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TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA E AUTOIMUNIDADE - Tolerância imunológica é a não responsividade a um antígeno, induzida pela exposição prévia ao mesmo. Quando linfócitos específicos encontram antígenos, estes podem ser ativados, induzindo respostas imunológicas; ou estes linfócitos podem ser inativados ou eliminados, levando a tolerância. - A autotolerância, ou tolerância aos autoantígenos, é uma propriedade fundamental do sistema imune e sua falha resulta em doenças autoimunes. TOLERÂNCIA CENTRAL PARA LINFÓCITOS T - Durante sua maturação no timo, muitas células T imaturas que reconhecem antígenos com grande avidez são deletadas e algumas das células sobreviventes na linhagem CD4+ transformam-se em células T regulatórias. - Algumas células T CD4+ autorreativas que encontram autoantígenos no timo não são deletadas, mas, ao contrário disso, diferenciam-se em células T regulatórias, que inibem respostas contra antoantígenos na periferia (suprimem as respostas imunológicas na periferia). TOLERÂNCIA PERIFÉRICA PARA LINFÓCITOS T - Em células CD4+ a anergia é induzida pelo reconhecimento do antígeno sem coestimulação adequada ou por envolvimento de receptores inibitórios (CTLA-4 e PD-1). Células T regulatórias inibem respostas imunológicas através de mecanismos múltiplos. Células T que encontram autoantígenos sem outro estímulo ou que são estimuladas repetidamente podem morrer por apoptose. TOLERÂNCIA CENTRAL PARA LINFÓCITOS B - Linfócitos B imaturos que reconhecem autoantígenos na medula óssea com alta afinidade mudam sua especificidade ou são deletados. TOLERÂNCIA PERIFÉRICA PARA LINFÓCITOS B - Linfócitos B maduros que reconhecem autoantígenos em tecidos periféricos na ausência de células T auxiliares específicas podem ser considerados funcionalmente não responsivos ou podem morrer por apoptose. CÉLULAS T REGULADORAS E CITOCINAS - As células T CD4 reguladoras são formadas na medula do timo após reconhecerem autoantígenos. Não se sabe o motivo, mas estas células passam a expressar um gene fundamental ao desenvolvimento e função destas células, chamado FOXP3. - A IL-2 e o TGF-β são fatores essenciais à formação e sobrevivência das células T reguladoras. O IL-2 atua na diferenciação do subtipo regulador e está relacionado com sobrevida e manutenção desta população celular. Já o TGF-β é fundamental à expressão do FOXP3. - Os mecanismos efetores destas células estão relacionados, principalmente, com a liberação de IL-10 e TGF-β. Estes fatores atuam inibindo as respostas imunológicas. RECEPTORES DE INIBIÇÃO DAS RESPOSTAS IMUNES - CTLA-4: é membro da família de receptores CD28 e liga-se a moléculas B7, induzindo a tolerância. A eliminação desse mecanismo de controle resulta na falha da tolerância periférica e em doenças graves mediadas por células T. *O CTLA-4 funciona continuamente para manter as células T autorreativas sob controle. - PD-1: é outro receptor inibitório da família CD28. O PD-1 reconhece os ligantes PD-L1 (expresso nas APCs e em muitas células de outros tecidos) e o PD-L2 (expresso principalmente nas APCs). O acoplamento do PD-1 com qualquer um de seus ligantes leva a inativação das células T. *Indivíduos deficientes para PD-1 desenvolvem doenças autoimunes, no entanto, elas são menos graves que em indivíduos deficientes de CTLA-4. DOENÇAS AUTOIMUNES - Sistêmicas: ocorrem quando há formação de complexos imunológicos circulantes. Assim, acontece o reconhecimento de autoantígenos em diversos tecidos, levando a uma resposta sistêmica (Lúpus Eritematoso Sistêmico). - Órgão-específicas: acontecem quando anticorpos ou linfócitos T respondem a um autoantígeno restrito a um tecido ou região (miastenia grave, diabetes tipo I e esclerose múltipla). - Fatores que contribuem para seu desenvolvimento: A- Defeitos na seleção negativa de células T ou B ou na edição de receptores em células B durante a maturação destas células. B- Defeitos no número e função dos linfócitos Treg. C- Apoptose defeituosa de linfócitos autorreativos maduros. D- Função inadequada de receptores inibitórios. E- Suscetibilidade genética e gatilhos ambientais (como infecções e lesão local no tecido). F- Ativação de APC que supera os mecanismos reguladores, levando à um número elevado de linfócitos responsivos. - Associação entre o MHC com autoimunidade: Embora a maioria das doenças autoimunes seja poligênica, a maior contribuição é dos genes MHC. Acredita-se que outros genes contribuam para influenciar a seleção e regulação de linfócitos autorreativos. - Papel das infecções na autoimunidade: infecções virais e bacterianas podem contribuir para o desenvolvimento e exacerbação da autoimunidade através: A- Da ativação de APCs teciduais que expressam coestimuladores e secretam citocinas ativadoras de células T que não são específicas ao patógeno infeccioso, resultando no colapso da tolerância da célula T. B- Do mimetismo molecular, em que microrganismos infecciosos contém antígenos que têm reatividade cruzada com autoantígenos, fazendo com que as respostas imunológicas a esses microrganismos resultem em reações contra autoantígenos. *Algumas infecções podem proteger contra o desenvolvimento da autoimunidade (p. ex. a redução de infecções aumenta a incidência de diabetes tipo I e EM). *A microbiota intestinal e cutânea pode influenciar o desenvolvimento de doenças autoimunes. ESCLEROSE MÚLTIPLA - A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune do SNC, na qual as células T CD4+ das subpopulações TH1 e TH17 reagem contra os antígenos próprios de mielina, resultando em inflamação no SNC com ativação de macrófagos ao redor dos nervos do cérebro e da medula espinhal, destruição da mielina, anormalidades na condução nervosa e déficits neurológicos. - É a doença neurológica mais comum de adultos jovens. No exame patológico, há inflamação na substância branca do SNC com desmielinização secundária. A EM é caracterizada clinicamente por fraqueza, paralisia e sintomas oculares com exacerbações e remissões. - Acredita-se que a EM é causada por células TH1 CD4+ e TH17 ativadas específicas para antígenos de proteínas em mielina. Foi sugerido que uma infecção viral possa ativar as células T reativas à mielina própria pelo fenômeno de mimetismo molecular. - A autotolerância pode falhar por causa da herança de genes de suscetibilidade. Os polimorfismos genéticos associados à EM incluem o lócus HLA, com os alelos HLA-DRB1*1501 sendo a ligação mais forte. - Estudos sugerem que a doença é propagada por meio de um processo conhecido como espalhamento de epítopo. A ruptura do tecido resulta na liberação de novos antígenos proteicos e expressão de novos epítopos, previamente sequestrados, que ativam mais células T autorreativas. DIABETES TIPO 1 - Diabetes melito insulino-dependente: é uma doença metabólica multissistêmica resultante da produção prejudicada de insulina. As complicações crônicas do diabetes tipo 1 incluem aterosclerose progressiva das artérias, o que pode levar à necrose isquêmica dos membros e órgãos internos, e obstrução microvascular causando danos na retina, nos glomérulos renais e nos nervos periféricos. - Esses pacientes apresentam uma deficiência de insulina resultante da destruição imunomediada das células β produtoras de insulina das ilhotas de Langerhans no pâncreas e é necessário proceder a uma terapia de reposição hormonal contínua. - Vários mecanismos podem contribuir para destruição das células β, incluindo inflamação mediada por células TH1 CD4+ reativas com antígenos das ilhotas (incluindo insulina), lise de células das ilhotas mediada por CTL, produção local de citocinas (TNF e IL-1) que danificam células das ilhotas e autoanticorpos contra as células das ilhotas. - Múltiplos genesestão associados ao diabetes tipo 1. Tem- se dedicado grande parte da atenção ao papel dos genes HLA (HLA-DR3, DR4 ou ambos). Diversos genes não HLA também contribuem para a doença (como genes de IL2 e CD25).
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