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22 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II MÓDULO 3 Estabelecer um conceito de meio ambiente é sempre um desafio, em vista da amplitude do tema e de suas diversas características. De qualquer forma, podemos entender o meio ambiente como tudo aquilo que está à nossa volta. A preocupação do ser humano com o meio ambiente é relativamente recente, ganhando espaço principalmente após a Revolução Industrial ocorrida no final do Século XIX, quando o desenvolvimento econômico desordenado acarretou uma maior deterioração da qualidade ambiental, revelando, ainda, a limitação dos recursos ambientais. Tal situação acabou por despertar a consciência de diversos seguimentos da população mundial para a necessidade da preservação ambiental. O conceito de meio ambiente deverá englobar obrigatoriamente o homem e a natureza, com todos os seus elementos. É que, para o homem, a natureza apresenta-se de duas formas: como fonte de recursos econômicos e como fonte de bem-estar. Da natureza, o homem tanto pode extrair recursos e insumos necessários à produção de riquezas, como usufruir momentos de lazer. Juridicamente o meio ambiente encontra sua definição legal no inciso I do artigo 3º da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81): Art. 3º. Para os fins previstos nesta lei, entende-se: I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. A partir dessa definição, e com base nas disposições constitucionais, podemos traçar uma classificação do meio ambiente protegido juridicamente, da seguinte forma: a) Meio ambiente natural: É constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. Encontramos sua previsão constitucional nos incisos I e VII do art. 225 da Constituição da República: Art. 225. (omissis): I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; 23 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TÓPICOS ESPECIAIS EM TUTELAS DIFUSAS E COLETIVAS (OPTATIVA) VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. b) Meio ambiente artificial. É o espaço urbano construído, constituído pelo conjunto de edificações e pelos equipamentos públicos. No âmbito da constituição encontramos, nos artigos 182 e 183, a disciplina da Política Urbana. No plano infraconstitucional, temos o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001). É oportuno destacar que alguns dos instrumentos de que o Estado dispõe para propiciar o bom desenvolvimento da política urbana é a desapropriação e a usucapião. Veja-se o teor dos artigos 182 e 183 da Constituição da República: Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro. § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. 24 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. A desapropriação é um dos modos de aquisição originária da propriedade pela Administração Pública, podendo ser de duas espécies: a) comum ou ordinária ou b) especial ou extraordinária. A desapropriação comum ou ordinária é aquela que tem como motivo a necessidade ou utilidade pública. Já a desapropriação especial ou extraordinária é aquela motivada por interesse social, seja para fins de reforma agrária ou destinada à adequação do imóvel aos parâmetros de desenvolvimento urbano municipal. Registre-se que, no caso da desapropriação comum, a indenização a ser paga pela Administração Pública deverá ser prévia, justa e em dinheiro. Por outro lado, nos casos de desapropriação especial, o pagamento da indenização será realizado por meio de títulos da dívida pública ou dívida agrária. Note-se ainda que, no caso de desapropriação destinada à reforma agrária, a competência é da União, ao passo que, no caso da desapropriação destinada à adequação do imóvel aos parâmetros de desenvolvimento, a competência será do Munícipio. Ademais, atente-se para a circunstância de que, na hipótese de o Município verificar que determinado imóvel não está cumprindo sua função social por não estar edificado, não estar sendo utilizado ou estar sendo subutilizado não poderá desapropriá-lo diretamente. Nesse caso, o Município deverá adotar, sucessivamente, as seguintes medidas: a) parcelamento ou edificação compulsórios, b) majorar, durante 5 anos, o IPTU do imóvel e, por fim, c) desapropriá-lo. No tocante à desapropriação para fins de reforma agrária, veja as disposições constitucionais: Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. 25 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TÓPICOS ESPECIAIS EM TUTELAS DIFUSAS E COLETIVAS (OPTATIVA) § 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, assim como o montantede recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. c) Meio ambiente do trabalho. É o local onde as pessoas executam suas atividades laborais, cujo equilíbrio baseia-se na salubridade do meio a na ausência de agentes que comprometem a saúde dos trabalhadores. Está previsto na Constituição Federal, no art. 200, VIII: Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. d) Meio ambiente cultural. É integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico de um povo. Encontramos previsão constitucional no art. 216, que trata do Patrimônio Cultural Brasileiro. Registre-se, por oportuno, que um dos instrumentos de que o Poder Público pode se valer para tutelar o meio ambiente cultural é o tombamento. De acordo com a lição do Professor Fábio Bellote Gomes[1] (2012, p. 215), em seu Elementos de Direito Administrativo, “o tombamento tem por finalidade a preservação da propriedade de bens móveis 26 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II ou imóveis, públicos ou privados, que tenham valor histórico, artístico, arqueológico, cultural, turístico ou paisagístico”. Vamos, agora, nos dedicar ao estudo dos princípios do direito ambiental. O Direito Ambiental, como ciência autônoma, está escorado nos seus próprios princípios, que irão informar as suas normas jurídicas e vincular o legislador, os operadores do direito, como de resto toda a sociedade. Os princípios constitucionais do Direto Ambiental estão traçados no art. 225 da Carta Magna. Em face da norma constitucional, é possível enumerar alguns dos seus relevantes princípios, como veremos a seguir. De acordo com o princípio do desenvolvimento sustentável, estabelecido no caput do art. 225 da Constituição Federal, busca-se conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico para a melhoria da qualidade de vida do homem. E o desenvolvimento econômico de uma nação passa necessariamente pela utilização de bens ambientais, seja como matéria prima na produção industrial (insumo), ou como destinatário dos dejetos dessa produção (poluição). O Direito Ambiental não pretende proibir pura e simplesmente o desenvolvimento econômico, e nem poderia ser diferente, na medida em que ordem econômica nacional é fundada na livre iniciativa (art. 170 da Constituição Federal). Entretanto, esse desenvolvimento deve observar alguns fatores de limitação. A livre iniciativa propagada pela Lei Maior não é aquela de outras épocas, em que vigorava o modelo de liberalismo econômico e estatal. A livre iniciativa em que se funda a ordem econômica nacional está condicionada à observação de alguns limites, tais como a valorização do trabalho (caput), a defesa do consumidor (inciso V), e o meio ambiente (inciso VI). A Constituição Federal estabelece, no seu art. 255, a obrigação de todos em defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, considerando o meio ambiente como um bem de uso comum do povo. Pretendeu com isso, o legislador constituinte, adotar o seguinte princípio: o bem ambiental pode e deve ser usado por todos, e por isso mesmo todos têm o dever de defendê-lo e preservá-lo, para que as futuras gerações também possam dele se utilizar. A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO/92) definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades. O meio ambiente não é intocável. Pelo contrário, a maioria das empresas utiliza-se de recursos naturais como insumo na sua produção. São bens retirados da natureza, os chamados bens ambientais. Não pretende a lei proibir que nós nos utilizemos desses bens (até porque se trata de bem de uso comum do povo). O que se pretende, sim, é que as mesmas pessoas que usam esses bens, criem mecanismos de preservação e recuperação do meio ambiente. O conceito de desenvolvimento sustentável apresenta, assim, uma feição conciliatória, propondo que pode ocorrer o progresso técnico, o desenvolvimento, dentro de parâmetros que respeitam os limites ambientais ao mesmo tempo em que reafirma a necessidade do crescimento econômico como condição necessária para a gestão de problemas sociais. 27 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TÓPICOS ESPECIAIS EM TUTELAS DIFUSAS E COLETIVAS (OPTATIVA) Os recursos naturais, os bens ambientais, são finitos. Isso significa que a sua utilização indiscriminada, sem a preocupação com a sua preservação, irá conduzir à sua extinção. Não se pode admitir que as atividades empresariais fiquem alheias a essa realidade. Quem se propõe a desenvolver uma atividade econômica tem, como obrigação legal, a responsabilidade com a preservação do meio ambiente. O direito ambiental também é informado pelo princípio do poluidor-pagador previsto no § 2º do art. 225 da Constituição Federal. Uma vez que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, citado, caput), as atividades e as atitudes que causam lesão ao meio ambiente não podem ficar impunes. Por isso que aquele que polui tem o dever legal de pagar por isso. Essa é a ideia central do princípio em comento. A definição jurídica de “poluidor” é encontrada no art. 3°, inciso IV, da Lei n° 6.938/81: poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Desta forma, toda pessoa, seja ela física ou jurídica, que causar um dano ambiental deverá repará-lo. Devemos observar, entretanto, que o princípio do poluidor-pagador não se traduz apenas na responsabilidade pela reparação do dano ambiental. Ele vai mais além, contendo o princípio em comento como uma natureza primeiramente cautelar e preventiva. O princípio do poluidor-pagador importa na transferência dos custos, normalmente suportados pela sociedade, referentes à poluição, para que seja pago primeiramente pelo poluidor, não apenas como forma de reparação do dano, mas com a implementação de medidas preventivas. Previsto no caput do art. 225 da Constituição, o princípio da prevenção revela a preocupação com a segurança do meio ambiente, sua manutenção e preservação para que as próximas gerações possam dele usufruir. Prevenção vem de prevenir, evitar que aconteça. O princípio da prevenção determina a todos que se preocupem com a preservação ambiental, evitando que ocorra o dano ambiental. Trata-se de um princípio de importância impar para oDireito Ambiental, na medida em que os danos ambientais ocorridos, na grande maioria das vezes, não têm reparação, são irreversíveis, de forma que se torna impossível retornar ao status quo ante. O objetivo precípuo é evitar que o dano ocorra – que é preferível a ter que repará-lo após a sua eclosão –, eis que o dano ambiental dificilmente é corrigível e muitas vezes não indenizável. A prevenção busca minimizar os riscos aos quais o meio ambiente está exposto. Como já tivemos a oportunidade de afirmar, o Direito Ambiental deve se harmonizar com a livre iniciativa, e vice-versa. O princípio da prevenção não busca impedir as atividades econômicas e humanas. Muito pelo contrário. O princípio da prevenção objetiva exatamente possibilitar o desenvolvimento humano, controlando os riscos ambientais. Registre-se que, no caso do princípio da prevenção, já se tem base científica para prever a possibilidade do advento de danos ambientais, tendo em vista tratar-se de risco certo, ou seja, conhecido. De outro lado, temos o princípio da precaução. Por esse princípio, ao contrário da prevenção, não se tem base cientifica para se prever um determinado dano ambiental. No entanto, havendo a menor dúvida, deve o Poder Público impedir o desenvolvimento de determinada atividade. Em caso de dúvida, deve-se decidir a favor do meio ambiente. 28 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Previsto no caput do art. 225 da Constituição Federal, o princípio da participação implica o reconhecimento de que a defesa do meio ambiente incumbe a toda a sociedade, ou seja, ao Estado e à sociedade civil organizada. Desta forma, observa-se o dever de “uma atuação conjunta entre organizações ambientalistas, sindicatos, indústrias, comércio, agricultura e tantos outros organismos sociais comprometidos nessa defesa de preservação”. A ideia central é de que, se o bem ambiental é um bem de uso comum do povo, é o povo, em todas as suas formas de organização, que deve cuidar e decidir acerca do seu uso. Desta forma, toda a sociedade deve estar engajada, juntamente com o Poder Público, na defesa e preservação do meio ambiente. Pelo princípio da solidariedade intergeracional ou pacto intergeracional o meio ambiente deve ser preservado para a presente e para as futuras gerações. 29 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TÓPICOS ESPECIAIS EM TUTELAS DIFUSAS E COLETIVAS (OPTATIVA) MÓDULO 4 Antes de mais nada, esclareça-se que nem sempre crianças e adolescentes foram destinatários de normas de proteção. Em Roma, por exemplo, o pater familiae detinha poder de vida e morte sobre seus descendentes. Em outras sociedades da antiguidade, crianças defeituosas eram sacrificadas. Na Grécia, sobretudo em Esparta, crianças eram concebidas para servirem ao Estado, notadamente no que tangia à composição de seus exércitos. Foi só na Idade Contemporânea (a partir de 1789) que se buscou garantir alguns direitos a crianças e adolescentes. Registre-se, por exemplo, que, durante a Revolução Industrial (século XVIII), jovens eram submetidos a jornadas extenuantes de trabalho. No direito brasileiro, a Constituição de 1988 concebeu novos paradigmas adotando, em seu texto, o sistema garantista da doutrina da proteção integral a crianças e adolescentes. É válido dizer que a elaboração de um Estatuto da Criança e do Adolescente resultou dos anseios da sociedade que, por meio de constantes manifestações, conseguiu que fosse positivado, no texto constitucional de 1988, normas destinadas à proteção de crianças e adolescentes brasileiros. Assim, tem-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente é a materialização (implementação) daquelas normas que se encontram insculpidas no texto da Constituição da República. O constituinte originário dedicou dois artigos ao direito infanto-juvenil. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação. 30 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II § 2º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. § 3º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º, XXXIII; II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar específica; V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins. VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. § 4º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente. § 5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. § 7º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á em consideração o disposto no art. 204. 31 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D iagr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TÓPICOS ESPECIAIS EM TUTELAS DIFUSAS E COLETIVAS (OPTATIVA) § 8º A lei estabelecerá: I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas. Art. 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial. Um dos direitos constitucionais da criança e do adolescente é o direito à convivência familiar. Assim, nada mais do que lógico que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) disciplinasse, com maiores detalhes, esse direito. Ao afirmar que a criança e o adolescente têm direito à convivência familiar o ECA faz referência a duas espécies de família: a natural e a substituta. A família natural corresponde aos laços biológicos da criança ou adolescente, com seus ascendentes ou colaterais. Já a família substituta seria aquela que faria o papel da natural, pois, como já afirmado, toda criança e adolescente tem o direito de ser criado e educado no seio de uma família, seja ela natural ou substituta. O Estatuto da Criança e do Adolescente conceitua, em seu artigo 25, como família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. No parágrafo único do mesmo dispositivo trata da família extensa ou ampliada como aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. Ainda em relação à família natural, o ECA trata do reconhecimento de filhos, prevendo que os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. Destaca, ainda, que o reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. É oportuno destacar que o reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. Na hipótese da inexistência de família natural, a criança ou o adolescente será colocado em família substituta. Essa inserção em família substituta poderá ocorrer de três formas: guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou do adolescente. 32 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II O ECA traz interessante previsão no sentido de que os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais. Outro ponto que se deve ressaltar é o seguinte: a colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção. A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros. Ademais, a guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou ao adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. Prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente que salvo expressa e fundamentada determinação em contrário, da autoridade judiciária competente ou quando a medida for aplicada em preparação para adoção, o deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de regulamentação específica, a pedido do interessado ou do Ministério Público. Já a tutela será deferida, nos termos da lei civil, para pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos, sendo que o deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e implica, necessariamente, o dever de guarda. A adoção, no entanto, é uma medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa. Alguns aspectos da adoção devem ser destacados como, por exemplo: ser vedada a adoção por procuração; o adotando dever ter, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes; o fato de que a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Registre-se, por oportuno, ser recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o quarto grau, observada a ordem de vocação hereditária. Note-se, ainda, que crianças são todas as pessoas naturais que têm até 12 anos de idade, incompletos, já adolescentes são as pessoas naturais com idade entre 12 e 18 anos. De acordo com o que dispõe o Código Civil sobre capacidade civil, crianças são absolutamente incapazes, ao passo que adolescentes podem ser absolutamente incapazes (de 12 a 16 anos) e relativamente capazes (de 16 a 18 anos). 33 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a TÓPICOS ESPECIAIS EM TUTELAS DIFUSAS E COLETIVAS (OPTATIVA) Em casos excepcionais, previstos expressamente em lei, poderá se aplicar as disposições do ECA para pessoas de idade entre 18 a 21 anos. Agora, vamos tratar, brevemente, de alguns princípios constitucionais que informam os direitos relacionados à família, à criança e ao adolescente. O primeiro princípio é o da obrigatoriedade da intervenção estatal previsto em dois dispositivos constitucionais. O art. 226, caput e § 8º, da Constituição Federal estabelece que a família tem especial proteção do Estado, ou seja, o Estado deve assegurar a assistência à família na pessoa de cada um de seus membros, que é um dever de atuação concreta. E o art. 227, caput e § 1º, da Constituição, prevê a obrigatoriedade da intervenção estatal em relação à criança e ao adolescente, impondo-lhe a obrigação de assegurar-lhes, principalmente, os direitos fundamentais do cidadão. Há também o princípio da cooperação, segundo o qual, o dever de assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes não é apenas do Estado, mas também da família e da sociedade. Temos também o princípio da prioridade, pelo qual os direitos das crianças e dos adolescentes têm prioridade na sua efetivação, o que deve ser assegurado pelo Estado e por toda a sociedade. Por fim, temos o princípio da proteção especial, previsto no art. 227, § 3º, da CF/88, o princípio da proteção especial leva em consideração a condição peculiar da criança e do adolescente, enquanto pessoas em desenvolvimento. Isso deve diferenciá-los no tratamento das questões diversas a que estão sujeitos, como, por exemplo, na aplicação de medidas socioeducativas. _GoBack
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