Buscar

APS - Crônicas de uma Morte Anunciada - Crítica

Prévia do material em texto

Direito FMU – 1° Semestre – Manhã – Turma 003101B02 
Atividade Prática Supervisionada (APS) – Direito Penal, 
Sociologia e Teoria do Crime 
Aluno: Guilherme Gigek de Oliveira 
RA: 3306408 
O livro de Gabriel García Márquez, Crônica de uma Morte Anunciada, retrata os 
prelúdios de um crime de homicídio qualificado – uma vez que o mesmo foi 
realizado por motivo torpe, fútil, utilizando-se de emboscada e de método cruel 
para a consumação da conduta – cometido pelos Gêmeos Pablo e Pedro Vicário 
contra o filho de imigrantes árabes, Santiago Nassar. 
Desde o início já se sabia o que ocorreria, o assassinato de Santiago Nassar, 
entretanto, a morte do mesmo não é o foco principal da trama, mas sim como 
ela sucedeu-se. Isso porque antes do ato ser efetivamente realizado, boa parte 
cidade, de pouco em pouco, foi descobrindo o que viria a ocorrer, mas, por 
múltiplos motivos, não interviram na conduta dos irmãos Vicário. 
O motivo do crime, de forma resumida, é o reestabelecimento da honra de 
Ângela Vicário, irmã dos autores do crime, uma vez que essa não era virgem 
quando se casou, e seu recém esposo, quando percebeu tal fato em meio a noite 
de núpcias, devolveu-a a sua família. Como a não castidade da mulher antes do 
casamento era algo moralmente inaceitável, a jovem foi agredida pela mãe até 
que dissesse quem tirara sua castidade. Em um gesto de desespero ante as 
agressões, Ângela afirma que seu amante secreto era Santiago Nassar, dando 
assim um alvo para a frágil, porém não inexistente, vontade de matar dos 
gêmeos Vicário. 
A partir do momento em que se estabeleceu que o galante Santiago morreria, 
até a conclusão do ato, muito tempo se passou, muitas oportunidades foram 
perdidas e muitas pessoas foram comunicadas, pelos próprios irmãos, sobre o 
que viria a acontecer, deixando assim transparecer que o desejo de sangue dos 
gêmeos não era assim tão grande. Entretanto, cada um que foi comunicado 
reagiu de forma diferente e não suficiente para o impedimento da consumação. 
O prefeito, por exemplo, somente retirou as facas que seriam usadas pelos dois 
Vicários para a execução, e não os pôs sob vigilância ou avisou ao Santiago 
sobre o risco que estava correndo. Outra pessoa notável que sabia do que 
ocorreria era Victoria Gusmán, a cozinheira dos Nassar, mas essa não evitou o 
crime porque viu no ato uma oportunidade de finalmente livrar-se de Santiago, 
de quem já guardava muito ressentimento. 
É nesse momento do livro, em que todos ficam sabendo sobre o iminente 
assassinato, o qual se compreende que boa parte da cidade é responsável pela 
execução do crime, tanto quando os gêmeos Vicário, uma vez que esses 
cometeram crimes omissivos próprios (no caso daqueles que não tinham, por lei, 
a responsabilidade de garantir a vida de Santiago, como é o caso do padre) e 
crimes omissivos impróprios (como no caso do prefeito, que tinha o dever legal 
de impedir o ato, mas não o fez). Tais personagens secundários sapientes da 
possibilidade do crime cometeram um delito comparado ao do caso presente no 
seguinte endereço de web: “https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/policia-
diz-que-mae-permitia-estupro-de-filha-para-fazer-a-crianca-sofrer.ghtml”, em 
que uma mãe – responsável legal pela vida e saúde de sua prole – permitia que 
homens estuprassem e praticassem outros atos libidinosos contra sua filha, 
tornando-se assim coautora das práticas ilegais cometidas pelos abusadores, 
uma vez que a mesma cometeu crime omissivo impróprio no momento em que 
permitiu as agressões. 
É no final do livro que finalmente o crime se consuma. Os gêmeos Vicário, já 
alcoolizados em uma tentativa de ganhar coragem para cometer o delito, formam 
uma emboscada na calçada oposta à da casa de Santiago Nassar, armados de 
facas de abate de porcos, a espera de sua vítima. Quando finalmente Santiago 
chega à porta de sua moradia – já desesperado, uma vez que tinha acabado de 
descobrir o desejo dos Vicários pela sua cabeça – os irmãos veem a 
oportunidade de recuperar a honra de sua irmã, e assim o fazem de forma cruel, 
com múltiplas facadas em todo o externo da vítima, de modo a deixar assim as 
vísceras de Nassar a mostra para todos os espectadores presentes no ato, 
incluindo nesses, a mãe do padecente. 
Com o crime já consumado, os irmãos são presos preventivamente, e esperam 
até serem julgados e transferidos para um presídio adequado. E é aí que outra 
parte muito reflexiva do livro aparece, já que os irmãos foram condenados pelo 
assassinato do Santiago Nassar, entretanto, tiveram a pena reduzida pelo 
magistrado por tratar-se de um crime de honra, e como tal, teria sua punição 
mais branda. No entanto, um fato que não foi atentado pelo magistrado foi a 
validade da afirmação de Ângela sobre Nassar ter sido aquele que tirara sua 
pureza, uma vez que a mesma tinha feito tal acusação sob tortura, e não tinha 
qualquer outra prova indicativa de que teria mesmo sido Santiago o primeiro a 
deitar-se com a jovem. Dessa forma, nem mesmo a justificativa de tratar-se de 
um crime de honra seria válida. 
Em suma, a obra de Gabriel García Márquez retrata uma sociedade em que o 
crime é justificável por um motivo torpe, em que os cidadãos sentem prazer em 
presenciar o desastre, mesmo que o mesmo não tenha motivo comprovado e 
razoável para existir. No fim, Crônica de uma Morta Anunciada é uma lição de 
moral a todos que fecham os olhos àqueles atos criminosos cometidos a sua 
volta, e é, também, um demonstrativo de como a justiça é relativa à moral para 
boa parte da sociedade, tanto no espaço em que ocorre a obra, quanto na 
realidade. 
https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/policia-diz-que-mae-permitia-estupro-de-filha-para-fazer-a-crianca-sofrer.ghtml
https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/policia-diz-que-mae-permitia-estupro-de-filha-para-fazer-a-crianca-sofrer.ghtml

Continue navegando