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06/02/2020 1 Teoria das Organizações Anotações Complementares de Aula (Versão Beta) Resumo elaborado pelo professor Hamilton de Souza Pinto, MSc. hamilton.adm@gmail.com https://www.facebook.com/groups/professorhamiltondesouzapinto/ https://sites.google.com/site/professorhamiltondesouzapinto http://lattes.cnpq.br/2851693375512881 1 Apresentação do Plano de Ensino 2 “Não existem ventos favoráveis para o navegador que não sabe para onde vai...” Lucius Aneus Séneca (4a.C. - 65d.C.) 06/02/2020 2 Professor Hamilton de Souza Pinto Currículo resumido Mestre em Sistemas de Gestão – Ênfase em Sistema de Gestão pela Qualidade Total (Universidade Federal Fluminense - Escola de Engenharia: Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente); MBA em Gerenciamento Avançado de Finanças – Ênfase em Engenharia Econômica e Financeira (Universidade Federal Fluminense - Escola de Engenharia: Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente); MBA em Organizações e Estratégia – Ênfase em Arranjos Produtivos Locais e Desenvolvimento Local Sustentável (Universidade Federal Fluminense - Escola de Engenharia: Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios & Meio Ambiente); Pós-graduação em Gestão Empresarial (Centro Universitário Metodista Bennett); Pós-graduação em Gestão Estratégica e Qualidade (Universidade Candido Mendes); Pós-graduação em Marketing (Universidade Candido Mendes); Bacharel em Administração (Centro Universitário Metodista Bennett); Bacharel em Ciências Contábeis (Universidade Estácio de Sá); Experiência na área empresarial como consultor, diretor, gerente, assessor e assistente desde 1982. Experiência na área acadêmica como professor e coordenador de cursos de graduação e pós-graduação desde 2001. 3 Contextualização A disciplina Teoria das Organizações permite ao aluno uma visão abrangente da evolução do pensamento administrativo desde os seus primórdios até os dias atuais – incluindo as tendências – e como esse pensamento pode auxiliar o administrador a fundamentar o seu processo decisório na dinâmica organizacional contemporânea. Desta forma, o aluno será capaz de identificar, analisar e avaliar os diferentes conceitos teóricos das principais escolas do pensamento administrativo e compreender como cada escola pode contribuir de diferentes formas para diferentes situações da dinâmica organizacional contemporânea. 4 06/02/2020 3 Ementa Os primórdios do Pensamento Administrativo. A perspectiva introdutória do Pensamento Administrativo. A perspectiva moderna do Pensamento Administrativo. A perspectiva contemporânea do Pensamento Administrativo. As tendências do Pensamento Administrativo. 5 Objetivo geral Identificar a evolução do Pensamento Administrativo e compreender como as ideias centrais das principais escolas desse pensamento podem ser aplicadas à prática das organizações contemporâneas. 6 06/02/2020 4 Objetivos específicos Identificar as principais perspectivas do pensamento administrativo e suas respectivas escolas, na perspectiva de uma visão sistêmica e integradora; Analisar a evolução temporal do pensamento administrativo e compreender como as propostas de cada escola contribuíram para a dinâmica organizacional em suas respectivas épocas; Desenvolver uma compreensão analítica e, ao mesmo tempo, crítica da evolução do pensamento administrativo; Compreender como a visão sistêmica e integradora das diferentes abordagens do pensamento administrativo e de suas respectivas escolas pode contribuir em diferentes situações da dinâmica organizacional contemporânea; 7 Compreender que as diversas problemáticas do fenômeno administrativo atual podem ser melhor diagnosticadas quando o administrador fundamenta e pratica diferentes parâmetros de diferentes escolas do pensamento administrativo ao mesmo tempo. 8 06/02/2020 5 Conteúdo programático Unidade 1 – Os primórdios do Pensamento Administrativo 1.1. Antecedentes históricos da Administração como ciência 1.2. As principais influências a o Pensamento Administrativo 1.3. A Revolução Industrial e a revolução do Pensamento Administrativo 1.4. O pensamento dos economistas liberais e os primeiros grandes empreendedores 9 Unidade 2 – A perspectiva introdutória do Pensamento Administrativo 2.1. Surge a proposta da Administração como uma nova ciência: Taylor e a Administração Científica 2.2. A busca da racionalidade: Weber e o Modelo Burocrático 2.3. A proposta de uma abordagem universal para a Administração: Fayol e a Teoria Clássica da Administração 2.4. A necessidade de humanizar e democratizar a Administração: a Teoria das Relações Humanas 2.5. O todo é muito mais do que a soma das partes: a Teoria Estruturalista 10 06/02/2020 6 Unidade 3 – A perspectiva moderna do Pensamento Administrativo 3.1. A integração interna e a adaptação externa: a Teoria dos Sistemas 3.2. As organizações perceberam a necessidade de se adaptar às mudanças, que se tornavam cada vez mais rápidas e intensas: a Teoria Neoclássica 3.3. Entendendo o comportamento individual das pessoas no trabalho: a Teoria Comportamental da Administração 3.4. Desenvolvendo o potencial das pessoas no trabalho e criando uma cultura organizacional: a Teoria do Desenvolvimento Organizacional 3.5. A estrutura organizacional depende das características do ambiente externo: a Teoria da Contingência 11 Unidade 4 – A perspectiva contemporânea do Pensamento Administrativo 4.1. O que acontece em uma determinada área científica logo impacta as demais: o paradoxo das ciências 4.2. Tudo muda, tudo evolui continuamente, nada é certo e tudo é relativo: o Darwinismo organizacional, a Teoria dos Quanta, a Teoria do Caos, a Teoria da Complexidade, o Princípio da Incerteza e a Teoria da Relatividade 4.3. As inovações tecnológicas e os desafios da Nova Economia: a Quinta Onda e a Era da Informação 4.4. Foco no negócio e o alcance de elevados padrões organizacionais: a Excelência Empresarial, qualidade e melhoria contínua 4.5. Reconstrução total da organização: a Reengenharia 4.6. As melhores práticas do mercado: Benchmarking 12 06/02/2020 7 Unidade 5 – As tendências do Pensamento Administrativo 5.1. A nova lógica das Organizações: infoestrutura, negócios sustentáveis e Governança Corporativa 5.2. O novo capital: o capital intelectual e a Gestão do Conhecimento 5.3. A virtualização dos negócios, o compartilhamento e o foco nas atividades centrais do negócio: a Gestão por Projetos, as Organizações Virtuais e as Organizações Modulares 5.4. O pensamento sistêmico: a Quinta Disciplina 5.5. Ampliando o conceito de Administração: a importância do empreendedorismo 13 Procedimentos de avaliação do aluno O aluno será avaliado, oficialmente, em três etapas: AV1, AV2 e AV3. Sendo AV2 e AV3 unificadas. As AV2 e AV3 serão elaboradas com base em todo o conteúdo programático das disciplinas. Para aprovação nas disciplinas, o aluno deverá: Obter notas iguais ou superiores a quatro em, pelo menos, duas das três avaliações; Atingir média aritmética igual ou superior a seis, sendo consideradas apenas as duas maiores notas obtidas dentre as três etapas de avaliação; Frequentar, no mínimo, 75% das aulas ministradas. 14 06/02/2020 8 Bibliografia indicada 15 Introdução à Teoria Geral da Administração Idalberto Chiavenato 8ª edição (2011) Editora Elsevier Leitura complementar indicada 16 06/02/2020 9 Sites indicados para pesquisas www.cra-rj.org.br www.cfa.org.br www.administradores.com.br www.hsm.com.br www.valoreconomico.com.br www.facebook.com/groups/professorhamiltondesouzapinto/ 17 18 06/02/2020 10 Módulo 1 Introdução à Teoria das Organizações 19 Fundamentos conceituais da administração O termo “administração” tem origem no termo em latim “Administratione”. Tem como sinônimo o termo “gestão”. Em inglês, corresponde ao termo “management”. Administração, ou gestão, ou, ainda, management, é um pensamento harmônico e sinérgico que tem como objetivopesquisar, analisar e avaliar viabilidades de negócios; definir objetivos e metas, formular estratégias para atingir esses objetivos e as suas respectivas metas; elaborar planos estratégicos, táticos e operacionais, implementar estes planos através da organização da infraestrutura e das pessoas em suas respectivas funções; e controlar os recursos e as ações mensurando os resultados. 20 06/02/2020 11 Administração é uma filosofia de negócios focada no governo e na regência de empreendimentos públicos e privados. Administração é um conjunto de fundamentos, normas e funções que têm por fim ordenar a estrutura e o funcionamento de uma organização (empreendimento privado ou público). Administração é um processo dinâmico e contínuo que visa manter uma organização como um conjunto apropriadamente integrado ao seu ambiente operacional e aos seus recursos. 21 Administração é a ciência das decisões – é a ciência que cria e desenvolve conhecimentos científicos que permitem decidir com o objetivo de gerar e gerir resultados (financeiros, estruturais, materiais e sociais) para empreendimentos. Administração é a estruturação de um pensamento estratégico para a consecução de objetivos estruturais, financeiros e sociais. Administração realiza objetivos organizacionais através das pessoas para obter os melhores resultados tanto para as organizações quanto para as pessoas. 22 06/02/2020 12 A importância da administração Estamos vivendo uma era de mudanças, transformações, incertezas e perplexidade. Portanto, a administração tornou-se o condicionante estratégico para a organização ver o que ninguém viu, projetar novos negócios, criar soluções para os negócios existentes, entender e atender clientes, estabelecer produtividade e lucratividade, reduzir custos, otimizar processos, ser uma organização competitiva, estabelecer vantagem competitiva, agregar valor à sociedade e ser perene. Investir em conhecimento e estudar a dinâmica da Administração como ciência social aplicada e praticá-la de forma profissional tornou-se um fator crítico para o sucesso das organizações. 23 Conceito teórico de administração Administração é um processo que consiste na coordenação do trabalho dos membros da organização e de alocação dos recursos organizacionais para alcançar os objetivos estabelecidos de forma eficaz e eficiente (Sobral e Peci, 2013). Quatro elementos podem ser destacados nessa definição: Processo; Coordenação; Eficácia; e Eficiência. 24 06/02/2020 13 Processo Processo é um modo sistemático de fazer algo. A administração é um processo na medida em que consiste em um conjunto de atividades e tarefas relacionadas a fim de atingir um objetivo comum. Administração é um processo disciplinado, ou seja, é uma forma sistemática (ordenada, rígida e contínua) de realizar as coisas através das pessoas. As etapas do processo de administração se fundamentam em quatro funções: Planejamento, organização, direção e controle. 25 O administrador busca recursos na sociedade e os transforma em valor agregado através do processo de administração para produzir resultados para a organização e para a própria sociedade onde está inserida. 26 Planejamento DireçãoControle Recursos ResultadosS o ci ed ad e Organização 06/02/2020 14 O processo de administração tem as seguintes características: Iterativo: é uma sequência disciplinada de etapas que devem ser seguidas rigidamente em sua sequência (planejamento, organização, direção e controle). Interativo: cada função do processo interage com as demais, influenciando-as e sendo por elas influenciada. Sistêmico: não pode ser analisado por cada uma de suas partes isoladamente, mas pela sua totalidade e globalidade. Para se entender cada uma das funções é necessário conhecer todas as demais. Nenhuma delas pode ser administrada sem uma estreita vinculação com as outras. Cíclico e repetitivo: é permanente e contínuo e, à medida que se completa, começa novamente com o objetivo de melhorar e de se aperfeiçoar continuamente e gerar conhecimento e inovação. 27 Coordenação A coordenação dos recursos organizacionais promove a sinergia das partes independentes para que funcionem como um todo harmônico, procurando alcançar a coerência entre os objetivos, as pessoas, os recursos e os processos organizacionais. As partes independentes constituem diferentes áreas funcionais que se complementam entre si para criar sinergia organizacional. Cada área funcional representa diferentes focos de atuação e diferentes processos que precisam ser coordenados como partes integrantes de um todo harmônico. 28 06/02/2020 15 29 Administração de Operações (produção industrial e/ou prestação de serviços) Administração Financeira Administração de Recursos Humanos (Gestão de Pessoas) Administração de Marketing Áreas funcionais da administração Eficácia A eficácia é a capacidade de realizar as atividades da organização de modo a alcançar os objetivos estabelecidos. A eficácia implica escolher os objetivos certos e conseguir atingi- los, e sua principal preocupação é com os fins. A eficácia assume importância decisiva no conceito de administração, já que é a chave para o sucesso de uma organização. 30 06/02/2020 16 Eficácia é fazer o que deve ser feito. Focaliza os objetivos e as suas respectivas metas (o que fazer). Preocupa-se em formular estratégias para alcançar os respectivos objetivos com resultados positivos para a organização e para as pessoas. 31 Eficiência A eficiência é a capacidade de realização das atividades da organização, minimizando a utilização dos recursos, ou seja, é a capacidade de desempenhar corretamente as tarefas. A eficiência é uma medida da relação entre resultados alcançados e os recursos consumidos. Quanto maior a produtividade da organização, mais eficiente ela será. A eficiência tem como sua principal preocupação os meios, isto é, com o uso econômico dos recursos organizacionais. 32 06/02/2020 17 Eficiência é fazer corretamente como deve ser feito. Focaliza os meios, as técnicas e as operações (como fazer). Preocupa-se em cumprir os regulamentos internos, enfatizar métodos e procedimentos, aprender, ser pontual no trabalho, reduzir custos, otimizar tempo e aumentar a produtividade. 33 34 06/02/2020 18 Antes de focalizar a eficiência dos processos, é necessário definir com eficácia os objetivos certos. Apesar das diferenças entre os conceitos, eles estão correlacionados. Sem eficácia a eficiência é inútil, pois a organização não consegue realizar o seu propósito. Uma administração de sucesso consiste em obter simultaneamente eficácia e eficiência na utilização de recursos organizacionais. 35 Complementando os critérios de eficácia e de eficiência... A Administração, para atingir os seus objetivos, demanda o entendimento de critérios organizacionais relacionados à eficácia e eficiência. Porém, os critérios relacionados com eficácia e eficiência devem ser complementados com critérios também relevantes. São eles: efetividade, relevância e excelência. Efetividade Efetividade é o que se manifesta por um efeito real, por um resultado verdadeiro e positivo. É construir e manter uma realidade. Efetividade envolve empreender negócios, ou seja, assumir riscos e fazer algo acontecer aqui e agora. Efetividade considera ações centradas em aspectos éticos e de responsabilidade socioambiental. 36 06/02/2020 19 Relevância Relevância é um critério de desempenho filosófico e antropológico medido em termos de significância, de valor, de importância e de pertinência dos atos e fatos do processo de administrar organizações. A relevância valoriza as consequências das decisões dos administradores na qualidade de vida dos administrados. Excelência Excelência é a conjunção estratégica e harmônica de eficácia, eficiência, efetividade e relevância ao mesmo tempo. A excelência é o tema central focalizado pelo contexto contemporâneoda Administração. 37 Administração: ciência, arte, tecnologia e profissão. Administração como ciência Administração é uma ciência social aplicada (conhecimento cujo objeto de estudo são os diferentes aspectos da sociedade humana) que se caracteriza por um conteúdo teórico (conjunto sistemático de ideias e conhecimentos), prático (verificação concreta do seu funcionamento) e aplicado (diversos meios de atuação sobre um mesmo fenômeno com vistas a um mesmo objetivo). O conceito de administração como ciência surgiu como consequência da consolidação do capitalismo e, ao mesmo tempo, do processo de modernização das sociedades ocidentais – o conceito de capitalismo representou para as sociedades ocidentais um novo modelo de produção e organização do trabalho. 38 06/02/2020 20 Foi com a Revolução Industrial que se consolidaram as condições para o estudo científico da administração como uma nova disciplina, com fronteiras distintas de outras disciplinas. Portanto, administração é a ciência das decisões – administrar é decidir o que, por que, como, onde, quando, quanto (quantidade e custo) e quem deve fazer. 39 Administração como arte Arte é conseguir um determinado resultado por meio da aplicação de habilidades e competências pessoais. A administração é uma arte no sentido de pessoas usarem de suas habilidades e competências tanto para perceberem um contexto, quanto para interpretá-lo e aplicá-lo a situações presentes ou futuras. 40 06/02/2020 21 Administração como tecnologia Tecnologia é o estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana. A administração utiliza técnicas, modelos, práticas, ferramentas conceituais baseadas em teorias científicas que tornam o trabalho do administrador mais eficaz. 41 Administração como profissão O primeiro curso de administração surgiu nos Estados Unidos da América, em 1881, na Wharton School, enquanto no Brasil a Fundação Getúlio Vargas (São Paulo) foi a pioneira nesse curso, em 1938. No Brasil, a profissão só foi criada pela Lei nº 4.769, de 9 de setembro de 1965 e regulamentada pelo Decreto nº 61.934, de 24 de fevereiro de 1966. 42 06/02/2020 22 A exemplo de outras profissões liberais, a profissão de administrador é regulamentada por lei e somente profissionais devidamente formados e registrados podem exercer a profissão. A fiscalização da profissão é exercida pelo Conselho Federal de Administração (www.cfa.org.br) e por seus respectivos Conselhos Regionais (www.cra- rj.org.br). 43 O símbolo da profissão e seu significado O quadro como ponto de partida: uma forma básica, pura, onde o processo de tensão de linhas e recíproco. Sendo assim, os limites verticais e horizontais entram em processo recíproco de tensão. Indica que a profissão tem certos limites em seus objetivos, além de encaminhar diferentes aspectos de uma questão para um objetivo comum. O quadrado é a regularidade. Possui sentido estático quando apoiado em seu lado, mas possui um sentido dinâmico quando apoiado em seu vértice (a posição escolhida). As flechas laterais indicam um caminho, uma meta a partir de uma premissa e de um princípio de ação (o centro). As flechas centrais se dirigem para um objetivo comum, baseado na regularidade. 44 06/02/2020 23 Administração no Brasil A administração é uma prática universal, mas existem diferenças de modelos e de estilos de administração de negócios em diferentes países. No entanto, as características distintivas das culturas nacionais condicionam o modelo de administração adotado em cada um dos diferentes países. O estilo brasileiro de administração cultua o personalismo, concentra o poder, estabelece o formalismo, desenvolve uma postura de expectador, tem aversão ao conflito, cultua a lealdade às pessoas (principalmente os amigos e os familiares), estabelece o paternalismo, envolve flexibilidade (incluindo o “jeitinho brasileiro” de flexibilizar) e permite a impunidade. Precisamos mudar essa situação. Temos um longo e árduo caminho pela frente. 45 O perfil da dinâmica empresarial brasileira O ambiente organizacional brasileiro é muito peculiar e apresenta diversos obstáculos à criação e à sustentabilidade dos negócios, dentre os quais se destacam: Elevada carga tributária; Elevados custos de financiamento; Burocracia ineficaz; Reduzidos níveis de produtividade e de qualidade; Reduzidos níveis de educação e de formação técnica; Reduzidos níveis de infraestrutura (rodovias, portos, habitação, saneamento, saúde, energia...); Elevados níveis de violência; Elevados níveis de corrupção; Governos incompetentes, despreparados, corruptos e, principalmente, sem noção de nação. 46 06/02/2020 24 Administração contemporânea A administração contemporânea se fundamenta na criação, entrega e sustentabilidade de valor. Mas afinal, o que é valor? No contexto organizacional, valor é um conjunto de características de desempenho e de atributos que uma organização cria na forma de produtos e/ou serviços e que pelos quais os clientes-alvo estão dispostos a pagar. A capacidade de criar valor é essencial para a competitividade de uma organização e é o âmago do sucesso da administração. 47 A administração orientada para o valor se concentra em criar e sustentar valor superior para os clientes-alvo e para a sociedade como um todo, como uma forma de alcançar os objetivos estratégicos da própria organização. Criar e sustentar valor exige empreendedorismo, inovação, estratégia orientada pelo e para o mercado-alvo da organização, ética e responsabilidade socioambiental (consideração da sociedade, da economia e do meio ambiente ao mesmo tempo). 48 06/02/2020 25 Os desafios da administração contemporânea As constantes mudanças no ambiente de negócios alteraram profundamente o contexto da administração; O conhecimento e as ideias substituíram os ativos físicos; A globalização ampliou os mercados, mas também aumentou a concorrência. Os clientes tornaram-se mais exigentes. Novas tecnologias surgem a cada instante e tornam-se obsoletas a um ritmo cada vez mais rápido; As sociedades passaram a exigir um comprometimento das organizações em relação à responsabilidade socioambiental e ética. 49 A administração no século XXI As organizações e as pessoas iniciaram o Século XXI e o motivo de preocupação não é apenas o fato de haver mudanças, mas sim a sua velocidade acelerada. As organizações e as pessoas nem sempre percebem que o seu ambiente de negócios está sempre mudando. As tecnologias, as forças competitivas do mercado e exigências dos clientes estão em processo contínuo e acelerado de mudança. O modelo de administração dos negócios do ano anterior pode ser o caminho mais certo para o fracasso nesse ano. Neste início de Século XXI a organização que não investir em um processo contínuo de mudança vai desaparecer. 50 06/02/2020 26 O ritmo da mudança se tornou tão rápido que a capacidade de mudar se tornou, agora, uma vantagem competitiva para as organizações e para os administradores. A capacidade de mudar e, consequentemente, inovar, requer da Administração no Século XXI a capacidade de perceber, captar, analisar, avaliar, decidir, executar e aprender sobre as tendências e os avanços que afetam e podem vir a afetar as organizações, a estrutura da concorrência em seu setor econômico, os seus clientes e os seus fornecedores. 51 52 06/02/2020 27 Módulo 02 Os Primórdios da Administração 53 A história da administração como ciência é recente. No decorrer da história da humanidade, a administração se desenvolveu com uma lentidão impressionante. Somente a partir do início do século XX é que ela surgiu e apresentou um desenvolvimento de notável pujança e inovação. Até o final do século XIX a sociedade era completamente diferente. As organizações eram poucas e pequenas: predominavam as pequenas oficinas, artesãos independentes, pequenasescolas, profissionais autônomos. 54 06/02/2020 28 Atualmente, a sociedade é pluralista de organizações na qual a maior parte das obrigações sociais (como a produção de bens ou serviços) é confiada às essas organizações (indústrias, comércio varejista, universidades, escolas, hospitais, comunicações, serviços públicos etc.). 55 Evolução histórica da administração 56 06/02/2020 29 57 Anos Autores Eventos 4000 a.C. Egípcios Necessidade de planejar, organizar e controlar. 2600 a.C. Egípcios Descentralização na organização. 2000 a.C. Egípcios Necessidade de ordens escritas. Uso de consultoria/assessoria. 1800 a.C. Hamurabi (Babilônia) Uso e controle escrito e testemunhal. Estabelecimento do salário mínimo. 1491 a.C. Hebreus Conceito de organização e princípio escalar. 58 600 a.C. Nabucodonosor (Babilônia) Controle de produção e incentivos salariais. 500 a.C. Mencius (China) Necessidade de sistemas e padrões. 400 a.C. Sócrates (Grécia) Ciro (Pérsia) Platão (Grécia) Enunciado da universalidade da Administração. Necessidade de relações humanas, estudo de movimentos, arranjo físico e manuseio de materiais. Princípio da especialização. 175 a.C. Cato (Roma) Descrição de funções 284 Dioclécio (Roma) Delegação de autoridade. 06/02/2020 30 59 1436 Arsenal de Veneza Contabilidade de custos, balanços contábeis e controle de inventários. 1525 Maquiavel (Itália) Princípio do consenso na organização, enunciado das qualidades de liderança e táticas políticas. 1767 James Stuart (Inglaterra) Teoria da fonte de autoridade, impacto da automação, diferenciação entre gerentes e operários, especialização. 1776 Adam Smith (Inglaterra) Princípio de especialização dos operários, conceito de controle. 60 1799 Eli Whitney (Estados Unidos da América) Método científico, contabilidade de custos e controle de qualidade. 1800 Mathew Boulton (Inglaterra) Procedimentos padronizados de operações, especificações, métodos de trabalho, planejamento, incentivo salarial, tempos padrões, gratificação natalina e auditoria. 1810 Robert Owen (Inglaterra) Práticas de pessoal, treinamento dos operários, planos de casas para operários. 06/02/2020 31 61 1832 Charles Babbage (Inglaterra) Ênfase na abordagem científica para a administração, divisão do trabalho, estudos dos tempos e movimentos, contabilidade de custos, efeito das cores na eficiência do operário. 1856 Daniel C. McCallum (Estados Unidos da América) Uso do organograma para a estrutura organizacional, administração sistemática em ferrovias. 1886 Henry Metcalfe (Estados Unidos da América) Arte e ciência da Administração 62 1903 Administração Científica 1909 Teoria da Burocracia 1916 Teoria Clássica 1932 Teoria das relações Humanas 1947 Teoria Estruturalista 1951 Teoria dos Sistemas 1953 Abordagem Sociotécnica 1954 Teoria Neoclássica 1957 Teoria Comportamental 1962 Desenvolvimento organizacional 1972 Teoria da Contingência 1990 Novas Abordagens 06/02/2020 32 Principais influências à formação do pensamento da administração como ciência 63 As influências dos filósofos clássicos 64 Sócrates (470 a.C. a 399 a.C.), filósofo grego. Administração como uma habilidade pessoal separada do conhecimento técnico e da experiência. Platão (429 a.C. a 347 a.C.), filósofo grego, discípulo de Sócrates. Analisou os problemas políticos e sociais decorrentes do desenvolvimento social e cultural do povo grego. Em sua obra, A República, expõe a forma democrática de governo e de Administração dos negócios públicos. Aristóteles (384 a.C. a 322 a.C.), filósofo grego, discípulo de Platão. Deu o impulso inicial à Filosofia, Cosmologia, Nosologia (estudo das doenças), Metafísica, Lógica e Ciências Naturais, abrindo as perspectivas do conhecimento humano. 06/02/2020 33 As influências dos filósofos da era moderna 65 Thomas Hobbes (1588 a 1679), filósofo político inglês. Defendeu o governo absoluto em função de sua visão pessimista da humanidade. Na ausência do governo, os indivíduos tendem a viver em guerra permanente e conflito interminável para obtenção de meios de subsistências. Jean-Jacques Rousseau (1712 a 1778) Desenvolveu a teoria do Contrato Social: o Estado surge de um acordo de vontades. Contrato Social é um acordo entre os membros de uma sociedade pelo qual reconhecem a autoridade igual sobre todos de um regime político, governante ou de um conjunto de regras. As influências da Igreja Católica Ao longo dos séculos, a Igreja Católica estruturou sua organização com uma hierarquia de autoridade, um estado- maior e a coordenação funcional para assegurar integração. A estrutura da organização eclesiástica serviu de modelo para as organizações que, ávidas de experiências bem- sucedidas, passaram a incorporar os princípios e as normas administrativas utilizados pela Igreja Católica. 66 06/02/2020 34 As influências das organizações militares O princípio da unidade de comando, pelo qual cada subordinado só pode ter um superior, é o núcleo das organizações militares. A escala hierárquica – ou seja, os escalões hierárquicos de comando com graus de autoridade e responsabilidade – é um aspecto típico da organização militar utilizado em outras organizações. Outra contribuição da organização militar é o princípio de direção, que preceitua que todo soldado deve saber perfeitamente o que se espera dele e aquilo que ele deve fazer. 67 As influências das ciências 68 Francis Bacon (1561 a 1626), filósofo e estadista inglês. Fundador da Lógica Moderna baseada no método experimental e indutivo, mostra a preocupação prática de se separar experimentalmente o que é essencial do que é acidental ou acessório. Bacon antecipou-se ao princípio da prevalência sobre o acessório. René Descartes (1596 a 1650), filósofo, matemático e físico francês. Fundador da Filosofia moderna. Criou as coordenadas cartesianas e deu impulso à Matemática e à Geometria da época. Na Filosofia, celebrizou-se pelo livro “O discurso do método”, no qual descreve seu método filosófico denominado Método Cartesiano. 06/02/2020 35 69 Galileu Galilei (1564- 1642), físico, matemático e astrônomo italiano. Partiu da observação de fatos isolados para estabelecer leis capazes de prever acontecimentos futuros. Isaac Newton (1643- 1727), cientista inglês. Estabeleceu métodos baseados em racionalismo, exatidão, causalidade e mecanicismo. Trouxe forte tendência ao determinismo matemático e à exatidão na administração enquanto ciência. As influências da Revolução Industrial Com a invenção da máquina a vapor por James Watt (1736 a 1819) e sua aplicação à produção, surgiu uma nova concepção de trabalho que modificou completamente a estrutura social e comercial da época, provocando profundas e rápidas mudanças de ordem econômica, política e social que, em um lapso de um século, foram maiores do que as mudanças ocorridas em todo o milênio anterior. É a chamada Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra e que pode ser dividida em duas épocas distintas: 1780 a 1860: Primeira Revolução Industrial – a revolução do carvão e do ferro. 1860 a 1914: Segunda Revolução Industrial – a revolução do aço e da eletricidade. 70 06/02/2020 36 A primeira Revolução Industrial passou por quatro fases: Primeira fase: Mecanização da indústria e da agricultura (invenção da máquina de fiar e do tear). Segunda fase: A aplicação da força motriz à indústria (invenção da máquina a vapor). Terceira fase: O desenvolvimento do sistema fabril (o artesão e sua pequena oficina desapareceram para ceder lugar ao operário e às fábricas e usinas baseadas na divisão do trabalho). Quarta fase: Aceleramento dos transportes e das comunicações (navegação a vapor em 1807, locomotiva a vapor em 1825, telégrafo elétrico em 1835, correio em 1840, telefone em 1876). 71 A partir de 1860, a Revolução Industrial entrou em sua segunda fase: a SegundaRevolução Industrial, foi provocada por três fatos importantes: O aparecimento do processo de fabricação do aço (1856); O aperfeiçoamento do dínamo (1873); A invenção do motor de combustão interna (1873). As características da Segunda Revolução Industrial foram as seguintes: Substituição do ferro pelo aço; Substituição do vapor pela eletricidade; O uso dos derivados de petróleo como fonte de energia; Desenvolvimento da maquinaria automática e da especialização do trabalhador; Crescente domínio da indústria pela ciência; 72 06/02/2020 37 Transformações radicais nos transportes e nas comunicações; Desenvolvimento de novas formas de organização capitalista; Expansão da industrialização desde a Europa até o extremo Oriente. A organização e a empresa moderna nasceram com a Revolução Industrial. 73 As influências dos economistas liberais A partir do século XVII desenvolveu-se uma variedade de teorias econômicas centradas na explicação dos fenômenos empresariais (microeconômicos) e baseadas em dados empíricos, ou seja, na experiência cotidiana. As ideias básicas dos economistas clássicos liberais constituem os germes iniciais do pensamento administrativo atuais. Adam Smith (1723 a 1790) foi o fundador da economia clássica, cuja ideia central é a competição. 74 06/02/2020 38 As influências dos primeiros empreendedores As influências dos primeiros empreendedores foram fundamentais para a criação das condições básicas para o surgimento da teoria da administração. 75 Estudo de caso A Função Social do Administrador Stephen Kanitz (Blog Stephen Kanitz. Disponível em: http://blog.kanitz.com.br/funcao-2/) A maioria dos nossos intelectuais ainda acredita que o mundo é controlado por “empresários”, pelos “donos do poder”, por uma “classe dominante” preocupada exclusivamente em maximizar lucros e com seus próprios interesses. É um insulto à inteligência de seus leitores, alunos e à de todos os administradores formados deste país em particular desconhecer a revolução bem-sucedida que se concretizou no século XX no mundo inteiro. Fruto dessa revolução, conseguimos a derrota definitiva dos empresários, o grande sonho de Karl Marx. Essa revolução foi exaustivamente relatada nos livros do jornalista e administrador austríaco Peter Drucker, que infelizmente a maioria dos intelectuais da América Latina jamais se interessou em ler. 76 06/02/2020 39 Uma revolução que infelizmente ainda está em processo no Brasil, e ainda pode ser sabotada pelos mesmos intelectuais. Ao longo do século XX, os empresários do mundo inteiro foram sendo lentamente substituídos por um grupo de revolucionários que, sem derramamento de sangue, tomaram o poder das empresas. Refiro-me a um novo protagonista da história, os administradores profissionais, pessoas especialmente treinadas para conciliar os interesses conflitantes entre clientes, fornecedores, acionistas, trabalhadores, ecologistas, ONGs e governo. O acionista majoritário, o famoso “empresário”, deixou de ser o todo- poderoso, aquele gestor que administrava sua empresa em causa própria e de sua família, à custa dos demais. O chamado Stockholder. 77 O novo tipo de empresa que administradores criaram é a empresa de “capital aberto” com milhares de acionistas que oferecem sua poupança como “capital social” para a sociedade. Essas empresas, listadas em bolsa, não têm dono, no sentido típico da palavra. O administrador socialmente responsável não tem o Stockholder como meta, mas sim o Stakeholder, todos os que têm interesse na perpetuação sustentável da empresa. Trabalhador, cliente, fornecedor e o acionista, nesta ordem. Esses revolucionários humanizaram as empresas, tornando-as socialmente responsáveis, valorizaram fornecedores, clientes e trabalhadores. O objetivo da empresa passou a ser servir à sociedade em geral, e não servir aos interesses de uma única família ou do Estado, a todo custo. 78 06/02/2020 40 Administradores não são de direita nem de esquerda, não defendem exclusivamente capitalistas ou somente os trabalhadores em detrimento dos demais Stakeholders. A preocupação é sempre defender o todo. Ao contrário do que acreditam os acadêmicos e os intelectuais, os administradores não maximizam lucros. Eles habilmente deixam os acionistas “satisfeitos”, com a famosa fórmula de “dividendos mínimos”, sistemáticos e crescentes, que aprendemos no primeiro ano da faculdade de administração. Clientes, governo, trabalhadores, acionistas e fornecedores, porém, têm interesses conflitantes, que precisam ser adequadamente resolvidos por um mediador, que é a função política e moderna do administrador. O administrador como político. Quando um desses grupos domina os demais, cessam a cooperação e o crescimento da empresa. 79 Foi o que ocorreu com as estatais dominadas pelo Estado, com a Varig, dominada pelos funcionários, e com muitas empresas familiares comandadas pelo grupo majoritário. Aí, uma das partes da equação sempre controlará a empresa pensando em seu próprio interesse, em detrimento das demais. A função do administrador é justamente manter esses grupos heterogêneos nos seus devidos lugares. Um administrador de empresa é antes de tudo um hábil político, um líder, um mediador e conciliador de conflitos. Ele sabe conciliar como ninguém as forças difusas e conflitantes que garantem o sucesso de uma empresa. São políticos que entendem de administração, ao contrário do que temos por aí. Em vez de torcer para que o próximo Congresso tenha deputados que possam eventualmente entender de administração, vamos eleger administradores que já entendam de política. 80 06/02/2020 41 Questões do caso 1. Administração é a ciência das decisões. Decisões orientadas pela e para a sociedade como um todo. Como a administração pode representar uma evolução para a sociedade? 2. Qual o papel do empresário na sociedade? Como ele se diferencia do administrador? Como os dois podem obter sinergia? 81 82 06/02/2020 42 Módulo 03 Abordagem Clássica da Administração Escola da Administração Científica 83 Abordagem clássica da administração No despontar do século XX o mundo consolidou a Era Industrial. Os países que rapidamente se industrializaram logo se transformaram em países de primeiro mundo. Neles a indústria conquistou o espaço econômico e financeiro da época e as fábricas não paravam de crescer. Esse crescimento gerou um dilema: como administrar essa complexidade? 84 06/02/2020 43 Atentos e atuantes a essa nova era, dois engenheiros desenvolveram os primeiros trabalhos a respeito da administração como uma nova ciência. Um era americano, Frederick Winslow Taylor, e iniciou a chamada Escola da Administração Científica, preocupada em aumentar a eficiência da indústria por meio da racionalização do trabalho do operário. O outro era francês, Henri Fayol, e desenvolveu a chamada Teoria Clássica da Administração, preocupada em aumentar a eficiência da empresa por meio de sua organização e da aplicação de princípios gerais da administração em bases científicas. 85 Muito embora ambos não tenham se comunicado entre si e tenham partido de pontos de vista diferentes e mesmo opostos, o certo é que suas ideias constituem as bases da chamada Abordagem Clássica da Administração, cujos postulados dominaram as quatro primeiras décadas do Século XX no panorama administrativo das organizações. Em função dessas duas correntes, a Abordagem Clássica da Administração é desdobrada em duas orientações diferentes e, até certo ponto, opostas entre si, mas que se complementam com relativa coerência. 86 06/02/2020 44 As origens da Abordagem Clássica da Administração As origens da Abordagem Clássica da Administração remontam as consequências geradas pela Revolução Industrial e podem ser resumidas em dois fatores genéricos: O crescimento acelerado e desorganizado das empresas, ocasionando uma gradativa complexidade em sua administração e exigindo uma abordagem científica e mais apurada que substituísse o empirismo e a improvisaçãoaté então dominantes. A necessidade de aumentar a eficiência e a competência das organizações, no sentido de obter o melhor rendimento possível dos recursos e fazer face à concorrência e a competição que se intensificaram entre as empresas. 87 A Escola da Administração Científica A Escola da Administração Científica foi a primeira escola do pensamento administrativo. Surgiu nos Estados Unidos da América em 1903, no despontar do século XX. Também recebeu outras denominações: Escola Mecanicista, Escola Tradicionalista e Escola Americana. A Escola da Administração Científica recebeu este nome por causa da tentativa de aplicação dos métodos da ciência aos problemas da Administração. 88 06/02/2020 45 A Escola da Administração Científica teve como origens as consequências geradas pelo avanço da Revolução Industrial, quando surgiu a mecanização, a automação, o aumento do número de pessoas na realização do trabalho, a produção e o consumo em massa e o aumento de capital. O crescimento acelerado das empresas, porém desorganizado, despertou a necessidade das mesmas aumentarem a sua eficiência e a sua competitividade. 89 Ideias centrais A Escola da Administração Científica focalizava a racionalização do trabalho operário, a padronização dos métodos e dos processos e o estabelecimento de princípios básicos de organização racional do trabalho. A ênfase da Escola da Administração Científica estava nas tarefas realizadas pelos operários em suas funções para que a organização fosse eficiente. O objetivo básico da Escola da Administração Científica foi incrementar a produtividade do trabalhador por meio da análise científica sistemática do trabalho para atingir “uma maneira melhor” (um padrão) de realizar tal trabalho para assegurar o máximo de prosperidade para o empregador conjugada com a máxima prosperidade para os empregados. 90 06/02/2020 46 A importância da Escola da Administração Científica para as organizações da sua época Promoveu uma “revolução mental” nas organizações; Administração passou a ser vista como uma ciência e não mais como um estado de arte; As organizações substituíram a improvisação e o empirismo por métodos científicos; Estabeleceu a organização racional do trabalho; Estabeleceu a racionalização e especialização do trabalho do operário; Padronizou os meios produtivos; Simplificou os métodos e dos processos de trabalho; Aumentou a eficiência da produção; 91 Implementou a produção em massa de produtos; Estabeleceu a produção de um maior número de um determinado produto (economia de escala) com a maior garantia de qualidade e com o menor custo possível; Implementou a intensificação (aumento da velocidade rotatória do capital circulante), a economicidade (redução ao mínimo do estoque de matérias-primas) e a produtividade (aumento da capacidade de produção do homem no mesmo período de tempo); Despertou para a necessidade de melhores salários e para a redução custos unitários de produção; Implementou o sistema de salário incentivado – “tarefa- bônus”; 92 06/02/2020 47 Propôs a redução das horas diárias de trabalho e a implementou o descanso semanal remunerado; Propôs a jornada de trabalho diária de oito horas, quando na época variava de dez a doze horas; Despertou a necessidade de uma estruturação geral da empresa. 93 Principal autor Frederick Winslow Taylor (1856 a 1915) Taylor nasceu na Filadélfia, Estados Unidos da América, em 1856, e faleceu em 1915. Sua família tinha princípios rígidos e a sua educação foi fundamentada em disciplina, devoção ao trabalho e poupança. Aos 18 anos, apesar de ter sido aprovado nos exames para ingresso na Universidade de Harvard no curso de Direito, Taylor resolveu iniciar a sua vida profissional como operário numa pequena metalúrgica da Filadélfia. Permaneceu por quatro anos nesta empresa. 94 06/02/2020 48 Em 1878, Taylor foi para a Midvale Steel Company. Nesta empresa, foi promovido de operário a capataz e, posteriormente, a contramestre e depois a chefe de oficina e, finalmente, em 1884, a engenheiro chefe, depois de ter se formado pelo Stevens Institute of Technology (New Jersey) em 1883. Iniciou as suas experiências e os seus estudos ainda como operário e depois generalizou as suas conclusões para a fundamentação do que seria a primeira escola da Administração. Em 1893 mudou-se para Nova Iorque para trabalhar como consultor de engenharia. Em 1900, Taylor começou a revelar ao público suas teorias sobre a Administração científica. Taylor registrou cerca de cinquenta patentes de invenções sobre máquinas, ferramentas e processos de trabalho. 95 A obra de Taylor Em 1903, com a publicação do livro “Shop Management” (Administração de oficinas), que tratava exclusivamente de técnicas de racionalização do trabalho do operário por meio do “Estudo dos Tempos e Movimentos” (“Motion-time Study”), Taylor propôs: O objetivo da Administração era pagar melhores salários e reduzir custos unitários de produção; A Administração deveria aplicar métodos científicos de pesquisa e experimentos para formular “princípios” e estabelecer processos padronizados que permitissem o controle das operações fabris; 96 06/02/2020 49 Os empregados deveriam ser cientificamente selecionados e recrutados em seus postos e com condições adequadas de trabalho para que as normas pudessem ser cumpridas; Os empregados deveriam ser cientificamente treinados para aperfeiçoar suas aptidões e executar uma tarefa para que a produção normal seja cumprida; A Administração precisava criar uma atmosfera de cooperação entre os trabalhadores. 97 Em 1911, com a publicação do livro “Principles of Scientific Management” (Princípios da Administração Científica), Taylor concluiu que as empresas de sua época padeciam de três males: Vadiagem sistemática dos operários, que reduziam a produção em torno de um terço do que seria normal para evitar a redução de salários; Desconhecimento, pela gerência, das rotinas de trabalho e do tempo necessário para sua realização; Falta de padronização de técnicas e métodos de trabalho. Para sanar esses três problemas, Taylor afirmou que a Administração deveria substituir a improvisação e o empirismo pela ciência e pela organização racional do trabalho. 98 06/02/2020 50 Administração como ciência Fundamentação do trabalho através de métodos conduzidos com rigor científico; Segundo Taylor, a administração, como ciência, se realizava através de um processo fundamentado em quatro etapas: Planejamento: as empresas deveriam substituir a improvisação pela ciência, através do planejamento do método de trabalho. Preparo: as organizações deveriam selecionar cientificamente os trabalhadores de acordo com suas aptidões e prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, de acordo com o método planejado. As organizações deveriam também preparar também máquinas e equipamentos através do arranjo físico e disposição racional das ferramentas e materiais. Controle: as organizações deveriam controlar o trabalho para se certificar de que este está sendo executado de acordo com os métodos estabelecidos e segundo o plano previsto. Execução: as organizações deveriam distribuir distintamente atribuições e responsabilidades para disciplinar a execução do trabalho. 99 Organização racional do trabalho Estudo dos tempos e movimentos: necessidade de estudo dos tempos e dos movimentos na execução do trabalho para buscar o melhor processo para executar o próprio trabalho no menor espaço de tempo possível. Estudo da fadiga humana: racionalização dos movimentos na execução do trabalho para eliminar os que produzem fadiga e os que não estão diretamente relacionados com a tarefa executada pelo trabalhador. Divisão do trabalho e especialização do operário: limitação de cada operário à execução de uma única operação ou tarefa, de maneira contínua e repetitiva com o objetivo de aumentar a especialização e, consequentemente, a suaeficiência. 100 06/02/2020 51 Desenho de cargos e de tarefas: cargos e tarefas simplificados e desenhados pela gerência para uma execução automatizada por parte do trabalhador, que deveria ficar restrito a uma tarefa específica. Incentivos salariais e prêmios de produção: o operário que obtivesse produção acima da quantidade fixada receberia uma bonificação em dinheiro além do seu salário normal. O homem sob a ótica do conceito de “homo economicus” (homem econômico): toda e qualquer pessoa é influenciada exclusivamente por recompensas econômicas, ou seja, o homem procura trabalho não porque gosta dele, mas como um meio de ganhar a vida por meio do salário que o trabalho proporciona. O homem é motivado a trabalhar pelo medo da fome e pela necessidade de dinheiro para viver. 101 Condições ambientais de trabalho: a eficiência não depende somente do método de trabalho e do incentivo salarial, mas também de um conjunto de condições de trabalho (instrumentos, ferramentas, equipamentos, arranjo físico das máquinas e dos equipamentos, ambiente físico: ruído, ventilação, iluminação e conforto no trabalho) que garantem o bem-estar físico do trabalhador e diminuem a sua fadiga. Padronização de métodos, processos, máquinas e equipamentos: uniformização dos métodos de execução (o “modo de fazer” dos operários) e das máquinas e equipamentos com o objetivo de implantar a melhoria da qualidade e o aumento da quantidade produzida dos produtos. 102 06/02/2020 52 Supervisão funcional: a especialização do operário deve ser acompanhada da especialização do supervisor e não de uma centralização da autoridade, ou seja, a existência de diversos supervisores, cada qual especializado em determinada área e que tem autoridade funcional (relativa somente a sua especialidade) sobre os mesmos subordinados. 103 Destaque Henry Ford Ford (1863 a 1947) foi, provavelmente, o mais conhecido de todos os precursores da Escola da Administração Científica. Ford iniciou a sua vida profissional como mecânico. Projetou um modelo de automóvel e em 1899 fundou a sua primeira fábrica de automóveis, que logo depois foi fechada. 104 06/02/2020 53 Sem desanimar, em 1903 fundou a Ford Motor Co. com a ideia de popularizar o automóvel, que era um produto artesanal e destinado a milionários. Ford não era engenheiro, nem economista e nem psicólogo – Ford era um empresário com visão empreendedora. 105 Entre 1905 e 1910 Ford promoveu a grande inovação do século XX: a produção em massa de automóveis. Sua ideia de produzir e vender carros com preços populares e assistência técnica garantida revolucionou a estratégia comercial na sua época. Ford não inventou o automóvel nem a linha de montagem – Ford inovou produzindo o maior número de automóveis com a maior garantia de qualidade e pelo menor custo possível. Com esta inovação, Ford mudou a maneira de viver da humanidade na época e a sua “invenção” impactou a sociedade muito mais do que muitas invenções do passado da humanidade. 106 06/02/2020 54 Em 1913, a Ford Motor Co. já produzia 800 automóveis por dia. Em 1914, repartiu com seus empregados parte do controle acionário e dos lucros da empresa. Estabeleceu o salário mínimo de 5 dólares por dia e jornada de trabalho diária de oito horas, quando na época variava de dez a doze horas. Em 1926, já tinha 88 oito fábricas e empregava 150.000 pessoas e produzia 2 milhões de automóveis por ano. Ford utilizou um sistema de concentração vertical, produzindo desde a matéria prima até o produto final acabado, além de um sistema de concentração horizontal, vendendo seus automóveis através de uma rede de concessionárias próprias. Segundo Ford, a condição-chave da produção em massa era a simplicidade. 107 Críticas à Escola da Administração Científica Mecanicismo: restrição às tarefas e aos fatores diretamente relacionados com o cargo e com a função do operário. Deu- se pouca atenção ao elemento humano e concebeu-se a organização como “um arranjo rígido e estático de peças”; O que importava era a eficiência e nem sempre a eficácia; Procurava sempre o desempenho máximo, não o ótimo. Superespecialização do operário: intensificou e especializou cada vez mais o trabalho do operário, que acabou tornando desnecessária sua qualificação. Os operários, ao deixarem a empresa, tinham poucas chances de conseguir outro emprego, pois só sabiam executar uma tarefa. 108 06/02/2020 55 Considerou apenas a fadiga muscular e fisiológica, desprezou os fatores psicológicos (stress). Viu o homem apenas motivado a trabalhar pelo medo da fome e pela necessidade de dinheiro para viver (homo economicus). Viu as empresas como um sistema fechado, não considerou o ambiente de negócios, as necessidades e desejos dos clientes, a integração com fornecedores, o movimento estratégico dos concorrentes, etc. 109 Estudo de caso McDonald’s mostra cozinha e bastidores em nova campanha Com bom humor, marca mostra bastidores de lanchonete no Brasil Revista Exame, 21 de julho de 2017 Quando você faz o seu pedido no balcão de algum restaurante McDonald’s, sempre dá para espiar um pouco da intensa movimentação na cozinha logo atrás. Se já bateu aquela curiosidade de ver como funciona tudo ali, dois caminhos: participar do programa Portas Abertas, que permite a visita a qualquer consumidor; ou assistir ao novo vídeo do McDonald’s. 110 06/02/2020 56 A nova campanha comemora a marca de um milhão de visitas às cozinhas em 2017 no Brasil. O número, conquistado no primeiro semestre, já é quase o número registrado em 2016, 1,2 milhão. O vídeo traz o youtuber Phellyx, famoso pelo bom humor. Ele mesmo já foi funcionário do McDonald’s. Phellyx conta alguma das regras da cozinha e como tudo é preparado. Há uma visita também ao freezer e ao drive-thru. Com a campanha, a marca espera atrair dois milhões de brasileiros ao todo até o fim do ano. 111 Questões do caso 1. Em 1903, Taylor, em seu livro “Administração de Oficinas”, apresentou uma proposta de racionalização do trabalho operário. Taylor destacou a necessidade de aplicação dos métodos da ciência aos problemas da administração. Como podemos associar a proposta de Taylor com o modelo de negócios do McDonald’s? 2. A proposta de Taylor provocou uma revolução no pensamento administrativo e no mundo industrial em sua época. Como o modelo de negócios do McDonald’s revolucionou a indústria de refeições no mundo? Será que o modelo de negócios do McDonald’s influenciou o surgimento de um novo modelo de negócios para a indústria de refeições – modelo esse adotado por todos os players de mercado (Bob’s, Burguer King, Subway) que entraram nessa indústria incentivados pelas práticas de negócios do McDonald’s e o copiaram para seus negócios? 112 06/02/2020 57 113 "Não é o empregador que paga os salários: é o cliente." Frederick Taylor Módulo 04 Abordagem Clássica da Administração Teoria Clássica da Administração 114 06/02/2020 58 A Teoria Clássica da Administração 115 Origens A Teoria Clássica da Administração foi a segunda escola do pensamento da administração como ciência. Surgiu na França em 1916 e espalhou-se rapidamente por toda a Europa. Também recebeu outras denominações: Escola Normativista, Tradicionalista, Europeia, Anatomista (estrutura) e Fisiologista (funcionamento). A Teoria Clássica da Administração, assim como a Escola da Administração Científica, teve as suas origens nas consequências geradas pelo avanço da Revolução Industrial, porém, com as particularidades do contexto europeu. Ideias centrais A Teoria Clássica da Administração se caracterizou por seu enfoque prescritivo e normativo. Prescreveu os elementos da Administração (as funções do administrador) e os “princípios gerais” (estruturação, padronização, normas, comportamentos, aspectos disciplinares, visão) que todo administrador deveria adotar em sua atividade. A ênfase da Teoria Clássica da Administração estava na estrutura que a organização deveria ter paraser eficiente. Com essa nova ênfase, essa escola do pensamento da administração como ciência inaugurou uma abordagem produtiva com visão focada na estrutura (anatomia) e na parte funcional (fisiologista) da organização que rapidamente suplantou a abordagem analítica e concreta proposta pela Escola da Administração Científica. 116 06/02/2020 59 A Teoria Clássica da Administração partiu de uma abordagem sintética, global e universal para a empresa. Segundo essa escola, o ser humano é um ser fundamentado em razões econômicas, racionais, conscientes e que, ao tomar uma decisão, conhece todas as alternativas que podem levar a atingir seus objetivos. A Teoria Clássica da Administração também defendeu a Administração como ciência, mas uma ciência que deveria se basear em leis ou em “princípios” (atualmente, o termo mais próprio seria “fundamentos”, ou seja, “bases”, já que o termo “princípios” denota uma verdade absoluta – fato que não existe em Administração – em Administração tudo é relativo, tudo depende do momento e da situação). 117 Os “princípios” gerais da Administração 1. Divisão do trabalho: formação de grupos e especialização dos indivíduos em suas tarefas para aumentar a eficiência do trabalho. 2. Autoridade e responsabilidade: autoridade é o direito de dar ordens e o poder de esperar obediência. A responsabilidade é uma consequência natural da autoridade e significa o dever de prestar contas. Ambas devem estar equilibradas entre si. 3. Disciplina: depende da obediência, aplicação, energia, comportamento e respeito aos acordos estabelecidos. 4. Unidade de comando: cada empregado deve receber ordens de apenas um superior. É o princípio da autoridade única. 118 06/02/2020 60 5. Unidade de direção: uma direção e um plano para cada conjunto de atividades que tenham o mesmo objetivo. A organização deveria se mover com um objetivo comum e harmônico para a mesma direção. 6. Subordinação dos interesses individuais aos gerais: os interesses de uma pessoa ou de um grupo não poderiam prevalecer sobre os interesses da organização como um todo. 7. Remuneração pessoal: o pagamento deve ser justo e deveria recompensar o bom desempenho. As recompensas não-financeiras também deveriam ser utilizadas. 8. Centralização: concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização. 119 9. Cadeia escalar: é a linha de autoridade que vai do escalão mais alto ao mais baixo em função do princípio do comando. 10. Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. É a ordem material e humana. 11. Equidade: amabilidade e justiça para alcançar a lealdade do pessoal. 12. Estabilidade do pessoal: a rotatividade do pessoal é prejudicial para a eficiência da organização. A retenção dos trabalhadores mais produtivos deveria ser uma prioridade da Administração. 13. Iniciativa: a capacidade de visualizar um plano e assegurar pessoalmente o seu sucesso. O administrador deveria despertar no trabalhador a sua iniciativa. 14. Espírito de equipe: a harmonia e a união entre as pessoas são grandes forças para a organização. 120 06/02/2020 61 A importância da Teoria Clássica da Administração para as organizações da sua época Representou progresso e refinamento acentuado na forma de pensar a empresa conforme foi proposto anteriormente pela Escola da Administração Científica; Conscientizou que toda e qualquer organização necessitava ser administrada profissionalmente, independente de ser pública ou privada, de ser industrial ou prestadora de serviços; Esclareceu a importância das empresas se estruturarem e operarem como um sistema formal e organizado através de uma estrutura hierárquica linear, configuração de departamentos funcionais e divisão do trabalho; Normatizou e disciplinou comportamentos humanos; 121 Padronizou processos, máquinas, equipamentos, tarefas e materiais; Tornou relevante a visão e a ação dos administradores no processo produtivo e no sucesso da empresa – os administradores deveriam ter formação específica e serem profissionais em seu trabalho. 122 06/02/2020 62 Principal autor Jules Henri Fayol (1841 a 1925) Fayol nasceu em Constantinopla (atual Istambul, Turquia), em 1841, e faleceu em Paris em 1925. Sua família era de origem francesa (o que lhe conferiu a nacionalidade francesa). O seu padrão de renda era burguês. Foi educado no Liceu de Lion, na França. 123 Em 1860, Fayol graduou-se engenheiro de minas pela Escola Nacional de Minas em Saint Étienne. Logo após a sua formatura, Fayol iniciou sua carreira profissional na Commentry-Fourchambault Company, onde trabalhou toda a sua vida profissional. De 1860 a 1866 trabalhou como engenheiro, fazendo notáveis avanços na técnica de combate aos incêndios subterrâneos que ocorriam na companhia que trabalhava. Seu trabalho foi recompensado com a promoção a gerente da empresa aos 25 anos. Seis anos mais tarde, com 31 anos, foi promovido à gerente de um grupo de minas. Em 1888, a empresa estava em dificuldades e Fayol foi nomeado diretor-geral. 124 06/02/2020 63 Logo após assumir a direção-geral da empresa, Fayol iniciou a revitalização da empresa. Fechou a fundição de Fourchambault e centralizou a produção em Montluçon para ganhar economia de escala. Fayol, em sua administração, adquiriu novos depósitos de carvão em Bressac, Decazeville e Jondreville e fundou uma nova empresa denominada Comambault. Conseguiu recuperar a empresa da crise. Foi a partir da nova empresa que Fayol desenvolveu a sua proposta teórica sobre Administração. 125 A obra de Fayol Certamente, Fayol foi o mais influente teórico da abordagem clássica da Administração. Ele identificou a Administração como um elemento básico de todo e qualquer empreendimento humano. Fayol, assim como Taylor, buscava eficiência nas empresas por meio da utilização de método científico. 126 06/02/2020 64 Em 1916, Fayol publicou o livro “Administração geral e industrial”. Sua obra fundamentou que uma empresa para ser eficiente deveria se estruturar através de um processo administrativo e se dividir em funções básicas que representariam áreas funcionais da organização. 127 Enquanto Taylor, nos Estados Unidos da América, buscou o aumento da eficiência no nível operacional, Fayol, na França, fundamentou na sua teoria que o aumento da eficiência só seria possível com um melhor arranjo dos diferentes setores da organização e das relações existentes entre eles, enfatizando principalmente o estudo da anatomia (estrutura) e da fisiologia (funcionamento) da organização como um todo. 128 A harmonia e a união do pessoas de uma empresa são grande fonte de vitalidade para ela. É necessário, pois, realizar esforços para estabelecê-la. 06/02/2020 65 Segundo Fayol, o processo administrativo era fundamentado em cinco etapas iterativas e interativas, respectivamente: previsão, organização, comando, coordenação e controle. Vejamos a seguir cada etapa: Previsão: visualização e avaliação do futuro para traçar o programa de ação que fosse o mais promissor para a organização a partir do gerenciamento de um capital inicial que a mantivesse em sua atividade-fim. Organização: mobilização dos recursos humanos e materiais para transformar o plano em ação. Comando: direção e orientação das pessoas na execução do trabalho com o objetivo de fazer a organização funcionar como um todo e alcançar o máximo retorno de todos os funcionários no interesse dos aspectos globais. 129 Coordenação: união, harmonização e ligação de todos os atos e de todos os esforços coletivos. Estabelece a harmonia entre todas as atividades do negócio, facilitando seu trabalho e o seu sucesso. Sincroniza coisas e ações em suas proporções certas e adapta os meios aos fins. Controle: verificação das ocorrências para a certificação se as coisas estavam ocorrendo em conformidade com o plano adotado e se as pessoas estavam cumprindo as ordens dadas. O objetivo era identificar as falhas de operação no sentido de retificá-los e evitar as reincidências.130 06/02/2020 66 Além do processo administrativo, Fayol defendeu que a empresa deveria se estruturar em seis áreas funcionais básicas: Funções técnicas: funções relacionadas com a produção de bens ou serviços da organização. Segundo Fayol, a função técnica nem sempre era a mais importante de todas. Funções comerciais: funções relacionadas com a compra, venda e permutação. Segundo Fayol, saber comprar e vender era tão importante quanto fabricar bem. Funções financeiras: funções relacionadas com a procura e gerência de capitais. Segundo Fayol, as finanças de uma organização estavam envolvidas em todas as ações da empresa, no pagamento de salários, na compra de matéria-prima e na realização de melhorias. 131 Funções de segurança: funções relacionadas com a proteção e preservação de bens e de pessoas. Segundo Fayol, era importante proteger os bens e as pessoas contra roubo, incêndio, evitar greves, atentados. Funções contábeis: funções relacionadas com inventários, registros, balanços, custos e estatísticas. Segundo Fayol, era importante organizar e fiscalizar o setor financeiro. Funções administrativas: funções relacionadas com a integração de cúpula das outras cinco funções. Segundo Fayol, as funções administrativas se realizavam através da previsão, da organização, do comando, da coordenação e do controle e tinham que formular o programa de ação geral da organização, de constituir o seu corpo social, de coordenar os esforços e de harmonizar os atos. 132 06/02/2020 67 Críticas à Teoria Clássica da Administração Abordagem simplificada da organização: a empresa era apenas um simples mecanismo em termos lógicos, formais, rígidos e abstratos – não considerava o seu conteúdo psicológico e social com a devida importância. Racionalismo e utilitarismo extremado na concepção da Administração. Viu as empresas como um sistema fechado, não considerou o ambiente de negócios, as necessidades e desejos dos clientes, a integração com fornecedores, o movimento estratégico dos concorrentes, etc. 133 Mecanicismo: o homem era visto como mais um elemento da máquina. Viu o homem apenas motivado a trabalhar pela necessidade de dinheiro para viver (homo economicus). Excesso de centralização e de normas. 134 06/02/2020 68 Estudo de caso Certificado de governança ajudará Petrobras em todos os aspectos, diz Parente Petrobras obteve certificação no Programa Destaque em Governança de Estatais. Site g1.globo.com, 08/08/2017. O presidente da Petrobras, Pedro Parente, anunciou nesta terça-feira (08/08/2017) que a estatal recebeu a certificação no Programa Destaque em Governança de Estatais, concedida pela B3 (antiga BM&FBovespa). "Estamos fazendo um trabalho de aperfeiçoamento com os objetivos de termos a melhor governança possível e evitar que problemas do passado se repitam e ter no âmbito de prêmios ou reconhecimentos públicos essa governança reconhecida é muito bom", disse Parente, durante evento em São Paulo. 135 Segundo Parente, a Petrobras foi a primeira empresa pública que deu entrada na B3 e recebeu reconhecimento no programa de destaque, juntamente com o Banco do Brasil, o que "é muito relevante para a empresa". Questionado se esse certificado pode ajudar em termos financeiros a estatal, Parente disse que ajudará em todos os aspectos. "Sem dúvida nenhuma uma empresa que tenha uma governança reconhecida por sinais públicos isso certamente ajuda em todos os aspectos", afirmou. Reestruturação pós Lava Jato A Petrobras teve seu nome envolvido na Operação Lava Jato. As investigações apontaram que os diretores da empresa cobraram propina de empreiteiras para fechar contratos com a estatal. 136 06/02/2020 69 Após o escândalo, a Petrobras mudou sua diretoria e vem implementando uma série de ações de compliance para convencer seus investidores de que atua de acordo com boas práticas de governança. * (o termo compliance tem origem no verbo em inglês to comply, que significa agir de acordo com uma regra, uma instrução interna, um comando ou um pedido, ou seja, estar em “compliance” é estar em conformidade com leis e regulamentos externos e internos) A empresa é alvo de processos de investidores estrangeiros que se dizem lesados pelas práticas de corrupção adotadas pela empresa no passado. Segundo comunicado enviado pela Petrobras ao mercado, a estatal atendeu a todas as medidas obrigatórias do programa. 137 Entre as medidas citadas por Parente estão veto de membros do governo e líderes sindicais no Conselho de Administração e processo transparente na contratação de gerentes. Outra medida destacada por Parente foi a implantação de um canal independente de denúncias com garantia de anonimato. "A certificação é mais um passo importante no compromisso da Petrobras com a contínua melhoria de sua governança corporativa, bem como seu alinhamento às melhores práticas do mercado", informou a estatal no comunicado. A companhia se comprometeu ao longo dos próximos anos a ter práticas de transparência na governança e adotar todas as demais medidas do programa até 2020. 138 06/02/2020 70 Questões do caso 1. A ênfase da Teoria Clássica da Administração estava na estrutura que a organização deveria ter para ser eficiente. Como podemos associar a proposta da Teoria Clássica da Administração com o novo modelo de negócios adotado pela Petrobras? 2. Fayol identificou a administração como um elemento básico de todo e qualquer empreendimento humano. A Petrobras, empresa estatal e monopolizadora da prospecção, extração e produção de petróleo no Brasil, passou por recentes problemas derivados de intervenção do governo na gestão da empresa – o que representou um desastre em termos de administração do negócio, principalmente pela alocação política de gestores não profissionalizados, não comprometidos e envolvidos com corrupção. Como o novo modelo de negócios da Petrobras pode ser associado aos fundamentos da teoria Clássica da Administração? Comente comparando a ênfase na estrutura com a necessidade de uma empresa cumprir regras de governança corporativa. 139 3. Fayol fundamentou na sua teoria que o aumento da eficiência só seria possível com um melhor arranjo dos diferentes setores da organização e das relações existentes entre eles, enfatizando principalmente o estudo da anatomia (estrutura) e da fisiologia (funcionamento) da organização como um todo. Correlacione essa ideia de Fayol com o novo modelo de negócios da Petrobras. Identifique como os conceitos de anatomia e a fisiologia podem ajudar a Petrobras renascer. 140 06/02/2020 71 Administrar é prever, organizar, comandar, coordenar e controlar. Henri Fayol 141 Módulo 05 Abordagem Humanística da Administração Teoria das Relações Humanas e suas decorrências 142 06/02/2020 72 A Teoria das Relações Humanas 143 Com a Abordagem Humanística, a Teoria da Administração passou por uma revolução conceitual: a transferência da ênfase antes nas tarefas (pela Administração Científica) e na estrutura organizacional (pela Teoria Clássica) para a ênfase nas pessoas que trabalhavam ou que participavam nas organizações. A Abordagem Humanística faz com que a preocupação com a máquina, com o método de trabalho, com a organização formal e com os princípios da administração (aspectos técnicos) cedam prioridade para a preocupação com as pessoas e com os grupos sociais (aspectos sociológicos e psicológicos). A Abordagem Humanística ocorre com a proposta da Teoria das Relações Humanas, nos Estados Unidos da América, a partir da década de 1930. Ela surgiu graças ao desenvolvimento das ciências sociais, principalmente da psicologia e, em particular, da psicologia do trabalho. Origens A Teoria das Relações Humanas surgiu em 1927 nos Estados Unidos da América, como consequência das conclusões da “Experiência de Hawthorne”, desenvolvida por George Elton Mayo e outros colaboradores importantes. A Teoria das Relações Humanas também recebeu outra denominação: “Behaviorista” (do termo “behaviour”, que traduzindo do inglêscorresponde ao termo “comportamento”). Esta escola do pensamento da administração como ciência surgiu graças ao desenvolvimento das ciências sociais, notadamente da Psicologia e, em particular, da Psicologia aplicada ao trabalho. 144 06/02/2020 73 Ideias centrais A então ênfase fundamentada na “tarefa” proposta pela Escola da Administração Científica e a ênfase fundamentada na “estrutura organizacional” proposta pela Escola Clássica da Administração foram transferidas para a ênfase nas “pessoas”. Inicialmente, se preocupou em analisar o trabalho para adaptar o homem ao trabalho. Posteriormente, se preocupou em adaptar o trabalho ao trabalhador. Corrigir a tendência de desumanizar o trabalho com a aplicação de métodos científicos e precisos, que os trabalhadores e os sindicatos passaram a ver como um meio sofisticado de exploração a favor dos interesses patronais. 145 Desenvolver uma “nova filosofia organizacional”, uma civilização industrial, na qual a tecnologia e o método de trabalho deveriam ser as preocupações básicas do administrador. Enfatizar a complexidade do comportamento humano e alertar que o homem era condicionado pelo seu meio. Fundamentar a ideia de que as pessoas têm necessidade de segurança, afeto, prestígio, aprovação e auto realização, e que elas são motivadas principalmente pelo reconhecimento do seu trabalho e pela sua participação relevante nas atividades de um determinado grupo. Classificar o trabalho como uma atividade tipicamente grupal e que o operário não reagia como indivíduo isolado, mas como um membro de um grupo social. Portanto, o ser humano é motivado pela necessidade de “estar junto”, de ser reconhecido, de receber adequada comunicação. 146 06/02/2020 74 A tarefa básica da Administração é formar uma elite intelectual capaz de entender e de comunicar através de uma gerência democrática, persuasiva e cordial com todas as pessoas participantes do sistema organizacional. Alertar que a Administração não se limita apenas a processos, mas que as pessoas deveriam ser lideradas no seu trabalho. A liderança deveria ser democrática: todas as diretrizes deveriam ser debatidas em grupo e a participação das pessoas, independente de hierarquia funcional, deveria ser total. A organização para ser eficiente deveria ser humanizada. 147 A importância da Teoria das Relações Humanas para as organizações da sua época Com a Teoria das Relações Humanas, o pensamento administrativo passou por uma “revolução conceitual”. A preocupação com a máquina, com o método de trabalho, com a organização formal e com os “princípios” da Administração cedeu prioridade para a preocupação com as pessoas e com os grupos sociais. Uma nova linguagem passou a dominar o vocabulário organizacional: liderança, comunicação, motivação, organização informal e dinâmica de grupo. Mostrou que o homem estava sendo “esmagado” pelo desenvolvimento da industrialização. 148 06/02/2020 75 Os conceitos clássicos de autoridade, hierarquia, divisão do trabalho, estruturação por áreas funcionais e “princípios gerais” de Administração passaram a ser contestados. O método e a máquina perderam a primazia para a dinâmica de grupo. 149 150 Principal autor George Elton Mayo Mayo nasceu em Adelaide, Austrália, em 1880, e faleceu em 1949. Mayo era graduado em Lógica, Filosofia e Medicina. Nos Estados Unidos da América, Mayo trabalhou para várias instituições, inclusive na Escola de Administração de Negócios da Universidade de Harvard, onde produziu as suas principais obras. Um trabalhador feliz é um trabalhador produtivo. 06/02/2020 76 151 Enquanto outros estudiosos da ciência da Administração abordaram técnicas empregadas em produção e estruturação dos empreendimentos, Mayo realçou os aspectos sociológicos da Administração. A experiência de Hawthorne A primeira fase da experiência de Hawthorne Em 1927, na fábrica da Western Eletric Company, Mayo coordenou uma experiência com o objetivo inicial de estudar a relação entre a intensidade de iluminação e a eficiência dos operários, tendo a produtividade como medida para a avaliação. Também foi estudada a fadiga, o nível de acidentes, o turnover (rotação, rodízio) no trabalho e o efeito das condições de trabalho sobre a produtividade com o objetivo de verificar o rendimento dos operários. 152 06/02/2020 77 Foram selecionados dois grupos de operários que faziam o mesmo trabalho e em condições idênticas. Um grupo – o experimental – trabalhou com intensidade da luz variável e outro – o grupo de controle – com intensidade da luz de constante. Os observadores não encontraram correlação direta entre ambas as variáveis, mas verificaram a existência de um “fator psicológico”: os operários aumentavam ou diminuíam a produção de acordo com o aumento ou diminuição da intensidade de luz. Comprovou-se este fator quando foi feita uma troca por lâmpadas de mesma potência, fazendo os operários acreditar que também tivesse havido mudança na intensidade de luz. A produção variava de acordo com a luminosidade com a qual os operários acreditavam estar trabalhando. Concluiu-se que o fator psicológico prevaleceu sobre o fisiológico. 153 154 A segunda fase da experiência de Hawthorne Ainda em 1927, a partir das descobertas dos estudos de iluminação, a experiência passou a verificar a influência de fatores como mudanças nas condições de trabalho, tais como: redução de horário, período de descanso e lanche e seus impactos na produtividade. Foram selecionados dois grupos de operários que faziam o mesmo trabalho e em condições idênticas. Um grupo – o experimental – era composto de seis moças e foi separado numa sala especial, retirado da linha de montagem regular, de modo que os comportamentos pudessem ser sistematicamente estudados. Foi destacado um novo supervisor para esse grupo. O outro grupo – o grupo de controle – composto pelo restante do departamento, manteve as mesmas condições de trabalho que mantinham anteriormente. 06/02/2020 78 Ao final dessa fase, os pesquisadores concluíram que as moças do grupo experimental gostavam mais do trabalho naquela nova situação porque a supervisão era mais branda, o que permitiu um trabalho com menos ansiedade e com mais liberdade. Além disso, o ambiente era mais amistoso devido elas não terem medo do supervisor, o que aumentava a satisfação com o trabalho. 155 A terceira fase da experiência de Hawthorne Entre 1928 e 1930, foram entrevistados 21.126 funcionários do total de 40.000 que trabalhavam na fábrica da Western Eletric Company. Buscou-se verificar as relações humanas no trabalho por meio de um programa de entrevistas para conhecer as atitudes e os sentimentos dos funcionários sobre o trabalho. O programa de entrevistas permitia que os funcionários opinassem livremente, sem que o assunto fosse dirigido pelo entrevistador ou que fosse seguido algum roteiro previamente estabelecido. O programa revelou a existência de uma organização informal dos funcionários, em que existiam lealdade e liderança de certos funcionários em relação ao grupo. Quando um determinado funcionário dividia a sua lealdade entre o grupo e a empresa gerava conflito, tensão, inquietação e descontentamento. Para estudar esse fenômeno, desenvolveram a quarta fase da experiência. 156 06/02/2020 79 A quarta fase da experiência de Hawthorne Em 1931, assim como na segunda fase, foi separado em uma sala especial um grupo que foi observado e entrevistado regularmente com o objetivo de estudar a relação entre organização informal dos funcionários e a organização formal da empresa. Foram selecionados 14 funcionários para uma experiência. Foram todos colocados numa sala separada dos demais da linha de montagem. Observando os funcionários, logo ficou evidente que qualquer que fosse a determinação da alta Administração, o grupo tinha a sua própria opinião sobre as quantidades que deveria produzir. O princípio fundamental do grupo era que ninguém deveria trabalhar
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