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aula 4 estudos sociais

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ESTUDOS SOCIAIS 
AULA 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Máira Nunes 
Prof. Guilherme Carvalho 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Olá! Seja bem-vindo a mais uma aula de nossa disciplina. 
Refletiremos aqui sobre relação entre indivíduo e sociedade. Se, por um 
lado, cada um de nós tem características próprias, as quais podemos chamar de 
personalidade, por outro, apresentamos maneiras influenciadas pelo ambiente 
em que crescemos. 
Trataremos de alguns conceitos para compreender esses processos e o 
papel que a mídia e a indústria cultural exercem sobre eles. Refletiremos também 
a respeito de nosso papel nesse contexto. Vale lembrar a frase de Woody Allen: 
“a vida não imita a arte, imita um programa ruim de televisão”. 
CONTEXTUALIZANDO 
Você se lembra da novela Avenida Brasil? Mesmo que não tenha 
acompanhado cada capítulo, foi quase impossível não ouvir falar dela. Trata-se 
da novela mais vendida para o exterior, sendo exibida em 130 países e dublada 
em 19 idiomas. No Brasil, alcançou média de 42 pontos de audiência, atingindo 
impressionantes 56 pontos no último capítulo. 
A trama se concentra na família de Tufão, jogador de futebol, casado com 
Carminha, que fugiu da vida em um lixão para ganhar dinheiro por meio de 
golpes. Nina, filha de Genésio, a primeira vítima de Carminha, consegue ser 
empregada como cozinheira na mansão de Tufão e busca se vingar. 
Era particularmente interessante assistir à novela e acompanhar, ao 
mesmo tempo, o Twitter. Fãs da novela que usavam essa rede social criaram 
espontaneamente a hashtag #oioioi, refrão da música de abertura, para 
comentar a novela e anunciar aos seus seguidores que estavam assistindo ao 
programa televisivo. 
Logo depois da transmissão, era típico surgirem montagens cômicas 
(mais conhecidas como memes) com base nos fatos narrados na novela. Várias 
fotos de perfil de redes sociais foram trocadas por versões “congeladas”, fotos 
em preto e branco com fundo de luzes desfocadas, imitando o “congelamento” 
da última cena de cada capítulo. 
Essa resposta do público da internet a um produto cultural diz respeito às 
maneiras como é possível receber algo da mídia. Há aqueles que simplesmente 
 
 
3 
assistem à novela, mas também há pessoas que vão além, ao comentar na 
internet, produzir uma brincadeira e compartilhá-la nas redes. 
Figura 1 – exemplo de “meme” 
 
Fonte: Antídoto certo, 2012. 
É preciso levar em consideração a quem estamos comunicando e como 
essas pessoas vão receber nossos produtos, seja uma novela, uma notícia, um 
anúncio de sabão em pó ou um aplicativo de celular. As implicações não são 
somente comerciais, mas também sociais. 
É isso que veremos agora. Nas próximas páginas, trataremos dos 
seguintes temas: 
1. Processos de socialização; 
2. Subjetividade e função simbólica; 
3. Cultura e identidade; 
4. Sociedade do espetáculo; 
5. A cultura das mídias. 
TEMA 1 – PROCESSOS DE SOCIALIZAÇÃO 
Mesmo vivendo em uma sociedade globalizada, cada um de nós vai 
passar por processos diferentes por meio dos quais nos tornamos parte da 
sociedade. Mas que sociedade é essa? 
 É possível pensar em círculos concêntricos: estamos em uma sociedade 
ocidental, na qual compartilhamos valores e códigos com mexicanos e 
 
 
4 
parisienses. Também somos latino-americanos, moramos no Brasil, em um 
estado, cidade e bairro determinados. 
Ainda, podemos pensar que esses círculos se sobrepõem. Ao mesmo 
tempo em que moramos no Brasil, torcemos por certo time de futebol, estudamos 
Jornalismo, rimos de memes, gostamos (ou não) de uva passa no arroz. 
Cada um desses “círculos” (ou culturas) tem suas próprias normas e seus 
valores culturais (Giddens, 2005, p. 22). Um europeu pode se surpreender em 
como brasileiros se abraçam a cada encontro. Pessoas de diferentes estados 
brasileiros podem se confundir ao se cumprimentar com beijos, já que, em alguns 
estados, o costume é de dar um único beijo, em outros, é um beijo de cada lado 
do rosto e, em outros, ainda, são três beijos. Brasileiros podem se surpreender 
com o fato de que, na Argentina, o cumprimento com beijos é um costume 
também entre homens. 
Essas e outras diferenças estão de tal maneira presentes na nossa vida 
que parece que jamais as aprendemos. São hábitos que surgem da repetição e 
acabam se institucionalizando (Berger; Luckmann, 1966, p. 70-73). 
 A própria linguagem passa por esse processo: uma criança aprende 
primeiro a palavra “cachorro” e o que essa palavra representa. Depois, ela 
aprende que deve cuidar do cachorro, talvez por meio de algo como uma fábula 
ou um ensinamento. Finalmente, aprende outras implicações, que podem ir 
desde a responsabilidade de cuidar dele, até o preço da ração, entre muitas 
outras (Berger; Luckmann, 1966, p. 112-113). 
Esses aprendizados são chamados de socialização, que, segundo 
Giddens (2005, p. 27), consiste no “processo através do qual as crianças, ou 
outros novos membros da sociedade, aprendem o modo de vida da sociedade 
em que vivem”. Esse aprendizado implica também conhecer símbolos e 
significados (o que veremos no próximo tema). 
 Porém, as pessoas não necessariamente assumem um papel passivo 
diante da socialização; elas podem – e vão – questionar, negociar e se apropriar 
do que lhes é apresentado de acordo com suas necessidades e exigências. Não 
se trata de um processo que ocorre durante período determinado, isso porque 
as pessoas se socializam constantemente em decorrência de interações 
sociais. 
A socialização é a principal maneira por meio da qual a cultura é 
transmitida pelo tempo e pelas gerações entre as pessoas. Ela varia 
 
 
5 
segundo cada cultura, seja pensando em escala global (oriente e ocidente) ou 
em escalas menores (a família de cada um, por exemplo). Também varia de 
acordo com as influências de outras culturas, que chegam das mais diversas 
maneiras. 
1.1 Diversidade cultural 
Qualquer deslocamento de pessoas (por meio de processos como tráfico 
de escravos, guerras e migrações) ou de informação (pelos meios massivos de 
comunicação, da distribuição de filmes e livros e da internet) faz com que culturas 
também se movimentem. 
Em um mundo globalizado, é possível que várias culturas estejam 
presentes em algo trivial, como um mesmo prato de comida. Imigrantes e seus 
descendentes harmonizam o que trouxeram de suas terras natais com o que há 
no lugar onde se estabeleceram. São formadas, assim, sociedades 
multiculturais, nas quais diversas culturas e subculturas convivem e se 
influenciam. 
Saiba mais 
Sem intenção de impor hierarquias entre os termos “cultura” e 
“subcultura”, usamos, aqui, o termo “subcultura” para nos referirmos a qualquer 
grupo de pessoas que se diferencie da maioria pelos seus padrões culturais. 
Exemplos dessa diferenciação são torcedores de determinado time de 
futebol, praticantes de algum esporte, fãs de gêneros musicais específicos, 
pessoas que gostam de desenhos animados japoneses (os animes) etc. Essas 
pessoas também podem se mover entre subculturas ou combinar aspectos de 
várias delas. 
1.2 Etnocentrismo e relativismo cultural 
Quando conhecemos ou nos inserimos em uma cultura nova é comum 
que aconteça um “choque cultural”. Não podemos compreender certos aspectos 
da cultura se a separarmos das suas circunstâncias e das pessoas que fazem 
parte dela (Giddens, 2005, p. 25). 
É um esforço da Sociologia compreender cada cultura em seu contexto. 
Não é adequado usar nossas culturas como base de comparação para 
compreender outras. Essa noção é conhecida como relativismo cultural e se 
 
 
6 
opõe ao etnocentrismo, que é fazer julgamentos com base no que nós 
conhecemos. 
TEMA 2 – SUBJETIVIDADE E FUNÇÃO SIMBÓLICA 
São características dos seres humanos a capacidade de iniciativa 
individual e coletiva, a instauração de regras sociais de comportamento, assim 
como a invenção e descoberta de significações (Laburthe-Tolra; Warnier,1997, 
p. 191). A sociedade reveste o cotidiano e o meio ambiente de sentido, como é 
o caso das normas e dos valores culturais já citados. 
O simbólico, mesmo sem ser totalmente coerente, precisa de um mínimo 
de ordem. Ele está ligado a um código que somente fará sentido se inserido em 
uma cultura. O simbólico, o código e as significações também fazem parte dos 
processos de socialização. 
Essas significações, ordenadas entre si, produzem uma visão do mundo 
com certa coerência: uma ideologia, ou seja, um “conjunto de ideias e valores 
que informam o ethos (atmosfera ética) de uma sociedade ou de um grupo” 
(Laburthe-Tolra; Warnier, 1997, p. 192). 
O simbólico deve ser considerado, então, para pensar questões 
relacionadas à religião, aos mitos, aos ritos, aos idiomas, aos gestos, à 
semântica, à arte, às crenças, ao pensamento etc. 
2.1 Representação 
Stuart Hall (2003) trabalha com os mesmos conceitos. O primeiro 
elemento analisado por Hall é o signo (2003, p. 5). Há vários tipos de signo. Um 
objeto, uma foto dele e a palavra que o representa são signos. Alguns se 
parecem mais com o objeto que representam, ou seja, são mais icônicos. Outros, 
como a palavra, são mais abstratos. 
Curiosidade 
No episódio “Free Willzyx” do desenho animado South Park, os quatro 
meninos são procurados por roubarem uma baleia de um parque aquático. É 
feito um retrato-falado deles, que causa graça por ser uma representação bem 
mais realista, ou seja, menos icônica, do que o próprio estilo simples da 
animação, como você pode ver na imagem a seguir: 
 
 
7 
<http://southpark.cc.com/blog/2014/08/08/fan-question-what-was-that-pencil-
drawing-of-the-boys-from>. Acesso em: 4 mar. 2019 
É difícil dissociar um signo do objeto que ele representa, mas, sozinho, o 
signo não tem sentido. O sentido não está no objeto, nem na pessoa, nem na 
palavra. O signo é construído pela cultura, especificamente pelo sistema de 
representação dessa cultura, e “fixado” pelo código dessa cultura, que é o que 
estabelece a relação entre os conceitos que conhecemos e aprendemos e nossa 
linguagem falada, escrita, desenhada etc. (Hall, 2003, p. 8). 
Essa relação pode parecer eterna, mas o sentido não é fixo, já que muda 
entre culturas, subculturas, pessoas e até entre diferentes momentos. Para 
interpretar um significado, primeiro devemos identificar o objeto como portador 
de sentido. Depois, decodificamos o sentido e o associamos a sentidos mais 
amplos (Hall, 2003, p. 29-30). 
Qual é a origem dos sentidos e como surge a relação entre linguagem e 
sentido? Hall aponta três possibilidades: 
 Que a linguagem funciona por imitação do objeto a ser representado; 
 Que é o autor quem atribui o significado ao signo; 
 Que não são as coisas que significam, e sim a maneira como construímos 
o sentido dessas coisas. 
Para Hall, mais do que as coisas em si, o que carrega sentido são as 
diferenças entre elas. O vermelho do semáforo representa “pare”, mas é também 
oposição ao verde, que representa “siga”. 
2.2 Códigos 
Os signos só podem portar sentidos se nós tivermos os códigos 
necessários para interpretá-los. Esses códigos, como são “aprendidos” durante 
os processos de socialização, parecem naturais, mas também foram 
socialmente construídos (Hall, 1980, p. 132). 
Uma vez recebido e compreendido o significado, é que se recebe, de fato, 
a informação. Isso não acontece de maneira passiva, mas por meio da 
apropriação da mensagem e de acordo com as possibilidades e os desejos de 
cada um. 
 
http://southpark.cc.com/blog/2014/08/08/fan-question-what-was-that-pencil-drawing-of-the-boys-from
http://southpark.cc.com/blog/2014/08/08/fan-question-what-was-that-pencil-drawing-of-the-boys-from
 
 
8 
2.3 Subjetividade 
Entendemos subjetividade como a maneira como cada um de nós 
compreende a si mesmo, nossos pensamentos e nossas emoções conscientes 
e inconscientes, sobre as quais temos controle ou não (Woodward, 2000, p. 54-
55). Vivemos essa subjetividade em um contexto social. As noções que 
acabamos de ver implicam pensar em processos coletivos, como a socialização 
e o crescer, bem como ser socializado no contexto de uma (ou algumas) cultura 
e subcultura. 
Cada pessoa vai receber e se apropriar dos significados que aparecerem 
diante dela para construir sua própria subjetividade. É por meio dessa 
subjetividade e das suas possíveis contradições que construímos nossas 
relações perante o “outro”, além de construirmos nossa própria identidade. 
Leitura complementar 
 O artigo “Meios de Comunicação e subjetividade: elementos para uma 
metodologia de análise”, além de propor uma metodologia para trabalhar com 
subjetividade, traz alguns conceitos e bibliografia interessantes para trabalhar a 
questão da subjetividade em relação à internet. Acesse: 
<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/11469561273661232853709387 
8693558980342.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2019. 
TEMA 3 – CULTURA E IDENTIDADE 
A socialização também implica que cada pessoa tenha sua própria 
subjetividade e individualidade. Durante a socialização (lembrando que ela 
nunca acaba) é que construímos nossa identidade, maneira pela qual 
entendemos quem somos (seja como indivíduo ou coletivamente) e o que é 
importante para nós. 
Por um lado, temos a identidade social, características atribuídas pela 
sociedade. A sociedade também nos agrupa com outras pessoas que partilham 
dessas características. É possível ser estudante, mãe, pai, engenheiro, usuário 
de drogas, autista, casado etc. 
Essas características podem ter origem em movimentos sociais (como 
feminismo e sindicatos de trabalhadores) e não são excludentes entre si: uma 
pessoa pode, ao mesmo tempo, ser mãe, engenheira, muçulmana e cinéfila, 
 
 
9 
negociando os sentidos e as possíveis contradições entre essas identidades 
(Giddens, 2005, p. 29). 
Por outro, temos a identidade pessoal, que nos distingue como 
indivíduos e ficou mais complexa desde as sociedades antigas, nas quais 
prevaleciam as identidades sociais. O crescimento urbano, a industrialização e 
a globalização tiraram a importância de antigas convenções sociais. Podemos 
construir nossas identidades por meio do cotidiano, de como decidimos nos 
vestir, dos artefatos que usamos e das nossas ações. 
Novamente, essas decisões não são estáticas nem eternas: as 
identidades podem ser criadas e recriadas a todo momento (Giddens, 2005, p. 
30). Para teóricos pós-modernos, essa mutabilidade das identidades é, na 
verdade, sinal de que elas estão mais instáveis e frágeis, talvez por causa de 
influências midiáticas. Vamos abordar essa questão mais adiante. 
3.1 Construção de identidades 
Kathryn Woodward (2000, p. 8-14) enumera algumas maneiras sobre 
como as identidades são construídas. De um lado estão as ideias de caráter 
essencialista, que consideram a identidade como algo externo, um conjunto 
de características que representam um ideal a ser atingido, um referencial. 
Segundo ela, identidades são reivindicadas por meio de circunstâncias 
externas, como local de nascimento e etnia da família, ou circunstâncias 
históricas. A reivindicação dessas identidades por parte de quem almeja tê-las 
pode se basear, por exemplo, em alguma versão da história apresentada como 
uma verdade imutável, ou supostas qualidades inerentes a algum grupo social. 
As reivindicações de pertencimento a uma identidade costumam ser 
acompanhadas do suposto poder de julgar quem pertence ou não a um grupo 
identitário. 
Woodward, assim como outros autores, diz que, na verdade, a identidade 
é relacional, ou seja, trata-se de uma construção social que tem como base o 
outro. Para nos identificarmos com a nossa cultura, é necessário que haja outras, 
inclusive para diminuir a importância delas e exaltar a nossa. 
Outra maneira importante de construção de identidades é por meio do 
consumo, em um sentido amplo. Fãs de algum seriado constroem essa 
identidadecom base no consumo desse seriado e de material ligado a ele. Uma 
apresentadora de televisão, ao consumir as tecnologias necessárias para sua 
 
 
10 
profissão, também constrói sua identidade perante o público, e talvez também 
para si mesma. 
Curiosidade 
A delimitação de identidades se por marcações simbólicas, como 
bandeiras e costumes. Porém, apesar de simbólicas, essas delimitações podem 
se desdobrar em exclusão social e consequentes desvantagens materiais. Um 
grupo identitário que seja marcado como inimigo pode ser alvo de ataques e 
discriminação. Quer um exemplo? 
Quatro dias depois do atentado de 11 de setembro de 2001, Balbir Singh 
Sodhi foi assassinado em seu posto de gasolina, em retaliação aos atentados. 
Balbir usava turbante não por ser muçulmano, como acreditava o assassino, mas 
sim por ser da religião Sikh, originária da Índia, onde Balbir nasceu. Para mais 
informações, acesse: <http://www.colorlines.com/articles/ten-years-murder-
balbir-singh-sodhi-first-911-hate-crime>. Acesso em: 4 mar. 2019. 
O resgate histórico, apresentado como essencialista, também pode servir 
para a construção de novas identidades por meio desse resgate. Exemplo disso 
são as práticas dos imigrantes e seus descendentes que nasceram no Brasil, 
sejam poloneses, japoneses ou ucranianos, que poderiam formar novas 
identidades, mesclando elementos de seus países de origem e do Brasil. 
3.2 Identidades em crise 
Douglas Kellner (2001, p. 297) situa a chamada “crise de identidade”, 
quando o indivíduo cansa da identidade que construiu/adotou. Autores pós-
modernos questionam a existência da identidade, que teria se perdido em um 
“fluxo de euforia intensa, fragmentada e desconexa” (Kellner, 2001, p. 298), 
característica de uma sociedade na qual a informação circula – ou explode – 
livremente. 
As identidades seriam niveladas por uma sociedade racionalizada, 
hipermidiatizada, burocratizada e consumista, na qual a mídia cumpre um 
papel importante na alienação das pessoas por meio da espetacularização da 
cultura. Isso será analisado no próximo tema. 
 
 
 
11 
Leitura obrigatória 
PLÜMER, E. Identidades em crise em uma sociedade em transformação. In: 
_____. Sociedade e contemporaneidade. Curitiba: InterSaberes, 2018. p.113-
126. 
TEMA 4 – SOCIEDADE DO ESPETÁCULO 
Lançado em 1967, A Sociedade do Espetáculo, do francês Guy Debord, 
foi um dos textos que influenciou os protestos estudantis de maio do ano 
seguinte, o famoso “maio francês”. Nele, Debord, que se dizia “doutor em nada”, 
associa arte ao capitalismo, concebendo que a arte, no contexto do capitalismo, 
não era senão “espetáculo”. 
 Não haveria mais realidade, e sim representações espetacularizadas 
que substituíram o natural e o autêntico. Para Debord, o espetáculo obedecia à 
necessidade do sistema capitalista de funcionar, inclusive, fora do horário de 
trabalho dos operários, mantendo-os em um estado de alienação constante. 
A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que 
resulta da sua própria atividade inconsciente) se expressa assim: 
quanto mais ele contempla, menos vive; quanto aceita reconhecer-se 
nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua 
própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que 
age, a exterioridade do espetáculo aparece no fato de seus próprios 
gestos já́ não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. 
É por isso que o espectador não se sente em casa em lugar algum, 
pois o espetáculo está em toda parte (Debord, 1997, p. 24). 
Já Douglas Kellner vê a mídia como algo menos totalitário, já que concebe 
que as pessoas têm um papel crítico e que conseguem detectar tentativas de 
manipulação, enquanto, para Debord, não havia meios de escapar dessa 
manipulação. A mídia atual, incluindo televisão, jornais e a internet, traria, além 
do espetáculo, novas possibilidades para a democratização e para a justiça 
social. 
A ideia do espetáculo de Debord inclui pensar que a mercadoria e o 
comércio ocuparam por completo a vida social. Para Kellner, é necessário 
pensar na sociedade espetacular como um circuito no qual produtos comerciais 
são disseminados com base em produtos culturais, e que há um desejo de 
controle para poder vender mais (Kellner, 2001, p. 137). 
O espetáculo, então, se expande para anúncios televisivos, já que não 
basta apenas explicar as qualidades do produto, mas sim que o anúncio seja 
notado e que as marcas e os logotipos se tornem parte da cultura popular. 
 
 
12 
A arte também se torna parte do espetáculo e do comércio. Nomes de 
artistas se tornam marcas registradas e suas obras precisam ser concebidas 
para atingir metas comerciais, seja em quantidade de discos ou de ingressos de 
cinema vendidos. Notícias também precisam ter sucesso, daí a transformação 
de tragédias em espetáculos jornalísticos que garantem a audiência dos 
telejornais, o que, por sua vez, aumenta o preço da veiculação de anúncios. 
Novas possibilidades nas tecnologias de comunicação também 
colaboram para o espetáculo. No começo das transmissões televisivas, só era 
possível transmitir ao vivo. Depois, os programas passaram a ser editados antes 
da transmissão e, mais tarde, foram acrescentadas transmissões via satélite, 
recursos de animação e simulações computadorizadas. 
A sociedade do espetáculo inclui a espetacularização para além da mídia 
de massa, talvez indo além do que Debord concebia quando escreveu seu livro. 
Veja alguns exemplos a seguir: 
 A arquitetura de museus, como o Guggenheim, em Bilbao, se torna uma 
atração maior do que as próprias obras neles expostas; 
 Shows de rock buscam oferecer atrativos além da própria música; 
 Videogames superam o lucro de produções cinematográficas; 
 Até o terrorismo busca se espetacularizar, por meio da divulgação de 
crimes chocantes, como o assassinato de reféns ocidentais. 
Leitura complementar 
Os pesquisadores Michele Negrini e Alexandre Rossato Augusti, da PUC-
RS, fizeram uma análise da obra de Guy Debord. Acesse o link a seguir e leia o 
texto na íntegra. Disponível em: <www.bocc.ubi.pt/pag/negrini-augusti-2013-
legado-guy-debord.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2019. 
Com base no que já foi visto e no que foi apontado pelos pesquisadores, 
em quais pontos você concorda com Debord? Você acredita que o público é 
“alienado e passivo”? Por quê? 
Dica de filme 
 A montanha dos sete abutres (título original: Ace in the Hole), lançado em 
1951, conta a história de um repórter que, depois de ser demitido de 11 jornais, 
consegue emprego numa cidade do interior dos Estados Unidos na qual nada 
aconteces. Um dia, ele descobre um fato que pode se tornar uma notícia nacional 
e lhe trazer fama. 
 
 
13 
TEMA 5 – A CULTURA DAS MÍDIAS 
A cultura da mídia tem implicações políticas e ideológicas e não pode ser 
interpretada sem levar esses aspectos em consideração. Além de precisar ser 
analisada em seu contexto, é importante ver como produtos culturais midiáticos 
carregam conotações de poder e dominação que dão continuidade a valores 
hegemônicos, que podem estar presentes de maneira sutil. 
Elementos e decisões estéticas têm valores codificados na produção de 
um filme, de uma fotografia e de um texto jornalístico. Os produtos midiáticos 
ajudam no estabelecimento desses valores. Como já visto, a ideologia é formada 
por discursos e simbolismos, que também estão presentes em produtos 
culturais. 
Os primeiros teóricos estabeleciam que esses valores eram ditados pela 
relação dos produtos midiáticos com o capital. Debord deu continuidade a essas 
ideias, demonstrando a relação entre capitalismo e produtos culturais com seus 
valores. Mais recentemente, teóricos oriundos, por exemplo, dos chamados 
Estudos Culturais, observaram outros valores hegemônicos presentes em 
produtos culturais. 
Além da questão de classe social, outros valores passaram a ser 
considerados para fazer uma leituracrítica de produtos midiáticos. Questões de 
gênero e sexualidade, raças e etnias, nacionalidades, entre outros grupos 
oprimidos, passaram a ser analisados nos mesmos termos em que antes se 
criticava somente a representação de classes sociais menos favorecidas. 
A análise de como essas questões sociais e políticas são representadas 
em produtos midiáticos se torna importante para detectar discursos 
hegemônicos ou, até mesmo, contraculturais e de resistência. O que está́ em 
jogo é o desenvolvimento de um estudo da cultura da mídia que analise, em 
primeiro lugar, o modo como a cultura da mídia transcodifica as posições 
dentro das lutas políticas existentes e, por sua vez, fornece representações 
que, por meio de imagens, espetáculos, discursos, narrativas e outras formas 
culturais, mobilizam o consentimento a determinadas posições políticas. 
(Kellner, 2001). 
Kellner (2001, p. 128) defende que uma crítica da cultura da mídia 
precisa ser multicultural para abarcar diversas leituras. No entanto, também 
alerta que o multiculturalismo corre o risco de ser cooptado e apresentado 
 
 
14 
como um discurso separatista, sendo que, se há lutas separadas para cada 
grupo, também há interesses em comum. Uma crítica multicultural, feita por meio 
de vários pontos de vista, evita análises unilaterais e etnocêntricas. 
Portanto, um estudo cultural crítico demonstra de que modo os textos 
culturais produzem identidades sociais e posições pessoais, comparando 
posições opostas. Kellner (2001) analisa as mensagens e os efeitos da mídia e 
tenta mostrar como certas figuras e modelos de discursos solapam os valores e 
o ethos de uma sociedade pluralista, igualitária, democrática e multicultural, ao 
passo que outros podem preconizar a criação de uma sociedade mais igualitária 
e democrática. 
É necessário considerar que certos produtos da cultura da mídia, como 
os filmes de Hollywood analisados por Kellner, têm um objetivo comercial e, por 
isso, não há muito espaço para radicalismos. As representações de questões 
sociais como classe, gênero e sexualidade costumam se dar dentro de limites 
já estabelecidos, para não causar controvérsias. 
Curiosidade 
Em vários filmes de ação estadunidenses, há representações de inimigos 
pertencentes a uma etnia, como terroristas árabes, sem que seja especificada a 
nacionalidade (simplesmente são “árabes”, identificáveis por roupas típicas e 
feições características), os quais serão provavelmente mortos pelo “mocinho”. É 
possível que tenha sido em alguma dessas representações midiáticas que o 
assassino de Balbir Singh Sodhi tenha aprendido que muçulmanos usam 
turbante. Infelizmente, ele não aprendeu que sikhs também usam turbante. 
Mulheres, negros, latinos, homossexuais, asiáticos, entre outros também 
podem ser representados por meio de estereótipos e lugares comuns, muitas 
vezes criados pela própria indústria do entretenimento. Mulheres, por exemplo, 
são tidas como pertencentes somente a essa categoria. É típico que em um 
grupo de pessoas representadas em um filme haja somente uma mulher, que 
está ali somente por isso, no que foi chamado de “Princípio da Smurfette”. 
A influência dessas representações sobre o público é questionada de 
diversas maneiras. Por um lado, críticos como Debord afirmam que a influência 
é completa e alienante. Por outro, teóricos dos Estudos Culturais afirmam que o 
público não deve ser considerado massa homogênea sem capacidades de 
pensar, e sim que cada um decodifica e se apropria dos significados presentes 
na cultura da mídia. 
 
 
15 
Kellner (2001, p. 142) propõe um meio termo no qual o público tem sim, 
poder crítico, sem deixar de considerar o poder que a indústria da mídia exerce 
sobre nós, e que “subestimar seu poder não traz benefícios aos projetos críticos 
de transformação social”. 
Leitura complementar 
Leia o artigo intitulado “A cultura da mídia e o triunfo do espetáculo”, de 
Douglas Kellner. Com base nos exemplos desse texto e na abordagem feita pelo 
autor, analise um produto de mídia mais recente, como um clipe, uma música, 
um videogame. Disponível em: <http://www.ciencianasnuvens.com.br/site/wp-
content/uploads/2013/07/35932881-A-Cultura-da-midia-e-o-triunfo-do-
espetaculo.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2019. 
TROCANDO IDEIAS 
Chimamanda Ngozi Adichie, escritora, nasceu na Nigéria em 1977. Seus 
três romances foram traduzidos em trinta idiomas. Em 2009, ela ministrou uma 
TED Talk na qual narrava suas experiências com relação a culturas. Trata-se de 
um depoimento muito interessante, que mostra o perigo em conhecer apenas 
um lado de qualquer história. Acesse o link a seguir e assista ao vídeo: 
<https://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_stor
y?language=pt-br>. Acesso em: 5 mar. 2019. 
1. Por meio deste vídeo, podemos estabelecer uma série de relações com 
os conteúdos da nossa aula. Algumas questões nos ajudam a refletir 
sobre o que debatemos. Vejamos: 
2. Por que os livros que Chimamanda escrevia quando criança não 
contextualizavam a Nigéria? 
3. Que comparação é feita com a história de Fidé, o menino que foi 
trabalhar em sua casa? 
4. Por que a colega de quarto estadunidense de Chimamanda se 
surpreendeu ao ver que ela ouvia Mariah Carey? 
5. Chimamanda se identifica como nigeriana, mas conta que começou a 
assumir uma identidade mais geral, africana, quando morou nos Estados 
Unidos. Por que você acha que isso aconteceu? 
6. Que ideia o professor que julgou o romance de Chimamanda como não 
“autenticamente africano” faria da Nigéria ou da África? 
 
 
16 
7. Qual o papel da mídia na impressão que Chimamanda tinha do México? 
8. Qual o papel da mídia na impressão que nós temos sobre a África? 
9. Quando ela fala de uma visão ocidental de africanos “incapazes de falar 
por eles mesmos e esperando serem salvos por um estrangeiro branco 
e gentil”, que relação você faria com o que é visto sobre a construção de 
identidades e sobre a reação diante da cultura da mídia? 
10. O que você sabe da Nigéria? 
11. Você acha que a sua cidade, seu estado ou seu país são vistos de 
maneira similar por alguém no mundo? 
NA PRÁTICA 
Baseado no que você refletiu na seção “Trocando Ideias”, escreva um 
texto descrevendo seu sentimento em uma situação similar à de Chimamanda 
nos Estados Unidos. Escolha um país ou uma cidade e imagine que você vai 
morar lá. Atente às seguintes questões para montar seu texto: 
 Quais poderiam ser as reações que o provocariam a dizer de onde é? 
 O que você teria em comum com as pessoas que moram no país? 
 Você conseguiria encontrar pessoas que gostassem das mesmas coisas 
que você? 
 Com quem você iria se “enturmar”? 
 O que as pessoas saberiam ou imaginariam sobre o lugar de onde você 
veio? 
FINALIZANDO 
Nesta aula vimos como o ser humano vive, durante toda vida, 
processos de socialização. Por meio deles, é possível aprender, quase sem 
perceber, sobre signos, símbolos e códigos, que são fundamentais na 
construção de identidades e subjetividades. Analisamos também o papel da 
mídia e da indústria cultural nessas construções, pois influenciam atitudes, 
vimos o que as pessoas fazem diante disso. 
 
 
 
17 
REFERÊNCIAS 
BERGER, P.; LUCKMANN, T. The Social Construction of Reality. London: 
Penguin, 1966. 
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. 
GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. 
HALL, S. Encoding/Decoding. In: _____. Culture, Media, Language. 
Birmingham: Centre for Contemporary Cultural Studies, 1980. 
_____. The work of representation. 2003. Disponível em: 
<http://pt.scribd.com/doc/91656682/Cap-1-Representation-Stuart-Hall>. Acesso 
em: 6 mar. 2019. 
KELLNER, D. A cultura da mídia – estudos culturais: identidade e política 
entre o moderno e o pós-moderno. Bauru, SP: EDUSC, 2001. 
LABURTHE-TOLRA, P.; WARNIER, J. Etnologia – Antropologia. Petrópolis,Rio de Janeiro: Vozes, 1997. 
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. 
In: SILVA, T. T. (Org.). Identidade e diferença – a perspectiva dos estudos 
culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

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