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Leite Materno (pdf)

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Síntese do Leite Materno 
A água do leite é secretada seguindo um gradiente de concentração. Alguns 
minerais e pequenas moléculas, como a glicose e aminoácidos vindos do plasma, 
são transportados no citoplasma a partir da membrana basal por meio de 
transportadores específicos. A lactose é sintetizada a partir da glicose no complexo 
de Golgi das células epiteliais mamárias. As proteínas secretadas no leite podem 
ser sintetizadas pelas células alveolares, virem do espaço intersticial ou da circulação 
sanguínea e podem ser modificadas no citoplasma. Estes compostos são 
secretados na membrana apical por meio de exocitose e constituem a fase aquosa 
e as micelas de caseína do leite. 
Os lipídeos são sintetizados no retículo endoplasmático liso, na região basal das 
células alveolares a partir de ácidos graxos e gliceróis e são estocados na forma 
de gotículas de gorduras citoplasmática envolvidas por algumas proteínas 
lipossolúveis. Estas gotículas de gordura migram para a região apical destas células 
e são então secretadas. No processo de secreção, as gotículas de gordura são 
envolvidas pela membrana plasmática e formam os glóbulos de gordura do leite. 
Alguns componentes plasmáticos e leucócitos podem ser encontrados no leite e 
chegam ao lúmen da glândula mamária através do transporte paracelular. 
Por fornecer todos os nutrientes necessários à saúde do bebê, o leite materno 
não poderia deixar de ser fonte de vitamina A, que é uma molécula fundamental 
para o funcionamento do processo visual, na divisão e diferenciação celular, no 
metabolismo de ferro e no funcionamento adequado do sistema imunológico. 
O teor de lípidos do leite materno aumenta paulatinamente à medida que decorre 
a refeição. O leite disponível no final pode conter 5 vezes mais lípidos do que o 
do início. 
A concentração média de lípidos obtidos de cada vez é directamente proporcional 
à quantidade de leite extraído na mamada anterior acrescida da quantidade extraída 
na actual e inversamente proporcional ao tempo decorrido entre elas 
O lactente pode regular a composição do leite se puder modificar três factores: o 
tempo entre as sucessivas mamadas, o volume de leite ingerido de cada vez e se 
obtém leite de uma só mama ou das duas 
Se a ingestão for fixa, aqueles que ingerirem menos gorduras obterão em troca 
mais proteínas e lactose. 
Quando se limita o tempo (por exemplo 15 minutos) e se transfere o bebé 
arbitrariamente da primeira para a segunda mama antes que ele tenha terminado, 
oferece-se-lhe o leite inicial e menos calórico de ambas as mamas, não tendo 
acesso ao leite final rico em gorduras e calorias. Nalguns casos, para suprir o valor 
calórico do leite final perdido, o volume necessário supera a capacidade gástrica 
do lactente. O bebé tem fome, mas simplesmente não tem espaço para mais leite 
ficando habitualmente insatisfeito e choroso. Ao receber menos lípidos (do leite 
final), ingere mais proteínas e mais lactose, o que pode ocasionar uma intolerância 
parcial à lactose por sobrecarga. A lactose não digerida fermenta no tubo digestivo, 
produzindo gases, cólicas e fezes ácidas e muito líquidas (diarréia osmótica). 
 
Composição do leite materno 
O leite materno é composto aproximadamente por 88% de água, sendo isotônico em relação 
ao plasma, além de conter compostos como vitaminas, minerais, carboidratos, lipídeos, 
nucleotídeos, proteínas, imunoglobulinas e leucócitos. 
Os carboidratos presentes no leite apresentam-se em sua maioria na forma de lactose, que é 
um dissacarídeo constituído de galactose unido por ligação β a uma glicose 1. Sua concentração 
no leite materno é de aproximadamente 70 g/L. 
As concentrações de proteínas presentes no leite materno variam de 0,8 a 0,9 g/dL. As 
principais proteínas do leite são α-lactoalbumina, lactoferrina, lisozima, imunoglobulinas A e 
soroalbumina. 
Várias funções importantes já foram descritas para essas proteínas. A α- lactoalbumina e a β-
caseína fornecem a maior parte dos aminoácidos aos lactentes, apresentando com isso um 
alto valor nutricional. A lactoferrina é importante no processo de absorção do ferro, no 
crescimento dos bebês, além de atuar como bactericida e como imunomodulador. A lisozima 
hidrolisa os peptídeoglicanos da parede celular dos procariotos, funcionando também como um 
bactericida. A imunoglobulina A do mesmo modo que a lisozima e a lactoferrina estão envolvidas 
na proteção dos bebês contra infecções. 
A gordura presente no leite materno é a maior fonte de energia para os lactentes e apresenta-
se principalmente na forma de triacilgliceróis e fosfolipídeos, mas também como colesterol, 
diacilgliceróis, monoacilgliceróis, glicolipídeos, ésteres de colesterol e ácidos graxos livres 
A composição do leite materno pode variar de acordo com o período pós-parto, período de 
jejum, fatores nutricionais maternos, tempo gestacional do bebê, hora do dia em que é 
secretado e aspectos individuais de cada mãe. 
De acordo com o período pós-parto, o leite materno pode ser classificado como colostro, leite 
de transição e leite maduro. 
O colostro é um fluído amarelado de alta densidade e de pequeno volume, secretado no 
período entre o parto e o 7o dia. Sua coloração amarela se deve a alta concentração de 
carotenóides e de vitamina A. O colostro também é rico em outras vitaminas, minerais, 
proteínas e fatores de defesa como, as imunoglobulinas e os leucócitos, além de possuir uma 
baixa concentração de lipídeo e lactose. 
Na fase de transição, que vai do 7o ao 21o dia pós-parto, há uma diminuição na concentração 
de vitaminas, imunoglobulinas e proteínas e um aumento na concentração de lactose e gordura, 
o que resulta no aumento do conteúdo energético do leite. 
O leite maduro é uma mistura homogênea constituída de três frações: a solução aquosa com 
a maioria das proteínas, oligossacarídeos e nutrientes como a lactose, citrato, fosfato e cálcio; 
uma fase suspensa, constituída por micelas de caseína em suspensão; e a emulsão, formada 
pelos glóbulos de gordura, que são gotículas de gorduras envoltas por fosfolipídeos, algumas 
proteínas e vitaminas lipossolúveis. 
Leite Materno 
Leite Humano X Leite da Vaca 
Um estudo na Suécia sobre a ação da caseína dos leites humano e de vaca, 
demonstrou que a caseína presente no leite humano é um dos componentes 
que ajuda a proteger as crianças contra infecções gastrintestinais, impedindo a 
adesão de más bactérias como a H. Pylori às células da mucosa intestinal 
humana, enquanto o mesmo não ocorreu com a caseína do leite de vaca. 
O leite de vaca também contém fatores imunológicos de ótima qualidade, mas 
para o bezerro. Esses fatores só funcionam para a mesma espécie. Mesmo que 
alguns destes fatores possam funcionar, serão destruídos pela armazenagem e 
fervura do leite. 
O principal açúcar do leite materno é a lactose porém, mais de 30 açúcares já 
foram identificados no leite humano, como a galactose, frutose e 
oligossacarídeos, com ação comprovadamente muito maior do que os do leite 
de vaca. 
O que mais diferencia o leite de vaca do humano, e por isso mesmo mais 
transtornos pode causar ao ser humano, é a composição de proteínas e o 
desequilíbrio entre os minerais. 
As proteínas do leite humano são estruturais e qualitativamente diferentes das 
do leite de vaca. No leite humano, 80% do conteúdo proteico é de lacto 
albumina. No leite de vaca esta mesma proporção é de caseína. A relação 
proteína do soro/caseína do leite humano é de 80/20, a do leite bovino é 20/80. 
A baixa concentração de caseína no leite humano resulta em uma formação de 
coalho gástrico mais leve, de mais fácil digestão e com reduzido tempo de 
esvaziamento gástrico. Além disso, o leite bovino contém a beta lacto globulina, 
uma proteína que não existe em leite humano e é comprovadamente a mais 
alergênica do leite de vaca para o ser humano, principalmente por não termos 
enzimas que digerem esta proteína. 
Diversos estudos jádemonstraram existir mais de 25 frações proteicas 
alergênicas em leite de vaca. 
O leite humano também contém maiores quantidades de aminoácidos essenciais 
de alto valor biológico, como a cistina, e aminoácidos como a taurina que não 
tem em leite de vaca, e que são fundamentais para o crescimento e 
desenvolvimento do sistema nervoso central. Isto é particularmente fundamental 
para os prematuros que não possuem enzimas necessárias para a formação da 
taurina. 
O leite de vaca ainda possui 3 vezes mais proteína que o leite humano, sendo 
chamado por alguns estudiosos de “carne líquida” 14, porém acidificando o pH 
sanguíneo e sobrecarregando o rim, quando consumido em alta quantidade e, ao 
contrário do que se imagina, aumentando a excreção urinária de cálcio.

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