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Caso Concreto 01 – Processo Civil II Jorge Lourenço procura um advogado e informa que comprou uma televisão de ultima geração (R$ 8.500,00) para sua residência, mas o equipamento não funciona corretamente. Apesar de inúmeros contatos e promessas do fabricante TVJÓIA e seu serviço autorizado de garantia, nenhuma visita técnica foi realizada. Na conversa com o advogado procurado, Jorge Lourenço informa que gostaria de ter o aparelho (ou outro equivalente) funcionando, além de danos materiais e morais pelo ocorrido. O advogado informa a Jorge Lourenço que irá elaborar a Petição Inicial e que o caso seguirá o procedimento comum sumário em Vara, pois de acordo com o CPC, este caso não poderia mais ir aos Juizados Especiais Cíveis da Lei 9099/95. a) Está correta a orientação prestada pelo advogado no tocante ao rito ou procedimento adequado ao caso? b)Sem prejuízo da resposta no item a), qual seria a outra opção para Jorge Lourenço pleitear em perante o Poder Judiciário uma reparação de seus danos? Resposta: a) A informação do advogado não está correta de acordo com o que afirma o novo CPC, no artigo 318 é instituído um único procedimento que é comum no processo de conhecimento. Com isso, o postulante não é impedido de demandar a Lei de Juizados Especiais 9.099/95 que institui os JECs, competente para julgar a causa de menor complexidade cujo valor não exceda a 40 salários mínimos vigentes conforme descrito no art. 3º, I, Lei 9.099/95. b) A outra alternativa seria demandar perante ao JEC já que o valor não ultrapassa a 40 salários e a causa é de menor complexidade. O QUE ENTENDE A DOUTRINA SOBRE A QUESTÃO APRESENTADA: “Saber se determinada demanda pode ou não ser proposta perante os juizados especiais não é tema de competência, mas de procedimento. A Lei n. 9.099/95, que trata dos juizados especiais, criou um novo tipo de procedimento, muito mais rápido e informal que o tradicional, apelidado de “sumaríssimo”. O art. 3º, que indica as causas que podem correr perante o juizado especial, emprega a expressão “competência” de forma pouco técnica (correto o emprego, no § 3º desse art. 3º, da palavra “procedimento”). O que ele faz é enumerar em que situações o interessado poderá valer-se do procedimento previsto na lei, aforando a sua demanda perante o Juizado Especial Cível. Um exame das hipóteses do mencionado art. 3º da Lei n.9.099/95, bem como do art. 3º da Lei n. 10.259/2001, que trata dos Juizados Especiais Federais, permite concluir que, em regra, os critérios usados pela lei para identificar quando é possível se valer do procedimento do juizado são o valor da causa (até quarenta salários mínimos nos juizados estaduais, salvo os da Fazenda Pública, até sessenta; e até sessenta nos federais) e a matéria. Também a qualidade de alguns dos litigantes deve ser levada em conta (por exemplo, não podem ter o procedimento do juizado as ações propostas por pessoas jurídicas). (...) O procedimento do Juizado Especial Cível é opcional, pois ainda que a matéria ou o valor da causa o permitam, o interessado pode preferir os procedimentos tradicionais.” (Gonçalves, Marcos Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado, 2020, 11. Ed., p. 261-262) Caso Concreto 02 – Processo Civil II Uma animada conversa entre dois estudantes de graduação em Direito a respeito de uma decisão judicial de 1 a instância que julgou liminarmente improcedente o pedido (antes mesmo da citação do demandado) por estar frontalmente contrária a enunciado de súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal chamou atenção de um terceiro estudante, representante de turma do 6 o período que achou por bem intervir na conversar. Em dado momento, os três alunos fizeram as seguintes manifestações categóricas: Aluno do 4 o Período - O Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário está acima de qualquer lei ou código, de modo que não pode haver indeferimento liminar de Petição Inicial sem antes ocorrer a citação do demandado, futuro réu. Aluno do 5 o Período - O Juiz pode sim decidir pela Improcedência Liminar do Pedido, mas apenas nos casos de súmula vinculante do STF. Aluno do 6 o Período -O Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário está acima de qualquer lei ou código, mas isto não torna inconstitucional determinado artigo do CPC, ou mesmo decisão judicial devidamente fundamentada em casos concreto no âmbito do Processo Civil brasileiro. a) Existe alguma manifestação correta acima? b) Existe diferença entre Improcedência Liminar do Pedido e Indeferimento da Petição Inicial? Resposta: a) Sim, a colocação do aluno do 6º período está correta pelo Princípio da Inafastabilidade do Poder Judiciário e do acesso à Justiça (art. 5º, XXXV da CF/88). De acordo com o NCPC, art. 332, trata-se dos casos de improcedência liminar do pedido, sem citação do réu. O espírito da lei é que não se mova a máquina judiciária para tratar de temas já resolvidos pelos tribunais locais e superiores, dependendo do caso. É o aproveitamento de casos anteriores, onde causa de pedir/objeto/pedido podem ter sua análise estendida a outras partes que se encontrem em situações jurídicas equivalentes. É o trato coletivo de temas de direito já analisados (e na maioria dos casos simulados) pelos tribunais e não há razão para respostas diferenciadas, ao menos em regra. b) Existe sim o art. 332 autoriza o juiz a proferir sentença de mérito julgando improcedente o pedido, no início do processo, sem que o réu tenha sido citado. Esse é um efeito processual para dar mais celeridade ao processo e não ofende consagrado princípio constitucional da inafastabilidade e do exercício da ampla defesa e do contraditório, pois está assentado no norteamento da lei processual. No indeferimento da petição inicial tratada no art. 330, NCPC quem é rejeitada é a peça, será indeferida por falta de condição dos pressupostos processuais, como por exemplo quando a petição for inepta, a parte manifestante for ilegítima, etc. O QUE ENTENDE A DOUTRINA SOBRE A QUESTÃO APRESENTADA: “As hipóteses de improcedência liminar não estão mais associadas aos precedentes do próprio juízo, mas à existência de entendimento pacificado sobre a questão de direito em que se funda o pedido, nas hipóteses supramencionadas. A solução dada pelo art. 332 favorece o princípio da isonomia e segurança jurídica, pois determina que todos os juízes julguem liminarmente improcedentes as pretensões, desde que presentes as hipóteses acima, todas elas – exceto a de prescrição e decadência – associadas à jurisprudência pacificada dos órgãos superiores. As hipóteses dos incisos I, II e III do art. 332 mantêm coerência com as hipóteses do art. 927, II, III e IV, consideradas como de jurisprudência vinculante (devendo-se incluir também a hipótese do art. 927, I). (...) No curso do processo, e a qualquer tempo, o juiz pode, constatada a existência de alguma das hipóteses do art. 485, extinguir o processo sem resolução de mérito. Mas a expressão “indeferimento de inicial” deve ficar reservada à hipótese em que o juiz põe fim ao processo antes de determinar que o réu seja citado, no momento em que faz os primeiros exames de admissibilidade. As hipóteses do art. 330, de indeferimento da inicial, resultam todas na extinção do processo sem resolução de mérito. As hipóteses são as seguintes: ■ Inépcia: é a inaptidão da inicial para produzir os resultados almejados, seja por falta de pedidos seja por falta de fundamentação (...) ■ (...) O “manifestamente” foi utilizado pelo legislador para expressar que a ilegitimidade de parte há de ser indubitável (...) ■ Quando ao autor carecer de interesse processual. Essa hipótese, somada à anterior, completa o quadro relacionado às condições da ação, cuja falta, se detectável desde logo, ensejará o indeferimento da inicial (...) ■ Quando, postulandoem causa própria, o advogado não cumprir as determinações do art. 106, e quando o autor não emendar a inicial, na forma do art. 321.” (Gonçalves, Marcos Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado, 2020, 11. Ed., p. 683, 686) Caso Concreto 03 – Processo Civil II Juan é advogado e está terminando seus estudos complementares de pós-graduação fora do Brasil, razão pela qual resolveu contratar um advogado para a defesa de seus interesses em processo judicial no qual fora citado dias antes da viagem, de forma inesperada e, segundo ele, sem qualquer nexo de causalidade com as pessoas, fatos narrados na petição inicial. Segundo Juan, trata-se de pedido de reintegração de posse realizado por Jurema, tendo por objeto um sítio em Maricá, município do Rio de Janeiro, onde Juan afirma apenas frequentar em propriedades de seus primos e tios. O advogado contratado, Dr. Rafael, tranquiliza Juan e afirma ter descoberto em documentos cartorários na municipalidade o verdadeiro possuidor (ao menos de fato) do referido sítio e que irá realizar a resposta do réu, na modalidade de Contestação, tudo nos termos do CPC. a)Está correta a modalidade de defesa (resposta) indicada pelo Dr. Rafael ? Caso o Juiz entenda pela ilegitimidade passiva de Juan, o processo será extinto sem resolução do mérito? b)Quais os significados dos Princípios da Eventualidade e Ônus da Impugnação Específica para fins do momento processual dos artigos 335 e seguintes do CPC ? Resposta: a) A resposta do advogado está correta, pois ofereceu contestação, conforme o Art. 338, NCPC onde é facultado ao autor substituir o réu na petição inicial em um prazo de 15 dias, além disso o autor terá que que custear as despesas e honorários ao procurador do réu excluído. O processo não seria extinto pela ilegitimidade passiva de Juan, pois segundo o que consta no Art. 338, NCPC, o autor poderá promover a substituição do réu quando este se declarar parte ilegítima. b) Princípio da Eventualidade nada mais é a definição do ato processual denominado contestação onde é concentrada toda a matéria de defesa (art. 336, NCPC). Além disso, uma vez que a contestação é apresentada irá se consumar a preclusão. O princípio da Impugnação Específica devemos entendê-lo como a obrigação que o réu tem de se manifestar precisamente sob os fatos e fundamentos, articulados pelo autor na Peça Inicial. A inobservância deste princípio conduz a presunção de veracidade. O QUE ENTENDE A DOUTRINA SOBRE A QUESTÃO APRESENTADA: “(...) o mecanismo do art. 338 aplica-se sempre que o réu alegar que é parte ilegítima ou que não é o responsável pelo prejuízo invocado. Nesse caso, o autor será ouvido, podendo requerer, no prazo de 15 dias, o aditamento da inicial com a substituição do réu originário pelo indicado na contestação, pagando ao advogado dele honorários advocatícios entre 3% e 5% do valor da causa (art. 338 do CPC). Para que isso se viabilize, manda a lei que o réu indique o nome do sujeito passivo da relação jurídica discutida, sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e prejuízos que causar ao autor pela falta de indicação. Aceita a indicação, o autor procederá à alteração da inicial para substituir o réu. O novo mecanismo tem amplitude muito maior do que a nomeação à autoria, pois permite a regularização do polo passivo em qualquer caso de ilegitimidade, e não apenas nos casos em que a nomeação era cabível, previstos nos arts. 62 e 63 do CPC de 1973. (...) Preclusão é mecanismo de grande importância para o andamento do processo, que, sem ele, se eternizaria. Consiste na perda de uma faculdade processual por: ■ não ter sido exercida no tempo devido (preclusão temporal); ■ incompatibilidade com um ato anteriormente praticado (preclusão lógica); ■ já ter sido exercida anteriormente (preclusão consumativa). (...) O réu tem o ônus de impugnar especificamente os fatos narrados na petição inicial, sob pena de presumirem-se verdadeiros. Cada fato constitutivo do direito do autor deve ser impugnado pelo réu. É o que dispõe o art. 341 do CPC: “incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas (...)”. Todavia, há exceções à regra do ônus da impugnação especificada. O parágrafo único do art. 341, parágrafo único, estabelece que tal ônus não se aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao defensor público. Estes podem contestar por negativa geral, sem impugnar especificamente os fatos, tornando-os ainda assim controvertidos, sem presunção de veracidade. (Gonçalves, Marcos Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado, 2020, 11. Ed., p. 523, 699, 702) Caso Concreto 04 – Processo Civil II Marisa promove ação judicial de indenização por danos materiais e morais em face de Tinoco, seu vizinho. Segundo Marisa, Tinoco tem insistentemente atitude ilícita e desrespeitosa com seu animal preferido, um cavalo de estimaçãochamado "Ventania". Tais atitudes fez com que o mesmo ficasse em estado de grande agitação, vindo inclusive a se cortar na cerca da propriedade no último mês, o que gerou internação veterinária com cirurgia e medicamentos. Tinoco citado, não ofereceu contestação, o que foi certificado pelo cartório, conforme consta nos autos. Marisa, eufórica e, acompanhando seu andamento processual na internet, liga para seu advogado, informa da revelia e pergunta se com isso, o juiz irá proferir sentença de procedência do seu pedido. a) Sempre que houver Revelia, haverá procedência do pedido? b) Caso Tinoco tivesse oferecido Contestação alegando que apenas se defendia de Ventania, pois o animal ameaçava ataca-lo quando passava rente à cerca, qual deveria ser a atitude do Juiz? Resposta: a) Não, nem sempre. A revelia quando de natureza relevante conduz a uma presunção relativa de veracidade. O artigo 345, inciso IV diz que a revelia pode não produzir o efeito de presunção da veracidade se “as alegações de fato, formuladas pelo autor, forem inverossímeis ou estiverem em contradição com as provas constantes dos autos” com isso percebemos a relatividade da presunção de veracidade. b) Conforme previsão do art. 350, NCPC o réu alegando fato impeditivo, modificativo ou extintivo em relação ao direito do autor este será ouvido dentro do prazo de 15 dias (réplica) e lhe será permitida a produção de provas. O QUE ENTENDE A DOUTRINA SOBRE A QUESTÃO APRESENTADA: “Ora, se o réu é revel, não apresentou contestação válida, o juiz, em princípio, há de presumir verdadeiros todos os fatos narrados na petição inicial, e, se estes forem suficientes para o acolhimento do pedido, estará autorizado a julgar de imediato, conforme art. 355, II, do CPC. Sendo a presunção de veracidade dos fatos consequência assaz gravosa, o juiz deve aplicá-la com cuidado. Tal presunção não é absoluta, mas relativa, e sofre atenuações, que devem ser observadas. Disso decorre que a falta de contestação não levará sempre e automaticamente à procedência do pedido do autor. Há casos, por exemplo, em que a questão de mérito é exclusivamente de direito, e a falta de contestação não repercutirá diretamente no resultado. Além disso, é preciso que os fatos sejam verossímeis, possam merecer a credibilidade do juiz e não estejam em contradição com a prova constante dos autos. Ele não poderá, ao formar sua convicção, dar por verdadeiros os que contrariam o senso comum, ou que são inverossímeis. Em síntese, só dará por verdadeiros os fatos que não contrariarem a sua convicção, como expressamente dispõe o art. 20 da Lei n. 9.099/95, que pode ser aplicado aos processos em geral.” (Gonçalves, Marcos Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado, 2020, 11. Ed., p. 715-716) Caso Concreto 05 – Processo Civil II Pablo exerceu seu direito de ação em face de Rodrigopara obter a rescisão contratual de determinado negócio jurídico firmado entre as partes. Na Petição Inicial Pablo afirma que Rodrigo descumpriu três cláusulas contratuais distintas, causando danos materiais e morais e por tais razões, não mais deseja manter o vínculo contratual, requerendo ainda, além de seu desfazimento, o pagamento de multa contratual prevista em cláusula específica. Junta apenas documentos comprobatórios e afirma não necessitar de outros meios para sustentar o alegado. Rodrigo devidamente citado oferece Contestação, reconhece o fato em que se funda a ação, mas aponta razões e fatos não informados por Pablo para tentar justificar seu comportamento contratual em não cumprir o previsto em apenas uma das cláusulas citadas, não se manifestando sobre as demais suscitadas na Petição Inicial. Requereu ainda depoimento pessoal e de testemunhas que poderão confirmar os fatos por ele narrados. Após a certificação da tempestividade da defesa apresentada, os autos vão conclusos ao juiz. Releia e interprete o texto acima para responder aos seguintes questionamentos: a) Caso o Juiz considere pertinente a defesa apresentada por Rodrigo será possível o julgamento antecipado do mérito? b) Caso o Juiz entenda que existe fato incontroverso poderá haver julgamento antecipado parcial do mérito. Resposta: a) Não é possível, pois o réu apresentando sua defesa conforme art. 350, NCPC é assegurado o prazo de 15 dias ao autor para que apresente sua réplica e junte novas provas. b) É possível desde que antecipadamente o magistrado assegure o prazo de 15 dias para o autor conforme previsão do art. 350. JURISPRUDÊNCIA: 0111152-21.2018.8.19.0001 – APELAÇÃO Des(a). JDS MARIA CELESTE PINTO DE CASTRO JATAHY - Julgamento: 27/11/2019 - VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível. Direito do Consumidor. Ação Indenizatória por Danos Materiais e Morais. Cartão de débito com tecnologia de chip. Autor que alega a ocorrência de 13 (treze) débitos indevidos em sua conta corrente, perpetrados por terceiros fraudadores, realizados na madrugada do dia 23/12 para 24/12/2007 e, concomitantemente, em cidades diversas em dois estados da federação; transações, essas, fora do perfil do autor. Sentença que julga parcialmente procedente o pedido para condenar a ré a pagar ao autor a quantia de R$ 10.000,00 (dez mil reais) pelos danos morais; R$ 4.859,18 (quatro mil, oitocentos e cinquenta e nove reais e dezoito centavos), de forma simples, referentes aos valores que foram descontados na conta bancária do autor e ao pagamento das custas e honorários de 10% (dez por cento) sobre o valor da condenação. Recurso interposto pelo réu alegando preliminar de cerceamento de defesa, ante o julgamento antecipado da lide e, no mérito, postula a reforma integral da sentença para que sejam julgados improcedentes todos pedidos autorais. Subsidiariamente, requer seja reduzido o valor da indenização por danos morais. 1. Rejeição da preliminar de cerceamento de defesa. Julgamento antecipado da lide que encontra amparo na lei processual civil (art. 355 do CPC). Juiz é o destinatário das provas (art. 370 do CPC) cabendo ao magistrado indeferir aquelas que forem inúteis ao deslinde da questão. Desnecessária a produção da prova oral, consubstanciada no depoimento pessoal do autor. 2. A questão versa sobre relação de consumo, enquadrando-se o autor na figura de consumidor e o réu na figura de fornecedor de produtos e serviços (artigos 2º e 3º do CDC). 3. Impossibilidade física de a mesma pessoa estar às 23:19 h na cidade de São Paulo; às 23:49 h na cidade de São Jose; à 01:17 h no Rio de Janeiro; às 05:06 h no Rio de Janeiro; às 08:34 h em São Paulo e às 10:58 h no Rio de Janeiro, tudo na madrugada no dia 23 para 24/12. 4. Responsabilidade objetiva. Fortuito Interno. Verbetes nº 94 da Súmula do TJRJ e 479 do STJ. Aplicável a Teoria do Risco do Empreendimento. Ademais, é notório que os cartões mesmo contendo chip, podem ser objeto de clonagem. 5. Ressarcimento dos valores descontados da conta corrente do autor, de forma simples, que se impõe. 6. Dano moral que não restou configurado. Mero aborrecimento da vida cotidiana. Ausência de mácula a direito da personalidade do autor. 7. Sentença parcialmente reformada para afastar a condenação por dano moral. Sucumbência recíproca. 8. PARCIAL PROVIMENTO DO RECURSO DO RÉU. Caso Concreto 06 – Processo Civil II André e Lívio figuram respectivamente como autor e réu em ação de cumprimento contratual que tem como objeto a prestação de serviços de manutenção de aparelhos de ar condicionado. O contrato foi firmado pelas partes e vinha sendo cumprido normalmente, até que em determinado mês, sem nenhuma razão específica, Lívio deixou de realizar o serviço. Após realizar duas notificações, André optou pelo Poder Judiciário para tentar resolver seu problema. O advogado de André distribuiu a petição inicial com a opção de não realizar audiência de conciliação ou mediação. Após a citação e apresentação de defesa, o Juiz determina a realização de Audiência de Instrução e Julgamento e intima as partes envolvidas. Releia e interprete o texto acima para responder aos seguintes questionamentos: a) Considerando que a audiência a ser realizada tem por finalidade instruir e proporcionar condições técnicas para o julgamento do Juiz, é possível ainda haver espaço para a conciliação ou mediação? b) O que significa dizer que a audiência de instrução e julgamento é una e indivisível ? Resposta: a) Podem. A mediação e a conciliação podem ser tentadas em qualquer tempo no momento em que o magistrado vislumbre a possibilidade de êxito. O art. 359, NCPC aborda que o juiz pode tentar conciliar as partes independentemente de outros métodos de solução consensual de conflitos empregados anteriormente. b) Conforme o art. 365, NCPC a audiência deve acontecer de forma ininterrupta, apenas podendo ser cindida em caráter excepcional com a concordância das partes e devidamente justificada. O QUE ENTENDE A DOUTRINA SOBRE A QUESTÃO APRESENTADA: “Não se trata, propriamente, de um requisito da inicial, mas da oportunidade que o autor tem de manifestar desinteresse na audiência inicial de tentativa de conciliação, que se realiza no procedimento comum, antes da contestação do réu. Essa audiência deve, obrigatoriamente, ser designada, salvo se o processo for daqueles que não admite autocomposição, ou se ambas as partes manifestarem desinteresse na sua realização. A inicial é a oportunidade que o autor tem para manifestá-lo. Mas ainda que ele o faça, o juiz deve designá-la, pois somente se o réu também o fizer, ela será cancelada. Ele deve fazê-lo por petição, apresentada com 10 dias de antecedência, contados da data marcada para a audiência. Se o autor silenciar a respeito de sua opção, presume-se que ele concorda com a realização, já que ela só não será marcada se o desinteresse for expressamente manifestado por ambas as partes (art. 334, § 2º).” (Gonçalves, Marcos Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado, 2020, 11. Ed., p. 675) Caso Concreto 07 – Processo Civil II Raphael consulta Arthur (seu advogado de confiança) a respeito de uma questão jurídica envolvendo a compra de um veículo Zero Quilômetro que realizou recentemente, a menos de 3 (três) meses. O veículo apresenta defeitos que intermitentes, aparentemente relacionados à parte elétrica ou eletrônica do veículo. Rafael informa ao seu advogado que já tentou por todos os meios convencer os responsáveis da concessionária onde foi adquirido, assim como o próprio fabricante do problema. O máximo que conseguiu foi a marcação de mais uma visita e vistoria técnica do veículo e os resultados foram um gentil café em sala de espera refrigerada e a posição de que ele (Raphael) é quem deveria provar que o veículo está com problemas, pois, na vistoria, nadafoi detectado. Assim, Raphael pergunta ao advogado se é possível levar o caso ao Poder Judiciário, já que ele não tem como provar tecnicamente o defeito, pois é mero consumidor e não conhece de componentes técnicos do veículo. Raphael também informa que pesquisou e encontrou outros casos similares, onde pessoas naturais e jurídicas conseguiram provar o mesmo problema em seus veículos de mesma marca e modelo. Arthur tranquiliza Raphael e informa que irá requerer em Juízo as medidas processuais necessárias para a melhor e mais rápida defesa de seus interesses. Releia e interprete o texto acima para responder aos seguintes questionamentos: a) A quem incumbe, ordinariamente, o ônus da prova em juízo no processo civil brasileiro? b) É possível alguma inversão no caso concreto? Resposta: a) Ordinariamente o ônus da prova incumbe ao autor em relação ao fato constitutivo do seu direito (art. 373, I, NCPC). Porém no mesmo artigo, em seu inciso II verificamos a informação de que se a prova for referente a fato impeditivo, modificativo ou extintivo de direito o ônus é incumbido ao réu. b) Sim, é possível se aplicarmos o que prega o art. 6º, VIII, CDC que relata como um dos direitos básicos do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova a seu favor, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. JURISPRUDÊNCIA: 0248849-84.2018.8.19.0001 - APELAÇÃO Des(a). ODETE KNAACK DE SOUZA Julgamento: 28/01/2020 - VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. INSTITUIÇÃO BANCÁRIA. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO NÃO CONTRATADO. DESCONTOS INDEVIDOS NOS PROVENTOS DE APOSENTADORIA DO AUTOR. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. BANCO RÉU QUE NÃO SE DESINCUMBIU DE SEU ÔNUS PROBATÓRIO, NÃO DEMONSTRANDO A EXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO, MODIFICATIVO OU EXTINTIVO DO DIREITO DO AUTOR, CONFORME ART. 373, II, DO CPC. AUSÊNCIA DE PRODUÇÃO DE PROVAS CABAIS QUANTO À ALEGAÇÃO DE FATO EXCLUSIVO DA VÍTIMA. EVENTUAL ATUAÇÃO DE TERCEIRO FRAUDADOR NÃO ISENTA O RÉU DO DEVER DE REPARAÇÃO, EIS QUE FRAUDES PRATICADAS POR TERCEIROS INTEGRAM OS RISCOS DO EMPREENDIMENTO NAS RELAÇÕES CONSUMERISTAS. SÚMULAS 479 DO STJ E 94 DO TJ/RJ. DANO MORAL CONFIGURADO. SITUAÇÃO QUE EXTRAPOLA O MERO ABORRECIMENTO. CONDUTA DA RÉ, QUE MANTEVE AS COBRANÇAS INDEVIDAS DE VALORES SEM A ADEQUADA COOPERAÇÃO ADMINISTRATIVA, GERA O DEVER DE INDENIZAR. TEORIA DA PERDA DO TEMPO ÚTIL. QUANTIA FIXADA QUE DEVE OBSERVAR AS ESPECIFICIDADES DO CASO, AS CONSEQUÊNCIAS DO EVENTO E A CAPACIDADE DAS PARTES. VALOR DE R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS) QUE ATENDE AOS PARÂMETROS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SÚMULA Nº 343 TJ/RJ. PEQUENO AJUSTE NA SENTENÇA EM RELAÇÃO À DEVOLUÇÃO DA COBRANÇA INDEVIDA. RESTITUIÇÃO DE VALORES DEVE SER SIMPLES, E NÃO DOBRADA, EIS QUE NÃO SE CONFIGUROU A MÁ-FÉ, TAMPOUCO QUE AS REFERIDAS TRANSAÇÕES FORAM FEITAS PELO APELANTE, OU POR ALGUM DE SEUS PREPOSTOS. PRECEDENTE DO STJ. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Caso Concreto 08 – Processo Civil II Carla está desesperada e conversa com Dra. Suzana (sua advogada) que a principal testemunha de seu caso e que deverá comparecer em audiência de instrução futura (mês seguinte) foi hospitalizada para passar por procedimento cirúrgico de alto risco em no máximo 3 (três) dias, conforme atestou o médico em documento próprio. Existe sério risco de morte, ou mesmo de vida com sequelas cerebrais diversas. O tempo de espera é apenas para os trâmites técnicos e administrativos para a cirurgia, pois trata-se de evento futuro e certo. Dra. Suzana lamenta o ocorrido com Carla, mas informa que nada pode fazer, pois o NCPC não prevê mais a medida cautelar existente no CPC/73, talvez no máximo peticionar nos autos informando do ocorrido e requerendo o adiamento da audiência para aguardar a melhor recuperação da testemunha enferma, ou mesmo conseguirem uma testemunha substituta. Releia e interprete o texto acima para responder aos seguintes questionamentos: a) Está correta a informação jurídica prestada pela Dra. Suzana? b) É possível que Atas Notariais possam atestar ou documentar a existência de fatos jurídicos materiais e servirem de meio probatório em Juízo? Resposta: a) Não. Embora correta a informação de que não mais existe a cautelar de produção antecipada de provas o novo CPC estabeleceu procedimento próprio para estes casos, conforme artigo 381, NCPC. b) Sim, o artigo 384, NCPC, estabelece a existência de atas notariais. O QUE ENTENDE A DOUTRINA SOBRE A QUESTÃO APRESENTADA: “A ata notarial é o documento lavrado por tabelião público, que goza de fé pública e que atesta a existência ou o modo de existir de algum fato. Para que o tabelião possa atestá- lo, é necessário que ele tenha conhecimento do fato. Por isso, será necessário que ele o verifique, o acompanhe ou o presencie. Ao fazê-lo, deverá descrever o fato, apresentando as circunstâncias e o modo em que ele ocorreu, com as informações necessárias para que o fato seja esclarecido. A ata notarial não é a atestação de uma declaração de vontade, como são as escrituras públicas, mas de um fato cuja existência ou forma de existir é apreensível pelos sentidos (pela visão, pela audição, pelo tato etc.). Ela não é produzida em juízo, mas extrajudicialmente, com a atuação de um tabelião. No entanto, como ele goza de fé pública, presume-se a veracidade daquilo que ele, por meio dos sentidos, constatou a respeito da existência e do modo de existir dos fatos.” (Gonçalves, Marcos Vinícius Rios, Direito Processual Civil Esquematizado, 2020, 11. Ed., p. 789)
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