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MATERIAL DIDÁTICO EDUCAÇÃO E CULTURA U N I V E R S I DA D E CANDIDO MENDES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 Impressão e Editoração 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 2 SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 03 UNIDADE 2 - EXCLUSÃO E INCLUSÃO SOCIAL .................................................................... 08 UNIDADE 3 - A ESCOLA E SEUS SUJEITOS .......................................................................... 17 UNIDADE 4 - RELAÇÕES RACIAIS, CONDICIONANTES SOCIOCULTURAIS ..................... 24 UNIDADE 5 - PAULO FREIRE, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO POPULAR ............ 29 UNIDADE 6 - ÉTICA E CIDADANIA .......................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 51 Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 3 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO A educação é um processo que envolve diversos âmbitos da vida de cada indivíduo, sendo estes determinantes para formação do mesmo. Atualmente, no entanto, o processo educacional está, erroneamente, restrito às instituições de ensino, ao passo que, cada ser humano deveria aprender com seu cotidiano, incluindo os instantes destinados à escola, mas não exclusivamente à mesma. No processo educacional há uma constante, na qual este se concentra a aprendizagem. O termo “aprender” sem dificuldades é outro dos diversos equívocos cometidos pelos que o empregam. Alguns consideram que aprender algo diz respeito ao instante em que os mesmos são capazes de fazer alguma coisa que antes não faziam. Porém, para a Psicologia, a definição de aprendizagem, enquanto fator fundamental no processo educacional, não se constitui tão simplificadamente. As possibilidades de se apreender alguma coisa são diversas, isto é, existem diversos fatores que influenciam na apresentação de um comportamento até então desconhecido ao indivíduo. E, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (1996), diferentes situações e processos não podem ser generalizados num só conceito. Em vista disso, a aprendizagem, enquanto processo, passou a ser objeto de investigação da psicologia. O processo de aprendizagem, a partir de alguns estudos, revela algumas questões, cujas respostas têm provocado algumas controvérsias entre os que o estudam. Dentre outras, destacam-se: Quais os limites da aprendizagem? Qual a participação do aprendiz no processo? Qual a natureza da aprendizagem? Há ou não motivação subjacente ao processo? Ante essas incógnitas, formaram-se inúmeras teorias da aprendizagem. Dessa forma, tais teorias poderiam ser divididas, de maneira genérica, em duas categorias: as teorias do condicionamento, “que definem a aprendizagem pelas suas consequências comportamentais e enfatizam as condições ambientais como forças propulsoras da aprendizagem”; e as teorias cognitivistas, estas “definem a Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 4 aprendizagem como um processo de relação do sujeito com o mundo externo e que tem consequências no plano da organização interna do conhecimento (organização cognitiva)” (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1996, p. 100). De acordo com as teorias de condicionamento, a aprendizagem é a conexão entre o estímulo e a resposta. Ao passo que para a teoria cognitivista, a aprendizagem é um elemento oriundo de uma comunicação com o mundo e o que se produz sob a forma de uma riqueza de conteúdos cognitivos. Conforme Bock, Furtado e Teixeira (1996, p. 100): “O indivíduo adquire assim um número crescente de novas ações como a forma de inserção em seu meio”. A partir de diversas concepções sobre o processo “educacional”, alguns teóricos/estudiosos desenvolveram teorias sobre o ensino, buscando analisar e sistematizar o processo de organização das condições para aprendizagem. Vale destacar a contribuição de Jerome Bruner. Este concebeu o processo supramencionado como “captar as relações entre os fatos”, adquirindo novas informações, adequando-as a novas situações. Um dos fatores que norteiam o processo educativo refere-se à motivação. Esta continua sendo um complexo tema para Psicologia. De acordo com os teóricos: Atribuímos a motivação tanto a facilidade quanto a dificuldade de aprender. Atribuímos as condições motivadoras o sucesso ou o processo dos professores ao tentar ensinar algo a seus alunos. E, apesar de dificilmente detectarmos o motivo que subjaz a algum tipo de comportamento, sabemos que sempre há algum. (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 1996, p. 106). A motivação, afirmam os autores, constitui um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto, e que mobiliza o organismo para a ação em busca de saciar a necessidade. Quando ocorre o oposto, fala-se em frustração. Em todos os campos da vida, nos quais implicam o processo educativo, está presente o processo de motivação. Sendo este uma das principais preocupações das instituições de ensino: um motivo para os alunos quererem aprender. Eis o desafio: criar a necessidade e apresentar um objeto adequado para sua satisfação. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 5 É importante agora, relevar a relação entre o aprendizado e o desenvolvimento. Nesta perspectiva vale ressaltar a visão vigotskyana sobre esta. Para Vigotsky, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o nascimento humano. Existe entre os dois processos supracitados uma unidade, mas não uma coincidência ou identidade. Segundo ele, o processo de desenvolvimento é mais lento e progride atrás do processo de aprendizagem. Por outro lado, esta relação tem sido vista sob três aspectos, dos quais Vigotsky discorda em absoluto. A primeira posição desvincula o aprendizado do desenvolvimento, considerando-os como processos independentes. Nela o desenvolvimento é como precondição da aprendizagem, mas nunca como resultado dela. A segunda visão, postula que aprendizagem é desenvolvimento. Este último é visto como a aprendizagem de hábitos e condutas. Por fim, a terceira concepção, que procura combinar as outras duas, entende que o desenvolvimento se baseia em dois processos diferentes, embora relacionados, e que cada um influencia o outro. Na teoria vigotskyana, um aspecto vital à aprendizagem é o fato de que ela desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar quando o indivíduo interage com seu meio – social e ambiental – numa troca recíproca de informações. Bock, Furtado e Teixeira (1996, p. 110) dizem que: Na visão de Vigotsky, o processo de ensino-aprendizagem tem um grande valor, pois secompõe de conteúdos organizados e transmitidos numa relação social que tem como finalidade o desenvolvimento das capacidades humanas e, portanto, a interação do homem em sua cultura e em sua sociedade. O processo de ensino e aprendizagem tem por uma de suas finalidades a aquisição do conhecimento. Nesse sentido, a reflexão sobre a natureza do conhecimento humano deu origem a uma série de problemas filosóficos, que constituem o assunto da teoria do conhecimento, ou Epistemologia. A maior parte desses problemas foi debatida pelos gregos antigos e, ainda hoje, a concordância é escassa sobre a maneira como deveriam ser resolvidos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 6 Outros problemas da teoria do conhecimento poderiam designar-se, apropriadamente, por metafísicos, tendo em vista que abrangem certas questões sobre as maneiras como as coisas parecem. As aparências que as coisas apresentam quando não percebemos, parecem ser subjetivas na medida em que dependem, para a sua existência e natureza, do estado do cérebro. É nesse campo que se estabelecem as questões ligadas às verdades, dogmas, crenças, valores, entre outros aspectos de cunho não material. E quanto a esses aspectos subjetivos, vale ponderar as questões ligadas à cultura e interação social. A definição exata sobre o que é Cultura e a dimensão que esta atinge constitui ainda uma incógnita, para a qual surgem constantemente proposições tentando elucidá-la. Mas, buscar uma resposta única, absoluta e definitiva, será uma decepção constante, porque, por vezes, as proposições são divergentes, contraditórias, além de, com frequência, pretenderem ser exclusivas, isto é, as verdades únicas. Uma das explanações acerca da cultura que se põe de forma satisfatória, sob a visão de Laraia (1999), afirma que a expressão cultura vem do termo germânico Kultur, que era utilizado para simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade, enquanto a palavra francesa Civilization referia-se principalmente às realizações materiais de um povo. Ambos os termos foram sintetizados por Edward Tylor (1932-1917) no vocábulo inglês Culture, que tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos de uma sociedade. A apropriação desses aspectos constitui um processo que perpassa por toda vida, ainda que em alguns momentos ocorra com maior intensidade, como na infância. Isso ocorre, sobretudo, a partir da relação que o indivíduo vai manter com o grupo de indivíduos do qual faz parte e com o meio que o circunda. A escola, nesse contexto, entra como um dos principais, se não o principal, elemento difusor desses valores, crenças, costumes, hábitos, entre outros. Que, por sua vez, vão se solidificando nas relações interpessoais e na interação com o meio social. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 7 De forma sintética, fica exposto que, a cultura, em sentido amplo, diz respeito a todo conjunto de obras humanas. É esse elemento que distingue o homem de outros animais. Nessa perspectiva, é a cultura de qualquer sociedade que se constitui da soma total e organização de ideias, reações emocionais condicionadas e agregadas aos padrões de comportamento habitual que os membros dessa sociedade adquirem pela instrução ou pela imitação de que todos, em maior ou em menor intensidade, participam. A apropriação desses aspectos da cultura se consolida através de mecanismos de aprendizagem, tanto no âmbito da educação formal, como na sociedade e nas relações estabelecidas entre os seres humanos. É esse “se apropriar” que vai configurar a identidade, por conseguinte, contribuir para a produção da cultura (SILVA, 2005). Não poderíamos deixar de expor e discutir as tão importantes relações entre educação e cultura, principalmente em se tratando de EJA, onde a cultura influencia sobremaneira no aprendizado dos adultos que já trazem consigo toda uma bagagem de vivências. Salientamos que este trabalho é uma compilação de artigos de vários autores e material do que entendemos ser o mais importante em termos de educação de jovens e adultos. Dúvidas podem surgir e pedimos desculpas por eventuais lacunas, mas tanto por isso, ao final da apostila estão diversas referências utilizadas onde poderão aprofundar algum conhecimento que chame a atenção ou tenha despertado dúvida. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 8 UNIDADE 2 - EXCLUSÃO E INCLUSÃO SOCIAL Qualquer pessoa, mesmo com escassa escolaridade, entende o que significa exclusão, e o seu contrário, a inclusão. Tratando-se da exclusão social, poderíamos buscar na História uma infinidade de exemplos que mostram as margens exatas do conceito aplicado à realidade. Como exemplos, poderíamos indicar as mulheres impedidas de participar das Olimpíadas, na Grécia antiga; as mulheres hebreias excluídas do convívio quando eram declaradas “impuras”; no Brasil, negros excluídos de clubes recreativos de brancos; indígenas excluídos de suas terras e condições de sobrevivência; agricultores excluídos das possibilidades de continuar a reproduzirem-se como tais por falta de uma política agrícola voltada aos seus interesses, portadores de necessidades especiais, principalmente doentes mentais confinados em manicômios. Ferraro (1999) constrói o conceito de exclusão da escola e de exclusão na escola para identificar fenômenos de não acesso, evasão, reprovação e repetência de crianças das camadas populares; já Foucault (1996), em sua Aula Inaugural no Collége de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970, aborda as formas de interdição ou de exclusão do discurso, mostrando que essa exclusão se concretiza materialmente, de diferentes formas e com diferentes justificativas. Segundo Fischer e Marques (2001) a exclusão social remonta à Antiguidade grega, onde escravos, mulheres e estrangeiros eram excluídos, mas o fenômeno era tido como natural. A exclusão torna-se visível e substanciosa quando ocorre uma evidência da pobreza após a crise econômica mundial da idade contemporânea. Sobre a origem do termo exclusão social, as mesmas autoras pontuam que tomou vulto a partir do livro Les Exclus (1974) de Lenoir, o qual define os excluídos como aqueles indivíduos concebidos como resíduos dos trinta anos gloriosos de desenvolvimento da França. Para Jaguaribe (apud DUPAS, 1999) exclusão tem “feições de pobreza”. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 9 Já Buarque (apud NASCIMENTO,1996), infere que a partir da década de 1980, a exclusão social passou a ser vista como um processo presente, visível e que ameaçava confinar grande parte da população num apartheid informal, expressão que dá lugar ao termo “apartação social”. Em essência, a exclusão é multidimensional, manifestando-se de várias maneiras e atingindo diferentes sociedades, mas evidentemente, os países pobres são afetados em maior profundidade. Embora provocada pelo setor econômico, tem também seus meandros passando pela falta de vontade política e social. Segundo Fisher e Marques (2001), os principais aspectosem que a exclusão se apresenta, dizem respeito à falta de acesso ao emprego, a bens e serviços, e também à falta de segurança, justiça e cidadania, ou seja, suas manifestações aparecem no mercado de trabalho, no acesso à moradia e aos serviços comunitários, aos bens e serviços públicos, entre outros. Os excluídos, entre outros são: os idosos, os sem-terra, os portadores de deficiência, os analfabetos, os grupos étnicos minoritários. Até aqui o conceito tem uma propriedade fantástica; ele não deixa dúvidas a respeito da mensagem que transmite. Ele é transparente. Mas é nessa transparência que reside a sua fragilidade, porque, se ele corresponde exatamente à realidade empírica cuja superfície mostra, no entanto ele não consegue ir além desta, ou seja, não explica as razões que colocam algumas pessoas do lado de fora e outras do lado de dentro; não identifica o(s) espaço(s) e o(s) tempo(s) nos quais acontecem, não nomeia os sujeitos que decidem quem será incluído ou excluído, muito menos as suas justificativas. O que amarra o conceito ao empírico para explicitar-se é o mesmo que encerra a sua compreensão dentro deste limite. É um conceito meramente descritivo e, como tal, tem alguma utilidade, entretanto apresenta-se como impessoal e neutro. Sem um adjetivo que o qualifique (social, escolar, entre outros), é abstrato, e para concretizar-se relaciona, de maneira contraditória, seres humanos posicionados como sujeitos que excluem, de um lado, ou como objetos que são excluídos, de outro. Eis alguns riscos de seu uso quando não se tem à mão o concurso de Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 10 categorias analíticas que possam ampliar a compreensão do que exclusão e inclusão tão propriamente descrevem, ou, por outra, sem recorrer aos processos históricos em cuja lógica está incluída a exclusão, como faz Marx (1982 apud Ribeiro, 2006). Vamos retomar o tema nas condições históricas que lhe conferem visibilidade, na tentativa de criar um vínculo deste conceito com o de educação social. No que é chamado de exclusão se destacam dois pontos: Os enfrentamentos com situações de dominação que explicam o surgimento de “novos movimentos sociais”; A emergência de uma nova questão social caracterizada pelo desemprego, pelo surgimento de uma “nova pobreza” e, em decorrência, pela violência que marca os processos migratórios na Europa (Castel, 1998; Forrester, 1997 apud RIBEIRO, 2006). O conceito “exclusão” tem o mérito de ampliar a compreensão de problemas que fazem parte das relações sociais no modo de produção capitalista, mas que não podem ser explicados tão somente pela expropriação da terra ou pela apropriação do produto do trabalho, dos meios de produção e de sobrevivência. A nova questão social que dá evidência aos excluídos dos benefícios da riqueza produzida socialmente também inclui, no debate, a opressão, a discriminação e a dominação, exigindo um tratamento teórico-prático adequado, tendo por base as relações sociais de exploração/expropriação, próprias do modo de produção capitalista. Todavia, mesmo tendo este mérito – o de revelar questões que ficam, muitas vezes, subsumidas na análise das relações de conflito entre as classes sociais – o conceito de exclusão é limitado, e a sua utilização indiscriminada “reveste-se de imprecisão e carece de rigor conceitual” (Oliveira, 2004). Além de sua imprecisão, ele é impotente para a formulação de estratégias de ruptura com aquelas relações, as quais determinam que uma minoria decida Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 11 sobre a exclusão social da terra, do trabalho e das condições de subsistência da maioria dos povos. O contrário da exclusão é a inclusão, o estar dentro, o re-ingresso à condição da qual foi excluído(a). Da mesma forma, há sujeitos sociais com o poder de incluir e há os que são considerados objetos e, portanto, que são incluídos ou que, numa perspectiva assistencialista e de manutenção do status quo, são colocados para “dentro” novamente. Se considerarmos que os processos de exclusão social são inerentes à lógica do modo de produção capitalista, veremos que as políticas de inclusão e/ou inserção social são estratégias para integrar os objetos – os excluídos – ao sistema social que os exclui e, ao mesmo tempo, de manter sob controle as tensões sociais que decorrem do desemprego e da exploração do trabalho, móveis da exclusão social (RIBEIRO, 2006). Esse, portanto, é o limite do conceito “exclusão”. Ele oculta a postura autoritária da classe que opta por acomodar os conflitos, armar-se contra a violência, porque não pretende atravessar a superfície do fenômeno para ir ao fundo, ou à sua essência. Nesse fundo, é possível ver a barbárie que avança tanto sobre as populações pobres quanto sobre as condições de sobrevivência no planeta Terra, tendo em vista a necessidade de preservação dos recursos naturais não renováveis e que são essenciais à manutenção da vida (RIBEIRO, 2006). A inclusão/exclusão no campo da educação O pressuposto nesta discussão proposta por Streck (2009) é de que conceitos são instrumentos para a leitura de nosso mundo. Se, por um lado, sua criação e uso têm um inescapável grau de arbitrariedade, também é necessária uma legitimação social e pública para a sua eficácia na comunicação. O uso do binômio exclusão social/inclusão social encontra sua pertinência no contexto da denúncia e do pragmatismo, onde paradoxalmente também se revelam os seus limites, como bem dito por Ribeiro (2006). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 12 O seu potencial como fator de denúncia fica evidente na grande marcha que a cada ano é realizada sob os auspícios de setores progressistas da Igreja Católica com o nome de Grito dos Excluídos e também na mistura de pessoas e de grupos que compõem o Fórum Social Mundial (STRECK, 2009). Há uma correspondência entre exclusão social e os assim chamados novos movimentos sociais, que têm no reconhecimento identitário uma importante bandeira de luta. Podem ser as mulheres, os jovens, os negros, os índios, os sem-terra ou os sem-teto, cada um deles por sua vez eventualmente subdividido em novos grupos. Na ecologia pode haver grupos que lutam pela sobrevivência de uma espécie vegetal ou animal, grupos que lutam pela preservação da Amazônia, contra a ocupação predatória do solo, entre outros. Todos eles encontram sob o manto da exclusão social algum tipo de abrigo. Talvez se pudesse dizer que o deslizamento linguístico da opressão/libertação para exclusão/inclusão social implica um deslocamento do político para o ético. Libertação era um conceito de mobilização política da classe oprimida em busca da construção de outra sociedade. Na medida em que os contornos do horizonte dessa libertação se tornaram mais difusos, o conceito perde muito de sua força. Isso se deve tanto a fatores internos, com a assunção do poder por forças progressistas que frustram expectativas, como a fatores externos simbolizados na queda do muro de Berlim e à consequente sensação da impossibilidade de construção de alternativas que tenham condições de se sustentar no cenário global (STRECK, 2009). Grosso modo, a exclusão social pode ser definida como a limitação de acesso às condições de vida consideradas dignas dentro de critérioséticos com reclamos de universalidade. São cada vez mais as próprias diferenças que dizem o que é digno a partir de suas particularidades. Isso pode levar, como já foi alertado por Pierucci (1999), a um relativismo que em última instância reforça desigualdades existentes ou cria novas. Por isso a necessidade de princípios que digam respeito a toda a sociedade e a todas elas. Em Paulo Freire, o reconhecimento da diferença como riqueza da humanidade é combinado com o que ele chama de ética universal do ser humano. A Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 13 identificação do que seja a dignidade tem a ver com o contexto específico, mas também com uma compreensão de pertencimento a uma mesma espécie planetária. As condições de diferenciação entre os ricos pelo rótulo do vinho e outras sofisticações têm a ver com a indignidade da fome em países do Terceiro Mundo. A partir daí também se dá o inescapável encontro do ético com o político. É, no entanto, uma sinalização de que a conquista de espaços e de poder, em si, não é condição suficiente para a transformação da sociedade. O binômio exclusão social/inclusão social tem também um inegável valor pragmático. Já apontamos seu uso no debate de políticas públicas em várias áreas das práticas sociais. Se isso traz ambiguidades, também possibilita acordos entre os campos políticos para promover “inclusões” que, embora subalternas do ponto de vista da estrutura social existente, representam avanços para quem delas se beneficia. O uso pragmático também se verifica no mundo acadêmico e ali cumpre um papel semelhante ao que desempenha no campo das políticas. Este pragmatismo se manifesta de duas formas: pela possibilidade de descrever indicadores e aproximar a reflexão teórica da busca de dados empíricos e pelo desdobramento em diferentes “nomes” a partir de distintas leituras da realidade. No primeiro aspecto, destaca-se o amplo trabalho que Márcio Pochmann (2004) e sua equipe de pesquisa vêm divulgando periodicamente no Atlas da exclusão social. Para a investigação que possibilita este mapeamento são indispensáveis indicadores que permitam organizar dados estatísticos já existentes ou levantar outros pertinentes. A exclusão social pode ser medida a partir dos seguintes índices desenvolvidos pela equipe: a) para a dimensão vida digna – pobreza dos chefes de família, taxa de emprego formal sobre a População Economicamente Ativa (PEA), desigualdade de renda; b) para a dimensão conhecimento – taxa de alfabetização, número médio de anos de estudo do chefe de família; Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 14 c) para a dimensão vulnerabilidade – porcentagem de jovens na população e violência. Estes indicadores são passíveis de discussão e outros pesquisadores podem desenvolver outros atlas com base em outras definições. Não deixa de ser relevante, no entanto, que o conceito facilita ou até exige esta proximidade com a concretude das condições de vida. Fernando Gil (2002 apud STRECK, 2009), por sua vez, distingue entre um enfoque simples e um enfoque complexo da exclusão social. No primeiro caso, o enfoque simples trata-se de uma visão maniqueísta segundo a qual todos sabemos quem são os excluídos e o que cabe fazer, desde a solidariedade por parte dos cidadãos à vontade política. Numa visão complexa reconhece-se a multiformidade da exclusão social considerando seus graus e níveis, os processos causadores de exclusão, a relação entre os diversos tipos de exclusão, a relação entre os efeitos excludentes e includentes dos fenômenos sociais, e a consciência e o conhecimento do caráter paradoxal destes fenômenos. Quanto ao segundo aspecto apontado, basta ver os muitos significados atribuídos à exclusão social, numa indicação de que o estado a que este conceito se refere é passível de leituras diferentes e mesmo divergentes. Ao longo da história esse mesmo estado teve o sentido de ostracismo entre os atenienses, de proscrição em Roma, do pária na civilização hindu ou do gueto da Idade Média (Xiberras, 1993). Nas teorias sociológicas clássicas podia significar a dominação de classe (Marx), a ruptura da coesão social (Durkheim, Simmel, Weber) ou o desvio da norma (Escola de Chigago). As análises atuais traduzem a exclusão social como desfiliação, descarte, invisibilização, desqualificação, o mundo dos sobrantes, quarto mundo, desintegração, entre outros tantos sentidos. Este fato não pode ser atribuído simplesmente à falta de rigorosidade conceitual dos cientistas sociais, que fazem suas opções entre os termos existentes ou criam outros a partir de novas combinações. Parece que a elasticidade do conceito exclusão social favorece o encontro de perspectivas e as coloca diante do desafio de explicitação, questionando a rotulação fácil a partir de uma ou outra teoria. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 15 Os mesmos motivos anteriormente apontados, que justificam o uso do conceito de exclusão social, também já indicam os seus limites. A amplitude e a pragmaticidade estão ligadas basicamente ao fato de lidarem com os sintomas da realidade social sem os referir às estruturas da sociedade, responsáveis por sua produção e reprodução. Este ocultamento dificulta posicionar as ações dentro de um quadro de referência que indique um horizonte de transformação social para além das inclusões de caráter geralmente compensatório e subordinado. Talvez o jeito do autor Paulo Freire lidar com o problema conceitual em sua historicidade possa servir de exemplo ou inspiração. Houve, em suas obras, importantes deslocamentos conceituais vinculados com as mudanças da sociedade e as respectivas leituras. Em Educação como prática da liberdade, a ideia de trânsito – do homem- objeto ao homem-sujeito, da sociedade fechada à sociedade aberta, da consciência ingênua à consciência crítica – expressa a expectativa de uma mudança em vias de realização por meio dos projetos que, naquela época de grande mobilização popular, estavam sendo desenvolvidos. Na Pedagogia do oprimido torna-se central a noção de conflito entre oprimidos e opressores, numa ruptura com a linearidade sugerida pelo conceito de trânsito. Em Pedagogia da esperança, a metáfora da trama indica novos tempos, novas leituras e novas pedagogias. A continuidade não está dada pelo apego a uma ou outra teoria, mas deve-se à escuta das práticas educativas que, em seu tempo, desafiam a busca de novos referenciais. Continua o desafio do trânsito da consciência, do ser humano e da sociedade em direção ao "ser mais". A luta pela libertação dos oprimidos não perdeu a sua vigência. Mas ambos os processos são ressignificados em outro contexto sociopolítico. O argumento de Santos (1996) de que estamos num período de mudanças paradimáticas encontra eco na busca por uma linguagem que traduza a realidade. Os usos do binômio exclusão social/inclusão social na área da educação parecem ser uma expressão de incertezas epistemológicas que, conforme este autor, acompanham estes períodos de transição. Se, por um lado, a multiplicidade de Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas16 vozes torna difícil reconhecer caminhos e direções, por outro, ela também desafia à criatividade e ao diálogo (STRECK, 2009) Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 17 UNIDADE 3 - A ESCOLA E SEUS SUJEITOS A Educação de Jovens e Adultos apresenta hoje uma identidade que a diferencia da escolarização regular e essa diferenciação não nos remete apenas a uma questão de especificidade etária, mas, primordialmente, a uma questão de especificidade sócio-histórico-cultural. Os novos rumos da Educação Brasileira enfatizam a difusão dos valores de justiça social e dos pressupostos da democracia, do respeito à pluralidade fundados à crença na capacidade de cada cidadão ler e interpretar a realidade, conforme sua própria experiência, o que exige reorientar o olhar para propostas educativas que incluam o desenvolvimento da pessoa humana de forma integrada e completa, no atendimento de suas necessidades cognitivas, afetivas, motoras e sociais. O censo de 2000 já indicava, na Educação de Jovens e Adultos, uma parcela de aproximadamente três milhões de estudantes, sendo que, desse total, cerca de 79% são jovens, o que caracteriza um novo perfil de alunado. A principal preocupação relacionada aos dados é que a presença deste contingente de jovens se apresenta como novidade nesta modalidade de ensino e exige que se pense sobre formas de lidar para além dos conceitos da facilidade e redução de tempo na conclusão do curso e obtenção do certificado. Uma primeira consideração deve ser a de reconhecer este jovem como um sujeito, cuja história não é a mesma de outros jovens da mesma idade, que estão ingressando num nível superior de escolaridade ou buscando cursos de especialização profissional para acessar ou se aprimorar para o mercado de trabalho. O jovem da EJA deve ser visto como uma pessoa, cujas condições de existência, remetem à dupla exclusão, de seu grupo de pares da mesma idade e do sistema regular de ensino, por evasão ou retenção. Este jovem, pertencente ao mundo do trabalho, ou do desemprego, como é mais comum, incorpora-se ao curso da EJA, objetivando, na maioria das vezes, concluir etapas de sua escolaridade para buscar melhores ofertas do mercado de trabalho por sua inserção no mundo letrado. Desta forma, assemelha-se ao adulto Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 18 que sempre buscou este tipo de curso para sua formação, mas diferencia-se dele em suas condições biológicas e psicológicas, apontando para uma demanda diferente da do adulto no atendimento escolar. Situar este jovem num mundo cultural concreto, de uma determinada época da história, faz contraponto à visão de existência do adolescente universal, com características emocionais típicas de desenvolvimento (como as de naturalmente fazer oposição ao adulto, criar situações constrangedoras, ser rebelde, entre outras), como se a idade biológica pudesse ser, por si só, o único determinante de um conjunto de comportamentos comuns e de uma visão de mundo característica. Nesta fase de desenvolvimento, o jovem que se encontra no mercado de trabalho e lutando para garantir sua sobrevivência, apresenta características diferenciadas pelo contato imediato com a realidade social, daquele jovem universal, abstrato, que só responde às etapas biológicas de seu crescimento, representadas por um conjunto de transformações corporais e psicológicas entre a infância e a idade adulta, tipificadas como adolescência. As teorias de desenvolvimento humano, que se sustentam numa visão de homem constituída em dupla determinação, biológica e social, enfatizam a formação humana num movimento constante de vir a ser, em que cada fase da vida se define por um conjunto de características e necessidades biológicas, psicológicas e sociais, imbricadas, de forma que se realiza, simultaneamente, a formação da personalidade e o conhecimento do mundo objetivo. O conjunto de características e necessidades bio-psíquico-social recria-se nas etapas do desenvolvimento, tendo como base o que foi gerado na fase anterior e o que se oferece no presente, num processo constante de atualização. O processo de desenvolvimento é dinâmico e decorre da inserção do sujeito em um determinado meio, das atividades em que se envolve, do sentido que atribui a essas atividades, das escolhas que faz ou deixa de fazer. Estes sentidos são incorporados do conjunto mais amplo das relações sociais, mediante a interpretação de cada um da perspectiva do lugar social que ocupa, pela bagagem cultural de sua trajetória e pelas características regionais de seu grupo. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 19 Entender o desenvolvimento humano dessa forma significa compreender que as mudanças pessoais não são resultados exclusivamente de processos individuais e biológicos, mas têm como parâmetros as condições objetivas que o meio social impõe a cada fase da vida (FERRARI; AMARAL, 2003). Nessa perspectiva, a experiência na instituição escolar assume um papel mais abrangente do que o de emissora de certificados. Enquanto trabalho e enquanto escola, o jovem que frequenta a EJA está mergulhado num meio que pertence ao adulto, que ele desconhece na qualidade de agente da sua história, cuja prioridade está em se manter no mercado de trabalho para garantir a sobrevivência. Esta condição de existência o configura como sujeito, cujas necessidades pessoais são perpassadas de maneira imediata, não apenas pelas necessidades sociais, dadas pelo que a sociedade impõe aos de sua idade em condição social privilegiada (o preparo para uma profissão, em caráter de aprendiz), mas às necessidades que a sociedade impõe ao perfil do adulto: sobrevivência, luta pela vida, enfrentamento do mundo do trabalho. O conflito, as contradições e ambivalências próprias da fase do crescimento biológico estão presentes, mas subordinadas e direcionadas pelas necessidades que a realidade impõe, pelas condições que oferece e pela expectativa que decorre de como superar esses enfrentamentos. A tão propalada “revolta” do adolescente e seus atritos com os adultos apresentam-se, ao jovem que frequenta a EJA, como crítica à ação educativa que pretende mantê-lo na condição de criança, ou mesmo de jovem, com a qual ele não se identifica; e como questionamento sobre o processo que o mantém distante dos temas de sua época e que lhe dizem respeito diretamente, em favor de um rol de conteúdos tradicionalmente estabelecidos e sem significado para ele, que não o levam à compreensão de sua integridade como pessoa, à sua interação com os grupos dos quais se sente excluído e tampouco alimentam suas expectativas de mudança de vida a longo prazo (FERRARI; AMARAL, 2003). Via de regra, a visão de adolescente universal, que justifica a exclusão do jovem também na sala de aula, pode desencadear novos bloqueios e interromper o fluxo de estímulos que o levaram a dar continuidade ao seu processo de formação. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 20 Um meio escolar, que visa (e que deve visar) ao desenvolvimento integral da pessoa em seu contexto ambiental e social, apresenta condições depropiciar transformações nos comportamentos, sentimentos e pensamentos dos jovens, em decorrência da diversidade de relações estabelecidas com o conhecimento, com colegas de idades diferentes e com professores. Esta diversidade de relações também implica um processo construído pela conjunção de diferentes experiências que devem pertencer ao rol de atenção dos educadores, como afirma Debesse (1993, p. 102) “esquecer ou renegar a adolescência seria uma derrota. Lastimá-la seria uma fraqueza. Adorá-la seria um erro. O que é preciso é que tudo o que ela tem de melhor se conserve em nós como uma força atuante, um exemplo vivo, um programa de ação a realizar”. Numa sociedade como a nossa, cujo valor social dado à escola é muito grande, o fato de uma pessoa não ter estado na escola, numa fase em que deveria estar, é uma marca distintiva como a da pobreza, é característica da condição de subalternidade, da exclusão oriunda de suas raízes culturais, imposta pelo grupo dos letrados. A possibilidade de superação deste estigma destaca a EJA como um dos meios privilegiados de mudança, se considerada a afirmação de Rubinstein (1969, p. 204): através de sua atividade socialmente organizada, o homem se converte em membro e representante de um todo social: os motivos sociais se convertem em seus motivos pessoais (...) desta forma, se eleva por cima do plano da mera existência orgânica e se incorpora ao plano da existência social. A escola pública como locus de formação do jovem e do adulto Considerar o meio humano como condição de humanização remete à uma visão de escola como um espaço social privilegiado de formação. A educação escolar, sistemática, intencional, deve dirigir-se primeiramente à personalidade inteira da pessoa e, ainda que priorize o trabalho com o conhecimento, a ação pedagógica influi de forma abrangente em todas as suas dimensões. Nesse sentido, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 21 a escola deve levar em conta que as necessidades do aluno são de ordem diferenciada: motora, cognitiva, afetiva e social e minimizar qualquer uma delas significa comprometer o processo como um todo. O aluno leva para a escola características de seu ser biopsíquico indissociado de suas condições materiais e sociais de existência, e a escola, como um fator que introduz no cotidiano um tempo de dedicação e exige inúmeras adaptações não pode se furtar ao trabalho de ensino/aprendizagem descomprometido com o processo de desenvolvimento intelectual, social e moral, que ocorre simultaneamente à aquisição de conteúdos e disposição para avaliações. Ferrari (2001), ao investigar se a inserção em um curso supletivo noturno, de uma escola da periferia da cidade de São Paulo, teria provocado ou não mudanças substanciais nos alunos, constatou que, na visão dos jovens, as mudanças principais diziam respeito à diversidade de interações propiciada pelo convívio escolar, já que, diferentemente do universo em que tinham vivido até então, o espaço escolar lhes dera a chance de, segundo eles, conhecer mais o mundo e as pessoas. A frequência à escola aparece citada também como a possibilidade de superação do medo e da vergonha, antes impeditivos de participação em atividades que demandavam escolarização, e em superação do estigma – de fracasso escolar – que nutriam a seu próprio respeito. Principalmente para os mais jovens, a frequência ao curso oportunizava a elaboração de projetos de vida e diferentes perspectivas de futuro, com a esperança de possível melhora de oferta de trabalho e continuidade dos estudos. Embora considerando que o ensino ofertado não atende as necessidades de aluno trabalhador, constata-se que aqueles que o frequentam apresentam mudanças, relacionadas principalmente à adesão, até então, ao forte preconceito que pesa socialmente sobre o analfabeto ou sobre “quem não estudou”. Ao indicar seus planos para o futuro, os jovens sujeitos da pesquisa, acreditam estar em pé de igualdade com outros alunos egressos de outras escolas num mesmo nível. A pesquisa de Ferrari aponta que os alunos não percebem que o curso supletivo, da forma como se apresenta, considerado um curso de segunda linha Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 22 frente às exigências do ensino regular, não dá sustentação a tal crença. Possivelmente, irão se sentir novamente excluídos, quando tentarem buscar um emprego que exige melhor qualificação ou mesmo procurarem dar continuidade aos estudos num patamar superior. Evidenciando o distanciamento da necessidade dos jovens, essa escola não tem como prioridade alargar a compreensão que o indivíduo tem de suas condições sociais concretas e continua deixando em segundo plano uma formação mais abrangente que incluiria, inclusive, a possibilidade de crítica a este modelo educativo que, num espectro mais amplo, acaba reconduzindo o sujeito a um mesmo patamar de subordinação. O curso supletivo (em sua ampla concepção) hoje é a única possibilidade de reinserção escolar para aqueles alunos com defasagem série/idade, quer seja pelo afastamento dos estudos pelas exigências de trabalho precoce, quer seja pela exclusão do sistema regular de ensino por reprovações sistemáticas. Essa constatação nos aponta, enquanto educadores, à necessidade de assumir o curso como oportunidade concreta para os jovens e à importância de avançar no significado do que seja instrução, contemplando em seus currículos a formação do homem-cidadão profissional, na perspectiva de uma educação como apropriação da cultura, enquanto integração de todas as atividades humanas e determinante da humanização. O convívio entre diferentes faixas etárias, do jovem com o aluno adulto, pode se enriquecedor, se estiverem incluídas as necessidades do aluno jovem: tanto no que diz respeito a maior necessidade de movimentação na sala, quanto a seu ritmo de aprendizagem, priorizando atividades que estimulem parcerias, em lugar da competição com os mais velhos, organizando atividades que promovam a reflexão sobre os valores e as condutas e que propiciem a formação de vínculos positivos e respeito à forma de pensar, agir e sentir do outro. A escola precisa ser um ambiente onde o sujeito aprenda a vida social e democrática não só pela transmissão ordenada das lições dos livros, mas também pelas experiências da vida cotidiana, por meio de pesquisas, análise, reflexão de sua condição e troca de ideias em que possa refletir sobre a condição do outro, Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 23 perceber em que aproximam ou se distanciam, quais são os conflitos e quais os consensos possíveis. Deve propiciar aos jovens uma análise crítica da estrutura social, administrativa e política para acompanhar as mudanças sociais de seu tempo, a fim de que não fique alijado da vida real e deve ainda se responsabilizar pela sua formação integral, desenvolvendo uma postura ética, fundada em valores dignos de um cidadão comprometido com os problemas sociais vigentes em sua realidade. Enquanto organizadora de novas perspectivas para os alunos, tanto no sentido de satisfação da necessidade pessoal mais imediata, como aprender a ler e escrever para atender à demanda de uma sociedade letrada e garantir a própria sobrevivência, quanto para alargar gradativamente a perspectiva de cidadão,num sentido mais social, mais amplo, ao transformar sua necessidade pessoal de saber ler e escrever numa atividade de participação crítica da vida em sociedade. Cabe à escola conjugar, ao mesmo tempo, os conteúdos do ensino e as disciplinas escolares com o gosto pela verdade, o espírito crítico, a consciência de suas responsabilidades sociais, objetivando a conquista da autonomia da pessoa do jovem. O grupo de professores – e o professor de cada sala em particular – precisa ter em conta que sua prática pedagógica não pode se esgotar na relação conteúdo- rendimento-indivíduo, que essa prática pode alcançar o desenvolvimento da pessoa integrada e completa, fortalecendo a postura de cada um e a consciência do grupo enquanto cidadãos e priorizando o respeito por si mesmo e pelos outros (FERRARI; AMARAL, 2003). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 24 UNIDADE 4 - RELAÇÕES RACIAIS, CONDICIONANTES SOCIOCULTURAIS O Brasil conta com uma população de aproximadamente 191 milhões sendo que destes 50,2 milhões de jovens (26,4% da população) estão compreendidos na faixa etária de 15 a 24 anos. Apesar desse número expressivo da juventude, percebe-se que as formulações de políticas públicas focadas nesse seguimento social são ainda recentes e integram todo um movimento de conquista popular e de protagonismo juvenil. Os jovens brasileiros, sobretudo os pobres, enfrentam nos dias atuais problemas da ordem social, econômica, educacional, violência urbana, entre outros. No Brasil, a luta pelo acesso e permanência à escola de qualidade por parte das camadas populares como uma garantia do direito à educação não é recente no decorrer da história brasileira. O campo educacional da Educação de Jovens e Adultos segue nessa direção. A sua trajetória sócio-histórica é marcada por enfretamentos, lutas, embates políticos e pedagógicos que, a partir da década de 1960, por meio de ações populares teve, na Educação Popular, a forma de expressão mais visível de reivindicação por um processo de ensino e aprendizagem que garantisse o direito à educação básica de qualidade para todos, contemplando principalmente os setores sociais menos favorecidos da população. Miguel Arroyo (2005, p. 31) argumenta que o campo educacional da EJA sempre apareceu vinculado a um outro projeto de sociedade, um projeto de inclusão do povo como sujeito de direitos. Foi sempre um dos campos da educação mais politizados, o que foi possível por ser um campo aberto, não fechado e nem burocratizado, por ser um campo de possíveis intervenções de agentes diversos da sociedade, com propostas diversas de sociedade e do papel do povo. O autor acima citado diz ainda que, desde a sua constituição como campo educacional, os jovens e adultos presentes na EJA são os mesmos, ou seja, na maioria das vezes no decorrer da história da educação brasileira foram esses jovens e adultos que tiveram os seus direitos à educação básica negligenciados. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 25 Arroyo (2005, p. 29) afirma que desde que a EJA é EJA os jovens e adultos são os mesmos: pobres, desempregados, na economia informal, negros, nos limites da sobrevivência. São jovens e adultos populares. Fazem parte dos mesmos coletivos sociais, raciais, étnicos, culturais. O nome genérico: educação de jovens e adultos oculta essas identidades coletivas. Tentar reconfigurar a EJA implica assumir essas identidades coletivas. Na mesma direção, a análise do campo educativo da EJA, no entendimento de Juarez Dayrell (2005) se dá de forma bastante ampla abrangendo aspectos sociais, culturais e históricos, isto quer dizer que, “ao se referir à educação, está implícito que a tradição da EJA sempre foi muito mais ampla que o ensino, não se reduzindo à escolarização, à transmissão de conteúdos, mas dizendo respeito aos processos educativos amplos relacionados à formação humana, como sempre deixou muito claro Paulo Freire” (DAYRELL, 2005, p. 53). Na opinião desses autores, o campo educacional da EJA não se esgota nos processos de transmissão de conteúdos e nem se reduz à escolarização. Sendo assim, ao focar os sentidos e significados atribuídos pelos jovens negros aos processos de escolarização no tempo e espaço da EJA, o nosso olhar pode destacar a identidade étnico-racial como uma das identidades coletivas juvenis construídas pelos sujeitos que participam da EJA. Há aqui o entendimento da EJA como uma modalidade de ensino que não se limita ao aprendizado de conhecimentos específicos, mas se realiza como uma experiência de formação que mobiliza diferentes sujeitos (GOMES, 2004). Na mesma direção, Andrade (2006) analisa que os jovens que se inserem na modalidade de ensino da EJA demandam por uma relação diferenciada pautada pelo diálogo entre o(a) professor(a) e o(a) jovem e adulto. Os jovens demandam de um tipo de relação humana e pedagógica diferente daquela que tem recebido. Parece que, no interior de algumas escolas, há choque entre culturas e gerações que se expressaria como desrespeito ao(à) aluno(a) como sujeito social e cidadão(ã) portador(a) de direitos. Desse modo, os jovens também demandam um “maior diálogo” e um “maior vínculo” entre eles, ou falam da necessidade de os professores “conhecerem melhor quem somos nós, os alunos” (ANDRADE, 2006, p. 66). Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 26 Vamos focar o segmento juvenil negro, uma vez que diante dos dados oficiais esse é o segmento da população que apresenta os elevados índices de evasão escolar, a defasagem idade/série, as dificuldades na inserção no mercado de trabalho, a alta incidência de mortalidade por armas de fogo, a privação de acesso aos bens simbólicos e culturais, a consternação do preconceito e da discriminação racial, entre outros. A pesquisa Desigualdade Racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), retrata as desigualdades raciais a partir dos indicadores que abrangem a faixa etária, condição de moradia, empregabilidade, educação, entre outros, destinados à população negra, sobretudo, no que se refere à situação dos jovens e adultos negros. Os dados sobre a escolarização dos jovens negros apresentados por essa pesquisa revelam uma profunda desigualdade nas trajetórias de negros e brancos no Brasil. Esse quadro complexo nos leva a refletir que os jovens negros constroem suas trajetórias de vida e escolar de maneira muito acidentada. Esta situação de exclusão pode estar desencadeando um outro tipo de retorno desse público na busca de um lugar nos bancos escolares, porém, na modalidade EJA. Esse contexto nos leva a indagar os motivos que levam esses jovens negros a persistir e resistir em continuar o seu processo de escolarização. E, mais, nos leva a questionar se os processos de escolarização da EJA estão atentos a essas questões e como reagem diante dela na sua organização escolar, na seleção dos conteúdos, nas vivências, nas discussões, relação com o saber e com a diversidade. Na mesma direção, os dados do IBGE analisados através do mapa do analfabetismo do Brasil pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) confirmam o que vários pesquisadores têm apontado por meio de suas pesquisas: para a caracterização real das desigualdadessociais, econômicas, históricas e culturais brasileiras é necessário desagregar o fator raça/cor. Como nos mostra a tabela abaixo: Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 27 Tabela 1. Taxa de analfabetismo de 15 anos ou mais por cor ou raça, 1992-2001 Fonte: IBGE, Pnad, 1992-2001. Os índices apresentados na tabela acima nos mostram que a taxa de analfabetismo incide de forma mais expressiva sobre a população que se autodeclara como negra. Além disso, podemos verificar que a distorção série/idade da população negra ocorre tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio. Assim sendo, os dados expostos acima, confirmam que, no decorrer dos anos, o déficit relacionado à distorção série/idade incide de forma mais acentuada sobre a população juvenil negra. Os dados expostos nos fazem refletir que o quadro de desigualdades e exclusão social, revelado pelas pesquisas oficiais, faz-se presente na educação escolar de maneira geral. Porém, esse quadro tem afetado de maneira mais direta o segmento pobre e negro da população. Ao constatar o grande número de jovens e adultos negros em processo de exclusão social, questiona-se: onde esse público se insere quando retorna para a escola? Apesar de não existir pesquisas muito específicas sobre o assunto, os estudos sobre relações raciais e educação existentes nos levam a ponderar que, no Brasil, esse segmento deve estar localizado na EJA, ou seja, o campo da EJA possui como uma de suas características fundamentais não somente o recorte socioeconômico e geracional, mas também o racial. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 28 Acreditamos com isso, que o combate e a superação das desigualdades raciais que atingem de forma mais incisiva a população afro-brasileira precisa fazer parte das reflexões e das ações educativas desenvolvidas pelos docentes no interior das escolas. Essa questão atinge também a EJA. Assim sendo, Gomes (2004, p. 84) aponta que: As desigualdades raciais que acontecem historicamente na sociedade brasileira foram, aos poucos, sendo naturalizadas. Esse processo contribui para a produção de uma reação perversa entre nós: ao serem pensadas como processos naturais, essas desigualdades tornam-se imperceptíveis. E, mesmo quando percebemos, muitas vezes não reagimos a elas, pois nosso olhar docente e pedagógico está tão ‘acostumado’ com essa realidade social e racial na escola, que tendemos a naturalizá-la e não a questionarmos. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 29 UNIDADE 5 - PAULO FREIRE, MOVIMENTOS SOCIAIS E EDUCAÇÃO POPULAR O artigo redigido em 2010 por Danilo Streck intitutado “Entre emancipação e regulação: (des)encontros entre educação popular e movimentos sociais”, trabalho originalmente preparado para integrar o painel “Educação popular e movimentos sociais: tensões e desafios na América Latina”, na 32ª Reunião anual da ANPEd, realizada de 4 a 7 de outubro de 2009, cabe bem no contexto desse estudo, portanto foi colocado na íntegra. A educação popular tem como uma de suas marcas acompanhar o movimento de classes, grupos e setores da sociedade que entendem que o seu lugar na história não corresponde aos níveis de dignidade a que teriam direito. Isso pode significar a reivindicação de espaço na estrutura existente, mas pode também representar o engajamento na luta por rupturas e pela busca de novas possibilidades de organização da vida comum. O elemento definidor, neste caso, não é tanto o projeto final, mas a disponibilidade para sair do lugar, o mover-se em direção a um horizonte que apenas deixa entrever sinais do que Paulo Freire chamou de inéditos viáveis. Quer definamos a educação popular com base nos objetivos, no método, no conteúdo, no contexto ou nos sujeitos, sempre haverá dúvidas sobre o que ela é de fato. Acredito que nisso reside uma de suas virtudes e é um dos motivos pelos quais ela não se dissolve como outras modas pedagógicas dispostas a trazer soluções mais ou menos definitivas (STRECK, 2010). Isso tem a ver com a sua origem. Há unanimidade entre os historiadores da educação popular de que ela se forma no movimento da sociedade. Se temos nomes que servem de referência é porque pessoas se dispuseram e tiveram a habilidade de captar a pedagogia que se realizava nesse movimento. No entanto, enquanto processo, ela é maior que cada um desses nomes e continua sendo recriada nesse movimento da sociedade. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 30 Uma das contribuições das teses e dissertações nos programas de pós- graduação é o desvelamento de pedagogias invisibilizadas pelo projeto pedagógico hegemônico, preocupado com estatísticas e resultados que habilitam os alunos a serem econômica e socialmente competitivos no cenário posto. Ao consenso de Washington, na economia, parece ter se sucedido um consenso pedagógico gerado com base nos centros de poder (STRECK, 2007). Neste artigo, Streck propõe discutir a relação entre a educação e os movimentos sociais, tendo como pressuposto que a origem da educação popular está nos movimentos sociais e que, na medida em que os movimentos sociais se reconfiguram no cenário regional, nacional e internacional, também a educação popular precisa perguntar-se pelo lugar de onde faz a sua leitura de mundo e a sua intervenção. O desafio é o mesmo que Paulo Freire coloca no início de Pedagogia do oprimido, quando diz: “Mais uma vez os homens, desafiados pela dramaticidade da hora atual, se propõem, a si mesmos, como problema. Descobrem que pouco sabem de si, de seu 'posto no cosmos', e se inquietam por saber mais” (1981, p. 29). Streck acredita ser esta uma tarefa que se coloca para cada geração e que ela precisa responder lançando mão das ferramentas disponíveis em seu tempo. A origem no movimento A história da educação popular geralmente é contada a partir da década de 1960, que no Brasil coincide com uma forte mobilização popular na qual se encontrava inserida a educação, em especial a alfabetização de adultos. A referência mais marcante desse movimento pedagógico-político-cultural é o projeto de Paulo Freire em Angicos, no Rio Grande do Norte, em 1963. Dentre os movimentos implantados no Nordeste, todos no início da década de 1960, podem ser citados o Movimento de Cultura Popular (MCP), criado na Prefeitura de Recife; a campanha “De pé no chão também se aprende a ler”, instituída pela Prefeitura de Natal; e o Movimento de Educação de Base (MEB), Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 31 criado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em convênio com o governo federal. Em sua análise desse período, Scocuglia (2000, p. 51) conclui que “embora continuassem sob o patrocínio do Estado, sob seu financiamento, esses movimentos transcenderam o controle estatal e imiscuíram-se na sociedade civil, aprofundando suas raízes”. Uma das razões para isso teria sido a visão da educação como integradaà cultura enquanto expressão criativa de homens e mulheres. Há, nesse sentido, uma coincidência com experiências em outros lugares do mundo: o movimento estudantil naquela época reivindicava uma democratização das relações nas universidades e escolas; as mulheres deixavam os seus lugares tradicionais, nas casas, para reclamar uma participação igualitária em todos os setores da sociedade; o movimento dos direitos civis colocava em xeque a dominação baseada na cor da pele; as ainda existentes colônias africanas declaravam a sua emancipação. Essa relação dos movimentos sociais no contexto internacional com o surgimento da educação popular está expressa na nota de rodapé de Paulo Freire, em Pedagogia do oprimido: Os movimentos de rebeldia, sobretudo de jovens, no mundo atual, que necessariamente revelam peculiaridades dos espaços onde se dão, manifestam, em sua profundidade, esta preocupação em torno do homem e dos homens, como seres no mundo e com o mundo. Em torno do que e do como estão sendo. Ao questionarem a “civilização do consumo”, ao denunciarem as “burocracias” de todos os matizes; ao exigirem a transformação das Universidades, de que resulte, de um lado - o desaparecimento da rigidez nas relações professor-aluno; de outro - a inserção delas na realidade; ao proporem a transformação da realidade mesma para que as Universidades possam renovar-se; ao rechaçarem velhas ordens e instituições estabelecidas, buscando a afirmação dos homens como sujeitos de decisão, todos estes movimentos refletem o sentido mais antropológico do que antropocêntrico de nossa época (FREIRE, 1981, p. 29-30). Essa citação contém elementos que compõem a compreensão de Freire sobre os movimentos sociais e que coincidem com grande parte das definições que encontramos em autores que estudam o tema. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 32 Os movimentos sociais: a) são ações coletivas, com certo nível de organização; b) são portadores de uma rebeldia que impulsiona as mudanças na sociedade; c) são localizados, respondendo a desafios específicos de uma classe, de um grupo social, de uma questão social emergente; d) são ao mesmo tempo portadores de uma preocupação essencial, de caráter universal, que no caso seria a busca de humanização; e) são lugares de constituição do homem e da mulher como sujeitos; f) da atualidade indicam a ultrapassagem de uma visão antropocêntrica em direção a uma visão antropológica. Importa destacar o fato de que a educação popular, em sua origem, praticamente se encontra fundida com os movimentos sociais populares. Na medida em que ela corresponde a uma pedagogia do oprimido (e não para ele), a fonte de inspiração será o próprio movimento da sociedade. Os movimentos sociais populares são considerados por Freire como a grande escola da vida. Neles, a ação por melhorias concretas no bairro ou das condições de vida anda de mãos dadas com a reflexão sobre o entorno e sobre estratégias de luta. De acordo com Freire; Nogueira (1989, p. 66): “É por esse caminho, (...), que o Movimento Popular, vai inovando a educação” Eles são uma força instituinte nas práticas educativas. A ação dos movimentos, por outro lado, não gera a sua pedagogia em um vazio teórico. Nesse contexto, pode-se apenas lembrar que existe uma rica tradição pedagógica pouco integrada na reflexão teórica, mas que funciona como um manancial subterrâneo que alimenta as novas experiências. Talvez a figura mais expressiva seja José Martí, com sua insistência na formação de homens e mulheres para o que ele chamava de nossa América, uma educação que reconhecesse as peculiaridades deste subcontinente e que formasse cidadãos e governantes para as jovens nações que aqui nasciam. Há uma longa lista de nomes que merecem ser trazidos à luz das discussões, entre eles José Mariátegui (Peru), José Pedro Varela Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 33 (Uruguai), Nísia Floresta (Brasil), Elizardo Pérez (Bolívia) e Gabriela Mistral (Chile). O caminho para uma refundamentação consistente passa pela apropriação crítica dessa memória submersa e subversiva. O estado da discussão Verifica-se nos últimos anos uma preocupação crescente em torno do tema da educação popular e dos movimentos sociais. Os motivos para isso são diversos, mas Streck (2010) destaca como o principal deles a necessidade de reencontrar-se com práticas sociais que hoje traduzem efetivas perspectivas de transformação. Como assinalado por Pedro Pontual (2008, p. 3) na apresentação de um número especial da revista La Pirágua inteiramente dedicado ao tema em pauta, com o título de capa Educación Popular y movimientos sociales hoy: nuevos retos y compromisos: “Los movimientos sociales son el sujeto político protagonista de las mas sustantivas transformaciones históricas em nuestro continente y de las prácticas de educación popular”1. Ou seja, há em sua visão uma coincidência entre ações transformadoras na sociedade e na educação popular, ambas impulsionadas pelos movimentos sociais. Na abertura de outra obra que reúne reflexões de pesquisadores brasileiros e portugueses, encontramos ainda de maneira mais explícita a busca de lugares que estejam fora ou na margem do âmbito da institucionalidade das políticas de educação dirigidas a públicos adultos e que se conforma aos ditames da nova economia. Nas palavras de Rui Canário, no prefácio do livro Educação popular e movimentos sociais (2007, p. 8): Transitou-se de uma perspectiva de “humanização” do desenvolvimento e de promoção social, imagem de marca do movimento de educação permanente impulsionado pela UNESCO, para uma clara subordinação funcional da formação de adultos a uma racionalidade econômica, em que impera a lógica e o poder das empresas multinacionais. 1 Os movimentos sociais são o tema de liderança política das transformações mais substantivas na histórica do nosso continente e das práticas de educação popular. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 34 O objetivo da publicação por ele referida é, por um lado, questionar essa compreensão estreita da educação de adultos e, por outro, identificar potencialidades de emancipação na ação transformadora. Mais uma vez, o olhar se volta para os movimentos sociais. Um terceiro livro inicia com uma referência à exaustão do modelo de organização social que não mais corresponde às “mais generosas aspirações dos Humanos e do Planeta”. Afirma Callado (2008, p. 10), prefaciador do livro Educação popular e movimentos sociais: aspectos multidimensionais na construção do saber: “Os Movimentos Sociais Populares com projeto alternativo de sociedade emergem como protagonistas principais no atual cenário socio-histórico”. A possibilidade de uma outra sociedade estaria vinculada a uma efetiva organização dos núcleos ativos que se encontram na base. A coincidência dos títulos sinaliza que se está diante de um tema prioritário para a educação popular. Tendo a leitura do mundo como um de seus axiomas básicos, esta preocupação corresponde à experiência de ter que redefinir o lugar de onde é feita essa leitura. Consultam-se então os cientistas sociais para compreender a dinâmica dos movimentos sociais e encontram-se ali surpresas nas discussões.Por exemplo, quem não ouviu falar dos novos movimentos sociais? Ou dos novíssimos? Vejamos o que diz Follari (2008, p. 21 apud STRECK, 2010) a esse respeito: Los "nuevos movimientos sociales" no siempre son nuevos; como en el caso de los indígenas o los grupos cristianos, resulta absurdo denominarlos así. Lo que siempre es nuevo, es su descubrimiento por parte de los intelectuales, que apelaron a ellos cuando se quedaron sin discurso propositivo em los años noventas, trás la caída del socialismo real. A falta de sociedad alternativa, bueno resulto hablar de la sociedad civil 2 . O mesmo autor desmistifica a relação maniqueísta entre os bons movimentos sociais e as más instituições políticas. Segundo ele, ambos cumprem 2 Os "novos movimentos sociais" não são sempre novos, como no caso dos grupos indígenas e dos grupos cristãos, resultando no absurdo de chamá-los assim. O que sempre é novo é a descoberta por intelectuais, que recorreu a eles quando se enquadraram no discurso dos anos 90, após a queda do socialismo real. A falta de sociedade alternativa, expressa bons resultados para falar sobre a sociedade civil. Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 35 funções diferentes e são necessários na sociedade. Os movimentos sociais não podem funcionar como partidos políticos e governos, nem desempenhar o papel destes; da mesma forma, se a racionalidade dos movimentos sociais – que por natureza tem um foco de ação restrito – prevalecesse, perder-se-ia a tensão entre as singularidades dos movimentos e as políticas gerais. Com base no que sabemos sobre a relação entre movimentos sociais e educação, os estudos podem ser divididos em dois grandes blocos, que na realidade são as duas faces do mesmo fenômeno. Por um lado, procura-se compreender a pedagogia dentro do movimento, no sentido de potencializar os processos ali desenvolvidos e extrapolar as lições para outros lugares pedagógicos, com base no pressuposto de que ali ocorrem aprendizagens que podem servir de referência para outros contextos pedagógicos. Por outro lado, outra dimensão dos estudos é o movimento, em si, como um momento pedagógico para a sociedade. Dentre as aprendizagens nos movimentos podem ser destacados os seguintes: a) o redimensionamento do popular, ampliando o seu significado para além da tradicional visão classista; b) o enraizamento como uma necessidade para uma educação que se propõe a reconstruir identidades; c) ao mesmo tempo, a ruptura e a insurgência como parte da pedagogia dos movimentos sociais; d) a participação como um princípio metodológico, uma vez que a solidariedade entre os integrantes de um movimento é constitutiva do próprio movimento; e) uma nova compreensão de sujeito, como emergência na ação e não como instância fixa; f) a produção de saberes específicos da área de atuação dos movimentos sociais, tais como ecologia, direitos humanos, a questão da terra e moradia; g) a relação com o poder, devendo este ser recriado em função tanto da eficácia da ação quanto da solidariedade interna; Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 36 h) o redimensionamento do local e do global. Em termos de significado para a sociedade, os movimentos sociais se caracterizam por introduzir o conflito como um elemento pedagógico. A mídia desempenha um papel fundamental nesse “ensino” baseado nos movimentos sociais. Há, hoje, uma forte tendência nos meios de comunicação hegemônicos à criminalização dos movimentos sociais, classificando os seus integrantes como perturbadores da ordem e, portanto, sujeitos à repressão policial (SEONE, 2008 apud STRECK, 2010). Em contrapartida, os próprios movimentos criam estratégias pedagógicas muito efetivas. A prática do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de visitar cidades e estabelecer diálogo com igrejas, entidades e órgãos públicos, certamente contribuiu para que, apesar das repressões, se encontrasse disseminado na opinião pública um reconhecimento de justiça na causa da luta dos trabalhadores sem-terra. Atualmente, cada vez mais, a Internet ajuda a construir redes de informação alternativas que fazem o contraponto à opinião emanada em meios de comunicação, aos quais o povo só tem acesso como espectador ou coadjuvante nos programas das tardes de domingo. A agenda dos movimentos sociais e da educação popular A tendência anteriormente indicada de reencontro da educação popular com os movimentos sociais indica também que houve um distanciamento, quando não um divórcio. Um dado importante é que a crise dos movimentos sociais, associada à queda do muro de Berlim, em 1989, coincide, na educação popular, com a busca de refundamentação ou, como querem alguns, de refundação. Passada a avalanche neoliberal, o momento atual parece traduzir-se exatamente por esse reencontro numa luta já com contornos um pouco mais definidos. Roberto Leher (2007, p. 20) aponta que “as contradições ensejadas pelas políticas de ajuste estrutural neoliberal provocaram relativa ascensão das lutas sociais, assim como recolocaram na agenda dos movimentos sociais a necessidade Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 37 de repensar suas estratégias”. Por isso, segundo ele, “é possível verificar um extraordinário revigoramento da educação popular e, em particular, da formação política”. O revigoramento referido por Leher talvez corresponda mais propriamente a um deslocamento de foco e uma visão mais clara do panorama que se coloca diante de nós. Streck analisa dois aspectos deste panorama, cruzando na discussão a perspectiva dos movimentos sociais e da educação popular. São eles: a configuração de novos territórios de resistência e suas pedagogias; e as novas governabilidades e suas formas de regulação. Os territórios de resistência e suas pedagogias O Fórum Social Mundial, cuja primeira edição ocorreu em 2001 e que retornou a Porto Alegre em 2010, revelou que, em paralelo à globalização do mercado, existe também uma confluência de movimentos que buscam novas formas de regulação coletiva e democrática. O livro Mundialización de las resistencias (Amin & Houtart, 2004 apud STRECK, 2010) dá um panorama desses movimentos em todos os continentes em que pesem as diferenças decorrentes das especificidades do contexto social, econômico e cultural, há ampla convergência expressa no slogan do Fórum Social Mundial: “Um outro mundo é possível”. Desde a luta dos Dalits na Índia aos movimentos indígenas e campesinos na América Latina, começa a haver a construção de uma agenda comum como sinal do reconhecimento da necessidade de superar a clássica fragmentação dos movimentos sociais em busca da construção de um mundo no qual, na bela expressão dos zapatistas, caibam todos (STRECK, 2010). O mapa dos movimentos sociais na América Latina também surpreende pela quantidade e variedade. Em resumo, segundo o estudo de Caccia Bava e Santos (2008 apud STRECK, 2010), as regiões apresentam as seguintes características: Site: www.ucamprominas.com.br E-mail: ouvidoria@institutoprominas.com.br ou diretoria@institutoprominas.com.br Telefone: (0xx31) 3865-1400 Horários de Atendimento: manhã - 08:00 as 12:00 horas / tarde - 13:15 as 18:00 horas 38 a) no México, na América
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