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BREVE INTRODUÇÃ O Ã CRI: FENOMENO RELIGIOSO 1. O conhecimento humano religioso que chega até nossos dias O CONHECIMENTO PARA APROXIMAR-SE AO SAGRADO. Para entender o que é a “fenomenologia religiosa” (FR), deve entender-se às grandes correntes da teoria do conhecimento na qual surge a “fenomenologia” como um tipo específico de “conhecimento”. O problema do conhecimento humano consiste em que não resulta fácil afirmar o que é possível conhecer, como se pode conhecer e para que se deve conhecer. O conhecimento é o resultado de uma crise de afirmação da realidade, no sentido de que parece não ter uma certeza na relação entre o que pensamos e o que é a realidade. O conhecimento humano entra ainda numa maior crise quando se trata das questões religiosas, aonde a realidade assimila-se em outro conceito de realidade, que nem sempre os sentidos sensoriais humanos conseguem afirmar. As afirmações das religiões precisam ser colocadas neste contexto para compreender o núcleo das mesmas, caso contrário, as religiões seriam apenas um conjunto de normas e leis morais inquestionáveis devido às afirmações que se justificam, diga-se para entender hoje, de forma “automática”, na proclamação incondicional do Sagrado (Deus, Alá, etc...). Por isso deve-se perguntar: como surge o conhecimento das religiões que permitem afirmar à existência do sagrado? O CONHECIMENTO DAS RELIGIOES BROTA DA VIDA EXPERIMENTADA. A religião é mais que uma afirmação doutrinal; é principalmente uma proposta para ser realizada na vida das pessoas, daí que a religião representa não apenas a realidade das teorias e ideias religiosas, mas também um tipo de conhecimento que é assimilado na experiência religiosa. O principal patrimônio das religiões é um tipo de conhecimento que acontece na prática da vida. Por isso que a vida experimentada é a principal fonte de compreensão do sagrado. TRÊS GRANDES EXPERIÊNCIAS DE VIDA QUE ORIGINARAM AS PRINCIPAIS EXPERIÊNCIAS DO SAGRADO. Ao longo da história da humanidade – numa leitura que atinge a “civilização de ocidente” - surgiram alguns marcos importantes da experiência do sagrado que estruturaram alguns eixos da compreensão do fenômeno religioso atual. Por volta de 5.000 anos atrás, surgiram duas experiência importantes, uma na Mesopotâmia e outra na Índia. Posteriormente, 2.500 anos atrás, na Grécia surgiu um intento de sintetizar as experiências do Egito e das crenças do mediterrâneo. A Índia mostrou que existem muitas experiências do sagrado por isso o universo sagrado é praticamente infinito em nas versões religiosas e nas práticas de religiosidade; A mesopotâmia revelou o registro mais importante da primeira civilização humana em processo de estruturação dando origem a primeira civilização no meio oriente que carrega importantes aspectos simbólicos e civilizatórios que interferiram no pensamento ocidental; finalmente na Grécia amadurece a religião do saber, que dará origem à filosofia e posteriormente ao pensamento racional científico. ARQUEOLOGIA DO HORIZONTE SIMBÓLICO DE OCIDENTE: INDIA, MESOPOTAMA E GRECIA. O Ocidente, tal como hoje se entende, resulta de um intento de controle e domínio mundial a partir de critérios civilizatórios – alguns bastante questionáveis – que atualmente estão em processo de recomposição. A primeira e segunda guerra mundial possivelmente são os grandes eventos sinalizadores dessa desesperada busca de identidade e controle. Esta situação é resultado de uma apropriação de sistemas de valores e conceitos que, ao parecer de historiadores, não eram propriamente ocidentais como, por exemplo, a experiência semita revelada no cristianismo, a origem indo-europeia teutónica, o pensamento grego euroasiático apresentado pelos árabes e os conhecimentos matemáticos e filosóficos da Índia apresenatados também pelos árabes. A DESCOBERTA DA ARQUEOLOGIA OCIDENTAL E O SURGIMENTO DO PÓS-MODERNISMO. Com as considerações acima citadas, podemos afirmar três grandes matrizes para pensar da humanidade: a primeira, mesopotâmica; a segunda, grega; a terceira indiana e que está entranhada na compreensão da modernidade e pós modernidade. Estas três formas de pensar são uma síntese geral que pedagogicamente nos conduz aos grandes problemas do conhecimento atual. 2. A matriz do pensamento mesopotâmico ORGIEM DO ANTROPOCENTRISMO. Esta forma de pensar surge com a primeira civilização conhecida pela humanidade desde ocidente. Está representada pela civilização Suméria e se estenderá na tradição semita. A Suméria começa uma longa tradição antropológica que reconhece o poder criador do ser humano. Existe uma persistente relação da condição humana como condição estruturante da civilização e como condição sagrada trascendente. Nela estão contidas as origens do antropocentrismo como humano e divino. ORIGEM DA ETICA. A capacidade humana de criar revela o poder de auto reconhecer-se portador de um poder transcendental e sagrado de provocar o cuidado humano. As mitologias e pensamentos revelam o poder de pensar de forma concreta e de produzir concretamente o valor da espiritualidade na vida prática (Cfr. Gilgamesh). Na Mesopotâmia, as sociedades se estruturam em torno do valor que representava essa humanidade, de forma que tal que as sociedades representavam o resguardo humano o que era simbolizado pelos divindades (com rosto humano) que governavam as cidades estado. Neste sentido os deuses tinham uma morfologia humana e governavam cidades-estados para essa finalidade, assim mesmo, a preocupação pela condição humana levou a formulação de leis que resguardem os seres humanos provocando justiça (Cfr. Código Hamurabi). HUMANIDADE REVELA O SAGRADO. Numa leitura “religiosa”, pode observar-se que as divindades sumérias eram muito parecidas e parceiras da humanidade. A humanidade participa da realidade divina e torna sua realização um contraponto em qualquer leitura predeterminada do ser humano. O ser humano é criatura criadora da realidade. O rosto divino é semelhante ao rosto humano. As distintas divindades das cidades-estados representavam todas as qualificações humanas que essas cidades defendiam. A ESCRITA COMO MEMORIA DA HUMANIDADE. Além disso, o principal aporte humanístico foi a escrita cuneiforme que registrou todas as narrativas sumérias. Tais narrativas carregam a visão de mundo e o horizonte de sentido no qual eram postadas suas religiosidades. Se fosse a identificar este modo de pensar, poderia ser rotulado de ontológico (no sentido moderno). A matemática e até a democracia como um sistema de participação do povo na eleição dos líderes foi registrado pela escrita humana. Foi além querendo decodificar todas as linguagens de outras tradições – como no caso semita – com a elaboração do alfabeto. 3. A matriz do pensamento grego AS ORIGENS DO PENSAMENTO GREGO NA TRADIÇÃO MICENICA. Os gregos surgem como tradição importante a partir do ano 400 antes de Cristo. No entanto, seus antecessores, os micênicos, surgiram alguns séculos antes, dando, assim, descendência aos gregos clássicos conhecidos pelas suas filosofias. As antigas teologias gregas presentes na tradição oral homérica (de Homero) revelariam a suas ideias de divindade e do sagrado. O resultado foi o desfecho na ideia da tragédia grega e o destino humano. AS ORIGENS MEDITERRANEAS DO PENSAMENTO GREGO: OS EGIPCIOS. As viagens dos gregos arredor do mediterrâneo os fizeram grandes portadores de outras tradições. Assim, receberam importantes influencias dos egípcios. Os gregos conheceram o modo de pensar das elites egípcias que davam um valor incalculável à morte e a vida escatológica. O pensamento faraônico teológico especulava sobre o âmbito espiritual da vida do além e na compreensão de conceitos abstratos do pensamento egípcio que relativizavam o valor da vida e dos corpos. O cuidado da vida espiritual no além provocou o afastamento da vidahistórica do ser humano. O egípcios davam a sensação de persistência e eternidade ao acreditar na alma e no espírito como incorrutíveis e eternos. O pensamento, com especial qualificação da razão, era uma forma espiritual de lidar com essa tradição. Os egípcios davam muita educação para entender o que está além da realidade sensorial da vida, a matéria. De alguma forma, o valor do pensamento, cultivado pela razão, foi tendo um destaque que redesenhou o conceito da vida intelectual no âmbito espiritual. PARA ENTENDER O DESTINO HUMANO: A TRAGEDIA GREGA. Tradição grega acredita no destino do qual são “vítimas” todos os seres humanos. O destino é inevitável ainda que o ser humano saiba da liberdade. Essa situação contraditória, observada na literatura homérica, foi apresentada como a tragédia grega. A tragédia grega é: Se o ser humano se entende livre, também se entende escravizado a um destino dado pela condição humana. Os Deuses são parte da “confabulação” do destino. Diante disso o homem não tem outra saída que esclarecer-se para não viver angustiado sem saber o que será o amanhã. A compreensão racional desse mundo espiritual aonde está marcado o destino junto com os deuses se da pela compreensão racional do logos (essência / ser / fundamento) que o destino carrega. A ESSENCIA DO SER É ESPIRITUAL E SE ALCANÇA PELA RAZÃO. Os gregos pensam a verdade humana como um modelo conceitual essencial que pode ser compreendido pela razão (logoi). A realidade sensorial não representa esse modelo essencial, pois apenas é a aparência da verdadeira realidade que é de ordem racional, intelectual e, evidentemente, espiritual (onde está a verdade do mundo das ideias). E a verdade humana era que o homem é um animal racional (zôon logikón) por tanto com condições de aproximar-se a realidade essência do ser. Daí se promoveu a prática dessa busca do logos da realidade. Essa busca se converteu em uma atividade espiritual e religiosa vinculada à razão e, por tanto, à prática da filosofia – o amor à sabedoria. O homem sábio é o homem espiritual. A RELIGIÃO DO SABER. A verdadeira religião grega cultua a essência da realidade - que a filosofia chama do SER (nous) - e para isso propõe a disposição da razão humana como a forma de assimilar a essência do ser. O ser é uma ideia, um saber que precisa de mentes humana racionais capazes de compreender seu valor espiritual. Nesse intuito, surge a principal religião grega, a saber, a filosofia (o amor e afinidade como o saber). O DESTINO HUMANO COMO DESCOBERTA DA RAZÃO HUMANA. De alguma forma se a verdadeira realidade é de ordem racional, intelectual, espiritual, nessa realidade tudo já está predestinado. A realidade “verdadeira” está no âmbito no-sensorial governado pelo logos do qual todas as coisas são. Nada vem pelo acaso ou pela vontade humana. Todo já está determinado. Assim o que o ser humano deve fazer é cultuar ou cultivar esse mundo intelectual, racional e espiritual para entender (sabedoria) o destino humano que já foi dado pelo mundo das ideias. Platão representa de forma extrema de pensar. A EXPERIENCIA RELIGIOSA E EXPERIENCIA INTELECTUAL E RACIONAL. A experiência “religiosa” grega se reduz a uma experiência “espiritual”, de ordem profundamente intelectual e racional. Deus é a expressão dessa essencialidade da totalidade do universo que é realmente, para a mentalidade grega, totalmente captada pela capacidade intelectual da razão. A divindade é espiritual e oposta a dimensão sensorial do mundo material. Esta tradição levou a compreensão religiosa e da divindade como algo que “não se vê” e a entender a fé como algo invisível e abstrato. E conseguintemente, determinaram o âmbito do sagrado (o ser) e o âmbito do profano (o não ser). 4. A matriz do pensamento na Índia “MATRIX” MILENAR. Ainda que não se possa definir “o pensamento” da Índia, pois são infinitas de formas de pensar, existe uma matriz. A principal matriz é a constância na verdade (satia graha) presente faz mais de 5.000 anos nos primeiros textos religiosos da humanidade: os vedas (a verdade). Isso provocou uma tradição de questionamentos céticos e de humildade sem constrangimento diante dos grandes mistérios do universo no qual o homem é parte. Os seres humanos da Índia apresentam o principal a maior reflexão humana acerca da origem do infinito. Nessa reflexão abordaram as principais questões astronômicas, os grandes problemas matemáticos, os intrigantes sistemas físicos possíveis, a presença do pensamento e a origem do sagrado e dos diversos deuses. Os indianos representam o ponto mais elevado em reflexão em termos filosóficos (a superação da metafísica e ontologia pela consciência plena) em termos da ciência do sagrado (o sentido da teologia e o sentido da experiência de transcendência) em termos tecnológicos (com os principais aportes à ponta tecnológica atual – física quântica, descoberta das qualidades da matéria, modelagens matemáticas, virtualização da realidade, entre outros). OS VEDAS: ESCLARECIMENTO DE TUDO O UNIVERSO. Os indianos não colocaram nenhuma restrição ao pensamento humano. Isso levou para importantíssimos conhecimentos científicos, cosmológicos, matemáticos, etc, que tão-somente hoje foram compreendidos no ocidente (cfr. historia de Srinivasa Ramanujan (1887-1920)). O mais importante legado indiano, mostra que o universo é o resultado de um infinito ciclo de renascimentos morte. Esses ciclos de vida e morte (criação e destruição) são infinitos assim como as formas na qual as escalas de tempo produzem os ciclos. Por isso na índia os deuses são também fruto desses ciclos que se justificam no surgimento e renascimento de um processo de revelação. O CICLO DA REALIDADE UNIVERSAL É ESPIRITUAL E MATERIAL. Tudo é espiritual, mas também tudo tem uma base histórica sensível no universo (cosmos), assim como tudo muda. O som do universo revela a vibração da vida da qual nascem até os deuses e divindades. As divindades são parte da memoria humana em algum tempo e espaço dessa vibração cósmica universal. Como se entende esse ciclo? Se entende a partir da profunda fidelidade à verdade, satia graha, isto é, conceber a realidade , em todos seus modos e meios, um sinal da verdade. A verdade é bem maior e abrangente que não permite que o ser humano se “fixe” a qualquer ideologia filosófica ou religião. A verdade provoca a busca do sentido mais profundo do universo e do homem nesse universo. Assim não existem limites nem distinções à nossa mente. O ser humano ao ser parte dessa abertura ilimitada do universo, cria e recria tudo (a atitude do homem deve ser aberta à realidade do universo e sua projeção em todas as dimensões). Por isso tudo é um infinito universo de possibilidades para entender as possibilidades. Nada está parado todo em movimento. Nada é profano e Tudo é sagrado. O Nada é o Tudo para entender o infinito da nossa verdadeira realidade humana. A MATRIZ ESPIRITUAL REVELA-SE QUANDO ABRIMOS A COMPRESSÃO DO UNIVERSO. Por isso enquanto não se procure o conhecimento (inclusive o conhecimento científico) não se pode entender o sentido da realidade. Daí o esforço milenar das civilizações indianas para tentar entender como o universo funciona e poder refletir do porque desse funcionamento. 5. Considerações finais: do pensamento moderno ao pós-moderno A MODERNIDADE é uma reação contra as incursões gregas, em especial, daquelas que destacam a qualidade racional e intelectual para compreender a experiência de Deus. Deus parece uma verdade que deve ser comprovada pela razão. A fé acredita naquilo que é razoável. O conhecimento religioso é sistemático e compreendido pelo intelecto humano. Já o conhecimento pouco estruturado pela razão deixa de qualificar-se como religião para converter-se em uma simples opinião, da qual surge a superstição, um conhecimento irracional próprio das religiões “primitivas”. Amodernidade quer restituir ao homem sua relação concreta, objetiva e histórica com a realidade; dessa forma apresenta a razão como a principal forma de compreensão da realidade. A religião não será manifestação de uma leitura racional da realidade, mas uma leitura subjetiva e “não racional” da mesma. Por isso a modernidade evocará a cientificidade como a base da compreensão humana do ser. A ciência será como a nova forma de presença da modernidade provocada pela razão grega. A modernidade não apenas penetra no âmbito das tecnologias e ciências aplicadas, mas também na relação do homem com o universo simbólico dado na ética e moral. Desta forma surgirão aparelhos intelectuais complexos e diversos para julgar, condenar ou isentar o se humano. Os julgamentos da razão humana serão apresentados como verdades absolutas baseadas na racionalidade pura. De alguma forma a razão humana se apresenta como a única perspectiva para ver, sentir e viver no mundo. Os países ocidentais serão portadores desta razão do pensamento humano que se justificam na racionalidade das suas civilizações para colonizar e eliminar outras sociedades humanas no planeta. A POS-MODERNIDADE é a principal reação em contra da modernidade racional. Após a experiência trágica da primeira e segunda guerra mundial, surge uma critica aos valores que provocaram esses descalabros. Certamente, o poder da razão revelou a crueldade da condição humana ao grau de preferir a destruição que a vida. A desilusão diante da racionalidade científica leva a um descredenciamento dos valores da ciência e uma descoberta ainda mais intrigante: as novas ciências que surgem das novas percepções da inteligência. A pós-modernidade rejeita a inteligência racional e provoca outros tipos de inteligência como a inteligência emocional ou a inteligência artificial. Todo conhecimento é uma forma de abertura para o transcendente: busca do sentido e significado da vida. A fenomenologia apresenta-se como uma forma de conhecimento que NÃO presumem “saberes” sistemáticos que conhecem e julgam o mundo e o valor da existência humana. Ela presenta-se como uma forma de superar os conceitos pre-fabricados pela consciência moderna para tentar uma aproximação “in natura” da realidade, sem preconceitos nem categorias; tentando, em todo caso, reconhecer os padrões de realização da realidade como um todo. Neste sentido criou-se um saber não estático mas dinâmico; um saber não estruturado mas que acompanha e monitora os movimentos da realidade. Este novo saber parte da compreensão complexa e da determinação importante das categorias culturais e intelectuais para compreender o mundo e a realidade humana; por isso considera que uma aproximação sem preconceitos é um ponto de partida para compreender todo tipo de realidade, desde a científica até à realidade más simbólica expressada pela experiência das religiões.
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