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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO ESTADO DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL YARA VIANA MARTINS O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ENFRENTAMENTO À VULNERABILIDADE SÓCIO-FAMILIAR: um estudo realizado com famílias atendidas pelo CRAS Angorá – Itaitinga - CE FORTALEZA/CE 2014 YARA VIANA MARTINS O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NO ENFRENTAMENTO À VULNERABILIDADE SÓCIO-FAMILIAR: um estudo realizado com famílias atendidas pelo CRAS Angorá – Itaitinga – CE Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientadora: Profª. Ms. Moíza Sibéria Silva de Medeiros. FORTALEZA/CE 2014 Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274 M379p Martins, Yara Viana O programa bolsa família no enfrentamento à vulnerabilidade sócio-familiar: um estudo realizado com famílias atendidas pelo CRAS Angorá – Itaitinga-CE / Yara Viana Martins. Fortaleza – 2014. 105f. Orientador: Prof.ª Ms. Moíza Sibéria Silva de Medeiros. Trabalho de Conclusão de curso (graduação) – Faculdade Cearense, Curso de Serviço Social, 2014. 1. Assistência social. 2. Família. 3. Programa bolsa família - Vulnerabilidade. I. Medeiros, Moíza Sibéria Silva de. II. Título CDU 364 Quero dedicar este trabalho a minha Mãe, Maria Regina, e aos meus irmãos, Igor Viana, Maurício Viana, e a minha Tia, Iracema Almeida, pelo amor, dedicação, ensinamento, pelo apoio incondicional em todos os momentos da minha vida e por me fazer acreditar que tudo é possível, basta acreditar nos sonhos. Amo muito vocês. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que me deu sabedoria e discernimento para conquistar mais essa vitória, pela força que me proporcionou ao caminhar nessa estrada cheia de desafios e barreiras, me possibilitando conhecer pessoas especiais, que não mediram esforços para me ajudar durante a realização desta graduação, sem dúvida não teria dado nem o primeiro passo. À pessoa que mais me apoiou nessa jornada, minha mãe Maria Regina, a mulher que me deu amor incondicional e compreensão, não me deixando desistir diante das dificuldades, por nenhum momento. Aos meus irmãos, Maurício Viana e Igor Viana, que demonstraram paciência e compreensão, sempre me incentivando a seguir em frente, sempre demonstrando amizade e principalmente companheirismo, durante o processo de construção deste trabalho acadêmico. A todos os meus familiares, principalmente, Iracema Almeida(Tia), que sempre me apoiou em todas as minhas escolhas, me confortando com palavras de motivação. À minha orientadora Moíza Siberia Silva de Medeiros, por suas orientações, seu profissionalismo, sua competência, seu incentivo, sua sabedoria, sua compreensão, seu carinho, sua paciência durante esse período que trabalhamos juntas. Às minhas grandes amigas, Camila Oliveira, Rosana Araujo, Rosieli Almeida, Vera Lúcia e a Waldiane Rocha, que nos momentos mais difíceis se mostraram verdadeiras amigas, sempre com palavras de incentivo e motivação. Aos professores (as) que fizeram parte destes quatros anos do processo de construção de conhecimento acadêmico, com seus ensinamentos, contribuíram imensamente para o desenvolvimento deste trabalho acadêmico. Assim, agradeço a todos que fizeram parte desta construção, que me apoiaram, me ajudaram, que colaboraram para esta pesquisa, que me custou dedicação, desejo, disciplina e que fez parte da realização de um grande sonho, sonho esse pessoal e familiar. Agradeço também os participantes da minha banca, o professor Emanuel Bruno Lopes e a Paula Raquel da Silva que contribuíram significativamente com críticas construtivas que proporcionaram enriquecer o meu Trabalho de Conclusão de Curso. O meu profundo agradecimento, as pessoas que através de seus relatos contribuíram para a concretização deste estudo. O meu muito obrigada, ás pessoas que não foram citadas aqui diretamente, mas que de alguma forma, me ajudaram com o conhecimento, alegria, companheirismo, incentivo, que me levaram a finalizar esta pesquisa. “Não há quem não tenha fome, não há quem não tenha visto a fome, mas há quem alimente ou necessite ser alimentado”. Monique Santos Mota RESUMO O Programa Bolsa Família – PBF consiste em promover a proteção social às famílias que se encontram na situação de pobreza e extrema pobreza e que se encontram em uma situação de vulnerabilidade. Dito isto, este trabalho apresenta como objetivo geral analisar às contribuições do PBF no enfrentamento à vulnerabilidade das famílias atendidas no CRAS Angorá do município de Itaitinga – CE. Nesse sentido, buscou-se, especificamente, identificar o perfil sócio-demográfico das famílias; investigar como as famílias lidam com as condicionalidades do programa; compreender como o PBF tem contribuído para garantir às famílias condições mínimas de manutenção das necessidades básicas e verificar quais as expectativas das famílias em relação à possibilidade de não mais necessitarem da renda proveniente do PBF. Para a consecução destes objetivos realizou-se pesquisa qualitativa aliada à quantitativa, composta por estudo bibliográfico e documental, além de pesquisa de campo realizada no CRAS Angorá no município de Itaitinga. Foram entrevistadas sete responsáveis legais do PBF. As técnicas utilizadas para a coleta de dados foram: a observação assistemática, a entrevista semi- estruturada e o questionário sócio demográfico. Foram utilizados os seguintes instrumentos para registro das informações: roteiro de entrevista e o aparelho celular LG – C199. Este estudo se respaldou no método hermenêutico dialético, analisando-se os dados a partir da técnica de análise de conteúdo. A partir dessa análise, a pesquisa evidenciou que o PBF garante a complementação da renda, mas não consegue garantir o suprimento das necessidades básicas das famílias, sendo insuficiente no enfrentamento à vulnerabilidade. A pesquisa mostra que o perfil traçado dos usuários entrevistados do PBF são mulheres, em uma idade adulta, apresentando como faixa etária entre 20 a 53 anos de idade. É considerada a representante legal do benefício, sendo que em sua grande maioria são as responsáveis por gerenciá-los e consideradas chefes de família. O estudo também apresenta que a maioria das famílias entrevistadas desconheciam acerca das condicionalidades, ou seja, desconheciam sobre esse nome, não sabiam definir, porém tinham uma noção parcial sobre as condicionalidades. Diante disso, percebe-se que as entrevistadas associavam as condicionalidades somente levar seus filhos a escola ou ao posto de saúde. Outro dado interessante a destacar que as entrevistadas sabem o que são as condicionalidades, mesmo parcialmente, mas pela via de perder o benefício do que pela via de conhecimento. O PBF é uma Transferência de Renda que garante complementar a renda familiar, mas percebe-se nos depoimentos das entrevistadas que esse programa não é suficiente para suprir as necessidades básicas da família. O estudo revela que uma das maiores expectativas das famílias é em relação ao acesso ao emprego, ou seja, quando seus filhos atingir a maioridade possa conseguiremprego com carteira assinada, garantindo desta forma uma estabilidade financeira e uma segurança. Esta é uma expectativa recorrente em seus depoimentos em relação à possibilidade de não mais necessitarem da renda proveniente do PBF. Palavras – Chave: Assistência Social. Família. Vulnerabilidade e o Programa Bolsa Família. ABSTRACT The Bolsa Familia Program - PBF is to promote social protection for families who are in poverty and extreme poverty and who are in a vulnerable situation. That said, this work presents a general objective to analyze the contributions of PBF in addressing the vulnerability of families served in the city of Angora CRAS Itaitinga - EC. Accordingly, we sought to specifically identify the socio- demographic profile of families; investigate how families deal with the conditionalities of the program; understand how the PBF has contributed to ensure that families minimum conditions for basic maintenance needs to verify which expectations of families in relation to the possibility of no longer needing the income from PBF.To achieve these goals was held together with the qualitative research quantitative, consisting of bibliographic and documentary study, and field research conducted in the city of Angora CRAS Itaitinga. GMP seven guardians were interviewed. The techniques used for data collection were: the systematic observation, semi-structured interview and demographic questionnaire. - C199 interview script and LG cell phone the following instruments for recording information were used. This study was endorsed in dialectical hermeneutic method by analyzing the data from the content analysis technique.From this analysis , the research showed that the GMP ensures the completion of income, but can not guarantee that the basic needs of families , being insufficient in addressing the vulnerability . Research shows that the profile trace of respondents PBF users are women in an adult , presenting as aged between 20-53 years old. It is considered the legal representative of the benefit , and mostly are responsible for managing them and as heads of household . The study also shows that most of the families interviewed were unaware about the conditionalities , ie , unaware about this name, knew not set , but had a partial notion of conditionality . Therefore , it can be seen that the respondents associated conditionalities only take their children to school or to the clinic . Another interesting highlight that the respondents know what are the conditionalities , even partially , but by way of losing money than by means of knowledge given . The PBF is a cash transfer that ensures supplement the family income , but it can be seen in the statements of the interviewees that this program is not sufficient to meet the basic needs of the family. The study reveals that one of the biggest expectations of families is in relation to access to employment, ie, when their children reached adulthood can get formal employment , thus ensuring financial stability and security. This is a recurring expectation in their statements regarding the possibility of no longer needing the income from PBF. Social Care: Key - words. Family. Vulnerability and the Bolsa Família Program. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS PBF Programa Bolsa Família BPC Benefício de Prestação Continuada BSP Benefício para Superação da Extrema Pobreza BVG Benefício Variável à Gestante BVJ Benefício Variável Vinculado ao Adolescente BVN Benefício Variável à Nutriz CADÚNICO Cadastro Único CNAS Conselho Nacional de Assistência Social CF Constituição Federal CRAS Centro de Referência de Assistência Social DF Distrito Federal FAC Faculdade Cearense FNAS Fundo Nacional de Assistência Social HMECA Hospital e Maternidade Ester Cavalcante Assunção IML Instituto Médico Legal LOAS Lei Orgânica de Assistência Social LBA Legião Brasileira de Assistência Social MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEC Ministério da Educação NOB Norma Operacional Básica de Assistência Social PTR Programa de Transferência de Renda PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PNAS Política Nacional de Assistência Social PGRM Programa de Garantia de Renda Mínima PAIF Programa de Atenção Integral à Família SUAS Sistema Único de Assistência Social SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos SVO Serviço de verificação de óbito SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13 1. CONSTRUINDO OS CAMINHOS DA PESQUISA ..................................... 16 1.1 Aproximação do objeto de pesquisa ......................................................... 16 1.2 Percurso Metodológico ............................................................................. 23 1.3 Conhecendo o campo de pesquisa – o CRAS Angorá do município de Itaitinga – CE .................................................................................................... 29 1.4 Perfil das entrevistadas .............................................................................. 37 2. ASSISTÊNCIA SOCIAL E FAMÍLIA ........................................................... 44 2.1 Assistência Social no cenário atual ............................................................ 44 2.2 Família: suas novas configurações ............................................................ 57 3. O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO ENFRENTAMENTO À VULNERABILIDADE .................................................. 67 3.1 A vulnerabilidade no contexto sócio familiar ............................................... 67 3.2 O Programa Bolsa Família ......................................................................... 78 3.3 O Programa Bolsa Família na vida das famílias: garantir condições mínimas de manutenção das necessidades básicas? ................................................... 86 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 91 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 93 APÊNDICES ..................................................................................................... 98 13 INTRODUÇÃO Este trabalho aborda a contribuição do Programa Bolsa Família – PBF, que tem dez anos de implementação, no que se refere ao enfrentamento à vulnerabilidade sócio-familiar. Tematizará como o PBF pode garantir melhorias nas condições de vida das pessoas que se encontram em uma situação de vulnerabilidade social, tendo em vista que este programa social é uma política pública de enfrentamento à fome e à pobreza no país, destinado às famílias pobres e extremamente pobres e destina uma renda mínima mensal a estas. A pesquisa que deu base a este Trabalho de Conclusão de Curso – TCC apresentou como objetivo geral analisar as contribuições do PBF no enfrentamento à vulnerabilidade das famílias atendidas no CRAS Angorá do município de Itaitinga – CE. Nesse sentido, buscou, especificamente, identificar o perfil sócio-demográfico das famílias; investigar como as famílias lidam com as condicionalidades do programa; compreender como o PBF tem contribuído para garantir às famílias condições mínimas de manutenção das necessidades básicas e verificar quais as expectativas das famílias em relação à possibilidade de não mais necessitarem da renda proveniente do PBF. Contemplamos que esta pesquisa apresenta em sua análise, as coleta dedados referentes à importância desse benefício na vida das beneficiárias que foram entrevistadas. Durante a coleta de informações pudemos perceber que a maioria dos usuários do PBF é de mulheres, sendo estas as titulares do Programa e as responsáveis por receber e gerenciar o benefício, sendo as únicas responsáveis por garantir a sustentabilidade da família. Importa ressaltarmos que nesses dez anos o PBF passou a ser avaliado por organizações internacionais como sendo um exemplo de grande sucesso na redução da pobreza. Assim, é válido destacarmos a relevância de debater acerca do PBF, levantando discussões importantes sobre a importância do programa na vida dos beneficiários. Ressaltamos os avanços e desafios do 14 programa nesses dez anos de existência e, concomitantemente, as mudanças que este programa trouxe para as suas vidas. Com o objetivo de apresentar de forma sistematizada os resultados da pesquisa, este trabalho está organizado em três capítulos como veremos a seguir. O primeiro Capítulo intitulado: Aproximação do objeto de pesquisa aborda as principais motivações e inquietações que foram responsáveis na elaboração desse estudo. Portanto, apresento algumas indagações que nortearam o TCC: Caso o PBF garanta melhorar as condições de vida dessas famílias e concomitantemente o acesso destas a capacitação profissional, porque não há maiores investimentos na disponibilização de mais vagas no mercado de trabalho para essas famílias? Quais as estratégias estão sendo adotadas pelo Governo Federal para garantir que essas famílias de fato tenham uma condição de vida melhor e que possam sair dessa condição de pobreza? Outra indagação que merece ser destacada e acerca das críticas feitas ao PBF e dentre outras que serão apresentadas no decorrer da pesquisa. Apresenta também o percurso metodológico, no qual adotamos a pesquisa quantitativa e qualitativa. O estudo também adotou a pesquisa bibliográfica e a documental e foi realizada entrevistas com as beneficiárias do PBF no CRAS de Itaitinga. Destacamos a escolha dos usuários entrevistados em decorrência ao seguinte critério: aqueles usuários do programa que estavam recebendo o benefício a partir dos 4 anos em diante, teriam mais a contribuir para o estudo, portanto selecionei dez usuários do programa de forma aleatória, entretanto foram entrevistados somente sete usuários do PBF, em virtude de as mesmas não terem tempo disponível e também não tinham interesse em participar das entrevistas. Utilizamos também como procedimento para a coleta de dados empíricos as seguintes técnicas de pesquisa: a observação assistemática e a realização de entrevistas semi- estruturadas, possibilitando desta forma estabelecer um diálogo com as famílias beneficiárias do PBF. Utilizei como instrumentos, o roteiro de entrevista e o gravador de voz (aparelho do celular LG – C199), o gravador foi permitido somente em algumas entrevistas. Posteriormente, apresenta o campo de 15 pesquisa, o CRAS/Angorá, localizado no município em Itaitinga e por último o perfil das entrevistadas. No segundo Capítulo: Assistência Social e Família, abordamos a categoria Assistência social e realizamos um breve resgate histórico acerca da Política de Assistência Social Brasileira, trazendo discussões acerca de sua implementação no cenário atual. Explanamos, posteriormente à categoria família, apresentando suas novas configurações no cenário brasileiro. Em relação ao terceiro capítulo: O Programa Bolsa Família e suas contribuições no enfrentamento à vulnerabilidade, abordamos neste a categoria de análise que se refere à vulnerabilidade, no que diz respeito ao contexto sócio-familiar. Explanamos, posteriormente sobre como funciona o Programa Bolsa Família, apresentando um breve resgate histórico de sua implementação no país e as condicionalidades. Concluímos este capítulo, com uma discussão acerca das contribuições do PBF na vida das famílias, apresentando um pouco sobre como era a vida das beneficiárias antes de receber o Bolsa Família e após o recebimento, e concomitantemente suas expectativas em relação à possibilidade de não mais necessitarem do recurso proveniente do PBF. Em relação às considerações finais, tentamos realizar algumas sínteses referentes às questões expostas anteriormente, apesar de não ter sido algo fácil, pois foi um percurso longo e cheio de desafios que perpassaram este Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. 16 1. CONSTRUINDO OS CAMINHOS DA PESQUISA 1.1 APROXIMAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA O PBF está fazendo 10 anos de existência e é considerado o maior Programa de Transferência de Renda do mundo. Apresenta como um dos principais objetivos, a ampliação do acesso aos direitos sociais básicos. Atualmente, o PBF beneficia 13,8 milhões de famílias que se encontram abaixo da linha da pobreza1. De acordo com pesquisas e noticiários2 70% dos adultos beneficiados pelo PBF estão inseridos no mercado de trabalho, mesmo assim permanecem dependente do programa, por não conseguirem garantir renda suficiente que os possibilite garantir a sustentabilidade de suas famílias. Pesquisas revelam que as famílias beneficiadas pelo PBF não se “acomodam” com o benefício. O PBF visa também garantir, educação às crianças beneficiadas, fato que contribui para favorecer a redução da evasão dessas crianças da escola (SENADO, 2003). Apesar do Programa Bolsa Família ser uma política pública de enfrentamento à pobreza é interessante discutir acerca dessas informações acima elencadas. Quais as estratégias estão sendo adotadas pelo Governo Federal para garantir que essas famílias de fato tenham uma condição de vida melhor e que possam sair dessa condição de pobreza? Além de proporcionar uma renda que os possibilite garantir sustentabilidade, não se pode deixar de destacar que o PBF tem como desafio garantir qualificação profissional para essas famílias que necessitam melhorar sua situação de vida. 1 Disponível em: http://bolsafamilia10anos.mds.gov.br/node/124. Acesso em: 11/10/2013. 2 Disponível em: http://www.ptnosenado.org.br/textos/69-noticias/26824-70-dosbeneficiários-adultos-do- bolsa-familia-trabalham. Acesso em 13/10/2013. http://bolsafamilia10anos.mds.gov.br/node/124 http://www.ptnosenado.org.br/textos/69-noticias/26824-70-dosbeneficiários-adultos-do-bolsa-familia-trabalham http://www.ptnosenado.org.br/textos/69-noticias/26824-70-dosbeneficiários-adultos-do-bolsa-familia-trabalham 17 Assim, se indaga se o PBF garante melhorar as condições de vida dessas famílias e concomitantemente o acesso destas a capacitação profissional, porque não se investe na disponibilização de mais vagas no mercado de trabalho para essas famílias? Não adianta garantir somente a qualificação da mão-de-obra, mas, sobretudo que tenham vagas disponíveis para que essa mão-de-obra seja absorvida pelo mercado de trabalho. Outro ponto que merece ser destacado é acerca das críticas feitas ao PBF. Críticos alegam que o PBF gera um ciclo de dependência entre as famílias beneficiadas. Será mesmo que o PBF faz com que as famílias beneficiadas se “acomodem” a essa situação? Será mesmo que elas se sentem confortáveis com a sua condição de vulnerabilidade social? Ou será que essa situação é devido a outros fatores relacionados ao sistema capitalista no qual nós estamos inseridos? Outro ponto também a ressaltar é em relação à evasão escolar. Quais são as estratégias educativas que estão sendo tomadas para evitar a evasão escolar? As famílias estão tendo acesso às informações acerca das condicionalidades? As indagações acima foram um dos motivos que contribuíram para nortear a execução da pesquisa que deu base a este trabalho monográfico. Esses questionamentosforam surgindo a partir das discussões empreendidas ao longo das disciplinas do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC e me motivaram a pesquisar a temática, delimitada como foco do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. A partir da inserção no meio acadêmico tive a oportunidade durante as aulas de participar de debates e discussões acerca da temática. Ademais, a afinidade acerca da temática sempre foi expressa e construída ao longo do decorrer de toda a vida acadêmica3. Estava cursando o 4º semestre do curso de Serviço Social quando tive a oportunidade de participar de debates em sala de aula na disciplina de Política Social Setorial, acerca do Seminário Nacional: Trabalho do/a Assistente Social 3 A partir deste momento narrarei minha trajetória de aproximação com o objeto. Como se trata de uma experiência pessoal farei essa narrativa em primeira pessoa do singular. 18 no Sistema Único de Assistência Social – SUAS. O debate levantado na disciplina foi acerca da política de Assistência Social: Direito ou Assistencialização4? Portanto, no debate empreendido em sala de aula, refere- se sobre a Política de Assistência Social no confronto entre o direito ou assistencialização, desta forma acaba por levantar vários questionamentos acerca do entendimento da Assistência Social como campo da política pública. O texto também aborda sobre a disseminação da expressão, assistencialização das políticas sociais acaba por relacionar-se com a precarização de políticas sociais, diante disso, cria-se uma visão negativa da Política de Assistência Social. Em relação à expressão do direito no campo da Assistência Social aborda sobre o trânsito do campo dos direitos humanos para os direitos sociais. Diante do exposto, ressalta-se que a Assistência Social como âmbito referente da proteção social, apresenta o direito a dignidade humana. É importante ressaltar que os direitos sociais no âmbito da Assistência Social foram introduzidos a partir da Constituição Federal – CF de 1988. De acordo com a Constituição Federal – CF de 1988, Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito á vida, à liberdade, á igualdade, à segurança e à propriedade. (BRASÍLIA, 2012, p.8). A Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988 apresenta os direitos no âmbito civil, político e social5. Portanto, a Constituição Federal garante direitos, que visam superar a perspectiva assistencialista. A Política Nacional de Assistência Social – PNAS surge justamente para reforçar a garantia da Assistência Social como direito (PNAS, 2005). Ao se firmar como direito direcionado ao cidadão, garante ao mesmo o direito à melhoria na sua condição de vida. Portanto, a garantia do acesso a 4 Encontra-se em: O Trabalho do/a Assistente Social no Suas: Seminário Nacional/Conselho Federal de Serviço Social_Gestão Atitude Crítica para Avançar na luta. Brasília: CFESS, 2011. 5 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0101-32622001000300002. Acesso em 28/12/2013. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0101-32622001000300002 19 direitos sociais básicos não é uma prática assistencialista, pautada na idéia do favor, da caridade, pelo contrário, o acesso a esses direitos são garantidos e fundamentados por lei. A Política de Assistência Social não é uma prática assistencialista, pautada na solidariedade, caridade, benemerência, historicamente tradicional em nosso país. Assim, o Estado passava a transferir a suas maiores responsabilidades à população, ocasionando a restrição da execução de práticas e ações emergenciais (MESTRINER, 2008). Portanto, as políticas sociais não são meramente favores, são direitos conquistados através de manifestações, reivindicações da população visando uma sociedade mais igualitária. Na disciplina foi levantada também a discussão acerca da garantia do Benefício eventual da Cesta Básica, ofertado pelo Centro de Referência de Assistência Social – CRAS6, que se coloca como demanda emergencial. Entendendo a garantia dos direitos como pauta de discussão na disciplina surgiu o questionamento acerca do Benefício Eventual da Cesta Básica, direito assegurado naquele momento. Diante dessa situação, a família não pode esperar, é de caráter emergencial. Portanto, as discussões e debates ao longo de toda a disciplina foram de extrema relevância, me possibilitou a aproximação com a temática. Mas, sobretudo, contribuiu para que conhecesse mais acerca destes benefícios eventuais e me motivou a pesquisar acerca do PBF. É interessante ressaltar que a partir dos questionamentos levantados nos debates que foram empreendidos em sala de aula, isso me motivou a pesquisar acerca do PBF, favoreceu a aproximação com a assistência social e concomitantemente ao PBF. Destacamos uma experiência de estágio que não favoreceu que tivesse uma relação com a aproximação com o objeto. Encontrei certa dificuldade de 6 São benefícios da Política Nacional de Assistência Social – PNAS que visam atender às famílias em virtude de morte, nascimento, em casos de calamidade pública ou em situações de vulnerabilidade temporária. Disponível em: http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficioassistenciais/beneficioseventuais. Acesso em: 09/10/2013. http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/beneficioassistenciais/beneficioseventuais 20 começar a pesquisa, porque iniciei um estágio que não tinha a ver com a área da Assistência Social. Iniciei a prática de estágio supervisionado em Serviço Social no município onde resido em Região Metropolitana de Fortaleza, no Hospital e Maternidade Ester Cavalcante Assunção – HMECA. O período de estágio foi no 6º semestre de 2012, portanto não tive contato com o objeto no campo de estágio. Mesmo nesse contexto, na área da saúde, tive a oportunidade de presenciar o contato com uma situação que despertou ainda mais a vontade de pesquisar sobre o Bolsa Família, que foi justamente o contato que o usuário teve com o Serviço Social. No atendimento, o usuário solicitava informações acerca do Benefício Eventual da Cesta Básica. O Serviço Social precisou realizar o encaminhamento para o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Referente às atividades que o Serviço Social desenvolvia, uma delas era o encaminhamento para a rede socioassistencial. E nesse momento aconteceu um caso que foi necessário encaminhar para a rede socioassistencial. Este episódio chamou minha atenção e despertou ainda mais o interesse de pesquisar o PBF, fato que só veio reforçar o interesse pela área da assistência social. Com a delimitação da pesquisa sentimos a necessidade de iniciar um estágio voluntário na instituição que trabalhasse com a Assistência Social, com a operacionalização do Bolsa Família para poder ter mais contato com essa realidade e que favorecesse a possibilidade de uma aproximação com o objeto. Diante disso, procurei o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS/Angorá de Itaitinga – CE, por ser viável para mim devido morar no município. O estágio voluntário no CRAS foi a partir do momento da elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso – TCC. Com o objetivo de executar a pesquisa, me dirigi ao CRAS/Angorá de Itaitinga – CE para saber se era viável realizar a pesquisa na instituição. A primeira visita à instituição contribuiu para facilitar na intermediação para conseguir a autorização, inclusive os funcionários da instituição foram 21 receptivos. Identifiquei-me como estudante de Serviço Socialdo 8º semestre da Faculdade Cearense – FAC e logo após expus todo o teor do processo da pesquisa para a Assistente Social. Durante a visita ela me relatou que se dependesse dela seria viável realizar a pesquisa, mas como ela seria transferida para outra instituição, em decorrência da transição da gestão municipal (era época de mudança de prefeito), teria que ver com a próxima profissional que entrasse. Após a mudança de gestão, retornei novamente ao CRAS/Angorá e de fato a Assistente Social tinha sido transferida à outra instituição. Encontrei em seu lugar uma nova Assistente Social que inclusive tinha se formado na Faculdade Cearense - FAC. Novamente, expliquei todo o teor da pesquisa, logo após, solicitou-me que entrasse em contato com a Secretária do Trabalho e Assistência Social, que também é vice-prefeita do município de Itaitinga, para que me autorizasse a realizar a pesquisa. Diante disso, em primeiro momento necessitei contatar com algumas pessoas que conheço que trabalham na Prefeitura de Itaitinga para poder viabilizar esse processo de intermediação com a Secretária do Trabalho e Assistência Social. A intermediação foi realizada e os meus interlocutores expuseram todo o teor da pesquisa. Depois disso, recebi um telefonema de um dos funcionários que me ajudou nesse processo de intermediação, relatando que eu poderia me dirigir à Secretaria do Trabalho e Assistência Social, pois a secretária iria me receber. A partir disso, dirigi-me à Secretária do Trabalho e Assistência Social e explanei o teor da pesquisa, que me concedeu autorização para realizá-la na instituição. Tal autorização foi realizada apenas de forma verbal, naquele momento, mas depois a formalizei via ofício da Faculdade Cearense – FAC informando a realização da pesquisa no CRAS. A documentação foi providenciada e entregue à Assistente Social, dias após a visita que realizei na Secretaria do Trabalho e Assistência Social. Nesse contato que tive com a Secretária do Trabalho e Assistência Social, solicitei ainda a realização de estágio voluntário no CRAS para facilitar meu contato com os participantes da pesquisa. Ela me informou também que 22 eu deveria contatar a Coordenadora Geral do CRAS, para dar-lhe ciência da realização da pesquisa e do estágio. O contato com a Coordenadora Geral do CRAS foi realizado com êxito. A partir destes procedimentos, comecei a estagiar voluntariamente na instituição, a partir de 15 de agosto de 2013. No primeiro dia de estágio voluntário a Supervisora acolheu-me da melhor forma possível, apresentando- me a instituição e ao Programa de Erradicação de Trabalho Infantil7 – PETI. No dia em questão tive acesso aos prontuários de alguns usuários de Programas Sociais ofertados pelo CRAS. Como pesquisadora, a inserção no CRAS me possibilitou olhar de forma mais crítica, de forma mais próxima da realidade e compreender melhor como esse público é atendido no CRAS e como os beneficiários têm acesso ao programa Bolsa Família. No próximo tópico, apresento como a pesquisa foi realizada. 7 É um Programa de Transferência de Renda, vinculado ao Programa Bolsa Família, tendo como objetivo retirar crianças e adolescentes da prática de trabalho precoce. Disponível em: www.mds.gov.br/assistenciasocial/peti. Acesso em: 15/10/2013. http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/peti 23 1.2 PERCURSO METODOLÓGICO Os objetivos traçados para a realização da pesquisa que deu base a este ensaio monográfico foram: do ponto de vista geral, analisar as contribuições do PBF no enfrentamento à vulnerabilidade das famílias atendidas no CRAS Angorá do município de Itaitinga – CE. E, especificamente, identificar o perfil sócio-demográfico das famílias; investigar como as famílias lidam com as condicionalidades do programa; compreender como o PBF tem contribuído para garantir às famílias condições mínimas de manutenção das necessidades básicas e verificar quais as expectativas das famílias em relação à possibilidade de não mais necessitarem da renda proveniente do PBF. Para alcançar os objetivos da pesquisa adotamos a abordagem quantitativa e qualitativa. A pesquisa quantitativa está direcionada a quantificar dados empreendidos com o desenvolvimento do processo de pesquisa. Assim Soares (2003), esclarece acerca da pesquisa quantitativa, que seria interessante esta abordagem em modelos descritivos, objetivando a relação entre variáveis como nas investigações realizadas, no qual se pretende estabelecer relações de casualidade entre fenômenos. Desta forma, a pesquisa qualitativa aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, como define Minayo (2012), A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se ocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (2012, p.21). Neste sentido, a pesquisa buscou compreender os significados que os beneficiados do PBF dão ao programa. O presente estudo teve início com uma pesquisa bibliográfica “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (GIL, 2008, p.50). 24 Dessa forma, segundo Gil (2008) a pesquisa bibliográfica permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos, ou seja, uma intensidade de informações pertinentes ao assunto pesquisado, do que aquela que o investigador poderia pesquisar diretamente. Assim, para a realização do presente estudo, inicialmente, realizou-se uma revisão de literatura dos autores Gil (2008), Minayo (1994 e 2012), Demo (2011), Soares (2003) dentre outros para fundamentar a pesquisa social. Para alcançar os objetivos da pesquisa é interessante também ressaltarmos os autores que utilizamos para discutir as categorias e tópicos deste estudo, realizou-se uma revisão de autores da categoria Assistência Social: Mestriner (2008), Behring (2008), Mota (2010), Sposati (2010), Yazbek (S/D); a categoria família: Carloto (2010), Giddens (2005), Samara (1997), Simões (2008), Mioto (2010); a categoria vulnerabilidade: Castel (2005), Monteiro (2011), Rocha (2006), Giddens (2005); o tópico sobre pobreza: Rocha (2006), Giddens (2005) e dentre outros que contribuíram para fundamentar a pesquisa. Nesse sentido, a priori buscou-se primeiramente conhecer as idéias construídas a respeito dos temas e categorias de interesse da presente pesquisa como a Política de Assistência Social, Família, Vulnerabilidade, Pobreza, Transferência de Renda e o Programa Bolsa Família visitando e revisitando autores. Também foi realizada pesquisa documental. Os documentos utilizados foram a Política Nacional de Assistência Social – PNAS, Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, Constituição Federal – CF e a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Segundo Gil (2011), a pesquisa documental apresenta algumas semelhanças com a pesquisa bibliográfica. Portanto, a diferença que há entre elas está na natureza das fontes. Embora a pesquisa bibliográfica se utilize de contribuições de vários autores acerca de um assunto específico, já a pesquisa documental vale-se de matérias que não receberam um tratamento analítico, entretanto, os mesmos podem conseguir ser reelaborados, vai depender dos 25 objetivos da pesquisa (GIL, 2011). Portanto, a pesquisa documental apresenta como característicaa fonte de coleta dos dados, no qual a mesma se encontra restrita a documentos, sejam escritos ou não, chamados de fontes primárias. Este processo pode ser realizado a partir do fato ou fenômeno no momento que ocorrer, ou esse processo pode ser realizado depois (LAKATOS, 2003). Em se tratando do método escolhido para nortear a pesquisa, ressaltamos o hermenêutico dialético. Conforme Minayo (1994), esse é um método da sociologia compreensiva, no qual apresenta a tentativa de elucidar, explicar e interpretar os fenômenos vivenciados pelos sujeitos sociais. No caso deste estudo, apreender o que pensam acerca do PBF. Assim, buscou-se interpretar o que os usuários dizem, ou seja, dar evidência às vozes dos sujeitos entrevistados na pesquisa. A dialética permitiu abordar os significados e contradições do objeto, ou seja, o que está por traz dos discursos das falas dos entrevistados. Assim, os significados e sentidos referem-se acerca da interpretação das falas, ou seja, vivências e experiências. Portanto, é a compreensão deles e a interpretação dessas falas. Neste sentido, utilizamos como procedimento para a coleta de dados, a realização de entrevistas semi-estruturadas, possibilitando estabelecer um diálogo com as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. As entrevistas semi-estruturadas foram realizadas por meio de visitas domiciliares com o objetivo de nos aproximarmos o máximo possível da realidade da vida dessas famílias, porém foram realizadas também entrevistas no próprio CRAS onde as famílias são atendidas. A coleta de dados foi realizada em decorrência da disponibilidade das entrevistadas. Importante esclarecer que também foi realizada a pesquisa de campo através da inserção no CRAS/Angorá de Itaitinga, me aproximando dos usuários do Programa Bolsa Família, tendo como representante legal a mulher, na perspectiva de identificar alguns impactos que este benefício proporciona a essas famílias. A priori preestabeleceu-se realizar a pesquisa com a seleção de 10 usuários do PBF, entretanto foram realizadas somente sete entrevistas. É interessante destacarmos que a escolha dos usuários foi de acordo com o 26 tempo de permanência no programa, a partir dos 4 anos em diante recebendo o Bolsa Família. As entrevistas foram realizadas no período de novembro de 2013 e ocorreram nos dias 18, 19, 21 e 23 no CRAS/Angorá, com exceção de quatro usuárias do programa, em decorrência de que essas quatros entrevistas foram realizadas na residência das entrevistadas. A abordagem foi realizada da seguinte forma: primeiramente a usuária chegava no CRAS para um atendimento e a Assistente Social depois do atendimento apresentava-me. Essa apresentação viabilizou o processo de aproximação com as possíveis entrevistadas, algumas aceitando participar da entrevista, outras não aceitaram participar da pesquisa, alegando falta de tempo. Apesar de encontrar dificuldade de realizar as entrevistas, em decorrência de que a maioria que abordava para participar da pesquisa alegava que tinha um compromisso, que estava atrasada, que tinha que voltar pra casa logo em seguida ao atendimento no CRAS, sendo que tinha muitos afazeres domésticos em casa, é interessante ressaltar que em algumas dessas abordagens sugeria-se que a entrevista poderia ser realizada em sua residência, desde que fosse no fim de semana (sábado), pela manhã. A priori fui bem recebida na residência das entrevistadas, embora pude perceber que as mesmas queriam terminar o quanto antes a entrevista. Portanto, essa apresentação facilitava consideravelmente o contato com a entrevistada e posteriormente contribuía para que a mesma autorizasse realizar a entrevista. Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre Esclarecido para as entrevistadas, encontra-se no Apêndice B, onde as entrevistadas assinaram no documento, dessa forma, confirmando a sua participação na pesquisa e autorizando a divulgação das informações. É interessante destacar que nesse documento me comprometi a resguardar o anonimato das entrevistadas, assim, elas apenas foram denominadas de entrevistada nº 1, 2, 3 e assim sucessivamente. Todas as participantes das entrevistas assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido e apenas algumas entrevistas foram autorizadas a serem gravadas por meio de um aparelho celular LG – C199. 27 Ressaltamos inicialmente que a coleta de dados foi repleta de dificuldades, em decorrência da falta de tempo disponível por parte das entrevistadas, sendo que a grande parte das entrevistadas não se aprofundavam muito nas respostas das entrevistas. Diante disso, me esforcei ao máximo para coletar todas as informações possíveis e interpretar seus discursos. Assim Gil, define entrevistas como: A técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigador e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação (GIL, 2008, p.109). As entrevistas realizadas foram entrevistas estruturadas devido às possibilidades que são apresentadas como o diálogo com as famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família. Nesta perspectiva, Gil enfatiza que o intenso processo de utilização da entrevista na pesquisa social deve-se a uma série de razões: a) A entrevista possibilita a obtenção de dados referentes aos meios diversos aspectos da vida social; b) A entrevista é uma técnica muito eficiente para a obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano; c) Os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação. Se comparada com o questionário, que é outra técnica de largo emprego nas ciências sociais apresenta outras vantagens; d) Não exige que a pessoa entrevistada saiba ler e escrever; e) Possibilita a obtenção de maior número de respostas, posto que é mais fácil deixar de responder a um questionário do que negar-se a ser entrevisto; f) Oferecer flexibilidade muito maior, posto que o entrevistador pode esclarecer o significado das perguntas e adaptar-se mais facilmente às pessoas e às circunstâncias em que se desenvolve a entrevista; g) Possibilita captar a expressão corporal do entrevistado, bem como a tonalidade de voz e ênfase nas respostas (GIL, 2008, p.110). Durante as entrevistas também foi aplicado um questionário socioeconômico a fim de identificar o perfil das famílias das entrevistadas. De acordo com Gil (2011) o questionário seria como a técnica de investigação, apresenta um conjunto de questões que submetidas as pessoas com o objetivo 28 de adquirir e obter informações pertinentes acerca de conhecimentos, crenças, interesses, expectativas e dentre outros. Portanto, na maioria das vezes, os questionários são apresentados por escrito aos respondentes. Diante disso, costumam ser reconhecidos como questionários auto-aplicados. Entretanto, quando o conjunto de questões é realizado oralmente pelo pesquisador, são reconhecidos como questionário aplicado com entrevista ou através de formulários (GIL, 2011). Ressaltarmos que a observação do tipo assistemática, ou seja, registro em diário de campo. A técnica de observação não estruturada ou assistemática, também denominada de espontânea, informal, ordinária, simples, livre, ocasional e acidental, consistindo em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas. É mais empregada em estudos exploratórios e não tem planejamento e controle previamente elaborados (LAKATOS, 2003). Após a coleta de dados, procedemos à análise do conteúdo, no qual realizamos um confronto dos dados empíricos com as análises teóricas.Importa destacarmos que os resultados da análise estarão disponíveis nos próximos capítulos e tópicos a seguir. Antes apresento o campo da pesquisa no CRAS/Angorá no município de Itaitinga e logo após apresento o perfil das entrevistadas. 29 1.3 CONHECENDO O CAMPO DE PESQUISA – O CRAS ANGORÁ DO MUNICÍPIO DE ITAITINGA - CE O município ora pesquisado, Itaitinga – CE está situado no Estado do Ceará, localiza-se ás margens da BR – 116, distante a 25 km da capital Cearense. O nome Itaitinga é uma aglutinação de prefixos advindos do Tupi Guarani: Ita = pedra + y= rio + tinga= branco, donde se obtém riacho das pedras8. Antigamente o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem – DNER no município de Itaitinga havia uma residência, com uma pedreira, donde se realizava a extração de pedras próxima a atual Estrela Britagem. Diante desta breve explanação podemos enfatizar que riacho das pedras está relacionado à extração de pedras no município de Itaitinga. Inclusive esta atividade é realizada desde a década de 1930 até aos dias atuais. A denominação de Itaitinga foi elevada à categoria de município, quando foi desmembrada de Pacatuba - CE e sua emancipação política de fato ocorre em 27 de Março de 1992. O referido município está situado na Região Metropolitana de Fortaleza. Portanto, a área territorial do município é de 150,8 km com uma população de 35.820 habitantes 9. O município vem estruturando a sua rede de Assistência Social e a política é organizada em dois eixos operacionais de acordo com o Sistema Único de Assistência Social – SUAS, a Proteção Social Básica e a Proteção Social Especial. Importa ressaltarmos que contextualizaremos o Centro de Referencia de Assistência Social – CRAS. A Proteção Social Básica, prevista na PNAS/2004, tem como objetivo prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Seus programas, projetos, serviços e benefícios, destinam-se à população em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação e, ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações 8 Disponível em http://www.mfrural.com.br/cidade/Itaitinga-ce. Acessado em 01/09/2013. 9 Disponível em http://www.itaitinga.ce.gov.br/spages.asp?id=2. Acessado em 21/10/2013. http://www.mfrural.com.br/cidade/Itaitinga-ce http://www.itaitinga.ce.gov.br/s 30 etárias, étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras (MDS, 2005, p.6). O Centro de Referência de Assistência Social – CRAS é uma unidade pública estatal descentralizada da Política de Assistência Social – PNAS. É a principal porta de entrada no Sistema Único de Assistência Social – SUAS responsável pela organização e oferta de serviços da Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade e risco social 10. O SUAS11 é uma ferramenta de gestão da Política Nacional de Assistência Social – SUAS, organiza as ações da Assistência Social em Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de média e alta complexidade. O SUAS realiza a oferta de Benefícios Assistenciais, prestados a públicos específicos, objetivando superar situações de vulnerabilidade. Um traço relevante acerca do CRAS é a oferta de serviços e ações de Proteção Básica que devem: garantir apoio as famílias na perspectiva de efetivar seus direitos de cidadania; serviços continuados de acompanhamento social às famílias e, posteriormente, acolhida voltada para recepção, escuta orientação e referência12. Diante do exposto, o mesmo possui a função de gestão territorial da rede de Assistência Social Básica. Concomitantemente, promovendo uma organização e a articulação das unidades que são referenciadas e logo após a um gerenciamento desses processos envolvidos. O CRAS centraliza nas famílias todas as ações e serviços da Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Portanto ao se compreender as demandas de situação de vulnerabilidade social da família é possível constituir uma rede de Proteção Social na busca da superação dessas situações vividas por essas famílias, através de ações de prevenção com atividades que 10 Disponível em http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/proteçãobasica/cras. Acessado em 21/10/2013. 11 Disponível em http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas. Acessado em 23/10/2013. 12 Encontra-se em: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à fome. Secretária Nacional de Assistência Social. Guia de Orientação Técnica - SUAS Nº 1. Proteção Social Básica de Assistência Social. Brasília, 2005. http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/proteçãobasica/cras http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas 31 informem e sensibilizem os seus direitos promovendo o reconhecimento e o acesso (MDS, 2009). O CRAS deve localizar-se em áreas que concentre situações de vulnerabilidade e risco social. Portanto, deve ser instalado em locais próximos aos usuários possibilitando condições favoráveis para o acesso destas famílias, garantindo a prevenção e o fortalecimento de vínculos. Ressaltamos que embora seja um equipamento estatal, os respectivos espaços físicos nem sempre são de propriedade das prefeituras municipais. Embora a propriedade seja um elemento para a execução dos serviços, é possível que a implantação de CRAS se dê em possíveis imóveis cedidos ou alugados (MDS, BRASÍLIA, 2009). Diante desta explanação é interessante salientarmos que apesar das dificuldades enfrentadas pelos municípios na aquisição de imóveis para implantação do CRAS, alguns gestores optam por implantá-lo em imóveis compartilhados. O Plano Municipal (ou do DF) de Assistência Social é uma ferramenta obrigatória de gestão da Política de Assistência Social nas três esferas de governo (BRASÍLIA, 2009). É importante relatarmos que os elementos constituintes do plano são: 1) Realização de estudos e diagnósticos da realidade; 2) Mapeamento e identificação da cobertura da rede prestadora de serviços; 3) Definição de objetivos; 4) Estabelecimento de diretrizes e prioridades; 5) Determinação de metas e previsão de custos; 6) Previsão de fontes de financiamento (recursos municipais, estaduais e federais); 7) Estabelecimento das ações de monitoramento e avaliação (BRASÍLIA, 2009). No entanto, apresenta como desafio conhecer a realidade do município e posteriormente passar a atuar nele, desta forma prioriza situações de maior vulnerabilidade. É interessante destacarmos que se tenha um levantamento 32 das unidades da rede socioassistencial para realizar o atendimento de famílias que se encontram em uma situação de vulnerabilidade social. Salientamos que o principal serviço ofertado de forma exclusiva e obrigatória pelo CRAS é o (Programa de Atenção Integral à Família – PAIF). O mesmo foi criado em 18 de abril de 200413 (portaria nº 78), pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, sendo implantado pelo Governo Federal no ano de 2003. O PAIF14 tem por objetivo garantir o fortalecimento do direito à convivência familiar, ao qual consiste em um trabalho de caráter continuado, visando garantir o fortalecimento da função protetiva das famílias, ou seja, fortalecendo a convivência familiar e comunitária. Portanto, prevenindo a ruptura de vínculos familiares, garantindo que estas famílias tenham acesso ao serviço e usufrua destes direitos, contribuindo desta forma a uma qualidade na melhoria da condição de vida. Ainda nessa análise, é interessante destacarmos que os municípios são caracterizados, de acordo com a PNAS, como pequeno, médio e grande porte. A Norma Operacional Básica de Assistência Social 15 (NOB – SUAS)estipulará tanto o número mínimo de CRAS quanto a dimensão do território. É interessante elencarmos que o campo pesquisado foi o CRAS/Angorá de Itaitinga – CE. O CRAS/Angorá não dispõe de nenhum registro histórico acerca de sua implantação no município. Portanto, o CRAS é um equipamento que se apresenta como pequeno porte II 16. Enquanto em relação aos recursos 13 Encontra-se em: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Guia de Orientação Técnica – SUAS nº 1. Proteção Social Básica de Assistência Social. Brasília, 2005. 14 Disponível em http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/cras. Acessado em: 21/10/2013. 15 Encontra-se em: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Assistência Social. Guia de Orientação Técnica – SUAS nº 1. Proteção Social Básica de Assistência Social. Brasília, outubro, 2005. 16 Disponível emhttp://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/patamarcras/patamarcarsboletim.php?pidcras=23062520611&pperio do=0910&pano=2010. Acessado em 22/10/2013. http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/cras http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/patamarcras/patamarcarsboletim.php?pidcras=23062520611&pperiodo=0910&pano=2010 http://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/patamarcras/patamarcarsboletim.php?pidcras=23062520611&pperiodo=0910&pano=2010 33 humanos, a instituição dispõe de: 03 (três) Técnicos com Ensino Superior, 03 (três) Técnicos de Nível Médio, 02 (duas) Assistentes Sociais, 01 (um) Psicólogo, 02 (dois) Serviços Gerais e 02 (duas) Manipuladoras de Alimentos. Assim, os bairros atendidos pelo CRAS/Angorá – Itaitinga são: Angorá, Vila Machado, Carapió, Parque Genezaré, Riachão, Lage dos Gatos, Ponta da Serra, Ocupação, Parque Santo Antônio, Centro e Antônio Miguel. Tabela 1: total de famílias cadastradas por faixa de renda em Itaitinga CAÚNICO Mês Referência Famílias Cadastradas 7.062 05/2013 Famílias Cadastradas com Renda Per Capita Mensal de até ½ salário mínimo 6.561 05/2013 Famílias Cadastradas com Renda Per Capita Mensal de até R$ 140,00 4.582 05/2013 Famílias Cadastradas Per Capita Mensal entre R$ 70,01 e R$ 140,00 1.855 05/2013 Famílias Cadastradas com Renda Per Capita Mensal de até 70,00 2.727 05/2013 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome17 (2003) Assim, como foi abordado anteriormente o Cadúnico identificará as famílias de baixa renda, entendidas como aquelas que têm renda mensal de 17 Disponível em htpp:www.aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIV3/geral/relatório.php#informações sociodemográficas. Acesso em: 27/10/2013. 34 até meio salário mínimo por pessoa ou renda mensal total de até três salários mínimos. Tabela 2: tipos de benefícios em Itaitinga TIPO DE BENEFÍCIOS EM ITAITINGA Benefício Básico 3.588 08/2013 Benefícios Variáveis 6.275 08/2013 Benefício Variável Jovem - BVJ 890 08/2013 Benefício Variável Nutriz – BVN 6 08/2013 Benefício Variável Gestante - BVG 95 08/2013 Benefício de Superação da Extrema Pobreza – BSP 823 08/2013 Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome18, (2013) Salientamos que as ações desenvolvidas no CRAS/Angorá são: Visitas domiciliares; Palestras voltadas à comunidade ou à família, seus membros e indivíduos; Realizam os encaminhamentos e os acompanhamentos dessas famílias. Diante disso, os serviços ofertados no CRAS/Angorá são: Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF. Portanto, como foi explanado anteriormente o PAIF apresenta como objetivos: 1) Fortalecer a função protetiva da família, contribuindo na melhoria da sua qualidade de vida; 2) Prevenir a ruptura dos vínculos familiares e comunitários, possibilitando a superação de situações de fragilidade social vivenciadas; 3) Promover aquisições sociais e materiais às famílias, potencializando o protagonismo e a autonomia das famílias e comunidades; 18 Disponível em htpp:www.aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIV3/geral/relatório.php#informações sociodemográficas. Acesso em: 27/10/2013. 35 4) Promover acessos a benefícios, Programas de Transferência de Renda e serviços socioassistencias, contribuindo para a inserção das famílias na rede de Proteção Social de Assistência Social; 5) Promover acesso aos demais serviços setoriais, contribuindo para o usufruto de direitos; 6) Apoiar famílias que possuem, dentre seus membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares (TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS, 2009). Portanto, o PAIF é um serviço obrigatório no CRAS que apresenta como ações: acolhida, oficina com famílias, ações comunitárias, ações particularizadas, encaminhamentos, busca ativa e outros. Inclusive outro serviço ofertado no CRAS/Angorá é o Serviço de Convivência e o Fortalecimento de Vínculos. Este Serviço apresenta como objetivo principal a prevenção de ocorrência de situações de risco social. O PAIF apresenta caráter preventivo e proativo, objetivando garantir a defesa e a efetivação dos direitos, visa alcançar alternativas emancipatórias para o enfrentamento da vulnerabilidade social das famílias que se encontram na situação de pobreza. O serviço é voltado para crianças até 6 anos incompletos; Crianças de 6 anos até adolescentes de 15 anos incompletos; Adolescente de 15 anos até 17 anos e Grupos de idosos com idade de 60 anos ou mais. (Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, 2009). É importante relatarmos outras atividades realizadas no CRAS/Angorá são: O Projovem Adolescente, sendo um Programa Nacional de Inclusão de Jovens. Diante disso, os adolescentes participam de atividades artísticas, de integração, culturais, visando uma melhoria na convivência familiar. Os adolescentes participantes devem fazer parte da família beneficiária do Programa Bolsa Família ou com uma família com perfil de renda do programa que esteja inscrita no Cadastro Único, e necessitam ter entre 15 e 17 anos. Vale destacar a garantia de benefícios eventuais que são ofertados pelo Centro de Referência de Assistência Social – CRAS. Dentre eles: Auxílio Funeral, este benefício é solicitado no CRAS, por familiares ou algum responsável familiar. Se o óbito acontecer em casa, a solicitação deve ser realizada no Serviço de Verificação de Óbito (SVO). Entretanto, se a causa 36 desse óbito não for natural, ou seja, causada por violência ou por acidentes, a solicitação deverá ser realizada no Instituto Médico Legal (IML); Auxílio Natalidade é a concessão de alguns itens de enxoval para a família com recém-nascido. Portanto, a gestante que se encontra em uma situação de vulnerabilidade social deverá realizar a solicitação no CRAS, logo após deverá ser realizada uma visita domiciliar, diante disso é assegurada sua inserção no acompanhamento socioassistencial no CRAS; Cesta Básica é concedida às famílias que se encontram em uma situação de pobreza. Este benefício é garantido no CRAS e só pode ser concedido após a visita domiciliar para avaliação social daquela família. Nas observações realizadas em campo, percebemos que as famílias do PBF que são atendidas no CRAS Angorá de Itaitinga, procuram a instituição somente quando é estritamente necessário, ou seja, para solicitar um benefício eventual da Cesta Básica, ou quando vai solicitar informações acerca de como integrar um novo membro familiar ao Bolsa Família. Das sete entrevistadas, quando indagadas acerca se as mesmas participam deatividades no CRAS Angorá de Itaitinga, todas alegaram que não participam e que seus filhos também não participam, em decorrência de os mesmos não buscam participar por livre e espontânea vontade. Diante disso, percebe-se que essas famílias não são muitas assíduas no CRAS, e uma das dificuldades enfrentadas pelo CRAS Angorá é fazer com que essas famílias que tem acesso ao programa, participem das atividades desenvolvidas na instituição. Sendo que a maioria das entrevistadas alegaram falta de tempo, em decorrência que sua vida é muito corrida, enfrentam uma jornada de trabalho intensa, são consideradas chefes de família e responsáveis para resolver todos os problemas que venha a surgir em seu âmbito familiar e dentre outros. 37 1.4 PERFIL DAS ENTREVISTADAS Como salientamos anteriormente na construção do processo metodológico desta investigação, realizamos uma pesquisa de campo visando coletar dados sobre as condições de vida das famílias que acessam o Programa Bolsa Família. Foram entrevistadas sete usuárias do Programa Bolsa Família, sendo que todas elas são as representantes legais do Programa. Utilizei entrevistada nº 1, 2, 3 e assim sucessivamente para identificá-las. Apresento logo abaixo, seus perfis. ENTREVISTADA Nº 1: 20 anos, autodenomina-se parda, solteira, tem 2 filhos, mora em Itaitinga – CE no bairro Angorá, mora em imóvel alugado, estudou até a 6º série no ensino fundamental incompleto, é contratada pela prefeitura de Itaitinga como cozinheira. A renda familiar é em média um salário mínimo. Antes e depois de receber o benefício não freqüentava e continua não freqüentando nenhum espaço na área de lazer com seus filhos. Antes e depois de receber o Bolsa Família a mesma relatou que trabalhava lavando roupa para “fora” e como surgiu a oportunidade de trabalhar como cozinheira na prefeitura de Itaitinga, proporcionou uma condição melhor. A entrevistada nº 1, define o Programa Bolsa Família como um benefício que trouxe melhorias em sua vida proporcionando a condição de garantir a complementação da sua renda. É a titular responsável do Bolsa Família, recebe o benefício há 4 anos, até a data da entrevista o benefício estava em situação liberado, atualmente está recebendo o valor de R$ 158,00. ENTREVISTADA Nº 2: 29 anos, autodenomina-se parda, solteira, tem apenas uma única filha, mora em Itaitinga -CE no bairro Centro, mora em imóvel próprio com sua filha e sua mãe. Estudou até a 8º série possui nível fundamental completo, trabalha na prefeitura de Itaitinga, sua função é serviços gerais. A renda familiar é em média a dois salários mínimos. Antes de receber o benefício freqüentava alguns espaços na área do lar em Fortaleza, após o recebimento permanece freqüentando a praia, parques temáticos, cinema, 38 entretanto quando se tem recurso e tempo disponível. Sua vida antes do benefício era relativamente “boa”, de acordo com suas palavras, e após passar a receber o benefício melhorou um pouco mais. A entrevistada nº 2 define o Bolsa Família como um recurso proveniente do Governo, destinado as famílias que recebem até a dois salários mínimos para auxiliar nas despesas de casa e melhorar as condições de vida, principalmente daquelas famílias que mais necessitam. É a responsável familiar referente do Programa Bolsa Família, recebe o benefício há 4 anos, até a data da entrevista o benefício estava em situação liberado, atualmente está recebendo no valor de R$ 60,00. ENTREVISTADA Nº 3: 32 anos, autodenomina-se Branca, solteira, tem 3 filhos, mora em Itaitinga – CE no bairro Angorá, mora em imóvel próprio, estudou até a 5 série do ensino fundamental incompleto, é contratada pela prefeitura de Itaitinga como cozinheira. A renda familiar é em média a dois salários mínimos. Antes e depois de receber o Bolsa Família freqüentava e continua frequentando espaços na área do lazer como praia, uma vez por mês com seus filhos. Antes e depois de receber o Bolsa Família a mesma relatou que sempre trabalhou lavando roupas para fora, além de se dona do lar. A entrevistada nº 3 define o Programa Bolsa como um benefício que trouxe tranqüilidade e melhorias em sua família. É a titular responsável do Bolsa Família , recebe o benefício há 4 anos, até a data da entrevista o benefício estava em situação liberado, atualmente está recebendo o valor de R$ 230,00. ENTREVISTADA Nº 4: 33 anos, autodenomina-se Branca, casada, tem 3 filhos, mora em Itaitinga – CE no bairro Carapió, mora em imóvel alugado, estudou até a 4 série do ensino fundamental incompleto, não trabalha a não ser em casa. A renda familiar é em média a um salário mínimo. Antes e depois de receber o Bolsa Família não freqüentava nenhuma área do lazer. Antes e depois de receber o Bolsa Família a mesma relatou que sempre trabalhou como dona do lar. A entrevistada nº IV define o Programa Bolsa 39 como um benefício que proporcionou e proporciona uma condição mais digna. É a titular responsável do Bolsa Família , recebe o benefício há 7 anos, até a data da entrevista o benefício estava em situação liberado, atualmente está recebendo o valor de R$ 130,00. ENTREVISTADANº5: 35 anos, autodenomina-se parda, viúva, tem 4 filhos, mora em Itaitinga – CE no bairro angorá mora em imóvel próprio, estudou até a 5º série possui nível fundamental incompleto, além de ser dona do lar, trabalha fazendo faxina nas casas de famílias. A renda familiar é em média a um salário mínimo. Antes e depois de receber o Bolsa Família não tinha costume e nem freqüentar espaços na área do lazer, em decorrência de ter pouco recurso para investir em espaços na área do lazer com seus filhos. Antes e depois de receber o Bolsa Família a mesma relatou que sempre trabalhou como faxineira nas casas de famílias para garantir o sustento de sua família. A entrevistada nº 4 define o Programa Bolsa como um benefício que trouxe muitas melhorias em sua vida, até porque segunda a mesma é responsável para garantir a sustentabilidade de sua família. É a titular responsável do Bolsa Família , recebe o benefício há 6 anos, até a data da entrevista o benefício estava em situação liberado, atualmente está recebendo o valor de R$ 198,00. ENTREVISTADA Nº 6: 40 anos, autodenomina-se parda, separada, tem três filhos, mora em Itaitinga –CE, no bairro Centro com seus filhos em domicilio alugado. Estudou até a 5º série possui nível fundamental incompleto, já trabalhou como faxineira em casas de famílias em Fortaleza- CE para complementar a renda da família. Atualmente, a mesma trabalha como ajudante de cozinha. A renda familiar é em média a um salário mínimo, mais o recurso proveniente do Bolsa Família. Antes de receber o programa não frequentava nenhuma área do lazer, e após passar a recebê-lo passou a frequentar a parque, circo que aparecia no município, entretanto quando o dinheiro permitia levava seus filhos. 40 Antes e depois de receber o Bolsa Família a mesma relatou que trabalhava como faxineira nas casas de famílias para garantir sustento dos filhos. Antes do programa era difícil, logo após passar a receber o PBF melhorou consideravelmente. Mas atualmente trabalha como ajudante de cozinha em uma empresa. A entrevistada nº 5 afirma que recebe o benefício faz 7 anos, sua vida antes de receber o PBF era muito difícil, porque passava por algumas necessidades. A entrevistada define o PBF como uma renda que o governo disponibiliza, portanto é uma renda extra que a ajudar nas despesas de casa. A mesma utiliza esse recurso proveniente do benefício na compra de alimentos e quando possível na compra de vestimenta. Segunda a mesma acredita que o Bolsa Família tem contribuído para garantir uma renda extra e uma condição melhor de vida (condições melhores) para a família. É a única responsável para organizar, sustentar,educar e gerir sua casa e a vida de seus filhos, até a data da entrevista o benefício estava em uma situação liberado, atualmente está recebendo o valor de R$ 130,00. Diante disso, a mesma assume uma dupla jornada de trabalho, porque além de ser “dona do lar”, trabalha fora de casa e cuida dos filhos. ENTREVISTADA Nº 7: 53 anos, autodenomina-se branca, separada, tem duas filhas, mora em Itaitinga - CE no bairro Angorá mora em imóvel alugado com suas filhas. Estudou até a 2º série possui nível fundamental incompleto, é autônoma, trabalha vendendo produtos da Avon. A renda familiar é em média a um salário mínimo. Antes e depois de receber o bolsa família não freqüentava e nem freqüenta espaços na área de lazer em decorrência de não ter recursos financeiros suficiente. Antes e depois do recebimento do bolsa família a mesma relatou que sempre trabalhou como autônoma para garantir a sustentabilidade de sua família. A entrevistada define o Programa Bolsa Família como um benefício que veio para “ajudar sua família”, proporcionando uma qualidade de vida melhor e satisfatória. É a titular responsável do Bolsa Família, recebe o benefício há 5 anos, até a data da entrevista o benefício estava em situação liberado, atualmente está recebendo no valor de R$ 102,00. 41 Esse foi o perfil traçado dos usuários entrevistados do PBF, tendo como representante legal a mulher, porque geralmente o titular do benefício são as mulheres, que em sua grande maioria são as responsáveis por gerenciá-los. Vale destacarmos que essas entrevistas nos possibilitaram identificar que o público alvo pesquisado trata-se das mulheres, como foi citado anteriormente, em uma idade adulta, apresentando como faixa etária entre 20 a 53 anos de idade. Um dado interessante a destacar que três das entrevistadas afirmam ser solteiras, assumindo todas as responsabilidades de educar, criar e garantir o sustento de seus filhos, duas afirmam ser separada, uma viúva, entrevistada nº5, e apenas uma, entrevistada nº 4 afirmou ser casada. Dentre as setes entrevistadas, somente três possuem imóvel próprio, entrevistada nº 2, 3, 5, e as demais possuem imóvel alugado. Percebe-se que a maioria das entrevistadas reside no bairro Angorá no município de Itaitinga, apenas duas entrevistadas nº 2, 6 residem no centro de Itaitinga, e uma única reside no Carapió entrevistada nº 4 e que possui em sua grande maioria uma renda familiar de um salário mínimo, duas alegaram receber até dois salários mínimos, as entrevistadas nº 2, 3. A maioria das entrevistadas já exerceu atividades profissionais como autônomas e quando entrevistadas a maioria alegou está trabalhando, apenas a entrevistada nº 4 afirmou não trabalhar, porém trabalha com os afazeres domésticos. Apenas uma possui carteira assinada a entrevistada nº 6. A maioria das entrevistadas informou que o dinheiro advindo do trabalho garante a complementação da renda familiar, pois apesar de receberem o benefício, a renda não é suficiente para garantir o sustento da família. Em relação ao grau de instrução, das sete entrevistadas, apenas uma entrevistada nº 2 cursou o ensino fundamental completo, enquanto as seis possuem ensino fundamental incompleto. Quando indagadas se o PBF tem contribuído para melhorar sua condição de sustentabilidade, todas afirmaram 42 que este programa tem contribuindo para garantir uma condição de vida melhor, além de ser um recurso financeiro que garante complementar a renda familiar, possibilita também o acesso de compra, ou seja, garante que as mesmas passem a consumirem com mais frequência e concomitantemente possibilita que esse dinheiro circule no próprio bairro, gerando o poder de consumo. Apesar de alegarem em suas afirmações que o Bolsa Família, é um benefício que trouxe melhorias em suas vidas, percebe-se que não é suficiente, porque ainda continuam numa situação de privações e necessidades. Como podemos observar, das sete entrevistadas, quando indagadas se antes de receber o PBF quais espaços de lazer frequentavam e após passar a recebê-lo que espaços passaram a frequentar, a maioria afirmou que tanto antes quanto depois do recebimento do Bolsa Família não costumavam frequentar nenhum espaço de lazer e nem frequenta na atualidade, embora uma entrevistada nº 2 relatou que antes de receber o benefício a situação era difícil, mas após passar a recebê-lo, passou a frequentar pelo menos uma vez por mês, cinema, praia e parques temático. Observa-se nas análises das entrevistadas que elas são consideradas as titulares responsáveis por receber e gerenciar o Bolsa Família, e três entrevistadas recebem o benefício há 4 anos, duas entrevistadas nº 4, 6 recebe faz 7 anos e somente a entrevistada nº7 recebe 5 anos e a entrevistada nº 5 recebe o benefício faz 6 anos, e todas apresentaram até a data da entrevista o benefício liberado. Diante das análises acerca da contribuição desse benefício na vida das entrevistadas, podemos perceber que o Bolsa Família é um benefício que garante um impacto significativo em suas vidas, tanto no âmbito social e econômico. Embora veja o PBF apenas como um recurso financeiro, que possibilita uma renda extra para complementar a renda. Podemos perceber também através de seus relatos que esse recurso proveniente do Governo Federal não é suficiente para garantir uma qualidade de vida saudável, em decorrência de que ainda passam por necessidades e privações no seu cotidiano. 43 A partir das análises apresentada logo acima, apresentamos a questão que será problematizada no próximo capítulo onde inicialmente abordaremos a categoria Assistência Social no cenário atual, contemplando suas diretrizes e normatizações, discutiremos também a categoria família, apresentando suas novas configurações. 44 2. ASSISTÊNCIA SOCIAL E FAMÍLIA 2.1 ASSISTÊNCIA SOCIAL NO CENÁRIO ATUAL Para compreender a trajetória da Política de Assistência Social no Brasil, é necessário realizarmos um breve resgate histórico da referida política. Assim, a Assistência Social no Brasil teve sua origem em ações e práticas, desenvolvidas pela Igreja Católica. Portanto, suas ações e práticas eram baseadas na caridade e filantropia, ou seja, sendo considerada uma prática antiga da humanidade. (MESTRINE, 2008). É importante relatarmos que a Constituição Federal - CF de 1988 é considerada um marco histórico no que diz respeito ao reconhecimento dos direitos sociais, ainda mais quando se trata da área da Assistência Social, pois por um longo período essa política foi considerada e reconhecida como uma assistência aos necessitados que precisavam de ajuda e apoio. Portanto, essa ajuda e apoio pautavam-se na solidariedade, na caridade e na benemerência, inclusive sendo historicamente o direito à assistência social que estava interligada ao apelo e à benevolência das pessoas que se intitulavam almas caridosas, ou seja, pessoas caridosas. Na década de 1930, a pobreza ainda era tratada como uma refração da questão social emergente da contradição capitalista sendo tratada como “caso de polícia”, no qual o atendimento era realizado através dos aparelhos coercitivos do Estado, já que a pobreza era tratada como uma situação individual e não coletiva, ou seja, era uma disfunção individual. Portanto, se o indivíduo estava naquela situação de pobreza não era em decorrência do Estado e sim em decorrência do próprio indivíduo que não estava buscando alternativas, meios de conseguir se reestruturar financeiramente, e posteriormente sair daquela situação de pobreza. 45 Como foi citado anteriormente, a Política de Assistência Social, no cenário nacional apresenta em sua trajetória histórica práticas baseadas na filantropia, no assistencialismo, na caridade,
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