Buscar

II PND

Prévia do material em texto

II PND (1973-79)
Higor Decller
Em 73, a economia mundial cresceu quase 7%, sob pressões da escalada dos gastos militares do EUA [Guerra do Vietnã] e do aumento salarial em quase todo o mundo industrializado, além dos efeitos retardados da queda do dolár, em 71. Reforçada pela expansão do crédito bancário mundial junto ao surgimento de inovações financeiras associadas ao novo mercado de euromoedas, o crescimento do produto do mundo levou a maiores fluxos comerciais.
Inicia-se, então, o Governo Geisel, caminhando a abertura política, dita como “lenta, gradual e segura”, trocando-se, no ministério da Fazenda, o otimista Delfim Netto pelo conservador Mário Simonsen.
O novo Governo contou, inicialmente, com a euforia de economistas keynesianos, que achavam terem encontrado o fim do ciclo econômico, através de um crescimento com inflação. No entanto, o descompasso entre os níveis de demanda e os investimentos no mercado de petróleo (seja em fontes alternativas, seja em novos poços) refletiu-se na quadruplicação do seu preço, pela OPEP, o que trouxe de volta as teorias de ciclo longo.
Porém, a transferência de 2% da renda mundial de países importadores para exportadores de petróleo não foi percebida, internamente, como uma descontinuidade do crescimento, forçando os gestores de política econômica brasileira a buscar manter as taxas de crescimento – elemento ofertado a comunidade para conseguir apoio a preservação do regime ditatorial.
Com isso, adiou-se a adoção de um programa mais propício de políticas contracionistas, na tentativa de orientar, agora, o crescimento na direção da substituição de importações que aumentavam cada vez mais – bens de capital, insumos básicos para a indústria e petróleo -, além de se tentar aumentar as exportações. A idéia era investir em melhorias no saldo comercial para compensar a desvalorização das exportações com relação as importações (déficits em conta corrente), financiando-se com o aumento da liquidez internacional, que, como não encontrava mercado, devido a ajustes recessivos pela maior parte do mundo, provocou queda das taxas de juros. Assim, o BP, que já era dependente dos fluxos financeiros, viu sua dependência elevar ainda mais.
No entanto, mesmo com a diminuição das reservas internacionais, houve expansão dos meios de pagamento, via crédito bancário. Tal expansão monetária, obviamente, pressionou a inflação, que já não era mais tão controlada como anteriormente, por causa da remoção dos controles artificiais sobre os preços, o que deu lugar a uma fórmula oficial para a correção monetária, muito menos eficiente, em parte, por si só, em parte, pela sua subestimação pelos gestores econômicos e, em parte, pela real dificuldade de se conter a inflação em um regime de continuada expansão da demanda global. Outro fator agravante da inflação foi a mudança da regra oficial de correção salarial, a fim de acabar por vez com a subestimação inflacionária, vista como um dos grandes motivos da deteriorização da distribuição de renda.
Conclui-se que a política econômica forçadamente expansionista em um ambiente mundial abalado pelo choque do petróleo, apesar de ter alcançado taxa média de crescimento de 6,8% [74-79], não condizia com a real necessidade de uma política restritiva de ajuste estrutural. Consequentemente, na década de 80, a economia brasileira se encontrava em desequilíbrio macroeconômico, já que tal crescimento foi financiado por déficit público, inflação e endividamento externo (onde os juros anuais pagos saíram dos US$ 500 mi, chegando a US$ 4,2 bi, graças, também, a alta das taxas de juros internacionais), desestruturando o setor público e perdendo o dinamismo nacional.

Continue navegando