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1 DIREITO SOCIETÁRIO DAS SOCIEDADES 1. Natureza Jurídica: Antes de conceituar sociedades não vamos esquecer sua natureza jurídica, toda sociedade será uma pessoa jurídica de direito privado, conforme o comando legal do Código Civil: “Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: (...) II - as sociedades; 2. Conceito de Sociedades “Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.” Do artigo 981 do CC se depreende que sociedades são contratos ou estatutos (convenção) celebrados entre pessoas, naturais ou jurídicas, que se obrigam a contribuir com a sociedade para o efetivo exercício de atividade econômica. Segundo o professor Vinicius Gontijo: Sociedade é o contrato ou convenção em que duas ou mais pessoas, mutuamente se obrigam a contribuir com esforços ou recursos visando atingir fins comuns cujos resultados serão divididos. Da leitura do artigo 981 podemos extrair três princípios que informam o tópico geral das sociedades: 1. Princípio da pluralidade de sócios. 2. Princípio da obrigatoriedade de contribuição 3. Princípio da partilha dos resultados Vamos analisar ponto por ponto do conceito, inclusive pela ótica desses princípios: 1º. Sociedade é o contrato ou convenção em que duas ou mais pessoa, mutuamente se obrigam a contribuir com esforços ou recursos visando atingir fins comuns cujos resultados serão divididos. Podemos ter Sociedades Contratuais e Sociedade estatutárias ou Institucionais, mediante a análise de qual documento será levado a Registro. Seja na Junta Comercial ou RPEM, no caso das sociedades empresárias, ou no RCPJ, no caso das sociedades simples. Assim, estatutária ou institucional são as sociedades que se organizam mediante um ESTATUTO SOCIAL, como por exemplo as comanditas por ações e as Sociedades Anônimas. Já todas as demais sociedades serão contratuais, pois apresentação um CONTRATO SOCIAL para o registro e se guiarão por ele. 2º. Pelo principio da pluralidade dos sócios: Sociedade é o contrato ou convenção em que duas ou mais pessoa, mutuamente se obrigam a contribuir com esforços ou recursos visando atingir fins comuns cujos resultados serão divididos. 2 Não existe sociedade com apenas uma pessoa. Nosso ordenamento jurídico determina, no mínimo, a existência de dois sócios, porém haverá algumas exceções a serem consideradas. Uma dessas exceções é a sociedade unipessoal, vejamos: A) Sociedades Unipessoais O artigo 251 da Lei 6.404/76 estabelece a exceção da subsidiária integral: “Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo como único acionista sociedade brasileira. § lº A sociedade que subscrever em bens o capital de subsidiária integral deverá aprovar o laudo de avaliação de que trata o artigo 8º, respondendo nos termos do § 6º do artigo 8º e do artigo 10 e seu parágrafo único. § 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos do artigo 252.” A subsidiária integral é uma companhia que tem como único acionista uma sociedade brasileira, ou seja, existe validamente uma sociedade com um único sócio, sem precisar compor pluralidade de sócios jamais. Em verdade, a subsidiária integral é sempre unipessoal. Note-se que a subsidiária integral somente pode adotar o tipo societário S/A, pois assim prevê a lei, neste artigo 251. Todas as suas ações estão detidas por um único acionista. Tem que ser uma outra sociedade brasileira, sede no país ou organizada de acordo com a lei brasileira. Exemplos: Transpetro, cujo único sócio é a Petrobrás. A Varig Log cujo único acionista era a Varig, e o Bradesco Saúde ou Banco Bradesco cujo único acionista é a Bradepar. Nas palavras do professor Michell Nunes Maron: Algumas empresas públicas são outro exemplo de sociedades que podem assumir a forma unipessoal perenemente. Em essência, não são unipessoais: são empresas em que a totalidade do capital social é detido pelo Poder Público, mas não necessariamente a um só ente. Se calhar de um só ente público deter cem por cento de seu capital, é caso de unipessoalidade, e esta pode ser permanente. No Brasil, há um exemplo: a Caixa Econômica Federal é da União, sem mais sócios. Ainda segundo Michell Maron: Tavares Borba defende que a sociedade em que haja composição dos quadros por mais de um sócio, mas é notória a atividade de um só sócio, sendo que a divisão do capital lhe contempla a absoluta maioria, deixando parte ínfima ao outro sócio, é sociedade aparente, ou fictícia, que só se compõe com o fito de burlar as regras da responsabilidade ilimitada, caso este sócio realizasse a empresa sozinho (quando seria empresário individual). Neste caso, há unipessoalidade de fato, mesmo que formalmente haja pluralidade. Com o advento da lei Lei 13.247/16 (anexada na parte final dessa apostila) que altera o Estatuto da Advocacia (Lei no 8.906/94) e permite, em seu artigo 15 a criação de uma sociedade unipessoal de advocacia ( lembrando que a atividade não é empresária e sim simples, natureza intelectual – científica). É cediço, como se viu no conceito de sociedades, que a pluralidade de sócios é elemento necessário, em regra. Ocorre que a lei admite, de forma temporária ou perene, a unipessoalidade, a título excepcional. Vimos a possibilidade da unipessoalidade de forma perene, ou seja, sociedades que são unipessoais (como exemplo a subsidiária integral e algumas empresas públicas) vejamos agora de forma temporária, ou seja, sociedades que estarão unipessoais. 3 O legislador preferiu estabelecer situações excepcionais em que se tolera o funcionamento da sociedade com um só sócio apenas, visando promover a preservação da atividade empresa e salvaguardar a função social da empresa. Tais são as exceções: A.1) Sociedades Unipessoais acidentais ou temporárias: - A Lei 6.404/76, no artigo 206, I, “d”, garante o funcionamento da sociedade com um só acionista pelo período compreendido entre a constatação da unipessoalidade e a assembléia geral ordinária do próximo ano. É o primeiro caso de unipessoalidade temporária, em que se admite um período para recomposição do quadro social plural, ao invés de se dissolver a sociedade de plano. Veja: “Art. 206. Dissolve-se a companhia: I - de pleno direito: d) pela existência de 1 (um) único acionista, verificada em assembléia- geral ordinária, se o mínimo de 2 (dois) não for reconstituído até à do ano seguinte, ressalvado o disposto no artigo 251; (...)” Não é técnico se falar que este prazo é de um ano, pois o período entre as assembléias pode variar muito. O artigo 1.033, IV, do CC, estabelece situação similar para as sociedades regidas pelo codex civilista: “Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; A diferença, de fato, entre esta situação e a do artigo 206 da lei 6.404/76, é o prazo: aqui, a recomposição deve ser feita em até cento e oitenta dias, sob pena de dissolução de pleno direito, a qual, se não procedida, torna o sócio remanescente ilimitadamente responsável. 3º. Pelo princípio da obrigatoriedade de contribuição: Sociedade é o contrato ou convenção em que duas ou mais pessoa, mutuamente se obrigam a contribuir com esforços ou recursos visando atingir fins comuns cujos resultados serão divididos. Permite-se que o sócio, ao ingressar na Sociedade contribua, além de dinheiro ou bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Porém nas S.As há proibição legal para que um sócio contribua apenas com seu trabalho (esforço), no artigo 7º da Lei de S.A (lei 6.404/76):Art. 7º O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro. Portanto é vedado nas S.A., mas é permitida em outras sociedades, a existência do chamado “sócio de indústria” que é aquele que realiza a sua participação no capital social mediante a entrega de apenas trabalho. Veja o artigo 997, V: Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará: V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; Podemos nos deparar com “sócio de indústria” ou sócio que contribua com seu trabalho nas sociedades simples (atividade não empresária, e sim intelectual: artística, científica ou literária). 4 4º. Pelo Principio da Partilha dos Resultados: Sociedade é o contrato ou convenção em que duas ou mais pessoa, mutuamente se obrigam a contribuir com esforços ou recursos visando atingir fins comuns cujos resultados serão divididos. Após a união de duas ou mais pessoas visando montar uma sociedade, obviamente os sócios esperam obter lucro, pode haver também prejuízos, como a atividade pode trazer um resultado neutro (nem lucro nem prejuízo). Inobstante qual o tipo do resultado (seja ele neutro, positivo ou negativo) os sócios irão dividi-los. A lei civilista no artigo 1008 rejeita a existência de sociedade leonina que é aquela em que se faz a distribuição do lucro em benefício de apenas um dos sócios: Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de participar dos lucros e das perdas. 3. Classificação das Sociedades: 3.1. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS x SOCIEDADES PERSONIFICADAS A pessoa natural, quando do nascimento, tem-se registrada no Registro Civil de Pessoas Naturais, o RCPN. Quando esta pessoa pretende desenvolver atividade econômica organizada, será necessário que se registre, também, num dos órgãos de registro das pessoas jurídicas, RCPJ ou RPEM, Junta Comercial. A sociedade adquire personalidade jurídica quando realiza seu registro no órgão competente. Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo. Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos. Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. A) SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS A.1. Sociedade IRREGULAR, sociedade EM COMUM ou sociedade DE FATO Quando uma sociedade não tem registro, ela se chama sociedade em comum, sociedade irregular ou sociedade de fato. Se tem contrato, se não tem, não importa. Pelo fato de não ter sido levado o contrato a registro, vai ser chamada de sociedade em comum. Qual é a grande característica da sociedade em comum? A responsabilidade de cada sócio será ilimitada. Há uma regra, que é a responsabilidade que o sócio tem perante os demais sócios. Essa responsabilidade é uma responsabilidade solidária. Exemplo: uma pessoa jurídica (sociedade em comum) com três sócios. Se os bens da sociedade não são suficientes para saldar a dívida, não será preciso respeitar a proporcionalidade das cotas dos sócios (se um tem 20, outro 30 e o outro 50), não! Eu posso cobrar a totalidade da dívida de apenas um deles porque, entre eles, a responsabilidade vai ser solidária. Tais sociedades estão positivadas no Código Civil no artigo 986 a 990. 5 Exemplo mais claro da presença de atributos e ausência de personalidade são os entes formais ou despersonalizados, como o condomínio, espólio e massa falida, que são sabidamente desprovidos de personalidade. Nas sociedades não personificadas os bens afetados à atividade de empresa constituem um patrimônio especial, mas que ainda pertence aos sócios, e não à sociedade, pois esta não tem personalidade. A.2. Sociedade em Conta de Participação Topograficamente tal sociedade não possui personalidade pois o legislador a colocou nesse tópico no Código Civil, nos artigos 991 a 996. Segundo o professor Michell Maron é atécnico tratar desta sociedade em direito de empresas, pois não se trata de uma espécie ou forma de sociedade, simples ou empresaria, mas sim de uma modalidade de contrato de parceria, ou contrato de investimento. O objetivo desta sociedade é fomentar o desenvolvimento de atividades econômicas, ou seja, abrir caminho para promoção de investimentos. Exemplo: uma construtora, buscando implementar um empreendimento, busca junto a investidores a parceria para, como seus recursos, realizar a obra, e nesta parceria fica estipulado que, após a venda do produto da obra, será o lucro rateado na forma que se pactuar, nas proporções que bem entenderem. Este contrato é uma sociedade, no sentido técnico? Veja que não há autonomia, não há patrimônio próprio, não há domicílio, não há sequer nome empresarial da sociedade: o que há é um contrato de investimento, em que todos os atos negociais são realizados pela construtora. Assim, a relação entre a construtora e os investidores é um mero contrato civil de parceria – a sociedade em conta de participação não tem nenhum dos atributos oriundos da teoria da personificação. Ao menos em um aspecto o legislador andou bem: é sociedade não personificada, pois atribuir personalidade jurídica a um mero contrato de parceria seria uma aberração jurídica. Há, nesta “sociedade”, duas figuras fundamentais: o sócio ostensivo, aquele que aparece aos olhos do mercado, quem negocia, posta seu nome empresarial (ou civil, se pessoa física), e, conseqüentemente, quem responde por toda a atividade de empresa com seu patrimônio; e o sócio oculto, hoje denominado sócio participante, que é o investidor, parceiro que não atua na atividade empresária. O contrato da “sociedade” em conta de participação pode ser verbal ou escrito, e não precisa ser registrado em qualquer órgão, pois é documento a ser exigido entre os sócios, apenas, tendo efeitos somente nas relações intra societárias, pois como visto quem se expõe ao mercado é apenas o sócio ostensivo (é por isso que se conhece esta sociedade como “sociedade de gaveta”). Se quiserem, os sócios podem até levar o contrato ao registro, mas como é um contrato de parceria, de investimento, e não um ato constitutivo, será registrado no Cartório de Títulos e Documentos – e não no RCPJ ou RPEM – e é claro que não ganha personalidade jurídica com este registro, mas apenas publicidade. 6 B. SOCIEDADES PERSONIFICADAS Quanto ao OBJETO, a sociedade personificada pode ser: Sociedade empresária ou Sociedade simples B.1 Sociedade Empresária (art. 982, do Código Civil) É aquela que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro. Quando a sociedade explora, exerce uma atividade, considerada empresarial e com organização empresarial, então, ela é uma sociedade empresária. Sociedade empresária é aquela que tem organização empresarial e produção ou circulação de bens ou de serviços B.2. Sociedade SIMPLES (art. 982, do Código Civil) E qual é a definição de sociedade simples? É o inverso. Olha o que a lei diz: Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. O método trazido pelo legislador foi o método de exclusão.Ou a sociedade é empresária ou ela será simples. Quer uma definição melhor? “Sociedade simples é aquela que exerce uma atividade não classificada como de empresária.” E aí você vai lembrar da primeira aula. Se a sociedade simples tem como atividade uma profissão intelectual de natureza científica, literária ou artística, então essa sociedade não pode ser empresária e se ela não for empresária, ela só pode ser sociedade simples. Como essa atividade, de acordo com o Código Civil, não é atividade de empresário, aquela sociedade que tem por objeto uma atividade intelectual, literária ou artística, será uma sociedade simples. Para ser empresária precisa de organização empresarial. Não adianta eu produzir ou circular um bem ou serviço se não possuo organização, não posso ser empresário. A sociedade que não possui organização empresária é uma sociedade simples. Se a pessoa exerce circulação ou produção de bens ou serviços e não tem organização empresarial, ela não pode ser empresária e, pelo método de exclusão, quem não é empresária, é sociedade simples. Quanto ao objeto, a sociedade pode ser empresária ou simples, mas que forma, que tipo, essa sociedade pode adotar? C) Quanto à FORMA ou TIPO, a sociedade personificada pode ser: � Sociedade Em Nome Coletivo � Sociedade Em Comandita Simples � Sociedade Em Comandita Por Ações – Só pode ser empresária � Sociedade Anônima (S.A.) – Só pode ser empresária � Sociedade Limitada � Cooperativa – Só pode ser simples Parágrafo único do art. 982. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa. 7 Então, as sociedades por ações serão sempre empresárias e as cooperativas, sempre simples. SOCIEDADE EMPRESÁRIA Pode ter as formas/tipos: SOCIEDADE SIMPLES Pode ter as formas/tipos: � Sociedade Em Nome Coletivo � Sociedade Em Nome Coletivo � Sociedade Em Comandita Simples � Sociedade Em Comandita Simples � � Sociedade Limitada � Sociedade Limitada � Sociedade Em Comandita Por Ações – Só pode ser empresária � Sociedade Anônima (S.A.) – Só pode ser empresária � Cooperativa – Só pode ser simples � Sociedade Simples Simples ou Simples Pura D) O REGISTRO da sociedade personificada Essa é mais uma coisa importante a ser dita. Vimos à regrinha do art. 985, do Código Civil, que diz que uma sociedade só vai adquirir personalidade jurídica depois que fizer o seu registro e o registro tem que ser feito no órgão competente. Só depois que ela faz o registro é que pode ser uma sociedade personificada. Agora, temos que saber onde que se faz o registro dessas sociedades. Para responder à pergunta, temos que ir para o art. 1.150, do Código Civil: Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. � Se for sociedade empresária – O registro tem que ser feito na Junta Comercial � Se for sociedade simples – O registro tem que ser feito no Registro Civil de Pessoa Jurídica, que é o famoso Cartório. Tem alguma exceção? Tem! Há duas exceções a essa regra: 1ª Exceção: Sociedade de advogados. É empresária ou é simples? A sociedade de advogados é simples. E o registro não é no cartório. O registro tem que ser feito na OAB. Lá é que você faz o registro da sociedade de advogados. Só com o registro na OAB que a sociedade de advogados adquire personalidade jurídica. 2ª Exceção: Cooperativa. Em que pese ser sociedade simples, tem que ser registrada na junta comercial. “Ah, mas eu conheço cooperativa que fez registro no cartório”. Até faz! Mas só consegue aprovação na Receita Federal, só consegue CNPJ, se tiver registro na junta comercial porque a Lei 8.934/94, no seu art. 32, diz que a cooperativa tem que ter registro na junta comercial. 8 3.2. SOCIEDADE DE PESSOA - SOCIEDADE DE CAPITAL ou SOCIEDADE HÍBIRIDA É a primeira classificação que temos que conhecer. A sociedade pode ser uma sociedade de pessoa (intuitu personae) ou uma sociedade de capital (intuitu rei ou intuitu pecunae). Qual é o critério para essa classificação, para uma sociedade ser de pessoa ou de capital? Critério: Leva em conta o grau de dependência da sociedade em relação às qualidades subjetivas dos sócios. Como também a possibilidade ou condições de alienação da participação societária. Então, quando uma sociedade vai ser de pessoa? Sociedade de pessoa é aquela que os atributos, as características subjetivas dos sócios, as suas qualificações, são indispensáveis para o desenvolvimento da sociedade. Então, uma sociedade que tem por objeto a prestação de serviços de informática, se o sócio é um sócio que é o responsável técnico por aquilo, o conhecimento da atividade depende do sócio, trata-se de uma sociedade de pessoa. Da mesma forma que será uma sociedade de pessoas, quando no contrato social ou no estatuto tivermos a proibição de venda da participação societária à terceiros. Ou seja: vedado a entrada de pessoas estranhas ao quadro social, ou só é permitido mediante o consentimento dos outros sócios. Quando as características subjetivas do sócio não é relevante, o que importa é o capital que o sócio está investindo na sociedade, pouco importa suas qualificações. Nesse caso, temos uma sociedade de capital. Da mesma forma quando observarmos que o ingresso de outra pessoa no quadro social é livre, independe de aprovação dos outros sócios. Em regra, a sociedades anônima e a comandita por ações são sociedades de capital, vejam os ERESP 111.294 e ERESP 419.174 do STJ. Obs.: Haverá uma exceção para as sociedades anônimas de capital fechado de cunho familiar por decisão do STJ são consideradas sociedade de pessoas, pois só integrantes daquela mesma família podem figurar como sócios. Já as sociedades Ltdas poderão ser de pessoas ou de capital, para sabermos qual modalidade ela adotou devermos ler seu contrato social, por isso chamamos as sociedades Ltdas de Sociedades Híbridas (pois podem adotar ou um ou outro), já, todas as demais sociedades (excluindo as SAs e as Ltdas) serão de pessoas. 3.3. SOCIEDADE DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, ILIMITADA ou MISTA A responsabilidade pode ser limitada, ilimitada ou pode ser mista. Critério: Responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais Ilimitada significa que o sócio responderá com o seu patrimônio pessoal pelas dívidas da sociedade. Exemplos: Sociedades de fato/irregular/comum e sociedades em nome coletivo. Responsabilidade limitada – o patrimônio pessoal do sócio não responde pelas dívidas da sociedade. Exemplo: Ltda e Sociedades Anônimas. Responsabilidade mista – quando é que uma sociedade tem responsabilidade mista? Quando tem sócio de responsabilidade limitada e sócio com responsabilidade ilimitada. Exemplo: Sociedade em comandita simples: o sócio comanditado responde de forma ilimitada e o sócio comanditário responde limitadamente; Comandita por ações: o acionista diretor responde ilimitadamente e os demais acionistas limitadamente; e na Sociedade em conta de participação o sócio oculto/participante terá responsabilidade limitada enquanto que o sócio ostensivo responderá ilimitadamente. 9 3.4. SOCIEDADE NACIONAL ou SOCIEDADE ESTRANGEIRA Um argentino, com 70% e um paraguaio, com 30%, resolvem constituir uma sociedade no Brasil. Pergunta: Essa sociedade é nacional? Resposta: não dá para saber porque pouco importa a nacionalidade do sócio para definir se ela é nacional ou não. Para uma sociedade ser nacional, ela tem que atender a dois requisitos do art. 1.126, do Código Civil: Art. 1.126. É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede desua administração. Dois requisitos apenas: � 1º Requisito: Tem que ser organizada de acordo com a lei brasileira. � 2º requisito: A sede da administração tem que ser no País. Foi organizada de acordo com a lei brasileira? Foi! A sede da administração é no País? É. Então, ela é uma sociedade nacional, pouco importa se o sócio é chileno, argentino, sueco. Não importa! E quando vai ser estrangeira? Quando faltar um dos dois requisitos. Ah! Tem sede e administração no País, mas foi organizada com a lei estrangeira. Então, é estrangeira. Ela foi organizada de acordo com a lei brasileira, mas a sede da administração é no exterior. Então, ela não é nacional. Ela é estrangeira. O art. 1.134 é importantíssimo. Fala da sociedade estrangeira e diz que não importa que tipo de atividade a sociedade estrangeira explore. Não importa. Ela sempre vai precisar, para ser constituída, de autorização do Poder Executivo e Federal. Uma sociedade estrangeira só pode constituir no Brasil se o Poder Executivo Federal autorizar, não importa o tipo de atividade que ela explore. Qualquer atividade que seja, ela precisa de autorização do Poder Executivo Federal. Art. 1.134. A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira. 3.5. SOCIEDADE CONTRATUAL ou SOCIEDADE ESTATUTÁRIA (INSTITUCIONAL) Já vimos que toda sociedade é pessoa jurídica de direito privado e para que recebe a personalidade jurídica deverá levar seus documentos a registro, como acontece com qualquer pessoa (inclusive as pessoas naturais que também possuem documentos de identificação). Portanto, quando a sociedade é estatutária ou institucional significa dizer que a mesma se organiza mediante um ESTATUTO SOCIAL, como por exemplo as comanditas por ações e as Sociedades Anônimas. Já todas as demais sociedades serão contratuais, pois estarão organizadas e registrarão um CONTRATO SOCIAL seja na Junta Comercial (RPEM) – para o caso das sociedades empresárias, ou no RCPJ, para o caso das sociedades simples. Nas sociedades contratuais observamos que os sócios possuem mais autonomia, pois eles podem disciplinar todas as regras sociais mediante sua vontade e criarem um contrato social voltado para os seus interesses particulares. Já nas sociedades estatutárias ou institucionais a autonomia dos sócios será mínima, pois o estatuto cuidará dos interesses da sociedade (como uma instituição) e não dos interesses particulares dos sócios. 10 Obs.: Vejam que a lei 13.247/16 criou a figura da sociedade unipessoal de advocacia, mais uma exceção ao principio da pluralidade de sócios, mas lembrando que advocacia não é atividade empresa, é atividade simples, científica. LEI Nº 13.247, DE 12 DE JANEIRO DE 2016. Altera a Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 - Estatuto da Advocacia. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o Esta Lei altera a Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 - Estatuto da Advocacia. Art. 2o Os arts. 15, 16 e 17 da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 - Estatuto da Advocacia, passam a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação de serviços de advocacia ou constituir sociedade unipessoal de advocacia, na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento geral. § 1º A sociedade de advogados e a sociedade unipessoal de advocacia adquirem personalidade jurídica com o registro aprovado dos seus atos constitutivos no Conselho Seccional da OAB em cuja base territorial tiver sede. § 2º Aplica-se à sociedade de advogados e à sociedade unipessoal de advocacia o Código de Ética e Disciplina, no que couber. § 4º Nenhum advogado pode integrar mais de uma sociedade de advogados, constituir mais de uma sociedade unipessoal de advocacia, ou integrar, simultaneamente, uma sociedade de advogados e uma sociedade unipessoal de advocacia, com sede ou filial na mesma área territorial do respectivo Conselho Seccional. § 5º O ato de constituição de filial deve ser averbado no registro da sociedade e arquivado no Conselho Seccional onde se instalar, ficando os sócios, inclusive o titular da sociedade unipessoal de advocacia, obrigados à inscrição suplementar. § 7º A sociedade unipessoal de advocacia pode resultar da concentração por um advogado das quotas de uma sociedade de advogados, independentemente das razões que motivaram tal concentração.” (NR) “Art. 16. Não são admitidas a registro nem podem funcionar todas as espécies de sociedades de advogados que apresentem forma ou características de sociedade empresária, que adotem denominação de fantasia, que realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam como sócio ou titular de sociedade unipessoal de advocacia pessoa não inscrita como advogado ou totalmente proibida de advogar. § 4º A denominação da sociedade unipessoal de advocacia deve ser obrigatoriamente formada pelo nome do seu titular, completo ou parcial, com a expressão ‘Sociedade Individual de Advocacia’.” (NR) “Art. 17. Além da sociedade, o sócio e o titular da sociedade individual de advocacia respondem subsidiária e ilimitadamente pelos danos causados aos clientes por ação ou omissão no exercício da advocacia, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar em que possam incorrer.” (NR) Art. 3o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 12 de janeiro de 2016; 195o da Independência e 128o da República. DILMA ROUSSEFF José Eduardo Cardozo Este texto não substitui o publicado no DOU de 13.1.2016
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