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1 2 3 Osmar Hélio Alves Araújo EDUCAÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA 1º Edição 2017.1 4 5 Sumário Palavra do Professor autor Sobre o autor Ambientação à disciplina Trocando ideias com os autores Problematizando UNIDADE DE ESTUDO 1: ALGUMAS DEFINIÇÕES CLÁSSICAS DE EDUCAÇÃO O que é Educação? Educação escolar e seus desdobramentos; Por uma educação contemporânea cidadã. UNIDADE DE ESTUDO 2: A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE: TENSÕES, CONTRADIÇÕES E ‘NOVAS’ PERSPECTIVAS Introdução Uma breve contextualização; A escola no tempo presente: desafios e perspectivas; A organização escolar, em uma perspectiva histórica, versus a sociedade contemporânea. UNIDADE DE ESTUDO 3: A ESCOLA NA CONTEMPORANEIDADE: OUTROS TIPOS DE CORPOS E SUBJETIVIDADES A escola em tempo de turbulência Novos tempos, novas escolas; Explicando melhor com a pesquisa Leitura Obrigatória Pesquisando com a Internet Saiba mais Vendo com os olhos de ver Revisando Autoavaliação Bibliografia Bibliografia Web Vídeos 6 Palavra do Professor autor Olá estudantes, Entre tantas perguntas em aberto e cada vez mais difíceis de responder, em função de sua crescente especificidade e da dificuldade de imaginar alternativas para o nosso futuro, uma certeza é quase óbvia e poderia servir aqui como ponto de partida: a escola está em crise. Por quê? (SIBILIA, 2012, p. 13). A epígrafe escolhida para este texto visa indicar que nesta disciplina estudaremos sobre a educação brasileira no contexto contemporâneo, assim como discutiremos sobre o que é educação; educação escolar e seus desdobramentos e vamos argumentar a favor de uma educação contemporânea cidadã. Destacaremos, também, a escola no tempo presente: desafios e perspectivas e a organização escolar, em uma perspectiva histórica, versus a sociedade contemporânea, o que certamente contribuirá para você conferir e revisar algumas concepções em relação à escola, aos processos de ensino e aprendizagem, entre outros. Realçamos, a priori, que a educação na contemporaneidade carece de novos olhares e reflexões, haja vista sua importância para a transformação da sociedade. E mais, em tempos de discurso sobre a qualidade da educação, é necessária uma análise crítica e reflexiva acerca do modelo escolar vigente, pois percebe-se que a mesma continua arraigada no seu modelo de ascensão, que data do período da chamada Revolução Industrial. Deste modo, propiciar a você desenvolvimento pessoal e profissional, mediante uma reflexão acerca do modelo escolar vigente é o nosso horizonte, haja vista que a sociedade contemporânea, com suas tecnologias, tem impulsionado o homem a não mais seguir modelos adestradores. Portanto, a escola precisa repensar os corpos e subjetividades dos sujeitos (estudantes) para que consiga se adequar a realidade e voltar a ser atrativa para esses. 7 Por fim, caro estudante, busque trocar experiências com seus pares acerca da educação nos dias hodiernos, buscando aproximá-la, cada vez mais, de uma prática transformadora a partir do estudo realizado. O autor! 8 Sobre o autor Osmar Hélio Alves Araújo, doutorando em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mestre em Educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC); graduando em Pedagogia; graduado em Letras; especialista em Supervisão e Orientação Educacional pela Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). Atualmente integra os Grupos de Pesquisas do CNPq: Formação Docente, História e Política Educacional da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Educação, Trabalho e Formação de Professores (GEPET) na Universidade Regional do Cariri (URCA). Está vinculado à Universidade Regional do Cariri (URCA) como professor temporário. É membro da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE) e da Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE). Pesquisa e escreve sobre os seguintes temas: Didática e Pedagogia, trabalho docente e práticas pedagógicas, formação de professores, organização e gestão da escola. 9 Ambientação à disciplina Seja bem- vindo! A disciplina Educação Brasileira Contemporânea apresenta reflexões e questionamentos sobre a educação na contemporaneidade, diante dos feitiços tecnológicos do século XXI e da sociedade globalizada, buscar focar na compreensão das incertezas postas pelo contexto atual, que, sem dúvida, é um cenário em plena transformação. Nesta perspectiva, compreende-se que a relação, à incompatibilidade, entre os corpos e subjetividades contemporâneos com a escola, que mesmo inserida num cenário constantemente arrebatado por transformações, pouco se modificou, é permeado por desafios e tensões, por isso, é nosso desejo que você aproveite este material para conhecer um pouco mais sobre a Educação Brasileira nos dias hodiernos. Atualmente se pararmos para pensar iremos perceber que os tempos mudaram e consequentemente as exigências educacionais. Utilizar ferramentas ultrapassadas não supre mais as necessidades no cenário educacional, pois os estudantes estão cada vez mais conectados e autônomos e as formas de ensinar e aprender já não são do mesmo modo como antigamente. Diante desse cenário educacional a escola deve adotar um perfil inovador de ensino não unicamente ao uso de novas tecnologias, mas inovar com outros recursos que venha vencer todos os desafios que a educação moderna impõe. Desejamos sucesso na realização desta disciplina que, sem dúvida, promoverá a especialização dos seus conhecimentos e apresenta-se como uma oportunidade para você construir novos conhecimentos. Bons Estudos! 10 Trocando ideias com os autores Propomos a leitura da obra Educação brasileira contemporânea: organização e funcionamento. O autor aborda assuntos como: Educação Brasileira. Ensaios. Organização. Funcionamento. Escola. Formulação de objetivos. Planejamento curricular. Reforma de ensino. Ensino profissionalizante. Estrutura do ensino superior. Modelos estrangeiros. Reforma universitária. Custos do ensino universitário. Elaboração de provas objetivas. GARCIA, Walter E. (ORG.). Educação brasileira contemporânea: organização e funcionamento. 3. ed. São Paulo: Mc Graw-Hell, 1978. 277 p. Propomos também a obra A Educação Brasileira no contexto histórico. O autor tem como objetivo a ordenação cronológica de alguns fatos educacionais e elementos das teorias pedagógicas de cada período histórico, apresentando-os de modo didático, acompanhado de leituras complementares. O propósito da obra é o de informar o aluno de modo simples e sequencial sobre um poucoda história da educação de cada período, sem a ambição de apresentar uma reflexão crítica sobre o modo como a história da educação tem sido escrita no Brasil. FRANCISCO FILHO, Geraldo. A educação brasileira no contexto histórico. 2. ed. Campinas: Alínea, 2004. Guia de Estudo: Após a leitura das obras, escolha uma e realize a resenha crítica e disponibilize na sala virtual. 11 Problematizando Neste momento, visando aguçar o senso crítico em relação à educação na contemporaneidade, discutiremos a partir de um estudo de caso. Este estudo tem por finalidade levá-lo/a apre(e)nder algo novo, aprofundar e refletir sobre os conhecimentos adquiridos. Imaginemos a seguinte situação: uma acadêmica que chamarei aqui de Maria, me contou que em seu curso de licenciatura em pedagogia, conheceu uma professora muito dedicada e especialista em assuntos sobre o construtivismo, suas aulas era recheadas de orientações, incentivos, sugestões e muita criatividade. Maria, que já ensinava, teve de preparar e experienciar, numa sala com quarenta estudantes, em um bairro popular, uma experiência com o construtivismo. Para organizar sua aula, colocou os estudantes em pequenos grupos e foi trabalhando os conteúdos, não demorou muito para perceber um grande avanço na aprendizagem com seus educandos, tirou fotografias e, a seguir, voltou a sua aula normal, no estilo tradicional. Na universidade, compartilhou a experiência com os colegas, mostrando as fotografias e narrou o ocorrido, a professora quando tomou conhecimento dos fatos gostou muito e recomendou aos outros colegas a proposta. Segundo a professora universitária, a aula construtivista é ideal, faz muito a diferença no exercício docente. Os demais estudantes que não tinham uma experiência com este tipo de ensino entenderam de imediato e apostaram no exemplo de Maria e a metodologia que tinha utilizado e parabenizaram-na depois da aula: A partir desse relato a professora levantou o seguinte questionamento com a turma: Será que conseguiremos mudar as escolas brasileiras com tais práticas universitárias de formação dos professores?. Guia de Estudo: Baseado no texto acima que tema/ ideia central o autor nos convida a refletir neste texto? Após sua reflexão faça seus comentários e disponibilize na sala virtual. 12 13 ALGUMAS DEFINIÇÕES CLÁSSICAS DE EDUCAÇÃO 1 Conhecimentos Compreender o conceito de Educação na visão de vários autores e o contexto educacional contemporâneo. Habilidades Identificar a definição de educação e reconhecer os princípios norteados pela Lei 9.394/96. Atitudes Buscar a melhoria da qualidade da educação e da adequação da escola aos novos desafios e demandas postas pela sociedade contemporânea. 14 15 O que é Educação? É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente. Mulheres e homens se tornam educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Não foi educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão é que gerou sua educabilidade. (FREIRE, 2002, p.34). Para iniciar nossa disciplina precisamos entender: Figura 1. Elaborada pelo autor O que é educação? Qual deve ser o objetivo da educação? 16 Para compreendermos o contexto educacional contemporâneo, faz-se necessário reportarmo-nos a algumas definições clássicas acerca da educação, entretanto, conscientes que as definições de educação são múltiplas e variadas. São inúmeros os autores que se empenham ao seu estudo. Todavia, a priori, a epígrafe de Freire é favorável aos questionamentos presentes neste corpo teórico. Vamos conferir? De acordo com Libâneo (2010, p. 81), “[...] a educação compreende o conjunto dos processos formativos que ocorrem no meio social, sejam eles intencionais ou não-intencionais, sistematizados ou não, institucionalizados ou não”. Para Dewey (1979, p.83) “A educação não é a preparação para a vida, é a própria vida [...]”. O autor assinala ainda que: “A educação é uma constante reconstrução ou reorganização da nossa experiência, isto é, esclarece e aumenta o sentido da experiência e, ao mesmo tempo, nossa aptidão para dirigirmos o curso das experiências subsequentes”. É oportuno, ainda, acoplar as contribuições de Franco (2012) ao definir a educação em uma perspectiva dialógica, emancipatória, ou seja, a autora define educação como um processo no qual o homem é sujeito participante, atuante, um processo que vai além da mera transmissão de informação. Em uma mesma linha de raciocínio a autora realça que a educação deve ter como objetivo o pleno desenvolvimento do pensar, agir e transformar. As contribuições da autora nos remetem ao pensamento de Sócrates, pois, segundo Franco (2012, p. 86), “A educação socrática comporta a ideia de um processo de aprendizagem concreto, através do qual o aprendiz forja o seu próprio pensamento, constrói e fundamenta suas próprias convicções por meio de interações verbais com o educador”. No rastro do exposto, assinala-se aqui que é por meio da educação que se forma cidadãos críticos, reflexivos e conscientes de seus direitos e deveres. 17 Logo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), no Item 1 do seu Artigo 26, enfatiza que: Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico- profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito. Nesta perspectiva, pretende-se aqui sublinhar que “Todo o ser humano tem direito à instrução”, ou seja, ao acesso democrático do ensino, pois a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO – a partir da Conferência Mundial de Jomtien, Tailândia, nos dias 5 e 9 de março de 1990, anunciou a “Declaração Mundial sobre a Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”. A referida declaração surge com o intuito de suplantar o quadro lastimoso de acentuadas taxas de analfabetismo, evasão escolar, assim como inúmeras dificuldades que mostram os obstáculos para o acesso ao ensino básico. Diante do exposto, fica patente que a educação é, hoje, considerada como direito de todo o cidadão. Guia de Estudo: Para você ampliar seus conhecimentos, sugerimos que leia na íntegra a Declaração de Jomtien. Disponível em: http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf 18 Educação escolar e seus desdobramentos Compreende-se que a educação escolar está permanentemente ligada ao crescimento contemporâneo, haja vista que atua nos campos social, econômico e político, entre outros, e ocorre em uma escola permeada por constantes transformações, a qual também busca dar respostas às situações sociais, culturais e do mercado de trabalho. Logo, entende-se aqui que a escola não é uma instituição neutra, ao contrário, imbricada as ideologias em voga na sociedade e no Estado. Nesta perspectiva, Freire (2002) explica que é impossível a neutralidade da educação, pois, para que a neutralidade vigorasse na educação seria necessário não existir ideias dissonantes entre os homens, no que tange aos modos de vida, aos estilos políticos e valores a serem ensinados. Faz-se oportuno, a este nível da discussão, sublinhar que a educação escolar,no Brasil, é pautada nos seguintes princípios norteada pela Lei 9.394/96 no artigo 3: Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII - valorização do profissional da educação escolar; VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX - garantia de padrão de qualidade; X - valorização da experiência extraescolar; XI - vinculação entre educação escolar o trabalho e as práticas. 19 Um aspecto que precisa de destaque é o fato que inúmeros princípios que norteiam a LDB 9.394/96 denominam a escola como arena de formação de sujeitos membros de uma sociedade plural e rica em miscigenação. Assim como valorizam e apregoam a democratização do ensino, assegurando, inclusive, por lei, a igualdade de condições para o acesso, permanência, gratuidade, gestão democrática e garantia do padrão de qualidade para todos (BRASIL, 1997). Cabe ressaltar que a educação escolar, como dever da família e do Estado, é assegurada no artigo 205 da Constituição Federal de 1988. Segundo a supracitada lei a educação deve assegurar aos educandos o desenvolvimento intelectual e social, tornando-os conscientes de seu papel, enquanto cidadão, e também os preparando para o mundo do trabalho. Convém frisar que a LDB 9.394/96 nomeia, além da escola, como responsável pelo processo formativo, outras instituições, pois a respeito da educação, a mesma explicita que: A LDB 9.394/96, no referido artigo em seus incisos 1º e 2º, explicita, de fato, a educação escolar como incumbência da escola, por isso, assegura que ela deve ser vivenciada em arenas próprias, ligadas ao mundo do trabalho, assim como ao contexto social. A referida lei assinala que: Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. 20 Outro ditame constitucional que também assegura e trata do direito à educação, trata-se do Estatuto da Criança e Adolescente - ECA (1990), pois em seu Capítulo IV, diz que: Compreende-se que diante das demandas e das vertiginosas transformações colocadas pela sociedade contemporânea, o papel historicamente posto à escola vem modificando-se no decurso dos últimos tempos e trazendo para as escolas novas demandas e desafios. Diante do exposto, percebe-se que a educação escolar vem reclamando novos olhares, práticas e uma formação mais imbricada as demandas do mercado de trabalho, o que exige, por consequência, a necessidade de se rever e investigar alguns conceitos, posturas e práticas cimentadas no chão das escolas brasileiras. Entretanto, conscientes que ainda há um longo caminho a ser percorrido e construído, haja vista que há um distanciamento entre o dito e o vivido no cerne das escolas, ou seja, os ditames constitucionais significam um primeiro passo na concretização da universalização da educação, no entanto, a sua efetivação, de fato, significa um longo caminho a ser percorrido. Por fim, considerando o contexto contemporâneo, baseado por vertiginosas transformações, percebe-se que as instituições Família e Escola estão imersas em uma arena demarcada por novos desafios e demandas sociais, políticas, educativas, entre outras, as quais trazem à tona temas emergentes, como: aspecto socioambiental e tecnológico, combate ao racismo, e outros. Para que você tenha maiores esclarecimentos sugerimos que você leia na íntegra a LDB 9.394/96 e a ECA: Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm Art. 53 - A criança e o adolescente têm o direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. 21 ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm Por uma educação contemporânea e cidadã É oportuno iniciar com apoio nas contribuições de Freire (2002) ao expressar que uma das principais contribuições da educação aos discentes é ajudá-los a tornarem-se contemporâneos de seu tempo. Logo, é necessária a suplantação de todo e qualquer saudosismo diante da educação dos séculos passados, pois esta postura pouco contribui para o diálogo da educação com as necessidades dos sujeitos ditos contemporâneos. A priori, compreende-se que uma educação contemporânea cidadã reúne um conjunto de conhecimentos sistematizados e coadunados às práticas sociais, ou seja, uma educação que está intrinsecamente ligada à vida cotidiana dos discentes, por isso articula os saberes escolares aos costumes, crenças e valores por meio da construção de um currículo interdisciplinar. Neste corpo teórico, acatam-se as contribuições de Gadotti (2009) ao explicar que a trajetória da educação cidadã emerge da gestão democrática, todavia, para o referido autor, a cidadania está intrinsecamente ligada à consciência de direitos e deveres e o exercício da democracia, isto é, não existe cidadania sem democracia. Gadotti (2009) entende que a cidadania abarca o espírito de coletividade, pertencimento, engajamento. Entretanto, essa participação efetiva só é possível se a ambiência escolar utiliza instrumentos que fomentam a participação da comunidade escolar, assim como pauta-se em suas necessidades e realidade. Nesta perspectiva, cabe dar relevo que a educação, de modo integrado a cidadania democrática, emerge, a princípio, como prática de educação popular, constituindo-se como instrumento de mobilização, organização e formação de uma cultura cidadã e, portanto, como elemento necessário na formação de sujeitos históricos, engajados na luta pela 22 concretização dos seus direitos sociais e culturais, entre outros. Em relação à educação popular, as contribuições de Paulo Freire realçam-se por comprometerem-se com a dimensão social e política e, sobretudo, por seus ideais pedagógicos terem um forte componente ético de respeito ao estudante. Para o referido autor (2002, p.66): O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceber uns aos outros. (...) O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” (...) transgride os princípios fundamentais éticos de nossa experiência enquanto educador. Com esteio nas contribuições do autor, cabe, contudo, salientar que a organização de uma escola cidadã, abalizada em uma gestão democrática, representa um desafio aos gestores,professores, estudantes e comunidade escolar, em geral. No entanto, a concretização deste processo de readequação do papel da escola às necessidades de uma nova educação exige, sem dúvida, acreditarmos na pujança (eficácia) da escola de hoje. Cônscios, portanto, que a busca pela melhoria da qualidade da educação e da adequação da escola aos novos desafios e demandas postas pela sociedade contemporânea exige, entre outros elementos, reconstruir, repensar e rever a organização do trabalho pedagógico. Buscando, por consequência, superar os conflitos, eliminar as relações competitivas e autoritárias, assim como o reconstruir das relações de poder vivenciadas no interior da escola. No rastro do exposto, Veiga (2003, p.15) entra no debate ao advertir que: O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo na ótica do poder centralizador que dita as normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e qualidade. As contribuições da autora fazem suscitar a consciência que não é 23 mais possível uma gestão escolar dominadora, centralizadora no âmago das escolas brasileiras, embora por muito tempo esse tenha sido o modelo de gestão vivenciada no contexto escolar por meio de práticas autoritárias, conservadoras, centralizadoras e de controle. Pois, quando se busca construir uma escola cidadã faz-se necessário analisar, a princípio, como as relações se estabelecem em seu interior. É importante destacar que quando se trata das relações no interior do contexto escolar, faz-se necessário ressaltar que um processo de aprendizagem satisfatório exige, antes de tudo, uma relação amistosa entre a Escola e a Família, pois a integração da aprendizagem dos discentes com as suas reais necessidades e meio social reclama uma prática educativa em parceria com a família. Nesta perspectiva, é essencial que as práticas pedagógicas construídas no chão das escolas brasileiras dialoguem com as crenças, costumes e valores, entre outros, que permeiam o cotidiano da população discente, isto é, vislumbra-se aqui uma escola cidadã na contemporaneidade que se constrói à medida que supera posicionamentos hierárquicos e autoritários, envolve todos os sujeitos, que a compõem, no processo educativo, pautando-se, portanto, no diálogo, no respeito e no acolhimento às diferenças. Como é possível perceber, faz-se necessário na contemporaneidade a construção de uma escola cidadã cuja tessitura seja o diálogo, a partir do qual todos os que nela estejam inseridos sejam convidados a participarem e transformarem o mundo. Esta perspectiva dialógica, que deve ser característica de uma escola cidadã, desafia, portanto, os gestores e professores a construírem uma relação robusta e fincada no pluralismo de ideias, na democracia e que, acima de tudo, respeita e valoriza a trajetória pessoal e profissional de todos os envolvidos, ou seja, que mire o contexto escolar por uma ótica de oportunidades e crescimento mútuo. Nesta proposta, o movimento de entrelaçamento entre a Escola e a Comunidade contribui para o fortalecimento das relações e parcerias, o que 24 não descaracteriza a função elementar da escola de ensinar, mas sim reconhece que a escola só pode concretizar, de fato, seu papel à medida que compartilha seus compromissos e realidade com a família e a comunidade. É cediço, entretanto, que muitas vezes a presença da família na escola resume- se a presença em festividades e reuniões pedagógicas, todavia, faz- se necessário criar outros espaços e momentos pedagógicos que assegurem a efetiva participação da família na construção cotidiana da escola. Entretanto, se a escola precisa pensar em mecanismos que, de fato, contribuam para que a família se sinta parte desta instituição, as famílias também precisam estar conscientes do seu papel nessa relação, o qual é muito mais do que a simples presença, é a necessária participação na construção da escola. Prezado (a) estudante, conheça um exemplo de uma escola cidadã. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=pG1DGaMfpTw 25 26 27 A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA CONTEMPORANEIDADE: TENSÕES CONTRADIÇÕES E ‘NOVAS’ PERSPECTIVAS 2 Conhecimentos Compreender a organização escolar, em uma perspectiva histórica versus a sociedade contemporânea bem como, os desafios e as perspectivas da escola. Habilidades Identificar os desafios, perspectivas e as relações entre Escola, Família e Comunidade no contexto contemporâneo. Atitudes Desenvolver um espírito crítico em relação a organização escolar, os desafios e perspectivas no âmbito educacional. 28 Introdução Passamos parte de nossas vidas na escola, desde a Educação Básica até à Universidade. Logo, a partir deste processo a que somos submetidos, vamos, paulatinamente, construindo nossa maneira de pensar e intervir no mundo. Os professores, sem dúvida, assumem um papel crucial em nossas vidas, decisões e maneira de entender e de se relacionar com o mundo, pois a eles é confiado o papel de orientar e direcionar nossa caminhada de formação. Nesta perspectiva, o processo educacional vivenciado por cada um de nós define muitas de nossas escolhas, atitudes e maneira de entender e intervir no mundo, por isso, queremos sublinhar a importância dos conteúdos das aulas e seus objetivos pedagógicos para que a nossa formação se forje de maneira consciente e transformadora, ou seja, almejamos oferecer uma formação a você desprovida da reprodução mecânica de ideias, sem treinos e decoreba, ao contrário, os conteúdos aqui tratados visam oportunizar lhe a possibilidade de interagir com o que está sendo apreendido, assim como questionar e confrontar com o seu cotidiano. Uma breve contextualização! Para darmos início aos estudos desta unidade, vamos imaginar e conhecer uma escola sem grades, muros e sem violência no cerne de uma das favelas do Brasil. Para isso, assista à reportagem “Escola transforma relação em diálogo”, exibida por uma emissora de televisão brasileira, que compartilha 29 a experiência de uma instituição escolar que conseguiu construir um contexto harmonioso e amistoso abalizado nas relações firmadas com a comunidade. A escola no tempo presente: desafios e perspectivas Considera-se que no contexto contemporâneo, as escolas têm empreendido esforços visando delinear a identidade e construir sua autonomia a partir de um contexto cuja tessitura seja a democracia e a participação efetiva dos seus sujeitos. Logo, percebe-se que a referida preocupação é um reflexo do desenvolvimento histórico da educação no Brasil, abalizada, na década de 1990, pela democratização do ensino. Em linhas gerais, podemos assinalar que o governo federal, ao democratizar o acesso à Educação Básica, deixou evidente o compromisso de assegurar e garantir aos cidadãos brasileiros, independente de suas condições sociais, econômicas, culturais ou religiosas, o acesso à instrução fundamental, conforme preconizou a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura - UNESCO – a partir da Conferência Mundial de Jomtien, quando anunciou a “Declaração Mundial sobre a Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem”. Deste modo, entende- se que, em face desse processo de democratização, a escola assumiu um lugar de destaque diante das demandas históricas elocais. Logo, foi necessário reconstruir alguns conceitos, assim como reestabelecer uma relação harmoniosa com seu público, em especial com a comunidade na qual estava inserida. Tenha acesso à reportagem acessando o link: http://mais.uol.com.br/view/s70pk4i6az2h/serie-escola-transforma-relacao-com- dialogo-04028C193666C8A13326 Aproveite para registrar os aspectos relevantes e as dúvidas que emergirem na sala virtual. 30 Neste sentido, é bastante oportuno tratar dos significados atribuídos à educação, à gestão democrática e cidadania, assim como enfatizar como as relações entre Escola, Família e Comunidade se constroem no contexto contemporâneo. Em síntese, percebe-se que o Brasil, no decurso das primeiras décadas do século XXI, apresenta um avanço significativo no que concerne ao número de matrículas em todas as etapas da Educação Básica. Entretanto, quando o assunto é a qualidade do ensino, infelizmente, não se percebe o mesmo crescimento, pois, a qualidade da educação brasileira tem ocupado o âmago dos debates no cenário contemporâneo, assim como tem se apresentado como mais um desafio a ser superado. Nesse sentido, Veiga (2003) assinala que a escola de qualidade tem o compromisso de combater, entre outros problemas, a repetência e a evasão escolar, e, em contrapartida, assegurar o desempenho producente dos discentes. A referida autora dá relevo que qualidade não significa necessariamente o acesso global de todos à escola, mas sim a permanência, de modo satisfatório, de todos que nela ingressam. De forma concisa, portanto, é legítimo asseverar que, em face da busca pela qualidade do ensino, as novas demandas e desafios fazem suscitar a necessidade de se redefinir as funções historicamente postas para a escola, ou seja, o contexto contemporâneo vem impulsionando e exigindo da escola novos caminhos, modos de entender, ensinar e fazer educação. Logo, faz-se necessário a reconstrução de ‘velhos’ conceitos, assim como a sedimentação de novas práticas, cuja tessitura seja o diálogo entre a escola e os sujeitos nela inseridos. Defende-se, nessa linha, que diante da necessidade da reconstrução crítica da escola, acrescida das novas demandas sociais e legais imbricadas aos direitos humanos, a relação entre Escola, Família e Comunidade precisa ser mais coesa, robusta e coerente com o contexto social no qual todos estão inseridos. 31 Entretanto, abordar a relação Escola, Família e Comunidade, implica necessariamente na necessidade de se revisitar e reconstruir diariamente concepções e conceitos coadunados à educação, gestão e cidadania, pois, de certo modo, estes são os pilares que a estruturam. Sobre a educação, compreende-se, que é um processo que faz emergir o desenvolvimento humano, o que exige, como postula Freire, (2002), a consciência do inacabamento, pois não nascemos prontos e acabados, somos, ao contrário, seres inconclusos e transformamo-nos por meio da educação (CORTELLA, 1998). É de se destacar, ainda, decorrente dessa assertiva, que o homem aprende o tempo todo, em contextos escolares e não escolares, ou seja, a escola não é o único e exclusivo contexto de formação. Por essa linha de entendimento, realça-se que, considerando que a educação ocorre em diferentes espaços, torna-se necessário um processo educacional que assegure ao homem desenvolver suas capacidades humanas de modo a intervir em todas as esferas da sociedade, ou seja, que ao homem seja oferecida uma educação que vá além das necessidades básicas e inerentes à sobrevivência humana. Veiga entende que: A escola é o lugar de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar o seu trabalho pedagógico com base em seus estudantes. Nesta perspectiva é fundamental que ela assuma suas responsabilidades, sem esperar que as esferas administrativas superiores tomem essa iniciativa, mas que lhe deem as condições necessárias para levá-la adiante. Para tanto, é importante que se fortaleçam as relações entre escola e sistema de ensino. (2003, p.12). É de se destacar, ainda, com arrimo nas contribuições da autora, que a escola ao construir seu projeto pedagógico tomando como pano de fundo a realidade escolar, emerge um elemento importante, hoje, nas escolas brasileiras, que é a gestão democrática. Sobre a gestão democrática, Veiga explica que é: Um princípio consagrado pela Constituição vigente, que abrange as dimensões pedagógica, administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das questões de exclusão e reprovação e da não-permanência do aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização das classes populares. 32 Esse compromisso implica a construção coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação das classes populares. (2003, p.17-18). De modo geral, as escolas brasileiras, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB nº 9.394/96, tem buscado pautar suas ações em uma perspectiva crítica e emancipadora, assim como incorporado, em sua organização, a gestão democrática. Pois, a supracitada lei, em seus incisos I, II e VI do Artigo 12 da LDB nº 9.394/96, aponta que: Art. 12º Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as dos seus sistemas de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola (...). Sobre a gestão democrática, no Artigo 14 da LDB nº 9.394/96 está explícito que: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. 33 Verifica-se que, em ambos os artigos da LDB nº 9.394/96, a efetiva participação da comunidade escolar, seu envolvimento e integração com a escola são pilares constitutivos de uma gestão democrática, pois um contexto escolar democrático só pode, de fato, ser consolidado por meio do diálogo, da sinergia pedagógica, ou seja, em uma perspectiva dialógica e compartilhada. Culmina-se, então, com a compreensão que se faz necessário compreender os elementos que compõem uma gestão democrática, como condição essencial para o entendimento da função e da dinâmica escolar. É de se destacar, ainda, que Veiga (2002) explica que a gestão democrática exige o repensar cotidianamente as relações de poder da escola e, mormente, sua socialização. Pois, segundo a mesma autora, a socialização do poder permite a ação da participação coletiva, que suplanta o individualismo, a exploração, e faz emergir a reciprocidade, a solidariedade, entre outros elementos na ambiência escolar. Entretanto, Apple e Beane (1997, p. 20) advertem que: As escolas democráticas, como a própria democracia, não surgem por acaso. Resultam de tentativas explícitas de professores (as) colocarem em prática os acordos e oportunidades que darão vida à democracia (...). Esses acordos e oportunidades envolvem duas linhas de trabalho. Uma é criar estruturas e processos democráticos por meio dos quais a vida escolar se realize. A outra é criar um currículo que ofereça experiências democráticas aos jovens.Por fim, compreende-se que uma escola democrática reclama pilares sólidos que se norteiem a partir da prática social, assim como que estejam comprometidos em solucionar os problemas que obstaculizam a concretização de uma educação de qualidade, de tal modo como intrinsecamente coadunados aos interesses dos cidadãos e cidadãs. Nesta perspectiva, em relação à gestão democrática, conclui-se que não é um processo fácil de ser construído, pois não abarca apenas a gestão em si, mas emerge de uma educação democrática que envolve todos os sujeitos nas decisões e ações, sejam elas administrativas ou pedagógicas, que, no espaço, se materializam. 34 Prezado aluno, vamos aprender um pouco mais sobre a Gestão Democrática? Então, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=f0J4eVJ2uTA A organização escolar, em uma perspectiva histórica, versus a sociedade contemporânea. Antes de iniciarmos esse tópico leia o trecho abaixo, de 1922, que traz os ideais disciplinares da instituição escolar da época. Recomendações Disciplinares Em classe a disciplina deve ser severa: - Os estudantes devem manter silêncio absoluto; - Não poderá estar em pé mais de um estudante; - A distribuição do material deverá ser rápida e sem desordem; - Sempre que se retirar da sala, a turma a deixará na mais perfeita ordem. No recreio, a disciplina é ainda necessária para que ele se torne agradável aos estudantes bem comportados: - Os estudantes devem participar de conversas e diversões que não produzam grande alarido. Ao findar os trabalhos do dia, cada classe seguirá em fila e em pleno silêncio até a escada de saída (...). Texto adaptado do livro Indisciplina na Escola de Julio Groppa Aquino (1996, p.42). 35 Para pensar! Você, enquanto estudante, já vivenciou momentos no contexto escolar como as situações apresentadas no texto? Em sua opinião, faz sentido a escola adotar este tipo de postura disciplinar em face dos estudantes na contemporaneidade? Com arrimo no trecho do texto apresentado acima, vamos, a priori, enfatizar a organização do espaço escolar, construído historicamente, assim como enfatizar a necessidade da sua reorganização em face das demandas e desafios da sociedade contemporânea, tudo isso visando suplantar o modelo disciplinar da Idade Moderna que ainda nos dias hodiernos influencia a Educação no Brasil. É cediço que o modelo de escola que temos hoje é produto das transformações históricas e sociais vivenciadas no Brasil no decurso dos últimos séculos. Vale por em destaque que a organização disciplinar por meio do controle, como forma de vigiar e controlar o comportamento dos discentes influenciou, significativamente, o desenvolvimento e o modo como as escolas, enquanto instituições formativas atuaram (atuam) por muito tempo no cenário brasileiro. Sobre esta temática, Aquino (2007) nos ajuda compreender assinalando que se trata de um modelo educacional raro na história da humanidade, o qual estava voltado para a racionalização e normatização do espaço, do tempo e dos corpos dos indivíduos. Percebe-se, contudo, que os instrumentos de vigilância, punição e controle foram e são elementos intervenientes na organização do espaço e do tempo escolar, pois este modelo pautava-se em um modelo de estudante ideal e que pouco considerava os elementos que levava o estudante a apresentar um bom comportamento. Ainda para Aquino (2007), “a disciplina dedica-se ao assujeitamento dos corpos dos indivíduos nas instituições”. Para exemplificar, veja abaixo um trecho de um texto, de 1922, apresentado por Aquino e intitulado “Recomendações Disciplinares”: 36 Não há crenças refratárias à disciplina, mas somente estudantes não disciplinados. A disciplina é um fator essencial do aproveitamento dos estudantes e indispensável ao homem civilizado. Mantém a disciplina, mais do que o rigor, a força moral do mestre e o seu cuidado em trazer constantemente as crianças interessadas em algum assunto útil. Os estudantes devem se apresentar na escola minutos antes das 10 horas, conservando-se em ordem no corredor da entrada, para daí descerem ao pátio onde entoarão o cântico. Formados dois a dois dirigir-se-ão depois às suas classes acompanhadas das respectivas professoras, que exigirão que se conservem em silêncio e entrem nas salas com calma, sem deslocar as carteiras. Deverão andar sempre sem arrastar os pés, convindo que o façam em terça, evitando assim o balançar dos braços e movimentos desordenados do corpo. (...). (1996, p.42). Percebe-se, com base nas contribuições do autor, que os instrumentos de correções disciplinares visavam controlar e ordenar o corpo e a fala. O silêncio, entretanto, devia ser absoluto dentro e fora do contexto da sala de aula, assim como os movimentos corporais deveriam ser contidos e examinados minuciosamente nos diferentes tempos e espaços da escola. A proposta do sistema escolar era, portanto, manter os corpos infantis controlados e sob a ordem da instituição. Baseado no modelo da prisão e/ou das indústrias, a ideia era que cada corpo fosse tratado como uma máquina. Dispostos a desenvolverem um projeto bastante desafiador e exaustivo, as escolas recorreram ao recurso disciplinador que consistia em colocar os indivíduos num espaço delimitado por paredes, ou seja, a estrutura física do espaço escolar era cuidadosamente restrita. A causa de tal realidade obedecia a mais científica e industrial intenção da escola: habituar os estudantes a permanecerem tranquilos e não instruí-los para o desenvolvimento intelectual/cognitivo. Como uma espécie de adestramento, as crianças deveriam permanecer sentadas durante períodos estabelecidos pelos seus superiores. Manter crianças estáticas por longas horas não foi uma tarefa nada animadora, portanto a proposta inicial da escola foi se modificando a partir da inserção de novos ideais e movimentos na sociedade, como a Reforma Protestante e o Iluminismo. 37 Face ao exposto, compreende-se a organização do espaço escolar como um “quartel”, no qual o professor assumia a posição de sujeito superior hierárquico, e mantinha uma relação com os estudantes abalizada nos termos obediência e subordinação. Ilustra esta ideia as contribuições de Aquino (1996, p.43), pois segundo o autor: “O professor não era só aquele que sabia mais, mas que podia mais, porque estava mais próximo da lei, afiliado a ela”. Nota-se claramente que a disciplina era imposta, na época, por meio do castigo, medo, coação e subserviência, principalmente à figura do professor. Logo, a prática de permanecer parado e quieto na cadeira escolar tornou-se, por muito tempo, necessária, pois, assim, acreditava ser possível possibilitar o bom funcionamento da escola, assim como assim era possível ensinar a criança a controlar os seus impulsos e afetos. Pois bem, lançando mão de toda essa discussão histórica sobre a organização do espaço escolar e partindo do princípio que o espaço escolar abarca uma dimensão democrática, compreende-se que se faz necessário e urgente repensar o modo de organização do espaço escolar no contexto contemporâneo, pois, como explicita Libâneo (2010, p. 80), “a educação nunca pode ser a mesma em todas as épocas e lugares devido a seu caráter socialmente determinado”. É preciso reconhecer, com base na discussão empreendida e nas contribuições de autores, como Sibilia (2012), Aquino (1996), entre outros, que a escola na contemporaneidade está em crise por seu modelo não se ensamblar com os jovens do século XXI, todavia, estaria se tornandouma máquina antiquada e, portanto, incompatível com os corpos e subjetividade das crianças nos dias hodiernos, pois o modelo de escola implantado no Brasil, há décadas, e que parece ainda em voga em muitos territórios brasileiros, não corresponde com a demanda do mundo moderno. Com o surgimento da televisão, ao longo do tempo das TIC’S, o professor deve incluir tais tecnologias no contexto escolar fazendo, portanto, com que essa realidade do cotidiano dos jovens esteja presente no processo de ensino e, por consequência, diminuindo um abismo que há, muitas vezes, entre o mundo social e as salas de aula. 38 Entretanto, faz-se oportuno enfatizar que muitos professores não detêm o conhecimento necessário acerca das tecnologias e acabam não utilizando tais recursos e, por vezes, a escola até proibe a entrada dessas tecnologias em sala de aula, como é o caso do celular, da internet. Em contrapartida, muitas outras escolas percebem a necessidade da junção entre o escolar e o contexto midiático e estão a buscar soluções para o fato. O fato é que, por fim, há fatores econômicos e políticos que justificam esse distanciamento entre o mundo real e a sala de aula, ou seja, as mudanças do mundo afetaram diretamente os corpos e as subjetividades, logo se faz necessário a construção de uma escola compatível com os sujeitos, ditos contemporâneos. 39 40 41 A Escola na Contemporaneidade: outros tipos de corpos e subjetividades 3 Conhecimentos Compreender sobre a instituição escolar e o contexto contemporâneo abalizado pelo dinamismo tecnológico, consumo exacerbado, marketing, publicidade e pela conectividade e interatividade em tempo real. Habilidades Identificar o surgimento das dificuldades e as facilidades com a utilização dos aparelhos tecnológicos no contexto educacional contemporâneo. Atitudes Posicionar-se criticamente na integração da educação e tecnologia desenvolvendo projetos educativos, uma escola inovadora. 42 43 A Escola em tempo de turbulência [...] a escola seria, então, uma máquina antiquada. Tanto seus componentes quanto seus modos de funcionamento já não entram facilmente em sintonia com os jovens do século XXI. (SIBILIA, 2012, p. 13, grifos nossos). Turbulência é a palavra escolhida aqui para descrever toda a movimentação ocorrida ao longo da história e transformada em crise. Crise esta que já vem adquirindo novos moldes e, portanto, nova consistência, pois Deleuze, filósofo francês, em 1990, já detectava a implantação de um novo regime ("novo monstro") que seria baseado nas tecnologias eletrônicas e digitais e com um capitalismo mais dinâmico, influenciado por fluxos e interconexões cada vez mais globais. Ressalta-se que neste novo contexto há também uma exaltação da empresa como instituição-modelo, ou seja, o espírito empresarial se apossa de outros elementos da sociedade, bem como da escola, corpos e subjetividades. Este espírito pode ser visto como uma expressão da racionalidade capitalista que traz consigo o culto do desempenho individual ou culto a performance. Essa nova cultura vem imbuída de um exercício constante pela busca da excelência, via ideologia da autossuperação, onde o sujeito, antes avaliado pela normatividade da lógica disciplinar, agora é mensurado por parâmetros mais atuais e de natureza mercadológica. Sibilia (2012) explica que a sociedade atual solicita novos padrões a partir do discurso do empreendedorismo neoliberal e que a escola tradicional, arraigada em uma perspectiva uniformizadora, homogeneizadora e normalizadora, não estaria apta a produzir tais sujeitos condizentes com esses novos credos. Inclusive, tais princípios poderiam abortar "em seus estudantes a incubação dessas habilidades tão valorizadas na atualidade" (SIBILIA, 2012, p.46). 44 Entretanto, compreende-se que essas mutações na modernidade se iniciaram nos últimos dois séculos e tiveram o ambiente doméstico, via família nuclear burguesa, como lócus disseminador de modelagens de corpos e subjetividades específicas para o dado momento. Assim como as famílias, as escolas também foram espaços fortes de confinamento, disciplina e introspecção. O sujeito moderno era mais "interiorizado". Porém, esse modelo estaria ultrapassado frente às velozes mudanças do século XXI, pois "são outros os corpos e as subjetividades que se tornaram necessários" (SIBILIA, 2012, p. 47). Por isso, novos modos de ser e estar no mundo começam a ficar cada vez mais visíveis na contemporaneidade. Há uma substituição da introspecção pelo convite à exposição. É o colapso da subjetividade interiorizada. Isso altera o circuito de formação para o mercado de trabalho. Hoje o mercado quer determinadas habilidades que tornaram outras, antes necessárias, puramente ultrapassadas. A contemporaneidade "busca características antes combatidas, como originalidade associada à certa espontaneidade inventiva, além da capacidade de mudar com rapidez, “(...) a livre iniciativa, a motivação, o perfil empreendedor e a vocação proativa" (SIBILIA, 2012, p.48). Essas características possibilitam a movimentação dos mercados através de um indivíduo conquistador (termo de Alain Ehreberg), capaz de incontáveis superações em busca da excelência. Este mesmo sujeito quer expor seu "ideal de felicidade" e, na atualidade, não há obstáculos para inibi-lo. Ou seja, o "eixo interior" incentivado durante os dois séculos anteriores é substituído pelo o que o psicanalista brasileiro, Benilton Bezerra, chama de "subjetividade exteriormente centrada", que não quer experimentar conflitos internos, nem a dimensão privada. Tal realidade interfere diretamente na forma como nos relacionamos com as pessoas e com o mundo. Sobretudo, porque as personalidades deixam de ser introdirigidas e um tanto quanto misteriosas, e passam a ser alterdirigidas (pessoas reagem em conformidade com as outras pessoas visando à aprovação e à popularidade no seu meio cultural e social), portanto, construídas através do olhar do outro. Daí a necessidade de exposição 45 interativa, bem como o uso dos dispositivos eletrônicos como artefatos que desempenham um papel vital nessa metamorfose. De acordo com Sibilia (2012) esta seria uma forma dos sujeitos contemporâneos conseguirem permanecer "à altura das novas coações socioculturais, gerando maneiras inéditas de ser e estar no mundo" (SIBILIA, 2012, p.51). Diante da possibilidade do ineditismo, não apenas as novas gerações, mas todos se encantam e são atraídos pela aparelhagem eletrônica. Este novo ambiente é antagônico aos moldes escolares, por isso, gera-se um choque entre corpos e subjetividades contemporâneos e a escola. O filósofo francês Deleuze afirma, de maneira voraz, que não há solução para a escola, bem como para outras instituições disciplinares. Entretanto, Sibilia (2012) explica que até pouco tempo a escola, em tempos áureos, se sustentava de forma ortopédica com base em valores que eram internalizados de maneira tão veemente que as normas eram respeitadas não apenas pelos estudantes, mas por pais, professores, ou seja, o cumprimento de normas, leis, regras não era apenas produto da vigilância e da possibilidade de punições. Isso ocorria porque "era assim que a máquina funcionava e assim devia ser" (SIBILIA, 2012, p.54). Todavia, na conjuntura atual, essa configuração interiorizada vai sendo ostensivamente substituída por corpos esubjetividades, cada vez mais, clarificados, onde assumir uma postura introspectiva e reprimir-se seria, de acordo com Charles Taylor, uma espécie de limitação às realizações individuais. O modelo anterior submetia os indivíduos aos seus padrões e havia uma intensa oposição entre o público e o privado, enquanto agora, sujeitar-se a tais imposições morais, sociais significaria um conformismo diante da possibilidade de experimentar a era da autenticidade. Fica claro que a contemporaneidade, traz junto ao século XXI, novos valores que despontam em todo o cenário social, inclusive no âmbito escolar. O grande desafio está em perceber que é possível refletir sobre novas possíveis bases para o solo tão fluído dessa nova realidade que vivemos. 46 Novos tempos, novas escolas [...] a escola contemporânea não deve apenas respeitar as diferenças, ela deve, também, fazer aparecer e registrar diferenças entre os estudantes (CHARLOT, 2008, p.27). Sujeita às transformações da sociedade, cada vez mais, a escola se insere e se deixa inserir pelo circuito tecnológico. Um bom exemplo disso surge nos projetos de natureza computacional para a educação. "Equipar os colégios e seus habitantes com tecnologia de ponta parece ser o primeiro passo para tentar vedar essa brecha" (SIBILIA, 2012, p.181). Ainda que difícil e oneroso, organizar as escolas estruturalmente parece ainda ser menos desafiador que outros obstáculos. Entretanto, Sibilia (2012, p. 182) assinala que: "É evidente que essas adaptações também são necessárias e até promissoras, mas seria ingênuo acreditar que solucionarão por si só os complicados problemas". Desde a primeira década do século XXI que computadores, internet, smartphones e redes sociais mostram seu poder de modo intenso e marcante. Os frutos da entrada dessa aparelhagem tecnológica no contexto escolar são incertos, pois não se sabe ainda quais os frutos serão colhidos, haja vista que são dois universos incompatíveis, portanto, talvez, como preconiza Sibilia (2012, p. 183), "terminem de se fundir ou, então, entrarem em colapso". Faz-se interessante pontuar sobre a dificuldade de se gerir um projeto que envolve tecnologia, assim como a criação de materiais didáticos e a organização de formações para os professores de modo a integrá-los ao contexto midiático. A grande questão é pensar sobre o que concerne ao pedagógico e tentar integrar educação e tecnologia para que se desenvolva, então, um projeto educativo, uma escola inovadora. Pensar em tornar concreta essa escola contemporânea exige que se reflita sobre o risco de que toda essa tecnologia e seus aparelhos se tornem 47 um novo e poderoso agente de dispersão ou de fuga do confinamento implantado pelas escolas ao longo dos tempos. Ou seja, sabendo que os recursos tecnológicos, bem como a internet, já se assentaram dentro do universo escolar, é preciso formar ideias e estipular ações concretas que envolvam os professores e sua conexão entre ensino e esta aparelhagem. No entanto, em muitas instituições o acesso à internet é restrito e algumas redes são controladas pelos professores ou outros profissionais da escola. Esta é uma prática de caráter de controle, o que nos motiva a pensar que ainda são muitas as inseguranças da escola para que ainda faça uso deste recurso, talvez por isso a estrutura de sala de aula permanece fiel ao esquema tradicional. Parece ser necessário prender-se a determinadas práticas, ainda que ultrapassadas, já que lidar com as tecnologias e com a internet ainda é um tanto quanto movediço. Nesta perspectiva, percebe-se que as escolas se entrincheiram como podem para se protegerem das investidas tecnológicas que invadem o seu interior. É difícil transformar-se, sobretudo no cenário que vem se construindo onde, como diz Sibilia: "já não será preciso derrubar paredes, pular cercas ou escapulir por entre grades (...), pois os antigos poderes de confinamento estarão desativados pelas ondas sem fios que os atravessarão" (2012, p.190). Deste modo, entende-se que é necessário criar estratégias para que se incitem os estudantes a se apropriar da quantidade significativa de conhecimento disponível na contemporaneidade, não somente em livros impressos, mas também na rede, através desses recursos da tecnologia. É de se destacar, ainda, que a escola na contemporaneidade, por sua vez, também tem trabalhado para atender aos interesses da lógica capitalista, preparando os sujeitos para atender ao consumo exagerado e transformando o verdadeiro sentido das aprendizagens em mercadoria. Logo, os estudantes compreendem, de modo, equivocado o sentido da escola, pois os estudantes, na sua grande maioria, não compreendem porque devem frequentar a escola, assim como não se adéquam ao que é proposto e, por consequência, são rotulados de preguiçosos e que não querem nada. Como 48 diz Sibilia (2012, p. 65): Também por isso não admira que agora, quando as novidades das últimas décadas substituíram em boa medida os estilos de vidas precedentes, a sala de aula escolar tenha se convertido em algo terrivelmente “chato”, e a obrigação de frequentá-la implique uma espécie de calvário cotidiano para os dinâmicos jovens contemporâneos. Charlot (2013, p. 278) comunga do mesmo pensamento alertando que: “A sociedade, os pais, os professores devem aliviar a pressão hoje exercida sobre os jovens, desapertar os parafusos de uma máquina escolar que, atualmente, machuca por demais os estudantes, inclusive os “bons”.”. Nessa perspectiva, não é por acaso que Alarcão advoga que: Diante das rápidas convulsões sociais, a escola precisa abandonar os seus modelos mais ou menos estáticos e posicionar-se dinamicamente, aproveitando as sinergias oriundas das interações com a sociedade e com as outras instituições e fomentando, em seu seio, interações interpessoais. (2001, p. 15). Nesta perspectiva, a educação nessa lógica excludente, antagônica e contraditória não consegue atender seus reais objetivos, os quais seriam de promover aprendizagens significativas e coadunadas as reais necessidades dos discentes. Diante deste quadro lastimoso, os discentes muitas vezes abandonam a escola e a estes é negado o princípio da educabilidade. Consequentemente, a negação do princípio da cidadania para uma emancipação social e cultural. No rastro do exposto, Libâneo entra no debate enfatizando que: Cumpre, também, reconhecer a crescente dificuldade de se chegar a um consenso sobre as funções da educação em geral, da escola em particular e das formas pedagógicas e metodológicas que lhe cabem, frente às características do mundo atual. (2002, p. 20). Por isso, conclui-se que a escola trata-se de um projeto bastante audacioso, haja vista que na atualidade seu modelo está engessado, pois foi 49 idealizado em outrora e, portanto, passa a ser questionado. Pois, a contemporaneidade traz consigo inúmeras indefinições e, por isso, elementos os quais a escola organizava sem tantos percalços, atendendo suficientemente ao projeto de modernidade/industrialização, tornaram-se também indefinidos. As perspectivas espaço temporais, bem como o papel das, até então, mega instituições da sociedade, por exemplo, tornam incerta a necessidade da escola enquanto instrumento indispensável nos novos tempos. 50 Explicando melhor com a pesquisa Para uma melhor compreensão acerca dos assuntos discutidos nesta disciplina, sugerimos a leitura: Parar de transformar crianças e adolescentes em alunos do professor Doutor Rui Canário. Ele enfatizaalguns problemas da escola contemporânea e logo adverte que o atual contexto da escola é sombrio, assim como aponta que seu futuro é incerto, haja vista que está a atuar em uma arena de areias movediças. Propomos também a leitura do artigo O professor na sociedade Contemporânea: um trabalhador da contradição do professor. O autor doutor Bernard Charlot apresenta uma interessante discussão sobre o professor diante das demandas e desafios do contexto contemporâneo, realçando as novas pressões sociais, responsabilidades e contextos nos quais o professor é levado a atuar. Aborda, ainda, as dificuldades encontradas pelos “novos estudantes”, assim como as tensões e contradições que permeiam o contexto das escolas brasileiras. Indicamos ainda a leitura “O dualismo perverso da escola pública brasileira: escola do conhecimento para os ricos, escola do acolhimento social para os pobres” do professor doutor José Carlos Libâneo. O autor, pautado nas categorias: políticas para a escola pública; declínio da escola pública; conferência mundial sobre educação para Todos de Jomtien; educação e pobreza; escola dualista, realça que a luta constante na contemporaneidade por escolas públicas gratuitas e de qualidade é bandeira de muitos educadores brasileiros. O autor sublinha ainda, entre outros elementos, a universalização do acesso e da permanência, o ensino e a educação de qualidade, o atendimento às diferenças sociais e culturais, e a formação para a cidadania crítica. 51 Guia de Estudo: Após a leitura, escolha um texto e sintetize-o realizando um resumo e disponibilize na sala virtual para compartilhar com seus colegas. 52 Leitura Obrigatória Caro estudante, a seguir, visando contribuir para a ampliação dos seus conhecimentos, propomos que você leia a obra organizada pela professora doutora Isabel Alarcão, Escola reflexiva e nova racionalidade. Ela apresenta uma abordagem conceitual e prática da Escola Reflexiva e consequentemente, do professor reflexivo. A obra propõe uma escola inovadora, dinâmica e moderna. Na referida escola as discussões apontam a necessidade que as relações interpessoais sejam respeitadas e consideradas como parte constitutiva dos processos de ensino e aprendizagem. ALARCÃO, Isabel (ORG.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed, 2001. 53 Pesquisando na Internet Prezado/a estudante, com o objetivo didático e a fim de buscar outras visões sobre a educação brasileira na contemporaneidade, você é convidado a realizar na Internet investigações a partir da seguinte indagação: Até que ponto a escola, frente à arena contemporânea, estaria apta a dialogar com atitudes formativas condizentes com esses novos tempos, credos e subjetividades? Guia de Estudo: Após sua pesquisa, disponibilize na sala virtual e compartilhe com seus colegas. 54 Saiba mais Sugerimos a você, estudante, a leitura das entrevistas com a professora doutora Paula Sibilia, antropóloga e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF). Nesta entrevista, a professora doutora Paula Sibilia enfatiza as transformações da subjetividade contemporânea, assim como os fatores, tensões e contradições envolvidas na crise que afeta a escola, a qual persiste, segundo ela, em um modelo antiquado frente aos novos modos de ser e estar no mundo. Entrevista 01: Tempo de mudanças Entrevista 02: Escola: que caminho deve ser seguido? Guia de Estudo: Após a leitura das entrevistas, faça seus comentários sobre as transformações e os fatores que afetam a escola e disponibilize na sala virtual. 55 Vendo com os olhos de ver Prezado aluno, assista ao vídeo: A escola e a sociedade em rede, Conferência em CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, com a professora doutora Paula Sibilia. Guia de Estudo: Após assistir ao vídeo, faça seus comentários sobre o que você achou mais relevante e disponibilize na sala virtual e compartilhe com seus colegas. 56 Revisando O sucesso da disciplina é determinado também a partir das aprendizagens apreendidas e retomadas das ideias apresentadas em cada unidade de estudo, isto é, retomar as questões que norteam as reflexões, assim como a apresentação das ideias consumatórias são elementos essenciais para a construção de novas práticas docentes. Na primeira unidade de estudo estudamos diferentes definições clássicas acerca da educação, entretanto, conscientes que as definições de educação são múltiplas e variadas, pois são inúmeros os autores que se empenham ao seu estudo. Em seguida, tratamos da escola face ao crescimento contemporâneo, as constantes transformações visando compreender o contexto no qual a escola encontra-se, hoje, inserida. E, por último, discutimos sobre a necessidade de uma educação contemporânea cidadã. Na segunda unidade de estudo tratamos dos desafios, demandas, tensões e perspectivas que perpassam o contexto escolar nos dias hodiernos, assim como foi alvo das novas discussões a organização escolar, em uma perspectiva histórica, versus a sociedade contemporânea com seus avanços e transformações. Tudo isso, visando levar você, a perceber que a escola pode e precisa ser transformada. Na terceira unidade de estudo, focamos a crise que já vem adquirindo novos moldes e, portanto, nova consistência, haja vista as tecnologias eletrônicas e digitais e o capitalismo, cada vez, mais dinâmico e influenciado por fluxos e interconexões, cada vez, mais globais. No que segue, realçamos que as transformações da sociedade, cada vez mais, invadem a escola, entre elas, as transformações tecnológicas, pois, como discutimos, no século XXI, os computadores, internet, smartphones e redes sociais tem mostrado seu poder de modo intenso e marcante e, por isso, logo adentram toda a sociedade. 57 Autoavaliação Trabalhando-se no sentido do “ainda não”, do “vir a ser”, e com a certeza de que não existem modelos de estruturas escolares perfeitos na educação básica, mas vislumbrando mudanças sob a ótica do possível, vale a pena pensarmos: O que há de ‘velho’ no contexto escolar diante destes novos tempos? Em face de tempos de incertezas e rápidas transformações, que educação e que escolas construirmos? Somente as escolas são suficientes para a construção de uma nova sociedade? Inserir as tecnologias no contexto escolar, sem antes existir um investimento na formação docente, resolveria os entraves entre a escola e o contexto midiático? 58 Bibliografia ALARCÃO, I. A escola reflexiva. In ALARCÃO, I. (org.). Escola reflexiva e nova racionalidade. Porto Alegre: Artmed. 2001. pp.15-30. APPLE, M. BEANE, J. Escolas democráticas. São Paulo: Cortez, 1997. AQUINO, Júlio G. Instantâneos da escola contemporânea. Campinas, SP: Papirus, 2007. 128p. __________. Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394, de dezembro de 1996. Brasília, 1997. , Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Promulgadaem 5 de outubro de 1988. . ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8069/90, de 13 de julho de 1990. Brasília, 1990. ________. Da relação com o saber ás práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013. CORTELLA, Mario Sérgio. 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