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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E INOVAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DE FIBRAS DE CELULOSE ORIUNDAS DA RECICLAGEM DE SACOS DE CIMENTO EM FORMULAÇÕES DE CERÂMICAS ESTRUTURAIS LAILSON ANCELMO ORIENTADOR: PROF. Dr. ROBERTO ARRUDA LIMA SOARES Teresina – Piauí 2015 LAILSON ANCELMO INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DE FIBRAS DE CELULOSE ORIUNDAS DA RECICLAGEM DE SACOS DE CIMENTO EM FORMULAÇÕES DE CERÂMICAS ESTRUTURAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia de Materiais, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Engenharia de Materiais. Área de concentração: Processamento e caracterização de materiais. Teresina – Piauí 2015 Dedico este trabalho a minha família, da qual tive que me ausentar um pouco mais por alguns momentos, especialmente à minha mãe, minha esposa Juliana, pelo seu apoio, compreensão e constante ajuda, e ao meu filho Otto Gabriel, razão do meu viver. AGRADECIMENTOS A Deus, mestre dos mestres, por todas as oportunidades disponibilizadas. Aos meus pais, Seu Sérgio e Dona Neusa, pelo exemplo, apoio, crédito e condução da minha carreira pessoal e profissional. A minha esposa Juliana e ao meu filho Otto por todo o amor, carinho e compreensão. Ao Prof. Roberto Arruda, amigo e orientador, pela disponibilidade, confiança, sugestões e paciência com meu trabalho. Ao IFPI, pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais e pela equipe docente disponibilizada, em especial aos professores Dr. Arruda, Dr. Eutrópio, Dr. Reis, Dr. Ayrton Brandim e Dr. Haroldo Reis. Ao Prof. Edgar Carneiro Machado, pela receptividade única à toda equipe do mestrado e ao apoio. Ao técnico Barbosa da cerâmica visitada, pela atenção e disposição concedidas. Ao SENAI-PI pela disponibilização do Laboratório de Ensaios Tecnológicos de Argila – LETA, em particular ao grande professor e técnico em cerâmica, Rui Barbosa de Sousa, por toda ajuda e atenção dadas durante as atividades práticas desenvolvidas no LETA. Aos amigos e companheiros do laboratório do IFPI, em especial a Luciana Mendes e ao George. Aos companheiros de turma do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Materiais, em especial aos amigos Kelson Almeida, Yáscara Lopes e Zacarias Linhares, pelo compartilhamento diário de informações e das emoções durante o curso. “Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito. ” Aristóteles RESUMO Atualmente a construção civil faz parte do grupo das atividades mais importantes para o desenvolvimento econômico e social do país. Em contrapartida, é considerada uma grande geradora de impactos ambientais negativos, seja pelo grande consumo de recursos naturais seja pela geração de grande volume de resíduos. O presente trabalho tem como objetivo a verificação de viabilidade técnica, econômica e ambiental da incorporação de fibras de papel kraft obtidas pela reciclagem de embalagens de saco de cimento em formulações de cerâmicas estruturais. Inicialmente caracterizou-se as matérias-primas utilizadas para produção de blocos e telhas por técnicas de análise química, mineralógica e térmica. Os corpos de prova foram conformados por extrusão e queimados nas temperaturas de 850 ºC, 900 ºC e 950 ºC com os teores de 0%, 3%, 6%, 10% e 15% de fibra de celulose em peso. Em seguida, foram realizados ensaios tecnológicos de retração linear, absorção de água, porosidade aparente, massa específica aparente, tensão de ruptura à flexão, perda ao fogo e análise de resíduo retido. A microestrutura das cerâmicas foi observada por microscopia eletrônica de varredura. Os resultados demonstraram alteração benéfica das propriedades físicas e mecânicas da cerâmica, viabilizando tecnicamente a incorporação da fibra à massa cerâmica, e seu processo simples de reciclagem transformou o resíduo analisado numa alternativa econômica e ambiental para destinação final do resíduo na produção de blocos e telhas cerâmicas. Palavras-chave: Cerâmica estrutural, argila, reciclagem, fibras de papel kraft, propriedades físicas e mecânicas. ABSTRACT Currently the building is part of the group of the most important activities for economic and social development of the country. However, a major generator of negative environmental impacts is considered, is the large consumption of natural resources is the generation of large volumes of waste. This study aims to check the technical feasibility, economic and environmental incorporating kraft paper fibers obtained by recycling cement bag packaging of structural ceramic formulations. Initially characterized the raw materials used for production of bricks and tiles by chemical analysis techniques, mineralogical and thermal. The samples were extruded and fired at 850 °C, 900 °C and 950 °C with 0% content, 3%, 6%, 10% and 15% cellulose fiber by weight. Then, technological tests were carried linear shrinkage, water absorption, porosity, density, flexural breaking stress, loss on ignition and retentate analysis. The microstructure of the ceramics was observed by scanning electron microscopy. The results showed beneficial change of the physical and mechanical properties of ceramics, technically enabling the incorporation of fiber to the ceramic mass, and its simple recycling process transformed the residue analyzed in an economic and environmental alternative for disposal of the waste in the production of ceramic bricks and tiles . Keywords: Structural Ceramics, clay, recycling , kraft paper fibers , physical and mechanical properties . ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 - Polos de mineração do estado do Piauí ................................................... 29 Figura 2 - Apresentação de blocos cerâmicos de vedação. ..................................... 33 Figura 3 - Apresentação de blocos cerâmicos estruturais. ....................................... 34 Figura 4 - Apresentação de telhas cerâmica tipo francesa (a), romana (b). ............. 35 Figura 5 - Apresentação de telhas cerâmica tipo paulista (a), plana de sobreposição (b) ............................................................................................................................ 36 Figura 6 - Distribuição das principais bacias sedimentares brasileiras .................... 37 Figura 7 - Processo básico de fabricação de cerâmica vermelha/estrutural ............ 45 Figura 8 - (a) Sazonamento de matéria-prima no pátio da indústria. (b) Resultado do sazonamento: decomposição de matéria orgânica, carbonatos e sulfatos. ........ 46 Figura 9 - (a) maromba utilizada na extrusão de cerâmica estrutural. (b) Modelo de boquilhas utilizados na extrusora. ............................................................................ 48 Figura 10 - Curva de Bigot ...................................................................................... 49 Figura 11 - Diagrama granulométrico de Winkler. .................................................... 57 Figura 12 - Fluxograma de procedimentos experimentais. ....................................... 73 Figura 13 - Extração da matéria-prima. .................................................................... 74 Figura 14 - Secagem ao ar livre das amostras de argilas utilizadas no trabalho. ..... 75 Figura 15 - Fluxograma das etapas da reciclagem de embalagens de sacos de cimento. ................................................................................................................... 76 Figura 16 - Fonte de geração dos resíduos analisados. ........................................... 76 Figura 17 - Fragmentação das embalagens de saco de cimento em tamanhos menores (esquerda); Submersão das embalagens em recipiente com água para posterior amolecimento (direita). .............................................................................. 77 Figura 18 - Condicionamento das embalagens amolecidas junto ao agitador mecânico-liquidificador industrial (esquerda); Trituração mecânica das embalagens analisadas (direita) . ................................................................................................. 78 Figura 19 - Polpa de celulose ao final do processo de trituração das embalagens de cimento (esquerda); Remoção superficial da água presente na polpa de celulose (direita) com uso de peneira. .................................................................................... 78 Figura 20 - Peneira utilizada para retirada d´água em excesso da polpa de celulose (esquerda); Preparação da eliminação de água em excesso da polpa de celulose (direita). .................................................................................................................... 79 Figura 21 - Polpa de celulose ao final do processo com eliminação superficial de água (esquerda); Dispersão manual da polpa de celulose (direita). ......................... 80 Figura 22 - Fibras dispersas manualmente aptas para serem incorporadas (esquerda); Variação de tonalidade da água reutilizada na trituração das fibras no agitador. ................................................................................................................... 80 Figura 23 - Difratograma de raio X da formulação de telha ...................................... 89 Figura 24 - Difratograma de raio X da formulação de bloco .................................... 89 Figura 25 - Termograma (TG) com derivada (DTG) da formulação de telha ............ 91 Figura 26 - Termograma (TG) com derivada (DTG) da formulação de bloco. .......... 91 Figura 27 - Gráfico da distribuição granulométrica das formulações. ....................... 92 Figura 28 - Análise de plasticidade das composições. ............................................. 93 Figura 29 - Variação de resíduos nas composições. ................................................ 94 Figura 30 - DRX das Formulações de telha queimadas. .......................................... 95 Figura 31 – DRX das Formulações de Bloco queimadas. ........................................ 96 Figura 32 – Retração linear de secagem das formulações de telha. ........................ 97 Figura 33 – Retração linear de queima das formulações de telha. ........................... 99 Figura 34 - Perda ao fogo das composições de telha cerâmica. ........................... 100 Figura 35 - Absorção de água das composições de telhas X temperatura. ........... 101 Figura 36 - Porosidade aparente das composições de telhas conforme temperatura de queima. ............................................................................................................. 102 Figura 37 - Massa específica aparente das composições de telhas X Temperatura. ............................................................................................................................... 103 Figura 38 - TRF após secagem (110 ºC) das formulações de telhas..................... 104 Figura 39 - Tensão de ruptura a flexão das composições de telhas X temperatura de queima. .................................................................................................................. 105 Figura 40 - Corpos de prova após moldagem. ...................................................... 107 Figura 41 – Seção dos corpos de prova após queima. ................................... 107 Figura 42 – Corpos de prova conforme teor de resíduo e temperatura de queima. .................................................................................................................. 108 Figura 43 – Micrografia das formulações de telha. ................................................. 109 Figura 44 - Retração linear de secagem das formulações de bloco. ..................... 110 Figura 45 - Retração linear de queima das composições analisadas do bloco cerâmico. ............................................................................................................... 111 Figura 46 - Perda ao fogo das composições de bloco cerâmico. .......................... 112 Figura 47 - Absorção de água das composições de bloco conforme temperatura de queima. .................................................................................................................. 113 Figura 48 - Porosidade aparente das formulações de blocos. ............................... 114 Figura 49 - Massa específica aparente das formulações de blocos. ..................... 116 Figura 50 - Tensão de ruptura a flexão das formulações de blocos. ..................... 117 Figura 51 - Corpos de prova após moldagem. ...................................................... 118 Figura 52 – Seção dos corpos de prova após queima. ................................... 118 Figura 53 – Corpos de prova conforme teor de resíduo e temperatura de queima. .................................................................................................................. 119 Figura 54 – Micrografia das formulações de bloco. ................................................ 120 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 - Composição granulométrica dos produtos de cerâmica vermelha .. 57 Tabela 2 - Formulações cerâmicas em diferentes teores de fibras. ................. 83 Tabela 3 - Componentes químicos das formulações .......................................... 88 Tabela 4- Distribuição granulométrica das formulações ...................................... 92 Tabela 5 - Variação do índice de plasticidade ................................................... 93 Tabela 6 - Variação de resíduos /impurezas conforme teor de fibras incorporadas ............................................................................................................ 94 Tabela 7 - Retração linear de secagem (110 ºC) das formulações analisadas ................................................................................................................................. 97 Tabela 8 - Retração linear de queima das formulações de telha .................... 98 Tabela 9 - Perda ao fogo das formulações de telhas cerâmicas .................. 100 Tabela 10 - Valores da absorção de água (AA) das formulações de telhas cerâmicas .............................................................................................................. 101 Tabela 11 - Valores da porosidade aparente das formulações de telhas ..... 102 Tabela 12 - Massa específica aparente das formulações de telhas conforme variação de temperatura de queima ................................................................... 103 Tabela 13 - : TRF após secagem das formulações de telhas ....................... 104 Tabela 14 - Valores das tensões de ruptura a flexão das formulações de telhas conforme temperatura de queima ............................................................ 105 Tabela 15 - Retração linear de secagem (110 ºC) das formulações analisadas ............................................................................................................................... 109 Tabela 16 - Retração linear de queima das formulações analisadas ............. 110 Tabela 17 - Perda ao fogo das formulações de blocos .................................. 111 Tabela 18 - Valores da absorção de água (AA) das formulações de blocos cerâmicos .............................................................................................................. 113 Tabela 19 - Valores da porosidade aparente das formulações de blocos ..... 114 Tabela 20 - Massa específica aparente das formulações de blocos conforme variação de temperatura de queima ................................................................... 115 Tabela 21 - Valores das tensões de ruptura a flexão das formulações de blocos conforme temperatura de queima ........................................................... 116 12 SUMÁRIO 1.0 INTRODUÇÃO ........................................................................................ ........16 1.1 Hipótese ...................................................................................................... 19 1.2 Objetivos ..................................................................................................... 19 1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................. 19 1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 19 1.3 Organização da dissertação........................................................................... 19 2.0 CERÂMICA ESTRUTURAL ........................................................................... 21 2.1 Indústria Cerâmica ...................................................................................... 21 2.2 Indústria Cerâmica Brasileira ...................................................................... 23 2.3 Perfil da Indústria Cerâmica no Piauí .......................................................... 26 2.4 Produtos Cerâmicos .................................................................................... 29 2.4.1 Blocos cerâmicos ..................................................................................... 31 2.4.2 Telhas cerâmicas ..................................................................................... 34 2.5 Matérias-Primas da Cerâmica Estrutural ..................................................... 36 2.5.1 Argilas ...................................................................................................... 36 2.5.1.1 Propriedades da argila ............................................................................. 38 2.5.1.2 Tipos de argila ......................................................................................... 39 2.5.1.3 Resíduos da argila ................................................................................... 41 2.5.2.1 Extração da matéria-prima ....................................................................... 45 2.5.2.2 Sazonamento ........................................................................................... 46 2.5.2.4 Conformação das peças .......................................................................... 47 2.5.2.4.1 Extrusão.................................................................................................................. 47 2.5.2.4.2 Prensagem ......................................................................................................... 48 2.5.2.5 Secagem .................................................................................................. 48 2.5.2.6.Queima .................................................................................................... 50 2.5.2.7 Resfriamento ............................................................................................ 51 2.5.3 Caracterização das matérias-primas e das propriedades tecnológicas do material ................................................................................................................ 51 2.5.3.1 Difração de Raios X ................................................................................. 52 2.5.3.2 Fluorescência de Raio X .......................................................................... 53 13 2.5.3.3 Análise Térmica ....................................................................................... 54 2.5.3.4 Microscopia Eletrônica de Varredura........................................................ 55 2.5.3.5 Distribuição Granulométrica ..................................................................... 56 2.5.3.6 Plasticidade ............................................................................................. 57 2.5.3.7 Retração linear de secagem .................................................................... 59 2.5.3.8 Perda ao fogo .......................................................................................... 60 2.5.3.9 Absorção de água .................................................................................... 60 2.5.3.10 Porosidade aparente ......................................................................... 61 2.5.3.11 Massa Específica Aparente ............................................................... 61 2.5.3.12 Tensão de Ruptura a flexão .............................................................. 62 3.0 UTILIZAÇÃO DOS RESIDUOS ..................................................................... 63 3.1 Resíduos da Construção Civil ..................................................................... 63 3.1.1 O papel como resíduo ................................................................................. 65 3.2 Questão Ambiental .................................................................................. 67 3.2.1 A extração de argila ................................................................................. 67 3.2.2 Resíduos Sólidos ..................................................................................... 68 3.2.3 Resíduos Perigosos ................................................................................. 68 3.2.4 Cinzas geradas durante a queima de combustível nos fornos ................. 68 3.2.5 Material cru não conforme ....................................................................... 69 3.2.6 Produto final fora de especificação .......................................................... 69 3.2.7 Emissões atmosféricas ............................................................................ 69 3.2.8 Ruído ....................................................................................................... 70 3.3 Licenciamento ambiental............................................................................. 70 4.0 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 73 4.1 Matérias-Primas .......................................................................................... 74 4.1.1 Argila ....................................................................................................... 74 4.1.2 Fibra de Celulose .................................................................................... 75 4.2 Caracterização das Matérias-Primas........................................................... 81 4.2.1 Análise química ........................................................................................... 81 4.2.2 Análise mineralógica ................................................................................... 81 14 4.2.3 Análise térmica ........................................................................................... 81 4.2.4 Propriedades Físicas .................................................................................. 82 4.2.4.1 Análise granulométrica ............................................................................. 82 4.2.4.2 Análise de plasticidade ............................................................................ 82 4.2.4.3 Análise residual ........................................................................................ 82 4.3 Preparação das massas cerâmicas ............................................................ 83 4.3.1 Formulações ............................................................................................ 83 4.4 Preparação dos corpos de prova ................................................................ 84 4.5 Secagem dos corpos de prova .................................................................... 84 4.6 Queima dos corpos de prova ...................................................................... 85 4.7 Resfriamento dos corpos de prova .............................................................. 85 5.0 RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................... 88 5.1 Caracterização das matérias-primas ........................................................... 88 5.1.1 Caracterização Química .......................................................................... 88 5.1.2 Caracterização Mineralógica .................................................................... 89 5.1.3 Análise Térmica ....................................................................................... 90 5.1.4 Análise Granulométrica ............................................................................ 92 5.1.5 Análise de plasticidade ............................................................................ 93 5.1.6 Análise residual ....................................................................................... 94 5.2 Caracterização dos corpos de prova após a queima ................................... 95 5.2.1 Análise por DRX ...................................................................................... 95 5.2.2 Caracterização física dos corpos de prova nas formulações para telhas .... 97 Ensaio tecnológico para telhas ............................................................................ 97 5.2.2.1 Retração linear – secagem e queima ....................................................... 97 5.2.2.2 Retração linear de queima das formulações de telhas ............................. 98 5.2.2.3 Perda ao fogo .......................................................................................... 99 5.2.2.4 Absorção de água .................................................................................. 100 5.2.2.5 Porosidade aparente .............................................................................. 102 5.2.2.6 Massa específica aparente .................................................................... 103 5.2.2.7 Tensão de ruptura à flexão .................................................................... 104 15 5.2.2.8 Análise macroestrutural de formulação de telhas .................................. 106 5.2.2.9 Análise da microestrutura da superfície da fratura de formulação de telhas 108 5.2.3.1 Retração linear de secagem .................................................................. 109 5.2.3.2 Retração linear de queima das formulações de bloco ........................... 110 5.2.3.3 Perda ao fogo ........................................................................................ 111 5.2.3.4 Absorção de água ............................................................................... 112 5.2.3.6 Massa específica aparente .................................................................... 115 5.2.3.8 Análise macroestrutural de formulação de blocos .................................. 117 5.2.3.9 Análise da microestrutura da superfície da fratura de formulação de blocos ..................... ...................................................................................................... 120 6.0 CONCLUSÕES ............................................................................................ 121 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................... 122 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 123 16 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI 1.0 INTRODUÇÃO A degradação ambiental é um dos principais temas abordados nos últimos anos. Relaciona-se principalmente a inadequada exploração dos recursos naturais, as formas de utilização e principalmente ao descarte ineficiente desses. Essa abordagem tem levado a sociedade a buscar alternativas de comportamento em todos os setores. Com a intensa industrialização, advento de novas tecnologias, crescimento populacional e aumento de pessoas em centros urbanos e diversificação do consumo de bens e serviços, os resíduos se transformaram em graves problemas urbanos com um gerenciamento oneroso e complexo considerando-se volume e massa acumulados. Os problemas se caracterizam por escassez de área de deposição de resíduos causadas pela ocupação e valorização de área urbanas, altos custos sociais no gerenciamento de resíduos, problemas de saneamento público e contaminação (Ângulo et al., 2001). Nesse contexto de degradação ao meio ambiente, cujos danos a maioria das vezes são irreparáveis, ganha relevância a quantidade de resíduos gerados nas áreas urbanas, os conhecidos resíduos sólidos urbanos (RSU). É um elevado volume de lixo que na maioria das vezes não possui uma destinação final adequada ocasionando um dos principais problemas encontrados na sociedade atual. Da composição desses resíduos urbanos podemos destacar os resíduos oriundos da construção e demolição, também conhecidos como RCD, o que representa um percentual bastante significativo com relação ao volume total. No Brasil, tem-se também observado um crescimento na participação dos RCD no total dos RSU das cidades brasileiras. Diversas pesquisas apontam que os RCD já representam, em média, 50% dos RSU produzidos nas cidades brasileiras, com uma taxa média de geração em torno de 0,52 tonelada/hab. (Cabral, 2007 apud Oliveira et al.,2011). A preocupação com resíduos sólidos urbanos no país, de forma geral, é recente. A Resolução nº.307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA (2002), em vigor desde 02 de janeiro de 2003, estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Direciona normas 17 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI que disciplinam as atividades econômicas e de desenvolvimento urbano responsáveis por esse quadro de degradação. Diante desse contexto, percebeu-se a necessidade de ampliação dos estudos voltados a análise dos problemas dos resíduos de construção e demolição (RCD), de forma a contribuir com uma melhor gestão/destinação da gestão desses resíduos locais. Dentre os materiais descartados das construções pode-se ressaltar o papel kraft natural multifoliado oriundo dos sacos de cimento. Quase que inevitavelmente os sacos de cimento não são reaproveitados ou reciclados após seu uso nas obras, gerando assim um enorme volume desse resíduo (Buson, 2009). As vendas de cimento no período de janeiro a maio de 2014 alcançaram 28,8 milhões de toneladas de cimento. Na comparação com o mesmo período de 2013, apresentaram crescimento de 2,8% (SNIC, 2014). Segundo SNIC (2014), a produção mundial do cimento em 2012 foi da ordem de 3.702 milhões de toneladas. Em 2012 o Brasil foi o quinto maior produtor mundial com 68,8 milhões de toneladas. Segundo o relatório anual 2013 do SNIC, em 2013 a produção ultrapassou os 70 milhões de toneladas. Desse total, 66% são ensacados, o que equivale a um valor superior a 46 milhões de toneladas e 34% são vendidos a granel. Ao considerar que cada embalagem dos sacos de 50 kg de cimento tem em média 150g, no Brasil ensacou-se aproximadamente 924 milhões dessas embalagens somente em 2013 e, conforme já comentado, quase que sua totalidade foi descartado de forma irregular sem nenhum tratamento (SNIC,2014). No presente trabalho foi optado por a reciclagem das embalagens de sacos de cimento devido fazer parte de um dos mais expressivos resíduos da construção civil nas construtoras do município de Teresina e, comparando com os demais resíduos, possui bastante potencial a ser explorado até então com pouco ou nenhum reaproveitamento após uso primário. A fibra das embalagens de papel kraft natural tem excelentes propriedades física e mecânicas. Esse papel é fabricado seguindo as especificações rígidas exigidas pelos fabricantes e usuários de sacos multifoliados. Estas especificações exigem uma celulose sulfato de alta resistência, de fibra longa, que é geralmente empregada pura (Buson,2009). 18 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Nesse contexto o presente trabalho apresenta uma alternativa para a reciclagem das embalagens de sacos de cimento transformando-as em fibras de celulose, as quais serão utilizadas como matéria-prima utilizada na formulação de massa cerâmica tradicional utilizada para produção de blocos e telhas, insumos básicos utilizados na construção civil principalmente nas edificações habitacionais. Justificando também sua aplicação prática tendo em vista o elevado déficit habitacional do Brasil que atualmente é de aproximadamente 5.792.508 milhões de domicílios, sendo que 1.791.437 milhões estão localizados somente na região Nordeste (FJP/CEI, 2012). A incorporação de resíduos em materiais cerâmicos deve levar em consideração alguns aspectos importantes, que dizem respeito à compatibilidade entre o resíduo e o material cerâmico, assim como a compatibilidade do produto obtido com o meio ambiente (Balaton, 2002). Isto significa dizer que o uso de um resíduo como matéria-prima secundária não deve comprometer o produto final, em relação a parâmetros estabelecidos para qualidade do produto, e nem tão pouco causar qualquer tipo de dano ambiental (Modesto, 2003). A utilização desse resíduo (embalagens de sacos de cimento) representa um grande impacto positivo ao meio ambiente. Além da destinação eficiente do resíduo tem-se que levar em consideração a exploração mineral de argilas, que por sua vez terá como consequência aumento da vida útil das jazidas, uma vez que parte desta está sendo substituída pelas fibras oriunda da reciclagem. Sua reciclagem é realizada por processamento simples, onde não é necessário a utilização de nenhum produto químico, evitando possíveis contaminações com o processo para o meio. No presente trabalho procede-se a avaliação de diferentes formulações entre a argila e a fibra de celulose reciclada para posterior fabricação de blocos e telhas cerâmicas. Estudos iniciais de caracterização das matérias-primas serão realizados, bem como caracterização dos produtos dessas formulações. Dentre as análises realizadas pode-se destacar a influência da incorporação do resíduo com a retração linear, absorção de água, porosidade aparente, massa específica aparente e resistência mecânica a flexão dos produtos produzidos. 19 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI 1.1 Hipótese As fibras oriundas da reciclagem de embalagens de sacos de cimento podem ser incorporadas à formulação da massa cerâmica tradicional agregando características e influenciando nas propriedades tecnológicas da ceramica estrutural. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Constatar a viabilidade técnica-econômica e ambiental da utilização da fibra reciclada das embalagens de saco de cimento como matéria-prima de produção de cerâmica estrutural, verificando o teor máximo admissível de incorporação dessa fibra à mistura cerâmica de forma atender as normas e especificações técnicas vigentes relacionadas a produção de blocos e telhas cerâmicas. 1.2.2 Objetivos Específicos Caracterizar as matérias-primas e suas formulações de massa com diferentes teores de fibras de papel kraft; Verificar o comportamento das amostras com as diferentes proporções de fibras de acordo com a variação nas temperaturas de queima das misturas; Caracterizar quimicamente e mineralógicamente as matérias-primas; Estudar as propriedades tecnológicas das amostras (umidade de extrusão, teor de impurezas/resíduos, retração linear de secagem e de queima, resistência seca, perda ao fogo, resistência conforme temperatura de queima, absorção de água, porosidade aparente e massa específica aparente); Analisar a microestrutura e a macroestrutura das amostras ensaiadas; 1.3 Organização da dissertação A presente dissertação está estruturada em sete capítulos, conforme detalhamento a seguir: No capítulo 1 – Introdução – é feita a apresentação do trabalho com seus elementos para compreensão, consistindo da introdução, hipótese, objetivos e organização da dissertação. No capítulo 2 – Cerâmica estrutural – são apresentados aspectos bibliográficos para o embasamento conceitual dos termos empregados no desenvolvimento do trabalho, constando de uma pesquisa bibliográfica referente ao perfil da indústria cerâmica no Brasil e no Piauí, os produtos da ceramica estrutural, as matérias-primas e suas caracterizações. 20 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI No capítulo 3 – Utilização de resíduos da construção civil – é apresentado um breve histórico acerca dos resíduos, seus impactos nos ambientes urbanos, as legislações brasileiras aplicáveis, a reciclagem dos resíduos e os impactos da legislação. Foi criado um tópico nesse capítulo relacionado a questão ambiental, onde consta dados do desenvolvimento sustentável e meio ambiente, os impactos ambientais da indústria cerâmica, o licenciamento ambiental da atividade e as principais vantagens ambientais da reciclagem. No capítulo 4 – Materiais e métodos – são apresentados os materiais e os métodos utilizados na dissertação. Esse capítulo está divido em tópicos, a saber: matérias-primas – argila e fibra de celulose; caracterização das matérias-primas – análise química, análise mineralógica, análise térmica; propriedades físicas – análise granulométrica, análise de plasticidade e análise residual; preparação das massas cerâmicas; formulações; preparação dos corpos de prova; secagem, queima e resfriamento dos corpos de prova; caracterização dos corpos de prova queimados – difração de raios X, retração linear, perda ao fogo, absorção de água, porosidade aparente, massa específica aparente, tensão de ruptura a flexão, análise micro estrutural e análise macroestrutural. No capítulo 5 – Resultados e discussões – são analisadas as caraterizações das matérias-primas e dos corpos de prova conforme temperatura de queima e as respectivas discussões. No capítulo 6 – Conclusões – apresenta as principais conclusões baseadas nos resultados da pesquisa. No capítulo 7 – Sugestões para trabalhos futuros – são abordados possíveis pontos /condições de aplicação do tema e metodologia propostos em condições adversas e não analisadas na presente dissertação. Por fim estão a lista de referências e os respectivos anexos do trabalho. 21 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI 2.0 CERÂMICA ESTRUTURAL 2.1 Indústria Cerâmica A indústria da cerâmica é uma das mais antigas do mundo, em vista da facilidade de fabricação e abundância de matéria-prima – o barro. Já no período neolítico o homem pré-histórico calafetava as cestas de vime com o barro. Mais tarde verificou que podia dispensar o vime, e fez potes só de barro. Posteriormente, constatou que o calor endurecia esse barro, e surgiu a cerâmica propriamente dita, que, nessa fase da humanidade, foi largamente empregada para os mais diversos fins. Mais tarde, com o uso de barros diversos, deve ter usado argilas com mais baixo ponto de fusão, e surgiram os vidrados e vitrificados (Bauer, 2011). Estudos arqueológicos indicam a ocorrência de utensílios cerâmicos a partir do período Pré-neolítico (25000 a.C.) E de materiais de construção, como tijolos, telhas e blocos, por volta de 5000 a 6000 a.C. (SEBRAE, 2008). Segundo pesquisa da Faculdade de Tecnologia de Lisboa, peças cerâmicas elaboradas com argila datam de 4000 a.C., elaboradas com formas bem definidas, mas utilizando processo que não contemplava o cozimento das mesmas. Datam também dessa mesma época os indícios da utilização de tijolos na construção, fabricados na Mesopotâmia. Os primeiros tijolos queimados datam de 3000 a.C., cuja aplicação estava voltada aos revestimentos externos e muros de proteção, apesar da técnica ter se desenvolvido séculos antes, especialmente na queima de utensílios domésticos. E entre 1600 e 1100 a.C. Foram encontrados, onde ficava localizada a Babilônia, alguns exemplares de tijolos queimados (SEBRAE, 2008). Para a Associação Brasileira de Cerâmica (ABC), a cerâmica compreende todos os materiais inorgânicos, não metálicos, obtidos geralmente após tratamento térmico em temperaturas elevadas, possuindo um setor cerâmico amplo e heterogêneo o que induz a dividi-lo em sub-setores ou segmentos em função de diversos fatores como matérias-primas, propriedades e áreas de utilização. Dessa forma, a seguinte classificação, em geral, é adotada: cerâmica vermelha, materiais de revestimento, cerâmica branca, materiais refratários, isolantes térmicos, fitas e corantes, abrasivos, vidro, cimento e cal e cerâmica de alta tecnologia/cerâmica avançada. 22 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Cerâmica vermelha - compreende aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos, blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas expandidas) e também utensílios de uso doméstico e de adorno; Materiais de revestimento - são aqueles materiais, na forma de placas usados na construção civil para revestimento de paredes, pisos, bancadas e piscinas de ambientes internos e externos; Cerâmica branca - compreendendo materiais constituídos por um corpo branco e em geral recobertos por uma camada vítrea transparente e incolor e que eram assim agrupados pela cor branca da massa, necessária por razões estéticas e/ou técnicas; Materiais Refratários - compreende uma diversidade de produtos, que têm como finalidade suportar temperaturas elevadas nas condições específicas de processo e de operação dos equipamentos industriais, que em geral envolvem esforços mecânicos, ataques químicos, variações bruscas de temperatura e outras solicitações. Isolantes Térmicos – os quais subdividem-se em refratários isolantes que se enquadram no segmento de refratários; isolantes térmicos não refratários que compreende os produtos como vermiculita expandida, sílica diatomácea, diatomito, silicato de cálcio, lã de vidro e lã de rocha que podem ser utilizados dependendo do tipo de produto até 1100 ºC e as fibras ou lãs cerâmicas que apresentam características físicas semelhantes as citadas no isolante térmico não refratário, porém apresentam composições tais como sílica, sílica-alumina, alumina e zircônia, que dependendo do tipo, podem chegar a temperaturas de utilização de 2000º C ou mais; Fritas e Corantes - são importantes matérias-primas para diversos segmentos cerâmicos que requerem determinados acabamentos. Frita (ou vidrado fritado) é um vidro moído, fabricado por indústrias especializadas a partir da fusão da mistura de diferentes matérias-primas. É aplicado na superfície do corpo cerâmico que, após a queima, adquire aspecto vítreo. Este acabamento tem por finalidade aprimorar a estética, tornar a peça impermeável, aumentar a resistência mecânica e melhorar ou proporcionar outras características. Corantes constituem-se de óxidos puros ou pigmentos inorgânicos sintéticos obtidos a partir da mistura de 23 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI óxidos ou de seus compostos. Os pigmentos são fabricados por empresas especializadas, inclusive por muitas das que produzem fritas, cuja obtenção envolve a mistura das matérias-primas, calcinação e moagem. Os corantes são adicionados aos esmaltes (vidrados) ou aos corpos cerâmicos para conferir-lhes colorações das mais diversas tonalidades e efeitos especiais. Abrasivos - parte da indústria de abrasivos, por utilizarem matérias-primas e processos semelhantes aos da cerâmica, constituem-se num segmento cerâmico. Entre os produtos mais conhecidos podemos citar o óxido de alumínio eletrofundido e o carbeto de silício; Vidro, Cimento e Cal - São três importantes segmentos cerâmicos e que, por suas particularidades, são muitas vezes considerados à parte da cerâmica; Cerâmica de Alta Tecnologia/Cerâmica Avançada - os aprofundamentos dos conhecimentos da ciência dos materiais proporcionaram ao homem o desenvolvimento de novas tecnologias e aprimoramento das existentes nas mais diferentes áreas, como aeroespacial, eletrônica, nuclear e muitas outras e que passaram a exigir materiais com qualidade excepcionalmente elevada. Tais materiais passaram a ser desenvolvidos a partir de matérias-primas sintéticas de altíssima pureza e por meio de processos rigorosamente controlados. Estes produtos, que podem apresentar os mais diferentes formatos, são fabricados pelo chamado segmento cerâmico de alta tecnologia ou cerâmica avançada. Eles são classificados, de acordo com suas funções, em: eletroeletrônicos, magnéticos, ópticos, químicos, térmicos, mecânicos, biológicos e nucleares. Os produtos deste segmento são de uso intenso e a cada dia tende a se ampliar. Como alguns exemplos, podemos citar: naves espaciais, satélites, usinas nucleares, materiais para implantes em seres humanos, aparelhos de som e de vídeo, suporte de catalisadores para automóveis, sensores (umidade, gases e outros), ferramentas de corte, brinquedos, acendedor de fogão, etc. 2.2 Indústria Cerâmica Brasileira O setor cerâmico no Brasil constitui um dos maiores conglomerados industriais do gênero no mundo, tendo uma grande importância econômica para o Brasil, com uma participação no PIB brasileiro de quase 1,0%, além de apresentar características de capilaridade no cenário da economia nacional 24 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI que o distingue de todos os outros setores, envolvendo micros, pequenas, médias e grandes empresas em todos os estados, no interior e nas regiões metropolitanas, e em boa parte dos municípios do país, envolvendo produtos derivados de minerais não-metálicos para a construção civil, como elementos estruturais e para revestimento, louças domésticas, sanitárias e de decoração, assim como de uso específico, como isoladores elétricos, tijolos refratários, tubulações sanitárias, abrasivos, biocerâmica e isolantes térmicos (INT, 2012). A abundância de matérias-primas naturais, fontes alternativas de energia e disponibilidade de tecnologias práticas embutidas nos equipamentos industriais, fizeram com que as indústrias cerâmicas brasileiras evoluíssem rapidamente e muitos tipos de produtos dos diversos segmentos cerâmicos atingissem nível de qualidade mundial com apreciável quantidade exportada (ABC, 2015). As regiões que mais se desenvolveram foram a SUDESTE e a SUL, em razão da maior densidade demográfica, maior atividade industrial e agropecuária, melhor infra-estrutura, melhor distribuição de renda, associado ainda as facilidades de matérias-primas, energia, centros de pesquisa, universidades e escolas técnicas. Portanto, são nelas onde se tem uma grande concentração de indústrias de todos os segmentos cerâmicos. Convém salientar que as outras regiões do país têm apresentado um certo grau de desenvolvimento, principalmente no Nordeste, onde tem aumentado a demanda de materiais cerâmicos, principalmente nos segmentos ligados a construção civil, o que tem levado a implantação de novas fábricas cerâmicas nessa região (ABC, 2015). O segmento de cerâmica vermelha brasileiro integra o ramo de produtos de minerais não-metálicos da Indústria de Transformação, fazendo parte, juntamente com outras indústrias, como as de cerâmica de revestimento, sanitários, indústria cimenteira e vidreira, do conjunto de cadeias produtivas que compõem o Complexo da Construção Civil. Tem como atividade a produção de uma grande variedade de materiais, como blocos de vedação e estruturais, telhas, tijolos maciços, lajotas e tubos, além de produtos para fins diversos como argilas piroexpandidas, objetos ornamentais e utensílios domésticos. A diversidade de produtos é muito elevada em função das exigências do mercado consumidor que, muitas vezes, induzem uma variedade de dimensões que acabam afetando a padronização das peças. (MME, 2009). 25 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Este segmento é abastecido por um grande número de unidades produtivas de argilas comuns distribuídas em todos os estados brasileiros, caracterizada, na sua grande maioria, por micro e pequenas empresas, geralmente de estrutura familiar, atuando muitas vezes de maneira informal (MME, 2009). Para Cabral Junior (2008), trata-se de um setor com uma estrutura empresarial bastante assimétrica, pulverizada e de capital estritamente nacional, no qual coexistem pequenos empreendimentos familiares artesanais (olarias, em grande parte não incorporadas nas estatísticas oficiais), cerâmicas de pequeno e médio porte, com deficiências de mecanização e gestão, e empreendimentos de médio a grande porte (em escala de produção) de tecnologia mais avançada (processos mais automatizados, com preparação melhor da matéria-prima, secagem forçada e fornos de queima semi-contínua ou contínua). Segundo a Associação Nacional da Indústria Cerâmica - ANICER (2015) o parque cerâmico brasileiro é constituído por aproximadamente 6.903 cerâmicas e olarias e com consumo médio de 10,3 milhões de toneladas de argila por mês. Dessas indústrias 4.346 (63%) são responsáveis pela produção mensal de 4 bilhões de toneladas de blocos/tijolos e 2.547 (36%) são responsáveis pela produção mensal de 1,3 bilhões de toneladas de telhas. Além da expressiva produção, a indústria de cerâmica vermelha é responsável pela geração de 293 mil empregos diretos, aproximadamente 900 mil empregos indiretos, com faturamento anual de 18 bilhões de reais, fazendo correspondência a 4,8% da Indústria da Construção Civil. As informações oficiais (DNPM – Anuário Mineral Brasileiro) não refletem a realidade do segmento, tanto no número de empresas atuantes quanto da quantidade produzida, estimando-se que a produção de argila seja muito maior do que os dados oficiais captados. As peculiaridades da mineração de argilas para cerâmica vermelha, pouco estruturada formalmente, predominando como atividade subsidiária à manufatura cerâmica e com ampla distribuição no território nacional, faz com que esse segmento da mineração apresente uma grande deficiência em dados estatísticos e indicadores de desempenho, instrumentos indispensáveis para acompanhar o seu desenvolvimento e monitorar a sua competitividade. Dessa forma, parcela importante das análises efetuadas neste perfil deriva de informações obtidas a partir da indústria de cerâmica vermelha – segmento 26 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI de transformação agregada à mineração de argila, de consulta a relatórios e publicações técnicas de centros de pesquisa (IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas e Cetem – Centro de Tecnologia Mineral), e de representantes empresariais e consultores que atuam diretamente com o setor mínero- cerâmico. (Anuário Estatístico, 2011 – Setor de Transformação de Não-Metálicos – Ministério de Minas e Energia). 2.3 Perfil da Indústria Cerâmica no Piauí A argila é abundante no Estado do Piauí, com suas principais reservas localizadas nos municípios de Teresina, Campo Maior, Picos, Piracuruca, Jaicós, Parnaíba, Valença, Floriano e José de Freitas. Apresentam cores e tonalidades variadas, predominando a cinza médio a escuro, além das tonalidades esverdeadas, amareladas, avermelhadas e amarronzadas, sendo estas duas última mais evidentes na superfície exposta das argilas das várzeas do rio Parnaíba (CEPRO,1996). Segundo o SINDUSCON (2014), existem aproximadamente 96 indústrias cerâmicas no Estado do Piauí. Para a Federação da Indústria do Piauí, esse número é de aproximadamente 92 fábricas, com uma produção média de 30.000,00 milheiros de tijolos/mês e de 15.000,00 milheiros de telhas/mês. Essa produção atendendo a demanda anual da construção civil do estado. Os principais produtos cerâmicos são blocos de vedação (principalmente tijolo 6 furos), telhas (romana, colonial, canal, portuguesa e cumeeira) e tijolos maciços. A indústria cerâmica, referência regional, exporta seus produtos para estados vizinhos, como Pernambuco, Maranhão, Ceará e Pará. A demanda de argila é da ordem de 96.000 t/mês e a produção efetiva, de 82.000 t/mês, levando a uma relação da ordem de 1.900 kg/milheiro. A produção média por empresa é de 716 milheiros/empresa.mês, valor acima da média do Nordeste, com 67% delas entre 200 e 1.000 milheiros/mês e 18% acima de 1.000 milheiros/mês. Os maiores centros produtores são, pela ordem, os municípios da Grande Teresina (42% da produção estadual), Campo Maior (10%) e Parnaíba (4%). Na grande Teresina operam 32 cerâmicas, 24 delas em Teresina, totalizando uma produção de 18.000 milheiros/mês - média de 563 milheiros/empresa.mês (SCHWOB, 2007). 27 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Segundo o Panorama da Indústria Cerâmica do Brasil, elaborado pela Swisscontact, aproximadamente 50% das jazidas de argila do Piauí se localiza a menos de 5km da fábrica e torno de 40%, entre 5 e 10 km. Apenas 25% das empresas estoca argila por mais de um ano e 55% estoca por no máximo meses. Cerca de 60% executa a secagem artificial e natural, sendo que apenas 14% executa a secagem artificial, através de secadores semi-contínuos providos de termo higrômetros e termostatos. Conforme observado em visitas técnicas in loco nas indústrias cerâmicas do interior do estado, a produção encontra-se restrita, ainda, à fabricação de produtos estruturais - tijolos e telhas – e atrasada com processos de fabricação obsoletos, sem controle de variáveis importantes na produção, o que torna o setor insuficiente para suprir possíveis demandas do mercado externo bem como atender às exigências ambientais aplicáveis. Como consequência observa-se a dificuldade dessas empresas em concorrer com qualidade e preço com os produtos provenientes de fora do estado e/ou da região da grande Teresina bem como trabalharem em conformidade com os órgãos ambientais através do licenciamento ambiental válido. Esses fatores decorrem da inexpressiva e/ou ausência de modernização das indústrias e de baixos investimentos em tecnologia, o que dificulta a introdução de produtos e processos produtivos competitivos, em termos de preço e qualidade bem como a utilização racional dos recursos naturais do meio ambiente. Segundo o Instituto Nacional de Tecnologia INT (2012), o escoamento da produção do estado atinge os estados de Pernambuco (principalmente, Petrolina), Pará, Ceará (Serra da Ibiapaba) e Bahia (principalmente, Juazeiro). Nas cerâmicas do estado predomina o emprego de lenha e resíduos vegetais, principalmente casca de babaçu, como combustível nos fornos, com uma demanda da ordem de 50.000 m³/mês (lenha e resíduos). A parcela de lenha, de preço mais elevado, equivale a cerca de 60% da demanda (27.000 m³/mês). O tipo de forno mais empregado é a intermitente reversível circular, tipo abóboda, que representa cerca de 80% do parque produtivo. Em geral, possuem 6 fornalhas perimetrais e diâmetro interno entre 6 e 10 metros. Os fornos do tipo Hoffman representam uma parcela de 11% e a parcela restante é composta de fornos de tipos diversos, como Federico, Paulistinha e Campanha. 28 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Tendo em vista o caráter promissor da indústria cerâmica brasileira, cuja produção tem participação de cerca de 1% do PIB, sendo que 40% desta participação representam o segmento da Cerâmica Vermelha Estrutural (Bustamante & Bressiani, 2000), torna-se iminente o desenvolvimento deste setor no Estado do Piauí, principalmente devido a perspectivas favoráveis como disponibilidade de matérias-primas. Com relação a disponibilidade e disposição de matéria-prima do estado do Piauí verificamos a formação de polos de mineração, dos quais podemos destacar o pólo de Mineração do Território Planície Litorânea , Mineração do Território dos Cocais, Mineração do Território Carnaubais , Mineração do Território Entre Rios, Mineração do Território Vale do Rio Guaribas, Mineração do Território Vale do Canindé, Mineração do Território Tabuleiros dos Rios Piauí e Itaueira , Mineração do Território Tabuleiros do Alto Parnaíba, Mineração do Território Chapada das Mangabeiras e pólos de Mineração do Território Serra da Capivara. Na figura 01 são apresentados os pólos de mineração do estado. 29 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Figura 1 - Polos de mineração do estado do Piauí Fonte: CEPRO, 2005 2.4 Produtos Cerâmicos Os produtos cerâmicos são representados no mercado de materiais de construção por uma imensa variedade, diferenciando-os conforme a origem, a matéria-prima, o processo de fabricação e a finalidade a qual se destinam. Poderiam ser agrupados conforme a finalidade em: produtos para alvenaria (de vedação e estrutural), para cobertura e para canalizações, esses 30 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI normalmente denominados cerâmica vermelha ou estrutural, ou ainda produtos básicos de cerâmica; produtos de revestimento (de parede interna/externa e de piso), produtos de acabamentos e utilitários (cantoneiras, cabideiros, louças sanitárias e acessórios), estes denominados cerâmica branca ou de louça, cerâmica de grês, ou cerâmica de alto grau de vitrificação conforme o caso, e produtos especiais como as cerâmicas refratárias - normalmente para alvenarias (Bauer, 2011). A base dos produtos cerâmicos, a argila, é caracterizada pela capacidade de se tornar plástica ao ser misturada com água e pela sua resistência após o cozimento e desidratação. Os materiais cerâmicos são fabricados a partir de matérias-primas classificadas em naturais e sintéticas. As matérias-primas naturais mais utilizadas industrialmente são: argila, caulim, quartzo, feldspato, filito, talco, calcita, dolomita, magnesita, cromita, bauxita, grafita e zirconita. As sintéticas incluem entre outras, a alumina (óxido de alumínio) sob diferentes formas (calcinada, eletrofundida e tabular); carbeto de silício e produtos químicos inorgânicos os mais diversos (ANFACER, 2014). Os produtos da cerâmica vermelha ou estrutural caracterizam-se pela cor vermelha de seus produtos, representados por tijolos, blocos, telhas, tubos, lajes para forro, lajotas, vasos ornamentais, agregados leve de argila expandida e outros (SEBRAE, 2008). O quadro abaixo relaciona os setores cerâmicos, bem como seus produtos e as respectivas matérias-primas utilizada e processo de fabricação. Nesse sentido, a partir da matéria-prima utilizada identificam-se as cerâmicas tradicionais (ou silicáticas) de base argilosa, tais como: cerâmica estrutural ou vermelha, cerâmica branca e de revestimentos (SEBRAE, 2008). 31 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Quadro 1 - Principais setores cerâmicos, matérias-primas e processo de fabricação Fonte: SEBRAE, 2008 No caso específico desse trabalho será dada atenção a dois produtos do setor de cerâmica vermelha, quais sejam, blocos e telhas, conforme apresentação a seguir. 2.4.1 Blocos cerâmicos Segundo a NBR 15270, o bloco cerâmico de vedação é o componente da alvenaria de vedação que possui furos prismáticos perpendiculares às faces que os contêm. O bloco cerâmico para vedação é produzido para ser usado especificamente com furos na horizontal, onde também pode ser produzido para 32 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI utilização com furos na vertical. Os blocos cerâmicos para vedação constituem as alvenarias externas ou internas que não têm a função de resistir a outras cargas verticais, além do peso da alvenaria da qual faz parte. Quanto suas identificações devem trazer, obrigatoriamente, gravado em uma das suas faces externas, a identificação do fabricante e do bloco, em baixo relevo ou reentrância, com caracteres de no mínimo 5 mm de altura, sem que prejudique o seu uso. Com relação às características visuais o bloco cerâmico de vedação não deve apresentar defeitos sistemáticos, tais como quebras, superfícies irregulares ou deformações que impeçam o seu emprego na função especificada. Para Bauer (2011), são blocos fabricados com matéria-prima (argila) em uma linha de produção bem definida, com preparação da matéria-prima em equipamentos como desagregadores, homogeneizadores e laminadores, consistindo em uma matéria-prima de qualidade superior à utilizada na fabricação dos tijolos comuns, e são moldados em marombas saindo da boquilha (matriz) em fieiras contínuas, onde são cortados nos tamanhos desejados quanto ao seu comprimento. Ocorre que a variedade de matrizes existentes no mercado é muito grande, e como consequência os tipos de blocos, encontrando-se variações nas texturas das faces dos blocos, na quantidade e tipo de furos, na espessura das paredes e também nas dimensões, o que acaba limitando o domínio do profissional de engenharia sobre este tipo de produto. Segundo Araújo et al (2000), são materiais que servem para dividir compartimentos ou vedá-los. Quando sobrepostos e rejuntados formam o que se chama de alvenaria ou, vulgarmente, paredes. Os blocos também podem desempenhar função estrutural, formando alvenarias portantes. Assim, os grupos de blocos cerâmicos podem ser definidos como maciços e vazados. Suas principais características são: 33 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Quadro 2 - Características dos blocos maciços e vazados PRODUTO CARACTERÍSTICAS MACIÇOS (TIJOLOS) Possui todas as faces plenas de material, podendo apresentar rebaixos de fabricação em uma das faces de maior área; Podem ser fabricados por extrusão ou prensagem; Os tijolos não devem apresentar defeitos sistemáticos tais como trincas, quebras, superfícies irregulares, deformações e desuniformidade na cor; Devem possuir ausência de eflorescências, queima uniforme, formato paralelepipédico e podem apresentar rebaixos de fabricação em uma das faces de maior área; Dimensões dos tijolos comuns: 19 a 9 por 5,7 cm e 19 a 9 por 9 cm; Absorção de água entre 15 e 25% VAZADOS (VEDAÇÃO OU ESTRUTURAIS) Possuem furos paralelos a uma das faces; Tipos: De vedação – suportam somente o peso próprio. Furos na vertical ou na horizontal. (Figura); Estruturais – suportam cargas previstas em alvenaria estrutural e apresentam furos na vertical, podendo ser de três tipos: blocos com paredes maciças; blocos com paredes vazadas e blocos perfurados. (Figura) Dimensões são variadas, conforme matriz utilizada especificado em norma; Absorção de água total: entre 8 e 22%. Fonte: NBR 15270 As figuras seguintes representam os diversos tipos de blocos cerâmicos, conforme NBR 15270-3. Figura 2 - Apresentação de blocos cerâmicos de vedação. a) Tijolo maciço; b) furos na horizontal ; c) furos na vertical Fonte: NBR 15270-3 34 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Figura 3 - Apresentação de blocos cerâmicos estruturais. a) paredes maciças (com paredes internas maciças); b) paredes maciças (com paredes internas vazadas); c) paredes vazadas; d) perfurado. Fonte: NBR 15270-3 Dependendo do tipo de bloco cerâmico são exigidos limites mínimos que devem ser respeitados com relação à resistência à compressão, conforme representado no quadro a seguir. Quadro 3 - Valores limites de algumas características cerâmicas de argilas para fabricação de tijolos maciços, blocos furados e telha Massa cerâmica (manual, extrusada, prensada) para a fabricação de Tijolos maciços Tijolos furados Telhas TRF da massa seca a 110 ºC (mínimo) 15 kgf/cm² 25 kgf/cm² 30 kgf/cm² TRF da massa após queima (mínimo) 20 kgf/cm² 55 kgf/cm² 65 kgf/cm² Absorção d’água após queima (máximo) - 25,00% 20,00% Fonte: SANTOS, 1989 Determinadas as características cerâmicas no estado cru e após a queima, de cada tipo de massa cerâmica (manual, extrusada, prensada), comparam-se os valores medidos com os valores limites recomendados, determinados em laboratório, para que uma massa cerâmica possa ser usada na fabricação de tijolos, telhas e ladrilhos de piso (Santos, 1989). Conforme a NBR 15.270 (Blocos), o teor de absorção de água para blocos cerâmicos varia entre 8 a 22% de umidade. 2.4.2 Telhas cerâmicas Segundo a NBR 15310, telhas cerâmicas são componentes destinados à montagem de cobertura estanque à água, de aplicação descontínua. São fabricadas com argila conformada, por prensagem ou extrusão, e queimadas de forma a permitir que o produto final atenda às condições determinadas pela norma. Quanto a sua identificação as telhas cerâmicas devem trazer, obrigatoriamente, a identificação do fabricante e os outros dados gravados em relevo ou reentrância, 35 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI com caracteres de no mínimo 5 mm de altura, sem que prejudique o seu uso. Com relação as características visuais a telha pode apresentar ocorrências tais como esfoliações, quebras, lascados e rebarbas que não prejudiquem o seu desempenho; igualmente são admissíveis eventuais riscos, escoriações, e raspagens causadas por atrito feitas nas telhas durante o seu fabrico, embalagem, manutenção ou transporte. São os materiais cerâmicos usados na confecção de coberturas. Na fabricação das telhas são usados o mesmo processo e a mesma matéria-prima dos tijolos comuns. A diferença está na argila, que deve ser fina e homogênea, pois além da sua aplicação exigir um material mais impermeável, também não deve provocar grandes deformações na peça durante o cozimento (Araújo et al,2000). A matéria-prima (argila) para fabricação da telha deve ser mais fina e homogênea, nem muito gorda nem muito magra, a fim de ser impermeável sem grande deformação no cozimento (Bauer, 2011). Com relação aos tipos de telhas, podemos agrupá-las em duas formas: - Telhas de encaixe – apresentam em suas bordas saliências e reentrâncias que permitem o encaixe/acoplamento entre as telhas. Como exemplo de telha de encaixe encontra-se a telha tipo francesa, a romana e a termoplan. - Telha de capa e canal – apresentam formato de meia-cana, fabricado pelo processo de prensagem, caracterizadas por peças côncavas (canais) que se apoiam sobre as ripas do telhado e por peças convexas (capas) que por sua vez se apoiam nos canais. Figura 4 - Apresentação de telhas cerâmica tipo francesa (a), romana (b). Fonte: Adaptado de Araújo, 2000. 36 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Figura 5 - Apresentação de telhas cerâmica tipo paulista (a), plana de sobreposição (b) Fonte: Adaptado de Araújo, 2000. 2.5 Matérias-Primas da Cerâmica Estrutural 2.5.1 Argilas Argila é um material natural, de textura terrosa, de granulação fina, constituída essencialmente de argilominerais, podendo conter outros minerais que não são argilominerais (quartzo, mica, pirita, hematita, etc.), matéria orgânica e outras impurezas. Os argilominerais são os minerais característicos das argilas; quimicamente são silicatos de alumínio ou magnésio hidratados, contendo em certos tipos outros elementos como ferro, potássio, lítio e outros (ABC, 2015). Em consequência da composição do substrato geológico brasileiro, que apresenta extensas coberturas sedimentares – bacias fanerozóicas e depósitos cenozóicos – aliado à evolução geomorfológica, que propiciou a formação de expressivas coberturas residuais intempéricas, os depósitos de argilas para fins cerâmicos possuem ampla distribuição geográfica em todo território nacional. Segundo o contexto geológico, são distinguidos dois tipos principais de depósitos de argila: argilas quaternárias e argilas de bacias sedimentares (Anuário Estatístico MME, 2011). As argilas quaternárias, relacionadas ao preenchimento de fundo de vales e às planícies costeiras, formam depósitos lenticulares, com espessuras de porte métrico e distribuição em áreas que podem variar de poucos hectares até quilômetros quadrados, variando de acordo com a extensão da planície de inundação. Portentosos pacotes argilosos ocorrem nas diversas bacias sedimentares brasileiras. O adensamento de minas é comum na Bacia Sedimentar do Paraná, em vários aglomerados produtivos nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Sedimentos provenientes de bacias sedimentares são também aproveitados no Rio de Janeiro (Guanabara), 37 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Bahia (Bacia do Recôncavo), estados do Nordeste Oriental (bacias Taquari- Vassouras e Potiguar) e estados do nordeste ocidental (Bacia do Parnaíba), como ilustra a Figura 06. As rochas de interesse cerâmico nas bacias sedimentares são os folhelhos, argilitos, siltitos, ritmitos e outras rochas de natureza pelítica, que são denominadas no jargão cerâmico, genericamente, de “taguás” (Anuário Estatístico MME, 2011). Apesar do grande potencial mineral, é difícil fazer uma estimativa mais precisa das reservas de argila para cerâmica vermelha uma vez que os depósitos e as jazidas, em geral, são mal avaliados e pouco conhecidos. As principais jazidas brasileiras estão localizadas geralmente próximas aos pólos produtores de cerâmica vermelha e estão distribuídas em diversos estados, notadamente nas regiões sudeste e sul. Isto é decorrência das características dessas argilas que são matérias-primas de baixo valor agregado e consumidas em grandes volumes, normalmente sem beneficiamento, não comportando transporte a distâncias longas. O transporte das matérias-primas minerais entre a mina e a unidade fabril tem peso importante nos custos de produção cerâmica, o que acaba por influenciar a competitividade desse segmento industrial. (Anuário Estatístico MME, 2011). Figura 6 - Distribuição das principais bacias sedimentares brasileiras Fonte: Anuário Estatístico MME, 2011 A mineração de argila para cerâmica vermelha constitui uma atividade econômica localmente vinculada à sua indústria de transformação. As matérias- 38 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI primas produzidas caracterizam-se como minérios de baixo valor unitário, fazendo com que sua mineração opere de maneira cativa (trabalhando apenas para a sua própria cerâmica) ou abasteça mercados locais. Mesmo em regiões onde há comercialização dessa matéria-prima, parte significativa dos empreendimentos pertence aos próprios ceramistas que vendem o excedente de suas minas (Anuário Estatístico MME, 2011). 2.5.1.1 Propriedades da argila As propriedades mais importantes das argilas são a plasticidade, a retração e o efeito do calor. Nas cerâmicas, o interesse se situa no peso, resistência mecânica, resistência ao desgaste, absorção de água e duração (Bauer, 2011). Devido aos argilominerais, as argilas na presença de água desenvolvem uma série de propriedades tais como: plasticidade, resistência mecânica a úmido, retração linear de secagem, compactação, tixotropia e viscosidade de suspensões aquosas que explicam sua grande variedade de aplicações tecnológicas (ABC, 2015). As propriedades de uma argila dependem da sua composição mineralógica qualitativa ou quantitativa dos componentes argilominerais e não argilominerais, que levam as propriedades diversas para as indústrias cerâmicas (Santos, 1989). Para Grim (1962) não é possível descrever uma argila por um número pequeno de propriedades e que geralmente os fatores que controlam as propriedades de uma determinada argila possuem: a composição mineralógica dos argilominerais qualitativa e quantitativa, e a distribuição granulométrica das partículas; a composição mineralógica dos não-argilominerais, qualitativa e quantitativa, e a distribuição granulométrica das partículas; teor em eletrólitos quer dos cátions trocáveis, quer de sais solúveis, qualitativa e quantitativamente; natureza e teor de componentes orgânicos; características texturais da argila, tais como forma dos grãos de quartzo, grau de orientação ou paralelismo das partículas dos argilominerais, silificação e outros. Outras propriedades das argilas estão diretamente relacionadas com suas aplicações, e segundo Moore & Reynolds (1997), são elas: tamanho das partículas, plasticidade, retração, refratariedade. 39 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI Segundo Junior (2012), o setor de cerâmica vermelha utiliza a chamada massa monocomponente, composta, basicamente, por argilas, sem a adição de outras substâncias minerais. A formulação da massa é geralmente feita de forma empírica pelo ceramista, por meio da mistura de uma argila “gorda”, caracterizada pela alta plasticidade, granulometria fina e composição essencialmente de argilominerais, com uma argila “magra”, rica em quartzo e menos plástica, que pode ser caracterizada como um material redutor de plasticidade e que permite a drenagem adequada das peças nos processos de secagem e queima. Por meio dessa mistura, busca-se a composição de uma massa que tenha certas funções tecnológicas essenciais, tais como: Plasticidade: propiciar a moldagem das peças; Resistência mecânica da massa verde e crua: conferir coesão e solidez às peças moldadas, permitindo a sua trabalhabilidade na fase pré queima; Fusibilidade: favorecer a sinterização e, consequentemente, a resistência mecânica e a diminuição da porosidade; Drenagem: facilitar a retirada de água e a passagem de gases durante a secagem e queima, evitando trincas e dando rapidez ao processo; Coloração das peças: atribuir cores às cerâmicas por meio da presença de corantes naturais (óxidos de ferro e manganês). 2.5.1.2 Tipos de argila Os principais grupos de argilominerais são caulinita, ilita e esmectitas ou montmorilonita. O que diferencia estes argilominerais é basicamente o tipo de estrutura e as substituições que podem ocorrer, dentro da estrutura, do alumínio por magnésio ou ferro, e do silício por alumínio ou ferro, principalmente, e consequente neutralização das cargas residuais geradas pelas diferenças de cargas elétricas dos íons por alguns cátions (ABC, 2015). Dessa forma, na caulinita praticamente não ocorre substituição, na ilita ocorre substituição e o cátion neutralizante é o potássio; na montmorilonita também 40 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI ocorrem substituições e os cátions neutralizantes podem ser sódio, cálcio, potássio e outros. Isto implica em diferenças nas características de interesse para as diversas aplicações tecnológicas (ABC, 2015). Santos (1989) apresenta em seu livro “Ciência e tecnologia de argilas” um glossário com 58 (cinquenta e oito) tipos de argilas, entre as quais se destacam: Argila: usualmente plástica após ser suficientemente pulverizada e umedecida, rígida após secagem e adquirindo a dureza do aço após queima em uma temperatura elevada adequada. Argila bola (ball-clay): muito plástica, de granulometria muito fina, refratária, tendo geralmente cor marfim após a queima, algumas vezes creme-clara ou branca. As argilas plásticas da região de São Simão (SP) e Oeiras (PI) são exemplos brasileiros de ball-clays. Argila bentonita: composta por minerais do grupo montmorilonita. Caracterizadas por um brilho semelhante ao de ceras ou de pérolas e por um tato untuoso. Argila caulim: queima na cor branca e, na sua forma beneficiada, é constituída principalmente por minerais do grupo da caulinita. Como exemplo, argilas constituídas essencialmente pelo argilomineral caulinita são as mais refratárias, pois são constituídas essencialmente de sílica (SiO²) e alumina (Al²O³), enquanto que os outros, devido à presença de potássio, ferro e outros elementos, têm a refratariedade sensivelmente reduzida. A presença de outros minerais, muitas vezes considerados como impurezas, pode afetar substancialmente as características de uma argila para uma dada aplicação; daí a razão, para muitas aplicações, de se eliminar por processos físicos os minerais indesejáveis. Processo este chamado de beneficiamento (ABC, 2015). Em função principalmente das possibilidades de emprego tecnológico, que são influenciadas pela gênese e pela composição mineralógica do material, em muitos casos as argilas recebem designações como: caulins, bentonitas, argilas refratárias, flint-clays e ball clays (ABC, 2015). As argilas apresentam uma enorme gama de aplicações, tanto na área de cerâmica como em outras áreas tecnológicas. Pode-se dizer que em quase todos os segmentos de cerâmica tradicional a argila constitui total ou parcialmente a 41 LAILSON ANCELMO PPGEM - IFPI composição das massas. De um modo geral, as argilas que são mais adequadas à fabricação dos produtos de cerâmica vermelha apresentam em sua constituição os argilominerais ilita, de camadas mistas ilita-montmorilonita e clorita-montmorilonita, além
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