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A DIVERSIDADE AULA 3

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A DIVERSIDADE CULTURAL 
COMO PRÁTICA NA 
EDUCAÇÃO 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Lucas Pydd Nechi 
 
2 
 
CONVERSA INICIAL 
Cada narrativa sobre o passado é advinda de um ponto de vista. Cada 
ponto de vista é fundamentado a partir de interpretações e análises objetivas de 
fontes históricas. Porém, não há apenas uma explicação e uma interpretação de 
cada fato do passado ou fonte histórica. Nota-se esta multiperspectividade ao se 
comparar depoimentos de testemunhas que presenciaram a mesma cena – 
como um crime ou um acidente de trânsito. Pessoas que acompanham de perto 
o mesmo acontecimento, podem ter versões variadas dos fatos. Isso se deve em 
função da interpretação da realidade, que possui caráter subjetivo. A ciência da 
História, a partir disso, busca fornecer os relatos e análises de fonte com o maior 
grau de confiabilidade. Esse pensamento, sustentado por fontes, faz parte da 
metódica da História. Nesta aula será realizada a apresentação do conceito de 
consciência histórica, que pode ser compreendido e usado na sala de aula como 
ferramenta para o estudo da diversidade cultural. 
 
CONTEXTUALIZANDO 
 Uma fazenda, pertencente à família Moraes, deu origem à formação de 
um núcleo populacional que se tornou uma pequena cidade do interior do 
Paraná. Logo na entrada da fazenda, acima do portão, existia uma placa de 
madeira com a seguinte mensagem: “Se algum homem da tribo Guarani 
aparecer perante esta fazenda, mesmo com o cadáver de um homem em sua 
mão, encontrará aqui segurança e proteção”. Esta mensagem foi fixada pelo 
dono da fazenda alguns anos após receber a posse desta terra do governo do 
estado do Paraná e mudar-se para a região com sua família, com o intuito de 
abrir clareiras e iniciar a lavoura de café. Em uma noite quente, Bento, o herdeiro 
mais novo dos Moraes, de 7 anos, resolveu brincar do lado de fora da casa e, ao 
perseguir um vagalume, entrou no meio da mata e se perdeu. Os pais, donos da 
fazenda, ao sentirem falta da presença da criança ficaram desesperados e 
iniciaram a busca pelo menino. 
 
3 
 
Os índios Guarani, que habitavam a região, não tinham um 
relacionamento pacífico com os fazendeiros, uma vez que foram expulsos de 
suas terras para que elas fossem cedidas aos novos proprietários. Independente 
do debate das terras, um índio, que até então era visto como “selvagem” pela 
família Moraes, encontrou a criança perdida no meio da mata e a levou até seus 
pais em segurança. Diante deste acontecimento e como forma de 
agradecimento, o patriarca da família Moraes determinou que sua fazenda 
serviria como lugar de refúgio para qualquer membro daquela tribo que se 
encontrasse em perigo.1 
Após ler esta história, imagine que você é atualmente um membro da 
família Moraes e vive na fazenda. Um dia, um membro da tribo Guarani pede 
ajuda e diz que está fugindo da polícia sendo acusado de um crime. O que você 
faria? A partir desta pequena problematização podemos gerar diversas 
respostas, sendo que cada uma delas nos demostrará o modo como 
compreendemos, interpretamos e utilizamos o passado em nossas vidas. 
Em outras palavras, a maneira pela qual respondemos desafios do 
presente utilizando o passado aponta a forma pela qual mobilizamos nossa 
consciência histórica. 
 
TEMA 1: DEFINIÇÃO 
Apesar de o conceito de Consciência Histórica ser trabalhado por autores 
a partir de diferentes perspectivas, nesta aula nos deteremos às ideias 
apresentadas por Jörn Rüsen, filósofo e historiador alemão estudado como 
referência principal na Educação Histórica no Brasil. 
O propósito da História, como disciplina e ciência da relação da 
humanidade com fatos do passado, visa ao desenvolvimento da consciência 
histórica das pessoas, de forma que possam agir no presente intencionalmente, 
com base na experiência cultural da humanidade. Logo, o desenvolvimento do 
pensamento histórico se afasta da ideia de senso comum e do ensino de história 
 
1 Esta história foi inspirada no conto de Samuel Johnson citado por Rüsen (2010) 
 
4 
 
tradicional que busca fazer com que os alunos somente memorizem fatos e 
datas históricas. 
Aprender história está ligado a saber se orientar no tempo presente. Como 
afirmou Rüsen (2001), a consciência histórica é “um pré-requisito para a 
orientação em uma situação presente que demanda ação”. A orientação sempre 
se renova e atualiza, pois cabe aos sujeitos interpretar e agir no mundo todo o 
tempo, de forma dialógica: compreendemos e mudamos o mundo, que também 
nos influencia e molda pela cultura. No Brasil, as pesquisadoras Schmidt e 
Garcia reforçam o papel da consciência histórica como mediadora entre a vida 
prática do cotidiano e as memórias, tanto dos sujeitos como da cultura, agindo 
tanto na orientação como no desenvolvimento da identidade histórica. 
(SCHMIDT; GARCIA, 2005. p. 301). A identidade histórica nada mais é do que 
saber quem somos, tanto como indivíduos como coletivamente, na passagem do 
fluxo do tempo (PAIS, 1999). 
A consciência histórica é usada como guia para orientação temporal das 
pessoas, pois é por meio dela que os sujeitos interpretam a realidade e se 
localizam no tempo e no espaço. Rüsen (2001, p. 57) afirma que: 
 
[...] A consciência histórica está fundada nessa ambivalência 
antropológica: o homem só pode viver no mundo, isto é, só consegue 
relacionar-se com a natureza, com os demais homens e consigo 
mesmo se não tomar o mundo e a si mesmo como dados puros, mas 
sim interpretá-los em função das intenções de sua ação e paixão, em 
que se representa algo que não são. 
 
Rüsen (2010, p. 53) define consciência histórica da seguinte forma: 
 
A atividade mental de interpretação do passado com vistas a 
compreender o presente e prospectar o futuro. Assim, ela combina o 
passado, presente e futuro em uma ideia alinhada de que se trata a 
mudança temporal. Ela sintetiza as experiências do passado com um 
critério de sentido que é efetivo na vida prática do presente e guia as 
ações em relação ao futuro. Na didática da história esta orientação esta 
orientação ao futuro deve protagonizar um papel importante pois os 
estudantes devem aprender como ser mestres do futuro de suas 
vidas como cidadãos adultos nas demandas da cultura histórica de 
seus países. 
 
5 
 
 
A partir desta definição, nota-se que aprender história está intimamente 
relacionado com a capacidade de desenvolver narrativas, contar a sequência de 
fatos históricos em ordem inteligível, a fim de estabelecer um sentido temporal 
aos acontecimentos. Assim, “a aprendizagem da história é um processo de 
digestão de experiências do tempo em formas de competências narrativas”. 
(RÜSEN, 2010, p. 74) 
 
TEMA 2: A NARRATIVA HISTÓRICA E A SUA RELAÇÃO COM A FORMAÇÃO 
DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 
No texto de 2010, Rüsen desenvolve a noção de que a consciência 
histórica é o lugar em que o passado fala, e para que isso ocorra ele deve ser 
questionado. No cotidiano, nos deparamos com a presença constante dos 
elementos do passado inseridos na cultura histórica do presente. Assim, os 
sujeitos operam diariamente realizando pequenas e grandes decisões, 
solucionando as carências de orientação temporal a partir de conceitos 
elaborados sobre o passado por meio de narrativas históricas. A narrativa 
histórica expressa pelas pessoas é a materialização de suas consciências 
históricas, tornadas inteligíveis pelas palavras e conceitos. É por meio de 
narrativas que se fundamenta o pensamento histórico e o conhecimento histórico 
científico. O autor afirma que: 
 
A narrativa constitui a consciência histórica ao representar as 
mudanças temporais do passado rememoradas no presente como 
processos contínuos nos quais a experiência do tempo presente pode 
ser inserida interpretativamente e extrapoladas em uma perspectiva defuturo. As mudanças no presente, experimentadas como carentes de 
interpretação, são de imediato interpretadas em articulação com os 
processos temporais rememorados do passado; a narrativa histórica 
torna presente o passado, de forma que o presente aparece como sua 
continuação no futuro. (RÜSEN, 2001, p. 64) 
 
 
6 
 
Porém, é importante ressaltar que nem toda narrativa é histórica, pois 
existe a relação determinante e obrigatória com os fatos e a plausibilidade 
histórica, em oposição às narrativas literárias e ficcionais. A narrativa histórica é 
fundamentada pela experiência – seja pessoal ou a partir da experiência de 
outrem – e pela lembrança. A rememoração de fatos passados no processo de 
lembrança não abrange o todo da consciência histórica, que opera 
complementarmente com as situações de presente e de futuro. A consciência 
histórica age a partir do presente, usando elementos do passado. 
Rüsen (2001, p. 62) compara o passado com uma floresta, em que: 
 
O passado é, então, como uma floresta para dentro da qual os 
homens, pela narrativa histórica, lançam seu clamor, a fim de 
compreenderem, mediante o que dela ecoa, o que lhes é presente sob 
a forma de experiências do tempo (mais precisamente: o que mexe 
com eles) e poderem esperar e projetar um futuro com sentido. 
 
A condição para que uma narrativa possa ser considerada histórica é que 
o passado seja interpretado com relação à experiência e que a narrativa passe 
a ter uma função. Ou seja, é uma interpretação do passado e serve para 
torná-la presente. O passado, por meio da narrativa, dá sentido ao presente, o 
que quer dizer que motiva, interpreta, orienta o presente, de forma que a relação 
do homem com o mundo possa ser pensada na perspectiva do tempo. (RÜSEN, 
2001, p. 155 -156). 
O mesmo autor descreve três características da narrativa histórica que 
possibilitam que ela sirva como guia na orientação da vida prática das pessoas 
(RÜSEN, 2010). A primeira delas é justamente a mobilização das experiências 
do tempo a partir das recordações armazenadas na memória. Tal mobilização 
permite que os sujeitos entendam o presente e vislumbrem possibilidades de 
futuro possíveis. A segunda característica da narrativa em relação à orientação 
temporal, é a continuidade que ela estabelece entre passado, presente e futuro. 
Dessa forma, é possível atribuir sentido para a vida pessoal e para a cultura. 
A terceira característica se relaciona com a permanência e com a mudança, 
características temporais adotadas pelo autor como maneira de conceber a 
 
7 
 
passagem do tempo histórico. A permanência, isso é, os elementos que não se 
modificam em determinado recorte temporal, torna capaz o estabelecimento de 
estruturas identitárias (como o conceito de nação, de cultura e em última 
instância o conceito de si mesmo). A mudança ocorre em todo o tempo, mas 
as permanências asseguram que possamos compreender a cultura histórica e 
sua dinâmica. 
Não devemos nos limitar à concepção de narrativa histórica como produto 
exclusivo da produção metodológica e historiográfica de historiadores, com base 
em fontes e investigações arqueológicas. A narrativa histórica é a voz, portanto 
condicionada à linguagem, que permite que todos os seres humanos deem 
sentido para suas vidas e para a humanidade como um todo. 
 
TEMA 3: OS TIPOS DE CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 
 A consciência histórica é considerada por Rüsen (2010) como passível de 
divisão em quatro formas distintas, não estanques, numa tipologia que auxilia a 
compreender o pensamento histórico. As categorias seriam: Tradicional, 
Exemplar, Crítica e Genética. Como a consciência histórica se expressa na 
narrativa, pode-se também categorizar textos expressos ou narrados oralmente 
nas mesmas categorias. Isso não significa, contudo, que o sujeito se encontre 
numa fase específica da consciência histórica, pois o pensamento histórico é 
complexo e pode conter elementos de várias categorias em diferentes frases. 
A consciência histórica do tipo “Tradicional” está voltada à permanência 
de elementos do passado, que são considerados de valia por terem se mantido 
no transcorrer do tempo. Os sujeitos revelam saudosismo e admiração pelas 
formas de vida do passado, e não fazem uso da crítica às novas circunstâncias 
do presente. Rüsen (2010) afirma que: 
 
As orientações tradicionais guiam externamente a vida humana por 
meio de uma afirmação das obrigações que requerem consentimento. 
Essas orientações tradicionais definem a “unidade dos grupos sociais 
ou das sociedades em seu conjunto, entretanto mantêm o sentimento 
de uma origem comum. 
 
8 
 
 
Retomando a problematização do início desta aula, a partir da história 
entre os brancos e os índios Guarani, é possível descrever quatro respostas 
pautadas pelos diferentes tipos de consciência histórica. Um membro da família 
Moraes que refletisse de acordo com a lógica da consciência tradicional, diante 
desta situação, ao se deparar com o pedido de socorro de um índio Guarani em 
fuga não hesitaria em abrigá-lo e ajudá-lo, independentemente do crime que 
tenha cometido. Assim, o passado e a tradição se sobrepõem ao contexto do 
presente, como um imperativo moral. A dívida dos Moraes com os guaranis é 
eterna e deve ser respeitada. 
A segunda categoria de consciência histórica é a “Exemplar”. Um pouco 
mais elaborada que o tipo “Tradicional”, porém também muito difundida no senso 
comum, esta forma de pensar parte do pressuposto de que existem regras 
morais universais na História. Assim, cada acontecimento isolado do passado 
pode ser a base para o estabelecimento de uma generalização, uma lição de 
moral aprendida, que pode ser utilizada no futuro em situações semelhantes. Os 
exemplos do passado podem ser inspiradores ou servirem de lição negativa, nas 
quais os comportamentos dos antepassados devem ser evitados. 
No exemplo dos Moraes e dos guaranis, a acolhida do índio em fuga 
ocorreria, mas desta vez o membro da família dos brancos poderia justificar sua 
atitude de outra maneira. Desta vez, não só porque o passado deve ser mantido, 
mas porque o tratado de reciprocidade dentre os povos citados representa uma 
regra moral indissolúvel e tomada como exemplo de conduta. 
O terceiro tipo de consciência histórica é a consciência histórica “Crítica”. 
Ela se constitui pela inversão da tradição. Nega-se e recusa-se os 
comportamentos justificados pela continuidade do passado, quebrando regras 
antigas e buscando novas formas de comportamentos. Na problematização 
colocada no início do texto, o sujeito operando com uma consciência histórica 
crítica negaria ajuda ao índio. A princípio, este sujeito iria explicar a história da 
criança perdida e questionaria a veracidade deste acontecimento, 
desobrigando-o a cumprir o acordo. Dessa forma são apresentados diversos 
 
9 
 
argumentos históricos-críticos para o não cumprimento da promessa. O 
passado, distante no tempo, seria questionado e relativizado como base para 
decisões no presente. 
A quarta e última categoria dos tipos de consciência histórica é a 
“Genética”, no sentido de criação ontológica. Haveria no presente o reajuste aos 
novos contextos e mudanças na História. O passado orienta não por ser imutável 
e reificado (consciência histórica tradicional), por oferecer regras universais 
(consciência histórica exemplar) ou pela simples negação (consciência histórica 
crítica), mas a cada nova escolha e mudança os elementos são reconsiderados 
e analisados. A consciência histórica genética pode levar a decisões que 
mantenham tradições ou as subvertam totalmente. Porém, a sua operação indica 
decisões conscientes a partir de novos critérios e contextualização. 
Rüsen (2010) afirma que: 
 
[...] as narrativas genéticas lembram as transformações que levam dos 
modos de vida alheios para modos mais apropriados. Elas apresentam 
a continuidade de desenvolvimentona qual a alteração dos modos de 
vida é necessária para a sua permanência. E formam a identidade pela 
mediação entre permanência e mudança em direção a um processo de 
autodefinição (em alemão isto é chamado de Bildung ‘formação’). 
 
O descendente da família Moraes, a partir de uma consciência genética, 
pode chegar à conclusão de que seja errado esconder a situação da polícia e 
aconselhar o índio a entregar-se. Porém se compromete a ajudá-lo, por exemplo, 
contratando um advogado para defendê-lo. A promessa de sempre abrigar um 
índio Guarani que se encontre em perigo é narrada, contudo é indicado que a 
ação esteja de acordo com as mudanças ocorridas com o passar do tempo, ou 
seja a promessa é interpretada à luz do presente. 
 
TEMA 4: PESQUISAS ACERCA DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA 
Como pudemos perceber, a partir da definição do que é consciência 
histórica e através da história entre a família Moraes os indígenas, este conceito 
 
10 
 
faz parte do nosso cotiado e é importante para nos situarmos no mundo e nos 
relacionarmos com a natureza e consigo mesmo. 
Diante da importância do uso e o desenvolvimento da consciência 
histórica, foram desenvolvidas diversas pesquisas no campo da Educação 
Histórica que buscam compreender a consciência histórica no âmbito escolar. 
Pais (1999) estabelece uma ponte entre a maneira pela qual os jovens 
entendem e interpretam seu tempo e o passado, com a forma na qual a 
sociedade em questão se organiza política e socialmente. Assim, compreender 
a consciência histórica dos jovens estabeleceria um quadro de análise 
consistente das sociedades. Este autor também afirma que os sentidos do tempo 
são estabelecidos pelos próprios sujeitos, não sendo possível a afirmação de 
uma realidade de sentido extrínseca às pessoas de cada época. Para Pais 
(1999, p. 111), a consciência histórica: 
 
[...] não se refere apenas a marcadores culturais que aquarelam a 
História, tornando-a tendencialmente uniforme para a dada geração. A 
consciência histórica transporta também um sentido de continuidade 
por parte de gerações sucessivas de uma dada unidade cultural, com 
identidade própria, e comporta ainda memórias partilhadas sobre 
determinados acontecimentos do passado que dão força simbólica a 
essa unidade cultural – memórias e reminiscências que se projetam no 
futuro, através da forma como cada geração olha o destino coletivo da 
unidade cultural que caracteriza sua comunidade. É este sentido de 
continuidade, é esta memória partilhada de destinos coletivos que 
caracterizam também a consciência histórica. 
 
Nesse sentido, a consciência histórica pode ser analisada tanto como 
constituinte da identidade pessoal como marcador de características coletivas 
de determinado tempo histórico. Estudá-la, então, torna-se relevante em 
diversas maneiras. Gevaerd (2009) apresenta em seu doutoramento a pesquisa 
“A narrativa histórica como uma maneira de ensinar e aprender história: o caso 
da história do Paraná”, usando a tipologia de Rüsen para classificar os tipos de 
narrativa e aprendizagem histórica que predominam em estudantes do ensino 
fundamental. Como conclusão, a pesquisadora aponta a consciência histórica 
do tipo tradicional como predominante não apenas nas narrativas dos 
 
11 
 
estudantes, como também no material didático e nas explicações orais da 
professora em questão. 
Já Germinari (2010) estudou a consciência histórica de jovens em 
Curitiba, em tese intitulada: “A história da cidade, consciência histórica e 
identidades de jovens escolarizados”. Este pesquisador intencionou o estudo da 
consciência histórica especificamente em relação à cidade de Curitiba, ou seja, 
de que forma os jovens, moradores da cidade, a compreendem historicamente? 
Os resultados instigantes apontaram contradições latentes entre a vida prática 
experienciada pelos sujeitos e as narrativas que produzem, fortemente 
influenciadas pelo discurso dos órgãos oficiais. Assim, a formação histórica 
realizada por propagandas e pelo ensino tradicional pode influenciar a 
consciência histórica até mesmo mais fortemente do que a própria experiência 
de realidade do cotidiano. 
Estes dois exemplos de pesquisa nos dão pistas de que a diversidade 
cultural, em sua historicidade, não pode limitar-se a um trabalho sectário em 
relação ao presente. As divisões entre pessoas, os preconceitos, os conflitos 
étnico-raciais, de gênero e de orientação e identidade sexual, possuem raízes 
históricas e desdobramentos temporais, entrelaçados com tradições políticas, 
filosóficas e religiosas. Dessa forma, o desenvolvimento da consciência histórica 
dos estudantes, visando ao tipo genético, pode contribuir com a empatia e 
compreensão da conjuntura atual. 
Um exemplo marcante é a maneira pela qual o passado pode trazer um 
peso negativo ao presente, em forma de traumas ou tabus difíceis de serem 
abordados no presente. A história como um fardo é o tema de investigação de 
Borries (2011), ao estudar como jovens lidam com assuntos delicados. No caso 
da Alemanha, por exemplo, é inevitável o constrangimento dos estudantes 
alemães ao abordarem os horrores da Segunda Guerra Mundial e do nazismo. 
Os sentimentos trazidos à tona do passado incluem também a relação de 
identidade histórica e pessoal dos alunos, os quais muitos possuem ancestrais 
que protagonizaram tais fatos históricos. 
 
12 
 
Borries salienta que o passado obscuro não deve ser esquecido, mas, 
pelo contrário, trabalho e superado por entre aqueles que se constrangem e se 
envergonham. Este autor trabalhou na construção de livros didáticos comuns 
entre países que apresentam narrativas oficiais conflitivas, como Alemanha e 
Polônia, visando à superação do etnocentrismo nestas nações no que se refere 
a conflitos do passado. Sobre estes projetos, Borries (2001, p. 183) avalia que 
 
A reconciliação via história e o enfrentamento com a história ‘como um 
fardo’ acontece em longo prazo, como projeto e programa (para 
indivíduos bem como para a sociedade). É necessária reflexão e (auto) 
reflexão, não somente mais conhecimento histórico, mas, mais auto 
distanciamento, empatia e – tanto quanto possível – viver o luto 
como um bem. Isto pode ser encorajado na escola, mas 
principalmente através de questionamento individual, atividades e 
sensibilização pública. 
 
No caso do Brasil, um fato do passado que pode ser pensado como uma 
história traumática, que traz consequências negativas para muitas pessoas no 
presente é o processo de escravização. Além de diversos povos africanos serem 
trazidos à força e serem culturalmente desconsiderados, após a proibição legal 
da escravidão foram deixados à margem da sociedade, sem reparações públicas 
socioeconômicas, o que faz com que a desigualdade social e o preconceito 
continuem se perpetuando até hoje. 
 
TEMA 5: A RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE CONSCIÊNCIAS HISTÓRICA 
Os sujeitos não possuem apenas um tipo de consciência histórica e nela 
produzem narrativas. É possível, por exemplo, que a mesma pessoa apresente 
narrativas tradicionais e críticas sobre assuntos distintos. O processo do 
pensamento histórico é dinâmico e em grande parte subjetivo. A relação com o 
passado que os sujeitos estabelecem dependem de inúmeras variáveis na 
aprendizagem histórica, que ocorrem não somente em ambientes formais como 
a escola e a universidade. 
 
13 
 
Nos textos mais recentes de Rüsen (como o de 2015), a consciência 
histórica crítica é posta como catalizadora de mudanças nas formas de atribuição 
de sentido. A crítica possibilita a quebra de paradigmas e o salto qualitativo. 
Porém, em si, a crítica só estabelece melhoria na aprendizagem histórica quando 
sustentada por proposições novas, pautadas em critérios humanistas e 
objetivos. A interligação dos quatros tipos de geração de sentido, ou seja, das 
formas de manifestação das consciências históricas, podem ser visualizadasna 
imagem abaixo. 
 
Figura 1: Esquema dos níveis de competência no aprendizado histórico 
 
Fonte: Rüsen, 2015. 
 
Nessa imagem podemos ver que a atribuição de sentido não ocorre de 
forma igual e linear, assim como não sofre uma progressão obrigatória. O tipo 
de consciência histórica irá depender das relações que o sujeito estabelece com 
determinada experiência passada e é articulada por meio da perspectiva 
da crítica. 
Nesse aspecto, é importante ressaltar que a consciência histórica não 
depende da memória e da experiência de vida do sujeito. A aprendizagem 
histórica possibilita que as pessoas transcendam a temporalidade de sua 
experiência de vida e, por meio da empatia, consigam se colocar no lugar 
daqueles que protagonizaram os feitos do passado. É, portanto, indispensável o 
trabalho racional e intelectual de ensino de História para que se promova 
acréscimos qualitativos dos tipos de consciência histórica visando à categoria 
genética, que permite ao indivíduo emancipar-se das imposições ideológicas 
da tradição. 
 
14 
 
Rüsen (2001, p. 63-64) reforça este aspecto diferenciador entre memória 
e consciência histórica a partir da valorização da racionalidade: 
 
A lembrança flui natural e permanentemente no quadro de orientação 
da vida prática atual e preenche-o com interpretações do tempo; ela é 
um componente essencial da orientação existencial do homem. A 
consciência histórica não é idêntica, contudo, à lembrança. Só se pode 
falar de consciência histórica quando, para interpretar experiências 
atuais do tempo, é necessário mobilizar a lembrança de determinada 
maneira: ela é transposta para o processo de tornar presente o 
passado mediante o movimento da narrativa. A mera subsistência do 
passado na memória ainda não constitutivo da consciência histórica. 
Para a constituição da consciência requer-se uma correlação expressa 
do presente com o passado – ou seja, uma atividade intelectual que 
pode ser identificada e descrita como narrativa (histórica). 
 
Assim, apontamos que os sujeitos não apresentam tipos exclusivos de 
consciência histórica, mas sim que realizam relações diversas com o passado, 
dependendo de suas lembranças, experiências passadas e principalmente da 
maneira pela qual sua aprendizagem histórica foi processada. Os aspectos do 
passado são assim interpretados por meio da subjetividade, desenvolvendo 
formas diferentes de consciência histórica dependendo da problemática 
do seu presente. 
 
SÍNTESE 
Como foi relatado nesta aula, para Rüsen (2001, 2010), assim como para 
Pais (1999), a consciência histórica é indispensável para que os sujeitos vivam, 
possam se localizar e orientar através do tempo. A disciplina de História deve 
contribuir para a formação desta consciência e não poderá fazer isso apenas 
trabalhando com fatos para serem decorados. A história serve para a formação 
dos sujeitos, o que auxiliaria em muitos momentos de suas vidas. 
Também percebemos nesta aula que, dependendo da indagação, suas 
narrativas demonstraram uma consciência histórica tradicional, podendo em 
outros momentos considerá-las como genética. As recentes pesquisas 
realizadas no Brasil no campo da Educação Histórica vêm constituindo 
 
15 
 
inovações no campo da aprendizagem histórica, que na prática ainda é 
amplamente dominada por práticas tradicionais e pouco efetivas de ensino. 
A forma pela qual nos relacionamos com o passado fundamenta sobremaneira 
as relações no presente e contribuem para que se construa uma educação 
fundamentada no princípio da dignidade humana na educação para a práxis da 
diversidade cultural na educação. 
 
REFERÊNCIAS 
BORRIES, B. V. Coping with Burdening History. In: BJERG, Helle; LENZ, 
Claudia; THORSTENSEN, Erik (eds.). Historicizing the uses of the past: 
scandinavian perspectives on history culture, historical consciousness and 
didatics of history related to world war II. Bielefeld:Transcript, 2011 
GERMINARI, G. D. A história da cidade, consciência histórica e identidade 
de jovens escolarizados. 187f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de 
Pós-graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2010. 
GEVAERD, R. T. F. A narrativa histórica como uma maneira de ensinar e 
aprender história: o caso da história do Paraná. 300f. Tese (Doutorado em 
Educação) - Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade Federal 
do Paraná. Curitiba, 2009. 
PAIS, J. Consciência Histórica e Identidade: os jovens portugueses num 
contexto europeu. Oeiras: Celta, 1999. 
RÜSEN, J. Razão Histórica: teoria da História: os fundamentos da ciência 
histórica. trad. Estevão de Rezende Martins. Brasília: Ed. Universidade de 
Brasília, 2001. 
______. O desenvolvimento da competência narrativa na aprendizagem 
histórica: uma hipótese ontogenética relativa à consciência moral. In: SCHMIDT, 
M.A.; BARCA, I.; MARTINS, E.R. Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: 
Editora UFPR, 2010, p.51-78. 
 
______. Teoria da História: Uma Teoria da História como Ciência. Tradução: 
Estevão C. de Rezende Martins. Curitiba: Editora UFPR, 2015. 
SCHMIDT. M; GARCIA, T. Perspectivas da consciência histórica e a da 
aprendizagem em narrativas de jovens brasileiros. Tempos Históricos, v. 12, 
n. 1, p. 81-96, jan./jun. 1998. 
 
16 
 
SCHMIDT. M; GARCIA, T. A formação da consciência histórica de alunos e 
professores e o cotidiano em aulas de história. Cad. Cedes, Campinas, v. 25, 
n. 67, p. 297-308. set./dez. 2005. 
 
 
Texto obrigatório 
RÜSEN, J. O desenvolvimento da competência narrativa na aprendizagem 
histórica: uma hipótese ontogenética relativa à consciência moral. In: SCHMIDT, 
M.A.; BARCA, I.; MARTINS, E.R. Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: 
Editora UFPR, 2010, p. 51-78. 
 
Abordagem teórica 
Entrevista – Jörn Rüsen Algumas ideias sobre a interseção da meta-história e da 
didática da história Marília Gago* Entre vista realizada por e-mail, dias 1, 2 e 28 
de março de 2016. Tradução: Tradioma, Porto, Portugal. Disponível em: 
<https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/view/245/163>. 
 
Abordagem Prática 
 
RÜSEN, J. Formando a Consciência histórica – para uma didática humanista da 
História. In.: SCHMIDT, M.A. et al (orgs) Humanismo e Didática da História. 
Curitiba: WA Editores, 2015. p.19-42; 
 
 
Saiba Mais: 
RÜSEN, J. Temporalizando a Humanidade: O Humanismo no Pensamento 
Histórico. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qLCQxm3B7L4>.

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