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CADERNO DE DIREITO DO CONSUMIDOR Obras Consultadas: Lei 8.078/90 Manual de Direito do Consumidor. BENJAMIN, Antônio Herman V. Benjamin; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Garcia, Leonardo de Medeiros. Código de Defesa do Consumidor Comentado: artigo por artigo A Constituição Federal de 1988 adotou como princípio fundamental, estampado no art. 5°, XXXII, "a defesa do consumidor". A defesa do consumidor como direito fundamental na CF vincula o Estado e todos os demais operadores a aplicar e efetivar a defesa deste ente vulnerável, considerado mais fraco na sociedade. A defesa do consumidor não é incompatível com a livre iniciativa e o crescimento econômico. Ambos estão previstos como princípios da ordem econômica constitucional, de acordo com o disposto no art. 170 da CF. Com isso, o Código de Defesa do Consumidor procura compatibilizar a defesa do consumidor com a livre iniciativa. As normas contidas no CDC são de ordem pública e interesse social, sendo, portanto, cogentes e inderrogáveis pela vontade das partes. O Código de Defesa do Consumidor tem eficácia supralegal, ou seja, está em um ponto hierárquico intermediário entre a Constituição Federal de 1988 e as leis ordinárias. Princípios e direitos básicos da Lei no 8.078/90. Os princípios do CDC estão no art. 4o e os direitos básicos do consumidor estão listados no art. 6o. Mencionam-se abaixo os dispositivos legais com algumas explicações ou jurisprudências do STJ. Quanto aos PRINCÍPIOS (art. 4°), tem-se: 1. reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo (STJ): “O ponto de partida do CDC é a afirmação do Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor, mecanismo que visa a garantir igualdade formal-material aos sujeitos da relação jurídica de consumo – Resp 586316. Todo consumidor é vulnerável, mas nem todo consumidor é hipossuficiente, característica que depende de análise casuística). 2. ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor. 3. harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica, sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores (sobre a boa-fé, é importante conhecer o princípio duty to mitigate de loss, reconhecido pelo STJ no REsp 758518, que significa o dever anexo do credor de mitigar o próprio prejuízo); 4. educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; 5. incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; 6. coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; 7. racionalização e melhoria dos serviços públicos; 8. +estudo constante das modificações do mercado de consumo. Relação jurídica de consumo – Segundo Maria Helena Diniz, citando Del Vecchio: “a relação jurídica consiste num vínculo entre pessoas, em razão do qual uma pode pretender um bem a que outra é obrigada. Tal relação só existirá quando certas ações dos sujeitos, que constituem o âmbito pessoal de determinadas normas, forem relevantes no que atina ao caráter deôntico das normas aplicáveis à situação. Só haverá relação jurídica se o vínculo entre pessoas estiver normado, isto é, regulado por norma jurídica, que tem por escopo protegê-lo” Só existe se houver um consumidor e um fornecedor. Toda relação jurídica possui: 1) Elementos - Sujeito (Consumidor e fornecedor) - Objeto (Produto ou serviço) - Vínculo Jurídico 2) Conceitos de consumidor ● Consumidor Padrão Standard (art 2º, CAPUT) Pode ser pessoa natural ou jurídica Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. ● Destinatário final - Teorias de quem é o destinatário final · Maximalista – Amplia o conceito de consumidor É O DESTINATÁRIO FÁTICO, AQUELE QUE ADQUIRE OU UTILIZA O PRODUTO E PÕE FIM A CADEIA DE PRODUÇÃO. (Não é a teoria aceita pelo STJ, críticas: a tutela do consumidor é para proteger o vulnerável se amplia demais e acaba protegendo quem não precisa.) · Finalista – Além de retirar o produto do mercado ele não pode utilizar o produto para fins profissionais (DESTINATÁRIO ECONÔMICO) Se for para fins profissionais segundo esta teoria não é considerado consumidor. · Finalista Mitigada – Resp 476428/SC Esta é a teoria que prevalece hoje no STJ. Pode ser aplicado quando ainda que o destinatário não seja econômico, utilize para fins profissionais, se ficar demonstrado vulnerabilidade no caso. Precisa ser destinatário FÁTICO. A teoria aceita hoje é do destinatário fático ou econômico (nesse caso para fins profissionais desde que fique comprovado sua vulnerabilidade) 3) Conceito de Fornecedor O conceito de fornecedor está previsto no artigo 3o do CDC, que dispõe no seu caput que fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. O conceito de fornecedor, como se vê, é tremendamente abrangente. Para se reconhecer alguém como fornecedor a chave é a expressão “desenvolvem atividade”, ou seja, somente será fornecedor quem pratica determinada atividade com habitualidade. Este é o elemento que, se ausente, elimina a condição de fornecedor. Se a prestação do serviço ou a venda do produto não for atividade profissional do prestador ou vendedor, não há relação de consumo. Por exemplo, o vendedor de carros profissional é claramente fornecedor, regulado pelo CDC (mesmo se informal, empresário irregular); a agência de viagens que vende seu próprio carro, contudo, não é fornecedor, sendo por isso a relação regida pelas regras da compra e venda do CC (STJ, AGA 150829/DF). Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. - Profissionalidade/Habitualidade - Pode ser: · Pessoa natural (Profissional Liberal) / Jurídica · Nacional ou estrangeira · Ente Despersonalizado (Espólio, Massa falida, Condomínio, Camelôs, Sociedade incomum, sociedade irregular.) · Pública ou Privado - Natureza Econômica da atividade - Fornecedor Equiparado – Estatuto do torcedor (Lei 10671/03 art. 3º) Fornecedor equiparado: ampliação do campo de aplicação do CDC, por meio de visão alargada doart. 3o do CDC. Segundo Leonardo Bessa, o terceiro intermediário na relação de consumo principal, que atua frente a um consumidor como se um fornecedor fosse, deve assim ser considerado. Ex.: bancos de dados. Art. 3o Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo. 4) Produto e serviço - Artigo 3º parágrafo 1º § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. - Artigo 3º, parágrafo 2º § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. - Remuneração ● Direita (pagou diretamente pelo produto) ● Indireta (ex. estacionamento gratuito em shopping, o custo não está no estacionamento, mas está diluído na compra dos produtos.) (ex.2. transporte gratuito para maiores de 65 anos, há relação de consumo mesmo que não tenha pagado pelo transporte, ela não paga, mas outras pessoas estão pagando por ela através de impostos. Outros exemplos: facebook, instagram.) 5) Serviço Público (Art. 22, CDC) Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. - Serviços ● UTI Singuli (Serviços prestados de forma singular ou individual) ● UTI Universa (Serviços prestados de forma universal, predomina o entendimento que não é uma relação de consumo) - Interrupção do serviço - Continuidade do serviço público - Possível a interrupção (Lei 8987-Art. 6º) Por isso, a jurisprudência do STJ segue no sentido de haver necessidade de prévia notificação antes da realização de corte de energia elétrica, considerando serviço público essencial. A aplicação do Código de Defesa do Consumidor não ocorre de maneira indiscriminada a todos os usuários dos serviços públicos, porquanto nem todos se inserem no conceito de consumidor, vulnerável e destinatário final do produto, como exemplo, postos de venda de gás natural canalizado a veículos. A esses somente se aplica o direito subjetivo público à efetiva prestação do serviço adequado, previsto no art. 6o da Lei no 8.987/1995. Obs. as pessoas jurídicas de direito público também podem ser consumidoras. Desde que vulneráveis na relação jurídica, pode-se considerar um determinado município, estado ou até a União como consumidora. O STJ já analisou a vulnerabilidade de um município para concluir pela aplicabilidade ou não do CDC. Direitos básicos do consumidor (Art. 6º, CDC) São DIREITOS BÁSICOS do consumidor (art. 6°): 1. a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; 2. a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; 3. a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; 4. a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; 5. a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas (teoria da quebra da base objetiva, que não se confunde com a teoria da imprevisão prevista no CC); 6. a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (reparação integral); 7. o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; 8. a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências (prevalece hoje que se trata de regra de procedimento, para evitar a surpresa, deve o juiz, de preferência no saneamento, declarar a inversão do ônus da prova); 9. a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. 6) Responsabilidade Civil no CDC O CDC adota a responsabilidade objetiva do fornecedor (fabricante, produtor, construtor e importador). A ocorrência da culpa é irrelevante e sua verificação é desnecessária, pois não interfere na responsabilização. Basta ao consumidor demonstrar o evento danoso, o dano e o nexo causal. Todavia, o CDC estabelece que os profissionais liberais somente respondem mediante a verificação da culpa (art. 14, § 4o). Tal se dá em razão de tais profissionais não se comprometerem a alcançar os resultados pretendidos pelos clientes, mas sim a usar as melhores técnicas e a diligência regular (obrigação de meio). Obs.: nas obrigações de resultado de profissionais liberais, como a cirurgia plástica, a responsabilidade continua sendo subjetiva mas há a presunção de culpa, com inversão do ônus da prova. Responsabilidade por Fato ou Vício Requisitos: Conduta (Comissiva ou Omissiva), Dano (Moral, Material), Nexo de Causalidade (A relação de causa e efeito) e Culpa. Análise comparativa com o CC Modalidades: 1. Fato – Acidente de consumo, violação a segurança ou saúde do consumidor. a. Produto b. Serviço 1. Vício a. Produto b. Serviço · Regras: Responsabilidade Objetiva e Solidária Na responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (responsabilidade por acidentes de consumo) não há, em regra, responsabilidade do comerciante, pois este não tem interferência quanto aos aspectos intrínsecos dos produtos que comercializa, porém, o comerciante passa a integrar a cadeia de responsabilidade (chamamento subsidiário) nos seguintes casos (art. 13, I, II e III): a) Quando o fornecedor não puder ser identificado; b) Quando o produto for fornecido sem a identificação clara; c) Quando não conservar adequadamente produtos perecíveis. A doutrina (Benjamin) entende que, em todos esses casos há responsabilidade solidária do comerciante, pois sua inclusão visa favorecer o consumidor. Exclusão da responsabilidade (art. 12 § 3°): a) Prova de que o fornecedor não colocou o produto no mercado ou não executou o serviço; b) O defeito inexiste: se o dano não decorre do defeito não há obrigação de indenizar; c) Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro: é o uso negligente ou anormal do produto. A culpa concorrente não exclui a responsabilidade do fornecedor, mas reduz o quantum indenizatório. Também o caso fortuito ou a força maior excluem a responsabilidade por quebrarem a relação de causalidade entre o defeito e o dano. O CDC não trouxe esta hipótese, mas também não a negou, demodo que Benjamin entende não ter sido afastado, neste ponto, o sistema tradicional de responsabilização civil. São considerados consumidores todas as vítimas do evento, os chamados bystanders, que não adquiriram o produto ou serviço, mas foram atingidos por seus defeitos (art. 17). Responsabilidade pelo vício do Produto ou Serviço. O vício do produto ou serviço não traz potencialidade danosa, mas refere-se a anomalias que afetam a sua funcionalidade. Concerne aos produtos e serviços que se revelam inadequados às suas finalidades, porque contêm vícios de quantidade ou qualidade. Procura-se resguardar o patrimônio do consumidor dos prejuízos relacionados com a falta de conformidade ou qualidade dos produtos ou serviços. A responsabilidade por vício é aquela atribuída ao fornecedor por anormalidades que, sem causarem riscos à saúde e à segurança do consumidor, afetam a funcionalidade do produto ou do serviço nos aspectos qualidade e quantidade, tornando- os impróprios ou inadequados ao consumo ou lhes diminuindo o valor. Não sendo sanado o vício em trinta dias, o consumidor poderá exigir: a) Substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso; b) A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos (redibição); c) Abatimento proporcional do preço. Sendo impossível a substituição do produto, o consumidor poderá exigir a substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, complementando o pagamento ou obtendo restituição da diferença. Se o vício referir- se à quantidade o consumidor poderá ainda exigir a complementação do peso ou medida (art. 19, II). QUESTÕES (OAB XXVIII) Mara adquiriu, diretamente pelo site da fabricante, o creme depilatório Belle et Belle, da empresa Bele Cosméticos Ltda. Antes de iniciar o uso, Mara leu atentamente o rótulo e as instruções, essas unicamente voltadas para a forma de aplicação do produto. Assim que iniciou a aplicação, Mara sentiu queimação na pele e removeu imediatamente o produto, mas, ainda assim, sofreu lesões nos locais de aplicação. A adquirente entrou em contato com a central de atendimento da fornecedora, que lhe explicou ter sido a reação alérgica provocada por uma característica do organismo da consumidora, o que poderia acontecer pela própria natureza química do produto. Não se dando por satisfeita, Mara procurou você como advogado(a), a fim de saber se é possível buscar a compensação pelos danos sofridos. Nesse caso de clara relação de consumo, assinale a opção que apresenta a orientação a ser dada a Mara. a) Poderá ser afastada a responsabilidade civil da fabricante, se esta comprovar que o dano decorreu exclusivamente de reação alérgica da consumidora, fator característico daquela destinatária final, não havendo, assim, qualquer ilícito praticado pela ré. b) Existe a hipótese de culpa exclusiva da vítima, na medida em que o CDC descreve que os produtos não colocarão em risco a saúde e a segurança do consumidor, excetuando aqueles de cuja natureza e fruição sejam extraídas a previsibilidade de riscos perceptíveis pelo homem médio. c) O fornecedor está obrigado, necessariamente, a retirá-lo de circulação, por estar presente defeito no produto, sob pena de prática de crime contra o consumidor. d) Cuida-se de hipótese de violação ao dever de oferecer informações claras ao consumidor, na medida em que a periculosidade do uso de produto químico, quando composto por substâncias com potenciais alergênicos, deve ser apresentada em destaque ao consumidor. (Não houve erro no manuseio do produto, o que não é caso de excludente da responsabilidade do fornecedor (art. 12, §3º, inciso III do CDC).O fornecedor deixou de cumprir com sua obrigação com seu dever de informar OSTENSIVAMENTE, principalmente por haver potencial reagente químico (art. 9º do CDC + art. 12, §1º, II + art. 6º, inciso III do CDC) (TJGO-2012-FCC): O Código de Defesa do Consumidor estabelece normas de defesa e de proteção do consumidor, de ordem pública e de interesse social, regulamentando normas constitucionais a respeito. R- CERTO art. 1º, CDC. (MPMG-2018): É possível a incidência do CDC, nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), apesar de não ser a destinatária final do produto ou serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade. R - ERRADO art. 2º, CDC. Exame OAB XXII 1) Alvina, condômina de um edifício residencial, ingressou com ação para reparação de danos, aduzindo falha na prestação dos serviços de modernização dos elevadores. Narrou ser moradora do 10º andar e que hospedou parentes durante o período dos festejos de fim de ano. Alegou que o serviço nos elevadores estava previsto para ser concluído em duas semanas, mas atrasou mais de seis semanas, o que implicou falta de elevadores durante o período em que recebeu seus hóspedes, fazendo com que seus convidados, todos idosos, tivessem que utilizar as escadas, o que gerou transtornos e dificuldades, já que os hóspedes deixaram de fazer passeios e outras atividades turísticas diante das dificuldades de acesso. Sentindo-se constrangida e tendo que alterar todo o planejamento de atividades para o período, Alvina afirmou ter sofrido danos extrapatrimoniais decorrentes da mora do fornecedor de serviço, que, ainda que regularmente notificado pelo condomínio, quedou-se inerte e não apresentou qualquer justificativa que impedisse o cumprimento da obrigação de forma tempestiva. Diante da situação apresentada, assinale a afirmativa correta. A) Existe relação de consumo apenas entre o condomínio e o fornecedor de serviço, não tendo Alvina legitimidade para ingressar com ação indenizatória, por estar excluída da cadeia da relação consumerista. B) Inexiste relação consumerista na hipótese, e sim relação contratual regida pelo Código Civil, tendo a multa contratual pelo atraso na execução do serviço cunho indenizatório, que deve servir a todos os condôminos e não a Alvina, individualmente. C) Existe relação de consumo, mas não cabe ação individual, e sim a perpetrada por todos os condôminos, em litisconsórcio, tendo como objeto apenas a cobrança de multa contratual e indenização coletiva. D) Existe relação de consumo entre a condômina e o fornecedor, com base da teoria finalista, podendo Alvina ingressar individualmente com a ação indenizatória, já que é destinatária final e quem sofreu os danos narrados. EXAME XX – REAPLICAÇÃO SALVADOR-BA 2) Inês, pretendendo fazer pequenos reparos e manutenção em sua residência, contrai empréstimo com essa finalidade. Ocorre que, desconfiando dos valores pagos nas prestações, procura orientação jurídica e ingressa com ação revisional de cédula de crédito bancário, questionando a incidência de juros remuneratórios, ao argumento de serem mais altos que a média praticada no mercado. Requereu a inversão do ônus da prova e, ao final, a procedência do pedido para determinar a declaração de nulidade da cláusula. A respeito desta situação, é correto afirmar que o Código de Defesa do Consumidor A. não é aplicável na relação jurídica entreInês e a instituição financeira, motivo pelo qual o questionamento deve seguir a ótica dos direitos obrigacionais previstos no Código Civil, o que inviabiliza a inversão do ônus da prova. B. é aplicável na relação jurídica entre Inês e a instituição financeira, cabível a inversão do ônus da prova, se preenchidos os requisitos legais e, em caso de nulidade da cláusula, todo contrato será declarado nulo, tendo em vista que prática abusiva é questão de ordem pública. C. é aplicável na relação jurídica entre Inês e a instituição financeira, cabível a inversão do ônus da prova caso a consumidora comprove preenchimento dos requisitos legais, sendo certo que a declaração de nulidade da cláusula não invalida o contrato, salvo se importar em ônus excessivo para o consumidor, apesar dos esforços de integração. D. não é aplicável na relação jurídica entre Inês e a instituição financeira, motivo pelo qual o questionamento orienta-se pela norma especial de direito bancário, em prejuízo da inversão do ônus da prova pleiteado, ainda que formalmente estivessem cumpridos os requisitos legais. Exame de Ordem XXV Questão 45 Eloá procurou o renomado Estúdio Max para tratamento de restauração dos fios do cabelo, que entendia muito danificados pelo uso de químicas capilares. A proposta do profissional empregado do estabelecimento foi a aplicação de determinado produto que acabara de chegar ao mercado, da marca mundialmente conhecida Ops, que promovia uma amostragem inaugural do produto em questão no próprio Estúdio Max. Eloá ficou satisfeita com o resultado da aplicação pelo profissional no estabelecimento, mas, nos dias que se seguiram, observou a queda e a quebra de muitos fios de cabelo, o que foi aumentando progressivamente. Retornando ao Estúdio, o funcionário que a havia atendido informou-lhe que poderia ter ocorrido reação química com outro produto utilizado por Eloá anteriormente ao tratamento, levando aos efeitos descritos pela consumidora, embora o produto da marca Ops não apontasse contraindicações. Eloá procurou você como advogado(a), narrando essa situação. Neste caso, assinale a opção que apresenta sua orientação. A) Há evidente fato do serviço executado pelo profissional, cabendo ao Estúdio Max e ao fabricante do produto da marca Ops, em responsabilidade solidária, responderem pelos danos suportados pela consumidora. B) Há evidente fato do produto; por esse motivo, a ação judicial poderá ser proposta apenas em face da fabricante do produto da marca Ops, não havendo responsabilidade solidária do comerciante Estúdio Max. C) Há evidente fato do serviço, o que vincula a responsabilidade civil subjetiva exclusiva do profissional que sugeriu e aplicou o produto, com base na teoria do risco da atividade, excluindo-se a responsabilidade do Estúdio Max. D) Há evidente vício do produto, sendo a responsabilidade objetiva decorrente do acidente de consumo atribuída ao fabricante do produto da marca Ops e, em caráter subsidiário, ao Estúdio Max e ao profissional , e não do profissional que aplicou o produto. OAB XXVI Exame Jonas, médico dermatologista, atende a seus pacientes em um consultório particular em sua cidade. Ana Maria, após se consultar com Jonas, passou a utilizar uma pomada indicada para o tratamento de micoses, prescrita pelo médico. Em decorrência de uma alergia imprevisível, sequer descrita na literatura médica, a pele de Ana Maria desenvolveu uma grave reação à pomada, o que acarretou uma mancha avermelhada permanente e de grandes proporções em seu antebraço direito. Indignada com a lesão estética permanente que sofreu, Ana Maria decidiu ajuizar ação indenizatória em face de Jonas. Tomando conhecimento, contudo, de que Jonas havia contratado previamente seguro de responsabilidade civil que cobria danos materiais, morais e estéticos causados aos seus pacientes, Ana Maria optou por ajuizar a ação apenas em face da seguradora. A respeito do caso narrado, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. Provada a ausência de culpa de Jonas, poderia Ana Maria ser indenizada? R - Não, art 14 parágrafo 4º CDC § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa. OAB – XXVI Exame Dora levou seu cavalo de raça para banho, escovação e cuidados específicos nos cascos, a ser realizado pelos profissionais da Hípica X. Algumas horas depois de o animal ter sido deixado no local, a fornecedora do serviço entrou em contato com Dora para informar-lhe que, durante o tratamento, o cavalo apresentou sinais de doença cardíaca. Já era sabido por Dora que os equipamentos utilizados poderiam causar estresse no animal. Foi chamado o médico veterinário da própria Hípica X, mas o cavalo faleceu no dia seguinte. Dora, que conhecia a pré-existência da doença do animal, ingressou com ação judicial em face da Hípica X pleiteando reparação pelos danos morais suportados, em decorrência do ocorrido durante o tratamento de higiene. Nesse caso, à luz do Código de Defesa do Consumidor (CDC), é correto afirmar que a Hípica X: A) não poderá ser responsabilizada se provar que a conduta no procedimento de higiene foi adequada, seguindo padrões fixados pelos órgãos competentes, e que a doença do animal que o levou a óbito era pré-existente ao procedimento de higienização do animal. B) poderá ser responsabilizada em razão de o evento deflagrador da identificação da doença do animal ter ocorrido durante a sua higienização, ainda que se comprove ser pré-existente a doença e que tenham sido seguidos os padrões fixados por órgãos competentes para o procedimento de higienização, pois o nexo causal resta presumido na hipótese. C) não poderá ser responsabilizada somente se provar que prestou os primeiros socorros, pois a pre-existência da doença não inibiria a responsabilidade civil objetiva dos fornecedores do serviço; somente a conduta de chamar atendimento médico foi capaz de desconstruir o nexo causal entre o procedimento de higiene e o evento do óbito. D) poderá ser responsabilizada em solidariedade com o profissional veterinário, pois os serviços foram prestados por ambos os fornecedores, em responsabilidade objetiva, mesmo que Dora comprove que o procedimento de higienização do cavalo tenha potencializado o evento que levou ao óbito do animal, ainda que seguidos os padrões estipulados pelos órgãos competentes. Em razão de falha no sistema de freios de automóvel de sua propriedade, recém adquirido e com poucos quilômetros rodados, Fábio atropelou Silas. Nessa situação hipotética, Silas pode acionar a montadora do veículo, sob o argumento da ocorrência de acidente de consumo, em virtude de ser consumidor por equiparação. R - CERTO CDC Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. Determinada concessionária de veículos contratou seguro empresarial visando proteger o seu patrimônio, incluindo os automóveis ainda não vendidos, porém sem prever a cobertura de risco aos clientes da concessionária. O contrato estabelecia que não haveriacobertura de danos no caso de furto qualificado praticado por terceiros, mas não continha nenhuma especificação jurídico do termo “qualificado”. Na vigência desse contrato, a empresa foi vítima de furto simples e, após a negativa da seguradora em arcar com a indenização, ingressou em juízo contra esta. Nessa situação, de acordo com a teoria subjetiva ou finalista, a concessionária não poderia ser considerada consumidora e, ademais, foi correta a negativa da seguradora, pois era obrigação da contratante conhecer as cláusulas restritivas previstas no contrato. R - ERRADO, Teoria Finalista (ou subjetiva): Consumidor será o destinatário fático e econômico do produto ou serviço: "destinatário final é quem última a atividade econômica, isto é, retira de circulação para consumir, suprindo necessidade ou satisfação própria." (MPSC-2014): O conceito de consumidor não leva em conta o aspecto subjetivo, mas tão somente a natureza da posição ocupada em determinada relação jurídica, de modo que uma pessoa pode ser considerada consumidor em determinada situação e, no momento seguinte, em outra relação jurídica, ser caracterizada como fornecedor. R - Certo Artigo 2°, CDC: "Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". (TJPA-2012-CESPE): Considera-se consumidor a pessoa que adquire o produto ou o serviço ou, ainda, a que, não o tendo adquirido, utiliza. BL: art. 2º, caput, CDC. R - CERTO art. 2º CDC (TJPR-2012): A teoria finalista aprofundada se concentra em investigar no caso concreto a noção de consumidor final imediato e a de vulnerabilidade. R - CERTO A corrente finalista interpreta o artigo 2° do CDC como: um conceito subjetivo de consumidor. O conceito de consumidor estará vinculado ao aspecto subjetivo quando existe uma finalidade no ato de retirada do bem do mercado. PRÁTICAS ABUSIVAS (ART. 39, CDC) ROL EXEMPLIFICATIVO Aspectos Iniciais Algumas hipóteses 1. Venda Casada (art. 39,I) STJ - RESP 1331948 (Liberdade de escolha) (Venda casada as avessas) 2. Empresa de produto/serviço não solicitado Súmula 532, STJ (Art. 39 § único inciso III equiparação a amostra grátis) 3. Prevalecer da fraqueza - Ignorância do consumidor (Art. 39, IV, CDC) Plano de saúde - STJ Critérios: Etário/Atuarial ps. O critério etário é admitido pelo STJ, não caracteriza prática abusiva 4. Exigir Vantagem manifestamente excessiva ex: cheque caução 5. Necessidade de orçamento prévio Art. 39, VI, CDC e Art. 40 CC 6. Elevar, sem justa causa, o preço de produtos/serviços - Lei 13455/2017 7. Permitir o ingresso em estabelecimento de um número maior de consumidores que o fixado pela autoridade administrativa - Art. 65 § 2º, CDC QUESTÕES 2° BIMESTRE Com base no Código de Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa INCORRETA: A - O fornecedor do produto ou serviço é subsidiariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. R - Art. 34.CDC O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos. B - Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto. C - O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando houver estado de insolvência da pessoa jurídica provocado por má administração. D - A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores. Com relação à responsabilidade civil do fornecedor, assinale a alternativa correta: A - o produto defeituoso é pressuposto do vício de qualidade; R - O produto defeituoso não tem a ver com vícios, mas com a segurança que oferece ao consumidor. B - o fabricante e o comerciante sempre respondem solidariamente pelo fato do produto R - Casos em que o fabricante e o comerciante não respondem: art 13, o comerciante é responsável quando: I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados; II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador; III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis. C - a insuficiência ou inadequação de informação sobre a utilização e riscos dos produtos enseja a responsabilidade civil do fabricante pelo acidente de consumo; RESPOSTA CORRETA - art 12. é responsabilidade não só do fabricante, mas do produtor, construtor e importador, independente de culpa. Além disso, o art 14 também cita o fornecedor. D - a responsabilidade civil do fornecedor pelo vício do produto ou serviço demanda comprovação de culpa; R - Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos E - não há responsabilidade solidária entre os fornecedores pelos danos sofridos pelos consumidores. R - Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade Os direitos básicos do consumidor incluem: informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem. CERTO: Art. 6º III do CDC. São direitos básicos do consumidor: a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; O Código de Proteção e Defesa do Consumidor trouxe significativa contribuição à disciplina da responsabilidade civil, tanto contratual como extracontratual, ampliando e reforçando sua extensão com o objetivo de proteger o consumidor contra vícios ou defeitos de produtos e serviços oferecidos no mercado. Com relação a esse assunto, assinale a opção correta. A - Os produtos oferecidos no mercado não poderão oferecer riscos à vida, à saúde e à segurança do consumidor, sob pena de ocasionarem a responsabilidade do fornecedor. R- Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito. B - As sanções por vícios de qualidade nos produtos objetivam resguardar o consumidor de falhas ocultas do produto ou do serviço, conferindo-lhe prazo de reclamação que se inicia na data em que for evidenciado o defeito. R - Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinamou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas. C - A responsabilidade por informações falsas ou inexatas, no conteúdo da embalagem de produto, referentes ao seu conteúdo líquido, limita-se ao fabricante e não atinge os demais fornecedores, em razão da impossibilidade objetiva de causarem ou conhecerem tal vício. D - Nas compras fora do estabelecimento do fornecedor, a remessa de bens em quantidade inferior ao acordado e pago pelo consumidor caracterizará vício de quantidade nos produtos. E - Constatado vício de qualidade no produto que o torne impróprio para consumo, a lei concede ao fornecedor a oportunidade de saná-lo no prazo de 30 dias.