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1 Autores: João Neves, Miguel Carvalho, Amílcar Araújo, Mafalda Batista, Nuno Fachada, José Lima e Maria do Carmo Barbosa Centro Hospitalar de Setúbal – Hospital Ortopédico Sant’Iago do Outão INTRODUÇÃO A necrose asséptica da cabeça femoral continua a ser um enorme desafio para o cirurgião ortopédico. Trata-se de uma entidade clínica rela- tivamente comum, sendo o processo comum de um grande número de condições que acarretam uma diminuição do suprimento sanguíneo ao osso. Esta doença também é conhecida como osteone- crose da cabeça do fémur ou necrose avascular. EPIDEMIOLOGIA Na população geral, a osteonecrose afeta primariamente os adultos jovens, entre os 20 e 50 anos. Em geral, os pacientes têm menos de 40 anos na época do diagnóstico. Afetando predomi- nantemente o sexo masculino na proporção de 4:1. O atingimento é bilateral em 60-80% dos ca- sos. A cabeça femoral é o local mais frequente, porém tal condição pode ocorrer em outros sítios, incluindo os côndilos femorais, a cabeça umeral, ossos do punho e pés. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Nem sempre é fácil identificar a causa que justifique a necrose, sendo muitas vezes idiopática (15-20%). Existem inúmeras causas relacionadas com a osteonecrose como: o consumo excessivo de álcool, o tabagismo, corticoterapia, quimiotera- pia, radioterapia, coagulopatias e hemoglobinopa- tias (anemia falciforme, talassémias), leucemia, linfomas, Doença de Gaucher, Disbarismo, doen- ças reumáticas – LES, imunodeficiência adquiri- da, trauma - sequelas de fracturas e/ou luxação, factor genético (predisposição individual). A fisiopatologia não está devida elucidada: havendo associações diretas: trauma, disbarismo e radiação; o álcool e os corticoides são dose- dependentes; evidência de herança autossómica dominante. QUADRO CLÍNICO Os doentes apresentam sintomas como dor em repouso que se agrava com o movimento, marcha claudicante, rigidez articular com restrição da rotação interna e flexão, eventual irradiação da dor para o joelho. O paciente típico é habitualmen- te homem com idade entre 35-50 anos. DIAGNÓSTICO – EXAMES DE IMAGEM A radiografia na fase inicial pode não evi- denciar alterações na cabeça femoral, não deven- do, portanto, ser utilizada isoladamente como mé- todo de imagem quando se suspeitar deste diag- nóstico. Nas fases avançadas são perceptíveis as alterações ostecondrais (Figura 1). A ressonância magnética é o exame mais sensível (melhor relação custo benefício) para se identificar um caso de necrose da cabeça femo- ral, especialmente nos estágios iniciais da doen- ça (figura 2). Outro exa- me que auxilia o diagnós- tico é a cintigrafia óssea, sendo pouco específico. Vários sistemas têm sido propostos para a classificação da osteonecrose. A classificação de Fig.1 Fig.2 -‐ RMN 2 Arlet e Ficat, de 1980, foi o primeiro universalmen- te aceite, mantendo-se o mais usado ainda hoje. Baseia-se em alterações radiográficas simples, divididas em 4 estádios (Quadro 1). Quadro 1 Classificação de Arlet e Ficat I Radiografia normal (fase pré-‐radiológica) II Esclerose subcondral e cistos, com esfericidade da cabeça mantida III Sinal do crescente (sequestro e colapso parcial do seguimento osteonecrótico) IV Pinçamento articular, formação de os-‐ teofóticos e deformação da cabeça TRATAMENTO A conduta terapêutica baseia-se no estágio evolutivo da osteonecrose, de acordo com os crité- rios diagnósticos estabelecidos, dividindo-se o tratamento em conservador e cirúrgico. O objectivo fundamental no tratamento é a prevenção do colapso ósseo e deformidades sub- sequentes. Portanto, deve-se inicia um tratamento precoce e bem conduzido enquanto a condição se encontra nos seus estágios iniciais, em geral até ao estágio II. Várias técnicas cirúrgicas têm sido desenvol- vidas na tentativa da prevenção da evolução para deformidades estabelecidas. Podemos dividir a sua aplicação tendo em consideração o estádio da lesão. ESTÁDIO PRECOCE Na fase inicial, o tratamento conservador com uso de mecanismo de descarga do membro afeta- do, associados ao emprego de analgésicos, tem- se mostrado pouco eficaz. Drogas vasoativas po- deriam ter benefício nos casos iniciais, apesar de difícil comprovação clínica em estudos controla- dos. A técnica mais frequentemente realizada é a descompressão medular da cabeça femoral, no intuito de diminuir a pressão intraóssea e aumen- tar o fluxo sanguíneo regional. Assim os procedi- mentos de preservação da cabeça devem ficar reservados para os estádios iniciais da doença: Graus I e II de Ficat e I, II e III de Steinberg. 1- Descompressão isolada ou associada a: en- xerto ósseo, aspirado autólogo de medula ós- sea, matriz óssea desmineralizada, proteína óssea morfogénica (BMP), substituto ósseo mineral e descarga por 6 meses. 2- Osteotomias valgo/varo/rotacionais: em desu- so, tendo como objectivo alterar o posiciona- mento da zona de carga e promover o estímu- lo à revascularização, têm resultados imprevi- síveis, alta morbilidade e dificultam as subse- quentes artroplastias. ESTÁDIO AVANÇADO No estádios avançados, com colapso e defor- mação da cabeça femoral preconiza-se a artro- plastia total da anca, devendo ter em conta a ida- de e o nível de atividade do paciente (uso de in- terfaces com superfícies duras (cerâmica, oxinium, metal-metal). CONCLUSÕES A necrose asséptica é uma doença de amplo espectro, sendo que o diagnóstico precoce é fundamental. No entanto, preservar a cabeça a qualquer custo não pode ser visto como um do- gma. A ressonância magnética trouxe um enorme contributo para o diagnóstico, classifica- ção e prognóstico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Bachiller F.G et al: Avascular necrosis of femoral head after femoral neck facture. Clin Orthop 399: 87-109, 2002. 2. Assouline-Dayan Y. et al.: Pathogenesis and natural history of osteonecrosis. Semin Arthritis Rheum 32: 94- 124, 2002. 3. Hofmann S. et al.: Osteonecrosis of the hip joint in adul- thood. Radiologe 42: 440-450, 2002. 4. Sugano N. et al.: The 2001 revised criteria for diagnosis, classification and staging of idiopathic osteonecrosis of the femoral head. J Orthop Sci 7: 601-605, 2002. 5. MacCarthy J. Et al.: Articular cartilage changes in avas- cular necrosis: an artroscopic evaluation. Clin Orthop 406: 64-70, 2003. 6. Kim Y. et al.: Contemporary total hip artrhoplasty with and without cement in patients with osteonecrosis of the femoral head. J Bone Joint Surg Am 85: 675-681, 2003.
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