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Universidade Salgado de Oliveira É difícil conceituar saúde e doença. Cada período histórico possui a sua própria interpretação. No passado saúde já foi considerada como uma espécie de silêncio orgânico; Sob o ponto de vista fisiológico estado de harmonia e equilíbrio funcional quando diversos sistemas e aparelhos não dão sinal de irregularidade. “o estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal” (FERREIRA, 1986). Surge então uma questão relevante: O QUE É UMA SITUAÇÃO NORMAL? ◦ Qual a linha divisória entre a normalidade e a anormalidade? ◦ O que diferencia a sanidade da insanidade? Vagar sozinho à noite? Passar a noite em um cemitério? Rasgar roupas ou destruir tudo que lhe é dado? Este conceito inclui as dimensões mental e social mas do ponto de vista prático é pouco operacional. ◦ O que é um completo estado de bem-estar? ◦ Como avaliar este estado? “é muito difícil definir o que é saúde e estabelecer os limites onde começa a enfermidade. Porque saúde e enfermidade são dois estados entre os quais o indivíduo flutua toda sua vida, duas condições estreitamente ligadas por conexões recíprocas” (ROJAS, apud LAPREGA, pág. 03, 2011). Evidências em fósseis (de milhões de anos) demonstram que as doenças precederam o homem na história. Presume-se que o homem primitivo enfrentou as doenças com a mesma atitude dos animais: “o enfermo ou o ferido se ocultava, se segregava, para escapar da agressão daqueles que podiam atacá-lo para arrebatar-lhe suas peles ou armas. Lambia suas feridas e uivava na solidão, até curar ou morrer. Ninguém se ocupava de sepultar os cadáveres” (Ibid, pág. 04, 2011). PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO DA ENFERMIDADE: a introdução de maus espíritos no corpo (concepção que ainda hoje continua a ter importância em alguns estratos da população). Pinturas em cavernas retratam: um homem coberto com peles e máscara executando uma dança como os feiticeiros da África atual. Suas funções: afugentar os maus espíritos, curar enfermidades e augurar uma boa caça. Associação entre essas duas funções: reparação da saúde e provisão de alimentos. Primeiras interpretações sobre a questão da causalidade na antiguidade Podem ser separadas em duas vertentes: 1) presente entre assírios, egípcios e hebreus (entre outros povos) considerava o corpo como um receptáculo de uma causa externa natural ou sobrenatural. 2) típica da medicina hindu e dos chineses entendia a doença como consequência do desequilíbrio entre os elementos que compõem o corpo humano provocado por alguma alteração no ambiente físico. Por conta do número crescente de epidemias na Europa é retomada a discussão de causalidade (Século IV) A medicina volta a ser exercida por leigos e os experimentos científicos retornaram (1867...) Surge então uma perspectiva de que: “Na tentativa de elaborar uma explicação para a disseminação das doenças, concebe-se a existência de partículas invisíveis, responsáveis pela produção das doenças e que atingem os homens de diferentes maneiras”. Por conta dessas elaborações surge a teoria dos miasmas (que prevaleceu por muito tempo) que se torna hegemônica até o aparecimento da bacteriologia (segunda metade do século XIX). Teoria Miasmática, a qual considerava que a doença era causada por certos odores venenosos, gases ou resíduos nocivos (do grego miasma = mancha) que se originavam na atmosfera ou a partir do solo. Essas substâncias seriam posteriormente arrastadas pelo vento até a um possível indivíduo, que acabaria por adoecer. http://www.prof2000.pt/users/castanhas/pagina1.htm No final do século XVII aparece com força crescente ligada aos movimentos revolucionários a concepção de causalidade social das doenças o germe da medicina social. A participação de pensadores na discussão sobre as concepções de saúde e doença é histórica e socialmente determinante e reflete portanto as condições e contradições presentes na sociedade. ◦ A saúde do povo é um objeto de inequívoca responsabilidade social. ◦ As condições econômicas e sociais têm efeito importante sobre a saúde e a doença, e tais relações deveriam ser submetidas à investigação científica. ◦ Deviam ser tomadas providências no sentido de promover a saúde e combater a doença, sendo que ações sociais e médicas deveriam ser valorizadas. O século XVIII foi dedicado ao estudo do corpo humano (desenvolvimento da Anatomia e Alterações Anatômicas decorrentes de doenças). Passou-se da fase de contemplação filosófica para a fase da experimentação da análise. Houve o lançamento das bases do método científico ainda hegemônico na atualidade com superação da teoria dos miasmas substituída com a evolução da bacteriologia (meados do século XIX). O desenvolvimento da Bacteriologia corroborou com a discussão de causalidade das doenças como sendo: externa; visível; Identificável (chamada bactéria); parasita; e mais tarde, vírus. Nessa discussão cada doença possui um agente etiológico que poderia ser combatido com produtos químicos ou vacinas. Essa concepção se aplicava bem às doenças infecciosas porém mais tarde mostrou-se limitada e foi substituída por teorias mais abrangentes. Houve a associação causal como aquela existente entre duas categorias de eventos na qual se observa que uma mudança na freqüência ou na qualidade de um é seguida pela alteração do outro. Há discussão sobre o problema das relações entre eventos que podem ser associados ou independentes (sem nenhuma associação estatística encontrada entre eles). Eventos que compõem uma rede de causalidade (que pode ser comprovada estatisticamente) sendo este um conhecimento útil na prática. Assim: Alguns autores consideram que a cadeia de causalidade é uma simplificação e que “deve considerar-se toda a genealogia mais propriamente como uma rede, que em sua complexidade e origem fica além de nossa compreensão”. A B C Tuberculose Renda Habitação BK AIDS Imunidade BCG Nutrição Idade Etnia Sexo Diabetes Alcoolismo Escolaridade Ocupação Figura 1 Exemplo de rede de causalidade para a tuberculose A partir da relação causal do processo saúde-doença surge a proposta de intervenção no âmbito da medicina preventiva associando-a a um conceito de história natural da doença. Na história natural de qualquer processo mórbido no homem pode ser dividido em dois períodos: ◦ Pré-patogênico; ◦ Patogênico. Período pré-patogênico há a interação preliminar dos fatores potencialmente causadores da doença (ainda não se iniciou a interação hospedeiro-estímulo). Fatores causais entram em contato direto com o indivíduo começam a aparecer as alterações fisiopatológicas que se manifestam posteriormente por meio de sinais e sintomas. Patogênese precoce antes que apareçam os primeiros sinais e sintomas; Períodos de: doença precoce; doença avançada; e convalescença. A história natural das doenças inicia-se com a interação de fatores causadores de doença passa por todo o curso da doença no organismo humano e termina com a recuperação, estado crônico, invalidez ou morte. Os fatores causais podem ser distribuídos em três conjuntos: os relacionados com o agente, com o hospedeiro e com o meio ambiente. O estado de saúde-doença depende da inter-relação e do equilíbrio entre estes conjuntos. A saúde está ligada a um estado de Homeostase ao equilíbrio. E a doença é considerada o resultado do desequilíbrio entre esses fatores. A) AosAGENTES biológicos, nutricionais, químicos, físicos ou mecânicos que com sua presença ou ausência podem DESENCADEAR ou PERPETUAR processos mórbidos. B) Com o HOSPEDEIRO idade, sexo, raça, hábitos, estado civil, hereditariedade, fatores ocupacionais etc. C) Ao AMBIENTE ambiente físico (clima, tempo, estação do ano, geografia etc.) ambiente biológico (“o universo das coisas vivas que circundam o homem e tudo além do próprio homem”) e ambiente social e econômico. ALTERAÇÕES EM QUALQUER DESSES FATORES tem interferência direta ou indireta no estado de saúde- doença dos indivíduos e das populações. Em qualquer das etapas é possível algum nível de prevenção. Quando feita em período pré- patogênico é chamada prevenção primária (em dois níveis: promoção de saúde e proteção específica). A promoção de saúde constitui-se de medidas destinadas a melhorar a saúde da população em geral: educação para saúde; alimentação; moradia; práticas de esportes e atividade de lazer; participação em atividades associativas; exames de saúde periódicos etc. Proteção específica medidas aplicáveis e determinadas doenças ou grupo de doenças como: a imunização; o uso de preservativos; a proteção contra riscos ocupacionais; a coleta de citologia (prevenção de câncer de colo de útero) etc. A prevenção secundária e terciária são propostas para o período patogênico. Período Pré-Patogênico Período Patogênico Interação entre agente, hospedeiro e meio ambiente Alterações Primeiros sinais Estágio avançado Convalescença precoces e sintomas da doença Promoção da saúde Proteção específica Diagnóstico e tratamentos precoces Limitação do dano Reabilitação Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciária Níveis de aplicação de medidas preventivas Permite uma visão integradora da assistência à saúde de forma a chamar a atenção para a necessidade de atuar em todos os níveis – no sentido de prevenir os problemas do nível seguinte. Criação em 1971 no Departamento Nacional de Saúde e Bem-Estar no Canadá da seção chamada Long Range Health Planning Branch (LRHPB) ◦ Seção de Planejamento em Saúde para longo prazo posteriormente conhecido como Relatório Lalonde (Ministro da Saúde na época). Tornou-se um documento de alcance mundial uma das maiores realizações do movimento de saúde pública moderno. Questão central do documento concepção de Campo da Saúde e Sistema de Atenção à Saúde como sinônimos. ◦ Atenção à saúde do indivíduo tendo a maior parte dos recursos públicos a fim de melhorar a qualidade e acessibilidade dos serviços prestados. Biologia Humana; Ambiente; Estilo de Vida; Organização da Atenção à Saúde.
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