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resumão ex delicto

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1. Introdução
Denominam-se bens jurídicos todos os interesses vitais dos indivíduos ou da comunidade que necessitam da tutela do sistema jurídico.
No Direito Penal, os bens jurídicos protegidos pela norma penal incriminadora podem abranger tanto o corpo social, ainda que não haja uma completa particularização ou personificação da vítima, quanto o patrimônio de uma pessoa, seja este moral ou econômico. Quando a conduta criminosa atinge o patrimônio do ofendido as intervenções judiciais não se limitam à resposta penal, isso porque a repercussão da infração acabou por atingir o campo da responsabilidade civil, dando lugar a chamada ação civil ex delicto. 1
Referida ação nada mais é do que o procedimento que visa a satisfação do dano produzido pela infração penal.
2. Ação Civil ex delicto
2.1. Generalidades
Segundo o princípio geral de direito neminem laedere a ninguém é licito causar lesão ao direito de outrem. Referido princípio está estabelecido no artigo 186 do Código Civil:
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”.
Por outro lado, o art. 927 do mesmo Estatuto, por sua vez, completa: “Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”.
Daí se pode afirmar que, quando os prejuízos sofridos resultarem de um ilícito civil, o ofendido poderá ingressar com a competente ação no juízo civil a fim de receber o que lhe é devido.
Porém, a grande questão surge quando o fato originador dos prejuízos for um ilícito penal.
Como explica Aury Lopes Jr[1]
Ainda que as esferas da ilicitude civil e penal sejam distintas, há situações em que uma mesma ação ou omissão gera efeitos nos dois (civil ou penal) ou três campos (Administrativo). Trata-se de efeitos civis da sentença penal condenatória, posto que as esferas de ilicitude são relativamente independentes. Isso porque, em muitos casos, o delito gera também uma pretensão de natureza indenizatória, pois o que sucede, por exemplo, com um delito de homicídio doloso ou mesmo culposo. Um mesmo ato é considerado ilícito na esfera penal e civil.
Nesse caso, como a razão em que descansa o pedido é o fato criminoso, a ação que deverá ser intentada a fim de obter a satisfação do dano é a actio civilis ex delicto.
2.2. Conceito de ação ex delicto
Nas palavras de Edilson Mougenot Bonfim[2]:
É a ação proposta no juízo civil pelo ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros para obter a reparação do dano provocado pela infração penal. Abrange tanto o ressarcimento do dano patrimonial (dano emergente e lucro cessante) como a reparação por dano moral
Já para Guilherme de Souza Nucci temos
Trata-se de ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização pelo dano causado pela infração penal, quando existente. Há delitos que não provocam prejuízos, passíveis de indenização – como ocorre nos crimes de perigo, como regra. O dano pode ser material ou moral, ambos sujeitos à indenização, ainda que cumulativa.”[3]
Dessa feita, a ação civil ex delicto nada mais é do que um procedimento judicial voltado à recomposição do dano, moral ou material, oriundo de um ilícito penal, cujo objeto é uma sentença penal condenatória transitada em julgado, constituindo, portanto, um título executivo judicial, podendo ser proposta em face do agente causador do dano ou de quem a lei civil apontar como responsável pela indenização.
Tal procedimento torna-se possível em função do sistema processual que permite o ajuizamento simultâneo dos pedidos (penal e civil) em um único juízo. Trata-se da chamada independência entre o juízo penal e civil, que resulta na possibilidade de obtenção de decisões judiciais diversas sobre um mesmo fato.
Entende Tourinho Filho que a razão da ação civil ex delicto é a de zelar pela vítima do crime e, ao mesmo tempo, fazer com que aquele que violasse a norma penal satisfizesse integralmente os prejuízos ocasionados à ordem jurídica, de modo a restabelecer o statu quo ante.[4]
Por essa razão traçou o Código de Processo Penal normas, a fim de que a reparação do dano emergente da infração penal fosse realmente eficaz. Como exemplo temos o art. 387, IV, do CPP, o qual estabelece que o juiz deve, na sentença condenatória, fixar o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.
2.3. Legitimados
O artigo 63 do Código de Processo Penal brasileiro traz os legitimados a promover a execução no juízo cível a fim de obter a reparação do dano; são eles o ofendido, seu representante legal (nos casos de incapacidade) ou seus herdeiros, veja-se
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros.
O artigo 68 do Código de Processo Penal conferiu ao Ministério Público a tutela dos interesses das pessoas pobres e daqueles titulares do direito à reparação do dano não puderem prover às despesas do processo sem privar-se dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família.
Sobre a legitimação do membro do Ministério Público, entende Tourinho Filho que não haveria necessidade de se incumbir tal tarefa em face do instituto da justiça gratuita. Por outro lado, entende o autor que o Estado preferiu legitima-lo (Ministério Público) para melhor tutela e resguardo dos interesses da vítima. Tourinho alerta que o disposto no artigo 68 somente poderá ser aplicado nas comarcas onde não houver Defensor Público[5].
Nesse sentido está o julgado:
“STF RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 341.717-7 (DJU 07.08.02, SEÇÃO 1, P. 85, J. 10.06.02) PROCED.: SÃO PAULO RELATOR: MIN. CELSO DE MELLO RECTE.: MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL RECDO.: ESTADO DE SÃO PAULO ADV.: PGE-SP CLÉCIO BRASCHI EMENTA MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO CIVIL EX DELICTO. CÓDIGO DE PROCESSO PENAL, ART. 68. NORMA AINDA CONSTITUCIONAL. ESTÁGIO INTERMEDIÁRIO, DE CARÁTER TRANSITÓRIO, ENTRE A SITUAÇÃO DE CONSTITUCIONALIDADE E O ESTADO DE INCONSTITUCIONALIDADE. A QUESTÃO DAS SITUAÇÔES CONSTITUCIONAIS IMPERFEITAS. SUBSISTÊNCIA, NO ESTADO DE SÃO PAULO, DO ART. 68 DO CPP, ATÉ QUE SEJA INSTITUÍDA E REGULARMENTE ORGANIZADA A DEFENSORIA PÚBLICA LOCAL. PRECEDENTES. DECISÃO: A controvérsia constitucional objeto deste recurso extraordinário já foi dirimida pelo Supremo Tribunal Federal, cujo Plenário, ao julgar o RE 135.328-SP, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, fixou entendimento no sentido de que, enquanto o Estado de São Paulo não instituir e organizar a Defensoria Pública local tal como previsto na Constituição da República (art. 134), subsistirá, íntegra, na condição de norma ainda constitucional - que configura um transitório estágio intermediário, situado "entre os estados de plena constitucionalidade ou de absoluta inconstitucionalidade" (GILMAR FERREIRA MENDES, "Controle de Constitucionalidade", p. 21, 1990, Saraiva) -, a regra inscrita no art. 68 do CPP, mesmo que sujeita, em face de modificações supervenientes das circunstâncias de fato, a um processo de progressiva inconstitucionalização, como registra a lição de ROGÉRIO FELIPETO ("Reparação do Dano Causado por Crime", p. 58, item n, 4.2.1, 2001, Del Rey). É que a omissão estatal, no adimplemento de imposições ditadas pela Constituição culmina por fazer instaurar "situações constitucionais imperfeitas" (LENIO LUIZ STRECK,.'Jurisdição Constitucional e Hermenêutica", p. 468-469, item n. 11.4.1.3.2, 2002, Livraria do Advogado), cuja ocorrência justifica"um tratamento diferenciado, não necessariamente reconduzível ao regime da nulidade absoluta"(J. J. GOMES CANOTILHO,"Direito Constitucional", p. 1.022, item", 3, 5. ed., 1991, Almedina, Coimbra), em ordem a obstar o 1mediato reconhecimento do estado de inconstitucionalidade no qual eventualmente incida o Poder Público, por efeito de violação negativa do texto da Carta Política (RTJ 162/877, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno). É por essa razão que HUGO NIGRO MAZZILLI ("A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo", p, 72, itemn. 7, nota de rodapé n. 13, 14. Ed., 2002, Saraiva), ao destacar o caráter residual da aplicabilidade do art. 68 do CPP -que versa hipótese de legitimação ativa do Ministério Público, em sede de ação civil - assinala, em observação compatível com a natureza ainda constitucional da mencionada regra processual penal, que "Essa atuação do Ministério Público, hoje, só se admite em caráter subsidiário, até que se viabilize, em cada Estado, a implementação da defensoria pública, nos termos do art. 134, parágrafo único, da CR (...)". Daí a exata afirmação feita por TEORI ALBINO ZAVASCKI, eminente Magistrado e Professor ("Eficácia das Sentenças na Jurisdição Constitucional", p. 115/116, item n. 5.5, 2001, RT), cuja lição, a propósito do tema ora em exame, põe em evidência o relevo que podem assumir, em nosso sistema jurídico, as transformações supervenientes do estado de fato: "Isso explica, também, uma das técnicas de controle de legitimidade intimamente relacionada com a cláusula da manutenção do estado de fato: a da 'lei ainda constitucional'. O Supremo Tribunal Federal a adotou em vários precedentes (...). Com base nessa orientação e considerando o contexto social verificado à época do julgamento, o Supremo Tribunal Federal rejeitou a argüição de inconstitucionalidade da norma em exame, ficando claro, todavia, que, no futuro, a alteração do status quo poderia ensejar decisão em sentido oposto."Cabe referir, por necessário, que esse entendimento tem sido observado em sucessivas decisões proferidas por esta Suprema Corte, como o demonstra o julgamento do RE 147.776-SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE (RTJ 175/309-310):"Ministério Público: legitimação para promoção, no juízo cível, do ressarcimento do dano resultante de crime, pobre o titular do direito à reparação: C. Pr. Pen., art 68, ainda constitucional (cf. RE 135328): processo de inconstitucionalização das leis. 1. A alternativa radical da jurisdição constitucional ortodoxa. Entre a constitucionalidade plena e a declaração de inconstitucionalidade ou revogação por inconstitucionalidade da lei com fulminante eficácia ex tunc, faz abstração da evidência de que a implementação de uma nova ordem constitucional não um fato instantâneo, mas um processo, na qual a possibilidade de realização da norma da Constituição -ainda quando teoricamente não se cuide de preceito de eficácia limitada - subordina-se muitas vezes a alterações da realidade fáctica que a viabilizem. 2. No contexto da Constituição de 1988, à atribuição anteriormente dada ao Ministério Público pelo art. 68 C. Pr: Penal - constituindo modalidade de assistência judiciária -deve reputar-se transferida para a Defensoria Pública: essa, porém, para esse fim, só se pode considerar existente, onde e quando organizada, de direito e de fato, nos moldes do art. 134 da própria Constituição e da lei complementar por ela ordenada: até que se implemente essa condição de viabilização da cogitada transferência constitucional de atribuições, o art. 68 C. Pr. Pen. Será considerado ainda vigente: é o caso do Estado de São Paulo, como decidiu o plenário no RE 135328.” Todas essas considerações, indissociáveis do exame da presente causa, evidenciam que o acórdão ora recorrido diverge, frontalmente, da orientação jurisprudencial que esta Suprema Corte fixou na matéria em análise. Sendo assim, e tendo em consideração as razões expostas, conheço e dou provimento ao presente recurso extraordinário (CPC, art. 557, § 1º-A), em ordem a reconhecer a plena legitimidade ativa do Ministério Público do Estado de São Paulo para propor a ação civil) ex delicto, nos termos do art. 68 do CPP, invalidando, por isso mesmo, a extinção do processo, sem julgamento de mérito, decretada pelo E. Tribunal de Justiça paulista (fls. 287/291) e restaurando, em consequência, a decisão que procedeu ao saneamento do processo (fls. 229), operando-se, a partir daí, o regular prosseguimento da causa. Publique-se. Brasília, 10 de junho de 2002. Ministro CELSO DE MELLO. RELATOR.”
Do outro lado da relação jurídica encontra-se, em regra, o réu ou autor do fato, à quem cabe reparação o dano causado pela infração penal.
Entretanto, há casos em que se torna possível promover ação de execução contra outra pessoa que não o autor ou réu: são aqueles casos nos quais o fato ocorre quando o empregado estava no exercício do trabalho ou em decorrência dele.
Nestas situações, os legitimados poderão executar quem diretamente causou o dano, mas, se este não possuir bens para responder, a ação poderá ser movida contra o empregador, devendo se fazer prova de que o empregado condenado estava no exercício de seu trabalho ou por ocasião dele. A lei não exige que se demonstre a culpa do empregador, tendo esse, inclusive, a possibilidade de demonstrar que não se descuidou do dever de vigilância.
2.4. Influência da jurisdição penal sobre a civil
Segundo Eugênio Pacelli de Oliveira quando o art. 387, IV, do Código de Processo Penal brasileiro, estabelece que o juiz, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido, proferirá a sentença condenatória e fixará o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, está o referido dispositivo trazendo um efeito secundário da sentença penal condenatória.[6]
No mesmo sentido está o artigo 91, I, do Código Penal, que estabelece como efeito secundário da sentença penal condenatória irrecorrível tornar certa a obrigação de indenizar o dano resultante do crime. Entretanto, vale ressaltar que a sentença penal condenatória somente comportará esse efeito se a infração produzir dano.
“Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;”
Após o trânsito em julgado da sentença penal que tornou certa a obrigação de reparar o dano, esta valerá como título executório, estabelecendo o artigo 63 do Código de Processo Penal, que caberá a vitima, seu representante legal ou seus herdeiros executar, desde logo, no juízo cível a parcela mínima reparatória, sem prejuízo de prosseguir na apuração do montante efetivamente devido.
À vista do exposto, a vítima poderá exigir a reparação do dano no juízo cível, executando a decisão do juiz penal, assim que sua decisão condenatória tenha trânsito em julgado, e isso demonstra o cuidado que a legislação penal dá para o direito de ressarcimento da vítima, incentivando-o sempre que possível. Como frisa Guilherme de Souza Nucci: “A legislação criminal cuida, com particular zelo, embora não com a amplitude merecida, do ressarcimento da vítima, buscando incentivá-lo, sempre que possível.”[7]
Esse é o mesmo ensinamento de Fernando Capez:
“O Código Penal, em diversas passagens, incentiva a reparação do dano, que constitui desde atenuante genérica, passando por requisito para a obtenção de determinados benefícios, até causa de extinção da punibilidade.”[8]
Na ocasião não há possibilidade de ser reaberta em juízo cível a discussão sobre a autoria, a ilicitude ou a existência do fato, ou seja, não poderá ser discutido se o réu tinha ou não razão, se o fato realmente existiu ou não, ou se restou comprovada a causalidade, isso porque a responsabilidade civil independe da responsabilidade criminal.
Quando a competente ação civil visando o ressarcimento do dano for proposta antes do ajuizamento ou no transcorrer da ação penal o Juiz cível poderá suspender o andamento daquela até a decisão da questão penal. Neste caso, não há de se falar em mitigação do sistema de independência das ações, já que ao Juiz é apenas facultado a possibilidade de suspender o andamento da ação civil.
Por outro lado, entende Tourinho Filho que apesar do texto legal utilizar a expressão “poderá”, deve o juiz determinar a suspensão da ação civil para assim evitar decisões contraditórias.
Desse modo, a faculdade atribuída ao juiz torna-se, para ele, uma obrigação, pois o Juiz “velando pelo decoro da Justiça, terá de evitar o conflito de decisões díspares, baseadas em um mesmo fato e na mesma ação antijurídica. (...) a faculdade há de converter em obrigação”[9]
2.5. Prescrição na ação “exdelicto”
Dispõe o artigo 200 do Código Civil, que o prazo prescricional da ação de reparação civil dos danos causados por infração penal não começa a correr enquanto não transitar em julgado a sentença penal condenatória, estabelecendo a suspensão da ação civil durante a pendência da ação penal, nos seguintes termos: “quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva”.
De acordo com o artigo 206, § 3º, V, do Código Civil, tal prazo será de 3 (três) anos e não começa a correr enquanto o titular do direito de ação não completar 16 anos e se torna, pelo menos, relativamente incapaz. [10]
Com relação aos casos ocorridos antes da vigência do Código Civil de 2002, está estabelecido nem seu art. 2.028, “que serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada”. Assim, em se tratando de decisão prolatada sob a vigência do Código Civil de 1916, o prazo prescricional aplicável é de 20 (vinte) anos, conforme dispunha o art. 177 do Código Civil de 1916.
Nesse sentido está o julgado:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. PRECEDENTES DO STJ. SÚMULA 83/STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é assente no sentido de que," em se tratando de ação civil ex delicto, com o objetivo de reparação de danos, o termo a quo para ajuizamento da ação somente começa a fluir a partir do trânsito em julgado da ação penal ". 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no Ag 951.232/RN, Rel. Min. ELIANA CALMON, Segunda Turma, DJe de 5/9/08).
3. Ação penal e ação civil ex delicto
Muitos juristas afirmam que a infração penal enseja tanto à ação penal, que visa a aplicação da pena, quanto à ação civil, que objetiva a reparação dos prejuízos ocasionados pelo crime. Tourinho Filho, entretanto, acredita que da infração penal surgem duas pretensões: a pretensão punitiva e a pretensão de ressarcimento. A primeira pretensão é a que dá ensejo a propositura da ação penal e a segunda à propositura da ação civil.[11]
A ação penal e a ação civil ex delicto não se confundem, ainda que tenham como fim comum o restabelecimento do direito violador. Enquanto a ação penal visa à aplicação de uma pena ou medida de segurança a ação civil ex delicto tem como único objetivo o ressarcimento do dano produzido pela infração. Outra diferença está no fato de que a ação penal é pública, de modo que somente poderá ser promovida pelo Ministério Público. Já a actio civilis ex delicto somente pode ser intentada pela vítima, seu representante legal ou herdeiro, acrescentando o art. 68 do Código de Processo Penal, o Ministério Público e o Defensor Público, onde houver. Também há de se falar que, enquanto a ação penal é proposta contra o autor do crime, a ex delicto pode ser proposta contra seus herdeiros, isso porque a finalidade dessa ação não é a aplicação da pena, mas sim a satisfação do dano.
Para Tourinho Filho a ação penal e a actio civilis ex delicto não são completamente independentes, pois se assim o fosse, haveria a possibilidade de julgados controversos. Assim, a ocorrência de um conflito entre duas sentenças que apreciassem o mesmo fato gerador das responsabilidades (civil e penal), como no caso de uma decisão proclamar a existência de um fato e a outra negá-la, criaria uma grande insegurança jurídica à sociedade.
4. Sistema de independência mitigada
No tocante a ação civil ex delicto, existem vários sistemas que se destinam a estabelecer diretrizes a respeito das pretensões deduzidas quando do cometimento de um ilícito penal. Entre eles estão:
· 1. Sistema da confusão – por ele as duas pretensões (pretensão punitiva e a pretensão de ressarcimento) são deduzidas em um único pedido.
· 2. Sistema da solidariedade – estabelece que as duas pretensões são deduzidas em processos distintos, mas num único processo.
· 3. Sistema da livre escolha – determina que o interessado tanto pode ingressar com ação civil na jurisdição civil como pode pleitear o ressarcimento na jurisdição penal.
· 4. Sistema da separação – defende que a ação civil deve ser proposta na Justiça Civil e a ação penal na Justiça Penal.
No Brasil o sistema adotado é o da independência relativa ou mitigada. Por ele entende-se que a parte interessada poderá optar por dois caminhos. O primeiro deles é o de promover a ação para satisfação do dano apenas em sede civil. Neste caso, se quando da proposta da ação civil estiver em curso a ação penal, deverá o juiz cível sobrestar o andamento da primeira até que se efetive o julgamento definitivo da ação penal, isso para se evitar decisões contrastantes. O segundo caminho que pode ser seguido pelos legitimados é o de aguardar o desfecho da causa penal para que, conforme o caso, executar na sede civil a sentença penal. Assim, se houver sentença penal condenatória transitada em julgado poderá esta ser exequível na jurisdição civil, seja pelo ofendido, seu representante legal ou herdeiros, ocasião em que não se discutirá mais o an debeatur, mas sim o quantum debeatur.
Neste sentido é o ensinamento de Edilson Mougenot Bonfim:
“O art. 91, I, do Código Penal determina que um dos efeitos da condenação penal é tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime. Dessa forma, não obstante a responsabilidade penal ser independente da responsabilidade civil, o sistema brasileiro acaba por conferir à sentença condenatória penal transitada em julgado a natureza de título executivo judicial (art. 475-N, II, do Código de Processo Civil, cf. Lei n. 11.232/2005 e art. 63 do Código de Processo Penal), consubstanciando entre nós o sistema da independência mitigada entre as esferas cível e penal.[12]
Também é facultado à parte, a fim de evitar o periculum in mora, requerer no juízo penal providências cautelares a fim de satisfazer o dano, como é o caso do sequestro, arresto e hipoteca legal.
Tratando-se de crime contra o patrimônio torna-se possível a satisfação do dano, por meio de restituição, perante o Juiz penal ou até mesmo nas Delegacias de Polícia. Já nos casos de infrações penais de menor potencial ofensivo, cabe ao juiz ou ao conciliador tentar um acordo entre o ofendido e o autor do fato, objetivando a composição dos danos.
A satisfação do dano decorrente da infração penal pode se dar de quatro formas distintas, devendo ser pleiteadas mediante competente ação: a) restituição; b) ressarcimento; c) reparação e d) indenização.
5. Execução
A sentença penal condenatória torna-se, após o trânsito em julgado, título certo e líquido, em favor do titular do direito à indenização. Apesar dos legitimados deterem a legitimatio ad causam não possuem eles autorização para efetuar a execução forçada.
Com relação ao quantum devido estabelecido na sentença penal condenatória, entende Eugênio Pacelli que o valor fixado será: a) aquele que tiver sido objeto de discussão ao longo do processo, b) aquele relativo aos prejuízos materiais efetivamente comprovados (haja certeza e liquidez quanto à sua natureza).[13]
Nos casos em que a sentença não determinar o quantum devido ou não individuar o objeto da condenação, será necessário se proceder a liquidação da sentença penal condenatória, nos termos do artigo 603, do Código de Processo Civil.
Julgada a liquidação da sentença cabe à parte interessada promover a execução de título judicial, munindo-se da carta de sentença que é extraída do processo condenatório e deverá conter: a) autuação; b) denúncia ou queixa; c) sentença condenatória; d) certidão do trânsito em julgado; e) assinatura do juiz e do escrivão; f) acórdão e sentença recorrida, se houver.
Toda execução fundada em sentença penal condenatória processar-se-á perante o juízo cível competente, conformedisposto no art. 575, IV, do Código de Processo Civil. Ressalta Fernando Capez, que, muito embora no juízo cível a ação se funde em direito pessoal, o foro territorialmente competente não é o do domicílio do réu. Nestes casos, o autor tem o privilégio de escolher um dos foros especiais, previstos no art. 100 do Código de Processo Civil: “Nas ações de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicilio do autor ou o local do fato”. [14]
Afirma, ainda, que a eleição de qualquer um desses foros é privilégio renunciável em favor da regra do domicílio do réu. Nesse sentido está o entendimento do Superior Tribunal de Justiça: “O parágrafo único do art. 100 do CPC contempla uma faculdade do autor, supostamente vítima de ato delituoso ou de acidente causado por veículo, para ajuizar a ação de reparação de dano no foro de seu domicilio ou no local do fato, sem exclusão da regra geral prevista no caput do art. 94 do CPC (REsp 4.603-RJ, 3ª T, re. Min Cláudio dos Santos, DJU, 17 de dez. 1990, p.15374).
6. Ação penal absolutória
Como já foi dito, a sentença penal condenatória faz coisa julgada no juízo, ocasião em que somente será discutido o quantum debeatur. Entretanto, nem sempre se pode fazer essa afirmação nos casos em que a sentença penal for absolutória.
O artigo 386 do Código de Processo penal estabelece as causas da sentença absolutória. A hipótese estabelecida no inciso I do referido dispositivo, qual seja, estar provada a inexistência do fato, faz com que o ressarcimento do dano no juízo civil fique prejudicado, evitando decisões contraditórias.
Os demais incisos não comportam tal interpretação. Se, porventura, a absolvição basear-se na ausência de provas quanto a existência do fato, ainda assim a ação civil poderá ser interposta. Se o fundamento para a absolvição basear-se no inciso III, e o juiz valer-se da alegação de que o ato praticado não constitui infração penal, não criará obstáculos à propositura da ação civil, isso porque o ato praticado pode não constituir uma infração penal, mas pode caracterizar um ilícito civil.
Por outro lado, se, por sua vez, o juiz valer-se do inciso IV e assim não existir prova de ter o réu concorrido para a infração, poderá a vítima pleitear o ressarcimento perante o juízo cível, porque o Juiz penal não negou peremptoriamente a autoria ou a materialidade delitiva. Já no caso do inciso V, ainda que inexista prova suficiente para a condenação, também não há de se falar em obstáculo ao ressarcimento no juízo cível.
7. Jurisprudência
CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO CIVIL EX DELICTO. PRESCRIÇÃO. PRAZO. SUSPENSÃO. REQUISITOS. INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. VALOR. REVISÃO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE O VALOR SEJA EXCESSIVO OU IRRISÓRIO. VERBAS SUCUMBENCIAIS. DISTRIBUIÇÃO. CRITÉRIOS. DISPOSITIVOS LEGAIS ANALISADOS: ARTS. 200 DO CC/02 E 21, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC. 1. Ação ajuizada em 26.06.2007. Recurso especial concluso ao gabinete da Relatora em 14.11.2012. 2. Recurso especial em que se discute a contagem do prazo prescricional em ação civil ex delicto e a razoabilidade do valor fixado a título de danos morais. 3. O comando do art. 200 do CC/02 incide quando houver relação de prejudicialidade entre as esferas cível e penal, isto é, quando a conduta originar-se de fato também a ser apurado no juízo criminal, sendo fundamental a existência de ação penal em curso ou ao menos inquérito policial em trâmite. 4. O art. 200 do CC/02 se limita a assegurar que o prazo prescricional não começa a fluir antes do trânsito em julgado da sentença penal, nada obstando a vítima de ajuizar a ação civil independentemente do resultado final da ação na esfera criminal. 5. O valor da indenização por danos morais fixado pelo Tribunal a quo somente pode ser reapreciado em sede de recurso especial quando o valor arbitrado se mostrar manifestamente excessivo ou irrisório, circunstância inexistente na espécie. 6. Recurso especial da autora desprovido. Recurso especial do réu parcialmente provido. (STJ - REsp: 1354350 MS 2012/0019742-9, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 18/02/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 06/03/2014)
AGRAVO INTERNO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. PUBLICAÇÃO DE MATÉRIA JORNALÍSTICA. FATO QUE TAMBÉM CONFIGURARIA, EM TESE, CRIME. PRESCRIÇÃO. ART. 200 DO CÓDIGO CIVIL. APLICABILIDADE APENAS AOS CASOS DE AÇÃO CIVIL EX DELICTO. PRAZO CUJA FLUÊNCIA, NO CASO, NÃO ENCONTRA IMPEDIMENTO LEGAL. PRECEDENTE DESTA CORTE. 1.- Uma vez veiculada matéria jornalística que se reputa ofensiva à honra, tem-se por configurado, em tese, dano moral capaz de ensejar ação de indenização, cujo termo inicial, para fins de prescrição, é a própria data da publicação da referida matéria. 2.- A regra estabelecida no art. 200 do Código Civil diz respeito à ação civil ex delicto, sendo inaplicável, portanto, a casos de indenização civil que não se fundamentem no título penal condenatório. Precedente do STJ. 3.- Agravo Regimental a que se nega provimento.(STJ - AgRg no AREsp: 496307 RS 2014/0072547-6, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 27/05/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 16/06/2014)
CIVIL. AÇÃO CIVIL EX DELICTO. PRAZO PRESCRICIONAL. TERMO INICIAL. TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. ILÍCITO OCORRIDO NA VIGÊNCIA DO CC/16. REGRA DE TRANSIÇÃO. INCIDÊNCIA DO PRAZO PREVISTO NO CC/02. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO INDENIZATÓRIA. ARTS. ANALISADOS: 177, CC/16; 200, 206, § 3º, V, 2.028, CC/02. 1. Ação civil ex delicto distribuída em 20/07/2009, da qual foi extraído o presente recurso especial, concluso ao Gabinete em 26/03/2014. 2. Discute-se a ocorrência da prescrição da pretensão indenizatória ex delicto. 3. Na espécie, o ilícito - civil e criminal - foi praticado muito antes da entrada em vigor do CC/02, não sendo possível a aplicação retroativa do art. 200, que prevê hipótese de suspensão do prazo prescricional. Todavia, antes mesmo do advento do CC/02 e da regra do art. 200, estava consolidado no âmbito do STJ o entendimento de que o prazo prescricional da pretensão indenizatória deduzida contra o autor do delito flui a partir do trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Precedentes. 4. Particularmente, não se podia exigir que os ofendidos ajuizassem a ação indenizatória sem conhecer as circunstâncias concretas em que se deu o acidente que vitimou o seu familiar, tampouco sem a identificação de todos os responsáveis pelo evento danoso. Por isso, aliás, a causa de pedir remota, neste processo cível, baseia-se nas conclusões firmadas no julgamento da ação penal respectiva. 5. Considerando-se que o prazo prescricional da pretensão indenizatória dos autores começou a fluir em 25/04/1997, data em que transitou em julgado a sentença penal condenatória, bem como que, na data em que passou a viger o CC/02 havia transcorrido menos da metade do lapso temporal previsto no art. 177 do CC/16, incide, na espécie, o disposto no art. 206, § 3º, V, do CC/02, que reduziu o prazo prescricional para 03 anos, nos moldes do que dispõe a regra de transição do art. 2.028 do CC/02. 6. Transcorridos mais de 03 anos entre a data de vigência do CC/02 e a da propositura da ação civil ex delicto, forçoso o pronunciamento da prescrição da pretensão indenizatória dos autores. 7. Recurso especial conhecido e provido. (STJ - REsp: 1443634 SC 2013/0288663-6, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 24/04/2014, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 12/05/2014)
8. Bibliografia
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal, 9Ed, Saraiva 2012.
SMANIO, Gianpaolo Poggio e FABRETTI, Humberto Barrionuevo. Introdução ao Direito Penal: Criminologia, Princípios e Cidadania, São Paulol, Atlas, 2010, pg. 99.
OLIVEIRA, Eugênio Pacceli de. Curso de Processo Penal, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2009, pg. 169.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo Penal, volume II, São Paulo, Saraiva, 2002.
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal, 19 Ed, São Paulo: Saraiva, 2012.
NUCCI, Guilhermede Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal, 8ª Ed. RT, 2011.
BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal, 6ª Ed. Saraiva, 2011.
[1] LOPES Jr, Aury – DIREITO PROCESSUAL PENAL – 9ed. Ver. E atual – São Paulo: Saraiva, 2012 – p. 436.
[2] Bonfim, E

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