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F7-Curso-Formacao-de-mediadores-de-educacao-para-patrimonio

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Formação de 
Mediadores de Educação 
para Patrimônio
Aterlane Martins
Os “lugares”
e sua dimensão imaterial
para Patrimônio
SUMÁRIO
1. Apresentação ............................................................................. 99
2. Lugar e espaço ......................................................................... 100
3. Lugares de memória ................................................................ 102
4. Locais da recordação .............................................................. 103
5. O registro e a patrimonialização dos “lugares” ...................... 104
6. Bens imateriais registrados na categoria “lugares” ............... 106
7. Uma perspectiva do patrimônio integral ................................ 109
Referências bibliográfi cas ........................................................... 111
1.
APRESENTAÇÃO
Não se encontra o espaço, 
é sempre necessário construí-lo. 
(Bachelard)
 
ara compreendermos a cate-
goria “lugar” no vasto e com-
plexo mundo do patrimônio 
cultural brasileiro, vamos tri-
lhar por três vias distintas, mas 
que se entrecruzam constante-
mente. São elas: 
• Uma breve abordagem con-
ceitual sobre os termos lugar, 
espaço e local numa perspectiva 
patrimonial; 
• A análise do “lugar”, objetiva e legal-
mente como categoria patrimonial, 
no âmbito dos processos de patri-
monialização dos bens imateriais;
• Uma avaliação de casos específicos 
da patrimonialização de “lugares”, 
seja pelo tombamento ou pelo re-
gistro, buscando uma visão que 
aponte para a compreensão da pre-
servação do patrimônio integral.
Conceitos e obras abordados aqui são 
oriundos do trabalho de pensadores ociden-
tais, cuja trajetória inspirou a profissionais 
do campo patrimonial brasileiro. Aborda-
gens outras, como a perspectiva decolonial 
ou os processos patrimoniais orientais, em-
bora já nos cheguem ao conhecimento, não 
serão alvo de nossa empreitada, visto que 
ainda se encontram distantes de uma real 
incorporação na práxis preservacionista do 
patrimônio cultural brasileiro.
Decolonial
Campo do 
conhecimento 
que se originou 
com a produção 
de intelectuais do 
chamado Terceiro 
Mundo, muitos 
deles radicados nos 
Departamentos de 
Estudos Culturais 
de universidades 
inglesas e norte-
americanas. Esse 
campo se concentra 
em denunciar a 
dependência dos 
países ditos em 
desenvolvimento, 
como o Brasil, perante 
a hegemonia de 
pensamento dos países 
europeus e dos Estados 
Unidos, propondo 
ações e maneiras de 
pensar autônomas 
desses centros
de saber e poder.
que se originou 
com a produção 
de intelectuais do 
chamado Terceiro 
Mundo, muitos 
deles radicados nos 
Departamentos de 
Estudos Culturais 
de universidades 
inglesas e norte-
americanas. Esse 
campo se concentra 
em denunciar a 
dependência dos 
países ditos em 
desenvolvimento, 
como o Brasil, perante 
a hegemonia de 
pensamento dos países 
europeus e dos Estados 
Unidos, propondo 
ações e maneiras de 
pensar autônomas 
de saber e poder.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 99
2.
LUGAR E ESPAÇO
uando Michel de Cer-
teau (1998) propôs, em 
sua obra A invenção do 
cotidiano, uma distin-
ção entre “lugar” e “es-
paço”, nos trouxe uma 
reflexão sobre as opera-
ções que estabelecem 
esses conceitos. A des-
peito de o historiador 
francês ter especifica-
do nesta obra a cidade 
como lócus de suas reflexões, podemos, por 
analogia, estender suas proposições a ou-
tras geografias, que não apenas a urbana. 
A cidade em sua materialidade plas-
mada em ruas, praças ou jardins, no sen-
tido estrito de seu planejamento e cons-
trução, por exemplo, pode ser lida como 
um lugar, sem significações simbólicas 
relevantes para os sujeitos, que não esta-
belecem com ele qualquer vínculo relacio-
nal. É a partir do habitar a cidade que ela 
passa a ser significada e pode ser trans-
mutada em espaço. Assim, podemos dizer 
que o espaço é aquele lugar ocupado, 
apropriado e transformado pelos sujeitos 
100 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
que ali transitam e o (res)significam a par-
tir de suas vivências particulares e sociais. 
Espaço que nunca é um dado natural e é 
sempre construído.
Podemos pensar ainda sobre este trân-
sito entre o lugar e o espaço, resultante 
da ação dos sujeitos, como um ato so-
cialmente compartilhado. Daí se criam 
permissões e interdições, tácitas ou explí-
citas, conflitos e harmonizações que se in-
serem nas disputas de poder pelo discur-
so significativo e hegemônico do lugar. 
Então, se fazem escolhas, se determinam 
memórias e interpretações sobre as vivên-
cias ali realizadas. O espaço é, portanto, 
resultante de um campo de disputas, inte-
rações, barganhas, conquistas e derrotas.
O espaço, apesar de vivido individual-
mente pelos sujeitos, vai se configurando 
num lugar comum, compartilhado, pos-
sibilitando uma referência cultural que 
possa significar o coletivo e não apenas 
o sujeito individual. O lugar, em sua am-
pla acepção, depois de significado, pode 
remeter a uma ou a várias identidades, 
pode constituir-se num lugar de memória, 
como afirmou o francês Pierre Nora (1993).
PARA OS
CURIOSOS
Quer saber mais sobre o conceito 
de referências culturais? Pois não 
deixe de consultar a publicação O 
registro do patrimônio imaterial: 
dossiê final das atividades da 
comissão e do grupo de trabalho 
patrimônio imaterial. 
Disponível em: http://portal.
iphan.gov.br/uploads/publicacao/
PatImaDiv_ORegistroPatrimonioIma
terial_1Edicao_m.pdf
Indicamos ainda o artigo Referências 
culturais: base para novas políticas 
de patrimônio, de Maria Cecília 
Londres Fonseca. 
Disponível em: http://portal.
iphan.gov.br/uploads/ckfinder/
arquivos/3%20-%20FONSECA.pdf
PARA OS
CURIOSOS
Quer saber mais sobre o conceito 
? Pois não 
publicação O 
registro do patrimônio imaterial: 
comissão e do grupo de trabalho 
iphan.gov.br/uploads/publicacao/
PatImaDiv_ORegistroPatrimonioIma
Referências 
culturais: base para novas políticas 
arquivos/3%20-%20FONSECA.pdf
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 101
3. 
LUGARES 
DE MEMÓRIA
ierre Nora pontua uma série 
de possibilidades materiais e 
simbólicas para caracterizar 
o que ele define como lugar 
de memória.
Para o autor, os aspectos 
“material, funcional e simbóli-
co” constitutivos do “lugar de 
memória” são coexistentes e, 
necessariamente, a relação 
entre eles é que caracteriza a experiên-
cia ali vivida, dando-lhe sentido e significa-
do. Conservam em si uma memória social do 
acontecimento, que é transmitida pelas épo-
cas que se sucedem a outros sujeitos que ali 
não viveram, mas que se identificaram com 
ele e com o que ali sucedeu no passado, sob 
o selo do pertencimento histórico.
Mesmo um lugar de aparência puramen-
te material, como um depósito de arqui-
vos, só é lugar de memória se a ima-
ginação o investe de aura simbólica. 
Mesmo um lugar puramente funcional, 
como um manual de aula, um testamen-
to, uma associação de antigos comba-
tentes, só entra na categoria se for obje-
to de um ritual. Mesmo um minuto de 
silêncio, que parece o extremo de uma 
significação simbólica, é, ao mesmo tem-
po, um corte material de uma unidade 
temporal e serve, periodicamente, a um 
lembrete concentrado de lembrar 
(NORA, 1993, p. 21-22) GRIFOS NOSSOS.
Por sua vez, a memória, que vem se 
agregar ao lugar, é compreendida como um 
pilar dos bens patrimoniais, que lhe são ele-
mentos constitutivos e indissociáveis, con-
juntamente à identidade. Conforme Candau:
Se identidade, memória e patrimônio são 
‘as três palavras-chave da consciência 
contemporânea’ – poderíamos, aliás, re-
duzir a duas se admitirmos que o patri-
mônio é uma dimensão da memória – é a 
memória, podemos afirmar, que vem for-
talecer a identidade, tanto no nível indivi-
dual quanto no coletivo: assim, restituir a 
memória desaparecida de uma pessoa é 
restituir a sua identidade (2012, p. 16).
102 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
4.LOCAIS DA 
RECORDAÇÃO
odemos cruzar a definição de 
Pierre Nora com o intuito de 
ampliar a compreensão da 
noção de lugares – sempre na 
perspectiva patrimonial –, com 
outra cunhada pela pensadora 
alemã Aleida Assmann e apre-
sentada em seu livro Espaços 
de recordação: formas e trans-
formações da memória cultural. 
Locais da recordação são fragmentos ir-
rompidos da explosão de circunstâncias 
de vida perdidas ou destruídas. Pois, 
mesmo com o abandono e a destruição de 
um local, sua história ainda não acabou; 
eles retêm objetos materiais remanescen-
tes que se tornam elementos de narrativas 
e, com isso, pontos de referência para uma 
nova memória cultural. Esses locais, po-
rém, são carentes de explicações; seus sig-
nificados precisam ser assegurados com-
pletamente por meio de tradições orais.
A continuidade que tenha sido destruída 
pela conquista, pela perda e pelo esqueci-
mento não pode ser reconstruída em um 
momento posterior, mas pode se rees-
tabelecer o acesso a ela no médium da 
recordação (ASSMANN, 2011, p. 328-329) 
Com a noção de “locais da recordação”, 
Assmann incorpora e amplia aos lugares o 
sentido de mediadores na renovação da 
memória cultural. Não são os lugares em 
si, mas o que neles está contido e como eles 
são acessados pelos indivíduos e grupos 
sociais que deles se apropriam, sempre no 
presente, que os pode fazer seguir existindo, 
por vezes determinando-os sob nova signifi-
cação e sentido.
Essas ideias iniciais visam ampliar nosso 
entendimento do que são os lugares, espa-
ços e locais, em especial quando associa-
dos ou implicados diretamente à questão 
patrimonial, o que pode ocorrer de modo 
oficial, quando o Estado age na patrimonia-
lização de bens culturais, ou de forma não-
-oficial, quando a sociedade civil realiza, 
sem a formalidade e a legalidade do Estado, 
os processos patrimoniais. 
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 103
5.
O REGISTRO E A 
PATRIMONIALIZAÇÃO 
DOS “LUGARES”
ara fins de proteção patrimo-
nial aos lugares e seus aspectos 
imateriais, temos no registro, 
no inventário e nos planos de 
salvaguarda os instrumentos 
de preservação legal. 
Como já sabemos, esses 
instrumentos estão dispostos 
no Decreto nº 3.551/2000, 
aquele mesmo que rege a 
patrimonialização dos bens imateriais, 
criando o instrumento de acautelamento 
desses bens e o Programa Nacional do 
Patrimônio Imaterial (PNPI). 
Neste decreto são arrolados os Livros 
de Registro, entre os quais se encontra o 
Livro de Registro dos Lugares, que traz de 
forma sucinta os aspectos que conceitual-
mente estamos explorando desde o início 
deste fascículo:
IV – Livro de Registro dos Lugares, onde 
serão inscritos mercados, feiras, santu-
ários, praças e demais espaços onde 
se concentram e reproduzem práticas 
culturais coletivas.
Compreendemos que, de modo geral, o 
texto legal deve ter a escrita concisa, coeren-
te e objetiva. Talvez, por este motivo, é que 
no trecho aqui abordado, lugar e espaço se-
jam utilizados sem maiores distinções con-
ceituais, o que poderia causar estranhamen-
Acautelamento
É um termo de uso 
jurídico que se refere 
às medidas que 
visam dar proteção 
imediata ao bem 
cultural. Por exemplo, 
no tombamento, 
desde a sua fase 
inicial (tombamento 
provisório), dá 
providências para que 
ele não seja afetado 
por qualquer ato que 
venha comprometer 
sua integralidade 
até o final do 
processo e a decisão 
de tombamento 
definitiva.
Acautelamento
É um termo de uso 
jurídico que se refere 
às medidas que 
visam dar proteção 
imediata ao bem 
cultural. Por exemplo, 
no tombamento, 
desde a sua fase 
inicial (tombamento 
providências para que 
ele não seja afetado 
por qualquer ato que 
venha comprometer 
sua integralidade 
processo e a decisão 
de tombamento 
104 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
PARA OS
CURIOSOS
Para consultar o texto integral do 
Decreto nº 3.551/2000, acesse o 
endereço: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto/D3551.htm
E para uma maior compreensão 
do conceito e dos processos 
de patrimonialização dos bens 
imateriais, consulte a Cartilha 
Patrimônio Cultural Imaterial, 
disponível no site do Iphan, no 
seguinte endereço:
http://portal.iphan.gov.br/
uploads/publicacao/cartilha_1__
parasabermais_web.pdf
to e questionamentos diversos de nossos 
leitores e cursistas. Contudo, dada a distin-
ção estilística entre o texto legal e o texto 
científico, não entraremos neste debate, 
sendo esta apenas uma observação pontual, 
mas necessária para não confundir ninguém. 
Pois bem, a proposta do legislador, num 
primeiro momento, pode nos soar restrita, 
configurando o lugar apenas no seu aspec-
to material. Mas ao seguirmos a leitura desta 
definição, dois outros aspectos nos permi-
tirão compreender a amplitude da concep-
ção de “lugar” inseridas no texto da lei. 
Quando o legislador escreve “espaço”, re-
fere-se a determinados lugares (mercados, 
feiras, santuários e praças), identificando-os 
como locais de práticas culturais cole-
tivas. Você consegue perceber aí, então, a 
conformidade com as reflexões de Michel de 
Certeau, Pierre Nora e Aleida Assmann, an-
teriormente abordadas em nosso fascículo?
As ações humanas dadas num determi-
nado “espaço” configuram-se como forma-
doras deste mesmo espaço. Quando signi-
ficadas coletivamente e assim incorporadas 
às tradições próprias do local, dão a este o 
seu sentido. Tornam este espaço, como afir-
ma Assmann, local da recordação, cujo 
acesso às práticas ali criadas e vividas se dá 
pela repetição, garantidora da continuidade 
histórica, pela (re)vivência, mediada pela 
memória dos sujeitos do presente, que reco-
nhecem e se identificam com esta trajetória.
to e questionamentos diversos de nossos 
leitores e cursistas. Contudo, dada a distin-
texto 
, não entraremos neste debate, 
sendo esta apenas uma observação pontual, 
mas necessária para não confundir ninguém. 
Pois bem, a proposta do legislador, num 
primeiro momento, pode nos soar restrita, 
 apenas no seu aspec-
to material. Mas ao seguirmos a leitura desta 
definição, dois outros aspectos nos permi-
tirão compreender a amplitude da concep-
Quando o legislador escreve “espaço”, re-
fere-se a determinados lugares (mercados, 
feiras, santuários e praças), identificando-os 
práticas culturais cole-
. Você consegue perceber aí, então, a 
conformidade com as reflexões de Michel de 
Certeau, Pierre Nora e Aleida Assmann, an-
teriormente abordadas em nosso fascículo?
As ações humanas dadas num determi-
forma-
 deste mesmo espaço. Quando signi-
ficadas coletivamente e assim incorporadas 
às tradições próprias do local, dão a este o 
seu sentido. Tornam este espaço, como afir-
, cujo 
acesso às práticas ali criadas e vividas se dá 
pela repetição, garantidora da continuidade 
histórica, pela (re)vivência, mediada pela 
memória dos sujeitos do presente, que reco-
nhecem e se identificam com esta trajetória.
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 105
6.
BENS IMATERIAIS 
REGISTRADOS 
NA CATEGORIA 
“LUGARES”
ntre os 47 bens imateriais já regis-
trados como patrimônio cultural 
brasileiro, listamos aqueles espe-
cificamente inscritos no Livro de 
Registro dos Lugares. São eles, 
por distribuição regional:
• Nordeste: Feira de Caruraru (PE); 
Feira de Campina Grande (PB).
• Norte: Cachoeira de Iauaretê: lu-
gar sagrado dos povos indígenas 
dos rios Uaupés e Papuri (AM);
• Sul: Tava, lugar de referência para o 
povo Guarani (RS).
As regiões Sudeste e Centro Oeste não 
apresentam ainda bens registrados ou em 
Processo de Instrução para Registro na ca-
tegoria “lugares”, restando nessa última 
condição apenas a Feira de São Joaquim, 
em Salvador (BA), também no Nordeste.
BENS IMATERIAIS 
REGISTRADOS 
NA CATEGORIA 
“LUGARES”
apresentam ainda bens registrados ou em 
Processo de Instrução para Registro na ca-
tegoria “lugares”, restando nessa última 
condição apenas a 
em
106 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTESE
LIGA!
O processo de instrução para o 
registro de um patrimônio imaterial 
começa quando a sociedade civil 
organizada ou uma instituição 
governamental solicitam o registro 
junto ao órgão de proteção e, ao 
pedido, são agregados uma pesquisa 
documental e de campo sobre o 
bem cultural a ser registrado, um 
diagnóstico sobre sua vulnerabilidade, 
recomendações para a sua 
salvaguarda, além de comprovantes 
da mobilização social do grupo 
detentor do bem para a sua inscrição 
em um dos Livros do Patrimônio 
Imaterial: Celebrações, Lugares, 
Saberes e Formas de Expressão.
Para consultar toda a lista de 
bens imateriais registrados ou 
em Processo de Instrução para 
Registro, consultar as listas na 
página do Iphan, nos endereços: 
http://portal.iphan.gov.br/pagina/
detalhes/606 e http://portal.iphan.
gov.br/pagina/detalhes/426/
Como podemos ver, nesta pequena lista 
acima se sobressai a região Nordeste com 
dois registros. Ambos são feiras públicas 
tradicionais. Também observamos que no 
Sul e no Norte do país a característica co-
mum é o pertencimento a povos indíge-
nas. Essas observações nos permitem algu-
mas reflexões e questionamentos quanto à 
valoração e a determinação conceitual dos 
bens registrados na categoria “lugares”.
Até o momento há uma prática de ins-
crever os bens culturais de natureza imate-
rial em apenas um dos Livros de Registro 
(Celebrações; Saberes; Formas de Expres-
são; Lugares), caracterizando-os univoca-
mente, quando muitos poderiam tran-
sitar em mais de uma categoria. Um 
destes bens, ao qual nos deteremos um 
pouco mais, é a Festa do Pau da Bandei-
ra de Santo Antônio em Barbalha, no 
Ceará, que você, cursista, conheceu bem 
pela apresentação em módulo anterior.
A Festa está registrada exclusivamente 
no Livro de Registro das Celebrações. Con-
tudo, considerados o Parecer Conclusivo 
do Departamento de Patrimônio Imaterial 
(DPI) e o Parecer do Conselho Consultivo do 
Iphan, bem como o texto Alguns registros 
sobre a Festa de Santo Antônio, do histo-
riador Igor Soares (2013), podemos evocar 
a força do “lugar/espaço” na constituição 
patrimonial deste bem.
Diversos são os pontos no Parecer do 
DPI que denotam a força motriz do “lugar” 
como constituinte desta festa/celebração. 
Entre eles, nos atemos àquele redigido no 
item III, sobre o “objeto do registro”: 
Após o árduo trajeto, marcado por diversas 
paradas em pontos referenciais da zona 
rural e urbana da cidade, no qual também 
muitas brincadeiras ocorrem, o Cortejo do 
Pau chega à Praça da Matriz de Santo An-
tônio, onde a bandeira com a imagem do 
padroeiro da cidade será enfim hasteada. 
Neste momento, milhares de espectadores 
e participantes da festa assistem entusias-
mados o levantamento do Pau da Bandeira, 
deixando explícita a devoção barbalhense 
ao santo padroeiro e a permanência da 
tradição local (BRASIL, 2015a, p. 24)
O trajeto geograficamente marcado no 
território, desde o sítio na zona rural, donde 
se extrai o mastro da bandeira, até a praça da 
matriz (carregamento do pau) onde o mesmo 
é fincado para o hasteamento da flâmula, são 
claramente compreensíveis como “espaços 
onde se concentram e se reproduzem prá-
ticas culturais coletivas”, sendo destas um 
eminente condicionante para a sua realização. 
Neste sentido, uma questão sobre a qual 
necessariamente temos de tratar refere-se 
ao processo do corte, carregamento e 
hasteamento do pau da bandeira de 
Santo Antônio. Todo o cortejo do pau da 
bandeira evoca a noção de devoção e sa-
crifício em torno do santo padroeiro. (...) E, 
para além de uma integração social, ocor-
re uma proximidade entre o meio natu-
ral e o meio urbano, entre o tradicional 
e o moderno, garantindo uma espécie de 
comunhão simbólica, que evidentemente 
envolve pessoas e os diferentes espa-
ços da cidade (BRASIL, 2015a, p. 198)
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 107
Tomemos agora a Cachoeira do Iaua-
retê como outro exemplo de patrimônio 
imaterial registrado. Ressaltamos as con-
siderações do antropólogo Roque de Bar-
ros Laraia, em seu parecer apresentado 
ao Conselho Consultivo do Iphan, em 2 de 
agosto de 2006:
(...) Um lugar somente pode ser consi-
derado como passível de registro como 
Patrimônio Cultural Imaterial, quando 
uma população lhe atribui importan-
tes significados culturais que estão 
vinculados à sua história, à sua mitologia 
e a sua própria identidade cultural. Este é 
o caso da Cachoeira do Iauaretê. (...) Con-
siderando a importância simbólica de 
abrir o Livro dos Lugares com um espaço 
geográfico que recebeu atribuições 
culturais bem antes da formação do 
nosso país (BRASIL, 2006, p. 7 -10).
A reiterada atribuição de significados 
simbólicos específicos ao lugar é des-
tacada novamente, como frisa o próprio 
antropólogo em seu parecer, entre tantos 
outros similares que nos remetem à identi-
dade cultural dos diferentes povos indíge-
nas do Amazonas. O específico do local (AS-
SMANN, 2011, p. 319) é também o comum, 
compartilhado entre os diversos povos, 
como figura no Dossiê de Registro:
O que há de comum é, de fato, passível de 
circular em um domínio público; já o co-
nhecimento a respeito do que é particular 
se restringe às unidades e subunidades 
desse extenso sistema social, isto é, aos 
grupos exogâmicos e seus clãs compo-
nentes específicos (BRASIL, 2008, p. 83).
PARA OS
CURIOSOS
Sobre a noção de paisagem 
consultar as obras: Paisagem e 
memória, de Simon Schama (1996); 
A invenção da paisagem, de Anne 
Cauquelin (2007).
Para a interface entre a paisagem e 
o patrimônio cultural, consultar:
Paisagem cultural e patrimônio, de 
Rafael Winter Ribeiro (Iphan, 2007) 
disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/
uploads/publicacao/SerPesDoc1_
PaisagemCultural_m.pdf
Minuta da Portaria Iphan nº 
127, de 30.04.2009, que “define 
paisagem cultural brasileira e 
estabelece a chancela como 
instrumento de reconhecimento do 
patrimônio cultural”: 
https://www.normasbrasil.com.br/
norma/portaria-127-2009_214271.html
É nessa confluência de diferentes “espa-
ços da cidade”, dessa proximidade entre o 
“meio natural e o meio urbano”, suscitada 
pelo trajeto do cortejo celebrativo, que além 
do que se realiza em cada lugar ocupado, per-
cebe-se a inegável relação entre as categorias 
lugar e celebração. Os lugares ocupados por 
usos peculiares, desde aqueles do trabalho, 
da brincadeira, do profano, àqueles do sa-
grado, do ritual oficial, tramam e reafirmam a 
teia desta integração no espaço da festa.
O historiador Igor Soares, no que se refe-
re à patrimonialização da festa, inseriu uma 
nova perspectiva para a sua abordagem e 
leitura. Perceba:
Não restam dúvidas de que a Festa de 
Santo Antônio, como construção paisa-
gística de Barbalha, reflete sobremanei-
ra uma referência cultural da cidade; 
a festa sintetiza, portanto, uma ideia de 
uma coerência comunitária da sociedade 
de Barbalha expressa por meio de cons-
truções ritualísticas e performáticas que 
convergem a um elemento central – a fé 
em Santo Antônio (SOARES, 2013, p. 244)
Ou seja, ao aproximar da Festa do Pau da 
Bandeira à noção de paisagem, já difundi-
da no meio patrimonial, embora ainda não 
incorporada definitivamente às práticas pre-
servacionistas brasileiras, esses historiadores 
abrem espaço para uma abordagem mais 
ampla e integrativa do patrimônio cultural. 
Assim, analisar uma celebração, é pen-
sar sobre o conjunto da sua realização, 
sobretudo na relação entre a sua configura-
ção espacial e as práticas culturais que “ne-
las” e tão somente “com elas” se realizam.
108 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
7.
UMA 
PERSPECTIVA 
DO PATRIMÔNIO 
INTEGRAL
nalisemos agora o tomba-
mento do Sítio Histórico do 
Patu, na cidade de Senador 
Pompeu (CE), realizado em 
julho de 2019, pela Prefeitu-
ra Municipal, questionando 
a eficácia deste instrumento 
e a necessidade do reconhe-
cimento do uso conjunto do 
registro como forma de ga-
rantir a preservação integral do bem, dada 
a sua condição de lugar geográficoe espaço 
de peregrinação religiosa na atualidade.
O recorte espacial Sítio Histórico do 
Patu compreende edificações remanescen-
tes do ano de 1919, acrescidas de outras 
do ano de 1932, totalizando 12 edifícios 
(integrais, em ruínas e inconclusos), que ini-
cialmente serviram de suporte às obras de 
construção da barragem do Patu e, poste-
riormente, à administração do Campo de 
Concentração do Patu.
PARA OS
CURIOSOS
Os campos de concentração 
foram erguidos pelo governo do 
estado do Ceará, em dois períodos: 
1915 e 1932. Eram espaços de 
aprisionamento para evitar que 
os retirantes da seca, saídos do 
interior em busca de socorro e 
sobrevivência, muitos deles doentes, 
famintos, em andrajos, chegassem 
ao centro da capital, Fortaleza. Para 
saber mais sobre o tema, consultar: 
a. Isolamento e poder. Fortaleza 
e os Campos de Concentração 
na seca de 1932, de Kênia 
Rios. Disponível em: http://
www.repositorio.ufc.br/
bitstream/riufc/10380/1/2014 
_liv_ksrios.pdf.
b. Das santas almas da barragem 
à caminhada da seca: 
projetos de patrimonialização 
da memória no sertão 
central cearense (1982 – 
2008), de Aterlane Martins. 
Disponível em: http://www.
repositorio.ufc.br/bitstream/
riufc/14518/1/2015_dis_
rapmartins.pdf
c. Assista ainda o longa-
metragem Currais, ganhador 
do Prêmio Abraccine na 
categoria Melhor Filme 
Brasileiro de Diretor Estreante, 
na 43° Mostra Internacional de 
Cinema, realizada em outubro 
de 2019, na cidade 
de São Paulo.
PARA OS
CURIOSOS
foram erguidos pelo governo do 
estado do Ceará, em dois períodos: 
aprisionamento para evitar que 
sobrevivência, muitos deles doentes, 
famintos, em andrajos, chegassem 
ao centro da capital, Fortaleza. Para 
saber mais sobre o tema, consultar: 
Fortaleza 
e os Campos de Concentração 
, de Kênia 
Rios. Disponível em: http://
bitstream/riufc/10380/1/2014 
Das santas almas da barragem 
projetos de patrimonialização 
, de Aterlane Martins. 
Disponível em: http://www.
repositorio.ufc.br/bitstream/
, ganhador 
Brasileiro de Diretor Estreante, 
na 43° Mostra Internacional de 
Cinema, realizada em outubro 
Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 109
Deste conglomerado de edificações nos 
importa, para a análise, o Cemitério da Bar-
ragem, dada a sua configuração e uso pas-
sado e atual. Esse lugar permite a rememo-
ração dos episódios vividos ali na década de 
1930 e os atualiza socialmente, em pequena 
ou em larga escala quando, respectivamen-
te, as famílias o visitam em culto privado 
aos seus mortos ou quando realizam a Ca-
minhada da Seca, na qual milhares de de-
votos o tomam em romaria, desde os anos 
1980. É no “campo santo” que hoje melhor se 
situa o sentido e o significado das memórias 
do Campo de Concentração.
O tombamento em questão abrange 
esta edificação apenas no aspecto físico do 
lugar (o muro de alvenaria, o território cer-
cado, as pequenas construções religiosas ali 
erigidas, os túmulos e seus cruzeiros). Cabe-
-nos retomar a premissa que nos guiou até 
aqui: a compreensão do processo de trans-
formação do lugar em espaço; do vestígio 
material em espaço significado, abarcan-
do nessa passagem o aspecto patrimonial:
Conjuntamente à dimensão imaterial 
sobre a qual se fundam estas crenças 
e práticas devocionais legadas no co-
tidiano familiar, comunitário, perma-
nece também deste momento inicial 
um vestígio palpável, material, um 
espaço sagrado. O campo santo: o Ce-
mitério da Barragem. Ali, onde foram 
enterrados e repousam os mortos da 
epidemia de cólera em 1932, é o local 
por excelência para o exercício de culto 
às Santas Almas. (MARTINS, 2017, p. 48).
Este cemitério, lugar construído, traz 
em si os aspectos material, funcional e 
simbólico que os sujeitos lhe aplicaram ao 
longo da história e isto lhe garante a con-
dição de lugar de memória. Há, contudo, 
uma importante prática cultural e religio-
sa a considerar, que dota este espaço de 
-nos retomar a premissa que nos guiou até 
aqui: a compreensão do processo de trans-
formação do lugar em lugar em lugar espaço; do vestígio 
material em espaço significado, abarcan-
do nessa passagem o aspecto patrimonial:
significativo valor imaterial: a devoção às 
Santas Almas da Barragem, que no nosso 
entendimento é o que sustentou, sustenta 
e amplia a “vida” do local. 
Acreditamos que é nesta confluência 
entre o material e o imaterial que o bem 
cultural deve ser visto e preservado, a des-
peito do trabalho ficar pela metade, in-
completo e incorreto, quando apenas uma 
dimensão do bem é protegida pelos atos 
formais do Estado. 
O tombamento e o registro são instru-
mentos acessórios entre si para a real pro-
teção do bem na condição de “lugar”, assim 
se considera também a sua dimensão ima-
terial, pois não há atribuição de significado 
e sentido dado pelas práticas culturais que 
se substancie de outra maneira.
Lembramos, então, que nos é muito im-
portante que o(a) cursista procure ler nossas 
indicações e procurem similaridade em seu 
município ou estado de casos de tombamen-
to e registro e os analisem à luz do que apren-
deram por aqui e dos casos aqui ilustrados.
110 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE
REFERÊNCIAS 
BIBLIOGRÁFICAS
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recordação: formas e transformações da 
memória cultural. Campinas: Editora da 
Unicamp, 2011.
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________. Dossiê de Registro da Festa 
do Pau da Bandeira de Santo Antônio 
em Barbalha. Fortaleza, 2015. Disponível 
em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/
ckfinder/arquivos/Dossie_festa_pau_da_
bandeira_santo_ant%C3%B4nio_barbalha.
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________. Dossiê de Registro da 
Cachoeira do Iauaretê. Lugar sagrado dos 
povos indígenas dos rios Uaupés e Papuri 
(AM). 2008. Disponível em: http://portal.
iphan.gov.br/uploads/publicacao/PatImDos_
iauarete_m.pdf Acessado em: 31.01.2020.
MARTINS, Aterlane. Das santas almas 
da barragem à caminhada da seca. 
Fortaleza: Museu do Ceará, 2017.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a 
problemática dos lugares. Tradução Yara 
Aun Khoury. In: Projeto História, São 
Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. 
SOARES, Igor de Menezes. In: Alguns 
registros sobre a Festa de Santo Antônio. In: 
SILVA, Ítala Byanca de Morais; SOARES, Igor 
de Menezes (Orgs). Sentidos de devoção: 
festa e carregamento em Barbalha. Iphan, 
Fortaleza, 2013, p.238-256.
AUTOR
Aterlane Martins é professor efetivo 
do Instituto Federal do Ceará (IFCE) 
e coordenador de Extensão do 
Campus de Quixadá. Historiador do 
patrimônio cultural. Educador de 
museus e centros culturais. Mestre 
em História Social pelo Programa 
de Pós-Graduação em História 
e Licenciado em História pela 
Universidade Federal do Ceará (UFC). 
Foi pesquisador-bolsista da Unesco 
no Programa de Especialização em 
Patrimônio (PEP Ip han/Unes co). 
É membro do Grupo de Estudos 
e Pesquisa em Patrimônio e 
Memória UFC/CNPq (GEPPM) e da 
Coordenação Nacional do Grupo 
de Trabalho História e Patrimônio 
Cultural da Associação Nacional dos 
Profissionais de História (Anpuh). 
ILUSTRADOR
Daniel Dias é ilustrador e artista 
gráfico, com extensa produção em 
projetos editoriais, sendo a maior 
parte destinada ao público infantil 
e infantojuvenil. Seu trabalho tem 
como base a pesquisa de materiais e 
estilos, envolvendo estudo de técnicas 
tradicionais de pintura, desenho,fotografia e colorização digital.
111Formação de Mediadores de Educação para Patrimônio 111
Este fascículo é parte integrante do projeto 
Formação de Mediadores de Educação 
Patrimonial, em decorrência do Termo de 
Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito 
Rocha e a Secretaria Municipal de Cultura de 
Fortaleza, sob o nº 02/2019.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br
EXPEDIENTE: 
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
João Dummar Neto 
Presidente 
André Avelino de Azevedo 
Diretor Administrativo-Financeiro 
Marcos Tardin 
Gerente Geral 
Raymundo Netto 
Gerente Editorial e de Projetos 
Emanuela Fernandes 
Analista de Projetos
UNIVERSIDADE ABERTA 
DO NORDESTE (UANE)
Viviane Pereira
Gerente Pedagógica 
Marisa Ferreira
Coordenadora de Cursos
Joel Bruno 
Designer Educacional
Thifane Braga 
Secretária Escolar
CURSO FORMAÇÃO DE MEDIADORES
DE EDUCAÇÃO PARA PATRIMÔNIO
Raymundo Netto 
Coordenador Geral, Editorial e Revisor
Cristina Holanda
Coordenadora de Conteúdo 
Amaurício Cortez 
Editor de Design e Projeto Gráfi co
Miqueias Mesquita
Diagramador 
Daniel Dias
Ilustrador
Thaís de Paula 
Produtora
ISBN: 978-85-7529-951-7 (Coleção) 
ISBN: 978-85-7529-958-6 (Fascículo 7)
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