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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2018.0000753462 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488, da Comarca de Queluz, em que são apelantes CARLOS ALBERTO FRANÇA NOVAES, ANTONIO CLAUDIO DE FRANÇA CORRÊA, ROSEANA MOTTA DE FRANÇA CORREA e LUCIMAR SOUZA REIS NOVAES, é apelado ESPÓLIO DE GANDUR ZERAIK. ACORDAM, em 18ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ROQUE ANTONIO MESQUITA DE OLIVEIRA (Presidente sem voto), RAMON MATEO JÚNIOR E CARLOS ALBERTO LOPES. São Paulo, 25 de setembro de 2018. Helio Faria RELATOR Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 Apelação: 1000273-60.2017.8.26.0488 Comarca: Queluz Juízo de origem: Vara Única Juiz prolator: Fernanda Teixeira Magalhães Leal Processo: 1000273-60.2017.8.26.0488 Apelantes: Carlos Alberto França Novaes, Antonio Claudio de França Correa, Roseana Motta de França Correa e Lucimar Souza Reis Novaes Apelado: Espólio de Gandur Zeraik EMBARGOS À EXECUÇÃO Sentença de improcedência Insurgência dos embargantes. PRESCRIÇÃO Inocorrência - Condição suspensiva livremente pactuada entre as partes - Pendente condição suspensiva, não corre o prazo prescricional (art. 199 do Código Civil/2002 e art. 170 CC/1916) “Não realizada tal condição, o titular não adquire direito, logo não tem ação; assim, enquanto não nascer a ação, não pode ela prescrever”. - Implemento da condição que se deu em 26 de maio do ano 2009 e a presente execução foi ajuizada em 25 de maio de 2012, logo, dentro do prazo prescricional. Embargantes que não interpelaram o embargado para que procedesse ao levantamento do gravame, tampouco demonstraram qualquer prejuízo na demora da providência Sentença mantida - Recurso não provido. VOTO Nº 18706 Trata-se de apelação interposta contra a sentença de fls. 181/183, que julgou improcedentes os pedidos formulados nos embargos à execução, condenando os embargantes ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios do patrono da parte adversa, fixados em 10% do valor da causa. Recorrem os embargantes. Dizem que a sentença não mencionou o PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 momento de retomada do prazo prescricional, argumentando que se trata de suspensão, e não de interrupção. Aduzem que na Escritura de Confissão de Dívida com Garantia Hipotecária ficou acertado o pagamento do valor de R$551.000,00 por meio de notas promissórias. Afirmam que deram em garantia ¾ do imóvel de suas propriedades, consubstanciado em uma área de 5,9750 hectares. Alegam que havia no local um Laticínio, justificando, assim, o elevado valor contratado na época. Aduzem que o apelado reconheceu que sobre o bem pendia uma penhora em favor de instituição bancária, tendo o mesmo autorizado a suspensão do pagamento das parcelas até a liberação da constrição. Asseveram que a demora em providenciar a liberação inviabilizou o negócio. Por esse motivo, a quantia paga seria suficiente. Afirmam que o prazo prescricional teve início a partir do vencimento da 10ª parcela, em 10 de julho do ano 2001, tendo cessado o direito de ação para o embargado, pela prescrição operada, em 10 de julho do ano 2006. Sustentam, ainda, que tendo o juízo reconhecido que a penhora deveria recair sobre o bem dado em hipoteca, os embargos deveriam ter sido parcialmente acolhidos (fls. 193/203). Recurso preparado, tempestivo e respondido (fls. 208/214). É o relatório. Espólio de Gandur Zeraik ajuizou execução de PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 título extrajudicial contra Carlos Alberto França Novaes, Lucimar Souza Reis Novaes, Antonio Claudio de França Correa e Roseana Motta de França Correa. Disse que em 12 de fevereiro do ano 2001, o falecido Gandur Zeraik e os quatro executados celebraram, perante o Tabelião de Notas da Comarca de Queluz, a Escritura de Confissão de Dívida com Garantia Hipotecária. Por referida escritura, os executados, confessos devedores da quantia de R$551.000,00, davam em garantia da citada dívida a fração igual a ¾ de imóvel, constante do R-3 da matrícula 1425 do RI da Comarca de Queluz/SP. Afirmou que aludida escritura descreveu a forma de pagamento do débito em um total de vinte parcelas, sendo seis no importe de R$25.000,00; cinco no valor de R$30.000,00; oito parcelas de R$30.000,00 e uma parcela no montante de R$11.000,00, com vencimentos entre 10/03/2001 e 15/05/2002. Alegou que quando da celebração da escritura pública de confissão de dívida, o imóvel dado em garantia encontrava- se penhorado em virtude de ação judicial proposta pelo Banco do Estado de são Paulo. Mencionou que as partes, cientes da penhora, acordaram que das vinte parcelas para pagamento do débito, os devedores, ora executados, pagariam normalmente até a décima. Como condição, o pagamento das parcelas subsequentes seria suspenso até o levantamento do gravame e integral liberação da matrícula do imóvel. Aduziu que o efetivo cumprimento da condição suspensiva foi realizado em 26 de maio do ano 2009, com a averbação PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 da baixa da penhora consignada na AV-10/M-425. Asseverou que a partir da resolução da condição suspensiva, em 26 de maio do ano 2009, o valor das dez últimas prestações deveria ser pago pelos executados. Alegou ter enviado notificações aos devedores, informando o cumprimento da condição suspensiva e consequente dever de pagamento. Todavia os devedores não teriam quitado o débito. Afirmou que ante a condição suspensiva prevista contratualmente, não correu o prazo prescricional para a cobrança da dívida, na forma do art. 170, inciso I, do CC/1916 e 199, inciso I, do CC/2002. Somente com o cumprimento da condição suspensiva, em 26/05/2009, o pagamento do débito passou a ser totalmente exigível, na forma do art. 953 do Código Civil de 1916. Disse que em se tratando de dívida líquida, constante de instrumento público, o prazo prescricional seria de cinco anos (fls. 26/37). Juntou cópia da Escritura de Confissão de Dívida com Garantia Hipotecária (fls. 38/40), matrícula do imóvel (fls. 43/45). Os executados opuseram os presentes embargos. Disseram que o contrato que instruiu a execução data do ano 2001, tendo os embargantes dado em garantia ¾ do imóvel de suas propriedades. Mencionaram que aludido imóvel era do embargado, que o vendeu aos embargantes, efetivando dois contratos, sendo um de venda e compra e outro de confissão com garantia hipotecária. Aduziram que, no caso, bastaria a venda do bem com cláusula resolutiva em caso de inadimplência. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 Afirmaram que o valor elevado contratado se deu em razão da existência de um Laticínio no local. Sustentaram que na transação, o interesse dos embargantes era o Laticínio. O negócio teria ficado inviável ante a demora do embargado em providenciar a liberação da penhora. Disseram que quando da suspensão, o prazo prescricional há havia se iniciado. Cessada a causa que o suspendeu, sua contagem seria retomada de onde havia parado. Assim, tendo o início do prazo retroagido a 10 de julho do ano 2001, a prescrição ter-se-ia operado em 10 de julho do ano 2006. Subsidiariamente, afirmando que foram lesados pela demora no livramento da constrição sobre o imóvel, pretenderam o ressarcimento. (fls. 1/10). O embargado apresentouimpugnação. Disse que a partir da décima primeira parcela os pagamentos seriam realizados somente após o levantamento do gravame, o que veio a ocorrer no ano 2009, quando cumprida a condição suspensiva. Alegou que o negócio foi realizado em 12/01/2001, na vigência do Código Civil de 1916. De acordo com o art. 170 e 199 do CC/1916, não correria prescrição quando pendente condição suspensiva. Mencionou que o negócio se manteve suspenso por oito anos, não havendo contagem do prazo prescricional. Acrescentou que os embargantes não reclamaram o levantamento do gravame, tampouco manifestaram interesse na realização dos pagamentos que se encontravam suspensos, pretendendo PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 tirar proveito daquele período para esquivar-se de suas obrigações. Aduziu que além de ser descabida a discussão acerca da intenção de angariar frutos com o Laticínio, os embargantes nada teriam demonstrado acerca de eventual prejuízo, que seria consequência do risco empresarial. Afirmou que os devedores não negaram a existência da dívida e a falta de pagamento (fls. 53/59). Em réplica, os embargantes reafirmaram que o embargado não cumpriu sua obrigação de livrar o imóvel até o vencimento da décima parcela do contrato, causando-lhes prejuízo. Sustentou que o prazo prescricional teve início em 10 de julho do ano 2001, cessando o direito de ação, pela prescrição operada, em 10 de julho do ano 2006. No mais, insistiu nos termos da inicial (fls. 75/80). Os embargados não manifestaram interesse na produção de provas (fls. 85/87) e os embargantes carrearam fotografias aos autos (fls. 91/180). Sobreveio, então, o decisório monocrático que julgou improcedentes os pedidos formulados nos embargos à execução, condenando os embargantes ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como honorários advocatícios do patrono da parte adversa, fixados em 10% do valor da causa (fls. 181/183). A sentença não comporta reforma. A Escritura de Confissão de Dívida com Garantia Hipotecária foi celebrada em 12 de fevereiro do ano 2001 na Comarca de Queluz/SP e estipulou a forma de pagamento do débito (fl. 22). PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 As partes declararam reconhecer e aceitar o fato de que o bem descrito encontrava-se penhorado em ação promovida pelo Banco do Estado de São Paulo S/A., “ficando a cargo do credor o levantamento do gravame e integral liberação da matrícula do imóvel até a data de adimplemento da 10ª (décima) parcela, restando autorizados os devedores a suspender o pagamento das parcelas subsequentes à décima caso assim não proceda o favorecido” (fls. 23/24). Tratava-se de condição suspensiva livremente pactuada entre as partes. A exigibilidade da 11ª parcela, com vencimento em 10/08/2001, ficou condicionada ao cumprimento da obrigação imposta ao credor. O título executivo somente passou a ser exigível após o implemento da condição suspensiva. Saliente-se que pendendo condição suspensiva, não corre o prazo prescricional (art. 199 do Código Civil/2002 e art. 170 CC/1916). Como preleciona Ricardo Fiusa, no Novo Código Civil Comentado: Condição suspensiva e termo não vencido impedem a prescrição: São causas impeditivas da prescrição a condição suspensiva e o não-vencimento do prazo. Não corre a prescrição, pendendo condição suspensiva. Não realizada tal condição, o titular não adquire direito, logo não tem ação; assim, enquanto não nascer a ação, não pode ela prescrever. Igualmente impedida estará a prescrição não estando vencido o prazo, pois o titular da relação jurídica submetida a termo não vencido não poderá PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Apelação nº 1000273-60.2017.8.26.0488 9 acionar ninguém para efetivar seu direito (Novo Código Civil Comentado, Ricardo Fiusa, ed. 2002, comentário ao art. 199, p. 196). Desta forma, não há que se falar em transcurso do prazo prescricional, tendo em vista que o implemento da condição se deu em 26 de maio do ano 2009 e a presente execução foi ajuizada em 28 de maio de 2012. Observe-se, ainda, que os apelantes não interpelaram os recorridos para que procedessem ao levantamento do gravame, tampouco demonstraram qualquer prejuízo na demora da providência. Por fim, convém esclarecer que o pedido acerca da excussão da garantia sequer foi objeto dos embargos, salientando-se que o Juízo fez referência ao art. 1.149 do Código Civil para o caso de prosseguimento da execução (fl. 183). Daí porque se impõe a integral manutenção da r. sentença recorrida, por seus próprios e jurídicos fundamentos, aqui adotados em complemento aos do presente voto. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. Nos termos do artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, em virtude do trabalho adicional realizado em fase recursal, ficam majorados em 1% os honorários advocatícios a serem suportados pelos recorrentes. HELIO FARIA Relator
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