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EAD - 5º PERÍODO - unidade 1 SÉCULO XVI: Chegada da família real no Brasil 1904: Revolta da vacina 1953:Criação do Ministério da Saúde 1974: Criação do Ministério da Previdência e Assistência Social Fim década 70: Reforma Sanitária 1988: Criação do SUs POLÍTICAS PÚBLICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Leis que norteiam o SUS: Lei Federal 8080/1990 e LF 8142/1990 (participação da comunidade) 8080/1990: 10 FATORES DETERMINANTES E CONDICIONANTES: ALIMENTAÇÃO, MORADIA, SANEAMENTO BÁSICO, MEIO AMBIENTE, TRANSPORTE, LAZER, EDUCAÇÃO, TRABALHO, RENDA E ACESSO À BENS E SERVIÇOS POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL poder em saúde, estabelecimento e diretrizes de planos em saúde necessidade de atenção integral e universal em saúde antes do sus: atenção curativa e medicamentosa depois do sus: prevenção, promoção, reabilitação, proteção. municipio e controle social MODELOS ASSISTENCIAIS DE SAÚDE combinação de procedimentos e ações tecnológicas… 1. médico privatista: curativo, procura o sus apenas quando está doente 2. sanitarista: controle de agravos, campanhas e programas de saude 3. alternativo O sistema de saúde brasileiro foi, desde o início, lugar de disputa entre diferentes modelos assistenciais, com tendência de reproduzir sistemas hegemônicos. Esses modelos são o modelo médico-assistencial privatista e o modelo assistencial sanitarista. O privatista tem ênfase na assistência hospitalar e nos serviços diagnósticos e terapêuticos. Já o sanitarista tem ênfase nas campanhas, programas especiais e ações de vigilância epidemiológica e sanitária. Você sabia que, no Brasil, do século XX em diante, quatro modelos assistenciais são identificados? São eles: 1. o modelo sanitário-campanhista do início do século; 2. o modelo médico-assistencial privatista (baseado na concepção de saúde como mercadoria); 3. o modelo racionalizador reformista (que previa a reorganização dos serviços sem mudança na concepção de saúde) 4. um modelo ainda em construção, que resgata os ideais da VII Conferência Nacional de Saúde e do SUS. O modelo biomédico foi incorporado pelos serviços de saúde por promover o alívio da dor e o tratamento das mais diferentes doenças que acometem a humanidade. Seus limites reconhecidos são: foco no indivíduo indiferenciado, intervenções locais na parte afetada do corpo, ênfase no tratamento e ações curativas e ênfase na atenção hospitalar como uso intensivo da tecnologia. Ou seja, há pouca ênfase nos determinantes do processo saúde-doença e na multidimensionalidade do ser humano. Ao mesmo tempo em que se discutiu o conceito de saúde, esforços foram realizados para a construção de modelos assistenciais “alternativos”, contemplando tentativas de articular ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação nas dimensões individual e coletiva. Ao longo dos anos, essas tentativas acumularam experiência na construção de novos modelos em alternativa ao modelo assistencial hegemônico, incorporando técnicas, métodos e outros instrumentos da epidemiologia, planejamento e ciências sociais em saúde. Esses projetos apontaram possibilidades concretas de construção de um novo modelo de atenção em saúde voltado para a qualidade de vida, como proposto na 10ª Conferência Nacional de Saúde. O PACS é uma etapa transitória para o ESF, segundo a Portaria nº 648. Ao abordar a quantidade de ESF por município, refere que nos municípios com população entre 20 e 50 mil habitantes, até 30 % das ESFs poderão ser implantadas na modalidade equipe transitória, ou seja, pela equipe dos ACS. esf https://www.youtube.com/embed/lT3VmVbdxsU https://www.youtube.com/embed/lT3VmVbdxsU História da saúde pública no Brasil Período colonial e século XIX No período colonial, os investimentos privilegiavam melhorias mínimas de estrutura, que permitissem o escoamento da matéria-prima explorada por aqui. Não havia interesse em investir para melhorar as condições de vida da população, em sua maioria composta por indígenas, escravos e senhores. Esse período foi marcado por epidemias de doenças transmissíveis como malária(1549), varíola (1561), hanseníase e febre amarela (1680), todas trazidas pelos colonizadores, aventureiros e por meio do comércio de escravos. A assistência à saúde era inexistente. Famílias abastadas podiam ir à Europa ou trazer médicos ao país quando necessitavam de tratamento médico. A maioria da população, sem condições, buscava ajuda na medicina popular. As Santas Casas de Misericórdia abrigavam pobres e doentes mentais. Durante o século XVIII, com o crescimento das cidades, houve também maior chegada ao país de médicos e nobres portugueses, modificando a situação da saúde. Ainda assim, a maior preocupação era com as questões sanitárias e o acúmulo de lixo nas vias públicas. As precárias condições sanitárias eram responsáveis por graves problemas de saúde. O início da prática de políticas públicas de saúde no Brasil se deu com a vinda da família Real em 1808, fugindo de Napoleão Bonaparte. Esse evento trouxe melhorias, pois era preciso que a corte encontrasse aqui toda a assistência necessária em saúde. Mas essa assistência se concentrou nas cidades nas quais a nobreza se instalou. Surgiram as primeiras escolas de Cirurgia. A abolição da escravatura em 1888 provocou aumento expressivo nos números de imigrantes europeus que chegavam ao Brasil. O objetivo era manter a mão de obra da cafeicultura, na época a principal produção econômica do país. Essa movimentação culminou com o desenvolvimento das cidades produtoras de café e das cidades litorâneas. A maior concentração demográfica nessas cidades estava associada com a ocorrência dos surtos de doenças como a febre amarela, varíola e outras; essas epidemias prejudicavam os negócios. os navios temiam em ancorar nos portos das cidades litorâneas tomadas pelas epidemias. Século XX No Brasil, o século XX foi um intenso período de industrialização, instabilidade política e governos autoritários; os períodos democráticos tiveram curta duração. A reforma sanitária foi impulsionada pela sociedade civil. O dinâmico e complexo Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído pela Constituição de 1988, com base no princípio de que a saúde é um direito do cidadão e dever do Estado. É objetivo do SUS prover atenção abrangente e universal, preventiva e curativa, por meio da gestão e prestação descentralizada de serviços de saúde, promovendo a participação da comunidade em todos os níveis de governo. Esse contexto histórico foi decisivo para que o governo brasileiro tomasse a iniciativa de resolver o problema das epidemias nas cidades litorâneas e nos principais portos do país. Para isso, os médicos Oswaldo Cruz (diretor geral de saúde pública) e Emílio Ribas tomaram medidas como a vacinação obrigatória, além do controle das pragas e dos criadouros de mosquitos. As campanhas de vacinação aconteciam de forma autoritária, com atuação e vigilância da polícia sanitária, gerando oposição popular, vide a Revolta da Vacina em 1904. No Rio de Janeiro, Oswaldo Cruz conseguiu sanear a cidade e controlar as epidemias, passando a ser reconhecido como importante figurada saúde pública brasileira, responsável pela criação do Departamento Nacional de Saúde, que veio a se tornar o Ministério da Saúde. Entre 1915 e 1920, greves reivindicaram melhorias nas condições de trabalho, de vida e de saúde. Criaram-se fundos financeiros em diversas categorias, com contribuições que incidiam sobre uma porcentagem do salário individual de acordo com as categorias. O dinheiro arrecadado com esses fundos era destinado à assistência médica, pensões e casos de invalidez. Os ferroviários foram os primeiros a buscar esse tipo de organização. A partir de 1920, influenciados por ideias trazidas da Europa e Estados Unidos, os médicos sanitaristas iniciaram discussões para desenvolver um sistema de saúde a partir dos centros de saúde, com foco nos cuidados de higiene e alimentação, voltado para gestantes e crianças. Nessa década foram criados órgãos especializados no combate a doenças como tuberculose, lepra e doenças sexualmente transmissíveis (DST). As Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP), criadas em 1923 pela Lei Elói Chaves, são consideradas a origem do sistema de previdência no Brasil. Funcionavam como poupanças coletivas, em que os assalariados depositavam dinheiro mensalmente, e o montante funcionava como um seguro para as famílias dos empregados. Até a década de 1930, a saúde pública ficou conhecida como “campanhista”, com foco nas ações da políciasanitária, atacando os problemas de saúde que afetavam a populaçã o e tinham impacto econômico importante. Mas avanços importantes para a saúde conquistados nessa época incluem o controle das doenças transmissíveis e a criação dos primeiros laboratórios públicos de pesquisa em saúde. O governo de Getúlio Vargas (1930-1945) teve forte caráter centralizador, com o fechamento do Congresso Nacional e deportação de presos políticos. Caracterizado por uma política populista, ficou conhecido como “Pai dos pobres”, tomando medidas que mascaravam o regime autoritário – havia repressão e, ao mesmo tempo, eram promulgadas as Leis do Trabalho, mas sem participação ou discussão popular. Nesse período houve expansão do sistema de proteção social brasileiro, no qual a gestão era realizada sem participação da sociedade, com centralização burocrática, resultando em fragmentação e desigualdade. O sistema era formado por um ministério financiado pelo sistema de assistência médica da previdência social, cujos serviços proviam de institut os de aposentadoria e pensões que eram diversificados entre as diferentes categorias profissionais. Na década de 1930, as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP) foram unificadas, dando origem aos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP), que estenderam a previdência social à maioria dos trabalhadores urbanos. A gestão desses institutos era do governo;assim, o dinheiro dos IAP foi utilizado em obras públicas, financiamento de iniciativas privadas na área da saúde e construções de hospitais, propagando a existência de um modelo que centralizava a saúde no cuidado hospitalar. Durante a Era Vargas, os principais desafios de saúde foram representados pelas endemias rurais (doença de chagas, esquistossomose, ancilostomíase, malária), tuberculose, sífilis e deficiências nutricionais. O período “desenvolvimentista” de 1945 a 1964 foi de instabilidade democrática, com fortalecimento da indústria e aumento da malha rodoviária. Brasília foi inaugurada em 1960. Nesse período, a emergência das doenças crônico-degenerativas, os acidentes de trabalho e de trânsito foram os maiores desafios enfrentados pelo sistema de saúde. Na época houve permanência da dualização: de um lado, a assistência voltada para problemas coletivos, de outro, a assistência de caráter curativo, ligada aos IAP. Em maio de 1953, com escassos recursos financeiros, demonstrando o descaso com a saúde da população, foi criado o Ministério da Saúde (MS). Em 1956, foi criado o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERU), para promover a educação sanitária da população rural. O Brasil abriu espaço para grupos estrangeiros e, na área da saúde, houve entrada de grupos estrangeiros de medicina que começaram a administrar diversos hospitais que haviam sido construídos com dinheiro do Estado. Surgiram as primeiras empresas de saúde e houve expansão da assistência hospitalar. Em 1963, ocorreu a III Conferência Nacional da Saúde (CNS), que propôs a reordenação dos serviços de assistência médica-sanitária e alinhamentos gerais para determinar uma nova divisão das atribuições entre os níveis político- -administrativos da Federação com o objetivo de municipalizar a saúde. A partir de 1964, incidiram reformas governamentais que impulsionaram a expansão das iniciativas privadas na área da saúde, principalmente nas grandes cidades. A cobertura da previdência social sofreu expansão, passando a contemplar o meio rural. Nesta época, os principais desafios de saúde foram o aumento da prevalência das doenças crônico-degenerativas, a persistência das endemias rurais, as doenças parasitárias e infecciosas. Destaca-se a epidemia de meningite em 1974, cujas informações e números foram censurados pelo Governo. Para a construção de hospitais, o Estado provia fundos de forma duplicada: primeiro emprestando dinheiro aos investidores e pela segunda vez ao financiar a assistência de saúde prestada à população. CAPs -> IAPs -> INPS -> INSS \-> INAMPS Em 1966, os IAPs foram unificados no Instituto Nacional e Previdência Social (INPS), que hoje é o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), com privatização da assistência médica e capitalização do setor da saúde. A assistência médica individual prestada pelo INPS contemplava apenas os trabalhadores que contribuíam com a previdência social (em regime de trabalho com carteira assinada). Assim, os trabalhadores rurais permaneciam excluídos do sistema de saúde, configurando o nascimento dos planos de saúde, desenvolvendo nas empresas a prática de prestar serviços de saúde aos empregados. Mas isso não diminuiu a ampliação da cobertura que esse movimento exigiu, assim como uma grande expansão da assistência médica, o que explica problemas enfrentados na atualidade envolvendo o sistema único de saúde e a previdência social. Em 1974, o regime militar dividiu o INPS em Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). O INAMPS ficou responsável pela assistência médica ambulatorial e hospitalar. Saúde e previdência passaram a ser tratadas juntas. A maior parte do atendimento realizado pelo INAMPS era realizado pela iniciativa privada, e os convênios eram remunerados por procedimento realizado, consolidando o modelo de cuidado da doença e não da saúde. Para contemplar essa ampliação a solução encontrada foi comprar a oferta desses serviços da rede privada. Assim, o governo não provia esses serviços de forma direta,incentivando o desenvolvimento do mercado privado de saúde. Em meados da década de 70, com o fim do milagre econômico, ocorreu uma crise do financiamento da previdência social, comrepercussões no INAMPS. Entre 1970 e 1974, com recursos do governo federal, houve a reforma e a construção de hospitais privados, e a responsabilidade pela oferta de atenção à saúde foi estendida aos sindicatos e instituições filantrópicas que ofereciam assistência de saúde a trabalhadores rurais. Os subsídios diretos a empresas privadas para a oferta de assistência médica a seus empregados foram substituídos por descontos no imposto de renda, o que levou à expansão da oferta dos cuidados médicos e à proliferação de planos de saúde privados. A maior cobertura da previdência social e um mercado de saúde baseado em pagamentos e prestadores do setor privado com base nos serviços realizados geraram uma crise de financiamento na previdência social, que, associada à recessão econômica da década de 1980, alimentou os anseios pela reforma. É importante destacar que o benefício, historicamente, estava vinculado à inserção do indivíduo no mercado de trabalho, com características de seguro e não de direito (cidadania). O Sistema Nacional de Saúde foi criado em 1975, promulgado pela Lei nº 6.229, de 17 de julho, reforçando o que já era estabelecido à época: a previdência social continuava responsável pela assistência médica individual e curativa, enquanto o Ministério da Saúde e as secretarias estaduais e municipais se responsabilizavam pelos cuidados preventivos. A proposta para a reforma no setor da saúde teve início em meados de 1970, agrupando iniciativa de diversos setores da sociedade. Esse movimento questionava o modelo biomédico, defendendo que a saúde era também uma questão social e política. Em 1976, foi criado o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), organizando o movimento da reforma sanitária, e em 1979 fundou-se a Associação Brasileira de Pós-Graduação em saúde coletiva (ABRASCO). Ganhavam força, em diversos países da América Latina, as teorias sobre a complexidade do processo saúde-doença e sobre a necessidade de mudanças no sistema de saúde. No fim dos anos 70, surgiu o Movimento pela Reforma Sanitária, que buscava encontrar respostas para o dilema da política de saúde nacional. Em 1979, aconteceu o I Simpósio sobre Política Nacional de Saúde. Na década de 1980, o Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde (PREV-SAÚDE), o Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) e as Ações Integradas de Saúde (AIS) foram criados para evitar as fraudes e lutar contra o monopólio das empresas particulares de saúde. O INAMPS passou por uma universalização progressiva do atendimento, já em processo de transição com o Sistema Único de Saúde (SUS). A hora da virada: a VIII conferência nacional e a Constituição de 1988 A necessidade da reforma sanitária ganhou destaque no Brasil. Era importante implantar um modelo de atenção à saúde que estivesse organizado na participação comunitária, com regionalização dos serviços existentes, integrando o sistema público-privado e colocando a atenção primária como foco. Essa proposta foi aceita em 1986 durante a VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS), que convocou sociedade e profissionais para discutirem a saúde como direito, o sistema de saúde e o financiamento da saúde. A proposta obtida ao final da VIII Conferência Nacional de Saúde determinava a saúde e o acesso à saúde como direitos universais, sem obrigatoriedade da presença de vínculo empregatício, assim como garantia à população a participação no processo de planejamento, implantação e avaliação do novo sistema de saúde. A VIII Conferência Nacional de Saúde foi um marco na história do SUS: foi a primeira CNS a ser aberta à sociedade e foi importante na veiculação do movimento da Reforma Sanitária, resultando na implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um convênio entre o INAMPS e os governos estaduais, além de formar as bases para que a seção “Da Saúde” tomasse parte da Constituição Brasileira de 1988. O SUDS baseava-se no princípio de integração dos serviços de saúde, e foi na época o responsável pela municipalização da saúde e pela fiscalização da aplicação das verbas destinadas à saúde. A proposta da VIII Conferência Nacional de Saúde foi aprovada na Constituiçã o de 1988, seçã o II, art. 196, capítulo 1: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à reduçã o do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às açõ es e serviços para sua promoçã o, proteçã o e recuperaçã o”. A promulgação da constituição unificou a saúde, ficando os serviços de cuidados preventivos, curativos e de reabilitação sob responsabilidade desse setor, definindo a saúde como de relevância pública. Este foi um marco importante, pois os diversos segmentos formadores da área da saúde conquistaram o direito e o dever de participarem das definições e avaliações das políticas de saúde no Brasil nos níveis Federal, Estadual e Municipal. Assim o SUDS foi extinto, surgindo o Sistema Único de Saúde (SUS), encarregado de organizar no plano regional, as ações do Ministério da Saúde, dos serviços Estaduais e Municipais de saúde, sendo uma importante conquista da sociedade brasileira. O SUS surgiu baseado nas seguintes diretrizes: universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo; participação da comunidade. Assim, com base nesses princípios, a Lei nº 8.080 de setembro de 1990 regulamentou o Sistema Único de Saúde (SUS), dispondo sobre as condições para promover, proteger e recuperar a saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Não existiram políticas de saúde pública até a chegada da corte portuguesa em 1808. Isso provocou mudanças na estrutura da saúde do país, mas a saúde coletiva e a individual ainda não eram um problema tratado pelo Estado. A partir de 1900, com o objetivo de conter prejuízos econômicos do país, começaram a ser tomadas algumas medidas de saneamento nos portos voltadas para o controle de epidemias. Por muito tempo a saúde pública foi responsabilidade do Departamento Nacional de Saúde, atual Ministério da Saúde. A assistência individual e curativa estava ligada à Previdência Social, e só era atendido quem tinha carteira assinada ou quem podia pagar serviços de saúde da iniciativa privada. O restante da população era atendido pelas Santas Casas. Em 1988, a saúde se tornou um direito reconhecido na constituição, universalizando o atendimento em saúde, garantindo com a nova estrutura: o Sistema Único de Saúde (SUS) criado pela Lei nº 8.080, de 1990. A implantação do SUS no Brasil foi gradual: primeiro veio o SUDS; depois, a incorporação do INAMPS ao Ministério da Saúde (1990); e por fim a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990) fundou o SUS. A Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, deu ao SUS o controle social (participação dos usuários na gestão do serviço). O INAMPS foi extinto em 1993 pela Lei nº8.689. A construção do SUS rompeu com o caráter meritocrático que caracterizava o sistema de assitência à saúde no Brasil até 1988, incorporando a saúde como direito, dentro do conceito de cidadania, com igualdade de bem-estar. Antes da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde apenas promovia a saúde e prevenia doenças (p. ex., campanhas de vacinação) e investia na assistência médico-hospitalar para poucas doenças; servindo quase exclusivamente a aqueles que não tinham acesso ao atendimento pelo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social, que atuava na assistencia de saúde curativa restrita aos segurados. A legislação das políticas de saúde No ano de 1923, o Congresso Nacional aprovou a Lei Elói Chaves e por meio dela as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), configurando o primeiro sistema previdenciário brasileiro. A constituição de 1934 contemplou a garantia à assistência médica, licença maternidade remunerada e jornada de trabalho de oito horas por dia para os trabalhadores. Nos anos seguintes foram incorporados outros benefícios como o salário mínimo e, em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho. A CLT agregou benefícios que incluíam indenização aos acidentados, tratamento médico aos doentes, pagamento de horas extras, férias remuneradas, entre outros benefícios aos trabalhadores com registro em carteira de trabalho. A Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), criada em 1960, unificou os serviços de saúde para todos os profissionais que fizessem parte do regime da CLT, exceto os trabalhadores rurais, empregados domésticos e os servidores públicos e de autarquias e que tivessem regimes próprios de previdência. A Constituição Federal de 1988 formulou um novo conceito de saúde, com acesso universal e igualitário. Linha do tempo das políticas de saúde As políticas de saúde foram influenciadas por eventos históricos e pela economia de cada época: Século XVI: chegada da família Real (carência de profissionais e receio da população em aceitar ajuda médica). Proliferação de curandeiros e boticários. 1892: criação dos primeiros laboratórios bacteriológicos. 1904: como diretor de saúde pública, Oswaldo Cruz implementou a desinfecção sanitária e obrigação da vacinação antivaríola (Revolta da Vacina). 1920: criação de órgãos especializados no combate a doenças. 1923: criação da Lei Elói Chaves que instituiu as Caixas de Aposentadorias e Pensões. 1934: durante o governo Vargas foram implementados programas de assistência médica aos trabalhadores para garantir o processo de industrialização. 1943: criação da CLT agregando benefícios como indenização e pensões, a acidentados e tratamento médico aos doentes portadores de carteira assinada. 1953: criação do Ministério da Saúde; 1956: criação do DNERU para a população rural 1960: criação da Lei Orgânica da Previdência Social unificando os serviços de saúde aos trabalhadores do regime CLT. 1966: criação do INPS. 1974: criação do Ministério da Previdência e Assistência Social. INPS transforma-se em INAMPS. Fim da década de 70: surge o movimento pela Reforma Sanitarista. Década de 80: são criados programas de assistência básica de saúde. 1986: VIII Conferência Nacional de Saúde. 1988: a Constituição estabelece a saúde como relevância pública e direito básico de todos os cidadãos. Criação do SUS. Conferências Nacionais de Saúde (CNS) As Conferências Nacionais de Saúde começaram com a promulgação da Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937, que instituiu o Conselho Nacional de Saúde. Nessa época, o Estado não oferecia assistência médica, a não ser em situações especiais, como nos casos de tuberculose, hanseníase e doença mental. Atualmente, as Conferências representam os segmentos sociais para avaliar e propor diretrizes de política de saúde nos níveis municipais, estaduais e federal. Entre 1941 e 1986 foram realizadas oito Conferências Nacionais de Saúde, das quais se destaca a VIII Conferência Nacional de Saúde por ter aberto discussão e propiciado que a Saúde chegasse até a Constituição de 1988, garantida como direito Universal. É nas Conferências de Saúde que a sociedade se organiza para garantir os interesses e as necessidades da população na área da Saúde e assegurar as diversas formas de pensar o SUS, disseminando junto à sociedade informações sobre o Sistema, para fortalecê-lo. A partir da Lei nº 8.142, ficou estabelecido que as Conferências de Saúde devem contar com a participação de movimentos organizados, de entidades da área da Saúde, dos gestores e dos prestadores de serviços de saúde. Segue um resumo de todas as Conferências Nacionais de Saúde com os principais tópicos de discussão e resolução: 1ª CNS (1941): situação sanitária e assistencial. 2ª CNS (1950): legislação em higiene e segurança do trabalho. 3ª CNS (1963): descentralização na área de Saúde. 4ª CNS (1967): recursos humanos para as atividades em saúde. 5ª CNS (1975): implementação do Sistema Nacional de Saúde; programa de Saúde Materno-Infantil; Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica; Programa de Controle das Grandes Endemias e Extensão das Ações de Saúde às Populações Rurais. 6ª CNS (1977): situação do controle das grandes endemias; interiorização dos serviços de saúde e Política Nacional de Saúde. 7ª CNS (1980): extensão das ações de saúde por meio dos serviços básicos. 8ª CNS (1986): Saúde como Direito; reformulação do Sistema Nacional de Saúde e Financiamento Setorial. 9ª CNS (1992): Municipalização é o caminho. 10ª CNS (1996): Saúde, cidadania e políticas públicas; gestão e organização dos serviços de saúde; controle social na saúde; financiamento da saúde; recursos humanos para a saúde e atenção integral à saúde. 11ª CNS (2000): acesso, qualidade e humanização na atenção à saúde com controle social. 12ª CNS (2003): Saúde: um direito de todos e um dever do Estado. A saúde que temos, o SUS que queremos. 13ª CNS (2007): Saúde e Qualidade de Vida: Política de Estado e Desenvolvimento 14ª CNS (2011): SUS na Seguridade Social - Política Pública, Patrimônio do Povo Brasileiro https://www.youtube.com/embed/7ouSg6oNMe8 https://www.youtube.com/embed/8RcIFbPH0I4 https://www.youtube.com/embed/L7NzqtspLpc https://www.youtube.com/embed/7ouSg6oNMe8 https://www.youtube.com/embed/8RcIFbPH0I4 https://www.youtube.com/embed/L7NzqtspLpc SAÚDE PÚBLICA (epidemiologia tradicional) X SAÚDE COLETIVA (epidemiologia crítica e social/critica à saude pública e proposição de alternativa) O conceito de prevenção é definido como ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença. A prevenção apresenta três fases. A prevenção primária ocorre no período de pré-patogênese. O conceito de promoção da saúde é um dos níveis da prevenção primária, definido como medidas destinadas a desenvolver uma saúde ótima. Um segundo nível da prevenção primária seria a proteção específica “contra agentes patológicos ou pelo estabelecimento de barreiras contra os agentes do meio ambiente”. A fase da prevenção secundária também se apresenta em dois níveis: o primeiro, diagnóstico e tratamento precoce, e o segundo, limitação da invalidez. Por fim, a prevenção terciáriadiz respeito a ações de reabilitação. Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir a doença, prolongar a vida, promover a saúde física e a eficiência através dos esforços da comunidade organizada para o saneamento do meio ambiente, o controle das infecções comunitárias, a educação dos indivíduos nos princípios de higiene pessoal, a organização dos serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce e o tratamento preventivo da doença e o desenvolvimento da máquina social que assegurará a cada indivíduo na comunidade um padrão de vida adequado para a manutenção da saúde. (WINSLOW, 1920, p. 23). Quanto à saúde pública, além da definição do professor Winslow, mencionada antes, é possível dizer que ela envolve ações do Estado e da sociedade civil para proteger e melhorar a saúde das pessoas. Não é uma disciplina acadêmica, mas uma prática social interdisciplinar. Não é sinônimo de atuação estatal na área da saúde, pois engloba ações não estatais e não abarca tudo o que o Estado pode fazer em matéria de saúde. Opas enumera onze funções essenciais da saúde pública: 1) monitoramento, análise e avaliação da situação de saúde; 2) vigilância, investigação, controle de riscos e danos à saúde; 3) promoção da saúde; 4) participação social em saúde; 5) desenvolvimento de políticas e capacidade institucional de planejamento e gestão pública da saúde; 6) capacidade de regulação, fiscalização, controle e auditoria em saúde; 7) avaliação e promoção do acesso equitativo da população aos serviços de saúde necessários; 8) administração, desenvolvimento e formação de recursos humanos em saúde; 9) promoção e garantia da qualidade dos serviços de saúde; 10) pesquisa e incorporação tecnológica em saúde; 11) condução da mudança do modelo de atenção à saúde. A saúde pública toma como objeto de trabalho os problemas de saúde, definidos em termos de mortes, doenças, agravos e riscos. A concepção da saúde pública é a ausência de doenças. A saúde coletiva, por sua vez, toma como objeto as necessidades de saúde, ou seja, todas as condições necessárias não só para evitar a doença e prolongar a vida, mas também para melhorar a qualidade de vida e permitir o exercício da liberdade humana na busca da felicidade. Assim, duas ordens de diferenças se destacam nessa comparação. A conceituação de saúde pública menciona “ciência e arte”. A conceituação de saúde coletiva cita “campo de conhecimentos” e “práticas de saúde”. A expressão saúde coletiva era utilizada desde a década de 1960 para se referir a problemas de saúde no nível populacional (OPS, 1976) e em documentos oficiais que mencionavam uma dada matéria do currículo mínimo do curso médico, proposta pela Reforma Universitária de 1968. Essa matéria incluía a epidemiologia, a estatística, a organização e administração sanitária as ciências sociais, entre outras. Portanto, a introdução desses conteúdos na graduação dos profissionais de saúde foi iniciativa dos departamentos de Medicina Preventiva, junto a seus equivalentes nas escolas de enfermagem, farmácia, veterinária, odontologia etc. Nos cursos de aperfeiçoamento e especialização, essas disciplinas eram ministradas pelas escolas de saúde pública, que passaram a contribuir para a constituição da área. No final da década de 1970, a expressão saúde coletiva foi usada como título do primeiro encontro nacional de cursos de pós-graduação existentes no Brasil, denominados Medicina Social, Medicina Preventiva, Saúde Comunitária e saúde pública. Nessa oportunidade, foi proposta a criação da Associação Brasileira de Pós-graduação em saúde coletiva (ABRASCO), cuja formalização foi discutida em reuniões posteriores, sendo fundada em 1979 em Brasília. Mais recentemente, saúde coletiva foi definida como: [...] campo de produção de conhecimentos voltados para a compreensão da saúde e a explicação de seus determinantes sociais, bem como âmbito de práticas direcionadas prioritariamente para a sua promoção, além de voltadas para a prevenção e o cuidado a agravos e doenças, tomando por objeto não apenas os indivíduos, mas, sobretudo, os grupos sociais, portanto, a coletividade. Você ouvirá dizer que o profissional da saúde coletiva é um técnico de necessidades de saúde e um gerente de processos de trabalho em saúde, comprometido com os valores de solidariedade, igualdade, justiça e democracia. É, portanto, um militante sociopolítico da emancipação humana. Para a saúde pública, o Estado é o ator político por excelência, capaz por si só de assegurar a prevenção das doenças. Para a saúde coletiva, além do Estado, há outros atores e poderes na sociedade civil que devem atuar para promover a democratização da saúde. Essa comparação revela que são distintas as articulações desses dois movimentos ideológicos com a atual estrutura da sociedade. A saúde pública encontra-se institucionalizada nas atividades cotidianas dos serviços do SUS. A saúde coletiva inspirou o projeto da Reforma Sanitária que deu origem ao SUS, mas persiste como alternativa contra-hegemônica. SUS Decreto nº7.508, de 2011: regulamenta a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa. Dispõe, entre outros, sobre a instituição das Regiões de Saúde (é "o espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde". )As regiões devem ser instituídas pelo Estado articulado com os municípios, na conformação de Comissões Intergestores Bipartite (CIB). Art. 1º Este Decreto regulamenta a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa. Art. 2º Para efeito deste Decreto, considera-se: I - Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8080.htm II - Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde - acordo de colaboração firmado entre entes federativos com a finalidade de organizar e integrar as ações e serviços de saúde na rede regionalizada e hierarquizada, com definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, critérios de avaliação de desempenho, recursos financeiros que serão disponibilizados, forma de controle e fiscalização de sua execução e demais elementos necessários à implementação integrada das ações e serviços de saúde; III - Portas de Entrada - serviços de atendimento inicial à saúde do usuário no SUS; IV - Comissões Intergestores - instâncias de pactuação consensual entre os entes federativospara definição das regras da gestão compartilhada do SUS; V - Mapa da Saúde - descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, considerando-se a capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido a partir dos indicadores de saúde do sistema; VI - Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde; VII - Serviços Especiais de Acesso Aberto - serviços de saúde específicos para o atendimento da pessoa que, em razão de agravo ou de situação laboral, necessita de atendimento especial; e VIII - Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica - documento que estabelece: critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS. Nos itens a seguir estão aspectos que exemplificam, na prática, o que é o Sistema Único de Saúde. 1) Cobertura universal a todos os brasileiros com serviços de vigilância sanitária de alimentos e de medicamentos, de vigilância epidemiológica, de sangue, de transplantes de órgãos e outros. 2) Na assistência à saúde, o SUS é responsável exclusivo por mais de 140 milhões de pessoas e garantindo acesso aos demais, visto que, muitas vezes, seu uso é concomitantemente em circunstâncias em que o sistema privado apresenta limites de cobertura. 3) Quase 6 mil hospitais e mais de 60 mil ambulatórios contratados. 4) Mais de 2 bilhões de procedimentos ambulatoriais por ano. 5) Mais de 11 milhões de internações hospitalares por ano. 6) Aproximadamente 10 milhões de procedimentos de quimioterapia e radioterapia por ano. 7) Mais de 200 mil cirurgias cardíacas por ano. 8) Mais de 150 mil vacinas por ano. 9) Programas que são referência internacional, como o Sistema Nacional de Imunizações, o Programa de Controle de HIV/Aids e o Sistema Nacional de Transplantes de Órgãos, que têm a maior produção mundial de transplantes realizados em sistemas públicos de saúde do mundo: 24 mil em 2012. 10) O programa brasileiro de atenção primária à saúde tem sido considerado, por sua extensão e cobertura, um paradigma a ser seguido por outros países. 11) Entre 2000 e 2010, a taxa de mortalidade infantil caiu 40%, tendo baixado de 26,6 para 16,2 óbitos em menores de um ano por mil nascidos vivos. A Saúde no Brasil antes e depois do SUS O contexto da saúde no Brasil antes da criação do SUS era bastante diferente da conjectura atual. À época, a saúde era considerada ausência de doença, a assistência era centrada no foco médico-hospitalar, a promoção da saúde era tarefa exclusiva do Ministério da Saúde (MS) e todas as ações de saúde eram centralizadas no estado, não havendo participação das unidades federativas e dos municípios Nesse cenário, o acesso dos cidadãos brasileiros à assistência era restrito. De modo geral, pode-se dizer que os cidadãos estavam divididos entre: os que podiam pagar pelos serviços de saúde; os trabalhadores que contribuíam com o Instituto Nacional de Previdência Médica da Previdência Social (INAMPS) e, por isso, tinham direito a assistência prestada por esse instituto; e os que não tinham nenhum direito à assistência, chamados de “indigentes”, que eram totalmente dependentes de ações filantrópicas e de caridade. No que tange à promoção da saúde e à prevenção de doenças, as ações eram desenvolvidas pelo MS e tinham como ênfase as campanhas de vacinação e controle de endemias. Essas eram as únicas ações desenvolvidas com caráter universal, ou seja, sem nenhum tipo de discriminação com relação à população beneficiária. A realidade social desse período era de exclusão da maior parte dos cidadãos do direito à saúde e de aumento de doenças como verminoses e aquelas relacionadas à escassez de saneamento básico. Essa situação passou a ser questionada por grupos da sociedade civil e por trabalhadores da saúde que, de forma articulada, começaram a debater sobre o futuro da saúde brasileira, resultando em um movimento chamado Reforma Sanitária. Em âmbito mundial, observava-se uma tendência a mudanças, claramente indicadas na Declaração de Alma-Ata, documento esse que foi redigido ao final da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, em 1978. Esse documento aponta para a necessidade da participação efetiva dos Estados na saúde do seu povo através da promoção de políticas de saúde que visem o bem-estar físico, mental e social como direitos fundamentais dos seus habitantes, enfatizando que os cuidados primários em saúde são direitos fundamentais e devem ser a principal meta social de todos os governos. Esse cenário, paralelo ao processo de redemocratização e ao amadurecimento das ideias da Reforma Sanitária, resultou no que é considerado um marco histórico para a saúde no Brasil: a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986. O Relatório Final dessa Conferência identifica o Estado como responsável por assegurar o direito à saúde para toda a população e aprova a proposta de criação do SUS (CONFERÊNCIA..., 1986). A criação do SUS foi o maior movimento de inclusão social já visto na história do Brasil e representou uma afirmação política de compromisso do Estado brasileiro para com os direitos dos seus cidadãos, tendo como importante princípio a universalização do acesso às ações e aos serviços de saúde. Princípios e Diretrizes do SUS A nova ordem constitucional instituída em 1988 determina o direito à saúde como um dos direitos fundamentais, estabelecendo a obrigação do Estado de garanti-lo. Analisando os dispositivos constitucionais, tem-se que “a saúde é concebida como direito de todos e dever do Estado, que a deve garantir mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos”, regendo-se pelos princípios do SUS. Esses princípios são de origem doutrinária e organizacional (Figura 1). Universalidade estabelece que o SUS deve atender a todos, sem distinções ou restrições, sendo esse o princípio fundamental das mudanças previstas pelo SUS, pois garante a todos os brasileiros o direito à saúde. Integralidade fundamenta-se no entendimento de que as pessoas têm o direito de serem atendidas no conjunto de suas necessidades, individuais e coletivas, e que, os serviços de saúde devem estar organizados de modo a oferecer todas as ações requeridas por essa atenção integral. Equidade baseia-se na disponibilização de serviços que promovam a justiça social, canalizando maior atenção aos que mais necessitam, diferenciando as necessidades de cada um. O princípio de equidade do SUS corresponde, portanto, a oferecer mais a quem mais precisa, de forma a dar condições para que todos tenham a mesma possibilidade. Participação Social prevê a organização e a participação da comunidade na gestão do SUS, queocorre legalmente por meio dos Conselhos e das Conferencias de Saúde nas três esferas de governo: nacional, estadual e municipal. Descentralização estabelece a descentralização da gestão e das políticas da saúde no país. De acordo com esse princípio, o poder e a responsabilidade sobre a saúde são distribuídos entre os três níveis de governo, objetivando uma prestação de serviços com mais eficiência e qualidade e também a fiscalização e o controle por parte da sociedade. Os municípios passam a ser os responsáveis pela organização da oferta de todas as ações e serviços de saúde e por estabelecer as políticas locais de saúde. Hierarquização é uma forma de organização dos serviços e ações que visa atender as diferentes necessidades de saúde da população, sendo a atenção básica a responsável pela resolubilidade da maioria das necessidades em saúde da população e a ordenadora da rede de atenção à saúde. Regionalização é considerado uma estratégia importante para a organização do sistema de saúde. É um processo técnico-político relacionado à definição de recortes espaciais para fins de planejamento, organização e gestão de redes de ações e serviços de saúde. Essa diretriz deverá ser operacionalizada por meio da articulação das ações e dos serviços de saúde para que possam produzir o cuidado integral da população. Legislação Básica do SUS A legislação básica do SUS consiste na Constituição Federal (artigos 196 a 200), na Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080/1990), nas Normas Operacionais Básicas (NOB) e no Decreto 7.508/2011 que regulamenta a Lei 8.080/1990 e a Lei 8.142/1990. Lei Orgânica da Saúde Leis nº 8.080 e nº 8.142, ambas de 1990, como suas bases jurídica, constitucional e infraconstitucional (Brasil, 2007a). A Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990 – Lei Orgânica da Saúde –, dispõe acerca das condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, organização e funcionamento dos serviços correspondentes, mostrando de forma clara os objetivos do SUS, suas competências e atribuições, assim como as funções da União, dos Estados e dos Municípios (BRASIL, 1990a). A Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde (BRASIL, 1990b). Tais leis consolidam o papel do município como o principal executor das ações de saúde, caracterizando ampliação do processo de descentralização. NOB – Normas Operacionais Básicas Diversas portarias do MS regulamentaram o SUS, especialmente as que originaram as NOBs de 1991, 1993 e 1996. A implantação do SUS no conjunto do país passa a acontecer de forma gradual ao longo dos anos 1990. As NOB-SUS são os principais instrumentos normalizadores do processo de descentralização das ações e serviços de saúde no Brasil, um dos pilares de sustentação do SUS. O Quadro 1 resume as quatro NOBs, editadas no período de 1991 a 1996. é importante mencionar algumas legislações básicas voltadas à questão do financiamento em saúde e dos recursos financeiros em saúde: A Emenda Constitucional nº 29/2000 (BRASIL, 2000) define os percentuais mínimos de aplicação em ações e serviços públicos de saúde para níveis federal, estadual e municipal, ou seja, definiu a participação das esferas de governo, federal, estadual e municipal para o financiamento das ações e serviços de saúde do SUS. EC 29 representou um importante avanço para diminuir a instabilidade no financiamento que o setor de saúde enfrentou a partir da Constituição, bem como uma vitória da sociedade na questão da vinculação orçamentária. Contudo, não definiu o que viriam a ser considerados os gastos com saúde. Mesmo com a ausência da definição no texto constitucional, a consolidação do SUS foi avançando e os responsáveis por sua execução adotaram como parâmetros os preceitos da Lei Orgânica da Saúde. Quanto aos recursos financeiros, a Lei Complementar nº 141/2012 dispõe sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pelas três esferas de governo, estabelecendo os critérios de rateio de recursos para as transferências e para as normas de fiscalização, avaliação e de controle das despesas com Saúde (BRASIL, 2012). O Estado deveria aplicar no mínimo 12% da arrecadação líquida de impostos com ações e serviços públicos de saúde. Decreto 7.508/11 - O que cai em prova! No artigo de hoje versarei sobre o Decreto 7.508/11 que regulamenta a Lei Orgânica da Saúde 8.080/90 – grande marco da Legislação Aplicada ao SUS e tema constante em concursos e seleções. Vamos lá? O Decreto 7.508/11 regulamenta a Lei Orgânica da Saúde – 8.080/90. Conforme já estabelecido na Lei supracitada, o SUS deve ser organizado de forma regionalizada e hierarquizada. O Decreto 7508/2011 cria as Regiões de Saúde, que reitera a regionalização com princípio organizativo do SUS. Cada região deve oferecer serviços de atenção primária, urgência e emergência, atenção psicossocial, atenção ambulatorial especializada e hospitalar e, por fim, vigilância em saúde. Em relação à hierarquização, o Decreto estabelece que as portas de entrada do SUS, pelas quais os pacientes podem ter acesso aos serviços de saúde, são: de atenção primária; de atenção de urgência e emergência; de atenção psicossocial e, ainda, especiais de acesso aberto. O Decreto também define quais são os serviços de saúde que estão disponíveis no SUS para o atendimento integral dos usuários, através da Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde – RENASES, que deve ser atualizada a cada dois anos. A Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) também é citada no documento, que será acompanhada do Formulário Terapêutico Nacional, como forma de subsidiar a prescrição, a dispensação e o uso dos seus medicamentos. A Assistência Farmacêutica também é alvo da regulamentação, que define sobre o acesso universal e igualitário à Assistência Farmacêutica, pressupondo que: - O usuário deve estar assistido por ações e serviços de saúde do SUS; - O medicamento deve ter sido prescrito por profissional de saúde, no exercício regular de suas funções no SUS; - A prescrição deve estar em conformidade com a RENAME e os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas ou com a relação específica complementar estadual, distrital ou municipal de medicamentos; - A dispensação deve ter ocorrido em unidades indicadas pela direção do SUS. Decreto 7.508/11 e o que cai em provas: A disposição inicial de qualquer marco jurídico é uma grande tendência de prova vamos a do tema em questão? “Regulamenta a Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação Interfederativa, e dá outras providências. ” Em seu artigo 1º encontraremos a repetição da disposição inicial: “Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei n o 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa.” Chegamos ao artigo mais cobrado em concursos e seleções – o artigo segundo. Mas qual o motivo? Ele traz em seu texto conceitos novos e as bancas têm um “relacionamento íntimo” com novos conceitos, vejamos: “Art. 2o Para efeito deste Decreto, considera-se: I - Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído por agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde; II -Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde - acordo de colaboração firmado entre entes federativos com a finalidade de organizar e integrar as ações e serviços de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8080.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8080.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8080.htm saúde na rede regionalizada e hierarquizada, com definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, critérios de avaliação de desempenho, recursos financeiros que serão disponibilizados, forma de controle e fiscalização de sua execução e demais elementos necessários à implementação integrada das ações e serviços de saúde; III - Portas de Entrada - serviços de atendimento inicial à saúde do usuário no SUS; A definição das portas de entrada do sistema é um dos maiores avanços para a organização do sistema. O SUS não é uma porta aberta, desorganizada, mas sim um sistema de saúde que se organiza por níveis de complexidade (densidade tecnológica), conforme determina a Constituição. Sendo o SUS um sistema hierarquizado por níveis de complexidade dos serviços de saúde, importante impor ao acesso aos serviços este mesmo sentido de ordem. As portas de entrada do Sistema pelo Decreto 7.508, são: a atenção primária, principal porta e ordenadora aos demais níveis de complexidade; a urgência e emergência; a saúde mental e seus serviços como o CAPS – Centro de Atenção Psicossocial e serviços especiais de acesso aberto, como os centro de referência de AIDS, a saúde do trabalhador e outros que atendam necessidades específicas do cidadão objeto de serviços próprios. Ao definir portas de entrada, o sistema avança na sua organização impondo o acesso igualitário, não sendo permitido, sob pena de se quebrar o princípio da isonomia, que pessoas possam adentrar ao sistema sem respeito aos seus regramentos. Daí o Decreto ter definido que o acesso ordenado deve ainda considerar a gravidade do risco do paciente e a ordem cronológica de sua chegada ao serviço (como a lista única dos transplantes). Desse modo fica clara que a atenção à saúde respeitará a gravidade do dano, a ordem cronológica de chegada e as portas de entrada do sistema (ANDRADE,2011). IV - Comissões Intergestores - instâncias de pactuação consensual entre os entes federativos para definição das regras da gestão compartilhada do SUS; V - Mapa da Saúde - descrição geográfica da distribuição de recursos humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada, considerando-se a capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido a partir dos indicadores de saúde do sistema; VI - Rede de Atenção à Saúde - conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde; VII - Serviços Especiais de Acesso Aberto - serviços de saúde específicos para o atendimento da pessoa que, em razão de agravo ou de situação laboral, necessita de atendimento especial; e VIII - Protocolo Clínico e Diretriz Terapêutica - documento que estabelece: critérios para o diagnóstico da doença ou do agravo à saúde; o tratamento preconizado, com os medicamentos e demais produtos apropriados, quando couber; as posologias recomendadas; os mecanismos de controle clínico; e o acompanhamento e a verificação dos resultados terapêuticos, a serem seguidos pelos gestores do SUS.
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