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TUTORIA Problema -Infecções fúngica 1. Estudar as características do fungo de importância médica Estrutura e crescimento Fungos (leveduras e fungos filamentosos) são organismos eucariotos. ● Estruturas celulares dos fungos importantes na área clínica: (1) A parede da célula fúngica é composta basicamente por quitina, dessa forma, os fungos são insensíveis a alguns antibióticos, como a penicilina, que inibem a síntese do peptideoglicano. A quitina é um polissacarídeo composto por longas cadeias de N-acetilglicosamina. A célula fúngica também contém outros polissacarídeos, e entre eles o mais importante é oβ-glicano. Oβ-glicano tem importância médica, pois representa o local de atuação do fármaco antifúngico caspofungina. (2) A membrana celular dos fungos contém ergosterol, ao contrário da membrana da célula humana, que contém colesterol. ● Tipos morfológicos de fungos: (1) Leveduras: unicelular e se reproduzem por brotamento. (2) Fungos filamentoso: longos filamentos (hifas- septadas ou asseptadas) e formam um emaranhado (micélio). (3) Dimórficos: fungos que apresentam diferenças morfológicas em diferentes temperaturas. Esses fungos são filamentosos na temperatura ambiente e são leveduras (ou outras estruturas) nos tecidos humanos na temperatura corporal. ● A maioria dos fungos é aeróbia obrigatória; alguns são anaeróbios facultativos; entretanto, nenhum é anaeróbio obrigatório. ● Os fungos necessitam de uma fonte de carbono orgânico pré-formado ● Fungos de interesse clínico propaga-se de forma assexuada, formando os conídios (esporos assexuados) produzidos na lateral e na extremidade de estruturas especializadas. (1) artrósporos que são produzidos pela fragmentação da extremidade da hifa e representam a forma de transmissão da espécie Coccidioides immitis (2) clamidósporos , que são arredondados, com parede espessa e muito resistentes. (3) blastósporos, que são formados pelo processo de brotamento, pelo qual as leveduras se reproduzem assexuadamente. (4) esporangiósporos, que são formados no interior de uma estrutura sacular (esporângio) na extremi- dade de colunas produzidas pelos fungos filamentosos dos gê- neros Rhizopus e Mucor. 2. Entender as reações de hipersensibilidade Os distúrbios causados por respostas imunes são chamados de hipersensibilidade. Este termo surgiu da definição clínica de imunidade como uma sensibilidade, baseando-se na observação de que um indivíduo que tenha sido exposto a um antígeno exibe uma reação detectável, ou torna-se sensível, a encontros subsequentes com esse antígeno. Causas da hipersensibilidade 1. Autoimunidade: reações contra antígenos próprios A falha dos mecanismos normais de autotolerância resulta em reações contra as próprias células e tecidos. As doenças autoimunes são crônicas e debilitantes e representam um enorme fardo médico e econômico 2. Reações contra microrganismos As respostas das células T contra microrganismos persistentes podem dar origem a uma inflamação grave, algumas vezes, com a formação de granulomas; esta é a causa da lesão tecidual observada na tuberculose e algumas outras infecções crônicas. Se forem produzidos anticorpos contra antígenos microbianos, eles podem se ligar aos antígenos para produzir imunocomplexos, que se depositam nos tecidos e desencadeiam inflamação. 3. Reações contra antígenos ambientais. Alguns indivíduos tornam-se sensibilizados a antígenos ambientais e substâncias químicas, que, em contato com a pele, desenvolvem reações de células T que levam à inflamação mediada por citocinas, resultando em sensibilidade de contato. *As hipersensibilidades são geralmente classificadas de acordo com o tipo de resposta imune e o mecanismo efetor responsável pela lesão celular e tecidual. Mecanismos e classificação das reações de hipersensibilidade ● A hipersensibilidade imediata (hipersensibilidade do tipo I), causada por anticorpos IgE específicos para antígenos ambientais, é o tipo mais prevalente de hipersensibilidade. A hipersensibilidade imediata, comumente chamada de alergia ou atopia, é o exemplo de doença resultante da ativação de células T auxiliares. O indivíduo deve ter sido sensibilizado pelo antígeno previamente para correr o risco de desenvolver uma reação destas. A primeira exposição produziria imunoglobulinas E (IgE) específicas ao antígeno, então uma memória para esta IgE é guardada pelas células de memória. A interação dos mastócitos ligados a IgE com o antígeno induz a sua degranulação e libera mediadores inflamatórios. Mastócitos contêm histamina. Quando eles degranulam, a histamina liberada causa aumento da permeabilidade vascular e vasodilatação que contribuem para o efeito imediato visto em reações de hipersensibilidade do tipo I. ● hipersensibilidade do tipo II: Os anticorpos IgG e IgM podem causar lesão tecidual por meio da ativação do sistema complemento, recrutando células inflamatórias e interferindo nas funções celulares normais. Alguns desses anticorpos são específicos para antígenos de determinadas células ou da matriz extracelular e são encontrados ligados a essas células ou tecidos ou como anticorpos livres na circulação; as Reações de hipersensibilidade tipo II são consideradas mediadas por anticorpos. Elas ocorrem quando um anticorpo ou imunoglobulina é produzida em resposta a um antígeno não danoso, resultando em uma reação imunológica indesejada. Elas podem ocorrer quando as células B que produzem imunoglobulinas contra células nativas não são destruídas durante seu desenvolvimento. Quando isto ocorre, os indivíduos correm o risco de desenvolver alguma doença autoimune, podendo ser em um órgão específico ou anemia hemolítica autoimune. ● Outros anticorpos podem formar imunocomplexos na circulação – de modo que os complexos são subsequentemente depositados nos tecidos, particularmente nas paredes dos vasos sanguíneos – e causar lesões. As doenças decorrentes de imunocomplexos também são chamadas de hipersensibilidade do tipo III. Reações de hipersensibilidade do tipo III ocorrem pelo depósito de complexos imunológicos, o que resulta em uma ativação complementar e inflamação. ● A lesão tecidual pode ocorrer em razão dos linfócitos T que induzem inflamação ou matam diretamente as células-alvo; tais condições são chamadas de hipersensibilidade do tipo IV. Elas são causadas principalmente pela ativação de células T auxiliares CD4 + , as quais secretam citocinas que promovem a inflamação e ativam os leucócitos, especialmente neutrófilos e macrófagos. As reações de hipersensibilidade tipo IV surgem através de reações estimuladas por antígenos específicosde Células T. Tipicamente estas reações ocorrem após o contato de um antígeno sensibilizante com a pele, em que os efeitos são visualizados como dermatite de contato. 3. Conhecer as infecções fúngicas de importância médica Micoses cutâneas 1. Dermatofitoses As dermatofitoses são causadas por fungos (dermatófitos ) que infectam apenas estruturas queratinizadas superficiais (pele, pelos e unhas) e não tecidos profundos. Os dermatófitos mais importantes estão classificados em três gêneros: Trichophyton, Epidermophyton e Microsporum. Eles são transmitidos por pessoas infectadas pelo contato direto. Microsporum também é transmitido por animais, como cachorros e gatos. Isso indica que, para prevenir reinfecções, os animais também devem ser tratados. As dermatofitoses (tíneas) são infecções crônicas frequente- mente localizadas em áreas quentes e úmidas do corpo (p. ex., pé de atleta e comichão). Típicas lesões de tíneas apresentam uma borda circular com sinais de inflamação contendo pápulas e vesículas circundadas por uma zona clara de pele normal. As lesões, em geral, são pruriginosas (causam coceira). O Trichophyton tonsurans é a causa mais comum da proliferação de tínea do couro cabeludo em crianças e a principal causa de infecções tipo endótrix (no interior do pelo). Trichophyton rubrum é também um agente causador muito comum de tínea do couro cabeludo. Trichophyton schoenleinii é o causador do favo, uma forma de tínea do couro cabeludo em que uma crosta pode ser observada no escalpo. Espécies de Trichophyton também causam uma lesão pustular inflamada, no escalpo, denominada kerion. A marcante inflamação é causada por uma intensa reação à presença do fungo mediada por células T. Em algumas pessoas infectadas, a hipersensibilidade causa a reação de dermatofítide (“id”). As lesões id são a resposta do antígeno fúngico circulante; as lesões não possuem hifas O tratamento envolve o uso de cremes antifúngicos locais — terbinafina, ácido undecilênico, miconazol, tolnaftato, etc. — ou via oral, como griseofulvina. A prevenção pode ser realizada mantendo-se a pele seca e fresca. 2. Tíne� versicolor Tínea versicolor (pitiríase versicolor), uma infecção cutânea superficial apenas de importância estética, é causada por Malassezia furfur. As lesões são, em geral, observadas como áreas hipo- pigmentadas, sobretudo na pele bronzeada no verão. A infecção pode ser levemente escamosa ou com coceira, mas, em geral, é assintomática. Isso ocorre com mais frequência em climas quentes e úmidos. As lesões contêm células leveduriformes em brotamento e hifas. 3. Tíne� negr� A tínea negra é uma infecção de camadas queratinizadas da pele. Ela ocorre como uma mancha marrom, causada por um pig- mento similar à melanina presente nas hifas. O agente causador, Cladosporium werneckii, é encontrado no solo e transmitido para as lesões. Micoses subcutâneas São micoses causadas por fungos que crescem no solo e sobre vegetais, e são introduzidas no tecido subcutâneo através de um trauma. 1. Esporotricose O Sporothrix schenckii é um fungo dimórfico. A forma filamentosa ocorre sobre vegetais e a forma leveduriforme ocorre nos tecidos humanos. Quando os esporos do fungo filamentoso são introduzidos na pele, normalmente por um espinho, é formada uma pústula local, ou úlcera, com nódulos ao longo dos vasos linfáticos. As lesões são, em geral, indolores e ocorre uma pequena doença sistêmica. Lesões sem tratamento podem aumentar e diminuir durante os anos. Pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) que apresentam baixa contagem de células CD4 podem apresentar esporotricose disseminada. A esporotricose ocorre com mais frequência em jardineiros, principalmente nos que podam rosas, pois eles podem se ferir com os espinhos das rosas. 2. Cromomicose Essa é uma infecção granulomatosa progressiva e lenta causada por vários fungos do solo (Fonsecaea, Phialophora, Cladosporium, etc.) quando estes são introduzidos na pele através de um trauma. Esses fungos são coletivamente chamados de fungos dematiáceos , pois seus conídios ou hifas são escuros, tanto nas cores cinza quan- to preta. Lesões semelhantes a verrugas com abscessos incrustados se estendem pelos vasos linfáticos. A doença ocorre principalmente nos trópicos e são observadas nos pés e nas pernas. No laboratório clínico, células marrom-escuras arredondadas são visualizadas em leucócitos ou em células gigantes. 3. Micetoma Fungos do solo (Petriellidium, Madurella) penetram através de ferimentos nos pés, nas mãos ou nas costas e causam abscessos, com pus que escorre pelos sínus. O pus contém grânulos compactos coloridos. Actinomicetos, como Nocardia, podem causar lesões similares (micetoma actinomicótico). As sulfonamidas podem auxiliar no caso da ocorrência da forma actinomicótica. Micoses sistêmicas Micoses sistêmicas resultam da inalação de esporos de fungos dimórficos que ocorrem em sua forma filamentosa no solo. Nos pulmões, os esporos diferenciam-se em leveduras ou outras for- mas especializadas, como esférulas. 1. Coccidioides Doença: coccidioidomicose. Características: C. immitis é um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo e como esférula nos tecidos. Transmissão e epidemiologia: O fungo é endêmico em regiões áridas do Sudoeste dos Estados Unidos e na América Latina. No solo, o fungo forma hifas com artrósporos, que se alternam com células vazias.Os artrósporos são muito le- ves e carregados pelo vento. Eles podem ser inalados e infectam os pulmões. Patogênese: Nos pulmões, os artrósporos formam grandes esférulas (30 μm de diâmetro), com parede dupla, espessa e refratária, que é preenchida com os endósporos. Quando ocorre a ruptura da parede, os endósporos são liberados e diferenciam-se em novas esférulas. O organismo pode disseminar-se no interior do indivíduo pela extensão direta ou via corrente sanguínea. Lesões granulomatosas podem ocorrer praticamente em qualquer órgão, mas são encontradas, a princípio, nos ossos e no sistema nervoso central (meningite). A disseminação a partir dos pulmões para os outros órgãos ocorre em pessoas com deficiência na imunidade celular. A maioria dos indivíduos infectados com C. immitis desenvolve uma resposta imune celular (hipersensibilidade tardia) que restringe o desenvolvimento do organismo. 2. Histoplasma Doença: histoplasmose. Características: O H. capsulatum é um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo ecomo levedura nos tecidos. Esse fungo forma dois tipos de esporos assexuados: (1) macroconídios tuberculados; (2) microconídios. Transmissão e epidemiologia Esse fungo ocorre em muitas partes do mundo. Nos Estados Unidos, ele é endêmico nos Estados Centrais e Orientais, principalmente em Ohio e nos vales do Rio Mississippi. O fungo cresce no solo, particularmente se o solo for contaminado com muitos excrementos de pássaros, sobretudo os de estorninhos. Patogênese e achados clínicos: Os esporos inalados são fagocitados pelos macrófagos e transformados em formas leveduriformes. Nos tecidos, H. capsulatum ocorre como uma levedura oval no interior dos macrófagos. As leveduras sobrevivem nas fagolisossomas dos macrófagos por meio da produção de substâncias alcalinas, como bicarbonato e amônia, as quais elevam o pH e inativam as enzimas degradativas dos fagolisossomos. Os organismos disseminam-se amplamente por todo o corpo, sobretudo no fígado e no baço, entretanto, a maioria das infecções permanece assintomática e os pequenos focos granulomatosos cicatrizam por calcificação. 3. Blastomyceces Doença: blastomicose Características: O B. dermatitidis é um fungo dimórfico que existe como filamentoso em solos e como levedura em tecidos infectados. A levedura é envolvida com uma parede celular dupla e refratária e apresenta um broto simples de base larga. Transmissão e epidemiologia: Esse fungo é endêmico principalmente na região oriental da América do Norte, na região próxima aos rios Ohio, Mississippi e Saint Lawrence, bem como na região dos Grandes Lagos. Patogênese e achados clínicos A infecção ocorre principalmente via trato respiratório. Casos assintomáticos ou brandos são dificilmente detectados. A disseminação pode resultar em granulomas ulcerativos da pele, dos ossos ou de outros locais. 4. Paracoccidioides Doença: paracoccidioidomicose Características: O P. brasiliensis é um fungo dimórfico que ocorre como filamentoso no solo e como levedura nos tecidos. A levedura possui parede espessa com múltiplos brotos, ao contrário de B. dermatitidis, que possui um broto simples. Patogênese e achados clínicos Os esporos são inalados, e ocorrem lesões tardias nos pulmões. As infecções assintomáticas são comuns. Alternativamente, ocor- re o desenvolvimento de lesões nas membranas mucosas, aumen- to dos linfonodos e disseminação em muitos órgãos. Micoses oportunistas Fungos oportunistas não são capazes de causar doenças na maioria das pessoas imunocompetentes, mas podem causá-las em pessoas com as defesas imunes debilitadas. 1. Candida Doenças: candidíase, vaginite, esofagite, assaduras e candidíase mucocutânea crônica. Essa espécie de levedura também é capaz de causar infecções disseminadas, como endocardite (particularmente em usuários de drogas intravenosas), infecções na corrente sanguínea (candidemia) e endoftalmite. Características: C. albicans é uma levedura oval com um broto simples. Ela faz parte da microbiota normal das membranas mucosas do trato respiratório superior, sistema gastrintestinal e trato genital feminino. Nos tecidos, C. albicans pode ocorrer na forma leveduriforme ou como pseudo-hifas. Patogênese e achados clínicos: Quando a defesa local ou sistêmica do hospedeiro estiver enfraquecida, a doença poderá ocorrer. Uma elevada proliferação de C. albicans na boca produz manchas, chamadas de candidíase. A vaginite com coceira e secreção é favorecida por um pH elevado, diabetes ou uso de antibióticos. A invasão da pele ocorre em áreas quentes e úmidas, as quais se tornam vermelhas e danificadas. Dedos e unhas se tornam envolvidos no processo de invasão quando são repetidamente imersos em água. Em pessoas imunossuprimidas, Candida pode disseminar-se para muitos órgãos ou causar candidíase mucocutânea crô- nica (CMC). 2. Cryptococcus Doença: criptococose, sobretudo a meningite criptocócica. Características: C. neoformans é uma levedura oval com brotamentos envolvida por uma proeminente cápsula de polissacarídeo. Transmissão: C. neoformans tem ampla distribuição na natureza e cresce abun- dantemente em solos contendo fezes de aves (sobretudo de pombos). Os pássaros não são infectados. A infecção humana resulta da inalação do organismo. Não ocorre transmissão de pessoa a pessoa C. gattii é associado a eucaliptos. Patogênese e achados clínicos A infecção pulmonar é normalmente assintomática ou pode produzir uma pneumonia branda. A doença causada por C. neoformans ocorre principalmente em pacientes com baixa imunidade celular, sobretudo em pacientes com Aids, nos quais o organismo se dissemina para o sistema nervoso central (meningite) e outros órgãos. Os nódulos subcutâneos são, em geral, observados na doença disseminada. Observa-se, entretanto, que aproximadamente metade dos pacientes com meningite criptocócica não apresenta evidências de imunossupressão. 3. Aspergillus Doença: causam infecções na pele, nos olhos, nas orelhas e em outros órgãos; “bola fúngica” nos pulmões; e aspergilose alérgica broncopulmonar. Características: As espécies de Aspergillus ocorrem somente como fungos filamentosos; não são fungos dimórficos. Possuem hifa septada e formam ramificações em forma de V (dicotômicas). Transmissão: Esses fungos filamentosos estão amplamente distribuídos na natureza. Eles desenvolvem-se em vegetação em decomposição, produzindo cadeias de conídios. A transmissão ocorre pelos conídios presentes no ar. Patogênese e achados clínicos Aspergillus fumigatus é capaz de colonizar e, posteriormente, invadir regiões danificadas da pele, de feridas, de queimaduras, da córnea, da orelha externa e dos seios paranasais. A. fumigatus é a causa mais comum de sinusite fúngica. Em pessoas imunocomprometidas, sobretudo as com neutropenia, o fungo invade os pulmões e outros órgãos, produzindo hemoptises e granulomas. Os aspergilos são bem conhecidos por sua capacidade de crescer em cavidades dos pulmões, principalmente cavidades causadas por tuberculose. No interior das cavidades, eles produzem um aspergiloma (bola fúngica). A aspergilose broncopulmonar alérgica (ABPA) é uma reação de hipersensibilidade à presença de Aspergillus nos brônquios. Os pacientes com ABPA apresentam sintomas de asma e alta titulação de IgE frente a antígenos de Aspergillus, e expectoram fragmentos de hifas amarronzados. 4. Elucidar os mecanismos de ação e defesa dos fungos Imunidade contra fungos A imunidade comprometida é o fator predisponente mais importante para infecções fúngicas clinicamente significativas. A deficiência de neutrófilos como um resultado da supressão ou dedano na medula óssea é frequentemente associada a tais infecções 1. Imunidade Inata e Adaptativa contra Fungos Os principais mediadores da imunidade inata contra fungos são os neutrófilos e macrófagos. Os fagócitos e células dendríticas reconhecem os organismos fúngicos através dos TLRs e dos receptores do tipo lectina chamados dectinas. Os neutrófilos presumivelmente liberam substâncias fungicidas, tais como as espécies reativas de oxigênio e enzimas lisossomais e fagocitam os fungos para a morte intracelular. A imunidade celular é o principal mecanismo de imunidade adaptativa contra infecções fúngicas. Muitos fungos extracelulares provocam fortes reações TH17, impulsionadas em parte pela ativação de células dendríticas, pela ligação de glucanas fúngicas à dectina-1, um receptor para este polissacarídeo fúngico. As células dendríticas ativadas através deste receptor de lectina produzem citocinas indutoras de TH17, como IL-6 e IL-23. As células TH17 estimulam a inflamação e os neutrófilos e monócitos recrutados destroem os fungos. As respostas TH1 são protetoras em infecções fúngicas intracelulares, como a histoplasmose, mas estas respostas podem provocar a inflamação granulomatosa, que é uma importante causa de lesão tecidual no hospedeiro nessas infecções. Fungos também induzem respostas específicas de anticorpos que podem ser protetoras. Patogênese A resposta para infecções causadas por muitos fungos é a formação de granulomas. Granulomas são produzidos nas principais micoses sistêmicas (p. ex., coccidioidomicose, histoplasmose, blastomicose e outras). A resposta imune celular está envolvida na formação de granulomas. A supuração aguda, caracterizada pela presença de neutrófilos em exsudatos, também ocorre em certas micoses, como aspergilose e esporotricose. Os fungos não possuem endotoxinas em suas paredes celulares, e não produzem exotoxinas similares às das bactérias. A ativação do sistema imune celular resulta em uma resposta de hipersensibilidade tardia cutânea para certos antígenos fúngicos injetados de forma intradérmica. *Um teste cutâneo positivo indica a exposição a um antígeno fúngico. Entretanto, o teste positivo não implica uma infecção atual, pois a exposição ao antí- geno pode ter ocorrido anteriormente. A pele intacta é uma defesa efetiva do hospedeiro contra certos fungos (p. ex., Candida, dermatófitos), mas se a pele estiver danificada, esses organismos podem se estabelecer. Ácidos graxos presentes na pele inibem o crescimento de dermatófitos, e hormônios associados à pele, que ocorrem na puberdade, limitam o aparecimento de tinhas no couro cabeludo, causadas por Trichophyton. A microbiota normal da pele, bem como a membrana mucosa, é capaz de suprimir o desenvolvimento dos fungos. No trato respiratório, uma importante defesa do hospedeiro são as membranas mucosas da parte nasal da faringe, que são capazes de capturar esporos fúngicos inalados, bem como os macrófagos alveolares. As imunoglobulinas circulantes IgG e IgM são produzidas em resposta às infecções fúngicas. 5. Esclarecer o processo cicatricial Cicatrização é o processo no qual um tecido lesado é substituído por tecido conjuntivo. O primeiro passo é a instalação de uma reação inflamatória (fase inflamatória), cujas células fagocitárias reabsorvem o sangue extravasado e os produtos da destruição tecidual. Em seguida, há proliferação fibroblástica e endotelial que forma o tecido conjuntivo cicatricial (fase proliferativa). Posteriormente, o tecido cicatricial sofre remodelação (fase de remodelação), que resulta em diminuição de volume da cicatriz. 1. Fase inflamatória: Caracterizada pela presença de exsudato (secreção), que dura de um a quatro dias, dependendo da extensão e natureza da lesão. Nesse período ocorre a ativação do sistema de coagulação sanguínea e a liberação de mediadores químicos, podendo haver edema, vermelhidão e dor. Esta fase se inicia imediatamente após a lesão, com a liberação de substâncias vasoconstritoras, principalmente tromboxana A2 e prostaglandinas, pelas membranas celulares. O endotélio lesado e as plaquetas estimulam a cascata da coagulação. As plaquetas têm papel fundamental na cicatrização. Visando a hemostasia, essa cascata é iniciada e grânulos são liberados das plaquetas, as quais contêm fator de crescimento de transformação beta - TGF-β (e também fator de crescimento derivado das plaquetas [PDGF], fator de crescimento derivado dos fibroblastos [FGF], fator de crescimento epidérmico [EGF], prostaglandinas e tromboxanas), que atraem neutrófilos à ferida. O coágulo é formado por colágeno, plaquetas e trombina, que servem de reservatório protéico para síntese de citocinas e fatores de crescimento, aumentando seus efeitos. Desta forma, a resposta inflamatória se inicia com vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, promovendo a quimiotaxia (migração de neutrófilos para a ferida). Neutrófilos são as primeiras células a chegar à ferida, com maior concentração 24 horas após a lesão. São atraídos por substâncias quimiotáticas liberadas por plaquetas. Os neutrófilos aderem à parede do endotélio mediante ligação com as selectinas (receptores de membrana). Neutrófilos produzem radicais livres que auxiliam na destruição bacteriana e são gradativamente substituídos por macrófagos. Os macrófagos migram para a ferida após 48 - 96 horas da lesão, e são as principais células antes dos fibroblastos migrarem e iniciarem a replicação. Têm papel fundamental no término do desbridamento iniciado pelos neutrófilos e sua maior contribuição é a secreção de citocinas e fatores de crescimento, além de contribuírem na angiogênese, fibroplasia e síntese de matriz extracelular, fundamentais para a transição para a fase proliferativa. 2. Fase proliferativa: A fase proliferativa é constituída por quatro etapas fundamentais: epitelização, angiogênese, formação de tecido de granulação e deposição de colágeno. Esta fase tem início ao redor do 4o dia após a lesão e se estende aproximadamente até o término da segunda semana. A epitelização ocorre precocemente. Se a membrana basal estiver intacta, as células epiteliais migram em direção superior, e as camadas normais da epiderme são restauradas em três dias. Se a membrana basal for lesada, as células epiteliais das bordas da ferida começam a proliferar na tentativa de restabelecer a barreira protetora. A angiogênese é estimulada pelo fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), e é caracterizada pela migração de células endoteliais e formaçãode capilares, essencial para a cicatrização adequada. A parte final da fase proliferativa é a formação de tecido de granulação. Os fibroblastos e as células endoteliais são as principais células da fase proliferativa. Os fibroblastos dos tecidos vizinhos migram para a ferida, porém precisam ser ativados para sair de seu estado de quiescência. O fator de crescimento mais importante na proliferação e ativação dos fibroblastos é o PDGF. Em seguida é liberado o TGF-β, que estimula os fibroblastos a produzirem colágeno tipo I e a transformarem-se em miofibroblastos, que promovem a contração da ferida. Entre os fatores de crescimento envolvidos no processo cicatricial podem ser citados o PDGF, que induz a proliferação celular, a quimiotaxia e a síntese matricial; o fator epidérmico, que estimula a epitelização; o fator transformador alfa, responsável pela angiogênese e pela epitelização; o fator fibroblástico, que estimula a proliferação celular e angiogênese e o fator transformador beta, responsável pelo aumento da síntese matricial. 3. Fase de reparo: A característica mais importante desta fase é a deposição de colágeno de maneira organizada, por isso é a mais importante clinicamente. O colágeno produzido inicialmente é mais fino do que o colágeno presente na pele normal, e tem orientação paralela à pele. Com o tempo, o colágeno inicial (colágeno tipo III) é reabsorvido e um colágeno mais espesso (colágeno tipo I) é produzido e organizado ao longo das linhas de tensão. Estas mudanças se refletem em aumento da força tênsil da ferida. A reorganização da nova matriz é um processo importante da cicatrização. Fibroblastos e leucócitos secretam colagenases que promovem a lise da matriz antiga. A cicatrização tem sucesso quando há equilíbrio entre a síntese da nova matriz e a lise da matriz antiga, havendo sucesso quando a deposição é maior. Mesmo após um ano a ferida apresentará um colágeno menos organizado do que o da pele sã, e a força tênsil jamais retornará a 100%, atingindo em torno de 80% após três meses. Fatores que aceleram a cicatrização O processo cicatricial – que engloba as três fases citadas acima – pode ser acelerado se algumas medidas forem tomadas. Manter o organismo hidratado, bebendo, no mínimo, 2 litros de água por dia, é fator fundamental para a boa cicatrização. Uma dieta equilibrada, com proteínas, carboidratos e gorduras, também ajuda a acelerar a regeneração da pele. Fatores que podem interferir no processo de cicatrização Alguns fatores podem prejudicar a cicatrização da pele, tornando o processo mais demorado e podendo causar complicações e prejuízos estéticos e funcionais. Esses fatores são definidos como fatores locais (1) e fatores sistêmicos (2). 1. Fatores locais (aqueles relacionados diretamente à ferida): – Características da ferida: dimensão, profundidade, aspecto da secreção, hematomas, edemas e presença de corpo estranho. – Cuidados: higienização, material e curativos utilizados. – Isquemia tecidual: a falta de oxigenação dificulta a proliferação das células. – Infecção local: quando o processo de cicatrização é retardado por conta de contaminação bacteriana. 2. Fatores sistêmicos (que dizem respeito ao indivíduo): – Faixa etária: a idade avançada dificulta a resposta da fase inflamatória. – Estado nutricional: uma dieta pobre em proteínas e vitaminas interfere em todas as fases da cicatrização. A má nutrição diminui a resposta imunológica e a síntese de colágeno. O resultado disso, além da demora na cicatrização, pode resultar em deiscência de suturas. – Doenças crônicas: diabetes mellitus, obesidade, hipertensão, entre outras. – Terapia medicamentosa: anti inflamatórios, antibióticos e quimioterápicos podem interferir no processo cicatricial. – Tratamento tópico inadequado: utilização de produtos inapropriados, como sabão comum. – Distúrbios cicatriciais: distúrbios na cicatrização, como atrofia cicatricial, cicatriz hipertrófica e queloides.
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