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ÉTICA E RELAÇÕES AULA 4

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AULA 4 
ÉTICA E RELAÇÕES 
INTERPESSOAIS 
Prof. Roberto Luís Renner 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Este texto tem por objetivo apresentar diferentes aspectos que envolvem a 
ética e a economia. Para tanto, está organizado em cinco temas. 
No primeiro tema, abordaremos diferentes definições e aspectos históricos 
da economia. 
Na sequência trabalharemos questões que envolvem atividade econômica 
e a ética. Veremos que as atividades econômicas de um indivíduo, empresa ou 
nação é algo complexo e que merece atenção especial no que diz respeito aos 
princípios éticos. No âmbito econômico, a ética envolve questões que, com base 
na observação de certas ações, notamos que elas ultrapassam qualquer princípio. 
Em outras palavras, discutiremos sobre se o agente em questão se importa 
somente com o benefício próprio ou se zela pela coletividade. 
O terceiro tema abordará a vida e obra de Adam Smith. Esse pensador 
merece nossa atenção pela forma como desenvolveu seu pensamento no campo 
da economia, e também porque cumpre importante papel também nos dias atuais, 
uma vez que conduz a uma reflexão sobre as diferentes teorias econômicas. 
Na quarta parte do texto falaremos sobre a vida e obra de Amartya Kumar 
Sen, importante escritor e economista indiano. Veremos que para Sen, a liberdade 
do indivíduo é algo importante, visto que conduz este ao crescimento. 
Por último, desenvolveremos o tema da ética no mundo globalizado. 
Entendemos por globalização um processo de integração, seja na economia entre 
países, seja nas relações humanas e nos aspectos políticos e culturais. O conceito 
de globalização nos remente, portanto, ao entendimento de um mundo sem 
fronteiras. 
CONTEXTUALIZANDO 
É possível contatar que ao longo da história a economia sempre fez parte 
da vida do ser humano, seja no aspecto mais restrito, seja no mais abrangente. 
Ainda hoje o assunto economia é abordado pelos meios de comunicação 
de todo o mundo. No mundo globalizado, a economia de um país afeta a dos 
demais, de uma forma ou de outra – isto é: os trabalhadores de uma pequena 
fábrica de peças no interior de qualquer parte do Brasil manterão seus empregos 
não apenas se a economia daquele município for estável, mas se assim for no 
restante do país ou do mundo. 
 
 
3 
TEMA 1 – ECONOMIA: DEFINIÇÕES E ASPECTOS HISTÓRICOS 
O vocábulo economia tem sua origem nos termos gregos oikos (“casa”), e 
nomos, que remete a “costume”, “lei” ou, ainda, a “gerir, administrar”. A junção 
desses termos poderia ser traduzido por algo como “regras ou administração da 
casa”. Daí vem o sentido de uma ciência social, cujo objetivo é estudar a 
produção, a distribuição e também o consumo de bens e serviços. 
No que diz respeito à produção, o termo economia abrange aquilo que 
resulta do trabalho humano. Em relação à análise da distribuição, essa palavra 
refere-se ao fato de, muitas vezes, o produto manufaturado não ser distribuído a 
todos: em outras palavras, ao fato de que nem todas as classes sociais têm 
condições financeiras de adquirir esse produto. E, por último, estuda a questão do 
consumo dos bens e dos serviços e os motivos destes serem consumidos. 
O estudo da economia pode ser dividido em dois campos: a microeconomia 
e a macroeconomia. 
A microeconomia pode ser definida como a ciência econômica direcionada 
ao estudo do comportamento de consumo de indivíduos e famílias. Ela tem como 
objetivo esclarecer os diferentes aspectos da produção e de que maneira se fixa 
o preço. 
A macroeconomia, por sua vez, é entendida como o ramo da economia cuja 
prioridade é a análise geral ou global por meio da estatística e da matemática a 
fim de se analisarem os diferentes aspectos econômicos e sua distribuição em um 
setor da economia. Para tanto, a macroeconomia faz uso de elementos como taxa 
de juros, investimentos, emprego e desemprego, bens e serviços, aspectos 
ligados a inflação, poupança, consumo, investimentos de empresas de iniciativa 
privada ou não e ao comportamento do governo diante da economia. 
A economia sempre fez parte da vida do ser humano em maior ou menor 
grau. No entendimento dos gregos, por exemplo, a riqueza – ou a obtenção dela 
– constituía um aspecto não primordial. A economia, portanto, abrangia apenas 
uma pequena parte da vida do indivíduo e da cidade. O que de fato era 
considerado relevante na cultura grega eram a política e a filosofia, tidas como os 
reais e importantes valores para o ser humano. 
Na Idade Média − período entre os séculos V e XV −, a economia baseava-
se principalmente na agricultura, ou seja, na produção de alimentos. Obviamente, 
havia a produção de certos equipamentos e de armas; porém a base econômica 
 
 
4 
girava em torno da agricultura. Nesse período a troca dos produtos era a prática 
vigente. A base econômica era baseada em feudos1, portanto, quem tinha poder 
em mãos era o proprietário da terra. Outro aspecto econômico relevante neste 
momento eram as atividades artesanais – cuja produção era baixa em virtude de 
o artesão estar envolvido em todas as fases de um produto. Na agricultura, a 
produção também era baixa, visto que as técnicas de trabalho eram rudimentares. 
Ao final da Idade Moderna (1453-1789), eclode a Revolução Francesa e 
ocorre a transição do feudalismo para o capitalismo. É nessa época que vive 
Adam Smith (1723-1790), célebre filósofo e economista britânico, nascido na 
Escócia, e que, no ano de 1776, publica A riqueza das nações, uma investigação 
sobre a natureza e as causas das riquezas das nações até hoje importante obra 
para os estudos de economia. Composto de cinco livros (ou partes), A riqueza das 
nações é definido, por muitos estudiosos, como o marco do enfoque científico dos 
fenômenos econômicos. O importante é observar que a teoria apresentada nessa 
obra se fundamenta na teoria do crescimento econômico. 
Não podemos deixar de mencionar Karl Marx, o autor das teorias 
econômicas socialistas mais importantes. Na obra O capital, Marx se aprofunda 
nos estudos da economia política tanto dos autores clássicos quanto de seus 
contemporâneos. Com base nesses estudos, Karl Marx – entre os anos de 1861 
e 1862 – elabora imenso manuscrito que leva à elaboração da teoria da mais-
valia, a qual remete à parte do valor da força de trabalho dispendida por 
determinado trabalhador na produção de algo, mas que não é remunerada pelo 
patrão. 
TEMA 2 – ATIVIDADE ECONÔMICA E ÉTICA 
O ser humano, em suas atividades, busca satisfazer suas necessidades e, 
com isso, desenvolver-se como indivíduo. As atividades econômicas são 
complexas e merecem atenção quanto a princípios éticos. As ações praticadas 
nesse campo devem observar princípios estabelecidos sem ultrapassá-los. Em 
outras palavras, suas ações não podem contemplar apenas o próprio benefício, 
sem levar em conta o bem dos demais que façam parte do mesmo meio. 
 
1 Terra ou fonte de renda concedida a alguém (vassalo) por um senhor de certos domínios 
(suserano) mediante a prestação de certos serviços. 
 
 
5 
Tal questão merece atenção especial, pois qualquer atividade econômica 
sempre está ligada, de certa maneira, a outro indivíduo ou a uma coletividade 
maior ou menor. Todo ser humano faz parte de um grupo social. Sendo assim, ele 
pode desenvolver uma atividade econômica que venha a resultar em bens e 
serviços que poderão satisfazer necessidades tanto individuais como as do 
coletivo em que está inserido. Essa atividade econômica está imbuída de uma 
conduta ou de uma postura que envolverá diferentes decisões, as quais irão 
interferir sobre diferentes formas de agir. Toda atividade sempre tem um objetivo 
a ser atingido, mesmo que muitas vezes esse objetivo não esteja explícito a todos 
que fazem parte do processo, e se deve sempre observar princípios importantes, 
ligados à ética, ao ser humano e ao social. 
O primeiroprincípio diz respeito ao fato de que toda ação econômica deve 
ser embasada em um princípio ético. Porém muitas vezes, é difícil estabelecer se 
tal princípio está sendo ou não observado, e se a interpretação dada é a correta. 
Isso se deve ao fato de que cada indivíduo envolvido nesse processo 
econômico tem seu entendimento sobre o que é correto ou não. Vejamos, por 
exemplo, o caso de se estabelecer o preço de um bem de consumo ou serviço 
dentro de princípios éticos. É comum encontrarmos produtos que variam de preço 
de um mercado para outro de forma desproporcional. Nesse caso, a pergunta a 
ser feita é: é moralmente correto um comerciante estabelecer o valor de forma 
subjetiva? Outro exemplo: estabelecer o preço de um produto quando este 
começa a se tornar escasso no mercado em razão de fatores externos, como 
clima ou período de produção, entre outros: considere um produtor de leite: é 
eticamente correto ou moral ele aumentar o valor do litro de leite em um período 
em que a oferta do produto no mercado diminui, ainda que tal produto não tenha 
sofrido nenhuma variação nos valores de sua produção? Tal prática é muito 
comum no Brasil e em muitas partes do mundo, e merece nossa atenção, dado 
que a base de produção geralmente não sofre nenhuma variação. Por que então 
deveria haver uma variação no valor final do produto por ele estar mais escasso 
no mercado? 
Essa questão do princípio ético deve ser observada também em relação à 
qualidade do produto no que se refere ao que será comercializado ao consumidor 
final. Muitas vezes, para se obter mais luro, tal ação envolve o uso de publicidade 
enganosa. Nesse caso, é importante questionar: será eticamente correto anunciar 
um produto como sendo bom e confiável sem que este de fato o seja? 
 
 
6 
O segundo princípio relaciona-se ao fato de que toda ação econômica deve 
ser humana, dado que envolve pessoas. Nessa perspectiva, esta deve atender a 
necessidades concretas, levando-se em conta a dignidade dos envolvidos. De 
acordo com esse princípio, a atividade econômica não deve perder de vista a 
solidariedade nem a fraternidade, isto é, tal ação não deve ter como foco o bem- 
estar de um em detrimento dos demais. O foco da ação econômica deve, portanto, 
visar primeiramente ao ser humano, e não ao lucro. Um exemplo de conduta 
humana e ética é quando um patrão busca não só cumprir com o combinado com 
seus funcionários, pagando em dia seus salários, mas quando, além disso, lhes 
oferece benefícios extras tendo em vista o seu bem- estar. Caso, por exemplo, da 
oferta de almoço no trabalho, quando se oferece ao funcionário não apenas um 
prato de comida, mas sim alimentação de qualidade e um ambiente agradável. 
Um exemplo negativo dentro desse princípio relaciona-se à qualidade do 
produto oferecido no mercado. É comum a mídia mostrar algumas ações de 
comerciantes inescrupulosos que adulteram produtos de forma criminosa. Tal 
ação aumenta os lucros desse comerciante, prejudicando aquele que consome o 
produto adulterado. Essa ação econômica não prioriza, portanto, o ser humano, 
mas sim a obtenção do lucro, fugindo, portanto, do princípio de que toda ação 
econômica deva ser humana. 
O terceiro princípio leva em conta a questão social, ou seja, o grupo no qual 
a ação econômica é executada objetivando justiça social. Nesse sentido, um 
empresário que apenas pensa em obter vantagens com suas ações − ignorando 
que sua empresa precisa dos trabalhadores, dos consumidores e de todos que 
estejam envolvidos direta ou indiretamente no processo − está desconsiderando 
o social. Ele aumenta seus lucros pela não realização da oferta de um serviço ou 
de um produto que havia combinado entregar: não só não entrega, como pratica 
abuso de preços. Ao adotar tal postura, sua prática é condenável eticamente, visto 
que não atende o aspecto social. 
A atividade econômica que um indivíduo ou uma grande empresa 
desempenha é uma fração de um todo maior, que é a atividade social. Essa deve 
ser o foco primário daquele que tem uma atividade econômica, e não o lucro. 
Para muitos, obter lucro em uma atividade econômica só é possível por 
meio de ações que levam à exploração do semelhante. Tal postura, entretanto, 
está totalmente equivocada, uma vez que toda ação econômica é uma ação social 
e, portanto, deve contemplar ações voltadas ao bem de todos os envolvidos. 
 
 
7 
TEMA 3 – ADAM SMITH 
Quando o assunto é atividade econômica e ética, um personagem que 
precisa ser destacado pela forma como desenvolveu seu pensamento e por suas 
contribuições no campo da economia, é Adam Smith (1723-1790). 
No campo da ciência econômica, as contribuições de Smith exercem 
importante papel ainda hoje, visto que eals nos conduzem à reflexão sobre as 
diferentes teorias econômicas. 
Adam Smith nasceu na cidade de Kirkcaldy, na Escócia. Filósofo e 
economista, estudou na Universidade de Glasgow entre os anos de 1937 e 1940. 
Posteriormente, fez seus estudos também na universidade de Oxford e, mais 
tarde, foi professor na cidade de Edimburgo, lecionando filosofia moral, ética, 
economia política, entre outras disciplinas. 
Smith é considerado o mais importante teórico do liberalismo econômico − 
ideologia baseada na organização da economia individual, ou seja, as decisões 
econômicas são tomadas por indivíduos e não por instituições ou organizações 
coletivas. Uma de suas obras mais famosas é A riqueza das nações – na qual ele 
faz uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações, e expõe 
aspectos falhos do sistema capitalista. 
Outra obra de destaque de Smith é Teoria dos sentimentos morais, 
publicada em 1759 e que busca explicar a questão da aprovação e desaprovação 
moral. A base dessa obra é o julgamento moral do ser humano, apresentando 
uma complexidade na análise dos sujeitos sociais. Essa teoria toma como ponto 
de partida o sujeito como ele se apresenta em sua íntegra, ou seja, com todas 
suas paixões e sentimentos. Para Smith, o sentimento moral do ser humano segue 
uma organização que está em plena conformidade com sua própria natureza, ou 
seja, segundo sua natureza interior. 
Para Smith, esta natureza interior do ser humano deseja manter com o 
próximo relações de solidariedade e de ajuda mútua, objetivando a promoção da 
felicidade de todos, e não de interesses egoístas. Desse modo, fica evidente que, 
para Smith, o sentimento moral do ser humano não tem como base o interesse 
único do indivíduo. Segundo ele, os juízos morais do homem têm uma vasta gama 
de fatores que podem promover diferentes ações, buscando sempre o sentido 
moral. 
 
 
8 
Um aspecto importante em sua teoria com relação à questão da moral é 
encontrado no volume 7 da Teoria dos sentimentos morais, quando ele afirma 
A felicidade da humanidade, bem como de todas as outras criaturas 
racionais, parece ter sido o propósito original projetado pelo Autor da 
natureza, quando ele as trouxe à existência. [...] E essa opinião [...] é 
ainda mais confirmada pelo exame dos trabalhos da natureza, que 
parecem todos projetados para promover a felicidade e proteger contra 
a miséria. Mas, agindo de acordo com os ditames de nossas faculdades 
morais, perseguimos necessariamente os meios mais eficazes para 
promover a felicidade da humanidade e pode-se dizer, portanto, que, em 
certo sentido, cooperamos com a Divindade e promovemos, tanto 
quanto está em nosso poder, o plano da Providência. (Smith, citado por 
Cerqueira, 2006, p. 11) 
Esse trecho da obra nos revela que o posicionamento de Smith era 
baseado no providencialismo – teoria que entende Deus como o verdadeiro 
personagem da história e a quem tudo deve ser atribuído, ou seja, tudo tem sua 
origem na providência divina. Muitos intérpretes da obra de Smith afirmam que o 
ponto de partida de sua obra é o entendimento de uma divindade que apresenta 
uma natureza benevolente e sábia: benevolente na medida em que tempor 
princípio básico de suas ações a felicidade do ser humano, e sábia porque tem o 
pleno entendimento do todo. 
Com relação à benevolência divina para com o ser humano, Hasbach, 
citado por Kleer (1995, p. 275) diz: “O Criador assemelha-se a um relojoeiro que, 
de maneira engenhosa, reuniu as engrenagens do mundo para produzir ordem, 
harmonia, beleza e felicidade, sem que as engrenagens soubessem ou 
desejassem este resultado”. Segundo essa alegoria, o relojoeiro é aquele que 
organiza as diferentes peças do relógio para que este venha cumprir a função 
primária de sua existência; as mãos do relojeiro orientam a direção das peças. Da 
mesma forma seria a interferência divina na humanidade. Todavia, aqui cabe uma 
observação: as diferentes ações observadas ao longo da história da humanidade 
realmente estavam em conformidade com a vontade daquele posicionado por trás 
de toda essa engrenagem? 
Há diferentes interpretações da teoria de Smith; muitas delas, inclusive, vão 
ao extremo, afirmando que ele faz parte do grupo de pensadores que se 
posicionam na contramão das explicações teleológicas, ou seja, negam que em 
sua obra haja orientação de uma providência para ações da sociedade, sendo que 
esta agiria em conformidade com suas vontades. Outros estudiosos da teoria de 
Smith compartilham a ideia de que o sistema smithiano se fundamenta na 
 
 
 
9 
existência de uma harmonia natural das coisas, e essa teoria seria baseada na fé 
pessoal de Smith em Deus, que visaria ao bem do ser humano, ou seja, Smith 
concebia Deus como um ser benevolente. 
TEMA 4 – AMARTYA SEN: ECONOMIA E ÉTICA 
O economista e escritor indiano Amartya Kumar Sen (1933-) fez seus 
estudos de economia na Universidade de Cambridge, Inglaterra. Ao retornar à 
Índia, começou a dar palestras e iniciou carreira como professor na Escola de 
Economia de Delhi. Posteriormente, lecionou na Escola de Economia e Ciência 
Política de Londres e na Universidade de Harvard. Na Universidade de Cambridge 
atuou como reitor. Foi também um dos fundadores do Institulo Mundial de 
Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU). 
Assombrado com a fome que continuava a assolar seu país, Sen 
aprofundou os estudos sobre a economia dos países em desenvolvimento, 
analisando as diferentes condições das pessoas mais pobres do planeta. Desse 
estudo resultaram várias obras influentes, que abordam a desigualdade 
econômica, a pobreza, a fome, a ética e a economia. Seu livro mais conhecido, 
Pobres e famintos: um ensaio sobre direito e privação, publicado em 1981, faz 
uma análise profunda sobre o direito e também sobre a privação por que muitos 
cidadãos passam. Nela, Kumar Sen observou que a miserabilidade a que muitos 
são sujeitados não é gerada pela falta de comida, mas sim pela má organização 
(ou, em muitos casos, a falta dela) dos governos, que não fazem a devida 
distribuição dos alimentos, ocasionando a morte de centenas de milhares de 
pessoas. 
Em 1998, recebeu o Prêmio Nobel de Economia em virtude de seus 
trabalhos teóricos, que contribuem para uma nova compreensão dos conceitos 
referentes à pobreza, miséria, fome, e bem-estar social, fatores enfrentados por 
grande parte da população mundial. Para ele, o desenvolvimento de um país está 
intimamente ligado às oportunidades oferecidas à população, relacionadas à 
cidadania, ou seja, ao direito de se fazer escolhas e de se ter uma vida digna. 
Essa ideia engloba a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e 
educação, e avança para direitos como a segurança, liberdade e habitação. 
A perspectiva de Sen sobre a teoria ética é de maximizar a justiça nas 
decisões concretas que ela determina. Nesse sentido, ele se volta à ideia do 
 
 
 
10 
utilitarismo − teoria filosófica cujo objetivo é compreender os diferentes 
fundamentos da ética e da moral partindo das consequências das ações. Em 
outras palavras, uma ação só pode ser aceita como correta no aspecto moral se 
suas consequências produzirem o bem-estar coletivo; se isso não ocorrer, tal ação 
é condenável e errada. Para Sen, a economia tem sua raiz, basicamente, em duas 
vertentes diferentes: a primeira, vinculada à ética, e a segunda, à engenharia. No 
que tange à ética na economia, Sen faz uma retomada na história, afirmando que 
desde os pensadores gregos, como Aristóteles, a economia já estava vinculada à 
ética, na medida em que a riqueza deveria existir para promover o bem do ser 
humano e não para subjugá-lo. A economia “engenharia”, por sua vez, refere-se 
à capacidade de produzir soluções aos problemas apresentados pelo mercado, 
ou seja, a questões voltadas à produção de algo. 
Na compreensão de Sen, quando há proximidade da economia e da ética, 
ambas são beneficiadas. No entanto, segundo ele, a economia “engenharia” tem 
suas limitações, pois se inclina somente a questões técnicas e não a aspectos 
éticos. 
Para Sen, a liberdade do indivíduo é algo importante, visto que somente ela 
poderá conduzir o sujeito ao crescimento. Conforme suas palavras, 
a privação da liberdade econômica na forma de pobreza extrema, pode 
tornar a pessoa uma presa indefesa na violação de outros tipos de 
liberdade. A privação de liberdade econômica pode gerar a privação de 
liberdade social, assim como a privação de liberdade social ou política, 
da mesma forma gerar privação de liberdade econômica. (Sen, 2010, p. 
23) 
Em outras palavras, as privações da liberdade do sujeito alimentam a 
privação de outros direitos e, dessa maneira, o círculo vicioso dificilmente pode 
ser rompido pelo indivíduo envolvido. Sendo assim, resta àqueles que têm 
condições – ou seja, os que estão imbuídos de autoridade − romper esse círculo 
vicioso, e tal ação seria uma ação ética. 
TEMA 5 – ÉTICA NO MUNDO GLOBALIZADO 
O conceito de globalização é traduzido de diferentes maneiras, conforme a 
área. Em termos gerais, globalização refere-se a um processo de integração, em 
escala global, entre as diferentes partes do planeta. Trata-se da ideia de um 
mundo sem fronteiras, envolvendo a integração tanto da economia como de 
outros aspectos, como a política, a tecnologia, a cultura e, para muitos, a religião. 
 
 
11 
O conceito de aldeia global está atrelado à criação de uma rede de 
conexões, que resulta em uma proximidade maior entre as pessoas e nações. Tal 
fator conduziria a uma maior facilidade entre as diferentes culturas e também entre 
as economias espalhadas ao redor do globo. 
Para muitos historiadores e pesquisadores, esse processo teve seu início 
aproximadamente entre os séculos XV e XVI, momento em que ocorreram as 
grandes navegações e as consequentes descobertas marítimas. Nesse período, 
espanhóis e portugueses lançaram-se ao mar com a finalidade de abrir novas 
rotas marítimas e de descobrir novas terras. Dessa maneira, o europeu entrou em 
contato com outras culturas e foram estabelecidos diversos tipos de relações 
comerciais, religiosas e culturais. 
Para outros historiadores, a globalização efetivou-se depois da decadência 
do socialismo da União Soviética, quando houve o crescimento do neoliberalismo, 
que levou à chamada globalização econômica ao redor do mundo. Com a 
globalização, as grandes empresas começaram a buscar novos mercados, tendo 
como alvo os países que haviam abandonado o socialismo, visto que, nestes, 
havia a demanda por diferentes produtos. 
Outro fator característico da globalização é o barateamento do processo 
produtivo das mercadorias. Isso porque as multinacionais buscam países cuja 
mão de obra é mais barata, e ali se instalam para obter maior lucratividade. Tal 
produto é, depois, vendido a países espalhados pelo mundo todo. 
As grandes mudanças que estão ocorrendo no mundo atualmente 
requerem dessa sociedade ações práticas e equilibradas. Um exemplo é com 
relação à natureza. O uso desenfreado de recursos naturais em várias partes do 
planeta já está acarretando consequênciasnegativas ao meio ambiente. Desse 
modo, a sociedade precisa buscar soluções para o uso dos diferentes recursos, a 
fim de não comprometer o equilíbrio ambiental. Em outras palavras, é necessário 
que todos se comprometam com ações éticas. 
Uma reflexão que precisa ser retomada é que a ética individual, dê lugar à 
ética da coletividade. Quando a decisão de um sujeito ou de um pequeno grupo 
toma proporções que prejudicam o coletivo, isso merece profunda reflexão. 
Para Bittar (2002), um aspecto importante é que a sociedade atual fez 
grandes substituições, o que, de certo modo, acabou por influenciar a busca por 
uma ética coletiva que gere equilíbrio na sociedade. Em suas palavras, “no lugar 
da transcendência, a racionalidade, no lugar do manual, o lucro; no lugar da 
 
 
12 
unidade, a multiplicidade; no lugar da integração, a fragmentação” (Bittar, 2002, 
p. 54). Conforme este autor, algumas dessas mudanças, por um lado, trouxeram 
grandes avanços, sendo estes benéficos para a sociedade. Por outro lado, 
entretanto, essas mudanças afetaram o modo de vida no que diz respeito às 
relações na sociedade e, com isso, o crescimento econômico de alguns em 
detrimento de muitos. 
Ao dizer “no lugar da virtude, o lucro”, Bittar expressa que, para muitos, o 
lucro está em primeiro lugar, independentemente das ações que precisam ser 
tomadas. Isso significa que, se for necessário subjugar alguns para a obtenção de 
lucro, isso será feito. Essa postura é encontrada, por exemplo, em alguns líderes 
políticos, que tomam certas decisões que ainda assim prejudiquem uma maioria. 
Cabe aqui uma reflexão ética por parte de toda a sociedade sobre suas 
diferentes ações, a fim de que muitos não sejam prejudicados com decisões 
pautadas em necessidades subjetivas por parte de poucos ao redor do planeta. 
FINALIZANDO 
Abordamos aqui diferentes tópicos que envolvem a ética e a economia. 
Analisamos as relações entre a atividade econômica e a ética. Vimos como a 
atividade econômica de um indivíduo, de uma empresa ou de uma nação é algo 
complexo e que merece atenção no que se refere aos princípios éticos. 
Vimos ainda que, no campo da ciência econômica, as contribuições de 
Smith exercem papel preponderante ainda nos dias de hoje, na medida em que 
nos conduzem a uma reflexão sobre as diferentes teorias econômicas. 
No quarto tema do texto apresentamos a vida e obra de Amartya Kumar 
Sen, economista e escritor indiano. Para esse estudioso, a liberdade do indivíduo 
é algo muito importante, uma vez que conduz ao seu crescimento. 
Por último, trabalhamos o tema ética no mundo globalizado. O conceito de 
globalização remente ao entendimento de um mundo único, sem fronteiras, em 
que há uma integração tanto da economia como de outros aspectos, como o 
político, o cultural e o religioso. 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
AMARTIA Sen. Algo sobre. Disponível em: 
<https://www.algosobre.com.br/biografias/amartya-sen.html>. Acesso em: 4 ago. 
2017. 
AMARTYA Sen. Wikipédia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Amarty
a_Sen>. Acesso em: 21 ago. 2017. 
BITTAR, E. C. B. Curso de ética jurídica. São Paulo: Saraiva, 2002. 
CERQUEIRA, H. E. A. da G. Sobre a filosofia moral de Adam Smith. Disponível 
em: <http://www.anpec.org.br/encontro2006/artigos/A06A039.pdf>. Acesso em: 
14 ago. 2017. 
DEFINIÇÕES de economia. Economia Nostra, 11 mar. 2014. Disponível em: 
<https://economianostra.wordpress.co m/2014/03/11/definicoes-de-economia/>. 
Acesso em: 21 ago. 2017. 
GLOBALIZAÇÃO. Sua Pesquisa.com. Disponível em: <http://www.suapesquisa 
.com/globalizacao/>. Acesso em: 21 ago. 2017. 
KLEER, R. Final causes in Adam Smith’s theory of moral sentiments. Journal of 
the history of philosophy, v. 33(2): 275-300, 1995. 
MACFIE, A. L. The individual in society: Papers on Adam Smith. London: 
Routledge, 2010. 
MARX, K. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1985. 
Livro 1. 
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