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TEORIA DA LITERATURA III
Aula 09: A crise do sujeito: o corpo, o saber e o poder
Aula 09: A crise do sujeito: o corpo, o saber e o poder
TEORIA DA LITERATURA III
Aula 09: A crise do sujeito: o corpo, o saber e o poder
 
	Nesta aula, veremos a filosofia de Michel Foucault em dois momentos: a arqueologia do saber e a genealogia do poder.
	Abordaremos o Panoptismo. 
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TEORIA DA LITERATURA III
	Michel Foucault (1926 - 1984) é um dos mais instigantes e polêmicos filósofos contemporâneos. Ele aborda uma gama admirável de temas, a partir de um "olhar" crítico sobre si mesmo, desenvolvendo um discurso coerente e consciente de sua flexibilidade e mobilidade.
	Os principais aspectos do pensamento desse teórico são: o saber-poder, a verdade e o método. 
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	Foucault foi considerado um intelectual de caráter pessimista e politicamente passivo, sobretudo quando abandona o estilo da chamada “esquerda intelectual” para inaugurar uma militância política de cunho "minimalista". 
	As suas ideias inovadoras se manifestam na renovação do campo de investigação da psicologia, da psiquiatria, da história, do direito, da arquitetura, da filosofia, da sociologia e da educação, entre outras disciplinas. 
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	Poucos pensadores exerceram maior impacto sobre as ciências humanas do que Michel Foucault. A importância da obra de Foucault para a atualidade torna-se cada vez mais evidente. Seus escritos deslocaram as teorias clássicas sobre o poder, a política e o Estado. Podemos observar, em suas obras, um exaustivo trabalho de arqueologia do saber ocidental, pondo em evidência as estruturas conceituais que determinam as articulações entre o saber e o poder. 
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	Ele estabeleceu conceitos e abordagens que revelaram novos objetos e desmantelaram antigas questões ao apontar que a história não é o campo pelo qual circulam os mesmos problemas de sempre. Ao se apropriar do projeto de Nietzsche (transvaloração e destruição de valores vigorantes), nos ensina a desconfiar da herança metafísica, incrustada em conceitos supra-históricos, como o homem, a verdade, a natureza, o poder, a razão, o corpo, etc.
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Os estudos de Foucault são divididos em duas fases: a arqueologia e a genealogia: a arqueologia do saber e a genealogia do poder. Alguns pesquisadores, como Salma Tannus e Roberto Machado, dividem a obra do filósofo em três períodos. Embora sejam distintos entre si, eles se aproximam e dialogam, pois são “marcas” que demonstram as inquietações do autor em seu percurso intelectual. Esses três momentos estão divididos em: 
	Arqueologia do saber; 
	Genealogia do poder; 
	Genealogia da moral. 
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	O seu trabalho intelectual foi influenciado pelo aprendizado feito a partir dos movimentos de maio de 1968, uma vez que abordaram diversas inquietações, peculiares da Europa do Pós-Guerra e marcadas pela estabilidade e o conservadorismo. 
	Suas inquietações diferem, na sua raiz, da problemática operária, do subdesenvolvimento ou da miséria, realidades presentes em outros contextos. No entanto, elas impulsionaram Foucault a seguir mais adiante no que se refere ao questionamento do domínio sobre o corpo e a sexualidade. 
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	Foucault compreende que sua crítica se aplica a toda a sociedade ocidental, independente de seus valores e práticas se encontrarem situados no Leste ou Oeste, nas democracias ou regimes socialistas, nas sociedades estatizantes ou sociedades de mercado. 
	Ele examinou as instituições que se tornaram “uma forma de enquadramento geral da maior parte das sociedades modernas, sejam capitalistas, sejam socialistas” (Calderon, 2003). 
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	Arqueologia do Saber é muito mais do que a formulação de um método das pesquisas realizadas anteriormente, e não apenas uma proposta para as próximas pesquisas. A obra encerra uma fase, até certo ponto dotada de características próprias. A atenção de Foucault está centralizada no discurso real, pronunciado e existente como materialidade. 
	A definição de todo seu método se construirá na definição dos principais objetos: o discurso, o enunciado e o saber. Por correlação, ele inaugura, ao menos em termos de método, uma nova história, que eleva tudo aquilo que as pessoas disseram e dizem ao estatuto de acontecimento. 
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	O que foi dito instaura uma realidade discursiva, e como o ser humano é um ser discursivo, criado ele mesmo pela linguagem, a Arqueologia será o método utilizado para desvendar como o homem constrói sua própria existência.
	O “termo ‘arqueologia’ remete, então, ao tipo de pesquisa que se dedica a extrair os acontecimentos discursivos como se eles estivessem registrados em um arquivo” (Foucault, 2006). 
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	Foucault define o discurso, em Arqueologia do Saber, como “um conjunto de enunciados, na medida em que se apoiam na mesma formação discursiva”. 
	A arqueologia será responsável pela revelação dos discursos e de sua formação histórica em um determinado campo de saber: como, em um determinado campo, determinado discurso se formou; como surgiu e se configurou um discurso legitimado sobre determinado assunto.
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	Os discursos têm uma base histórica e institucional que permite ou impede sua realização. Um indivíduo, ao ocupar um lugar institucional, utiliza enunciados de determinado campo discursivo, conforme os interesses momentâneos. Como por exemplo, o enunciado do professor para avaliar a aprendizagem de um aluno. 
	Um elemento essencial é o entendimento de que o discurso é uma prática, que constrói seu sentido nas relações e nos enunciados em pleno funcionamento.
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	A prática discursiva é um “conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma certa época e uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa”. É a relação do discurso com os níveis materiais de determinada realidade.
	Enunciado, para Foucault, é uma função de existência, que cruza um domínio de estruturas e de unidades possíveis, e as faz aparecer com conteúdos concretos, no espaço e no tempo.
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	O enunciado só existe quando o mesmo possui possibilidade de haver a repetição, diferente de uma frase proferida (uma enunciação), que não poderá ser repetida. Deste modo, o enunciado depende de uma materialidade, que será sempre de ordem institucional, no sentido de uma estrutura de poder (Roberto Machado, 1982).
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	Para ele, o que interessa, “no problema do discurso, é o fato de que alguém disse alguma coisa em um dado momento. Não é o sentido que eu busco evidenciar, mas a função que se pode atribuir, uma vez que essa coisa foi dita naquele momento. Isto é o que eu chamo de acontecimento. Para mim, trata-se de considerar o discurso como uma série de acontecimentos, de estabelecer e descrever as relações que esses acontecimentos – que podemos chamar de acontecimentos discursivos – mantêm com outros acontecimentos que pertencem ao sistema econômico, ou ao campo político,ou às instituições.” (Foucault)
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	Para Foucault, em a genealogia do poder, a noção de poder é diferente do que entendemos cotidianamente por poder. Para ele, não se trata de algo simplesmente repressivo. Na verdade, ele está pulverizado no tecido social e em todas as instâncias, como também nas produções discursivas. Segundo ele, “O poder não opera em um único lugar, mas em lugares múltiplos como a família, a vida sexual, a maneira como se tratam os loucos, a exclusão dos homossexuais, as relações entre os homens e as mulheres...” 
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	Nesse sentido, o poder será o produtor de individualidade, de mais poder, de segregação, mas também de junção. Ele não vem de cima, mas se irradia, transformando-se em um micro poder, muito mais eficaz que o poder reconhecido como autoritário, porque não é localizável. 
	É um poder que constrange os saberes, conservando-os em uma malha discursiva que “seleciona”, dizendo quais saberes devem ganhar ou não legitimidade. Para Foucault, quando se elege um saber, ou um discurso como o saber legítimo, desqualifica-se um outro, que não pode ganhar esse estatuto. 
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	De acordo com o autor, a produção de saberes está sempre em uma relação dialética com a desqualificação também de saberes: “Enquanto a arqueologia é o método próprio à análise da discursividade local, a genealogia é a tática que, a partir da discursividade local assim descrita, ativa os saberes libertos da sujeição que emergem desta discursividade”.
	Foucault almeja, com sua genealogi,a trazer à tona os saberes não legitimados e desqualificados pelo poder; ele quer expor e entender os efeitos de poder que são expressos nesses discursos, que fazem com que a trama discursiva seja permeada pelo binômio poder-saber.
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	No fim do século XVIII, Bentham, jurista e filósofo, criou um projeto de prisão circular, concebendo pela primeira vez a ideia do panóptico, em que um observador central poderia ver todos os locais onde houvesse presos. Uma arquitetura de prisão na qual as celas formam um anel em torno de uma grande torre, apontando que este mesmo projeto poderia ser utilizado em escolas e no trabalho, como meio de tornar mais eficiente o funcionamento daqueles locais.
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No texto do livro Vigiar e punir: o nascimento da prisão, Foucault aborda as novas particularidades da relação entre poder e visibilidade. Ele assinala que as atuais sociedades substituem o poder soberano pelo poder do olhar, pois vigiar tornou-se mais eficaz que punir. Os indivíduos que não respeitassem qualquer lei, no lugar de serem punidos da forma tradicional, com prisão ou multas, seriam vigiados e reeducados para depois serem reinseridos novamente na sociedade. 
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	Foucault então ilustra esse conceito, reforçando o pensamento, com o exemplo do panóptico, que seria um modelo de organização das relações de poder nas sociedades modernas.
	Ele ultrapassou o exemplo concreto da arquitetura da prisão para todo o sistema moderno de pensamento, influenciando escolas, fábricas, asilos e outras instituições com um conceito de vigilância permanente, sem zonas de obscurantismo. O panóptico se exprime na obsessão pela visibilidade total.
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	Nesta aula, vimos a filosofia de Michel Foucault em dois momentos: a arqueologia do saber e a genealogia do poder.
	Abordamos o Panoptismo.

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