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Direito Constitucional 2- casos concretos

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Direito constitucional 2- casos concretos
RESPOSTAS:
1- Como o Brasil adotou a forma federalista de Estado na Constituição de 1988 (onde o país é composto por estados-membros que formam uma unidade), a possibilidade de separação é inconstitucional, logo, não possível mesmo diante de plebiscito, referendo ou qualquer forma de democracia direta. Como versa Pedro Lenza (Dir. Const. Esquematizado, pag. 728, Ed. 2019): “Não se permite, uma vez criado o pacto federativo, o direito de separação, de retirada. Tanto é que, só a título de exemplo, no Brasil, a CF/88 estabeleceu em seu art. 34, I, que a tentativa de retirada ensejará a decretação da intervenção federal no Estado “rebelante”. Eis o princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, lembrando, inclusive, que a forma federativa de Estado é um dos limites materiais ao poder de emenda, na medida em que, de acordo com o art. 60, § 4.º, I, não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado.”
2- De acordo com o Art. 22, XI da CF/88, é competência da União, de forma privativa, legislar sobre o trânsito. Dessa forma, a lei aprovada pela ALERJ é inconstitucional. Seria diferente caso a União houvesse delegado a competência para legislar sobre o tema para o Estado do Rio de Janeiro, mas como não foi o caso, a lei não pode ser válida. Sobre o tema, Pedro Lenza diz: “Indaga-se: apesar de ser competência privativa da União, poderiam aquelas matérias ser regulamentadas também por outros entes federativos? Sim, de acordo com a regra do art. 22, parágrafo único, que permite à União, por meio de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias previstas no referido art. 22.” (Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado, Ed. 2019, pg. 758) Jurisprudência sobre o tema de inconstitucionalidade acerca da competência privativa: ADI 2.137, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11.04.2013, Plenário. “Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 3.279/99 do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre o cancelamento de multas de trânsito anotadas em rodovias estaduais em certo período relativas a determinada espécie de veículo. Inconstitucionalidade formal. Violação da competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte. 1. Inconstitucionalidade formal da Lei nº 3.279/99 do Estado do Rio de Janeiro, a qual dispõe sobre o cancelamento de multas de trânsito. 2. Competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte, consoante disposto no art. 22, inciso IX, da Constituição. Precedentes: ADI nº 3.196/ES; ADI nº 3.444/RS; ADI nº 3.186/DF; ADI nº 2.432/RN; ADI nº 2.814/SC. 3. O cancelamento de toda e qualquer infração é anistia, não podendo ser confundido com o poder administrativo de anular penalidades irregularmente impostas, o qual pressupõe exame individualizado. Somente a própria União pode anistiar ou perdoar as multas aplicadas pelos órgãos responsáveis, restando patente a invasão da competência privativa da União no caso em questão. 4. Ação direita de inconstitucionalidade julgada procedente.
3- 1) Sim, pois é competência do município legislar sobre interesse local (Art. 30, I, CF/88), respeitando o princípio da preponderância dos interesses, e como o caso concreto em questão exemplifica um problema na cidade de Monte Sião, MG, a lei é constitucional. Sobre o Art. 30 e a competência legislativa municipal, Pedro Lenza (Direito Constitucional Esque., Ed. 2018, pg. 795) diz: “o interesse local diz respeito às peculiaridades e necessidades ínsitas à localidade. Michel Temer observa que a expressão “interesse local”, doutrinariamente, assume o mesmo significado da expressão “peculiar interesse”, expressa na Constituição de 1967. E completa: “Peculiar interesse significa interesse predominante”. LEI MUNICIPAL. BANCOS. EXIGÊNCIA DE INSTALAÇÃO DE SANITÁRIOS E BEBEDOUROS. ASSUNTOS DE INTERESSE LOCAL. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA SUPLEMENTAR DO MUNICÍPIO. A legislação municipal que impõe a instalação de bebedouros e banheiros em agências bancárias não interfere com a essência dos serviços financeiros de modo a desafiar a competência exclusiva da União para dispor sobre matéria tão prosaica, conquanto não negligenciável. (TJ-SC - MS: 7277 SC 2002.0007727-7, Relator: Newton Janke. Data de Julgamento: 07/08/2003, Primeira Câmara de Direito Público, Data de Publicação: Apelação Cível em Mandado de Segurança n. 2002.000727-7, de Criciúma.)
4- A) A intervenção estadual ocorre quando o Estado-Membro da federação passa a tomar conta de um determinado município, como previsto no Art. 35 da CF/88. Dentre as hipóteses elencadas no referido artigo, consta no inciso II que ocorrerá intervenção estadual quando “não forem prestadas contas devidas, na forma da lei”. B) Sim, pois ainda de acordo com Pedro Lenza: “A decretação e execução da intervenção estadual é de competência privativa do Governador de Estado, por meio de decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições da execução e, quando couber, nomeará o interventor.” (Pedro Lenza, Direito Constitucional Esquematizado, Ed. 2019, pg. 861). Jurisprudência utilizada como base: “DIREITO ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO. IRREGULARIDADES DO DECRETO DE INTERVENÇÃO. SEGURANÇA CONCEDIDA. AUSÊNCIA DE CONTROVÉRSIA SOB A ÓTICA CONSTITUCIONAL. REEXAME DE PROVAS. 1. Hipótese em que, para dissentir do entendimento do Tribunal de origem, seria necessário nova apreciação dos fatos e do material probatório constantes dos autos, bem como o reexame da legislação infraconstitucional aplicada ao caso. Incidência das Súmulas 279 e 280/STF. Precedentes. (STF - AgR RE: 296029 RN - RIO GRANDE DO NORTE, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento: 24/05/2016, Primeira Turma)”
5- Sim, pois desta forma evita-se a concentração de poder em apenas um órgão, evitando qualquer abuso de poder ou nepotismo. Como versa Pedro Lenza: “A distribuição do poder entre órgãos estatais dotados de independência é tida pelos partidários do liberalismo político como garantia de equilíbrio político que evita ou, pelo menos, minimiza os riscos de abuso de poder. O Estado que estabelece a separação dos poderes evita o despotismo e assume feições liberais. Do ponto de vista teórico, isso significa que na base da separação dos poderes encontra-se a tese da existência de nexo causal entre a divisão do poder e a liberdade individual.” (Pedro Lenza, Dir. Constitucional Esque., Ed. 2019, pg. 866). Dessa forma, o presidente (executivo) indicando ao senado (legislativo) alguém para o STF (judiciário) é uma demonstração de freios e contra pesos, onde a nomeação definitiva de um novo ministro para o supremo é descentralizada, tornando a escolha mais democrática e justa. Jurisprudência utilizada como base: “Direito Constitucional. ADI. Constituição estadual. Norma impondo obrigações ao Legislativo e ao Judiciário. Violação ao princípio da separação dos poderes. Inconstitucionalidade. 1. O art. 120, § 7º, da Constituição do Estado de Santa Catarina viola o princípio da separação dos Poderes (art. 2º e 96 da Constituição Federal), ao determinar que as audiências públicas serão promovidas pelos Poderes Executivo e Judiciário, nas datas e nos municípios designados pela Assembleia Legislativa . Precedentes. 2. Medida cautelar confirmada. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (STF - ADI: 1606 SC - SANTA CATARINA 0001191-02.1997.1.00.0000, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data de Julgamento: 19/12/2018, Tribunal Pleno)”
6- Não é compatível com a constituição, já que a mesma versa em seu Art. 29, IV, a, a quantidade de vereadores que cada município pode ter (nesse caso, até 9, já que a cidade tem 8 mil habitantes). Como a lei municipal não revoga um dispositivo constitucional, a lei municipal 30/2018 é inválida. Sobre o tema, Pedro Lenza diz: “A fixação em si implementa-se pela lei orgânica de cada município e não por resoluçãode sua Câmara dos Vereadores (art. 29, caput). Conforme indicado, a Constituição Federal fixa o limite máximo de acordo com as faixas do art. 29, IV. A lei orgânica, por sua vez, define esse número, vinculando o parlamento municipal, que não poderá alterá-lo. Isso porque o Parlamento, ao estabelecê-lo em sua lei orgânica — até o limite constitucional máximo, pode querer limitá-lo de acordo com a receita daquele ente federativo.” Jurisprudência usada como base para resposta: “ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ART. 12 DA LEI ORGÂNICA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO/SP ALTERADO PELA EMENDA N. 34/2005. REDUÇÃO DO NÚMERO DE VEREADORES NO MUNICÍPIO. NORMA ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL N. 58/2009, PELA QUAL SE ALTEROU O INC. IV DO ART. 29 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REQUISITOS DE CABIMENTO CUMPRIDOS. RECEPÇÃO DA NORMA IMPUGNADA. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A arguição de descumprimento de preceito fundamental permite a análise de constitucionalidade de normas legais de caráter pré-constitucional por revelar-se insuscetível de conhecimento em sede de ação direta de inconstitucionalidade. Precedentes. 2. Na Emenda Constitucional n. 58/2009, pela qual se alterou o inc. IV do art. 29 da Constituição da República, não se impôs a obrigatoriedade na fixação do número de cadeiras de vereadores no patamar máximo estabelecido, em observância à proporcionalidade, autonomia municipal e isonomia. Precedentes. (STF - ADPF: 364 SP - SÃO PAULO 0005787-96.2015.1.00.0000, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 11/09/2019, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-211 27-09-2019)
7- 1) a) A comissão foi criada respeitando a constituição, que estabelece o mínimo de 1/3 dos senadores para formar uma comissão parlamentar de inquerito. Dessa forma, como existem 81 senadores ao todo, o preceito foi respeitado. b) De todas as medidas tomadas pela comissão, somente I ( pela quebra do sigilo bancário de Pedro e Getúlio) e III (colher o depoimento de servidores públicos vinculados ao Poder Executivopara prestarem esclarecimentos sobre os fatos) estão de acordo com a constituição (Art. 58). Tendo em vista que a comissão parlamentar de inquérito tem apenas poderes instrutórios, ou seja, de coleta de prova, medidas de cunho investigativo estão fora de sua competência. Como versa Pedro Lenza: “As CPIs terão poderes de investigação, próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos internos das Casas. A comissão parlamentar de inquérito realiza, assim, verdadeira investigação, materializada no inquérito parlamentar, que se qualifica como um “... procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria” (MS 23.652, Rel. Min. Celso de Mello, j. 22.11.2000). (Pedro Lenza, Dir. Const. Esque., Ed. 2019, pg. 913). Questão 2: Mesmo podendo criar CPI’s dentro da Câmara dos Vereadores, as mesmas não podem por sí quebrar o sigilo bancário, sendo necessário autorização judicial. Jurisprudência utilizada para basear a resposta: “ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ART. 12 DA LEI ORGÂNICA DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO/SP ALTERADO PELA EMENDA N. 34/2005. REDUÇÃO DO NÚMERO DE VEREADORES NO MUNICÍPIO. NORMA ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL N. 58/2009, PELA QUAL SE ALTEROU O INC. IV DO ART. 29 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. REQUISITOS DE CABIMENTO CUMPRIDOS. RECEPÇÃO DA NORMA IMPUGNADA. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL JULGADA IMPROCEDENTE. 1. A arguição de descumprimento de preceito fundamental permite a análise de constitucionalidade de normas legais de caráter pré-constitucional por revelar-se insuscetível de conhecimento em sede de ação direta de inconstitucionalidade. Precedentes. 2. Na Emenda Constitucional n. 58/2009, pela qual se alterou o inc. IV do art. 29 da Constituição da República, não se impôs a obrigatoriedade na fixação do número de cadeiras de vereadores no patamar máximo estabelecido, em observância à proporcionalidade, autonomia municipal e isonomia. Precedentes. (STF - ADPF: 364 SP - SÃO PAULO 0005787-96.2015.1.00.0000, Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 11/09/2019, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-211 27-09-2019)”
8- Não é legítima, pois mesmo possuindo foro por prerrogativa de função, ou seja, sendo julgado pelo STF enquanto estiver no cargo de deputado federal (ou na diplomação do cargo), a AP 937 do Supremo estabelece que para crimes cometidos anteriores à investidura do cargo, o deputado não possuirá o foro privilegiado. Como consta na AP 937: “Ementa: Direito Constitucional e Processual Penal. Questão de Ordem em Ação Penal. Limitação do foro por prerrogativa de função aos crimes praticados no cargo e em razão dele. Estabelecimento de marco temporal de fixação de competência. I. Quanto ao sentido e alcance do foro por prerrogativa 1. O foro por prerrogativa de função, ou foro privilegiado, na interpretação até aqui adotada pelo Supremo Tribunal Federal, alcança todos os crimes de que são acusados os agentes públicos previstos no art. 102, I, b e c da Constituição, inclusive os praticados antes da investidura no cargo e os que não guardam qualquer relação com o seu exercício. 2. Impõe-se, todavia, a alteração desta linha de entendimento, para restringir o foro privilegiado aos crimes praticados no cargo e em razão do cargo. “(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em razão de o agente público vir a ocupar cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que seja o motivo”. 7. Aplicação da nova linha interpretativa aos processos em curso. Ressalva de todos os atos praticados e decisões proferidas pelo STF e demais juízos com base na jurisprudência anterior. 8. Como resultado, determinação de baixa da ação penal ao Juízo da 256ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro, em razão de o réu ter renunciado ao cargo de Deputado Federal e tendo em vista que a instrução processual já havia sido finalizada perante a 1ª instância. (AP 937 QO, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-265 DIVULG 10-12-2018 PUBLIC 11-12-2018).

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