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AT 1 SALAS DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 2 AT S U M Á R IO 2 3 UNIDADE 1 - Introdução 5 UNIDADE 2 - O programa de salas de recursos multifuncionais 7 2.1 Objetivos 8 2.2 Ações 8 2.3 Critérios para implantação 9 2.4 Ajudas Técnicas e Tecnologias Assistivas 11 UNIDADE 3 - Público-alvo e os recursos humanos 11 3.1 Público-alvo 11 3.2 Caracterização das deficiências do público-alvo das salas de recursos multifuncionais 16 3.3 Recursos Humanos 19 UNIDADE 4 - As salas de recursos multifuncionais 19 4.1 Especificações 20 4.2 Recursos e materiais pedagógicos 22 UNIDADE 5 - As salas multifuncionais nas escolas regulares e o atendimento às famílias 22 5.1 Importância das salas no ensino regular 24 5.2 A organização curricular 27 5.3 Orientação e atendimento às famílias 30 UNIDADE 6 - A utilização de softwares e outras experiências 30 6.1 Uso de softwares 33 6.2 Enunciado em blogs 34 6.3 Outras experiências 36 UNIDADE 7 - Modelo de plano de ação pedagógico (PAP) e o plano de ação individual para o AEE 40 UNIDADE 8 - Legislação pertinente 40 8.1 Decreto nº 6094 de 2007 40 8.2 Portaria Normativa nº 13 de 24 de abril de 2007 40 8.3 Nota técnica – SEESP/GAB/Nº 11 de 2010 41 8.4. Portaria nº 25 de 19 de junho de 2012 44 REFERÊNCIAS 49 ANEXOS 3 4 Vamos começar nossos estudos so- bre as Salas de Recursos Multifuncionais (SRM) por um entendimento básico: a di- ferença entre uma Sala de Recursos e uma Sala de Recursos Multifuncionais que se dá em relação ao alunado, à estrutura da sala e formação do professor. Esse também é o ponto de partida para o estudo, a análi- se e o entendimento das salas de recursos multifuncionais, objetivo desta apostila. Pela definição de Alves (2006), as salas de recursos multifuncionais são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacionais especiais, por meio do desenvolvimento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a constru- ção de conhecimentos pelos alunos, sub- sidiando-os para que desenvolvam o currí- culo e participem da vida escolar. A sala de recursos multifuncionais atende alunos cegos e surdos, enquanto a sala de recursos dita “comum” atende alu- nos com deficiência mental/intelectual e aqueles que apresentam transtornos fun- cionais específicos como TDAH e outros distúrbios de aprendizagem. Quanto à estrutura da sala, as comuns utilizam materiais pedagógicos que podem ser confeccionados pelos próprios profes- sores e a comunidade escolar de maneira geral. A sala de recursos multifuncionais, por sua vez, recebem materiais, mobiliário próprio e computadores, geralmente do governo federal. Por fim, a formação dos professores também faz a diferença! Tanto que você está aqui se capacitando para trabalhar com essas especialidades, ou seja, sua atuação e as possibilidades de sucesso na docência em muito dependerá de sua res- ponsabilidade que podemos resumir em comprometimento, estudo, pesquisa e de- dicação. Dessa maneira, vale a pena refletir e fa- zer valer as palavras de Marion Welchmann (s.d): “se uma criança não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor en- siná-la da maneira que ela pode aprender”. Pois bem, partindo do entendimento que educação inclusiva é um direito as- segurado pela Constituição Federal e que esse direito deve ser cumprido pelas redes de ensino, considerando ainda que o aces- so aos recursos pedagógicos e acessibili- dade na escola elimina a discriminação e a segregação, veremos que a sala de re- cursos multifuncionais é um dos caminhos que possibilita a educação de qualidade para essa parcela da sociedade que tem os mesmos direitos a uma educação de quali- dade como toda nossa população. Frise-se que, o atendimento educacional especia- lizado trabalha com descrições de- talhadas de situações, eventos, pes- soas, interações e comportamentos que são observáveis, incorporando a voz dos participantes, suas experiên- cias, atitudes, crenças, pensamentos e reflexões, tal e qual são expressas por eles mesmos (ESTEBAN, 2010, p. 125). Portanto, precisamos estar abertos, UNIDADE 1 - Introdução 3 3 4 despojados de preconceitos, mas ávidos e ambiciosos para entrar no mundo deles, ganhar sua confiança e dar o melhor de nós. A apostila segue uma lógica que pode- mos dizer que é didática e ao mesmo tem- po serve de orientação para que a escola participe do programa. Primeiramente, serão expostos os objetivos, as ações e os critérios para implantação do progra- ma. Na sequência, teremos definições básicas de ajudas técnicas e tecnologias assistivas. Reforçaremos o público-alvo e os recursos humanos que são elementos essenciais para efetivar o programa, bem como teremos as especificações das salas e uma lista com os recursos materiais pe- dagógicos necessários. Não poderíamos nos furtar a suscitar questionamentos e reflexões acerca da importância dessas salas no ensino regular, sua organização curricular, bem como o atendimento às fa- mílias. O enriquecimento fica por conta da uti- lização de alguns softwares e modelo de Plano de Ação Pedagógico, bem como fi- nalizaremos com a legislação pertinente. Em anexo teremos algumas sugestões de atividades para os diversos tipos de ne- cessidades. Ressaltamos em primeiro lugar que em- bora a escrita acadêmica tenha como pre- missa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clás- sicos, não se tratando, portanto, de uma redação original e tendo em vista o cará- ter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se ou- tras que foram ora utilizadas, ora somen- te consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos es- tudos. 4 5 65 UNIDADE 2 - O programa de salas de recursos multifuncionais A concepção de escola inclusiva se fun- damenta no reconhecimento das diferen- ças humanas e na aprendizagem centrada nas potencialidades dos alunos, ao invés da imposição de rituais pedagógicos pre- estabelecidos que acabam por legitimar as desigualdades sociais e negar a diversida- de. Nessa perspectiva, as escolas devem responder às necessidades educacionais especiais de seus alunos, considerando a complexidade e heterogeneidade de esti- los e ritmos de aprendizagem. Para tanto, é necessária uma nova estrutura organi- zacional, com currículos flexíveis, estra- tégias teóricas metodológicas eficientes, recursos e parcerias com a comunidade. A Educação Especial, como modalida- de da educação escolar responsável pelo atendimento educacional especializa- do, organiza-se de modo a considerar a aproximação dos pressupostos teóricos à prática da educação inclusiva, a fim de cumprir dispositivos legais, políticos e fi- losóficos. Os alunos com necessidades educacio- nais especiais têm assegurado na Consti- tuição Federal de 1988, o direito à educa- ção (escolarização) realizada em classes comuns e ao atendimento educacional especializado complementar ou suple- mentar à escolarização, que deve ser re- alizado preferencialmente em salas de recursos na escola onde estejam matricu- lados, em outra escola, ou em centros de atendimento educacional especializado. Esse direito também está assegurado na LDBEN - Lei nº 9.394/96, no parecer do CNE/CEB nº 17/01, na Resolução CNE/CEBnº 2, de 11 de setembro de 2001, na Lei nº 10.436/02 e no Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. As salas de recursos multifuncionais são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para alunos com necessidades educacio- nais especiais, por meio do desenvolvi- mento de estratégias de aprendizagem, centradas em um novo fazer pedagógico que favoreça a construção de conheci- mentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e participem da vida escolar (ALVES, 2006). De todo modo, o atendimento educa- cional especializado a ser desenvolvido nessas salas não substitui o ensino da classe comum, e é um serviço comple- mentar e suplementar (REZENDE; TARTU- CE, 2013). Apesar das salas de recursos multifun- cionais fazerem parte de um programa que se iniciou na segunda metade da década de 2000 e compor a política de inclusão de alunos com necessidade educacionais especiais, essas salas já faziam parte da política educação desses alunos, contudo com características distintas. As salas de recursos se organizavam geralmente arti- culada às deficiências, salas categoriais e as salas de recursos multifuncionais com foco no atendimento de todas as neces- sidades educacionais especiais é acresci- da de “multifuncionais” e de mobiliários, equipamentos, materiais didáticos, recur- sos pedagógicos e de acessibilidade. Segundo Mazzotta (2012), a sala de 5 66 recursos é um auxílio especial na escola, onde o professor especializado da rede pública utiliza de materiais e equipamen- tos específicos que auxiliam os alunos com deficiência de modo a mantê-los juntos à classe comum. A função deste docente se resume em duas etapas, a primeira é um trabalho direto com o aluno e a segunda um trabalho indireto de parceria com os professores da classe comum, às famílias e aos demais integrantes da comunidade escolar. Portanto, o professor de sala de recur- sos assume papéis em dois âmbitos: um diretamente com o aluno com necessida- des educacionais especiais e outro indire- tamente, na consultoria colaborativa com a família e outros profissionais da escola visando à educação desse aluno. O aten- dimento em salas de recursos multifun- cionais, conforme já referido, visa com- plementar e suplementar o processo de escolarização desses alunos (REZENDE; TARTUCE, 2013). De acordo com as Diretrizes Nacionais de Educação Especial para a Educação Básica, o atendimento educacional espe- cializado em salas de recursos constitui serviço de natureza pedagógica, condu- zido por professor especializado, que su- plementa, no caso dos alunos com altas habilidades/superdotação, e complemen- ta, no caso dos alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem vinculadas ou não à deficiência. Esse serviço se rea- liza em espaço dotado de equipamentos e recursos pedagógicos adequados às necessidades educacionais especiais dos alunos, podendo estender-se a alunos de escolas mais próximas, nas quais ainda não exista esse atendimento. Pode ser re- alizado individualmente ou em pequenos grupos em horário diferente daquele em que frequentam a classe comum. A sala de recursos multifuncionais é, portanto, um espaço organizado com materiais didáticos, pedagógicos, equi- pamentos e profissionais com formação para o atendimento às necessidades edu- cacionais especiais. No atendimento, é fundamental que o professor considere as diferentes áreas do conhecimento, os aspectos relacionados ao estágio de de- senvolvimento cognitivo dos alunos, o nível de escolaridade, os recursos especí- ficos para sua aprendizagem e as ativida- des de complementação e suplementação curricular. A denominação sala de recursos multi- funcionais se refere ao entendimento de que esse espaço pode ser utilizado para o atendimento das diversas necessidades educacionais especiais e para desenvolvi- mento das diferentes complementações ou suplementações curriculares. Uma mesma sala de recursos, organizada com diferentes equipamentos e materiais, pode atender, conforme cronograma e horários, alunos com deficiência, altas ha- bilidades/superdotação, dislexia, hipera- tividade, déficit de atenção ou outras ne- cessidades educacionais especiais. Para atender alunos cegos, por exemplo, deve dispor de professores com formação e re- cursos necessários para seu atendimento educacional especializado. Para atender alunos surdos, deve-se estruturar com profissionais e materiais bilíngues. Por- tanto, essa sala de recursos é multifun- cional em virtude de a sua constituição ser flexível para promover os diversos tipos de acessibilidade ao currículo, de acordo 7 8 com as necessidades de cada contexto educacional. A escola deve articular junto à gestão da sua rede de ensino, as condições ne- cessárias para a implementação das salas de recursos multifuncionais, bem como a definição de procedimentos pedagógicos e a participação dos pais ou responsáveis. O atendimento educacional especiali- zado nas salas de recursos multifuncio- nais se caracteriza por ser uma ação do sistema de ensino no sentido de acolher a diversidade ao longo do processo edu- cativo, constituindo-se num serviço dis- ponibilizado pela escola para oferecer o suporte necessário às necessidades edu- cacionais especiais dos alunos, favore- cendo seu acesso ao conhecimento. O atendimento educacional especia- lizado constitui parte diversificada do currículo dos alunos com necessidades educacionais especiais, organizado insti- tucionalmente para apoiar, complementar e suplementar os serviços educacionais comuns. Dentre as atividades curriculares específicas desenvolvidas no atendimen- to educacional especializado em salas de recursos se destacam: o ensino da Lín- gua Brasileira de Sinais (Libras), o sistema Braille e o Soroban, a comunicação alter- nativa, o enriquecimento curricular, den- tre outros. Além do atendimento educacional es- pecializado realizado em salas de recur- sos ou centros especializados, algumas atividades ou recursos devem ser disponi- bilizados dentro da própria classe comum, como, por exemplo, os serviços de tradu- tor e intérprete de Libras e a disponibi- lidade das ajudas técnicas e tecnologias assistivas, entre outros. Nesse sentido, o atendimento educa- cional especializado não pode ser confun- dido com atividades de mera repetição de conteúdos programáticos desenvolvidos na sala de aula, mas deve constituir um conjunto de procedimentos específicos mediadores do processo de apropriação e produção de conhecimentos (ALVES, 2006). 2.1 Objetivos Segundo o Manual de Orientação (BRA- SIL, 2010), o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais, insti- tuído pelo MEC/SEESP (hoje vinculado a SECADI) por meio da Portaria Ministerial nº 13/2007, integra o Plano de Desenvol- vimento da Educação – PDE, destinando apoio técnico e financeiro aos sistemas de ensino para garantir o acesso ao ensino regular e a oferta do AEE aos alunos com deficiência, transtornos globais do desen- volvimento e/ou altas habilidades/super- dotação. No contexto da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, o Programa tem como objetivos: apoiar a organização da educação especial na perspectiva da educação in- clusiva; assegurar o pleno acesso dos alu- nos público-alvo da educação especial no ensino regular em igualdade de condições com os demais alunos; disponibilizar recursos pedagógi- cos e de acessibilidade às escolas regula- res da rede pública de ensino; 7 8 promover o desenvolvimento pro- fissional e a participação da comunidade escolar. 2.2 Ações De acordo com esses objetivos, para que aconteça o processo de im- plantação das salas de recursos mul-tifuncionais, o MEC/SEESP realiza as seguintes as ações: aquisição dos recursos que com- põem as salas; informação sobre a disponibiliza- ção das salas e critérios adotados; monitoramento da entrega e insta- lação dos itens às escolas; orientação aos sistemas de ensino para a organização e oferta do AEE; cadastro das escolas com sala de recursos multifuncionais implantadas; promoção da formação continuada de professores para o AEE; encaminhamento, assinatura e pu- blicação dos Contratos de Doação; atualização dos recursos das salas implantadas pelo Programa; apoio à acessibilidade nas escolas com salas implantadas (BRASIL, 2010). 2.3 Critérios para implanta- ção Aos gestores dos sistemas de ensino cabe definir quanto à implantação das sa- las de recursos multifuncionais, o planeja- mento da oferta do AEE e a indicação das escolas a serem contempladas, conforme as demandas da rede, atendendo os se- guintes critérios do Programa: a secretaria de educação a qual se vincula a escola deve ter elaborado o Pla- no de Ações Articuladas – PAR, registran- do as demandas do sistema de ensino com base no diagnóstico da realidade educa- cional; a escola indicada deve ser da rede pública de ensino regular, conforme re- gistro no Censo Escolar MEC/INEP (escola comum); a escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno(s) público-alvo da educação especial em classe comum, re- gistrado(s) no Censo Escolar/INEP, para a implantação da sala Tipo I; a escola de ensino regular deve ter matrícula de aluno(s) cego(s) em classe comum, registrado(s) no Censo Escolar/ INEP, para a implantação da sala de Tipo II; a escola deve ter disponibilidade de espaço físico para o funcionamento da sala e professor para atuação no AEE (BRASIL, 2010). A entrega dos itens que compõem as salas de recursos multifuncionais dá-se, diretamente, na escola, no endereço re- gistrado no Censo Escolar, por empresas diferentes, em prazo contado a partir da emissão da Autorização de Entrega. O MEC/SECADI acompanha e fiscaliza essa execução nas diferentes regiões do país, por meio do sistema informatizado de monitoramento para atestar sua con- formidade. O responsável pela escola, no momento da entrega deve conferir os itens especifi- 9 10 cados na nota fiscal e assinar o TERMO DE RECEBIMENTO (Anexo I); posteriormente, no ato da instalação dos equipamentos de informática, o TERMO DE ACEITAÇÃO (Anexo II). As empresas são desrespon- sabilizadas após tentativas inválidas ou recusa de recebimento/instalação, devi- damente registradas. No período entre a entrega e a instala- ção, não deve ocorrer abertura das caixas ou violação dos equipamentos. Durante a garantia, é admitida a troca de mobiliários/ equipamentos/materiais defeituosos, por outros iguais ou de tecnologia superior, desde que autorizada pela contratante (MEC/SECADI). Observa-se que a(s) empresa(s) não são autorizadas a efetuar a entrega e/ou a instalação em local diverso do especifi- cado na nota fiscal. Casos excepcionais, como calamidade pública, mudança de en- dereço e outros, devem ser previamente comunicados ao MEC/SECADI, formalizan- do a justificativa da alteração. É vedada a troca de escola que contrarie os critérios do programa. O interesse de manter a qualidade dos itens, o cumprimento dos prazos e a garantia dos recursos são tanto da con- tratada (empresa) como da contratante (MEC/SECADI/FNDE) e dos beneficiários (escola/sistemas de ensino). Portanto, os gestores das secretarias de educação e das escolas devem conhecer e conferir os quantitativos e a especificação dos itens, além de colaborar para que a entrega e a instalação ocorram nos prazos previstos. Vale a pena conferir o documento orientador do programa de SRM com atu- alizações para 2013 que encontra-se dis- ponível no site: http://portal.mec.gov.br/ index.php?option=com_docman&task=- doc_download&gid=11037&Itemid= 2.4 Ajudas Técnicas e Tec- nologias Assistivas As ajudas técnicas possuíam uma orien- tação predominantemente voltada para o suporte à ação médica e à reabilitação, de forma que a ênfase desses recursos era colocada apenas na patologia e nas es- tratégias de redução das dificuldades das pessoas com deficiência. Ampliando essa orientação, a Lei nº 10.098/00, que trata das normas gerais e critérios básicos para a promoção da aces- sibilidade de pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, dispôs que o poder público promoverá a supressão de barrei- ras urbanísticas, arquitetônicas, de trans- porte e de comunicação, mediante ajudas técnicas. Na regulamentação da Lei, o art. 61 do Decreto nº 5.296/04 definiu: consideram-se ajudas técnicas os produtos, instrumentos e equipa- mentos ou tecnologia adaptados ou especialmente projetados para me- lhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mo- bilidade reduzida, favorecendo a au- tonomia pessoal, total ou assistida. Recentemente foi inserida na cultura educacional brasileira, a terminologia tec- nologias assistivas, apresentando-se pa- ralelamente à expressão ajudas técnicas, no que diz respeito aos recursos que favo- recem a funcionalidade e aos serviços que têm por objetivo promover a avaliação, indicação, confecção e orientação para o desenvolvimento de autonomia funcional 9 10 do usuário da tecnologia assistiva. Tecnologia assistiva, portanto, é uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que con- tribuem para proporcionar ou ampliar ha- bilidades funcionais de pessoas com defi- ciência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão. Ainda, de acordo com Dias de Sá (2003 apud ALVES, 2006), a tecnologia assistiva deve ser compreendida como resolução de problemas funcionais, em uma pers- pectiva de desenvolvimento das poten- cialidades humanas, valorização de dese- jos, habilidades, expectativas positivas e da qualidade de vida, as quais incluem recursos de comunicação alternativa, de acessibilidade ao computador, de ativida- des de vida diária, de orientação e mobili- dade, de adequação postural, de adapta- ção de veículos, órteses e próteses, entre outros. Nesse sentido, o Ministério da Ciência e Tecnologia (BRASIL, 2005) definiu as tecnologias assistivas como aquelas que reduzem ou eliminem as limitações de- correntes das deficiências física, mental, visual, auditiva, a fim de colaborar para a inclusão social das pessoas com deficiên- cia e dos idosos. Essa concepção efetiva o disposto na Constituição Federal de 1988, que garan- te às pessoas com deficiência, o direito ao atendimento educacional especializado, o qual deve contemplar as ajudas técnicas e as tecnologias assistivas. No desenvolvimento de sistemas edu- cacionais inclusivos, as ajudas técnicas e as tecnologias assistivas estão inseridas no contexto da educação brasileira, di- rigidas à promoção da inclusão de todos os alunos nas escolas. Portanto, o espaço escolar deve ser estruturado como aquele que oferece também as ajudas técnicas e os serviços de tecnologia assistiva. A tecnologia assistiva é classificada em várias áreas de especialização importan- tes no processo educacional, sendo en- tendida como recursos para alunos cegos ou com baixa visão; surdos, ou com déficit auditivo; com deficiência mental; com de- ficiência física, superdotados, destacan- do-se o material escolar pedagógico adap- tado; a adequação de postura (mobiliário); a mobilidade; a comunicação aumentativa e alternativa; a informática acessível e os projetos arquitetônicos para acessibilida- de, entre outros. Dessa forma, as ajudas técnicas e as tecnologias assistivas constituem campo de atuação da educação especial que têm por finalidadeatender o que é específico dos alunos com necessidades educacio- nais especiais, buscando recursos e es- tratégias que favoreçam seu processo de aprendizagem, habilitando-os funcional- mente na realização de tarefas escolares. No processo educacional, poderão ser utilizadas nas salas de recursos, tanto a tecnologia avançada, quanto os compu- tadores e softwares específicos, como também os recursos de baixa tecnologia, que podem ser obtidos ou confeccionados artesanalmente pelo professor, a partir de materiais que fazem parte do cotidiano escolar. 11 12 UNIDADE 3 - Público-alvo e os recursos humanos 11 Os alunos, público-alvo do atendimen- to educacional especializado, são aqueles com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, no ensino regular. 3.1 Público-alvo Reforçando: a sala de recursos mul- tifuncionais é um espaço para a rea- lização do atendimento educacional especializado de alunos que apresen- tam, ao longo de sua aprendizagem, alguma necessidade educacional es- pecial, temporária ou permanente, compreendida, segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, em três grupos: 1. Alunos com dificuldades acentu- adas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que difi- cultam o acompanhamento das ativida- des curriculares: aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica ou aquelas relacionadas a condições, disfunções, li- mitações ou deficiências. 2. Alunos com dificuldades de comu- nicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos. 3. Alunos que evidenciem altas habi- lidades/superdotação e que apresentem uma grande facilidade ou interesse em re- lação a algum tema ou grande criatividade ou talento específico. Incluem-se, nesses grupos, alunos que enfrentam limitações no processo de aprendizagem devido a condições, dis- túrbios, disfunções ou deficiências, tais como, autismo, hiperatividade, déficit de atenção, dislexia, deficiência física, para- lisia cerebral e outros. 3.2 Caracterização das defi- ciências do público-alvo das salas de recursos multifun- cionais A literatura é extensa e rica ao tratar das diversas deficiências, mas nesse mo- mento falaremos brevemente sobre cada um delas, pois o foco são as SRM e não as deficiências em si, mas como dito, há vasto material e algumas referências dão a dica para aqueles que desejam se aprofundar. a) Deficiência intelectual/mental Segundo a American Association on In- tellectual and Developmental Disabilities – AAIDD (AAMR, 2006, p. 20 apud SOUSA, 2011, p. 36), deficiência intelectual/men- tal é a incapacidade caracterizada por importantes limitações, tanto no funcionamento intelectual como no comportamento adaptativo, ex- pressa nas habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas. Essa incapacidade tem início antes dos 18 anos de idade. As habilidades intelectuais referem- -se à inteligência, cuja aplicação se dá por meio do raciocínio e organização do pen- samento que precisa ser observado des- de a infância para que se possa identificar suas reais necessidades. 11 1212 b) Deficiência Auditiva O Decreto Federal nº 3.298 de 20 de de- zembro de 1999, alterado pelo Decreto nº 5.296/2004 estabelece como deficiência auditiva a “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz”. Considerando a linguagem como uma capacidade humana que se desenvol- ve na interação com o outro (VIGOTSKY, 2000), devemos ressaltar o fato que o indivíduo não exposto a um ambiente lin- guístico que propicie a aquisição de uma língua, ao longo dos seus primeiros anos de vida, apresentará defasagem em seu desenvolvimento linguístico. Isso porque esse é o período de denominado “ótimo” para aquisição de uma língua. Cole e Cole (2004) afirmam que o desenvolvimen- to da linguagem de uma criança que não é exposta a uma experiência linguística direta, mas apenas à vida cotidiana orga- nizada pela linguagem, não terá como de- senvolver todo o seu potencial linguístico. Para que haja um desenvolvimento com- pleto, a criança precisa escutar (ou ver) a linguagem. c) Deficiência Visual A deficiência visual refere-se a uma si- tuação de perda total da visão – denomi- nada cegueira – ou a um quadro de baixa visão. Pode-se, portanto, conceituá-la como: cegueira – situação de ausência to- tal de visão, chegando, inclusive, à perda total de projeção de luz. O estudante cego necessita, para o seu desenvolvimento educacional, de atendimentos específi- cos, tais como: domínio do Braille, soro- ban, orientação e mobilidade, dentre ou- tros; baixa visão – prejuízo da função vi- sual mesmo após tratamento e/ou refra- ção óptica. As condições de baixa visão são variáveis, bem como as necessidades educacionais especiais do estudante com baixa visão, que variam de um para outro, de acordo com o grau de sua perda visual. d) Surdo cegueira A deficiência surdo cegueira não se re- fere apenas à soma das condições impos- tas pela surdez e pela cegueira. A pessoa surda e cega apresenta várias dificulda- des em razão da falta de um sentido que lhe permita perceber os fatos do ambien- te que a cerca, impossibilitando a anteci- pação do que vai acontecer ao seu redor. Essas crianças necessitam de recursos e metodologias que possibilitem a cons- trução do conhecimento com a utilização dos sentidos remanescentes, entre eles o cutâneo, cinestésico (corporal - articu- lações e músculos; e sensorial visceral), gustativo e olfativo (MEC, SEESP, 2004). As pessoas surdo cegas apresentam ca- racterísticas distintas e variáveis, interli- gadas a fatores que a levaram a essa con- dição. Esses fatores e as consequências deles decorrentes variam de acordo com o ambiente familiar, social e cultural, bem como de acordo com o acesso a recursos de atendimento clínico, escolar e a outros serviços necessários ao seu desenvolvi- mento. e) Deficiência Múltipla O termo deficiência múltipla tem sido utilizado com frequência para caracteri- zar o conjunto de duas ou mais deficiên- cias associadas, podendo ser de ordem 13 14 física, sensorial e/ou intelectual. Entre- tanto, conforme documentos orienta- dores nacionais (MEC/Educação Infantil, 2002, v. 4), a caracterização do estudante com deficiência múltipla não se dará ape- nas em decorrência da somatória aleató- ria de suas deficiências, mas da observa- ção quanto ao grau de implicação dessas deficiências para a pessoa. Nesse sentido, o nível de comprometimento e as possibi- lidades funcionais do estudante, de sua comunicação, de sua interação social e de aprendizagem é que determinam as ne- cessidades educacionais do estudante. f) Deficiência Física A deficiência física é caracterizada pelo comprometimento de condições motoras que acometem algumas pessoas de for- ma a comprometer-lhes a mobilidade, sua coordenação motora geral e/ou sua fala. Geralmente essas implicações são conse- quentes de lesões neurológicas, neuro- musculares, ortopédicas, reumáticas ou má-formação de natureza congênita. Des- sa forma, conforme documentos orienta- dores nacionais (MEC, 2004), a deficiên- cia física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor, que compreende o sistema osteoarticular, o sistema mus- cular e o sistema nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros de limitações físicas de grau e gravidade variáveis, se- gundo o(s) segmento(s) corporal(is) afe- tados(s) e o tipo de lesão ocorrida. g) Transtornos Globais do Desenvol- vimento (TGD) Os estudantes com Transtornos Glo- bais do Desenvolvimento(TGD) são aque- les que possuem diagnósticos de autis- mo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil, conforme classificação do Ministério da Educação (MEC/SEESP, 2007). Além desses diagnósticos, é im- portante ressaltar que as classificações e características dos transtornos incluídos nessa categoria são aquelas constantes no Manual de Diagnóstico e Estatística das Doenças Mentais – DSM IV-TR - (APA. 2002) e na Classificação Internacional de Doenças – CID 10 - (OMS, 2000). O autismo é um transtorno global do desenvolvimento caracterizado por um desenvolvimento anormal ou alterado, manifestado antes da idade de três anos, e apresenta uma perturbação caracterís- tica do funcionamento em cada um dos três domínios: interações sociais, comu- nicação, e comportamento focalizado e repetitivo. O autismo apresenta grandes dificulda- des para ser diagnosticado e é considerado como uma síndrome comportamental com etiologias múltiplas. É caracterizado por provocar um comprometimento acentua- do no uso de múltiplos comportamentos não-verbais, tais como: contato visual di- reto, expressão facial, posturas corporais e gestos para regular a interação social, e acentuado fracasso em desenvolver ha- bilidades de comunicação apropriadas ao nível de desenvolvimento esperado, isso porque a pessoa com autismo apresenta uma falta de disposição para compartilhar prazeres, interesses ou realizações com outras pessoas, bem como não apresenta reciprocidade social ou emocional. O autismo atípico é um transtorno glo- bal do desenvolvimento que se caracteriza por apresentar, geralmente após a idade 13 14 de três anos, características que não res- pondem aos três grupos de critérios diag- nósticos do autismo infantil. Dessa forma, a criança não apresentará manifestações patológicas suficientes em um ou dois dos três domínios psicopatológicos no autis- mo infantil. Assim, podem ser observadas características de interações sociais re- cíprocas, comunicação, comportamentos limitados, estereotipados ou repetitivos implicados no autismo infantil. O autismo atípico ocorre habitualmente em crianças que apresentam um retardo mental pro- fundo ou um transtorno específico grave do desenvolvimento de linguagem do tipo receptivo. O Transtorno de Rett é caracterizado por um desenvolvimento inicial, aparente- mente normal, seguido de uma perda par- cial ou completa de linguagem, da marcha e do uso das mãos, associado a um atraso no desenvolvimento craniano e que ocor- re habitualmente entre 7 e 24 meses. Por isso, observa-se que o desenvolvimento social e o lúdico permanecerão detidos enquanto o interesse social continuará, em geral, conservado. O transtorno desintegrativo da infân- cia é uma espécie de transtorno global do desenvolvimento caracterizada por ser antecedido por um período de desen- volvimento completamente normal, cuja característica é a perda manifesta das ha- bilidades, anteriormente adquiridas em vários domínios do desenvolvimento, em um período de poucos meses. Essas mani- festações são acompanhadas tipicamen- te por uma perda global do interesse pelo ambiente, pela apresentação de condu- tas motoras estereotipadas, repetitivas e maneirismos, bem como por uma alte- ração do tipo autístico da interação social e da comunicação. Pode ser também cha- mado de demência infantil, psicose desin- tegrativa, psicose simbiótica ou síndrome de Heller. O Transtorno de Asperger é um trans- torno caracterizado por uma alteração qualitativa das interações sociais recí- procas, semelhante à observada no au- tismo, com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e re- petitivo. Entretanto, ele se diferencia do autismo essencialmente pelo fato de não ser acompanhado de um retardo ou de uma deficiência de linguagem ou do de- senvolvimento cognitivo. Esse transtorno é acompanhado, por vezes, de episódios psicóticos no início da idade adulta. É tam- bém chamado de psicopatia autística ou transtorno esquizóide da infância. h) Altas Habilidades/Superdotação A heterogeneidade desse grupo de in- divíduos apresenta-se como um desafio à definição de parâmetros precisos que determinem um conceito único de altas habilidades/superdotação. O que na prá- tica ocorre é a construção desses parâ- metros a partir dos referenciais teóricos adotados para o atendimento educacio- nal especializado ofertado pelos diversos sistemas de ensino (ALENCAR; FLEITH, 2001). No que se refere à definição oficial, o MEC/SEESP, ao lançar a Política Nacio- nal de Educação Especial na Perspectiva da Educação inclusiva, em 2008, consi- dera estudantes com altas habilidades/ superdotação aqueles que demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, iso- ladas ou combinadas, além de potencial 15 16 criativo, envolvimento na aprendizagem e na realização de tarefas em áreas de seu in- teresse. Algumas Secretarias adotam o modelo dos Três Anéis, proposto por Renzulli (1978, 1986, 1988 apud FLEITH, 2001), através do qual a visão de superdotação ocorre como resultado da interação de três fatores: ha- bilidade acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade. Esse modelo vem ao encontro das diretrizes para a educação do superdotado e talentoso recomenda- das pelo Ministério da Educação e Desporto (FLEITH, 2001). Esses alunos que, muitas vezes, não têm encontrado respostas às suas necessida- des educacionais especiais no sistema de ensino, poderão ser beneficiados com os recursos de acessibilidade por meio de aju- das técnicas e de tecnologias assistivas, uti- lização de linguagens e códigos aplicáveis e pela abordagem pedagógica que possibilite seu acesso ao currículo. Mediante tantas espécies de deficiência, não se tem a pretensão de esgotar o amplo espectro de alunos que têm direito ao aten- dimento educacional especializado, ficando os sistemas de ensino com a responsabilida- de e autonomia para se organizar conforme as necessidades apresentadas por seus alu- nos. Segundo o Parecer CNE/CEB nº 17/2001, o projeto pedagógico de uma escola inclusi- va deverá atender ao princípio da flexibilida- de para que o acesso ao currículo seja ade- quado às condições do aluno, favorecendo seu processo escolar. Dessa forma, devem ser observadas as variáveis que podem in- terferir no processo de aprendizagem, tais como: as de cunho individual do aluno, as condições da escola, a prática docente, as diretrizes do sistema de ensino, bem como a relação entre todas elas. Portanto, são beneficiados com atendi- mento educacional especializado todos os alunos que encontram respostas às suas necessidades educacionais especiais. Essas respostas são estabelecidas na relação en- tre a modalidade da Educação Especial e as etapas da educação. Quanto às crianças com idade de zero a três anos, o AEE se efetiva por meio de ser- viços de estimulação precoce, os quais têm como objetivo otimizar o processo de de- senvolvimento e aprendizagem em conso- nância com outros serviços públicos. Avan- çando no processo de desenvolvimento e potencializando a sua aprendizagem, para os alunos com deficiência visual, surdez, de- ficiência física, intelectual e motora, o qua- dro abaixo descreve algumas das atividades desenvolvidas nesses espaços (ÁSFORA, 2012). Alunos com cegueira Ensinar o Sistema braile. Realizar atividades de Orientação e Mo- bilidade. Ensinar Atividades de Vida Diária (A VD). Transcrever materiais do braile para tinta e vice versa. Fazer adequação de materiais didático- -pedagógico em parceria com o CAPs (Cen- tros de Atendimento Pedagógico para Defi- cientes Visuais). Alunos com baixa visão Ensinar a usar os recursosópticos e não ópticos. 15 16 Estimular o resíduo visual com o uso de materiais que tenham cores fortes e contratantes. Ampliação de fontes. Produção de materiais com contraste visual. Produção de materiais didático-pe- dagógicos adequados ao tipo visão. Alunos surdos Ensinar a Libras. Coordenar oficinas de Libras. Promover o aprendizado da língua portuguesa na modalidade escrita. Encaminhar para os serviços de fo- noaudiologia os que optarem pela oraliza- ção. Estabelecer parceria com o CAS. Adequar materiais didático-pedagó- gicos que promovam experiências visuais de ensino. Alunos com deficiência física Adequar materiais didático-pedagó- gicos. Adequar recursos de informática. Adequar o mobiliário. Providenciar recursos de auxílio da AVD e recursos de mobilidade. Desenvolver projetos em parceria com profissionais da arquitetura, terapia ocupacional, fonoaudiologia, engenharia, dentre outros. Alunos com deficiência mental Promover atividades em que o aluno seja sujeito ativo do conhecimento e que resgate a autonomia. Ensinar AVD. Possibilitar o desenvolvimento da criatividade. Fonte: Ásfora (2012, p. 37-8). 3.3 Recursos Humanos O professor da sala de recursos multi- funcionais deverá ter curso de graduação, pós-graduação e ou formação continua- da que o habilite para atuar em áreas da educação especial para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos. A formação docente, de acordo com sua área específica, deve desenvol- ver conhecimentos acerca de: Comunica- ção Aumentativa e Alternativa, Sistema Braille, Orientação e Mobilidade, Soroban, Ensino da Língua Brasileira de Sinais – Li- bras, Ensino de Língua Portuguesa para Surdos, Atividades de Vida Diária, Ativi- dades Cognitivas, Aprofundamento e En- riquecimento Curricular, Estimulação Pre- coce, entre outros. O professor da sala de recursos multifuncionais tem como atribui- ções: atuar como docente nas atividades de complementação ou suplementação curricular específica que constituem o atendimento educacional especializado dos alunos com necessidades educacio- nais especiais; atuar de forma colaborativa com o professor da classe comum para a defini- 17 18 ção de estratégias pedagógicas que favo- reçam o acesso do aluno com necessida- des educacionais especiais ao currículo e a sua interação no grupo; promover as condições para a inclu- são dos alunos com necessidades educa- cionais especiais em todas as atividades da escola; orientar as famílias para o seu en- volvimento e a sua participação no pro- cesso educacional; informar à comunidade escolar acerca da legislação e normas educacio- nais vigentes que asseguram a inclusão educacional; participar do processo de identi- ficação e tomada de decisões acerca do atendimento às necessidades educacio- nais especiais dos alunos; preparar material específico para uso dos alunos na sala de recursos; orientar a elaboração de materiais didático-pedagógicos que possam ser uti- lizados pelos alunos nas classes comuns do ensino regular; indicar e orientar o uso de equipa- mentos e materiais específicos e de ou- tros recursos existentes na família e na comunidade; articular, com gestores e profes- sores, para que o projeto pedagógico da instituição de ensino se organize coleti- vamente numa perspectiva de educação inclusiva. Salienta-se que o professor da sala de recursos multifuncionais deverá parti- cipar das reuniões pedagógicas, do pla- nejamento, dos conselhos de classe, da elaboração do projeto pedagógico, de- senvolvendo ação conjunta com os pro- fessores das classes comuns e demais profissionais da escola para a promoção da inclusão escolar. Sobre a questão dos recursos huma- nos, Barreto e Goulart (2008) nos lem- bram que eles são elementos essenciais à prática da educação inclusiva e salientam que a necessidade de recursos humanos devidamente capacitados para atuarem em classes inclusivas implica não só o co- nhecimento a respeito das especificida- des da deficiência com a qual se vai tra- balhar, mas também uma reflexão crítica acerca do sentido da educação e de suas finalidades. Professores do ensino regular e da educação especial deveriam relacionar-se como aliados em busca dos mesmos obje- tivos e não como “detentores” de um sa- ber direcionado unicamente à sua área de atuação (SERRA, 2006). Infelizmente, essa não é a realidade de muitas escolas, alguns professores do en- sino regular, por falta de conhecimento ou “comodismo”, depositam toda a respon- sabilidade nos serviços de apoio, como se estes fossem os únicos responsáveis pela aprendizagem e inclusão de alunos com necessidades educativas especiais e/ou dificuldades escolares. Construir e cultivar políticas de inclu- são pressupõe planejar novas formas de atuação, com intencionalidade e ousadia, a fim de que os aspectos criativos do tra- balho docente possibilitem novas formas de intervenção que garantam a partici- pação de todos em diferentes campos de atuação e em diferentes espaços. Aqui, 17 18 mais uma vez, o sujeito professor entra em cena, na medida em que planejar é pensar e criar estratégias. O pensar é um ato individual, mas não é solitário. Afinal, não podemos esquecer que ninguém pen- sa sozinho. Pensar envolve ouvir e ser ou- vido pelos outros. É no pensar com o outro e para o outro que o professor pode en- contrar as estratégias adequadas a cada tipo de situação e problema enfrentado. (SALGADO, 2006, p. 62). Ao analisar a formação e a ação peda- gógica do professor, no processo de in- clusão, Salgado (2006 apud BARRETO e GOULART, 2008) conclui que a prática depende fundamentalmente da sua cons- tituição histórica, seus valores e convic- ções. Sugere ainda a utilização dos três AAA, de Nóvoa, aderir, agir e autocons- cientizar-se, essenciais à transformação de verdades e conceitos em novos para- digmas, que garantam uma relação dialó- gica entre os sujeitos, e que a Educação possa ser “especial” para todos. O documento Sala de Recursos Multi- funcionais: espaço para o atendimento educacional especializado, elaborado pelo Ministério da Educação e Secretaria da Educação Especial, em 2006, ao se referir ao atendimento dos alunos com deficiên- cia mental nas Salas de Recursos, reafirma as áreas de desenvolvimento e esclarece que “[...] os professores realizam a me- diação docente de forma a desenvolver os processos cognitivos, também chama- dos processos mentais, que oportunizam a produção do conhecimento” (ALVES, 2006, p. 21). Nessa perspectiva, cabe ao profes- sor: realizar atividades que estimulem o desenvolvimento dos processos mentais: atenção, memória, raciocínio, imaginação, criatividade, linguagem, entre outros; proporcionar ao aluno o conheci- mento de seu corpo, levando-o a usá-lo como instrumento de expressão cons- ciente na busca de sua independência e na satisfação de suas necessidades; fortalecer a autonomia dos alunos para decidir, opinar, escolher e tomar ini- ciativas, a partir de suas necessidades e motivações; propiciar a interação entre os alu- nos em ambientes sociais, valorizando as diferenças e a não-discriminação; preparar materiais e atividades específicas para o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos (ALVES, 2006, p. 23-24). Ressalte-se o papel socializador do pro- fessor que atuará nessas salas, pensando não somente no aluno como também nas relações com suas famílias, conforme ve- remos adiante. 19 2019 UNIDADE 4 - As salas de recursos multifuncionais 4.1 Especificações O Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais disponibiliza equipamentos, mobiliários, materiaisdi- dáticos e pedagógicos para a organização das salas e a oferta do atendimento edu- cacional especializado – AEE. As salas podem ser de dois tipos: tipo I e de tipo II, variando a sala do tipo II devido adicionar recursos de acessibilidade para alunos com deficiência visual. Ambas as salas terão os seguintes equipamentos, mobiliários e materiais di- dáticos: Equipamentos 02 microcomputadores 01 laptop 01 estabilizador 01 scanner 01 impressora laser 01 teclado com colmeia 01 acionador de pressão 01 mouse com entrada para acio- nador 01 lupa eletrônica Mobiliário 01 mesa redonda 04 cadeiras 01 mesa para impressora 01 armário 01 quadro branco 02 mesas para computador 02 cadeiras Material didático pedagógico 01 material dourado 01 esquema corporal 01 bandinha rítmica 01 memória de numerais 01 tapete alfabético encaixado 01 Software comunicação alterna- tiva 01 sacolão criativo monta tudo 01 quebra-cabeça – sequência lógi- ca 01 dominó de associação de ideias 01 dominó de frases 01 dominó de animais em Libras 01 dominó de frutas em libras 01 dominó tátil 01 alfabeto Braille 01 kit de lupas manuais 01 plano inclinado – suporte para leitura 01 memória tátil Na sala do tipo II será acrescido 01 impressora Braille – pequeno porte 19 2020 01 máquina de datilografia Braille Máquina e impressora Braille 01 Reglete de mesa 01 Punção Reglete de mesa com dois tipos de punção 01 Soroban (utiliza base decimal para representar os números) 01 Guia de assinatura 01 kit de Desenho Geométrico 01 Calculadora Sonora 4.2 Recursos e materiais pe- dagógicos Entre a grande variedade de mate- riais e recursos pedagógicos, alguns citados acima e que podem ser utili- zados para o trabalho na sala de re- cursos multifuncionais, destacam-se: jogos pedagógicos que valorizam os aspectos lúdicos, a criatividade e o de- senvolvimento de estratégias de lógica e pensamento. Os jogos e materiais peda- gógicos podem ser confeccionados pelos professores da sala de recursos e devem obedecer a critérios de tamanho, espes- sura, peso e cor, de acordo com a habilida- de motora e sensorial do aluno. São muito úteis as sucatas, folhas coloridas, fotos e gravuras, velcro, ímãs, etc.; jogos pedagógicos adaptados para atender às necessidades educacionais es- peciais dos alunos, como aqueles confec- cionados com simbologia gráfica, utilizada nas pranchas de comunicação correspon- dentes à atividade proposta pelo pro- fessor, ou ainda aqueles que têm peças grandes, de fácil manejo, que contemplam vários temas e desafios para escrita, cál- culo, ciências, geografia, história e outros; 21 2221 livros didáticos e paradidáticos im- pressos em letra ampliada, em Braille, di- gitais em Libras, com simbologia gráfica e pranchas de comunicação temáticas cor- respondentes à atividade proposta pelo professor; livros de histórias virtuais, li- vros falados, livros de histórias adaptados com velcro e com separador de páginas, dicionário trilíngue: Libras/Português/In- glês e outros; recursos específicos como reglete, punção, soroban, guia de assinatura, ma- terial para desenho adaptado, lupa manu- al, calculadora sonora, caderno de pauta ampliada, caneta ponta porosa, engros- sadores de lápis e pincéis, suporte para livro (plano inclinado), tesoura adaptada, softwares, brinquedos e miniaturas para o desenvolvimento da linguagem, reco- nhecimento de formas e atividades de vida diária, e outros materiais relativos ao desenvolvimento do processo educacio- nal; mobiliários adaptados, tais como: mesa com recorte, ajuste de altura e ân- gulo do tampo; cadeiras com ajustes para controle de tronco e cabeça do aluno, apoio de pés, regulagem da inclinação do assento com rodas, quando necessário; tapetes antiderrapantes para o não des- colamento das cadeiras (ALVES, 2006). 21 2222 UNIDADE 5 - As salas multifuncionais nas escolas regulares e o atendimento às famílias 5.1 Importância das salas no ensino regular Tanto porque as palavras (e suas defi- nições lato sensu) “exclusão” e “precon- ceito” ainda façam parte, mesmo que de maneira sorrateira, do código de conduta de grande maioria da sociedade, torna-se necessário discutir a questão do atendi- mento educacional especializado nas es- colas regulares, ponto que merece ser re- visto devido a sua atualidade. Vamos tomar como sustentáculo para esse aporte (das salas multifuncionais no ensino regular) as considerações de Vy- gotsky e Bronfenbenner. O segundo pesquisador, falecido re- centemente (2005), apresenta uma teo- ria ecológica na qual o desenvolvimento humano é definido como o conjunto de processos através dos quais as particula- ridades da pessoa e do ambiente intera- gem para produzir constância e mudança nas características da pessoa no curso de sua vida. Sua teoria se apoia em quatro níveis dinâmicos e inter-relacionados: a pessoa, o processo, o contexto e o tempo que, de forma resumida se reporta a microam- bientes pelos quais a criança vai passando e extraindo ou não o equilíbrio. Ao tratar do ecossistema, Bronfenbren- ner considera os ambientes onde a pes- soa em desenvolvimento não se encontra presente, mas cujas relações que neles existem afetam seu desenvolvimento. As decisões tomadas pela direção da escoli- nha, os programas propostos pelas asso- ciações de bairro, as relações de seus pais no ambiente de trabalho são exemplos do funcionamento deste amplo sistema. Focando o ambiente escolar e as in- ter-relações que as crianças podem par- ticipar ali é fácil inferir que irão fazer a diferença para a criança, cada uma a seu tempo e dentro de suas possibilidades de desenvolvimento, portanto, justifica-se como viável e importante essa participa- ção, essa convivência na escola regular que é saudável e plural. Em relação ao processo educativo, Vy- gotsky considera que o contexto históri- co-cultural no qual o ser humano encon- tra-se, está diretamente relacionado ao seu desenvolvimento. Esse ambiente é capaz de intervir no comportamento so- cial, no desenvolvimento psicológico e, consequentemente, em sua progressão intelectual. Considera ainda que os pro- cessos mentais não são inatos, mas se originam entre indivíduos humanos e se desenvolvem ao longo do processo de in- ternalização de formas culturais de com- portamento e não de reações automáti- cas [...] (BESSA, 2006). Nessa linha, Vygotsky ressalta fato- res importantes para o desenvolvimento, como o estímulo ou elemento mediador, que então resultará em alguma resposta. A relação entre o homem e o mundo não acontece simplesmente ao acaso, para ele, o fato de viver em sociedade é de suma importância para as modificações ocorridas na vida do homem. E através dessa convivência surge o conhecimento 23 24 e, consequentemente, a aprendizagem. Segundo os princípios de Vygotsky, a aprendizagem se caracteriza por meio das relações experimentadas que se constrói e que vão permitir o desenvolvimento mental, uma vez que a criança nasce dotada de ape- nas funções psicológicas elementa- res. e a partir da relação com o meio social as crianças passam a desenvolver funções psicológicas mais bem dotadas ou enten- didas como funções superiores (SOUZA; MARTINS, 2006). Considerando esse desenvolvimento, cabe ressaltar que isso acontece devido outras questões envolvidas nesse meio. Para Vygotsky, a relação do homem com seu contexto não é de forma direta, mas é feita através de interferências de ele- mentos definidos por ele como instru- mentos e signos. [...] a formação histórica e social da consciência se dá ante as açõesdo homem em sua vida social, media- das pelo uso de instrumentos e de signos. É justamente, a criação e a apropriação de ferramenta e de ins- trumentos psicológicos (signos) que leva a efetivar o trabalho instrumen- tal (VYGOTSKY, 1989 apud SIERRA, 2009, p. 2). Utilizando esses elementos, Vygotsky faz apreciação ao fato da mediação no contexto da aprendizagem. Para ele, as informações levadas às crianças possuem um veiculador identificado como “estímu- lo” que irá intermediar as respostas da- das por elas. Estímulo também entendido de outra forma. A partir do momento em que Vygotsky define o que poderia agra- var o desenvolvimento e a personalidade de uma criança se tem o seguinte: “de um lado, o defeito é a limitação, [...] a diminui- ção do desenvolvimento; por outro lado, porque precisamente origina dificulda- des, estimula o movimento elevado e in- tensificado pelo desenvolvimento” (VY- GOTSKY, 1989 apud SIERRA, 2009, p. 5). Além disso, precisamos nos lembrar da linguagem, o principal instrumento de in- termediação no qual surge como funda- mental a zona de comunicação para que o estímulo seja possível e que seja causa das respostas processadas (MACIEL, 2011). Sierra (2009, p. 3) descreve que base- ando-se na teoria vygotskiana, é possível afirmar que a defesa de que pessoas com deficiências [...], podem vir a conquistar um nível de desenvolvimento elevado dos seus psiquismos e consciência, valendo- -se do pensamento e da linguagem ver- bais para apreenderem o mundo e com- preendê-lo para, depois, intervir sobre o mesmo. Dessa maneira, reafirmando as ideias do estudioso, a linguagem se mostra, portanto, como uma forma de edificar a cultura, enriquecendo-a com sistemas complementares como a fala e o pensa- mento. E nessas características, a fala para Vygotsky, surge a partir do momento em que a criança interiorizou um aspecto do mundo externo em meio constante de interação. Para o autor, é como uma forma de “caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características formam-se, ao longo da histórica humana, e de como se desenvolvem durante a vida 23 24 de um indivíduo” (VYGOTSKY, 1984, p. 21 apud SIERRA, 2009). Eis o ponto que queríamos chegar: a revelação da grande importância do con- vívio social para todas as crianças, inde- pendente de qualquer tipo de transtorno, pois como enfatiza Vygotsky, é o meio interacionista, o meio de interação social onde os planos mentais superiores serão construídos. Para ele, estudar as maneiras de desen- volvimento vinculadas ao relacionamento pessoal é sinônimo de relacionar pensa- mento/fala/linguagem, fatores cruciais que orientam o desenrolar dos seus es- tudos com as crianças portadoras de dis- túrbios de aprendizagem ou qualquer ne- cessidade de educação especial, uma vez que sua trajetória foi marcada por fatores relacionados a esse cenário. Seguindo essa linha de pensamentos, é possível perceber a necessidade e im- portância em transformar a educação especial em educação especial inclusiva, (entenda-se aqui a inclusão na escola re- gular) uma vez que para o efetivo desen- volvimento da criança com transtorno de qualquer espécie que a faça portadora de necessidades especiais, torna-se de maior importância sua inserção no meio social, considerando ainda que a coletivi- dade seja sinônimo de desenvolvimento, portanto, é possível e real buscar na es- cola regular formas de complementação como as salas multifuncionais, para tra- balhar de maneira específica, as diversas peculiaridades dos alunos (MACIEL, 2011). 5.2 A organização curricular Um ponto de grande importância que não pode ser desconsiderado em nenhu- ma ferramenta de inclusão é a questão da concepção curricular. O currículo escolar deixou de ser algo isolado e estanque que representava apenas a organização e se- riação dos conteúdos, o mesmo já não é mais desprovido de significações que pos- sam contribuir para o desenvolvimento do educando com um todo (SOUSA, 2011). Hoje, além de orientar as atividades educativas e as formas de executá-las, apresenta-se como um recurso que consi- dera todas as dimensões educativas, cul- turais e sociais do aluno, sendo, portanto um elemento representativo das expec- tativas pedagógicas de todos os envolvi- dos no processo, a fim de garantir respei- to às particularidades dos estudantes e oportunizar condições de aprendizagem para todos. Viegas e Carneiro (2003 apud SOUSA, 2011) definem o currículo como sendo “o lugar organizado e instrumentador da singularidade do sujeito”. Essa concepção toma-se de grande importância no atual contexto da Educação Inclusiva, pois com- promete-se com as diferenças individuais. Embora o currículo considere vários as- pectos da vida escolar dos alunos, ainda apresenta uma inflexibilidade que pode gerar algumas consequências para o pro- gresso educacional, o que ocasionou e ocasiona a necessidade das adaptações curriculares para a educação especial. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em seu Capítulo 5, consolida a Educação Especial como sendo a modali- dade de educação escolar oferecida ao es- 25 26 tudante com necessidades educacionais especiais. Propõe o recurso da adequação curricular como resposta às demandas de aprendizagem de um número elevado de estudantes prejudicados pela massifica- ção existente na educação formal decor- rentes da homogeneização da ação peda- gógica e da rigidez dos currículos. Esse recurso é construído e bastante utilizado no trabalho das salas de recur- sos, pois possibilita o aluno deficiente um aprendizado de acordo com suas possibili- dades e não de acordo com os padrões ou normas vigentes (SOUSA, 2011). Michels, Carneiro e Garcia (2010) também ao analisarem a organização do trabalho pedagógico da educação especial na educação básica, inferem que ele se apoia em duas premissas complementares: 1º. A defesa de uma abordagem edu- cacional de atendimento que se apoia na concepção das “necessidades educacio- nais especiais” para se contrapor ao mo- delo médico-psicológico de atendimento aos alunos da educação especial. 2º. A crítica à homogeneização da es- cola do ensino regular: completa a primei- ra e defende o reconhecimento da hete- rogeneidade dos alunos ao contrapor-se à homogeneização pretendida pelas esco- las do ensino regular. Outros pontos que atravessam este debate são os “serviços” pedagógicos, os locais de atendimento, as funções da edu- cação especial na educação básica e as propostas de flexibilização e adaptação curriculares. Os serviços educacionais são classificados como regulares e especiais, identificando claramente a necessidade de criação ou manutenção de atendimen- tos especializados para os alunos consi- derados com necessidades especiais. O modelo médico-psicológico contri- buiu para que a tarefa da educação es- pecial estivesse a serviço de um sistema educacional de organização seriada, eli- tista e classificatória, produtor de exclu- são da escola de ensino fundamental e estruturado historicamente por meio de uma organização racional do trabalho pe- dagógico com base na homogeneidade. Faz parte do processo de escolarização no Brasil a identificação dos “alunos que não acompanham o ensino” (LATERMAN, 2004) e a consequente criação de estru- turas responsáveis pelo diagnóstico de deficiências, dificuldades de aprendiza- gem e fracasso escolar. O princípio de homogeneidade foi to- mado como organizador das estruturas e serviços voltados a práticas educacionais de separação dos alunos, as quais contri- buíram, em grande medida, para os resul- tados de evasão e repetência no ensino fundamental. As estruturas de atendi- mento de educação especial forampro- postas sob esse mesmo critério, confor- me demonstra JANNUZZI (2004). Entretanto, nas duas últimas décadas, junto à universalização do ensino funda- mental, com ampliação da cobertura de matrículas, percebe-se uma mudança na composição dos alunos e um acento no discurso do reconhecimento da heteroge- neidade na escola. Uma nova proposição de organização racional do trabalho peda- gógico foi colocada, agora com base na di- versidade e na heterogeneidade que põe para a escola a necessidade de mudanças curriculares. Acredita-se que o modelo 25 26 médico-psicológico já não é mais referên- cia, nem apoiado nas diferenças individu- ais (COLL et al., 1996; BRASIL, 1998). Pode-se afirmar que a organização do trabalho pedagógico na propos- ta de educação especial na educa- ção básica (BRASIL, 2001), no âmbito nacional, orientava-se pelo local de atendimento: 1) Na escola regular (classe comum, classe especial e sala de recursos). 2) Na escola especial (em seus diferen- tes níveis de atendimento). 3) Em ambiente não escolar (classe hos- pitalar e atendimento domiciliar). O local de atendimento mantinha ínti- ma relação com as funções que estão pre- vistas para o atendimento especializado: apoiar, complementar e suplementar e, por último, substituir os serviços educa- cionais comuns. A diversificação do aten- dimento possibilitava contemplar uma grande variedade de necessidades que podiam ser apresentadas pela heteroge- neidade dos alunos da educação especial. Em 2008, a Secretaria de Educação Es- pecial do Ministério de Educação, elabo- rou, mediante a constituição de um grupo de trabalho, o documento Política Nacio- nal de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva (BRASIL, 2008) indicando al- gumas mudanças sobre a educação dos sujeitos historicamente atendidos pela Educação Especial. Destaca-se a função da Educação Especial que passa a ser de apoiar, suplementar e complementar, dei- xando de valer a função de substituição da educação comum para as crianças e jovens na faixa etária obrigatória em ter- mos de escolarização. Com isso, do ponto de vista curricular, o lócus preferencial do atendimento educacional especializado passa a ser a sala de recursos multifun- cional. Ainda na esteira desses acontecimen- tos vimos o discurso avançar para a asso- ciação do AEE com atividades e recursos de acessibilidade e pedagógicos e, atual- mente, a atenção aos recursos materiais, equipamentos e espaços especializados presentes na educação especial passam a focar a educação regular, apostando em uma escola de melhor qualidade para os alunos com alguma necessidade especial. Evidentemente que a articulação do trabalho pedagógico utilizando tais recur- sos é de extrema importância, mas não podemos nos esquecer da questão curri- cular. Sacristán (2000) observa o currícu- lo escolar como a ferramenta essencial para a organização didática de processo de ensino e aprendizagem, o qual deve ser estruturado a partir da seleção de co- nhecimentos e das reinterpretações das práticas sociais, políticas, culturais, inte- lectuais e pedagógicas vivenciadas pela escola. No entendimento de Moreira e Baumel (2001), as classes especiais devem adotar o currículo regular oficial com as devidas adaptações e seu processo de ensino e aprendizagem deve ser baseado em ava- liações e diagnósticos de natureza educa- cional. Ressalte-se que o atendimento educa- cional especializado em salas de recursos multifuncionais não consiste em sala de reforço, mas em complementação e su- 27 28 plementação e se constituem em formas de dar respostas às diferentes necessidades dos estudantes. A afirmativa de que esta sala não é reforço e que não deve ser a repe- tição do que ocorre na sala de aula comum, pode levar a diferentes compreensões, en- tre elas uma que tem afastado o trabalho do atendimento das salas de recursos do currí- culo escolar e dificultado o estabelecimento de relação desse serviço com o ensino co- mum (REZENDE; TARTUCE, 2013). Pois bem, se a escola inclusiva se funda- menta no reconhecimento das diferenças humanas e na aprendizagem centrada nas potencialidades dos alunos, ao invés da im- posição de rituais pedagógicos preestabele- cidos que acabam por legitimar as desigual- dades sociais e negar a diversidade, nessa perspectiva, as escolas devem responder às necessidades educacionais especiais de seus alunos, considerando a complexidade e heterogeneidade de estilos e ritmos de aprendizagem. Para tanto, é necessária uma nova estrutura organizacional, com currícu- los flexíveis, estratégias teóricas metodoló- gicas eficientes, recursos e parcerias com a comunidade. 5.3 Orientação e atendimen- to às famílias Muito além de a escola regular abrir suas portas para a inclusão de alunos portadores de necessidades especiais, precisamos pen- sar no papel da família como participante dessa longa caminhada, afinal, ela faz parte de um dos grupos de essencial importância na formação dos indivíduos. Concordamos com Portela e Almeida (2009) quando dizem ser preciso reconhe- cer entre os fatores que exercem influência educativa na formação da personalidade do indivíduo, a família e a escola, que ocu- pam um lugar imprescindível e indissociável. Apesar de possuírem características e pos- sibilidades diferenciadas, com bastante fre- quência essas instituições se superpõem e se complementam, atingindo ambas a con- duta do indivíduo de tal modo que não se pode abordar o desenvolvimento do indiví- duo e a sua educação sem tê-las em conta. Hoje, a família é interpretada como um contexto complexo, promotor do desenvol- vimento primário, da sobrevivência e da so- cialização da criança, e também um espaço de transmissão de cultura, significado social e conhecimento comum agregado ao longo das gerações (DESSEN; BRAZ, 2005). De fato, a família tem um papel central no desenvolvimento das pessoas, pelo fato de garantir sua sobrevivência física e permitir as aprendizagens básicas necessárias para o desenvolvimento dentro da sociedade (aprendizagem do sistema de valores, da lin- guagem e do controle da impulsividade). Por meio de diferentes mecanismos (recompen- sa, castigo, modelação e outras formas de interação com a criança), a família vai mol- dando as características psicológicas do in- divíduo (COLL; MARCHESI; PALACIOS, 2004; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005; DESSEN; COSTA, 2005). A família também é um contexto de so- cialização especialmente relevante para a criança, já que durante muitos anos é o prin- cipal ambiente no qual ela cresce (GOMIDE, 2004; WEBER, 2008 apud GUALDA; BORGES E CIA, 2013). A família transmite valores, ati- tudes, cultura, conhecimento e habilidades para a vida, com base na maneira como ofe- rece suporte emocional, social e financeiro para as crianças (DESSEN; SILVA, 2004). 27 28 No entanto, segundo Dorziat (2007), há o pressuposto de que as expectativas dos familiares podem tanto contribuir para o desenvolvimento escolar dos alunos como para a estagnação desse processo. No pri- meiro caso, não basta o conhecimento dos direitos legais dos diferentes à educação, mas também o reconhecimento por parte da família das capacidades alternativas de elaboração e construção de conheci- mentos, exigindo que o ambiente escolar cumpra seu papel educativo também para essas pessoas. Assume, assim, um papel importante na constituição de atitudes positivas, de aceitação da diferença em seus aspectos potenciais, enfim, pode ser um agente impulsionador do desenvolvi- mento dos(as) filhos(as), também no âm- bito escolar. A mesma autora acredita que muitas das situações observadas de estagnação quanto ao desenvolvimento escolar dos diferentes são consequências, essencial- mente, das baixasexpectativas quanto às suas capacidades, que podem começar no ambiente familiar. É confirmada e ratifica- da, ano após ano, a certeza inicial da inca- pacidade, da deficiência, postura essa que dificulta a busca de outras possibilidades de desenvolvimento, já corroborada pelas visões de desenvolvimento universal e padronizado existentes na escola. Que as famílias precisam se adaptar à nova rotina ao ter uma criança com neces- sidades especiais não há dúvidas, como também é evidente e incontestável a ne- cessidade do Estado oferecer suporte so- cial para diminuir o estresse e auxiliar no processo de adaptação que pode ser lon- go, focando as reais necessidades dessas famílias (GOITEIN; CIA, 2011). Estudos de Araújo (2004) e Williams e Aiello (2004) apontaram que os progra- mas de intervenção que envolvem as fa- mílias devem empoderá-las, a fim de que se tornem independentes e com habilida- des para buscar e ter recursos necessários ao longo do desenvolvimento do seu filho. Os programas de intervenção com famí- lias tendem a focar nos seus aspectos po- sitivos e de prepará-las para enfrentar as diferentes adversidades. Assim deve-se trabalhar com o controle de estresse, au- mentar o seu repertório de enfrentamen- to e ampliar a sua rede de apoio social. Mais recentemente, Gualda, Borges e Cia (2013) desenvolveram uma pesquisa que buscou investigar quais são os recur- sos e as necessidades dos pais de crianças pré-escolares com necessidades educa- cionais especiais e mais uma vez foi Bron- fenbrenner quem respaldou os resultados dessa pesquisa. Fazendo um recorte nes- ses resultados vamos apresentar apenas alguns pontos que se relacionam com a participação da família que possuem fi- lhos portadores de alguma necessidade especial e a educação inclusiva, no tocan- te à sala de recursos multifuncionais. Quanto maior a presença de ob- jetos e símbolos no ambiente imediato da criança, maior a probabilidade de que a criança explore e manipule os objetos ao seu redor, o que também favorece- rá a ocorrência dos processos proximais (BRONFENBRENNER, 1996 apud GUALDA, BORGES e CIA, 2013). Por serem os pais os principais me- diadores entre a criança e o mundo, o es- tabelecimento das relações afetivas den- tro da família, facilita não só a superação de possíveis divergências, como também 29 3029 a sua integração na sociedade (GOMIDE, 2004 apud GUALDA, BORGES e CIA, 2013). Os hábitos familiares devem ser mantidos por meio de uma grande comu- nicação, pois é fundamental dentro dos padrões familiares que os pais sejam res- ponsivos, ou seja, reajam de forma sensí- vel às necessidades das crianças procu- rando captar seus interesses (BEE; BOYD, 2011 apud GUALDA, BORGES e CIA, 2013). Ao nível macrossistêmico, enten- de-se que os investimentos destinados para os diferentes setores, podem ser fundamentais na minimização dos pro- blemas encontrados pelas famílias como, por exemplo, tratamentos adequados, presença de sala de recursos multifuncio- nais próxima aos lares e serviços de lazer disponíveis, tanto para as crianças quanto para os pais. 29 30 UNIDADE 6 - A utilização de softwares e outras experiências 30 6.1 Uso de softwares O avanço tecnológico e o desenvolvi- mento da engenharia de softwares vie- ram contribuir sobremaneira com o aten- dimento educacional especializado e com as salas de recursos multifuncionais, tan- to que dentre os equipamentos para es- tas salas encontramos computadores de mesa e laptops. No caso da Comunicação Aumentativa Alternativa (CAA) são usadas as pranchas, superfícies com símbolos selecionados de acordo com as necessidades do aluno e os próprios objetivos das pranchas. Elas podem dispor de fotografias, desenhos, imagens confeccionadas, com ou sem le- genda, alfabeto, números, enfim, quais- quer elementos necessários para efetivar a comunicação (SANTAROSA et al, 2010). O processo de comunicação por meio de pranchas consiste em apontar para aquilo que se deseja espessar, comuni- cando através das imagens, palavras con- tidas na prancha, ou até mesmo formando palavras a partir do alfabeto, no caso de sujeitos letrados ou em processo de letra- mento. O ato de apontar pode variar se- gundo o grau de comprometimento motor do usuário da prancha. Em alguns casos utilizam-se da CAA aliada a outras Tecno- logias Assistivas como apontadores, vo- calizadores, etc. Evidentemente que o uso das pran- chas requer estratégias pedagógicas que se adequem às necessidades do sujeito e que variam de acordo com o contexto, tor- nando-se presentes nos diversos espaços do dia a dia da criança (SANTAROSA et al., 2010). É importante salientar que as pranchas não são o único recurso para se trabalhar com símbolos gráficos: podem ser con- feccionados também cartões de comuni- cação, agendas, álbuns de fotografias e tantos outros acessórios que venham a se adequar ao contexto comunicacional do sujeito. Em todos estes recursos referidos, as imagens têm uma posição importante como ferramenta simbólica de comuni- cação, apresentando-se hoje por meio de softwares. Os símbolos podem ser esta- belecidos a partir de imagens fotográfi- cas, figuras desenhadas pelos mediado- res ou pelos sujeitos, ou figuras obtidas por outros meios. Porém, existem conjun- tos de imagens desenhadas a partir de um mesmo padrão. Dentre o conjunto dos sis- temas simbólicos, o sistema BLISS, o sis- tema PIC e o sistema PCS têm sido muito utilizados. O sistema Picture Communication Sym- bols (PCS) foi desenvolvido pela fonoaudi- óloga Roxana Mayer Johnson em meados de 1981, como forma de promover a CAA entre adultos e crianças. Atualmente, conta com mais de 6.000 símbolos colori- dos ou em preto e branco (MAYER-JOHN- SON, 2010 apud AVILA, 2011; SCHIRMER; BERSCH, 2007). Os PCS têm sido muito difundidos no âmbito internacional. Ao todo, já foram traduzidos para 10 idiomas distintos, in- cluindo o português (BERSCH e SCHIR- MER, 2007). O conjunto de símbolos PCS 31 32 pode ser encontrado nos softwares Bo- ardmaker e Escrevendo com Símbolos ou em livro (Combination Book). Os sistemas simbólicos podem ser ex- plorados em recursos de baixa tecnologia, constituindo-se elementos representati- vos em pranchas, álbuns ou cadernos de comunicação, por exemplo. Além disso, pode-se explorá-los em recursos de alta tecnologia, como é o caso dos PCS, que constituem o sistema simbólico do sof- tware Boardmaker. Porém, os sistemas simbólicos não pre- cisam necessariamente pertencer a um software para serem utilizados no mes- mo. Pode-se utilizar estes sistemas em softwares que não foram desenvolvidos especificamente para a CAA, mas que apresentam potencial para este fim. Vamos falar de alguns sistemas compu- tacionais que podem ser utilizados com a finalidade de desenvolver estratégias de CAA, sendo alguns deles softwares espe- cíficos para CAA e outros, apenas aplica- tivos que implementam estratégias peda- gógicas de uso da mesma. a) Amplisoft O Amplisoft é um conjunto de aplicati- vos desenvolvidos para pessoas com defi- ciência motora. Dentre os aplicativos en- contram-se o Editor Livre de Prancha e a Prancha Livre (ilustrados abaixo). O Editor Livre de Prancha é um aplicativo que per- mite construir uma prancha com espaços definidos para a inserção de imagens para uso impresso. 1)Tela principal do editor livre de pran- cha. 2)Tela para a construção de pranchas no prancha livre. A Prancha Livre, embora possua o mes- mo banco de imagens do Editor Livre, foi construída com o propósito de uso de pranchas incorporando recursos de áu- dio e varredura. O sistema de varredura consiste no software apontar sequencial- mente os objetos na tela, permitindo ao usuário o controle
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