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Página 1 ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA TUTELAS COLETIVAS DE CONSUMO E MEIO AMBIENTE Ana Paula Rocha Prado – RA 7378514 Bianca Vieira Pinheiro - RA 7677495 Fernanda Elis Almeida Ramos – RA 7310240 Jucimara dos Santos Santana - RA 6241772 Professor Marcelo Mingrone Turma 003210A04 - Itaim Página 2 O presente estudo refere-se à análise do filme Erin Brockovich – Uma mulher de talento, no qual há a nítida violação de tudo o que se prega acerca dos direitos ambientais, assim como uma pesquisa doutrinaria e jurisprudencial acerca da tutela coletiva dos danos ambientais, no ordenamento brasileiro. Em apertada síntese, o filme retrata uma mulher, no caso, chamada de Erin Brockovich, que é solteira, mãe de três filhos. Ela sofre um acidente de trânsito e procura um escritório de advocacia para ajudá-la no processo contra o médico que bateu em seu carro. Erin perde o processo mas acaba indo trabalhar no escritório que havia contratado. Ao organizar determinados arquivos de um caso judicial, sem ter prévio conhecimento da área jurídica, ela se depara com um caso em que uma Empresa decide comprar uma propriedade e a família não quer vender a casa e vive constantemente doente. Erin vê uma relação entre os dois problemas e investigá-lo. Assim sendo, ela decide confrontar essa empresa, a PGE-Gás e Eletricidade do Pacifico, momento no qual ela descobre que essa empresa contamina, de forma continuada e ininterrupta, a água de uma pequena cidade localizada na Califórnia, e quando as famílias que moram no entorno da empresa ficam doentes, a empresa paga médicos para acobertar os problemas. Após o primeiro caso, outra família aparece com o mesmo problema, levando Erin e o escritório a acreditarem que os problemas advinham da fábrica da PGE. Essa empresa comete diversos crises ambientais, resultantes em mortes, doenças, mal formações nos habitantes e doenças como: alergia, asma, canceres e impossibilidade de passar pelo período gestacional até o final, isso sem falar nos danos emocionais e despesas médicas, decorrentes da industrialização compulsiva realizada pela PGE. Conforme ensina Délton Carvalho: “Os “efeitos colaterais” da industrialização (produção industrial massificada) e da absorção econômica dos desenvolvimentos tecnocientíficos fomentam a produção e a distribuição de ameaças à própria sobrevivência da humanidade pela potencialização da econômica capitalista. Assim, a sociedade atual se posiciona em uma situação de autodestruição (selfendangered). As ameaças decorrentes da sociedade industrial são de natureza tecnológica, política e, acima de tudo, ecológica. Enquanto na sociedade industrial pode-se dizer que há uma certa previsibilidade das consequências negativas dos processos produtivos capitalistas, na sociedade de risco (que não deixa de tratar-se de Página 3 uma sociedade industrial, porém potencializada pelo desenvolvimento tecnocientífico) há um incremento no grau de incerteza quanto às consequências das atividades e tecnologias empregadas nos processos econômicos. Dessa forma, essa nova estrutura social apresenta riscos transtemporais (efeitos ilimitados temporalmente), de alcance global e potencialidade catastrófica.” (CARVALHO, 2008, p. 13-14) Em outras palavras, os habitantes foram contaminados em razão do uso acima do limite tolerado de cromo hexa-valente, sendo que o tempo de exposição à esse agente químico foi corroborado através de documentos comprobatórios constantes no Departamento de Águas da cidade, os quais instruíram as razões elencadas pela mulher. Assim, foi-se atestado que a empresa sabia da lesão que vinha ocasionando por mais de uma década, e continuou a fazê-lo, tentando encobrir sua responsabilidade civil por danos ao meio ambiente. Não há no ordenamento jurídico conceito bem definido acerca do dano ambiental, mas a doutrina o conceitua, essencialmente, como a lesão aos recursos ambientais e ao meio ambiente como um todo, com a sua consequente degradação. Para Édis Milaré (2018), o conceito de dano ou degradação ambiental encontra-se na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981): “A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981) delimitou as noções de degradação da qualidade ambiental – “a alteração adversa das características do meio ambiente”3 – e de poluição – “a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas as atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”. (MILARÉ, 2018) Para elucidar melhor, salienta-se que a empresa deixou vazar diversas substancias toxicas contaminando as águas subterrâneas, que, em um lapso mínimo de tempo, eram consumidas pela população da região. Essa substância diz respeito a um inibidor de ferrugem, onde usam um motor de pistão para comprimir o gás e que depois vem a corrosão. Essa água contaminada ficava em tanques artificiais, os quais não continham nenhum forro bloqueando-a para que não contaminasse os lençóis freáticos. Página 4 Apaixonada pela causa, a mulher decora todos os nomes, contatos e enumera o problema de cada uma das vítimas, tratando-se as não como mero trabalho, mas sim como pessoas que foram enganadas. E, com o tempo, o caso toma proporções gigantescas. A Empresa feriu o princípio da informação, ao enganar a população falando que na água continha apenas o tipo não tóxico de cromo, quando na verdade a empresa se utilizava do Cromo-6, extremamente tóxico à população. No caso é nítido o desrespeito à diversos princípios ambientais, tais como: princípio da precaução, que se reporta à função principal de evitar os riscos e a ocorrência de danos ambientais; está em desacordo com o princípio da prevenção, esculpido no art. 225, caput, da CF/88 e do princípio do poluidor, que consiste na obrigação do poluidor a pagar com os custos da reparação do dano por ele causado ao meio ambiente. E, como se não bastasse, a empresa foi de encontro ao princípio da informação, haja vista ter mentido aos moradores, alegando que os componentes do elemento químico eram inofensivos. O princípio do poluidor pagador está presente em toda jurisprudência brasileira acerca do tema de danos ambientais, como por exemplo: “APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - PRINCÍPIO DO POLUIDOR PAGADOR - DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO - QUANTUM - RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. (...). Em conformidade com o princípio do poluidor-pagador, previsto no artigo 14, parágrafo 1º, da lei federal 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, aquele que degrada o meio ambiente é obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos ambientais.” (TJ/MG. Apelação n° 10000191279223001, Relator Newton Teixeira Carvalho, julgado em 18.02.2020. DJE 21.02.2020) Por fim, após um longo tempo de litigio, a empresa é condenada a pagar milhões de dólares em indenizações às famílias afetadas pelo dano ambiental. De forma crítica, a atividade poluente representa um confisco do direito de outrem, pois os habitantes não podiam beber água saudável, o que acarretava na impossibilidade de viver de forma saudável, devendo-se aplicar o princípio do poluidor- pagador, que é a internalização dos custos ambientais na atividade, sendo de acordo com Página 5 a teoria objetiva em razão da irresponsabilidade da empresa que sujou as águas com a substancia cromo. A responsabilidade civil objetiva independe de culpa ou não da empresa, portanto o que é indispensável paraa responsabilização é o dano e o nexo causal, e não a conduta do agente. Portanto deve-se aplicar a teoria do risco integral, de acordo com o art. 03º da lei 6.938/81 e com a lei 7347/85, pois a empresa deve prezar pelo bem social, garantindo constitucionalmente. Em uma ação coletiva como essa, visando à defesa do meio ambiente, ainda que a pretensa conduta lesiva se dê em área de patrimônio da União (CF/88, ART.20), o que está em jogo não é este último, mas aquele, ou seja, o direito fundamental difuso constitucionalmente assegurado (art.225). Diante de todo exposto, é evidente que a empresa também deve ser responsabilizada administrativa e criminalmente, de acordo com o artigo 70 da lei 9605: “Art. 70. Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.” No presente caso, a empresa incorreu em ação e omissão ao contaminar a água da região com produto tóxico prejudicial ao meio ambiente e à saúde dos habitantes. E ainda, no âmbito criminal a empresa incorreu na infração contida no artigo 54, caput, inciso III e V, e parágrafo 3º do mesmo diploma: “Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. (...) III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de água de uma comunidade; (...) V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos: (...) § 3º Incorre nas mesmas penas previstas no parágrafo anterior quem deixar de adotar, quando assim o exigir a autoridade competente, medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.” Página 6 Relacionando o filme à tutela coletiva do meio ambiente, essa está prevista no artigo 225, da Constituição Federal, o qual, essencialmente, prevê que todos tem direito à ele e todos devem defende-lo. Assim, quando um poluidor afeta o meio ambiente e o degrada, todos a sua volta são afetados. No Brasil, o procedimento adequado para a tutela coletiva do meio ambiente seria a Ação Civil Pública, ajuizada pelo Ministério Público, Defensoria Pública ou até Associações que preencherem os requisitos da lei, conforme exemplos jurisprudenciais abaixo: “ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DE INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. ARTS. 127 E 129, III E IX, DA CF. VOCAÇÃO CONSTITUCIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS. DIREITO À SAÚDE. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. RELEVÂNCIA PÚBLICA. EXPRESSÃO PARA A COLETIVIDADE. UTILIZAÇÃO DOS INSTITUTOS E MECANISMOS DAS NORMAS QUE COMPÕEM O MICROSSISTEMA DE TUTELA COLETIVA. EFETIVA E ADEQUADA PROTEÇÃO. RECURSO PROVIDO. (...) "São funções institucionais do Ministério Público: III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; (...) É imprescindível considerar a natureza indisponível do interesse ou direito individual homogêneo - aqueles que contenham relevância pública, isto é, de expressão para a coletividade - para estear a legitimação extraordinária do Ministério Público, tendo em vista a sua vocação constitucional para a defesa dos direitos fundamentais. 4. O direito à saúde, como elemento essencial à dignidade da pessoa humana, insere-se no rol daqueles direitos cuja tutela pelo Ministério Público interessa à sociedade, ainda que em favor de pessoa determinada. 5. Os arts. 21 da Lei da Ação Civil Pública e 90 do CDC, como normas de envio, possibilitaram o surgimento do denominado Microssistema ou Minissistema de proteção dos interesses ou direitos coletivos amplo senso, (...) que visam tutelar direitos dessa natureza, de forma que os instrumentos e institutos podem ser utilizados com o escopo de "propiciar sua adequada e efetiva tutela" (art. 83 do CDC). 6. Recurso especial provido para determinar o prosseguimento da ação civil pública.” (Recurso Especial n° 695396. STJ, Ministro Relator Arnaldo Esteves Lima. DJe 27.04.2011). Página 7 “AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROTEÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE. COMPLEXO PARQUE DO SABIÁ. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC NÃO CONFIGURADA. CUMULAÇÃO DE OBRIGAÇÕES DE FAZER COM INDENIZAÇÃO PECUNIÁRIA. ART. 3º DA LEI 7.347/1985. POSSIBILIDADE. DANOS MORAIS COLETIVOS. CABIMENTO. (...) art. 3º da Lei 7.347/1985 permite a cumulação das condenações em obrigações de fazer ou não fazer e indenização pecuniária em sede de ação civil pública, a fim de possibilitar a concreta e cabal reparação do dano ambiental pretérito, já consumado. Microssistema de tutela coletiva. 3. O dano ao meio ambiente, por ser bem público, gera repercussão geral, impondo conscientização coletiva à sua reparação, a fim de resguardar o direito das futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. 4. O dano moral coletivo ambiental atinge direitos de personalidade do grupo massificado, sendo desnecessária a demonstração de que a coletividade sinta a dor, a repulsa, a indignação, tal qual fosse um indivíduo isolado. 5. Recurso especial provido, para reconhecer, em tese, a possibilidade de cumulação de indenização pecuniária com as obrigações de fazer, bem como a condenação em danos morais coletivos, com a devolução dos autos ao Tribunal de origem para que verifique se, no caso, há dano indenizável e fixação do eventual quantum debeatur” (Recurso Especial n° 1269494. STJ, Ministra Relatora Eliana Calmon. DJe 01.10.2013). Sobre a competência para julgar a referida Ação Civil Pública, de acordo com o art. 2° da lei n. 7.347/85, essa pertence ao foro do local onde o dano ao meio ambiente efetivamente ocorreu. Em caso de dano regional, que extrapole os limites municipais, Marcelo Buzaglo Dantas ensina: “Com efeito, basta se pensar em uma conduta lesiva ao meio ambiente cujos, efeitos ultrapassam os limites do território de duas ou mais comarcas, todas- bastante distantes da capital do estado. É de se questionar: seria razoável exigir-se que a respectiva ação civil pública fosse proposta perante aquele longínquo juízo, ainda que o mesmo seja a sede administrativa do Poder Executivo do estado-membro? Ou, no mesmo passo, imagine-se um dano ambiental que extrapole as fronteiras dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, no extremo oeste de ambos, por exemplo. A propósito: poder- se-ia promover a ação civil pública no Distrito Federal? Ou, mesmo que se Página 8 adote a concorrência de foros, opções mais plausíveis, na capital de um dos estados-membros, que ainda assim, dista por demais do local dos danos? Em tais casos, admitidos o entendimento corrente, inúmeras seriam as dificuldades na produção de provas e acompanhamentos do feito pelo legitimado que propôs a ação, o que ocasionaria profundos prejuízos ao acesso da coletividade à justiça. Isso sem falar nos problemas que enfrentaria o magistrado para conduzir o efeito, coletar a prova e, especialmente, aquilatar os impactos materiais e morais decorrentes da lesão ambiental. É justamente esse tipo de embaraço que a norma do art. 2º da LACP buscou evitar. E mais: a interpretação em apreço, ao contrário do que pode ocorrer em sede de outros interesses difusos e coletivos, em matéria de meio ambiente, contraria todo o sistema de tutela coletiva, concebida com vistas a facilitar o acesso da coletividade a jurisdição.” (DANTAS, 2009) Bibliografia CARVALHO, DéltonWinter de. Dano Ambiental Futuro: a responsabilização civil pelo risco ambiental. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008. DANTAS, Marcelo Buzaglo. Ação civil pública e meio ambiente: teoria geral do processo, tutela jurisdicional e execução. São Paulo: Saraiva, 2009 MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente. 11. Ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. STJ. Recurso Especial n° 1269494. Ministra Relatora Eliana Calmon. DJe 01.10.2013. STJ. Recurso Especial n° 695396. Ministro Relator Arnaldo Esteves Lima. DJe 27.04.2011. TJ/MG. Apelação n° 10000191279223001. Relator Newton Teixeira Carvalho. DJE 21.02.2020.
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