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Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832326072 Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica Pereira, A.; Lapa Esteves, M. AFERIÇÃO DO TESTE DE INTELIGÊNCIA PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL International Journal of Developmental and Educational Psychology, vol. 3, núm. 1, 2010, pp. 681-689 Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y Educativa de la Infancia, Adolescencia y Mayores Badajoz, España Como citar este artigo Número completo Mais informações do artigo Site da revista International Journal of Developmental and Educational Psychology, ISSN (Versão impressa): 0214-9877 fvicente@unex.es Asociación Nacional de Psicología Evolutiva y Educativa de la Infancia, Adolescencia y Mayores España www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto http://www.redalyc.org http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=349832326072 http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=3498&numero=32326 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832326072 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=3498 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349832326072 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=3498 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=3498 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=3498 http://www.redalyc.org http://www.redalyc.org/revista.oa?id=3498 PSICOLOGÍA POSITIVA: EDUCACIÓN Y DISCAPACIDAD International Journal of Developmental and Educational Psychology INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 681 RESUMO Segundo a descrição do DSM-IV-TR e a AAMR (Associação Americana de Deficiência Mental) Deficiência Mental é quando a pessoa tem um “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, auto-cuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades académicas, trabalho, lazer, saúde e segurança”. Este estudo prévio tem como objectivo fazer uma revisão teórica para posteriormente aferir e validar um Teste de Inteligência para Indivíduos com Deficiência Mental (TDM) na idade adulta. O TDM teve como base de construção a NEMI (Nova Escala Métrica de Inteligência) e adaptado para Q.I. até aos 10 anos de idade mental. A aplicação deste teste na prática clínica tem como objectivo a mensuração da idade mental de indivíduos com deficiência mental servindo como um instrumento de apoio à avaliação, diagnóstico e intervenção. Palavras-chave: Deficiência mental, inteligência, idade mental, avaliação psicológica, Teste de inteligência para indivíduos com deficiência mental. ABSTRACT According to the description of the DSM-IV-TR and the AAMR (American Association on Mental Deficiency) is retarded when the person has an “intellectual functioning significantly below average, accompanied by significant limitations in adaptive functioning in at least two of the following skill areas: communication, self-care, home living, social skills, interpersonal relationships, use of community resources, self-sufficiency, academic skills, work, leisure, health and safety. This study aims to assess and validate an Intelligence Test for Individuals with Mental Retardation (TDM) in adulthood, on the NEMI and adapted for QI up to 10 years of mental age. Applying this test in clinical practice aims to measure the mental age of individuals with disabilities serv- ing as a tool to support the assessment, diagnosis and intervention. Ã Ê Í ÊAFERIÇÃO DO TESTE DE INTELIGÊNCIA PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL Pereira, A.* & Lapa Esteves, M.** * Mestranda de Psicologia Clínica do Instituto Superior Miguel Torga. Coimbra. Portugal. Órgão Social da Associação Portuguesa de Brainspotting. Teléfono: 00351917804741 Correo Electrónico:angelamarina1984@hotmail.com ** Professora do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), Coimbra. Membro do Conselho Científico do ISMT. Investigadora do CEPESE/ISMT. Psicóloga Clínica. Doutorada em Desenvolvimento e Intervenção Psicológica pela UEX (Espanha). Membro da Associação de Psicanálise e Psicoterapias Psicanalíticas de Lisboa. Mestre de Reiki. Teléfono: 00351 96 602 75 93. Correo Electrónico: fatilapesteves@hotmail.com AFERIÇÃO DO TESTE DE INTELIGÊNCIA PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL International Journal of Developmental and Educational Psychology 682 INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 Keywords: Mental retardation, intelligence, mental age, psychological assessment, intelligence test for individuals with mental disabilities. INTRODUÇÃO A Avaliação Psicológica tem como objectivo a análise científica do indivíduo (ou grupo de indivíduos) numa perspectiva biopsicossocial, que se efectua partindo de um processo que envolve tomada de decisões. Este processo tem implícito a formulação de hipóteses, sendo estas, por sua vez, operacionalizadas através de um conjunto de procedimentos científicos e de recolha de informação tais como testes, entrevistas e questionários, escalas, entre outros. Por conseguinte, tais procedimentos compreendem a quantificação dos comportamentos e a consideração das características ou pro- priedades do(s) sujeito(s) em causa, bem como do seu contexto (Fernandez-Ballesteros, 2005). A avaliação psicológica constituiu um recurso evidente na obtenção de informações úteis para a planificação, implementação e medida da intervenção (Simões, 1983). Frequentemente, medir não constitui uma subjugação da qualidade a quantidade (Pinho, 2002) e, por isso, os testes psicológicos avaliam sistematicamente variáveis ou diversos predicados psicológicos que se pensa serem fundamentais na caracterização ou compreensão do indivíduo (Simões, 2000). Estes instrumentos devem apresentar um conjunto de garantias científicas, quer na sua construção, quer no seu uso (Fernandez-Ballesteros, 2005). Em Portugal, a avaliação psicológica e, principalmente, a avaliação da inteligência correspondem a uma parte substancial da tarefa dos psicólogos (Ribeiro, Almeida & Cruz, 1993, cit. por Seabra-Santos, 1998). De acordo como este autor, a avaliação psicológica tornou-se mais consistente e válida no nosso país a partir da década de 70 do sec. XX, com a aferição de dois importantes instrumentos de avaliação da inteligência: em 1970, a aferição portuguesa da Escala de Avaliação da Inteligência de Wechsler para crianças (WISC) por Ferreira Marques e, em 1976 e a aferição da Nova Escala Métrica da Inteligência (NEMI), por Bairrao Ruivo. Por conseguinte, objectivo primordial deste estudo é contribuir para que cada vez haja mais ferramentas para uma boa prática profissional em Portugal e, mais especificamente, contribuir para a evolução da avaliação da inteligência em indivíduos com deficiência mental. Ou seja, este trabalho tem como objectivo apresentar um projecto de investigação que contempla a aferição de um teste de inteligência para indivíduos com deficiência mental, que foi adaptado da NEMI. Para além disso, é importante referir, que a maioria dos instrumentos utilizados na avaliação da deficiência mental, estão adaptados para crianças e não para adultos. Muitos adultos com deficiência mental encontram-se institucionalizados ou em casa sem recursos a uma rede de apoios e sem possibilidades de integrarem projectos de reabilitação ou aquisição de competências que promovam mais a sua autonomia ou capacidades de realização de tarefas básicas do dia-a-dia. Com a aferição do teste em causa, não se pretende reduzir, rotular ou estigmatizar o individuo, pretende-se sim, criar um instrumento que sirva de apoio a avaliação de pessoas em idade adulta com deficiência mental que se enquadrem nas categorias treináveis e educáveis, para proporcionar-lhes assim a possibilidade de integrarem programas de aquisição de competências sociais, integração em actividades profissionais, aprenderemtarefas que promovam a sua autonomia e desenvolvimento pessoal, aumentando a sua qualidade de vida. DESENVOLVIMENTO Deficiência Segundo a Organização Mundial de Saúde, deficiência é toda a perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatómica. Refere-se, portanto, à biologia do ser humano (OMS, 2001). A expressão “pessoa com deficiência” pode ser atribuída a pessoas portadoras de qualquer tipo(s) de deficiência. Porém, em termos legais, esta mesma expressão é aplicada de um modo mais restrito e refere-se a pessoas que se encontram sob o amparo de determinada legislação. ÉÉ designado “deficiente” todo aquele que tem um ou mais problemas de funcionamento ou falta de parte anatómica, embargando com isto dificuldades a vários níveis: de locomoção, percepção, pensamento ou relação social (OMS.2001). As várias deficiências podem agrupar-se em quatro conjuntos distintos, sendo eles: deficiência visual, deficiência motora, deficiência mental e deficiência auditiva. “…[A] deficiência mental não representa um atributo da pessoa, mas um estado particular de funcionamento.” (Carvalho & Maciel, 2003, p. 150). Deficiência mental A partir do século XX começou-se a estabelecer uma definição para o Deficiente Mental e essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual, que seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à dificuldade de adaptação. Ao longo do tempo pensou-se na Deficiência Mental como uma condição em si mesma, um estado patológico bem definido, entretanto, na grande maioria das vezes a Deficiência Mental é uma condição mental relativa. A Deficiência Mental é um estado onde existe uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere o indivíduo. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente numa determinada cultura e não deficiente noutra, de acordo com a capacidade dessa pessoa satisfazer as necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo. Segundo critérios das classificações internacionais, o início da Deficiência Mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando-se como uma perturbação do desenvolvimento. De um modo geral, o funcionamento intelectual é definido pelo Quociente de Inteligência (Verdugo & Bemejo, 2001). Graus de deficiência mental Embora existam diferentes correntes para determinar o grau de deficiência mental, são as técnicas psicométricas que mais se impõem, utilizando o QI para a classificação desse grau. O conceito de QI foi introduzido por Stern e é o resultado da multiplicação por cem do quociente obtido pela divisão da IM (idade mental) pela IC (idade cronológica). Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a deficiência divide-se em quatro parâmetros: Profundo: São pessoas com uma incapacidade total de autonomia, ou seja, são dependentes dos outros em quase todas as funções e actividades, pois os seus handicaps físicos e intelectuais são gravíssimos; têm grandes problemas sensório-motores e de comunicação, bem como de comunicação com o meio; têm um coeficiente intelectual inferior a 10, inclusive aquelas que vivem num nível vegetativo. Agudo Grave: Fundamentalmente são pessoas que necessitam que se trabalhe para instaurar alguns hábitos de autonomia, já que há probabilidade de adquiri-los. A sua capacidade de comunicação é muito primária. Podem aprender de uma forma linear e necessitam de revisões constantes. Moderado: São capazes de adquirir hábitos de autonomia pessoal e social; podem aprender a comunicar pela linguagem oral, mas apresentam dificuldades na expressão e compreensão oral; apresentam um desenvolvimento motor aceitável e têm possibilidade para adquirir alguns conhecimentos pré-tecnológicos básicos que lhes permitam realizar algum trabalho; dificilmente chegam a dominar as técnicas de leitura, escrita e cálculo; Leve: São educáveis; podem chegar a realizar tarefas mais complexas; a sua aprendizagem é mais lenta, mas podem permanecer em classes comuns embora precisem de um acompanhamento especial; podem desenvolver aprendizagens sociais e de comunicação e têm capacidade para se adaptar e integrar no mundo laboral; apresentam atraso mínimo nas áreas perceptivas e motoras; geralmente não apresentam problemas de adaptação ao ambiente familiar e social (Verdugo & Bermejo, 2001; OMS,2001). International Journal of Developmental and Educational Psychology INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 683 PSICOLOGÍA POSITIVA: EDUCACIÓN Y DISCAPACIDAD O sistema qualitativo de classificação da Deficiência Mental reflecte o facto de que muitos deficientes não apresentam limitações em todas as áreas das habilidades adaptativas, portanto, nem todos precisam de apoio nas áreas que não estão afectadas. Não devemos supor, de antemão, que as pessoas mentalmente deficientes não possam aprender a ocupar-se de si mesmos. Felizmente a maioria das crianças deficientes mentais pode aprender muitas coisas, chegando à vida adulta de uma maneira parcialmente e relativamente independente e, mais importante, tendo uma qualidade de vida satisfatória. Também é importante salientar que pessoas com deficiência mental, que não tiveram oportunidade na infância/adolescência de adquirir as competências acima referidas, podem, actualmente, integrarem programas de reabilitação, tendo em vista o aumento da sua autonomia. CLASSIFICAÇÃO BASEADA NA CAPACIDADE FUNCIONAL E ADAPTATIVA Dependentes: geralmente QI abaixo de 25; casos mais graves, nos quais é necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas contínuas melhoras quando a pessoa e a família estão bem assistidas. Treináveis: QI entre 25 e 75; são pessoa que se colocadas em classes especiais poderão treinar várias funções, como disciplina, hábitos higiénicos, etc. Poderão aprender a ler e a escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita compreensão e afecto e com metodologia de ensino adequada. Educáveis: QI entre 76 e 89; a inteligência é dita “limítrofe ou lenta” e estas pessoas podem per- manecer em classes comuns, embora necessitem de acompanhamento psicopedagógico especial. (DSM-IV-TR, 2002) Incidência Segundo a Organização Mundial de Saúde, 10% da população em países em desenvolvimento, são portadores de algum tipo de deficiência, sendo que metade destes são portadores de Deficiência Mental, propriamente dita. Calcula-se que o número de pessoas com deficiência mental guarda relação com o grau de desenvolvimento do país em questão e, segundo estimativas, a percentagem de jovens de 18 anos que sofrem deficiência mental grave situa-se em torno de 4,6%, nos países em desenvolvimento, e entre 0,5 e o 2,5% nos países desenvolvidos (OMS,2001). Os efeitos da Deficiência Mental entre as pessoas são diferentes. Aproximadamente o 87% dos portadores tem limitações apenas leves das capacidades cognitivas e adaptativas e a maioria deles pode chegar a levar as suas vidas independentes e perfeitamente integrados na sociedade. Os 13% restantes pode ter sérias limitações, mas em qualquer caso, com a devida atenção das redes de serviços sociais, também podem integrar-se na sociedade (OMS,2001). Inteligência: O conceito de inteligência tem sido um tema controverso na psicologia, sendo definido de maneira diferente, por vários autores. Muitos autores relacionam a inteligência a características biológicas dos indivíduos, a processos cognitivos, a construtos teóricos, tais como traço latente, e a fenómenos relacionados ao desempenho de tarefas complexas em componentes cognitivos. Relativamente ao desempenho de tarefas e componentes cognitivas, não se encontra na literatura consenso sobre o nível de análise mais adequado, podendo este ser baseado em componentes elementares de processamento de informação (Newell & Simon, 1972), componentes cognitivos menos elementares num nível de análise um pouco mais amplo (Sternberg, 1977), ou em estruturas cognitivas maiores (Piaget, 1952). Os fenómenosrelacionados ao conceito de inteligência têm sido também abordados, há muito tempo, pela psicometria, deixando margem para divergências teóricas. Nas teorias mais recentes o conceito tem sido interpretado como um traço latente, cuja “natureza ontológica”, deixa dúvidas se o termo é concebido como um rótulo, representando uma síntese hipotética de um conjunto de comportamentos reais, ou como uma realidade mental” (Pasquali, 1996). International Journal of Developmental and Educational Psychology 684 INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 AFERIÇÃO DO TESTE DE INTELIGÊNCIA PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL Independentemente da interpretação sobre a natureza do conceito de inteligência, as teorias psicométricas apresentam ainda concepções controversas com respeito à unidade do conceito. Mediante esta perspectiva, podem ser encontradas na literatura duas concepções diferentes: (a) inteligência interpretada como um factor geral (factor g), que atravessaria o nível de todas as realizações do indivíduo; e (b) inteligência como um conjunto de factores específicos, que indicariam níveis diferentes de aptidões diversas (podendo incluir ou não as aptidões ligadas ao conhecimento). Apesar das diversas formas de teorizar o conceito de inteligência, a sua definição também é influenciada por diferenças culturais, tendo em vista que as noções sobre o conceito variam de acordo com a cultura. Enquanto a cultura norte-americana enfatiza principalmente aspectos cognitivos da inteligência, algumas subculturas africanas, por exemplo, dão maior ênfase a habilidades sociais (cf. Sternberg & Kaufman, 1998). Esta ambiguidade na forma de interpretar o conceito em diferentes culturas e subculturas pode ter responsabilidade na controvérsia que existe relativamente à utilização dos testes, cujos resultados fundamentaram discriminações raciais, étnicas, e sexuais, principalmente nos Estados Unidos (Suzuki & Valencia, 1997). Contudo, Chaplin (1981), no Dicionário de Psicologia, caracteriza a inteligência como “capacidade de enfrentar situações novas e de se adaptar a elas de uma forma rápida e eficiente”, “capacidade de utilizar, com eficácia, conceitos abstractos” e “capacidade de fazer relacionações e aprender rapidamente”. Neste sentido, podemos falar de uma inteligência prática, social e conceptual. A inteligência prática revela-se ao nível da actividade concreta e envolve a manipulação de objectos; manifesta-se através da invenção, do fabrico e utilização de objectos; é ela que nos permite encontrar respostas concretas para os problemas que nos surgem no quotidiano e para tal recorre à manipulação e mobilização de representações perceptivas e às acções. A inteligência social está na base dos comportamentos sociais e manifesta-se na vida relacional e social através da capacidade de resolução de problemas interpessoais e recorre, essencialmente, à intuição. A inteligência conceptual, racional ou abstracta, manifesta-se, principalmente, na capacidade verbal e simbólica, pressupondo o recurso da linguagem e de outros sistemas simbólicos; é observável a partir da capacidade de compreensão, raciocínio, resolução de problemas e tomadas de decisão. CARACTERIZAÇÃO DA NEMI (NOVA ESCALA MÉTRICA DA INTELIGÊNCIA) A avaliação psicológica, em geral, e os testes de inteligência/habilidades cognitivas, em particular, constituem um dos principais contributos científicos da psicologia. Com efeito, a compreensão dos factores internos e externos do desenvolvimento e do comportamento humano sai beneficiada com o recurso a instrumentos apropriados para a sua avaliação. As diferenças individuais, que todos per- cepcionamos, são melhor definidas através de procedimentos e de instrumentos válidos de avaliação psicológica (Simões, 2000). A escala que deu origem à NEMI foi a Escala de Inteligência Binet-Simon que era constituída por 30 itens, distribuídos por ordem crescente de dificuldade e dirigida a crianças dos 3 aos 12 anos (Richardson, 1991). Os itens estavam agrupados de acordo com a proporção de acertos das crianças por faixas etárias. Com este procedimento, surge a noção de “Idade Mental” que, associada à noção de “Idade Cronológica” permite o cálculo do QI (QI de razão). Com a revisão da Escala de Inteligência de Binet-Somon por Zazzo em 1949 e 1966, surgiu a Nova Escala Métrica da Inteligência (NEMI). O trabalho de Binet teve bastante impacto na psicologia. Uma definição assente nas funções cognitivas superiores conduziu à inclusão de tais funções nos itens das escalas de avaliação da inteligência. Por sua vez, a perspectiva integral do desenvolvimento e do funcionamento cognitivo do indivíduo justifica a opção por medidas globais do potencial cognitivo, como por exemplo o Q.I. (Anastasi, 1990). Assim, esta escala supõe a avaliação de uma inteligência compósita, integrando de forma harmónica, um conjunto heterogéneo de funções cognitivas. International Journal of Developmental and Educational Psychology INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 685 PSICOLOGÍA POSITIVA: EDUCACIÓN Y DISCAPACIDAD A NEMI é constituída por 74 itens organizados por ordem crescente de dificuldade, tendo como objectivo medir a idade mental. É composta pelas seguintes subescalas: vocabulário, fluência verbal, inteligência de realização, cálculo, semelhanças, puzzles, lógica de 1º e 2º grau, raciocínio lógico matemático, comparações, inversões numéricas, noções espácio-temporais, lateralidade, juízo moral, sentido estético, imagem corporal, séries numéricas, emparelhamento e semelhanças. TESTE DE INTELIGÊNCIA PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL O teste que pretendo aferir, foi construído pelo Dr. Paulo Santos, Psicólogo Clínico, tendo em vista a avaliação de pessoas com deficiência mental. Para a sua construção o Dr. Paulo baseou-se na NEMI, sendo que contem 40 itens e está adaptado para uma idade mental até aos 10 anos. As componentes que avalia, à semelhança da NEMI são: vocabulário, fluência verbal, inteligência de realização, cálculo, semelhanças, puzzles, lógica de 1º e 2º grau, raciocínio lógico matemático, comparações, inversões numéricas, noções espácio-temporais, lateralidade, juízo moral, sentido estético, imagem corporal, séries numéricas e emparelhamento. CONCLUSÃO De acordo com Gonçalves et al (2003), a avaliação psicológica constitui um momento extremamente importante no exercício da Psicologia em inúmeros contextos. Actualmente, verifica-se uma escassez de instrumentos adaptados para a população portuguesa bem como para subgrupos específicos, o que se traduz numa enorme dificuldade na avaliação de constructos referenciados na literatura e essenciais na prática psicológica. Este aspecto obriga a que os psicólogos portugueses utilizem estratagemas inquietantes e recorram por vezes ao uso de instrumentos e a normas de outros países, ainda que se reconheçam diferenças culturais profundas. A Inteligência representa um dos constructos mais estudados em Psicologia e, consequentemente, um dos mais avaliados. De extrema importância no desenvolvimento do sujeito, representa um elemento fundamental para a compreensão do seu funcionamento. Assim sendo, este trabalho surgiu com o intuito de contribuir neste campo, possibilitando que outros instrumentos mundialmente usados na avaliação de sujeitos com deficiência mental possam ser integrados em estudos portugueses. INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA Geralmente o papel da Psicologia face aos indivíduos portadores de Deficiência Mental passa pelas actividades de triagem e avaliação, ou seja tende a centra-se no estabelecimento do diagnóstico e encaminhamento para serviços adequados (Glat, 1999). Contudo, a actuação do psicólogo pode e deve ser muito mais ampla (Alonso & Bermejo, 2001; Glat, 1999). Para além da avaliação do indivíduo, diagnóstico e quantificação do grau do desvio, o Psicólogo pode definir estratégias que promovam o crescimento interno, a autonomia e a independência pessoal. Deve também promover o desenvolvimento de condutase competências que fomentem a adaptação às normas sociais e, consequentemente, a integração social e profissional (Glat, 1999). A promoção da saúde mental, a intervenção face a perturbações psicológicas que coexistam, o apoio na construção da identidade pessoal e de um projecto de vida constituem, igualmente, aspectos importantes e estratégias a implementar. Neste campo será exploradas as estratégias psicológicas que podem ser utilizadas na intervenção com indivíduos portadores de Deficiência Mental, no entanto, deve salientar-se que o público-alvo da intervenção do Psicólogo estende-se à família, professores, assim como, aos demais profissionais envolvidos no processo terapêutico. International Journal of Developmental and Educational Psychology 686 INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 AFERIÇÃO DO TESTE DE INTELIGÊNCIA PARA INDIVÍDUOS COM DEFICIÊNCIA MENTAL É Ã ÓESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA: Desenvolvimento de processos de avaliação psicológica A avaliação psicológica, de um modo geral, é um processo de resposta a questões, procurando-se a aquisição e integração de informação relevante relativa às diferentes dimensões da pessoa avaliada (afectiva, social, pedagógica, cognitiva, etc), com recurso a diversos métodos e instrumentos, a vários agentes ou fontes de informação (Simões, 1994). Esta pode ser utilizada em diversos contextos ou áreas (educação, clínica/saúde, forense, trabalho/organizações, entre outras) e com diferentes populações (distúrbios do comportamento, distúrbios emocionais, distúrbios do desenvolvimento, situações de risco, etc), assumindo especificidades em cada uma delas. Os principais objectivos da avaliação psicológica remetem-se ao: Diagnóstico; Análise com- preensiva do funcionamento actual da pessoa (das capacidades, dos problemas ou dificuldades); Planeamento da intervenção (baseando-se nos recursos e dificuldades identificados no sujeito); Medida da eficácia das intervenções. Embora sofra variações de caso para caso, os principais domínios a avaliar são o cognitivo, o do comportamento adaptativo, emocional e o do desenvolvimento. Terapia comportamental e terapia cognitivo-comportamental A terapia comportamental baseia-se, em grande parte, nos princípios das teorias da aprendizagem e tem como principal objectivo a análise e modificação dos comportamentos (Knopf, 1984; Barroqueiro, 2002). Procura ajudar a “eliminar” comportamentos não adaptados ou indesejados, substituindo-os por comportamentos adaptados. Enfatiza a importância dos comportamentos actuais em detrimento dos comportamentos passados; fixa-se sobretudo no ambiente e nos comportamentos observáveis. Compromete-se com o rigor científico ao estabelecer objectivos e metas claramente definidos (Barroqueiro, 2002). Pode ser aplicada a indivíduos portadoras de Deficiência Mental de todas as faixas etárias (Beirne-Smith et al, 2002). Reabilitação cognitiva Na Deficiência Mental, o domínio cognitivo encontra-se significativamente afectado. A reabilitação cognitiva nestes casos assume especial relevância. Esta consiste num “conjunto de técnicas específicas utilizadas para melhorar o funcionamento de certas áreas cognitivas, tendo como objectivo promover a qualidade de vida” (Medalia & Revheim, 2007). Perante défices cognitivos pode-se intervir de três formas: usando técnicas remediadoras, estratégias compensatórias ou adaptativas. Estas abordagens podem ser utilizadas individualmente ou associadas; a sua selecção é feita partindo dos pontos fortes e fracos da pessoa. Treino de competências sociais A realização de programas ou actividades centradas na aprendizagem de competências sociais são técnicas utilizadas no desenvolvimento psicossocial do Deficiente Mental. Por conseguinte, a Psicologia tem um papel fundamental na estimulação de competências de interacção social necessárias para estabelecer e manter relações (pedir ajuda e conselho aos outros quando necessário, resistir à frus- tração, responder adequadamente a críticas, expressar adequadamente os sentimentos e afectos, demonstrar desacordo em relações a opiniões e actuações de outrem, gerir conflitos. Promoção do bem-estar psicológico Apoiar a pessoa no seu processo de auto-conhecimento, a saber mais acerca dos seus sentimentos, pensamentos, projecto de vida; a desenvolver a auto-estima e auto-confiança. Ludoterapia Visto que na deficiência mental estão comprometidas competências como a comunicação e a International Journal of Developmental and Educational Psychology INFAD Revista de Psicología, Nº3, 2010. ISSN: 0214-9877. pp:681-689 687 PSICOLOGÍA POSITIVA: EDUCACIÓN Y DISCAPACIDAD linguagem, e que a ludoterapia é uma técnica que diminui a necessidade de comunicação verbal, esta torna-se importante para a reabilitação destes indivíduos. Através de actividades lúdicas (mais ou menos estruturadas), a pessoa pode exprimir sentimentos, tensões, medos (forma de expressão); melhorar o controlo dos impulsos; desenvolver as competências de relação interpessoal; a capacidade de tomar decisões, etc. ACONSELHAMENTO O aconselhamento consiste numa relação de ajuda que tem como objectivo promover uma adaptação mais adequada, da pessoa, face às suas dificuldades ou problemas de índole diversa, tentando optimizar os seus recursos pessoais. A pessoa expõe o seu problema no sentido de obter ajuda para o definir com clareza e/ou escolher a solução mais adequada. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Albuquerque, M. C. (2000). A criança com deficiência mental ligeira. Lisboa: Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência. Alonso, M. A. & Bermejo, B. G. (2001). Atraso mental. Adaptação social e problemas de comportamento (tradução de T. Gonçalves). Lisboa: McGraw – Hill. American Psychiatric Association. (2002). DSM-IV-TR (4 ed.). Lisboa: Climepsi Editores. Anastasi, A. (1990). Psychological testing. New York: MacMillan. Barroqueiro, M. H. (2002). Terapia comportamental e a sua aplicação em reabilitação. Análise Psicológica, 3, 495-503. Beirne-Smith, M., Ittenbach, R. F. & Patton, J. R. (2002). Mental retardation (6ªed.). New Jersey: Prentice-Hall. Carvalho, E. & Maciel, D. (2003). Nova concepção de deficiência mental segundo a American Association on Mental Retardation - AAMR: sistema 2002. 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