MULTILATERAL ARRANGEMENTS IN THE FIELD OF THE 
DEVELOPING COUNTRIES: FROM THE BRICS BANK TO THE PARALLEL 
PLATFORMS OF COOPERATION IN FINANCIAL AFFAIRS 
 
Abstract: 
 
The BRICS-led New Development Bank (NDB) and the Asian Infrastructure Investment Bank 
(AIIB) are the most recent multilateral institutions to finance international development projects. 
The Contingent Reserve Arrangement (CRA) of the BRICS and the Chiang Mai Initiative 
Multilateralisation (CMIM), in turn, are characterized as new platforms for preventing liquidity 
crises, composing the international security framework against foreign exchange threats. Created 
from the discontent and the under-representation of emerging and developing countries in 
traditional Bretton Woods institutions - like the IMF and the World Bank - the first will conduct 
its operations in the financial sphere, while the latter will have their exercises limited to the 
monetary domain of the system. Thus, the present work is concerned with the possibility that 
these new initiatives to grant international credit for development and to prevent deficits in the 
Balance of Payments challenge the hegemonic order of the international monetary and financial 
system, in which the US currency - the Dollar - presents itself as the main value reserve and 
means of payment worldwide. The hypothesis on which the present research is based believes 
that these new movements would not alter the existing order, even though they have the capacity 
to increase the participation of the under-represented countries in the decision-making processes 
within the same hierarchy to safeguard their interests. To verify this hypothesis, we make a brief 
resumption of historical and theoretical foundations regarding the development of the 
international monetary-financial system, followed by analyzes of the foundational documents of 
these new institutions from primary and secondary sources of exploratory bibliographical and 
documentary research, with The purpose of raising elements that help us in obtaining the results. 
 
Keywords: Financial and Monetary System. Bretton Woods. IMF. NDB. CRA. AIIB. Dollar. 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
ADB Asian Development Bank 
AIIB Asian Infrastructure Investment Bank 
ASEAN Association of Southeast Asian Nations 
BCE Banco Central Europeu 
BM Banco Mundial 
BNDs Bancos Nacionais de Desenvolvimento 
BP Balanço de Pagamentos 
BRICS Bloco composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul 
BSA Bilateral Swap Arrangement 
CAF Corporación Andina de Fomento 
CIPS Cross-Border Interbank Payment System / China International Payment System 
CMI Chiang Mai Initiative 
CMIM Chiang Mai Initiative Multilateralization 
CNAPS China National Advanced Payment System 
CRA Contingency Reserve Arrangement 
DES Direitos Especiais de Saque 
EBRD European Bank for Reconstruction and Development 
EMDE Emerging Markets and Developing Economies 
EUA Estados Unidos da América 
EURIBOR European Inter-Bank Offered Rate 
FED Federal Reserve System 
FMI Fundo Monetário Internacional 
GPO United States Government Publishing Office 
IBRD International Bank for Reconstruction and Development 
ICBA Inter - Central Bank Agreement 
IDA International Development Association 
IMF International Monetary Fund 
IFC International Financial Cooperation 
LIBOR London Inter – Bank Offered Rate 
 
 
MW Megawatt 
NAB New Arrangements to Borrow 
NDB New Development Bank 
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
ONU Organização das Nações Unidas 
PBOC People´s Bank of China 
PIB Produto Interno Bruto 
QE Quantitative Easing 
RMB Renminbi 
SDR Special Drawing Rights 
S&P Standard and Poor’s 
SRF Silk Road Fund 
SWIFT Society for Worldwide Interbank Financial Telecomunication 
UCRG Universal Credit Rating Group 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 – Diferença entre as escalas de investimento em infraestrutura necessária e 
existente, aos países emergentes e em desenvolvimento, em trilhões de dólares (US$) ........ 41 
Figura 2 – gastos correntes anuais em infraestrutura dos países emergentes e em 
desenvolvimento (por fonte de financiamento) ........................................................................ 42 
Figura 3 – Investimentos em Infraestrutura por Banco Multilateral de Desenvolvimento, 
1950-2013 ..................................................................................................................................... 43 
Figura 4 – Necessidade anuais em infraestrutura de economias emergentes e em 
desenvolvimento, por região, setor e fase ................................................................................. 44 
Figura 5 – Demanda por investimento em Infraestrutura X Financiamento vigente ao 
subconjunto dos países EMDE incluídos na estimativa .......................................................... 49 
Figura 6 – Demanda por investimento em Infraestrutura X Financiamento vigente ao 
subconjunto dos países EMDE* incluídos na estimativa ........................................................ 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1 – Tabela 1 – Comparação dos Resultados das Reformas do FMI (em %) ............ 30 
 
Tabela 2 – Demandas para investimento em infraestrutura, dispêndios reais e lacunas de 
financiamento anuais em Dólares para o período de 2014 a 2020 – para os mercados 
emergentes e economias em desenvolvimento .......................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15 
2. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS A RESPEITO DA FORMAÇÃO DO SISTEMA 
MONETÁRIO-FINANCEIRO INTERNACIONAL .............................................................. 18 
2.1 O Regime de Bretton Woods e o Dólar Flexível .................................................................... 18 
2.2. Sub-representação dos Emergentes frente à Rigidez Estrutural na distribuição de poder das 
Entidades Tradicionais ................................................................................................................. 26 
2.3. Institucionalização e Multilateralismo Emergente ................................................................ 28 
3. ANÁLISE DOCUMENTAL SOBRE AS RECENTES INICIATIVAS DE 
FINANCIAMENTO MULTILATERAL AO DESENVOLVIMENTO ................................ 34 
3.1. Necessidades de Investimento em Infraestrutura em Países Emergentes ...................... 38 
 3.1.1. Definições Terminológicas .......................................................................................... 39 
 3.1.2. Estimativas Recentes ................................................................................................... 40 
 3.1.3. Abordagem Metodológica ........................................................................................... 45 
 3.1.4. Resultados Obtidos ......................................................................................................48 
3.2. O Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS: o Acordo de Fortaleza ......................... 52 
 3.2.1. Objetivo e Funções ...................................................................................................... 53 
 3.2.2. Membros, Votos, Capital e Ações ............................................................................... 53 
 3.2.3. Sede, Organização e Administração ............................................................................ 55 
 3.2.4. Operações .................................................................................................................... 56 
 3.2.5. Captação de Empréstimos, Poderes Adicionais e Disposições Finais ......................... 61 
3.3. O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) ......................................... 62 
 3.3.1. Propósito, membros e funções ..................................................................................... 63 
 3.3.2. Capital, Operações e Finanças do Banco ..................................................................... 65 
 3.3.3. Governança, Disposições Gerais e Finais .................................................................... 69 
3.4. Silk Road Fund .................................................................................................................... 72 
3.5. Projeções sobre a potencial capacidade de escala operacional de aporte financeiro das 
novas iniciativas .......................................................................................................................... 74 
 
 
 3.5.1. Capacidade Operacional, Parcerias com BNDs, Condicionalidades nos Empréstimos e 
Classificação de Risco .................................................................................................................. 74 
 3.5.2. Reação do status quo e Preocupações Ambientais ...................................................... 82 
 
4. ANÁLISE DOCUMENTAL DAS NOVAS PLATAFORMAS PREVENTIVAS DE 
LIQUIDEZ E DOS NOVOS SISTEMAS DE PAGAMENTOS ............................................. 84 
4.1. O Projeto de Internacionalização do Renminbi ................................................................ 84 
 4.1.1. Moeda Internacional: Conceito e Funções .................................................................. 85 
 4.1.2. Benefícios e Custos para um Estado Emissor e Determinantes do uso de uma moeda 
internacional ................................................................................................................................. 87 
 4.1.3. Novo Paradigma de Crescimento Chinês .................................................................... 94 
 4.1.4. Adesão do Iuane à Cesta dos Direitos Especiais de Saque do FMI ............................ 97 
 4.1.5. CIPS e China Unionpay ............................................................................................. 100 
 4.1.6. Novas Agências de Classificação de Risco ............................................................... 104 
 
4.2. O Arranjo Contingente de Reservas e as Iniciativas de Multilateralização de Chiang 
Mai .............................................................................................................................................. 106 
 4.2.1. As Iniciativas de Multilateralização de Chiang Mai ................................................. 106 
 4.2.2. O Arranjo Contingente de Reservas (CRA): Natureza, Montantes, Objetivos e Acesso 
aos Recursos ............................................................................................................................... 109 
 4.2.2.1 Governança e Processo Decisório ................................................................. 112 
 4.2.2.2. Operações ..................................................................................................... 113 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 115 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 118 
15 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Sabemos que, ao término de um conflito, independentemente do domínio em que este seja 
travado (tanto no âmbito político, como econômico, cultural, jurídico, militar, etc.), o vencedor 
da contenda reivindica para si o usufruto de inúmeras vantagens e privilégios, de substanciais 
benefícios e prerrogativas para a manutenção de sua sobrevivência futura nos campos em que se 
desenvolvem suas relações sociais. O triunfo nos teatros de operação da Segunda Guerra Mundial 
contra as tropas fascistas do Eixo, do mesmo modo, possibilitou aos Aliados a coordenação dos 
esforços de reconstrução do mundo pós-guerra, oferecendo-lhes a oportunidade de determinar as 
novas plataformas institucionais e os novos paradigmas sobre os quais políticas monetária e 
financeira seriam conduzidas a partir de então. 
Por outro lado, à medida que países emergentes e em desenvolvimento 
1
 conquistam 
maior espaço no cenário econômico internacional, reascende-se o debate a respeito da 
obsolescência dos arranjos institucionais firmados no pós Segunda Guerra (representados pelas 
figuras do FMI, do Grupo Banco Mundial e por bancos regionais de desenvolvimento), visto que 
estes teriam sido configurados como instrumentos de uma ordem política e econômica 
intensamente modificada desde sua fundação. 
Observa-se, deste modo, intenso debate acerca das propostas de redistribuição dos direitos 
de voto e de participação destas nações emergentes de maneira proporcional às respectivas 
parcelas de contribuição de suas economias no PIB global. Tem sido recorrente, ainda, o 
questionamento a respeito da manutenção do dólar estadunidense enquanto principal ativo de 
reserva, meio de troca e unidade de valor internacional - em domínios públicos e em mercados 
privados -, desde a celebração dos compromissos firmados na Conferência de Bretton Woods, em 
1944. 
Fundamentado no problema acima apresentado, o presente trabalho busca inquirir de que 
maneira a criação das novas iniciativas multilaterais de fornecimento de crédito a projetos de 
infraestrutura (como o New Development Bank do BRICS; o Asian Infrastructure Investment 
Bank; e empreendimentos paralelos, como o Silk Road Fund); assim como das novas plataformas 
de prevenção a crises de liquidez (representadas pelo Contingency Reserve Arrangement, também 
 
1 Países em desenvolvimento: é reconhecido o controverso debate a respeito do uso deste termo. Este trabalho, 
contudo, fundamenta- se Na lista de Economias em Desenvolvimento do Banco Mundial, disponível aqui: 
<http;//data.worldbank.org/about/country-and-lending-groups>. Acesso em: 29 de novembro de 2016. 
16 
 
do BRICS, e das Iniciativas de Multilateralização de Chiang Mai) impactariam a estrutura da 
ordem monetária e financeira sistêmica vigente. A estratégia de internacionalização do Renminbi 
também é abordada com a finalidade de se estudar as consequências desta medida para a 
manutenção do padrão dólar-flexível. 
A hipótese central sobre a qual a presente monografia se desenvolve considera que tais 
iniciativas não alterariam a ordem hegemônica, mas poderiam ampliar a capacidade de 
participação destes países de renda média e baixa nos processos de tomada de decisão e de ação 
para defesa de seus respectivos interesses (ABDENUR; FOLLY, 2015, p. 83; CARVALHO, C.E. 
et al. 2015). No domínio relativo à concessão de financiamentos a projetos de infraestrutura, por 
sua vez, espera-se que as novas instituições multilaterais de apoio ao desenvolvimento, a médio 
prazo, alcancem capacidade de aporte operacional semelhante à oferecida pelas organizações 
tradicionaisjá estabelecidas em Bretton Woods (GRIFFITH-JONES, 2014). Quanto à esfera 
monetária, acredita-se que a internacionalização do uso do Iuane seja caracterizada, a curto e 
médio prazo, mais como um movimento defensivo chinês do que propriamente um plano para 
suplantar o dólar enquanto reserva mundial, não podendo descartar, todavia, o potencial de 
mudança no funcionamento do sistema que esta medida carrega. 
O objetivo geral da monografia se constitui no levantamento de elementos capazes de 
auxiliar o processo de análise das novas iniciativas de cooperação monetária e financeira na 
esfera multilateral e, assim, promover um estudo a respeito dos impactos destes novos 
empreendimentos na ordem hegemônica – representada pela vigência do dólar estadunidense 
como principal ativo de reserva, de unidade de conta e de meio de troca público e privado. 
 Com a finalidade de se alcançar a meta geral deste trabalho, divide-se a intenção geral em 
questão em alvos específicos, cada qual devidamente abordado em seu respectivo capítulo. Dessa 
maneira, esta pesquisa apresenta em sua constituição cinco capítulos; sendo o primeiro deles 
destinado ao desenvolvimento desta introdução, e o último reservado à explanação das 
considerações finais. 
Assim, o capítulo de número 2 busca fornecer uma breve retomada histórica acerca do 
processo de desenvolvimento institucional do sistema monetário e financeiro Internacional, 
mencionando a ascensão e queda dos diferentes padrões monetários existentes e ressaltando os 
mecanismos sistêmicos utilizados para a manutenção da ordem hegemônica sob a égide de um 
país emissor de ativos internacionais. 
17 
 
O capítulo 3, em seguida, apresenta as análises sobre os impactos da criação das novas 
instituições multilaterais de financiamento ao desenvolvimento na ordem vigente (coordenada 
pelas políticas do BM e de bancos regionais de desenvolvimento), abordando o NDB do BRICS, 
o AIIB e iniciativas paralelas como o Silk Road Fund. São estudados seus sistemas de 
administração e, entre outros aspectos, estima-se a capacidade operacional de aporte financeiro 
destas novas instituições frente às necessidades de investimento em infraestrutura nos países 
emergentes e em desenvolvimento. O tema do quarto capítulo, por sua vez, versa sobre a criação 
das novas plataformas de prevenção a crises de liquidez (CRA do BRICS e a CMIM) e também 
sobre o projeto de internacionalização do Iuane. 
Foram necessários levantamentos de dados sobre a evolução histórica e teórica do sistema 
financeiro internacional, tanto do ponto de vista dos fluxos e instrumentos quanto da 
institucionalidade do mesmo, através de meios bibliográficos e documentais, selecionados por 
intermédio de pesquisa exploratória, referentes à temática dos acordos de Bretton Woods - e seus 
desdobramentos - e dos desafios colocados pelas recentes iniciativas multilaterais nas esferas de 
cooperação financeira e monetária. 
Em suas considerações finais, a pesquisa conclui que estas novas iniciativas multilaterais 
de cooperação nas esferas monetária e financeira não visam, em um primeiro momento, 
promover de fato uma ruptura sistêmica. Podem ser observadas ações conjuntas do NDB e do 
AIIB com o Banco Mundial, assim como vinculação dos auxílios do CRA e da CMIM à 
supervisão do FMI. Não se descarta, todavia, a possibilidade de desenvolvimento de um cenário 
no qual estas instituições gerenciem um novo eixo de poder geoeconômico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
2. FUNDAMENTOS HISTÓRICOS A RESPEITO DA FORMAÇÃO DO SISTEMA 
MONETÁRIO-FINANCEIRO INTERNACIONAL 
 
2.1 O Regime de Bretton Woods e o Dólar Flexível 
 
Sabemos que, ao término de um conflito, independentemente do domínio em que este seja 
travado (tanto no âmbito político, econômico, cultural, jurídico, militar, etc.), o vencedor da 
disputa reivindica para si o usufruto de inúmeras vantagens e privilégios, de substanciais 
benefícios e prerrogativas para a manutenção de sua sobrevivência futura nos campos em que se 
desenvolvem suas relações sociais. O triunfo nos teatros de operação da Segunda Guerra Mundial 
contra as tropas fascistas do Eixo, do mesmo modo, possibilitou aos Aliados a coordenação dos 
esforços de reconstrução do mundo pós-guerra, oferecendo-lhes a oportunidade de determinar as 
novas plataformas institucionais e os novos paradigmas sobre os quais políticas monetária e 
financeira seriam conduzidas a partir de então. 
É preciso ter ciência de que uma das mais importantes premissas para o desenvolvimento 
das relações econômicas entre Estados se constitui na aceitação conjunta da equivalência entre os 
referenciais de valor inseridos na esfera das transações comerciais e fluxos financeiros. Também 
é digna de menção a consideração a respeito da heterogeneidade das formas de acumulação de 
riquezas praticadas entre países e regiões. Este fator, aliado aos diversos estágios de 
desenvolvimento em que se encontram os agentes econômicos, contribui para a dificuldade do 
estabelecimento de um sistema de equivalência de valor em uma determinada ordem mundial em 
análise, que seria conduzida pela liderança de um país hegemônico (NETO, 2014, p. 151). 
Segundo o autor, também é possível afirmar que: 
 
Os vários ciclos históricos de acumulação mundial, que refletem as alterações nessas 
hegemonias e em sua ordem, repercutiram nas sucessivas alterações do sistema de 
equivalência monetário vigente em cada época. Neles, as mudanças em seu mecanismo 
de relação entre moedas foram orientadas, tão somente, pela tentativa de garantir 
vantagens isoladas dentro da corrente dos países envolvidos, onde se destaca a figura de 
um país hegemônico, patrono e promotor do sistema monetário ali assumido. Portanto, o 
sistema monetário apresenta-se como uma poderosa via de acumulação de riqueza 
dirigida a determinado grupo de países, onde se destaca um centro econômico, 
instrumentalizando o desenvolvimento comercial e financeiro de um período histórico. 
Contudo, tanto o processo de acumulação competitiva quanto as depressões cíclicas, 
inerentes a esse processo, mobilizam a ordem mundial em direção a novas alternativas 
financeiras, propiciando o surgimento de novos centros hegemônicos, com um novo 
sistema de relação monetária (NETO, 2014, p. 151-152). 
19 
 
 
É de fundamental importância destacar que o conceito de “ciclo histórico de acumulação 
mundial” a que o autor fez referência é retirado do trabalho de Giovanni Arrighi (1996). Nele, 
observa-se que as transformações históricas sofridas pela economia capitalista mundial 
consistiram na substituição de um sistema em que as redes de acumulação de capital 
subordinavam-se e inseriam-se, ao mesmo tempo, às redes de poder, para um modelo inverso, 
onde estas estivessem subordinadas e inseridas na ordem sistêmica de acumulação. O autor 
aponta, ainda, que o processo em análise desenvolveu-se por uma série de ciclos sistêmicos de 
acumulação 
2
, e que cada um deles poderia ser dividido em um período de expansão material e 
em uma fase seguinte de expansão financeira, caracterizada como o momento em que os agentes 
econômicos deslocam seus empreendimentos da esfera comercial para o domínio monetário 
(ARRIGHI, 1996, p. 88). 
A consequente interrupção da produção material, por sua vez, em razão da diminuição das 
taxas de lucro, reduziria os níveis de emprego e renda do sistema, acarretando em situação de 
crise econômica. Crises monetárias não tardariam a surgir em decorrência da depressão, e o 
comportamento deflacionário de preços concorrenciais, além da inflação promovida por preços 
administrados de redes monopolistas, indicariam perda de confiança na moeda nacional 
hegemônica. No caso em análise, portanto, seria natural esperar que os agentes econômicos 
buscassem um referencial de valor monetário mais confiável que o padrão em crise, o que 
alteraria a relação cambial preestabelecida. Assim, através dafuga de capitais, a mobilidade 
financeira expandida seria inevitável (NETO, 2014, p. 152). 
Desta maneira, o presente capítulo trabalhará sobre o recorte histórico feito a partir da 
consolidação dos Estados Unidos da América na posição de principal potência militar e 
econômica do globo, acompanhando o ciclo de expansão material que definiu a passagem do 
padrão ouro-libra para o regime ouro-dólar, iniciado em 1944, com a celebração dos 
compromissos da Conferência de Bretton Woods (em alusão à cidade do estado de New 
Hampshire na qual foram firmados os referidos acordos). 
Convocada pelo então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, esta 
conferência monetária internacional contava com a participação de mais de 700 delegados das 44 
 
2
 Ciclo genovês (século XV ao XVII); ciclo holandês (século XVI à segunda metade do século XVIII); ciclo 
britânico (meados de século XVIII ao início do século XX); e o ciclo norte-americano (iniciado no fim do século 
XIX). 
20 
 
nações aliadas, dentre as quais se encontrava o Brasil. Este, por sua vez, era representado por 
Arthur de Souza Costa, ministro da Fazenda de Vargas. A delegação brasileira ainda tinha à mesa 
o conselheiro Eugênio Gudin, conhecido representante dos ideais liberais no país, além de 
Octávio Gouvêa de Bulhões (que se tornaria titular da pasta da fazenda durante o início da 
Ditadura Militar até o ano de 1967), Francisco dos Santos Filho (então diretor de câmbio do 
Banco do Brasil), Valentim Bouças (secretário-técnico do Conselho de Economia e Finanças), 
entre outros (VILLELA, 2014). 
No que se refere à condução das negociações por meio de reuniões internacionais de alto 
nível e conferências de cúpula, Eichengreen (2012, p. 29) afirma que este acordo monetário se 
constituiu como exceção histórica, e não regra procedimental, visto que, com maior frequência, 
tais arranjos tendem a aparecer livremente como resultado de decisões individuais de países 
condicionados pelas decisões anteriores de seus vizinhos. Por sua vez, quanto ao fato de os 
encontros terem se desenvolvido ainda durante o período das atividades belicistas, Volcker e 
Gyohten (1993) observam que: 
 
 [...]. Havia uma grande vantagem em se realizarem as discussões no meio da guerra, 
quando os mercados internacionais estavam efetivamente fechados. É difícil imaginar 
um acordo tão detalhado, que reorganizava completamente o sistema monetário mundial, 
sendo consumado em qualquer outro momento que não aquele, quando não havia 
absolutamente nenhum sistema operando, e quando os enormes encargos da guerra 
eficientemente silenciavam preocupações de caráter mais local (VOLCKER; 
GYOHTEN, 1993, p. 26). 
 
A partir desta Tratativa, “[...] o sistema monetário internacional, anteriormente baseado 
no padrão ouro-libra, foi substituído pelo padrão dólar-ouro” (PAULINO, 2010, p. 289). Em suas 
determinações, ficou estabelecido que a moeda estadunidense seria lastreada pelo metal precioso, 
na relação em que um dólar fosse equivalente a 1,125 gramas áureos, e onde uma Onça Troy de 
ouro correspondesse a 35 dólares. Os EUA, ademais, comprometiam-se a trocar por ouro todas as 
reservas a eles apresentadas em seu meio de pagamento na ocasião em que determinado país 
requisitasse (PAULINO, 2010, p. 289). 
Com a finalidade de não mais incorrerem nos mesmos equívocos característicos do 
padrão monetário do Entreguerras (responsáveis pelos distúrbios da crise de 1929), os 
formuladores deste novo sistema monetário-financeiro internacional prescreviam a definição de 
uma taxa de câmbio fixa, com a possibilidade de flutuações apenas em ocasiões extraordinárias 
21 
 
(com variações de 1 a 10%), sob fiscalização e orientação internacionais. Por este motivo, o 
padrão dólar-ouro também poderia ser chamado de Regime Cambial de Paridades 
Preestabelecidas (NETO, 2014, p. 157). 
Almejavam, além disso, o fim das regulações sobre comércio e serviços internacionais. 
Então, para atingirem estes objetivos, criaram o Fundo Monetário Internacional (International 
Monetary Fund - IMF) e o novo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento 
(International Bank for Reconstruction and Development – IBRD – que hoje faz parte dos 
quadros do Grupo Banco Mundial 
3
), instituições cujo propósito seria de fornecer apoio à 
reconstrução do pós-guerra (VOLCKER; GYOHTEN, 1993, p. 27). 
Estruturavam-se, deste modo, as bases sobre as quais as relações entre os Estados seriam 
praticadas no terreno da Economia Política Internacional - tanto sob o aspecto monetário 
(referente ao Balanço de Pagamentos dos países, sob os cuidados do IMF) quanto pela esfera 
financeira (relativa à concessão de crédito internacional, sob a responsabilidade do IBRD). É 
digno de destaque, assim, o protagonismo assumido pela nação estadunidense nesta seara: 
vencedora da Segunda Guerra Mundial, trouxe para si a vantagem de criar as regras político-
econômicas que melhor lhe aprouvessem. 
Ocorre, todavia, que uma das contradições intrínsecas do sistema de Bretton Woods 
começou a levantar preocupações em economistas e teóricos da época. O economista inglês John 
M. Keynes, por exemplo, quando das discussões acerca da implementação das disposições 
acordadas em 1944, mencionou a possibilidade de um cenário internacional futuro no qual 
houvesse escassez de dólares caso os EUA acumulassem seguidos superávits em sua conta 
corrente. Uma década e meia depois, Robert Triffin (1960), ao proferir a tese que ficaria 
conhecida como o Dilema de Triffin, argumentou que à proporção que os fluxos de comércio se 
desenvolvessem e se ampliassem, tornava-se essencial - em um regime de taxas fixas de câmbio - 
um aumento proporcional da quantidade de papel moeda internacionalmente aceita para o devido 
trato de suas operações comerciais. O grande problema consistia no fato de que a produção global 
de ouro não seria capaz de atender às necessidades estabelecidas no acordo, resultando, assim, na 
impossibilidade futura de os EUA honrarem seus compromissos de vinculação e lastro de sua 
 
3
 Atualmente o GBM tem em sua composição as seguintes entidades: Banco Internacional para Reconstrução e 
Desenvolvimento; Agência Multilateral de Garantia de Investimentos; Cooperação Financeira Internacional; 
Associação Internacional de Desenvolvimento; além do Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre 
Investimentos. 
22 
 
moeda ao metal precioso. 
A conjuntura deste retrato da época, portanto, previa dois cenários mais plausíveis para 
seu desenrolar: (i) os EUA, com a finalidade de prover liquidez internacional, teriam de encarar a 
escassez de ouro frente às necessidades para manutenção do sistema de paridade fixa do dólar de 
modo a incorrer em déficits em sua Balança de Pagamentos. Por outro lado, caso os sucessivos 
déficits continuassem, a confiança no sistema seria abalada; ou (ii) os EUA, ao não incorrerem 
em sucessivos déficits comerciais, contribuiriam para a escassez de dólares no restante do globo 
(TRIFFIN, 1960), como advertira o economista britânico – cujo plano fora preterido pelo do 
concorrente, secretário do Tesouro estadunidense, Harry D. White. Com a vitória da proposta 
sugerida pelos EUA, previa-se a criação de uma instituição responsável pela estabilidade cambial 
e do BP dos países em necessidade, papel que foi exercido pelo FMI (VILLELA, 2014; 
VOLCKER; GYOHTEN, 1993, p.28). 
As primeiras rachaduras no regime cambial de paridades preestabelecidas, entretanto, 
emergiram logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em um cenário de competição entre os 
Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A ameaça 
representada pela elevada taxa de crescimento dos países que aderiram ao sistema socialista de 
produção na década de 1950, segundo Hobsbawm (1998,p. 367) 
4
 colocava em xeque os planos 
imperialistas dos EUA. Deste modo, seria esperado que as destinações de recursos para 
aceleração dos processos de reconstrução da Europa, materializadas pelo Plano Marshall – 
iniciado em 1948 – procurassem conter o avanço do ideário soviético no terreno geopolítico 
europeu; muito embora o real motivo destas ações estivesse capitaneado pela estratégia de 
manutenção de emprego e renda estadunidenses, por meio de transferências diretas de seus 
recursos do Tesouro (NETO, 2014, p. 159). 
A opção pelo primeiro cenário aqui apontado pelo Dilema de Triffin contribuiu para 
substancial desvalorização das moedas europeias frente ao dólar, dificultando o retorno da 
conversibilidade ao ouro para estas unidades de conta. Além disso, o excesso de liquidez de 
moeda estadunidense no mercado europeu (através da exportação de capitais baseada na 
internacionalização de suas empresas locais), por sua vez, facilitou para que empresas europeias 
começassem a realizar suas operações comerciais e financeiras em dólar, por meio do 
 
4 HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos – o breve século XX (1914-1991). São Paulo Companhia das Letras, 
1998. 
23 
 
euromercado. Assim, durante a década de 1960, após relevantes desvalorizações da libra 
esterlina, bancos da capital inglesa aderiram ao uso da moeda estadunidense que circulava no 
continente ao receberem depósitos das multinacionais localizadas no outro lado do Atlântico em 
operações de débito e crédito. Assim, constituía-se o primeiro fator importante para o 
enfraquecimento do padrão dólar-ouro, uma vez que estes bancos ingleses poderiam utilizar-se do 
fator de multiplicação entre encaixes e empréstimos sem a tutela do FED (NETO, 2014, p. 160). 
O sistema de Bretton Woods enfrentaria outros empecilhos para sua manutenção a partir 
do início da década de 1970, momento em que a demanda vinda da Europa e do Japão perdia 
volume na medida em que suas respectivas economias se recuperavam dos efeitos da guerra. Por 
consequência destes acumulados déficits comerciais em conta corrente, a moeda estadunidense 
necessitava de um realinhamento cambial para ressuscitar sua competitividade nos mercados 
estrangeiros. Pela imposição dos acordos sobre a paridade do dólar em ouro, entretanto, os EUA 
não poderiam desvalorizar seu meio de pagamento dentro das regras do sistema de Bretton 
Woods, visto que tal movimento poderia aumentar o risco de uma fuga generalizada do dólar para 
o ouro, retirando, assim, o poder de seignorage da moeda estadunidense. Esta tensão envolvendo 
o dólar favoreceu o surgimento de uma articulação que pretendia substituir seu uso – enquanto 
reserva internacional, meio de troca e unidade de pagamento – pelos chamados Direitos Especiais 
de Saque do FMI (ativos líquidos lastreados em uma cesta de moedas) (PAULINO, 2010, p. 290-
291). 
O que se verifica, em seguida, é uma série de eventos perpetrados pela potência da 
América do Norte, enquanto operadora e detentora do status quo, no intuito de manter sua 
hegemonia no sistema monetário-financeiro internacional, dentre os quais se destacam: (i) a 
suspensão unilateral do sistema de Bretton Woods pelo então presidente Richard Nixon, em 
1971, ao cancelar a conversibilidade direta do dólar em ouro; (ii) a introdução das taxas 
flutuantes de câmbio no ano de 1973; além da (iii) elevação das taxas de juros administradas 
pelo Federal Reserve System – o FED -, também de maneira unilateral, em 1979, com o objetivo 
de atrair fluxos de investimentos financeiros internacionais e, ao mesmo tempo, diminuir a 
inflação em seu território; mostrando-se como uma medida de contraponto às investidas de 
japoneses e europeus na tentativa de substituir o dólar (PAULINO, 2010, p. 290-291). 
Todas estas medidas tiveram repercussões favoráveis aos EUA, uma vez que, com a 
elevação dos juros em 1979, as pretensões de uma reforma da ordem de Bretton Woods guiada 
24 
 
por concorrentes foram definitivamente liquidadas. Grande vantagem advinda com o fim da 
conversibilidade ouro-dólar para os EUA, portanto, consistiu na liberdade de variar, através de 
manipulação unilateral de sua taxa de juros, a paridade do dólar em relação às moedas dos outros 
países de modo que melhor lhe conviesse. Não era mais temida, tampouco, a fuga para o ouro, 
visto que o novo padrão, flexível, caracterizava-se inteiramente como fiduciário, ancorado nos 
poderes dos EUA (PAULINO, 2010, P. 291). 
Outras primordiais oportunidades capazes de ilustrar o uso da hegemonia estadunidense 
na administração econômica sistêmica da maneira que melhor lhe beneficiasse seriam os acordos 
do Plaza (1985) e do Louvre (1987). A partir de 1981, depois do segundo choque do petróleo, de 
1979, o FED manteve a política anti-inflacionária e elevou unilateralmente suas taxas internas de 
juros com a finalidade de frear a demanda interna por meio de contração da oferta monetária. 
Como efeitos colaterais, foram observados aumentos nos déficits em transações correntes nos 
Estados Unidos devido à sobrevalorização do dólar. Esta situação, do ponto de vista doméstico, 
diminuía a competitividade da indústria local, que resultou em pressão de grupos internos 
(especialmente por setores industriais e sindicais) para que o governo Reagan adotasse medidas 
protecionistas e que promovessem a valorização do dólar. Desse modo, o FED exigia que os 
países do G-5 (além dos EUA, Japão, Alemanha, Grã-Bretanha e França) valorizassem suas 
respectivas moedas de maneira administrada para aliviar os expressivos déficits externos dos 
norte-americanos. Na possibilidade de não adesão às sugestões das reuniões, a ameaça 
estadunidense se apresentava na forma de medidas protecionistas em suas indústrias (PIRES, 
2010, p. 223-225; PIRES, 2015, p. 11). 
O principal privilégio resultante destas manobras, entretanto, se materializou na 
eliminação completa de restrição externa estadunidense, significando que, ainda de acordo com 
Paulino (2010, p. 291), o país poderia incorrer em déficits permanentes em conta corrente - 
benefício intitulado “Flexibilidade Macroeconômica” para o país emissor de moeda do sistema 
(COHEN, 2012). 
A condição hegemônica exercida pela potência estadunidense na esfera de influência do 
sistema monetário-financeiro internacional possibilitou ao país, ainda, quando da imposição de 
desregulamentações de práticas financeiras entre as décadas de 1970 e 2000, inserir seus 
respectivos Títulos do Tesouro como principais ativos de proteção, evidenciando o 
gerenciamento da ordem de maneira coordenada com suas necessidades (PIRES, 2010, p. 227). 
25 
 
Deste modo, no momento em que a crise financeira de 2007/08 eclodiu, foi observado o 
que se convencionou chamar de “fuga para o dólar”, contrariando previsões de desvalorização da 
moeda dos Estados Unidos. Em contrapartida, a excessiva demanda por dólares e títulos de 
dívida pública estadunidense colaborou para a desvalorização das demais moedas (à medida se 
contraiu sua base monetária) e consequente diminuição da liquidez internacional, ameaçando, 
assim, a disseminação da instabilidade para o resto do mundo. A rápida atuação do FED, todavia, 
no âmbito de restauração da liquidez entre os Estados, por meio de realocação de recursos através 
de swaps cambiais e facilitações quantitativas (quantitative easing) demonstrou a resiliência do 
sistema do dólar flexível (CARVALHO et. al, 2015, p 48). 
A partir dos exemplos históricos e fundamentos teóricos brevemente apresentados neste 
capítulo sobre a formação histórica do sistema monetário-financeiro internacional do pós II 
Guerra, Carvalho et. al. (2015, p. 47-48) pondera que “A existência de espaços para iniciativas 
variadas de países e grupos de países é típica do sistema monetário e financeiro formado após a 
quebra de Bretton Woods nos anos 1970”. 
O que se convencionou chamarde “dólar flexível” faz menção ao período posterior a 
1971, caracterizado pela suspensão da conversibilidade direta da moeda estadunidense em ouro. 
Portanto, a ausência de normas fixas e restritivas características do período 1944-1971, aliada à 
desregulamentação das práticas financeiras e de movimentação de capitais, com câmbio flutuante 
entre divisas nacionais, incentivaram a formação de iniciativas monetárias e financeiras 
designadas para fornecer maior proteção aos países frente à instabilidade da nova configuração 
sistêmica, além de permitir-lhes o aproveitamento das vantagens possibilitadas pelo aumento da 
flexibilidade (CARVALHO et. al, 2015, p. 47-48). 
Com base nessas premissas acima levantadas, acredita-se que estas novas iniciativas 
possam promover o alargamento da ordem monetária e financeira global, com maior espaço para 
participação dos países emergentes e em desenvolvimento, sem desafiar, contudo, sua estrutura 
hegemônica fundada em Bretton Woods (CARVALHO et. al, 2015, p. 48). Nesse sentido, busca-
se, com base nos trabalhos realizados nos capítulos de número 3 e 4 da presente monografia, 
levantar elementos que auxiliem a tarefa de classificação e análise destes empreendimentos para 
facilitar a compreensão das características e dos potenciais impactos que estes novos 
empreendimentos possam realizar na arquitetura monetário-financeira mundial. 
 
26 
 
2.2. Sub-representação dos Emergentes frente à Rigidez Estrutural na distribuição de poder das 
Entidades Tradicionais 
 
Dando prosseguimento às deliberações sobre o desenvolvimento histórico dos sistemas 
monetário e financeiro internacional, mostra-se digno de destaque o fato de que os principais 
arranjos institucionais em análise – nas figuras do FMI, do Banco Mundial e de bancos regionais 
de desenvolvimento – tenham sido configurados enquanto instrumentos de uma ordem política e 
econômica que passou por importantes modificações desde sua criação, no encerramento da 2
a 
Guerra Mundial e de sua subsequente Guerra Fria (HUMPHREY, 2015, p. 4). 
Para ter-se dimensão da medida em que tais alterações se sucederam, demonstra-se, por 
exemplo, que o peso atribuído ao conjunto dos países do BRICS no PIB mundial no ano 2000 
correspondia a 8,1% de seu total, enquanto o G7 - grupo dos sete países mais ricos do mundo – 
representava mais de 65% destas parcelas, ou seja, dois terços do PIB global. 15 anos depois, em 
2014, demonstrando o expressivo crescimento acumulado de 500%, o Produto Interno Bruto dos 
países do BRICS chegou à marca de 22% do conjunto de todas as economias do planeta, de modo 
oposto ao ocorrido com o agrupamento do G7, que, entre 2000 e 2014, obteve um crescimento 
acumulado de apenas 64%. Tais resultados contribuíram para significativa queda da participação 
dos países do G7 no Produto total mundial, que chegou, assim, à marca dos 45%. Uma queda de 
20 pontos percentuais (IMF 
5
, 2014 apud HUMPHREY, 2015, p. 4; BEGHIN, 2016). 
Este impressionante alargamento das parcelas de contribuição de capital das economias 
emergentes frente ao produto total global, entretanto, não se materializou do modo mais 
apropriado dentro dos quadros institucionais tradicionais, que perderam legitimidade. Com mais 
de 42% da população mundial, representando 22% do PIB global (US$ 16 trilhões) e com 
acúmulo de reservas internacionais estimadas em US$ 5 trilhões (dos quais a China detém mais 
de 80%), os países do BRICS detinham apenas 11% dos direitos de voto do FMI e 13% das cotas 
do Banco Mundial em 2014 (BANCO MUNDIAL, 2013; BEGHIN, 2016; REISEN, 2015, p. 
198). Nesta última organização, ainda, a China possuía 5,25% dos direitos de voto da entidade, 
enquanto o Japão reunia 8,13% destas cotas – apesar desta economia ter a metade do peso 
daquela. Afirma-se, deste modo, que as grandes potências globais não tiveram capacidade e/ou 
interesse de reformar as instituições multilaterais existentes. Detentoras da capacidade de 
 
5
 World Economic Outlook, 2014. 
27 
 
determinação das políticas institucionais destas organizações (com o poder de veto), não 
permitiram o aumento da participação de capital, pelos emergentes, visto que diminuiria seu 
controle pelo grupo do G7 (HUMPHREY, 2015, p.5). 
Uma imediata consequência negativa desta sub-representação seria refletida, em primeira 
instância, nas restrições ao aumento da capacidade operacional de concessão de janelas de 
empréstimos oferecidas pelo Banco Mundial e pelos bancos de desenvolvimento regionais (como 
o Banco de Desenvolvimento Asiático), uma vez que os países emergentes teriam potencial de 
elevar o nível de contribuição de capital a ser destinado para estas operações (REISEN, 2015, p. 
299). Este aumento de oferta por serviços de financiamento a projetos de infraestrutura em 
nações emergentes e em desenvolvimento possui caráter essencial no cenário em análise devido à 
imensa lacuna anual existente nesta modalidade de operação no mercado, que chega à escala dos 
trilhões de dólares, de acordo com estimativas especializadas 
6
. 
Ainda, o segmento de concessão de crédito multilateral a projetos de infraestrutura, 
operado por bancos europeus, afetado pelo segundo capítulo da crise financeira de 2008, utilizou-
se de mecanismos monetários extraordinários com a finalidade de combatê-la, por meio de taxas 
de juros - reais e nominais - próximas de zero, que causaram a chamada expansão monetária 
quantitativa (quantitative easing). Estas medidas contribuíram para o aumento da liquidez 
internacional e, consequentemente, para o baixo rendimento dos investimentos financeiros que, 
por sua vez, forçaram os bancos europeus a retraírem suas operações no financiamento de 
projetos de infraestrutura (COZENDEY, 2015, p. 119). 
Por estes motivos, ao não enxergarem possibilidade de aumento de suas participações de 
capital e voto na ordem institucional hegemônica, os países emergentes observaram a viabilidade 
de canalizar seus excedentes de poupança para aplicações com rendimentos mais lucrativos que 
os destinos tradicionais - em sua grande maioria alocados em Títulos do Tesouro Nacional dos 
EUA -, além do objetivo de protegerem-se de possíveis flutuações cambiais futuras 
(COZENDEY, 2015, p. 118; HUMPHREY, 2015, p. 5; PIRES, 2015, p. 20). 
Esta intersecção entre preocupações sistêmicas dos domínios monetário e financeiro que 
caracterizou o início das discussões sobre a criação de novas instituições multilaterais de 
cooperação, portanto, foi originada da constatação de que havia recursos disponíveis no mercado 
 
6
 A este respeito, ver Item 3.1. – relativo às necessidades anuais por investimentos no setor de infraestrutura nos 
países emergentes e em desenvolvimento. 
28 
 
global, por um lado, e demanda para financiamento a projetos de infraestrutura, por outro, e que 
estas duas realidades não estavam sendo adequadamente intermediadas à luz das novas condições 
econômicas e regulatórias decorrentes da crise financeira (COZENDEY, 2015, p. 119). 
Portanto, de maneira resumida, com base nos motivos acima levantados: (i) sub-
representação dos emergentes - relativa à participação de capital e voto - dentro dos quadros 
institucionais tradicionais; (ii) amplas necessidades de financiamento em infraestrutura (ver Item 
3.1.); (iii) objetivo de diminuir vulnerabilidades cambiais frente às flutuações sistêmicas; e (iv) 
decisão de realocar investimentos de papeis lastreados em títulos de dívidas governamentais – 
especialmente dos EUA – dos quais a China se constituía como maior credora (na ordem de US$ 
2 trilhões) 
7
 - para aplicações com maiores retornos, os países do BRICS começaram a juntar 
esforços para a modificação deste panorama. 
 
2.3. Institucionalização e Multilateralismo Emergente. 
 
Apresentado o déficit de legitimidade que as instituições tradicionaisde Bretton Woods 
carregavam em seus modelos de quotas e voz, o bloco do BRICS passa a atuar de modo 
coordenado, tanto no âmbito do FMI como também nas reuniões do G-20, para a implementação 
de medidas de inovação dos moldes de participação de capital e poder de voto nestas 
organizações, caracterizando-se, assim, como um dos principais interlocutores desta reforma 
(PIMENTEL, 2013, p. 483). 
A jornada de Declarações de Cúpula do BRICS e intervenções em reuniões do G-20 
começa em junho de 2009, com a I Declaração Conjunta do Bloco, reunido em Ecaterimburgo, 
na Rússia. Em seu § 3.
o
, é possível notar a insatisfação deste grupo de nações frente às discussões 
sobre reformas nas instituições de Bretton Woods: 
 
3. Estamos comprometidos com o avanço da reforma das instituições financeiras 
internacionais, de forma a refletir as transformações da economia mundial. As 
economias emergentes e em desenvolvimento devem ter maior peso e representação nas 
instituições financeiras internacionais, cujos diretores e executivos devem ser indicados 
por intermédio de processo aberto, transparente e com base no mérito. Acreditamos, 
também, na necessidade de um sistema monetário estável, confiável e mais diversificado 
(BRASIL, Declaração de Ecaterimburgo, 2009). 
 
 
7
 Forbes, 2014 apud HUMPHREY, 2015, p. 5. 
29 
 
Ainda no mesmo ano, o BRICS (ainda sem a participação da África do Sul – que se 
tornaria integrante oficial do agrupamento somente em 2011) adere ao mecanismo do FMI 
intitulado New Arrangements to Borrow (NAB). Afirma-se que esta plataforma de linhas de 
auxílio suplementar ao Fundo inseria-se no quadro das medidas anticrise tomadas na época. Na 
oportunidade, o bloco que juntava Brasil, Rússia, índia e China trabalhou no sentido de garantir o 
poder de veto conjunto em todas as decisões que requisitassem a maioria qualificada no NAB, 
sendo preciso, para esta finalidade, no mínimo, 15% dos votos. Desta forma, Brasil, Rússia e 
índia contribuíram, cada, com o montante de US$ 15 bilhões, enquanto a China se comprometeu 
com a quantia de US$ 50 bilhões (PIMENTEL, 2013, p. 485). 
Em abril de 2010, durante a II Reunião de Cúpula do BRICS, sediada na cidade de 
Brasília, foi expressa, de modo mais amplo e enérgico, a necessidade de mudanças na estrutura 
de distribuição de poder no FMI e Banco Mundial, uma vez que os membros do G-20 
contribuíram para o aumento da capacidade operacional do Fundo, como pode ser observado no § 
9.
o 
da Declaração de Brasília: 
 
9. Os membros do G-20, com uma contribuição significativa dos países do BRIC, 
aumentaram muito os recursos disponíveis ao FMI. Apoiamos o aumento de capital, sob 
o princípio da justa repartição de encargos, do Banco Internacional para 
Reconstrução e Desenvolvimento e da Corporação Financeira Internacional, além de um 
apoio mais robusto, ágil e flexível às economias em desenvolvimento por parte dos 
bancos de desenvolvimento multilaterais (BRASIL, 2010, Declaração de Brasília). 
 
O § 11, por sua vez, reforça as ideias apresentadas em Ecaterimburgo, da seguinte 
maneira: 
11. Nós nos esforçaremos para alcançar uma conclusão ambiciosa para as reformas em 
curso, e há muito esperadas, das instituições de Bretton Woods. O FMI e o Banco 
Mundial precisam urgentemente resolver seus déficits de legitimidade. Reformar as 
estruturas de governança dessas instituições requer, em primeiro lugar, uma mudança 
substancial no poder de voto, em favor das economias emergentes de mercado e dos 
países em desenvolvimento, de modo a adequar sua participação nos processos 
decisórios ao seu peso relativo na economia mundial. Conclamamos que a reforma no 
poder de voto no Banco Mundial seja realizada nas reuniões que se realizarão na 
próxima primavera, e esperamos que a reforma de cotas do FMI seja concluída na 
Cúpula do G-20, em novembro próximo. Também concordamos com a necessidade de 
um método de seleção aberto e baseado em mérito, independentemente da nacionalidade, 
para os cargos de chefia do FMI e do Banco Mundial. Além disso, o pessoal dessas 
instituições deve refletir melhor a diversidade de seus membros. Há uma especial 
necessidade de aumentar a participação dos países em desenvolvimento. 
A comunidade internacional deve apresentar um resultado digno da confiança que todos 
nós depositamos nessas instituições, dentro do prazo acordado, ou correr o risco de vê-
las desaparecer por obsolescência (BRASIL, Declaração de Brasília, 2010). 
 
30 
 
As negociações sobre as pautas referentes às reformas de quotas e voz nas organizações 
tradicionais foram materializadas em novembro de 2010, durante a Cúpula do G-20 em Seul, na 
Coréia do Sul. Com base neste acordo, todos os países do BRICS conquistaram aumento de suas 
respectivas cotas de participação de capital e também no que se refere ao modelo de 
representatividade do quadro institucional em estudo. Estas alterações, entretanto, ficaram aquém 
das expectativas de uma distribuição mais condizente com a crescente importância dos países em 
desenvolvimento na economia mundial, como pode ser observado consoante dados contidos na 
tabela 1 a seguir (PIMENTEL, 2013, p. 485; REISEN, 2015, p. 299). 
 
Tabela 1 – Comparação dos Resultados das Reformas do FMI (em%) 
 
 Situação Pré-Reforma Reforma 2008 Reforma 2010 
 Cotas Poder 
de 
Voto 
Rank Cotas Variação 
de Cotas 
(p.p) 
Poder 
de 
Voto 
Rank Cotas Variação 
de Cotas 
(p.p) 
Poder 
de 
Voto 
Rank 
África do 
Sul 
0,859 0,854 25 0,784 -0,075 0,770 27 0,640 -0,144 0,634 34 
Brasil 1,395 1,375 18 1,783 0,388 1,714 14 2,316 0,533 2,218 10 
China 3,718 3,650 6 3,996 0,278 3,806 6 6,394 2,398 6,071 3 
Índia 1,911 1,886 13 2,442 0,531 2,337 11 2,751 0,309 2,629 8 
Rússia 2,732 2,690 10 2,494 -0,238 2,386 10 2,706 0,212 2,587 9 
BRICS 10,615 10,455 11,499 0,884 11,013 14,807 3,308 14,139 
EMDCs - - - 0,0 1,768 2,7 - 2,8 2,7 2,6 - 
 Fonte: PIMENTEL, 2013, p. 486. 
 
Todavia, as medidas de reformas nos quadros institucionais tradicionais não seriam 
aprovadas pela casa legislativa dos EUA até dezembro de 2015. Deste modo, como o chamado 
“pacote de Seul” havia sido alvo de críticas por parte dos países ditos desenvolvidos, o que 
dificultou sua tramitação nas esferas competentes, os países do BRICS retomaram suas 
reivindicações por mudanças na estrutura da ordem sistêmica, não deixando de evidenciar 
preocupações a respeito do vagaroso andamento das reformas, como é possível notar no § 9.
o
 da 
31 
 
Declaração de Cúpula de Nova Délhi, em março de 2012 (SÁ GUIMARÃES, 2014, p. 19). 
 
9. Preocupa-nos, contudo, o ritmo lento das reformas das cotas e da governança do FMI. 
Torna-se urgente a necessidade de implementar, antes da Reunião Anual do FMI/Banco 
Mundial de 2012, a Reforma de Governança e de Cota acordada em 2010, assim como 
uma revisão abrangente da fórmula de cota de forma a melhor refletir os pesos 
econômicos e ampliar a voz e a representação dos mercados emergentes e países em 
desenvolvimento até janeiro de 2013, seguida de finalização da próxima revisão geral de 
cotas até janeiro de 2014. Esse processo dinâmico de reforma é necessário para 
assegurar a legitimidade e eficácia do Fundo. Enfatizamos que os esforço em andamento 
para aumentar a capacidade de empréstimo do FMI somente serão exitosos se houver 
confiança de que todos os membros da instituição estão verdadeiramente empenhados 
em fielmente implementar a Reforma de 2010. Trabalharemos junto com a comunidade 
internacional para garantir que suficientes recursos poderão ser mobilizados para o FMI 
em tempo hábil, enquanto o Fundo continua sua transição para aperfeiçoar sua 
governança e sua legitimidade. Reiteramos nosso apoio a medidas voltadas para a 
proteção de voz e representatividade dos países mais pobres do FMI (BRASIL, 
Declaração de Nova Délhi, 2012). 
 
O § 13 do mesmodocumento, por sua vez, declara abertamente o fato de que os países do 
agrupamento consideravam a fundação de um novo banco de desenvolvimento com base na 
seguinte descrição: 
 
13. Consideramos a possibilidade de estabelecimento de um novo Banco de 
Desenvolvimento voltado para a mobilização de recursos para projetos de infra-estrutura 
e de desenvolvimento sustentável em países do BRICS e em outras economias 
emergentes e países em desenvolvimento, com vistas a suplementar os esforços 
correntes de instituições financeiras multilaterais e regionais de promoção do 
crescimento e do desenvolvimento internacionais. Instruímos nossos Ministros de 
Finanças a examinar a viabilidade e possibilidade de implementação dessa iniciativa e a 
estabelecer um grupo de trabalho conjunto para realizar os estudos necessários e reportá-
los na próxima Cúpula (BRASIL, Declaração de Nova Délhi, 2012). 
 
 Cerca de três meses depois, em junho de 2012, em reunião sediada na cidade de Los 
Cabos, no México, mais uma vez os países do G-20 reiteraram suas crenças na revisão das 
fórmulas de cotas e direitos de voto no FMI e do BM, sem obter sucesso, entretanto. Por outro 
lado, como componente da narrativa antagônica ao estabelecimento destas reformas, temos que o 
Banco Mundial considerou a possibilidade de criação de um Global Infrastructure Facility, com 
a finalidade de recrutar fundos privados para concessão de crédito a projetos de infraestrutura em 
países em desenvolvimento, além de ser financiado, em grande medida, pelos próprios países 
emergentes. Este plano, todavia, teve de ser reelaborado, já que não era de interesse dos países 
desenvolvidos a criação de um instrumento paralelo de financiamento com controle gerencial e 
32 
 
operacional nas mãos do BRICS e dos emergentes (COZENDEY, 2015, p. 136). 
Assim, durante a V Conferência de Cúpula do BRICS, ocorrida em março de 2013 em 
Durban, na África do sul, os países do agrupamento divulgaram a decisão de criar 2 novas 
instituições no âmbito da cooperação multilateral: uma voltada para o desenvolvimento e 
financiamento de projetos de infraestrutura, e outra inserida na rede de segurança financeira 
mundial com a finalidade de evitar pressões de liquidez aos países membros. Podemos ver com 
maiores detalhes, conforme § 9.
o
 da Declaração: 
 
9. Os países em desenvolvimento enfrentam desafios para o desenvolvimento da 
infraestrutura devido à insuficiência de financiamentos de longo prazo e de investimento 
externo direto, especialmente do investimento em capital. Isso restringe a demanda 
agregada global. A cooperação do BRICS no sentido da utilização mais produtiva dos 
recursos financeiros globais pode contribuir positivamente para o tratamento desse 
problema. Em março de 2012, instruímos os nossos Ministros das Finanças a analisar a 
factibilidade e a viabilidade de se criar um Novo Banco de Desenvolvimento para a 
mobilização de recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável 
nos BRICS e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento, para 
complementar os esforços já existentes de instituições financeiras multilaterais e 
regionais para o crescimento global e o desenvolvimento. Em vista do relatório dos 
nossos Ministros das Finanças, estamos satisfeitos com a constatação de que o 
estabelecimento de o novo Banco de Desenvolvimento é factível e viável. Nós 
concordamos em estabelecer um Novo Banco de Desenvolvimento. A contribuição 
inicial ao Banco deverá ser substancial e suficiente para que ele seja efetivo no 
financiamento à infraestrutura (BRASIL, Declaração de Durban, 2013). 
 
Após esta breve descrição acerca do estabelecimento do Novo Banco de Desenvolvimento 
do BRICS, o parágrafo seguinte da Declaração de Durban discorre sobre o Arranjo Contingente 
de Reservas do Bloco, da seguinte forma: 
 
10. Em junho de 2012, em nossa reunião em Los Cabos, encarregamos nossos Ministros 
das Finanças e Presidentes dos Bancos Centrais de explorar a construção de uma rede de 
segurança financeira por meio da criação de um Arranjo Contingente de Reservas (ACR) 
entre os países do BRICS. Concluíram que o estabelecimento de um arranjo contingente 
de reservas autogerido teria um efeito de precaução positivo, ajudaria os países do 
BRICS a evitar pressões de liquidez de curto prazo, forneceria apoio mútuo e reforçaria 
adicionalmente a estabilidade financeira. Contribuiria, igualmente, para o fortalecimento 
da rede de segurança financeira global e complementaria os acordos internacionais 
existentes como uma linha de defesa adicional. Entendemos que o estabelecimento do 
Arranjo Contingente de Reserva (ACR) com um tamanho inicial de US$ 100 bilhões é 
factível e desejável, sujeito aos marcos legais internos e as salvaguardas pertinentes. 
Instruímos os nossos Ministros das Finanças e Presidentes dos Bancos Centrais a 
continuar a trabalhando para o seu estabelecimento (BRASIL, Declaração de Durban, 
2013). 
Definições sobre as capacidades de aporte operacional das novas instituições multilaterais 
33 
 
tomariam forma apenas em julho de 2014, durante a Reunião de Fortaleza, cujos detalhes serão 
abordados no capítulo seguinte. É digno de destaque o fato de que o lançamento destas 
plataformas marca o início da transição para a terceira fase da história do agrupamento, segundo 
Stuenkel (2016b). De acordo com o autor, esta etapa seria caracterizada pelos processos de 
institucionalização e lançamento do Novo Banco de Desenvolvimento e do Arranjo Contingente 
de Reservas, ampliando oportunidades de atuação e de expectativas frente aos demais países. De 
qualquer maneira, facilita-se a avaliação das performances do bloco e de suas respectivas 
capacidades de enfrentar desafios globais. 
A primeira fase histórica da associação, para título de informação, definiu-se enquanto 
categoria de fundo de investimento
8
 criada pelo Goldman Sachs, no período compreendido entre 
os anos de 2001 a 2007, no qual a África do Sul não havia ainda sido incluída. O segundo estágio 
do grupo, por sua vez, de acordo com o autor, presenciou a emergência do BRICS enquanto 
plataforma política, apesar de sua natureza largamente informal, entre os anos de 2008 até 2014 
(STUENKEL, 2016b). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8
 O‟NEILL, Jim. Building Better Global Economic BRICs. 2001. Global Economic Paper n. 66. Goldman Sachs. 
Disponível em: <http://www.goldmansachs.com/our-thinking/archive/archive-pdfs/build-better-brics.pdf>. Acesso 
em: 14 de setembro de 2016. 
34 
 
3. ANÁLISE DOCUMENTAL 
9
 SOBRE AS RECENTES INICIATIVAS DE 
FINANCIAMENTO MULTILATERAL AO DESENVOLVIMENTO. 
 
As recentes inovações tecnológicas responsáveis por transformações no mercado bancário 
são fenômenos essenciais para a compreensão de um processo mais amplo, que vem modificando 
o mundo das finanças e alterando sua estrutura de distribuição de poder, tanto na esfera micro 
como também no âmbito macroeconômico. 
Com relação a este primeiro domínio, são relatadas, por exemplo, inúmeras dificuldades 
em ações de abertura de contas e de concessão de créditos destinados a cidadãos estrangeiros, 
advindos dos fluxos migratórios de então, e que atualmente residem nos EUA ou em países da 
Europa (MÜLLER, 2016). Materializadas na forma de obstáculos burocráticos, tais restrições 
vêm sendo superadas com o uso das inovações tecnológicas, permitindo, deste modo, a realização 
dos processos de fornecimento de empréstimos de modo simplificado, como se pode confirmar 
com a leitura do trecho a seguir: 
 
Logo no início, é preciso encarar uma extensa lista de documentos e comprovantes das 
mais variadas naturezas. Sem as papeladas necessárias, somada à ausência de crédito na 
praça, a jornada é sofrível para um imigrante. Contudo, o novo marco estabelecido pelas 
inovações tecnológicas tem revolucionado a forma com a qualas instituições financeiras 
lidam com tais operações. Bancos como o Neighborhood Trust Federal Credit Union, 
em Nova York, o Monese, em Londres, e até mesmo startups como a Oportun, 
inauguram um novo tempo onde se tornou possível dispensar as papeladas e emprestar 
dinheiro de forma simplificada aos imigrantes que precisam recomeçar a vida no novo 
país. No pacote, além do empréstimo, workshops sobre educação financeira e 
investimentos são oferecidos (MÜLLER, 2016). 
 
Já no continente sul americano, o setor de fintech 
10
 dispõe do exemplo da startup 
brasileira Nubank, emissora e administradora de um cartão de crédito cujo diferencial se encontra 
na utilização de canais 100% digitais para comunicação com clientes e, assim, contribui para a 
 
9
 Não se constitui como objetivo do presente trabalho, tampouco, a realização de uma completa análise de seus 
respectivos documentos fundacionais. O que se espera, em realidade, é a utilização deste estudo documental como 
meio de levantar elementos que auxiliem a compreensão e o debate acerca das dinâmicas que envolvem as mudanças 
na estrutura e distribuição de poder no âmbito da governança financeira internacional. 
10
 A expressão Fintech vem da junção dos vocábulos “Finanças” e “Tecnologia” na língua inglesa. A origem do 
termo é atribuída a um programa de aceleração de startups capitaneado pela Accenture, em parceria com a prefeitura 
de Nova York, que se chama Fintech. Com o tempo, Fintech passou a designar o segmento das startups que criam 
inovações na área de serviços financeiros, com processos baseados em tecnologia. Normalmente, estas startups criam 
novos modelos de negócio em áreas como conta corrente, cartão de crédito e débito, empréstimos pessoais e 
corporativos, pagamentos, investimentos, seguros, etc. Disponível em: <http://finnovation.com.br/o-que-e-fintech/>. 
Acesso em: 06 de janeiro de 2017. 
35 
 
máxima redução de burocracia e de acúmulo de papeis. Desta forma, não havendo necessidade de 
contratação de agências e/ou de estruturas onerosas com fins de administração e de 
processamento destas informações, não existe, consecutivamente, cobrança de anuidade, nem de 
tarifas adicionais, repassando-se, portanto, a economia de custo aos clientes (NUBANK, 2017). 
No tocante ao domínio macroeconômico, por sua vez, observa-se a recente ocasião da 
gênese de novas instituições multilaterais de financiamento ao desenvolvimento sustentável 
11
, 
como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS e o Banco Asiático de Investimento 
em Infraestrutura (AIIB), e do Silk Road Fund, sob o controle da China; além da criação de 
plataformas preventivas de liquidez, materializadas nas figuras do Arranjo Contingente de 
Reservas (CRA) do BRICS e das Iniciativas de Multilateralização de Chiang Mai (CMIM). 
De maneira análoga à descrita acima no caso das fintechs, acredita-se que estas 
contemporâneas iniciativas multilaterais tenham o potencial de complementar – e, 
posteriormente, de desafiar e de alterar - as estruturas de poder estabelecidas desde a ordem de 
Bretton Woods, através de mecanismos de concessão de crédito ao desenvolvimento de 
infraestrutura para países emergentes e em desenvolvimento ao aproveitar a lacuna anual de 
investimentos requisitados no setor. Não se pode olvidar, tampouco, do papel a ser exercido pelas 
plataformas alternativas de prevenção de crises de liquidez, que possuem o potencial de ampliar a 
oferta por pacotes de resgate para Estados em necessidade, com a possibilidade de negociações 
de condicionalidades impostas às políticas monetárias nacionais dos recebedores dos aportes 
cambiais. 
Neste sentido, com a finalidade de promover um melhor método de análise dos novos 
empreendimentos de cooperação multilateral, utilizamo-nos da conceituação e da tipologia das 
iniciativas monetárias e financeiras empregadas por Carvalho et. al (2015), onde estas são 
 
11
 Desenvolvimento Sustentável: Não se constitui como objetivo do presente trabalho, tampouco, apresentar uma 
definição concreta capaz de abordar todas as particularidades referentes ao termo em questão. Observou-se, durante 
análise dos documentos fundacionais das novas instituições multilaterais de financiamento a projetos de 
infraestrutura, que este conceito, apesar de ter sido mencionado em consideráveis ocasiões, tanto nos artigos do NDB 
como também do AIIB, não fora circunscrito de modo apropriado, deixando, assim, o texto oficial sujeito a amplas 
interpretações. Exceção a este fenômeno foi a publicação do documento intitulado “NDB Environmental and Social 
Framework”, pelo próprio NDB. Nele, é possível notar que a iniciativa procura complementar os esforços existentes 
das instituições multilaterais tradicionais na questão do crescimento e desenvolvimento globais, mencionando, ainda, 
ser foco do Banco assegurar o compartilhamento inclusivo das oportunidades de desenvolvimento a comunidades 
desfavorecidas, crianças, mulheres e outras minorias. Por fim, delimita brevemente o que seria uma atuação 
preocupada com interesses ambientais e sociais em suas políticas e operações através de certificar que seus 
respectivos financiamentos e investimentos em projetos de infraestrutura tenham mínimo impacto adverso ao meio-
ambiente e às comunidades locais (NDB, 2016b). A este respeito, ver também Item 3.5.2. 
 
36 
 
classificadas com base em dois critérios sobrepostos: o primeiro deles tratando de diferenciar 
iniciativas proativas de iniciativas defensivas (de proteção); enquanto o último se preocupa em 
qualificá-las entre o domínio financeiro e o domínio monetário. Assim, dentro do primeiro 
critério, as iniciativas de caráter proativo seriam identificadas como aquelas que buscam ampliar 
seus espaços de atuação, através de ganho e projeção de influência e de aproveitamento de 
oportunidades abertas pelos mercados, ou de atuar em segmentos em que os agentes concorrentes 
não demonstram interesse ou capacidade de aproveitar. Citam-se como exemplos os casos dos 
bancos de fomento, que direcionam aplicações dos sócios e dão crédito com responsabilidades e 
compromissos delimitados. Já as iniciativas de caráter defensivo (ou de proteção) – ainda 
inseridas no primeiro critério – seriam definidas como aquelas capazes de criar redes de proteção 
a crises no Balanço de Pagamentos a partir de reservas cambiais dos sócios, não havendo 
projeção de poder externamente ao grupo (CARVALHO et al, 2015, p. 50-51). 
Ao adentrarmos no segundo critério de classificação das iniciativas multilaterais de 
cooperação, temos a distinção entre aquelas que operam no campo financeiro daquelas que atuam 
na esfera monetária da Economia Política Internacional. Deste modo, a partir de uma 
sobreposição das formas de classificação abordadas, afirma-se que as iniciativas proativas teriam 
seu exercício limitado ao campo financeiro, visto que concedem crédito e financiamento 
baseados em normas, garantias e formas de cobrança previamente acordadas, e não atuando em 
questões de definição ou de imposição de política monetária como fator condicional para 
concessão de empréstimos. As iniciativas defensivas, por sua vez, ao possibilitarem o acesso a 
partes das reservas cambiais de um determinado país ou grupo de países, poderiam ser descritas 
como empreendimentos com atuação restrita ao âmbito monetário, uma vez que se constituem 
enquanto operações entre Bancos Centrais. Por se tratar de um mecanismo de prevenção de crises 
de liquidez, o ente que se utiliza dos recursos assegurados pelas reservas cambiais estrangeiras 
submete-se a compromissos, condicionalidades ou exigências impostas pela instituição monetária 
em questão para certificar que o membro fragilizado consiga devolver o dinheiro recebido. 
Abdica-se, portanto, de parte da soberania nacional relativa à autonomia de decisão

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