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TCC AGELIKY FINALIZADO

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		RESUMO
A Política Nacional de Assistência Social bem como os programas de transferência de renda tem a família como elemento central e imprimem na figura feminina uma centralidade apenas no sentido de ser representante e administradora da família. Dito isto, este trabalho, em seu objetivo geral, busca discutir as relações de gênero e a responsabilidade das mulheres beneficiárias nos Programas Bolsa Família e Mais Infância, no território do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS José Turíbio de Sousa, no bairro Araturi, em Caucaia. Nesse sentido buscou-se especificamente traçar um perfil das mulheres beneficiárias dos Programas Bolsa Família e Mais Infância que frequentam os serviços do CRAS José Turíbio de Sousa, conhecer a dinâmica da vida cotidiana dessas beneficiárias e analisar a centralidade feminina nos referidos Programas. Para o alcance destes objetivos realizou-se uma pesquisa qualitativa e quantitativa, aliada à pesquisa bibliográfica e documental, além da pesquisa de campo, onde utilizei questionário e entrevista semiestruturada. A partir das análises, torna-se evidente a importância dos Programa Bolsa Família e Mais Infância para as beneficiárias, visto que todas são titulares e responsáveis pelo recebimento e uso dos recursos. O estudo revela que existe uma naturalização das relações de gênero por parte das mulheres beneficiárias, que direcionaram suas falas para as contribuições que o benefício trouxe para ela, mostrando que, apesar de serem discussões presentes na atualidade, as beneficiárias não apresentaram inquietações quanto às condicionalidades, embora reconheçam que todas as responsabilidades recaiam apenas sobre elas. 
Palavras-chave: Gênero. Mulher. Política de Assistência.
	KREZIAS , AGELIKY M.– RELAÇÕES DE GÊNERO NOS PROG. DE TRANSF... – 2019
	
FACULDADE TERRA NORDESTE
CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL
AGELIKY MARTINS KREZIAS
RELAÇÕES DE GÊNERO NOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA ASSISTIDOS PELO CRAS ARATURI, NO MUNICÍPIO DE CAUCAIA-CE
CAUCAIA – CE
2019
AGELIKY MARTINS KREZIAS
RELAÇÕES DE GÊNERO NOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA ASSISTIDOS PELO CRAS ARATURI, NO MUNICÍPIO DE CAUCAIA-CE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Serviço Social da Faculdade Terra Nordeste, como requisito parcial à obtenção do grau de bacharel em Serviço Social.
Orientador: Prof. Me. Francisca Silvia Helena Barbosa Duarte
CAUCAIA – CEARÁ
2019.2
Aos meus filhos: Eduardo, Rodrigo e Laís, e ao meu esposo Lima.
AGRADECIMENTO (S) 
À Deus em primeiro lugar, pelo seu infinito amor e misericórdia, por ter me dado a força necessária para conseguir, que protegeu os meus filhos nos momentos em que eu tive que deixá-los para frequentar as aulas; que deu ao meu esposo paciência e confiança, e que nunca me deixou desistir.
	Aos meus filhos, Eduardo Krezias, Rodrigo Krezias e Laís Krezias, por serem compreensíveis, obedientes e responsáveis.
Ao meu esposo Raimundo Lima por ser meu pilar de sustentação e sempre me incentivou a ir mais longe, mesmo que lhe custasse também um sacrifício.
Aos meus pais (biológicos e adotivos) que, de alguma forma colaboraram para a formação do meu caráter e para a minha educação.
Aos meus irmãos Haralabya Krezias e Paulo Nascimento, com quem sempre pude contar e que me ajudaram sempre que puderam nessa caminhada;
Aos meus familiares que sempre me incentivaram e torceram por mim;
À minha Orientadora Francisca Sílvia Helena Barbosa Duarte pelos ensinamentos que me deu, por seu profissionalismo, pela compreensão e por sua paciência neste período de construção.
Aos professores que estiveram comigo durante esses 4 anos, por me compreenderem e por serem exemplos de profissionais para mim;
Às minhas colegas de sala, em especial Francisca Camilo, Lorena Maria Martins, Ana Carla Gomes, Francisca Milena dos Santos, Maria Eduarda dos Santos e Zuleika Crisóstomo pelo apoio, companheirismo e motivação dados em todos esses anos;
À minha turma 32273, pelas tantas vezes que partilhamos conhecimento e pelo apoio e companheirismo que sempre tivemos;
À Instituição FATENE, que me deu todo suporte para trilhar essa caminhada; 
	Assim agradeço a todos que participaram desta construção, me apoiando e colaborando com a minha pesquisa, que simboliza a realização de um sonho fruto de muita luta, esforço e dedicação.
“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.”
Simone de Beauvoir
RESUMO
A Política Nacional de Assistência Social bem como os programas de transferência de renda tem a família como elemento central e imprimem na figura feminina uma centralidade apenas no sentido de ser representante e administradora da família. Dito isto, este trabalho, em seu objetivo geral, busca discutir as relações de gênero e a responsabilidade das mulheres beneficiárias nos Programas Bolsa Família e Mais Infância, no território do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS José Turíbio de Sousa, no bairro Araturi, em Caucaia. Nesse sentido buscou-se especificamente traçar um perfil das mulheres beneficiárias dos Programas Bolsa Família e Mais Infância que frequentam os serviços do CRAS José Turíbio de Sousa, conhecer a dinâmica da vida cotidiana dessas beneficiárias e analisar a centralidade feminina nos referidos Programas. Para o alcance destes objetivos realizou-se uma pesquisa qualitativa e quantitativa, aliada à pesquisa bibliográfica e documental, além da pesquisa de campo, onde utilizei questionário e entrevista semiestruturada. A partir das análises, torna-se evidente a importância dos Programa Bolsa Família e Mais Infância para as beneficiárias, visto que todas são titulares e responsáveis pelo recebimento e uso dos recursos. O estudo revela que existe uma naturalização das relações de gênero por parte das mulheres beneficiárias, que direcionaram suas falas para as contribuições que o benefício trouxe para ela, mostrando que, apesar de serem discussões presentes na atualidade, as beneficiárias não apresentaram inquietações quanto às condicionalidades, embora reconheçam que todas as responsabilidades recaiam apenas sobre elas. 
Palavras-chave: Gênero. Mulher. Política de Assistência. 
ABSTRACT
The National Social Assistance Policy as well as the cash transfer programs have the family as their central element and give the female figure a centrality only in the sense of being a family representative and administrator. That said, this paper, in its general objective, seeks to discuss the gender relations and the responsibility of women beneficiaries in the Bolsa Familia and Mais Infância programs, in the territory of the CRAS José Turíbio de Sousa Reference Center, in the Araturi neighborhood of Caucaia . In this sense, it was specifically sought to draw a profile of women beneficiaries of the Bolsa Família and More Childhood Programs who attend the services of CRAS José Turíbio de Sousa, to know the dynamics of daily life of these beneficiaries and to analyze the female centrality in these programs. To achieve these objectives, a qualitative and quantitative research was carried out, allied to bibliographic and documentary research, as well as field research, where I used a questionnaire and semi-structured interview. From the analysis, it becomes evident the importance of the Bolsa Família and Mais Infância program for the beneficiaries, since all of them are holders and responsible for the receipt and use of funds. The study reveals that there is a naturalization of gender relations by the beneficiary women, who directed their speeches to the contributions that the benefit brought to her, showing that, despite being present discussions, the beneficiaries did not have concerns about the conditionalities although they recognize that all responsibilities lie solely with them.
Keywords: Genre. Woman. Assistance Policy
LISTA DE ILUSTRAÇÕESGráfico 1
	Faixa etária das participantes........................................................
	43
	Gráfico 2
	Quantidade de filhos......................................................................
	43
	Gráfico 3
	Escolaridade..................................................................................
	44
	Gráfico 4
	Quantidade de pessoas que moram na residência........................
	45
	Gráfico 5 
	Renda Familiar..............................................................................
	45
	Gráfico 6
	Quanto aos benefícios que recebem..............................................
	47
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
	CEI
	Centros De Educação Infantil
	CF
	Constituição Federal
	CMIC
	Cartão Mais Infância Ceará
	CNS
	Conselho Nacional de Saúde
	CRAS
	Centro de Referência de Assistência Social
	LOAS
	Lei Orgânica da Assistência Social
	MDS
	Ministério do Desenvolvimento Social
	NOB
	Norma Operacional Básica
	PADIN
	Programa de Apoio ao Desenvolvimento Infantil
	PBF
	Programa Bolsa Família 
	PforR
	Programa de Apoio ao Crescimento Econômico com Redução de desigualdade e sustentabilidade Socioambiental
	PNAA
	Programa Nacional de Acesso à Alimentação
	PNAS
	Política Nacional de Assistência Social
	PSB
	Proteção Social Básica
	SCFV
	Serviço de Convivência e Fortalecimen1to de Vínculos
	SUAS
	Sistema Único de Assistência Social
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
	
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO..............................................................................
	
	16
	2
	DESENVOLVIMENTO..................................................................
	
	19
	2.1
	A Assistência Social no Brasil...................................................
	
	21
	2.2
	O Programa Bolsa Família..........................................................
	
	24
	2.3
	Mais Infância Ceará ....................................................................
	
	27
	2.4
	O homem e a mulher dentro das Políticas Sociais..................
	
	31
	3
	PERCURSO METODOLÓGICO...................................................
	
	35
	4
	RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................
	
	42
	5
	CONCLUSÃO...............................................................................
	
	51
	
	REFERÊNCIAS.............................................................................
	
	52
	
	APÊNDICES..................................................................................
	
	56
	
	APÊNCICE A – QUESTIONÁRIO SOCIOECONOMICO..............
	
	56
	
	APÊNCICE B – ENTREVISTA......................................................
	
	58
	
	ANEXOS.......................................................................................
	
	59
	
	ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
	
	59
	
	ANEXO B – CARTA DE ANUÊNCIA.............................................
	
	60
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho procura debater as relações de gênero como elemento central na Política de Assistência Social no Brasil, em especial nos Programas de Transferência de renda, Programa Bolsa Família e Programa Mais Infância, onde buscarei identificar os reflexos gerados pela responsabilização feminina impostas nessa política pública, em detrimento da ausência da figura masculina.
Esta pesquisa foi impulsionada pela vivência no campo de estágio, no CRAS José Turíbio de Sousa, através das demandas de atendimento às beneficiárias dos Programas Bolsa Família e Mais Infância referenciadas neste equipamento. Ao acompanhar esses atendimentos foi possível identificar que as mulheres traziam traços de relações de gênero desiguais, visto que são delas a centralidade dos referidos programas. Deste modo percebeu-se a necessidade de um aprofundamento sobre o assunto no campo teórico, dando vistas ao olhar das próprias beneficiárias.
Discussões relacionadas ao protagonismo feminino e gênero vêm se intensificando ao longo dos anos. Diante disso, ao ingressar no Curso de graduação em Serviço Social, pude realizar estudos relacionados à figura feminina.
Diante disso, surgem indagações como: Quais as motivações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e do Governo do Estado do Ceará ao colocar a figura feminina na centralidade dos Programas Bolsa Família e Mais Infância? Essa responsabilização traz empoderamento e autonomia às suas beneficiárias? Ou contribui para a manutenção do conservadorismo? Qual a opinião das beneficiárias quanto a isso?
O objetivo geral deste estudo, portanto é discutir as relações de gênero e responsabilidade das mulheres no Programa Bolsa Família no Território do CRAS José Turíbio de Souza. Tendo como objetivos específicos, traçar um perfil das mulheres beneficiárias dos Programas Bolsa Família e Mais Infância referenciadas no CRAS José Turíbio de Souza, conhecer a dinâmica da vida cotidiana dessas mulheres beneficiárias que frequentam o CRAS José Turíbio de Souza e analisar a centralidade feminina nestes Programas.
Para se alcançar o objetivo proposto foi realizada uma pesquisa bibliográfica com reflexões críticas acerca da vida de mulheres que vivem em situação de pobreza, sobre o lugar que a mulher e o homem ocupa nas políticas sociais, em específico será estudada a dinâmica familiar das beneficiárias do Programa Bolsa Família que frequentam o CRAS José Turíbio de Souza. 
Pensando nisso, procurei compreender a Política Nacional de Assistência Social desde a sua criação, a implementação e os critérios de inclusão dos programas Bolsa Família e Mais Infância, relações de gênero dentro desta política, bem como a responsabilização feminina no que diz respeito às condicionalidades destes programas. Para tanto, realizei uma pesquisa bibliográfica com temas ligados à figura feminina dentro dos Programas citados, e uma pesquisa de campo no CRAS José Turíbio de Sousa, localizado no bairro Araturi, no município de Caucaia.
 Para uma melhor apreensão do contexto histórico da Política de Assistência Social, foi realizada uma pesquisa documental, dentre elas a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), a Tipificação dos Serviços socioassistenciais, a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) e a Constituição Federal de 1988.
Segundo o historiador Amílcar Torrão Filho (2005, p.129), os estudos relacionados às relações de gênero servem para embasar estudos feministas, que buscam pontuar as diferenças entre homens e mulheres, desmistificando essa desigualdade socialmente imposta. Sendo assim, busquei levantar discussões que contribuam para o embasamento de estudos feministas, levando ao fortalecimento da figura feminina dentro da Política de Assistência Social, posicionando-a com autonomia e com o sentimento de pertencimento igualitário da sociedade. 
Sabe-se que discussões nesse sentido se tornam tensas em relação a própria Política de Assistência, visto que ela reproduz papéis paternalistas que acabam por rotular o que é inerente à mulher e ao homem, o que é demonstrado quando os homens não são colocados como responsáveis familiar no Cadastro Único, e por consequência, não se tornam titulares nos programas de transferência de renda. (DETONI E NARDI, 2012, p. 63).
Neste trabalho iremos fazer um aprofundamento à questão para que possamos compreender que contribuições essa polarização do gênero feminino traz para os usuários do Programa Bolsa Família e do Programa Mais Infância, buscar a desconstrução do conservadorismo que ainda é perceptível na materialização das políticas sociais, visto que a sociedade brasileira é historicamente patriarcal, e destacar estratégias de enfrentamento às formas de opressão e sobrecarga da figura feminina.
Buscaremos compreender as razões pelos quais essas relações desiguais ainda são presentes e faremos uma breve análise das contribuições que podem ocorrer na vida das beneficiárias. É importante que se favoreçam essas discussões e que haja reflexões acerca da temática, colaborando para a desconstrução da imposição das relações desiguais entre homens e mulherese a participação de todos.
Primeiramente, faremos uma explanação sobre a Política Nacional de Assistência social, e uma breve análise das relações de gênero nesse contexto, para compreender as motivações da centralidade feminina nas políticas sociais. Em seguida conheceremos a estrutura dos Programas Bolsa Família e Mais Infância, visto que são os programas de transferência de renda referenciados no CRAS José Turíbio de Sousa, campo desta pesquisa. No terceiro momento da pesquisa, faremos um breve apontamento sobre a mulher dentro das políticas sociais trabalhadas, visto que foram criadas apenas com o sentido de atribuir à figura feminina o papel de administradora da família e dos recursos repassados, impondo-lhes o cumprimento das condicionalidades exigidos nesses programas, e sendo considerada uma estratégia ideopolítica e econômica do Estado de racionalizar os recursos e tornar essas políticas públicas cada vez mais focalizadas. (MOTA,2010, p. 242).
Nesta construção, também foram impressas as falas das próprias beneficiárias, mas é importante ressaltar que as relações desiguais entre os gêneros presentes no cotidiano dessas mulheres estão naturalizadas, sendo despercebidas por elas e não causam inquietações.
2 DESENVOLVIMENTO
		Atualmente vivemos em tempos onde a presença feminina tem se intensificado nas discussões relacionadas a gênero, em que a luta por empoderamento é constante por parte das mulheres, porém, a Política Nacional de Assistência Social ainda traz traços patriarcais e conservadores que colocam a figura feminina como responsável pela atenção, socialização, educação e cuidados da família e essa foi a questão que me instigou a realizar essa pesquisa.
	GASPAROTTO e KRIEGER (2017, p. 216) afirmam que a Política de Assistência Social tem a perspectiva de gênero negligenciadas, não obtendo atenção à vida, fundamentado assim a necessidade de se debater sobre gênero e sobre a responsabilização das mulheres na formulação das políticas sociais. O que se busca são discussões que possam alicerçar novas formulações, levando em consideração as transformações ocorridas na sociedade.
[..]dentro da perspectiva universalista para que a política de assistência social, enquanto política pública cumpra o seu papel de garantidora de direitos. Exige-se dos formuladores, gestores e operacionalizadores, não só a mudança de paradigma, mas a apreensão das transformações dos grupos familiares nas últimas décadas, e das novas demandas que se colocam, as quais exigem novas estratégias de enfrentamento, para que se possa romper com a responsabilização das famílias pelas mazelas sofridas. (CASTILHO e CARLOTO (2010, p.20)
Ao atuar no estágio supervisionado em um Centro de Referência de Assistência Social tive contato com o Programa Bolsa família e suas beneficiárias. Nas buscas ativas às famílias que se encontravam em descumprimento das condicionalidades do programa, pude vivenciar a realidade das beneficiárias e percebi um tom de sobrecarga, o que levantou meu interesse pelo tema. 
Um aspecto que gera discussão é se essa responsabilização sobrecarrega a mulher e, ao invés de contribuir para sua autonomia, não contribui para a reprodução de relações conservadoras e paternalistas que a colocam numa esfera exclusivamente doméstica, visto que o PBF reproduz uma dissociação dos papéis sociais entre homens e mulheres, deixando para elas os cuidados e afazeres domésticos e familiares, o cumprimento das condicionalidades, bem como a impossibilidade de conseguir um trabalho formal. 
Há também de se pensar sobre a figura masculina dentro das ações da Política Nacional de Assistência Social, a partir do que a própria política designa como sujeitos que necessitam da assistência.
Segundo OLIVEIRA (2016, p.387), a administração e cumprimento das condicionalidades dos benefícios são focalizados na mulher, deixando sobre ela toda a responsabilidade para que a família continue dentro dos critérios estipulados pelo programa. 
Detoni e Nardi (2012) afirmam que no Âmbito da Assistência e da Proteção Social, o homem é visto como sujeitos com menor vulnerabilidade e, portanto, sem a necessidade de proteção como as mulheres, crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência.
Para melhor compreensão dessas relações, é necessário entendermos a categoria gênero nesse contexto, que busca explicitar as diferenças e desigualdades socialmente construídas em torno de homens e mulheres (OLIVEIRA, 2016, p.385), destacando como tais disparidades foram historicamente construídas e se provocam dominação da figura masculina e subordinação da figura feminina. 
SCOTT (apud FILHO, 2014, p. 129) afirma que o conceito de gênero se opõe às determinações biológicas entre os sexos, e lhes dá um caráter social. Portanto, este estudo se propõe em analisar as relações de gênero nos Programas de transferência de renda, enquanto políticas públicas sociais da Política Nacional de Assistência Social, propondo uma reflexão acerca das determinações direcionadas às mulheres, que cristalizam papéis patriarcais e conservadores.
Cisne (2007, p.7-8) avalia que:
A Assistência Social mesmo sendo legalmente constituída como política pública, como direito, questiona-se como permanece reproduzindo a responsabilização das mulheres em “dar conta” das expressões da questão social. Mudaram-se algumas ações, discursos, mas há, em essência, a reprodução das práticas assistencialistas e opressoras da mulher. Embora com outra roupagem, permanece a imposição de que as mulheres têm o papel de harmonizar os conflitos sociais causados pela miséria advinda da “questão social. 
Percebe-se, portanto que a política de Assistência ainda carrega traços de filantropia e assistencialismo que tomaram novas formas e são vivenciados quando centraliza a figura da mulher, no sentido de ser gestora dos benefícios e suas condicionalidades, e o homem é colocado como o carrasco do interior das relações de gênero. Essas questões serão melhores explanadas após um breve apontamento sobre a Assistência Social no Brasil e a figura feminina, que veremos a seguir.
2.1 A Assistência Social no Brasil e a figura feminina
O surgimento da Assistência social no Brasil é marcado por ações filantrópicas e pela prática da caridade com fins religiosos, como afirma Cisne (2007, p. 01):
A história da política da Assistência Social pousa suas raízes nas ações de caridade e benemerência realizadas especialmente, pelas Damas de caridade, mulheres de elevado poder aquisitivo, destacadamente, as primeiras-damas.
Em meados dos anos 80, o país passava por um processo de redemocratização e a Política de Assistência Social ainda atuava de forma focalizada e celetista, ainda com traços filantrópicos, e só foi reconhecida como política pública a partir da Constituição de 1988, inscrita na Constituição Federal de 1988 (CF/88) pelos artigos 203 e 204:
Art.203 A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social [...] 
Art.204 As ações governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art.195, além de outras fontes [...]
A partir daí os direitos dos cidadãos passam a ser reconhecidos e, dentre esses direitos estavam a Seguridade Social, regulamentada pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) - Lei nº 8.742 de 1993, alterada pela Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011, que em seu artigo 1º define: 
À assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. 
A Lei Orgânica de Assistência Social-LOAS e o governo estabeleceram princípios e diretrizes para efetivação da Assistência social, são as Normas Operacionais Básicas – NOB/SUAS, criadas para a efetivação da Assistência Social como direito do cidadão e responsabilidade do Estado, como define OLIVEIRA(2016, p.375)
[...] a Norma Operacional Básica/ NOB-SUAS/2005 constitui os eixos estruturantes necessários à defesa de direitos socioassistenciais e à vigilância social, atribuindo à política em questão uma nova lógica de organização das ações; o Sistema Único de Assistência Social (SUAS/2005), o qual é responsável pela organização dos serviços socioassistenciais, de forma descentralizada; e a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos/NOB-RHSUAS, 2006, a qual é responsável pela organização dos serviços socioassistenciais, de forma descentralizada, assim como orientar a ação dos gestores das três esferas do governo, trabalhadores e representantes das entidades de Assistência Social. 
O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, desde então buscou consolidar o desenvolvimento social e garantir os direitos dos cidadãos por meio de políticas públicas descentralizadas. Pensando assim, foi instituído, dentre outras medidas e ampliações, o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, um sistema descentralizado e participativo que organiza os serviços socioassistenciais através da articulação de ações e recursos para efetivação de políticas públicas sociais. 
O SUAS, constitui-se na regulação e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais. Os serviços, programas, projetos e benefícios têm como foco prioritário a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização, que passam a ser definidos pelas funções que desempenham, pelo número de pessoas que deles necessitam e pela sua complexidade. (PNAS/2004, p. 39).
Nessa análise histórica percebe-se que ainda existem traços conservadores e patriarcais a serem superados. A Política Nacional de Assistência Social coloca na família a centralidade em uma de suas diretrizes, quando afirma: “Centralidade na família para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos”. (BRASIL, 2004, p.33). Portanto, todas as suas ações são voltadas para a convivência familiar, sendo família compreendida com “um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços consanguíneos, afetivos e, ou de solidariedade. “ (PNAS/2004, p.41).
Nesse sentido, observa-se que a família é o “pilar central da proteção social”, como afirmam Castilho e Carlotto (2010, p. 18), porém, intrínseca a essa matricialidade sociofamiliar está a centralidade na figura feminina, onde ela se torna responsável pela proteção familiar, e a figura masculina é retirada dos serviços da PSB. Essa responsabilização feminina está explicitada na Lei 13.014, de 21 de julho de 2014, Art. 1º A, que altera a Lei 7.842, de 07 de dezembro de 1993, incluindo o Art. 40-A, que diz:
Os benefícios monetários decorrentes do disposto nos artigos. 22 24-C e 25 desta Lei serão pagos preferencialmente à mulher responsável pela unidade familiar, quando cabível.
Na Política Nacional de Assistência Social a figura feminina é colocada como central no sentido de ser mãe, cuidadora, protetora, responsável, de acordo com suas bases conservadoras. O Ministério do Desenvolvimento Social compreende que a mulher faz um uso mais “adequado” do dinheiro do benefício, porém não se apropriaram do conhecimento real de como essa prática se refletiria no cotidiano familiar. Carlotto & Mariano (2008, p. 158) afirmam que: 
A mulher/mãe é vista como a grande multiplicadora dos conhecimentos, informações e orientações que receberá nas ações socioeducativas e que, a partir deste papel contribuirá para os objetivos voltados ao empoderamento, autoestima, dignidade, fortalecimento de vínculos. 
Neste sentido, a presença das mulheres na Política de Assistência é reflexo de um processo histórico de produção e reprodução de desigualdades sociais onde o gênero orienta a construção da cidadania e a efetivação de direitos (Campos e Cavalcante, p.248, 2019), e que o Estado ainda coloca a mulher numa posição de exclusiva administração de programas sociais. Para a PNAS, a família é o elemento central das políticas públicas, entretanto reforça papéis sociais conservadores que responsabiliza a mulher com os cuidados com a casa, os filhos e seu cônjuge.
A mulher é ponto central das políticas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A maioria delas tem no sexo feminino o foco de suas ações, por considerar que elas tomam a melhor decisão em benefício do grupo familiar. (BRASIL, 2011, n.p.).
	Levando em consideração a criação e estruturação desses programas, o que se pode perceber é uma maior evidência da presença feminina nas políticas sociais públicas, tendo-a como uma representante familiar, transmitindo assim uma ambiguidade de percepções. Por um lado, se tem a valorização da mulher quanto à gestão do âmbito familiar, por outro lado, reforça-se o pensamento de que é da mulher toda a responsabilidade do lar, desresponsabilizando os homens, posto que que “à medida que esta política oferece proteção à família, reforça suas responsabilidades e os tradicionais papéis de família, bem como reforça e aumenta a responsabilidade das mulheres com o cuidado com a casa, filhos e marido. ” (OLIVEIRA, 2016, p. 383), eximindo da figura masculina a participação e na responsabilização.
2.2 O Programa Bolsa Família
Em sua implementação as políticas sociais tinham um caráter filantrópico e conservador, voltadas à questão social resultante das contradições oriundas do capitalismo e seus interesses, em detrimento dos interesses da classe trabalhadora. Nesse embate, foram criadas diversas políticas sociais, inclusive o Programa Bolsa Família (PBF), um programa de transferência de renda com condicionalidades (MANUAL DO PESQUISADOR – BOLSA FAMÍLIA, 2018, p. 7). 
O PBF foi instituído pelo Governo Federal pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004, com o objetivo de superar a situação de pobreza ou de extrema pobreza, e integrar programas criados em governos anteriores. O programa busca contribuir para essa superação através da atuação do governo e da família em três vertentes sociais: a econômica com a transferência direta de renda; social com o acesso direto à serviços básicos e na articulação de demais serviços ofertados pelo governo. 
Foi resultado da unificação do Programa Nacional de Acesso à Alimentação (PNAA), criado no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) (1995-2003), e que era composto por Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio Gás e o Cadastro Único do Governo Federal.
[...] sob a justificativa de ampliação de recursos, elevação do valor monetário do benefício e melhor atendimento, a proposta de unificação tem como propósito mais amplo manter um único Programa de Transferência de Renda, articulando programas nacionais, estaduais e municipais em implementação, na perspectiva de instituição de uma Política Nacional de Transferência de Renda [...] (SILVA, YAZBEK, DI GIOVANNI, 2007, p. 136).
	O Programa tem como critério de contemplação famílias que estejam cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal que tem por definição, segundo o Ministério da Cidadania (2015): 
É um instrumento que identifica e caracteriza as famílias de baixa renda, permitindo que o governo conheça melhor a realidade socioeconômica dessa população. Nele são registradas informações como: características da residência, identificação de cada pessoa, escolaridade, situação de trabalho e renda, entre outras. 
	Outro critério importante é a renda familiar, que vai definir a situação de pobreza, ou extrema pobreza em que se encontra a família. O benefício se subdivide em outros tipos de benefícios que variam de acordo com a composição familiar e influencia no valor recebido. Ele funciona através de transferência de renda às famílias que vivem em situação de extrema pobreza (com renda per capta até oitenta e cinco reais – R$85,00) e pobreza (com renda per capta entre oitenta e cinco reais e um centavo a cento e setenta reais – R$85,01 a 170,00), por meio de uma titular que, em sua maioria, é uma mulher. (MANUAL DO PESQUISADOR – PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, 2018, p.12) 
Em contrapartida, exige-se o cumprimento de condicionalidades ligadas à educação e à saúde. As famílias beneficiárias devem garantir a frequência escolar de até 85% de crianças e adolescentes de 6 a 15 anos de idade, e de até 75% para jovens de 16 e 17 anos; manter o cartão de vacinação atualizado, bem como o acompanhamento do desenvolvimento (peso e altura) de crianças menores de 7 anos; no caso de gestantes, manterem o acompanhamento pelo Posto de saúde até o pré-natal. 
O Ministério do Desenvolvimento Social coloca essas condicionalidades estrategicamente com o objetivo de facilitar o acesso aos direitos básicos pela população e monitorar a falta de acesso, buscando melhorias para que esses serviços voltem a ser garantidos.
As condicionalidades do Bolsa Família são compromissos assumidos pelo poder público e pelas famílias beneficiárias nas áreas de Saúde e de Educação. O acesso a esses serviços é direito assegurado pela Constituição. É responsabilidade do governo garantir acesso, além da qualidade dos serviços. (BRASIL, 2015, p.10)
Uma vez que se deixa de cumprir tais condicionalidades ocorre uma sequência de penalidades gradativas à família beneficiária.
O descumprimento das condicionalidades não acarreta desligamento imediato do programa. Seus efeitos são gradativos. Primeiro, a família é notificada. Persistindo o problema, o benefício é bloqueado e, só depois, suspenso. Somente em casos de reiterados descumprimentos, a família pode ter o benefício cancelado. Antes, contudo, o poder público, por meio da Assistência Social, deverá identificar os motivos do descumprimento e oferecer apoio e acompanhamento à família, de modo a solucionar os problemas que causaram esta situação. (CARTILHA BOLSA FAMÍLIA, 2015, p. 11)
Apesar de sua amplitude nacional, o Programa Bolsa Família é operacionalizado pelos municípios, funcionando de forma descentralizada e compartilhada (MANUAL DO PESQUISADOR – PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, p. 16, 2018). Existe uma articulação do Ministério do Desenvolvimento Social com os estados e municípios que realizam o monitoramento do cumprimento das condicionalidades através de sistemas informatizados. 
O Programa tem como base alguns princípios (MANUAL DO PESQUISADOR – PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, 2018, p. 8):
• Enfrentamento da pobreza e da desigualdade social;
• Proteção social não contributiva;
• Proteção social à família;
• Intersetorialidade;
• Gestão descentralizada; e
• Inclusão social.
Seguindo as determinações da Política de Assistência, o Programa Bolsa família imprime na figura feminina a titularidade e, por conseguinte, a responsabilidade sobre o cumprimento dessas condicionalidades, bem como pela atenção, socialização, educação e cuidados da família. 
O Programa Bolsa Família, por exemplo, prioriza a mulher como responsável por receber o benefício. Isso significa colocar quase R$ 1,2 bilhão por mês em mãos femininas. São elas que recebem os valores transferidos pelo programa: 93% das 12,9 milhões de famílias atendidas (BRASIL, 2011, n.p.).
O Programa Bolsa Família realiza o pagamento do benefício, preferencialmente à mulher, pois tem o objetivo de “contribuir para a ampliação do bem-estar da família e, ao mesmo tempo, da autonomia feminina no espaço doméstico e nas comunidades locais. ” (MANUAL DO PESQUISADOR – PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, 2018, p.10). 
Assim como no Programa Bolsa família, existem outros programas que detém a centralidade da gestão do benefício a mulher, e, semelhantemente, emergem situações como o acesso à renda e tem a pretensão de contribuir para a autonomia, porém não foram previstos efeitos negativos quanto às relações desiguais geradas entre homens e mulheres. 
Já o Programa Mais Infância compete ao Governo do Estado do Ceará e será apresentado no próximo tópico.
2.3 Mais Infância Ceará
O Mais Infância Ceará – CMIC - foi idealizado em 2015, e instituído pelo Governo do Estado do Ceará. Seu principal objetivo é superar a extrema pobreza infantil no Estado, definido em seu Art. 2º da Lei que dispõe sobre o Programa Mais Infância Ceará:
O Programa Mais Infância Ceará constitui política pública do Estado que busca promover o desenvolvimento infantil e gerar as possibilidades para o desenvolvimento integral da criança de forma intersetorial no âmbito do Estado e dos municípios. (CEARÁ, 2019)
O Programa tem como foco a infância das famílias que se encontram em situação de vulnerabilidade e extrema pobreza. Para sua construção e implementação foram realizados estudos e, a partir do diagnóstico da situação do estado e do mapeamento das famílias, buscou-se promover o desenvolvimento infantil, como dito em seu Art. 3º que:
A criança enquanto titular de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral e integrada de que trata esta Lei, sendo asseguradas, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhe facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade; (CEARÁ, 2019) 
O Mais Infância se estrutura em quatro pilares: Tempo de Nascer, Tempo de Crescer, Tempo de Brincar e Tempo de Aprender cada um correspondente a uma fase da vida da criança, desde a gestação até a fase escolar.
O pilar Tempo de nascer consiste nos cuidados materno-infantil, desde a gestação e busca a redução das taxas de mortalidade materna e perinatal. Já o Tempo de crescer é mais abrangente e visa o desenvolvimento infantil através de ações de uma rede de programas que contemplam profissionais, pais e cuidadores.
São eles: 
· Programa de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (Padin), voltado para famílias sem acesso às creches, oferecendo condições de participação no desenvolvimento das crianças de 0 a 3 anos, fortalecendo os vínculos familiares;
· Programa Primeira Infância no SUAS/ Criança Feliz, que acompanha o desenvolvimento infantil na primeira infância através do acompanhamento;
· Programa de Apoio ao Crescimento Econômico com Redução de Desigualdades e Sustentabilidade Socioambiental (PforR), voltado para a formação de técnicos e profissionais para atuarem nos Serviços de convivência e Fortalecimento de Vínculos – SCFV – para crianças de 6 anos;
· Capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde, que consiste em cursos orientados para a iniciativa “Família Brasileira Fortalecida na Atenção à Primeira Infância” para a formação destes profissionais da saúde;
· Formação dos gestores de educação infantil;
· Prevenção em Família, ação voltada para a formação de profissionais das áreas da saúde, educação e assistência para atuarem no cuidado e a prevenção do uso de álcool e drogas nas famílias;
· Sementes do amanhã, que consiste na capacitação de profissionais para que atuem de forma humanizada na redução de riscos e promoção da saúde de gestantes e bebês;
· Nascer do Ceará, que são ações voltadas para o melhoramento dos sistemas de controle e organização de maternidades e policlínicas, bem como para a qualificação de profissionais da área;
· Núcleos de estimulação precoce, que consiste em espaços voltados para o atendimento de crianças afetadas pela Síndrome do Zika Vírus ou com atrasos no sistema neuropsicomotor;
· O começo da vida, que é um projeto onde fora distribuído à escolas públicas, sejam elas municipais, estaduais ou federais, 7mil DVDS do documentário “O começo da vida”, levando mais informações sobre a formação da primeira infância.
O pilar tempo de brincar busca integrar a comunidade, socializar as famílias e fortalecer os vínculos, e, aliada a isso, contribuir para o desenvolvimento físico emocional e cognitivo através da implementação de equipamentos brinquedotecas, praças e diversos outros espaços.
E por fim o pilar Tempo de Aprender que busca a universalização da oferta de pré-escola, apoia e visa a construção dos Centros de Educação Infantil- CEI.
Como já mencionado, o benefício é direcionado às famílias que se encontrem em situação de vulnerabilidade social. Além disso, as famílias devem ter em sua composição familiar crianças de 0a 5 anos e 11 meses. Embora não esteja explícito na referida Lei, há publicações do Governo do Estado do Ceara (2019) que descrevem que o desenho do programa é direcionado para crianças dessa faixa etária. Às famílias contempladas pelo Programa Mais Infância são repassados o valor de R$ 85,00 mensais durante 24 meses, podendo se estender por mais 12 meses.
 
O Programa abrange todos os 184 municípios cearenses, alcançando 50 mil famílias, e deixou de ser uma política de governo, se tornando uma política de Estado, ou seja, será mantido nas próximas gestões.
Art. 9.º O Programa Mais Infância Ceará terá suas ações prioritariamente assumidas pelo Poder Público de forma direta, podendo a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos, para implementá-lo, firmar convênios com órgãos da administração direta ou indireta de outras esferas de governo bem como celebrar parcerias com o setor privado, na forma da lei. (CEARÁ, 2019)
Semelhantemente ao Programa Bolsa Família, este benefício estabelece a titularidade feminina e cabe a mulher a responsabilidade dos gastos. Em contrapartida, não se identificam condicionalidades para o recebimento do benefício, porém existem critérios que já foram mencionados anteriormente.
Segundo dados fornecidos pela Prefeitura de Caucaia (2019), o município conta com 1299 famílias contempladas pelo Programa Mais Infância, a grande maioria beneficiária também do Programa Bolsa Família, visto que os critérios de inclusão nesses programas são feitos a partir do Cadastro único.
As ações voltadas para o atendimento das famílias beneficiárias acontecem nos Centro de Referência de Assistência Social-CRAS- e, assim como no PBF, desenvolvem atividades que visam o desenvolvimento familiar, principalmente das crianças-público prioritário dessa política- e das mulheres-representantes titulares do benefício. As beneficiárias atendidas pelo CRAS José Turíbio de Sousa participaram da pesquisa, visto que recebem os dois benefícios de transferência de renda (Bolsa Família e Mais Infância).
Assim como no PBF, o Mais Infância preconiza a matricialidade familiar, e os repasses financeiros contemplam as mulheres e acaba se tornando, segundo Teixeira (2010, p.196) uma “ação estratégica no enfrentamento da situação de pobreza em que vivem as mulheres, em especial, aquelas que são responsáveis por seus núcleos familiares”. Portanto, o que se identifica nos dois programas é um viés familista e patriarcal que contribui e concretiza relações desiguais entre homens e mulheres, bem como o caráter seletista destes programas não viabiliza o acesso a todos que se encontram em situação de pobreza, sejam homens ou mulheres. Marlene Teixeira (2010, p. 199) reforça essa afirmação quando diz: “Ademais seu caráter focalista tem revelado uma opção que debilita a cidadania e o direito universal das mulheres e homens que se encontram em situação de pobreza ao acesso à renda”, esvaziando o homem das políticas sociais de enfrentamento à pobreza, o desesponsabilizando.
 	
	
2.4 O homem e a mulher dentro das Políticas Sociais
As políticas sociais atualmente implementadas têm como princípio a matricialidade sociofamiliar, porém, ao tentarem trazer os modelos de bem-estar social dos países capitalistas ocidentais, acaba tornando as políticas sociais setorizadas e centralizadas (GOLDANI, 2002, p.33).
Embora haja o reconhecimento explícito sobre a importância da família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Estado, tal proteção tem sido cada vez mais discutida, na medida em que a realidade tem dado sinais cada vez mais evidentes de processos de penalização e desproteção das famílias brasileiras. Nesse contexto, a matricialidade sociofamiliar passa a ter papel de destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência Social – PNAS (BRASIL, 2005, p. 41).
Carvalho (1994, p. 101) afirma que, na verdade “a família tem sido desconhecida das diretrizes e programas propostos pela política social brasileira. ” Isso porque as atenções voltadas para a família têm caráter conservador, sem levar em consideração os processos de mudança em curso e as transformações nas dimensões da sexualidade, procriação e convivência. (GOLDANI, 2002, p. 33).
Atualmente as famílias vêm passando alterações estruturais, o que inclui a monoparentalidade. Ao priorizar as famílias, os serviços ofertados acabam por selecionar aqueles que serão usuários e nesse contexto a figura feminina vem ganhando outras posições, tomando cada vez mais o papel de provedora, enfrentando um desafio muito maior, que é cuidar e prover, e o homem é desqualificado como sujeito cuidador e administrador do lar.
Alguns países dão especial suporte material às famílias monoparentais com crianças e dependentes adultos. Outros 10 incentivam a reinserção da mãe trabalhadora no tradicional papel de “dona-de-casa”, com o chamativo apelo da importância do cuidado direto materno na criação saudável dos filhos. (PEREIRA 2010, p. 26)
	O que se identifica é uma tendência, principalmente nos programas de transferência de renda, de atribuir apenas à mulher diversas funções como gerir, cuidar, cumprir.
A visão idealizada da família acarreta uma sobrecarga de tarefas e expectativas sobre as mulheres e uma desresponsabilização dos homens, especialmente quando houve uma ruptura com o laço conjugal. [...]. Nesse sentido, a política para a família deixa de ter efeito emancipatório, de promoção de autonomia e de cidadania, e gera dependência e perpetuação de práticas assistencialistas (MOREIRA; PASSOS; PEREIRA, 2012, p. 40).
Essa questão traz à figura da mulher uma responsabilização que pode acabar contribuindo para a manutenção das relações desiguais entre homens e mulheres.
Aos homens estaria delegada a função de provedor como trabalhador fora do ambiente domiciliar enquanto para as mulheres restaria o cuidado com o lar, o trabalho não remunerado e cuidado com os filhos. Nos casos de arranjos familiares monoparentais, por exemplo, as mulheres tendem a absorver uma pressão ainda maior, dividindo o tempo entre o trabalho doméstico e não doméstico. (RIOS-NETO, 2014, p.16)
Oliveira (2004) afirma que essa questão coloca o homem numa posição vitimista em relação ao próprio machismo e das condições históricas que ele se insere, quando colocado como homem provedor, sendo assim necessário repensar sua participação quanto aos cuidados. 
Os programas Bolsa Família e o Programa Mais Infância têm a clarificação dessa intencionalidade, onde a mulher é colocada como principal beneficiária e, ao mesmo tempo, a responsável pelo cumprimento das condicionalidades.
A política social tende a reforçar desigualdades e hierarquias culturalmente consolidadas, dentre as quais se destacam as de gênero, particularmente no âmbito dos programas de transferência de renda destinados à família” (MIOTO, 2011, p. 7)
Nesse sentido, pode-se perceber que as condicionalidades imprimem sobrecarga, visto que seu descumprimento acarreta o cancelamento do benefício, bem como cabe às mulheres o dever de cumpri-las, mais uma vez sobrecarregando-as (TEIXEIRA, 2010, p.197). Por isso “questiona-se se essa titularidade reforçaria a divisão sexual do trabalho ao atribuir exclusivamente à mulher a responsabilidade com gestão do benefício e cumprimento das condicionalidades. ” (MAGALHÃES, 2018).
Vale ressaltar, também, a importância dos Programas bem como suas contribuições como a melhoria da alimentação, o acesso a bens e crédito, bem como outros produtos nos quais antes não seriam possíveis de serem adquiridos. Mas enfatizemos que a criação e implementação do PBF, por exemplo, não foi ligado a autonomia da mulher, como afirma Cisne (2013, pág. 271):
[...], contudo, consideramos que o PBF não foi pensado como uma forma de fortalecimento para autonomia das mulheres, ainda que em alguma medida possa contribuir para isso. Para nós, o seu fundamento está associado ao interesse de instrumentalização da mulher para gestão da pobreza e não para a sua autonomia.
Com isso, percebe-se que há contradiçõese críticas, visto que há também uma dupla intenção por parte do Estado na centralidade feminina no Programa Bolsa Família, que, por muitas vezes reforçam disparidades de gênero, pois “Ao fazê-lo, o Estado está gerando, para as mulheres pobres, responsabilidades ou sobrecarga de obrigações relacionadas à produção social. ” (CARLOTTO & MARIANO, 2009, p.902). Para as autoras a centralidade feminina no PBF contribui para a reprodução de relações conservadoras e paternalistas que colocam a mulher numa esfera exclusivamente doméstica, visto que o programa reproduz uma dissociação dos papéis sociais entre homens e mulheres, deixando para elas os cuidados e afazeres domésticos e familiares, bem como a impossibilidade de conseguir um trabalho formal.
Em contrapartida existem autores que trazem afirmações positivas quanto ao ingresso das mulheres no PBF:
O PBF traz efeitos no reordenamento do espaço doméstico, na autoestima, no empoderamento e acesso feminino ao espaço público (como participação em conselhos comunitários e escolares), possibilitando às mulheres maior poder de barganha, maior capacidade de fazer escolhas e maior poder de decisão sobre o uso do dinheiro. (BRONZO apud MOREIRA, 2012, p. 406)
Contudo, ter a compreensão de que essa responsabilização da mulher dentro dos programas de transferência de renda é uma estratégia do Estado, pois na medida em que se constitui num meio de racionalizar e focalizar programas sociais e iniciativas que deveriam ser públicas e universais. MOTA (2010, p. 242), é perceber que tais programas não foram pensados como políticas públicas que visam a equidade de gênero, mas acabam por cristalizar relações desiguais entre homens e mulheres.
Os programas referidos nitidamente exemplificam as relações de gênero que se formam a partir das ações da Política de Assistência Social, mas é importante deixar claro que existem outras inúmeras outras responsabilidades atribuídas às mulheres no âmbito da Proteção social e/ou especial. Há que se discutir as situações de vulnerabilidade nas quais as mulheres estão expostas, bem como as discriminações e opressões, pouco debatidas na esfera do SUAS (GASPAROTTO, 2017, p. 211). Bem como políticas públicas que visem a promoção de mudanças voltadas para a equidade e a igualdade de gênero.
Segundo Mesquita e Monteiro (2016), existem poucos estudos de gênero na área do Serviço Social, deveriam ser pensados como parte do projeto ético-político profissional afirmando que “ter como horizonte o projeto feminista de igualdade entre os sexos é um dever ético e não uma opção que se situa no terreno da moral” (MESQUITA, MONTEIRO, 2016, [s.p.]).
Quanto a titularidade masculina em programas de transferência de renda, Marins (2017) realizou um estudo no Rio de Janeiro, mais precisamente na cidade de Itaboraí, que resultou em dois possíveis motivos pelos quais a figura masculina é afastada da gestão desses programas. A primeira está ligada ao sentimento de fracasso financeiro, onde o homem, ao receber um benefício do governo, se sentiria humilhado e incapaz de prover o sustento familiar. A outra possível motivação é a percepção machista de que o benefício recebido é exclusivo da mulher, por ser a ela também incumbido o dever de cumprir com as condicionalidades.
A partir dessas leituras, o que se pode perceber é a existência de disparidades entre gêneros, onde o homem é uma figura invisível dentro da Política de Assistência Social, embora seja enfatizado sua universalidade. E a mulher, como figura central dentro dessa política, torna-se responsável pelos cuidados familiares e domésticos, reforçando papéis conservadores.
	Essas questões trazem a necessidade de um debate quanto as concepções do que é inerente ao sexo feminino e ao sexo masculino e de como isso pode contribuir para a promoção da equidade e igualdade de gênero, abrangendo o acesso aos direitos socioassistenciais.
2 PERCURSSO METODOLÓGICO
	A pesquisa proposta neste estudo propõe uma metodologia específica utilizada na área de estudos das ciências sociais e tem como referência autores como Minayo (2001) e Gil (2008). Inicialmente é necessário compreender o conceito de metodologia e para isso se buscou Minayo (p. 16, 2001) que apresenta metodologia como o caminho que se percorre na abordagem da realidade: 
	
Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas. Dizia Lênin (1965) que "o método é a alma da teoria" (p. 148), distinguindo a forma exterior com que muitas vezes é abordado tal tema (como técnicas e instrumentos) do sentido generoso de pensar a metodologia como a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência. Da forma como tratamos neste trabalho, a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do investigador. 
Nesta perspectiva metodologia percorre o caminho das teorias e reflexões teóricas acerca do assunto a ser estudado, os instrumentais técnicos que facilitam conhecer a realidade e exige ainda do pesquisador sua capacidade de criar, inovar, transcender o fato. 
A pesquisa que será utilizada será qualitativa e quantitativa por que o objetivo geral da pesquisa que é discutir a centralidade e responsabilidade das mulheres no Programa Bolsa Família no Território do CRAS José Turíbio de Souza no Município de Caucaia, é uma realidade que não pode ser quantificada. Ela transcende o quantitativo e se preocupa com significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. Neste sentido no trabalho aqui apresentado, a pesquisa qualitativa corresponde às ideias de Minayo (2001, p.21), 
A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (...), a abordagem qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas.
Para atingir os objetivos específicos propostos, quais sejam, traçar um perfil das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família que frequentam os serviços do CRAS José Turíbio de Souza, conhecer a dinâmica da vida cotidiana das mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família que frequentam o CRAS José Turíbio de Souza e analisar a centralidade feminina no Programa Bolsa Família, será necessário fazer uso da pesquisa tipo exploratória que segundo (GIL, 2011, p. 27),
, 
As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. (...). Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso. (...) Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico, tornam se necessários seu esclarecimento e delimitação, o que exige revisão da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. O produto final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais sistematizados.
Para a construção deste estudo o Ciclo de Pesquisa apresentado pela autora Minayo (2001, p. 25), se adequa bem.(...) a pesquisa é um labor artesanal, que se não prescinde da criatividade, se realiza fundamentalmente por uma linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo próprio e particular. A esse ritmo denominamos ciclo da pesquisa, ou seja, um processo de trabalho em espiral que começa com um problema ou uma pergunta e termina com um produto provisório capaz de dar origem a novas interrogações. O processo começa com o que denominamos fase exploratória da pesquisa, tempo dedicado a interrogarmos preliminarmente sobre o objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo. Seu foco fundamental é a construção do projeto de investigação. Em seguida, estabelece-se o trabalho de campo que consiste no recorte empírico da construção teórica elaborada no momento. Essa etapa combina entrevistas, observações, levantamentos de material documental, bibliográfico, instrucional etc. Ela realiza um momento relacional e prático de fundamental importância exploratória, de confirmação ou refutação de hipóteses e construção de teorias. Por fim, temos que elaborar o tratamento do material recolhido no campo, subdividindo-se no seu interior em: a) ordenação; b) classificação; c) análise propriamente dita. 
O tratamento do material nos conduz à teorização sobre os dados, produzindo o confronto entre a abordagem teórica anterior e o que a investigação de campo aporta de singular como contribuição. Certamente o ciclo nunca se fecha, pois, toda pesquisa produz conhecimentos afirmativos e provoca mais questões para aprofundamento posterior.
	O ciclo da pesquisa pode ser compreendido como um processo de trabalho em espiral que começa com um problema ou uma pergunta e termina com um produto provisório capaz de dar origem a novas interrogações. As primeiras indagações que surgiram neste estudo foram: Quais as motivações do Ministério do Desenvolvimento Social ao colocar a figura feminina na centralidade do Programa Bolsa Família? Essa responsabilização traz empoderamento às suas beneficiárias? Ou contribui para a manutenção do conservadorismo? Qual a opinião das beneficiárias quanto a isso? Com certeza a investigação das respostas a estes questionamentos trarão um produto, porém produzirá novas questões. 
Na fase exploratória da pesquisa o tempo será dedicado a interrogar sobre o objeto, os pressupostos, as teorias pertinentes, a metodologia apropriada e as questões operacionais para levar a cabo o trabalho de campo. Assim foi realizada uma pesquisa bibliográfica desenvolvida na leitura, fichamento e reflexões de material escrito já elaborado e constituído de artigos científicos e livros, revistas eletrônicas, trabalhos e monografia, ou seja, como descreve GIL (2011, p.50): 
A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,
Constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Parte dos estudos exploratórios podem ser definidos como pesquisas bibliográficas, assim como certo número de pesquisas desenvolvidas a partir da técnica de análise de conteúdo.
Também foi realizada uma pesquisa documental, na qual é utilizada a Política Nacional de Assistência Social – PNAS, Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, Constituição Federal – CF (1988) e a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Ambas as pesquisas apresentam semelhanças, porém se diferenciam na natureza das fontes.
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. (GIL, 2011, p. 51)
 
Dando continuidade ao ciclo da pesquisa foi efetivado o trabalho de campo que consiste no recorte empírico da construção teórica elaborada até o momento. Essa etapa combinou questionários, entrevistas, observações, levantamentos de material documental, bibliográfico. O lócus do trabalho de campo foi o CRAS José Turíbio de Sousa, que fica localizado na Avenida Central, s/n, do Bairro Araturi, Município de Caucaia. É um órgão público e tem como missão a organização da rede socioassistencial e a oferta de serviços da Proteção Social Básica em seu território. 
Os CRAS têm por objetivo “prevenir a ocorrência de situações de vulnerabilidades e riscos sociais nos territórios, por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, e da ampliação do acesso aos direitos de cidadania. ” (ORIENTAÇÕES TÉCNICAS, 2009, p.9).
A instituição tem como objetivo alcançar todas as famílias em vivem em situação de vulnerabilidade social no território através dos serviços do Programa de Atenção Integral à Família e oficinas que são realizados no equipamento, além degarantir os direitos dos usuários que buscam o CRAS, através da articulação com toda a rede sócio assistencial. 
A meta do equipamento é reduzir os riscos sociais ou a reincidência deles, possibilitar que as famílias acompanhadas estejam orientadas e cientes de seus direitos; inserir usuários em programas aos quais tenham perfil adequado; ter adolescentes e jovens orientados e inseridos na escola, bem como as crianças; fortalecer os vínculos familiares, sempre que identificados os riscos de rompimento.
Para alcance dos seus objetivos e metas e, de acordo com a Política Nacional de Assistência Social, o CRAS oferece programas como PAIF (Programa de Atenção Integral da Família) e os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) que se dividem de acordo com a idade dos usuários. Tem como política geral o acesso e a promoção dos direitos sócio assistenciais no território e a prevenção da ocorrência de riscos sociais. 
Quanto aos serviços desenvolvidos existe o SCFV, no qual são atendidas crianças de 6 a 15 anos, adolescentes de 15 a 17 anos, mulheres de 18 a 59 anos, idosos e mulheres gestantes. Além desses serviços a equipe sócio assistencial atende uma Associação Beneficente educacional e de assistência social para pessoas com deficiência, chamada Pequeno Cotolengo, localizada no território e idosos do projeto Pró-Idoso, ambas as instituições localizadas no território do Araturi.
Para que seja realizada uma pesquisa social, o autor deve selecionar uma pequena parte de um grupo específico de pessoas que possuem elementos que tipificam sua pesquisa. Muitas vezes essa população é tão grande que se torna inviável desenvolver a pesquisa, e por isso é necessário que se faça a seleção de uma amostra.
Neste trabalho nosso universo é constituído por mulheres beneficiárias do Programa Bolsa Família e do Cartão Mais Infância Ceará, do Bairro Araturi que frequentam o CRAS José Turíbio de Sousa. Foi utilizado como critério de seleção para participar da pesquisa aquelas que frequentam o CRAS e que se disponibilizaram para colaborar e como critério de exclusão aquelas mulheres que se recusaram. 
Para obtenção de dados foi utilizada como técnica inicialmente o questionário para traçar o perfil socioeconômico das entrevistadas, pois, segundo Gil “Construir um questionário consiste basicamente em traduzir objetivos da pesquisa em questões específicas. As respostas a essas questões é que irão proporcionar os dados requeridos para descrever as características da população pesquisada ou testar as hipóteses que foram construídas durante o planejamento da pesquisa. ” 
Em seguida utilizamos a entrevista semiestruturada que possibilita o diálogo aberto e uma interação social com as mulheres beneficiárias. A técnica foi escolhida para que a pesquisa alcance o maior número possível de respostas, independente do grau de instrução das entrevistadas. O roteiro foi utilizado para melhor organização dos assuntos abordados na entrevista e gravador de voz para melhor apreensão das respostas dadas pelas entrevistadas. A entrevista foi realizada de acordo com a disponibilidade das beneficiárias, dentro do próprio equipamento ou em visitas domiciliares. 
Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação. A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizada no âmbito das ciências sociais. Psicólogos, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais e praticamente todos os outros profissionais que tratam de problemas humanos valem se dessa técnica, não apenas para coleta de dados, mas também com objetivos voltados para diagnóstico e orientação. Enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (GIL, 2011, p. 109)
A entrevista semiestruturada, segundo Minayo (2012, p.58), “combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada. ” 
Foi utilizado também para registro de dados o diário de campo que, segundo Minayo (2012, p. 63) “é um instrumento ao qual podemos colocar nossas percepções, angústias, questionamentos e informações que são obtidas através de outras técnicas. “
Esta pesquisa será desenvolvida respeitando a Resolução 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde, que trata de pesquisas envolvendo seres humanos, bem como todas as normas e diretrizes relacionadas a este tipo de pesquisa, garantindo-lhes autonomia, a garantia de reparação de previsíveis danos, a ponderação entre os riscos e benefícios e justiça. 
As pesquisas envolvendo seres humanos devem atender aos fundamentos éticos e científicos pertinentes. III.1 - A eticidade da pesquisa implica em: 
a) respeito ao participante da pesquisa em sua dignidade e autonomia, reconhecendo sua vulnerabilidade, assegurando sua vontade de contribuir e permanecer, ou não, na pesquisa, por intermédio de manifestação expressa, livre e esclarecida; (RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012) 
Na medida em que as mulheres beneficiárias dos referidos programas compareceram ao equipamento CRAS, foi apresentado à elas o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual as participantes expressam a liberdade de participar desta pesquisa, sendo-lhes assegurado o direito de desistir da participação sem represálias, acesso aos dados e resultados da pesquisa, e a confidencialidade de sua identidade e das informações passadas, o que também lhes é assegurado de acordo com o Código de Ética do Assistente Social.
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pesquisa se processe com consentimento livre e esclarecido dos participantes, indivíduos ou grupos que, por si e/ou por seus representantes legais, manifestem a sua anuência à participação na pesquisa. Entende-se por Processo de Consentimento Livre e Esclarecido todas as etapas a serem necessariamente observadas para que o convidado a participar de uma pesquisa possa se manifestar, de forma autônoma, consciente, livre e esclarecida. IV.1 - A etapa inicial do Processo de Consentimento Livre e Esclarecido é a do esclarecimento ao convidado a participar da pesquisa, ocasião em que o pesquisador, ou pessoa por ele delegada e sob sua responsabilidade, deverá: a) buscar o momento, condição e local mais adequados para que o esclarecimento seja efetuado, considerando, para isso, as peculiaridades do convidado a participar da pesquisa e sua privacidade; b) prestar informações em linguagem clara e acessível, utilizando-se das estratégias mais apropriadas à cultura, faixa etária, condição socioeconômica e autonomia dos convidados a participar da pesquisa; e c) conceder o tempo adequado para que o convidado a participar da pesquisa possa refletir, consultando, se necessário, seus familiares ou outras pessoas que possam ajudá-los na tomada de decisão livre e esclarecida. (RESOLUÇÃO Nº 466, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2012) 
Para concluir este ciclo da pesquisa foi elaborado o tratamento do material recolhido no campo com a análise dos dados colhidos. O tratamento do material identificado conduziu à teorização dos dados, produzindo o encontro entre a abordagem teórica anterior já produzida por outros autores e o que a investigação de campo aponta como novo. O ciclo da pesquisa nunca se fecha, pois, toda pesquisa produz conhecimentos e provocam outras e novas mais questões para aprofundamento posterior. (MINAYO, 2001, p.79) 
Os dados e resultados da pesquisa serão arquivados e acessíveis aos participantes, de acordo com as exigências da Resolução CNS 466/12(BRASIL, 2012).
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Os resultados desta pesquisa foram fundamentados em dados qualitativos e quantitativos da pesquisa de campo realizada no Centro de Referência de Assistência Social – CRAS José Turíbio de Sousa, no bairro Araturi, no município de Caucaia-CE, por meio de questionário e entrevista semiestruturada com 9 mulheres beneficiárias dos Programas de transferência de renda Bolsa família e Cartão Mais Infância. A elas foram esclarecidos o objetivo da pesquisa bem como os aspectos éticos e legais, segundo a Resolução 466/12. Diante disso foram lhes assegurado o direito de desistência da participação na pesquisa, acesso aos dados e resultados e a confidencialidade de sua identidade e das informações passadas.
No CRAS José Turíbio de Sousa é realizado quinzenalmente encontros com as beneficiárias do Programa Bolsa Família e do Cartão Mais Infância Ceará. Esses encontros acontecem com o intuito de se ter um melhor acompanhamento das famílias que recebem os dois benefícios, visto que, no território são apenas 7 famílias contempladas com ambos, por se enquadrarem no quadro de extrema pobreza.
O primeiro contato com as beneficiárias foi em um desses encontros e, após a realização da atividade com a técnica responsável foi apresentado o assunto abordado pela minha pesquisa elas se mostraram interessadas e, na medida em que respondiam o questionário, relatavam inquietações e suas observações a respeito, afirmando existirem contradições no que diz respeito ao sentimento de sobrecarga pelas diversas obrigações atribuídas a elas e, ao mesmo tempo, diziam que os referidos benefícios estão sendo de grande importância financeira.
Apesar de demonstrarem interesse em discutir a temática, constantemente demonstravam pressa em ir embora, por terem inúmeras atividades a realizar em casa. Além disso, a frequência das mulheres que compõe esse grupo CMIC é baixa, o que me levou a participar de outros encontros, para o alcance de um número maior de entrevistadas.
No segundo encontro que participei, apliquei o questionário e a entrevista, porém só compareceram as mesmas participantes do encontro anterior, enfatizo que, como anteriormente, elas estão sempre afirmando ter que ir embora devido as responsabilidades com o lar, filhos e família.
Devido à baixa frequência das beneficiárias do CMIC, com a indicação da equipe técnica do CRAS José Turíbio de Sousa, resolvi realizar os procedimentos da pesquisa no decorrer dos atendimentos. 
Abaixo descrevo os resultados obtidos no questionário que busca apreender o perfil sócio econômico das entrevistadas. O primeiro gráfico demonstra a faixa etária das participantes:
GRÁFICO 1- FAIXA ETÁRIA DAS PARTICIPANTES
Das 9 mulheres entrevistadas, 5 têm idade entre 31 e 40 anos, 2 entre 18 e 30 anos, 1 entre 41 e 50 anos e 1 com mais de 60 anos. A seguir o gráfico demonstra a quantidade de filhos das entrevistadas:
GRÁFICO 2- QUANTIDADE DE FILHOS
Dentre as participantes, não há nenhuma que não tenha filhos, e 7 das 9 participantes têm entre 3 e 4 filhos. Uma delas tem entre 1 e 2 filhos, e a outra tem mais de 5 filhos. A autora Marlene Teixeira (2010, p. 198) em seu artigo sobre equidade de gênero e as transferências de renda, aponta o perfil das mulheres contempladas com o benefício. Todas têm idade entre 19 e 39 anos e todas são mães, semelhantemente a presente pesquisa. O que chama atenção, visto que o Programa tem como foco a existência de recursos, embora não tenha como pré-requisito que as famílias com filhos. 
O próximo gráfico descreve o grau de escolaridade das beneficiárias participantes:
GRÁFICO 3 - ESCOLARIDADE
Quanto à escolaridade, nenhuma das entrevistadas tem ensino superior, nem são apenas alfabetizadas. Uma delas não é alfabetizada, 4 delas estudaram até o ensino fundamental e 4 concluíram o ensino médio. Desse modo, as entrevistadas de baixa escolaridade afirmam que isso se torna mais um ponto que dificulta o acesso ao mercado de trabalho. As que já tem o ensino médio concluído afirmam não terem oportunidades para este ingresso.
O gráfico seguinte descreve a quantidade de pessoas que residem com as beneficiárias que participaram da pesquisa:
GRÁFICO 4 – QUANTIDADE DE PESSOAS QUE MORAM NA RESIDÊNCIA
Em relação à quantidade de pessoas que residem na casa de cada uma das entrevistadas, 4 delas têm entre 1 e 3 pessoas e as demais, entre 4 e 6 pessoas., mostrando assim que a maioria dos perfis se enquadram em configurações familiares compostas por um grande número de pessoas, porém em nenhum momento falam da existência de companheiros.
 Adiante, o gráfico 5 mostra a renda familiar dessas beneficiárias:
GRÁFICO 5 – RENDA FAMILIAR
Dentre as entrevistadas 5 delas recebem menos de meio salário mínimo, e as outras 4 recebem entre meio e 1 salário mínimo. Todas as entrevistadas afirmaram não exercer atividade remunerada, visto que são responsáveis pelos cuidados familiares e domésticos, problemática reforçada por STEREN (2008, p.101):
É necessário frisar que a problemática das maiores dificuldades que as mulheres enfrentam para compatibilizar a vida privada com o mundo do trabalho profissional não é algo que possa ser resolvido somente ao nível das relações interpessoais na esfera privada, pois dizem respeito também a transformações nas políticas sociais e a mudanças estruturais implementadas pela sociedade no seu conjunto.
 Também relataram não ter outra fonte de renda e que nenhum dos demais moradores da residência trabalham. Pode-se perceber que o perfil de renda das beneficiárias é extremamente baixo, colocando as famílias dessas beneficiárias na linha de pobreza e/ou extrema pobreza, visto que as condições de renda per capta para transferência de renda dos referido programas às famílias que vivem em situação de extrema pobreza (com renda per capta até oitenta e cinco reais – R$85,00) e pobreza (com renda per capta entre oitenta e cinco reais e um centavo a cento e setenta reais – R$85,01 a 170,00) (MANUAL DO PESQUISADOR – PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA, 2018, p. 12).
Percebe-se que o recebimento dos benefícios contribuiu para o acesso à renda, já que as entrevistadas afirmaram não exercerem atividade remunerada formal ou informalmente, porém têm-se que o recebimento do benefício causa um efeito negativo sobre a vida profissional das beneficiárias. Tavares (2010) realizou uma pesquisa na qual buscou investigar a existência de um incentivo contrário à inserção das beneficiárias no mercado de trabalho. Os resultados apontaram para uma relação de incentivo antagônica, em que quanto maior o valor do benefício recebido, menor as chances da beneficiária entrar no mercado de trabalho.
 No gráfico 6 descreve de quais benefícios as participantes são beneficiárias, tendo em vista que o foco foram os programas de transferência de renda Bolsa Família e Mais Infância Ceará.
GRÁFICO 6 – QUANTO AOS BENEFÍCIOS QUE RECEBEM
Todas as entrevistadas são beneficiárias do Programa Bolsa Família, porém apenas 3 delas também recebem o benefício do Programa Mais Infância, visto que os programas contemplam famílias inscritas no Cadastro único e o recebimento de um não exclui o outro.
Quanto ao estado civil das participantes, todas afirmaram serem solteiras, e responsáveis por chefiar a família. As autoras Moreira, Passos e Pereira (2012, p. 39), afirmam que “nas famílias monoparentais femininas, as mulheres buscam nas políticas públicas e nos programas sociais parceria e apoio material e simbólico para que possam realizar as tarefas de provedoras e de cuidadoras de suas crianças e adolescentes”. 
Carloto (2014) traz estudos referentes a famílias monoparentais feminina e que usam como critério a responsabilidade com o sustento econômico, mesmo quando a renda vem da transferência de benefícios do governo, porque entende que a mulher faz uso mais adequado do recurso. Segundo a autora essas pesquisas apontam que esse arranjo familiar está mais presente nas famílias mais pobres e está relacionada a diferença de ganhos entre homens e mulheres, não por

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