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TUTORIA problema 2 - infecção viral objetivos: 1. Diferenciar gripe de resfriado Diferenças Gripe Resfriado Causas É causada pelo vírus Influenza É causado pelo Rhinovírus ou outros semelhantes Duração Dura de 7 a 10 dias Dura de 2 a 4 dias Sintomas Há febre alta Febre baixa ou sem febre Há tosse, muita dor muscular e forte dor de cabeça Há tosse, alguma dor muscular e uma leve dor de cabeça Há dor de garganta, nos olhos e nariz escorrendo Há mal-estar e nariz escorrendo, e pode haver rouquidão Complicações Pneumonia Otite, sinusite, bronquite Tratamento Tomar muitos líquidos, tomar remédios cmo Apracur e Benegripe. Tomar remédios como Paracetamol, Ibuprofeno e vitamina C. 2. Conhecer as IVAS (principais) São várias doenças com sintomas parecidos. Bastante comuns, principalmente na infância, têm caráter benigno em qualquer período da nossa vida, são autolimitadas e podem ter papel facilitador para outros quadros infecciosos. São muitas vezes causadas por vírus, minúsculos agentes transmitidos principalmente pelas mãos. Rinofaringite ou Resfriado comum A rinofaringite tem sua etiologia predominantemente viral, sendo causada por mais de 200 tipos de vírus. Os vírus mais frequentemente implicados são o rinovírus, o coronavírus, o vírus sincicial, o respiratório, o adenovírus, o parainfluenza, o influenza e o enterovírus. Apresenta-se com coriza, espirros e tosse seca, junto ou não com febre de intensidade variável, dor de garganta e diminuição do apetite. Vômito e fezes amolecidas com presença de muco podem acompanhar o quadro. A orofaringe, a mucosa nasal e a membrana timpânica encontram-se hiperemiadas e inflamadas. São infecções benignas, autolimitadas, com duração da febre em torno de três dias e dos sintomas respiratórios ao redor de 10 dias. O tratamento da rinofaringite é essencialmente sintomático. Antitérmicos e analgésicos associados à aplicação de gotas nasais de soro fisiológico são as principais armas terapêuticas. Antibióticos não impedem as complicações bacterianas e não devem ser prescritos. Anti-histamínicos e sedativos da tosse não são recomendados. Os pais devem ser orientados para a possibilidade de acometimento das vias aéreas inferiores, tais como bronquiolite ou pneumonia, e a procurar por atendimento se observarem sintomas como taquipneia ou dispneia na evolução do tratamento. A rinofaringite pode evoluir com complicações decorrentes da extensão do processo inflamatório infeccioso às estruturas adjacentes, ou por diminuição do clearence das secreções e consequente crescimento bacteriano. As principais complicações observadas são a otite média aguda e as sinusites. Otite média aguda Clinicamente a otite se apresenta com persistência do quadro febril, na evolução de um quadro de rinofaringite, podendo ser referido dor de ouvido nas crianças maiores e irritabilidade nas crianças menores. Em cerca de 1/3 dos casos, os pacientes não apresentam os sintomas descritos e o diagnóstico baseia-se apenas nos achados da otoscopia. Na otoscopia podem ser observados diminuição da mobilidade da membrana timpânica, perda do brilho, diminuição dos reflexos dos ossículos auditivos, hiperemia, exsudato na membrana e vesículas. Os principais agentes são pneumococo, hemófilo ou moraxella. O tratamento da otite média com antibióticos é controvertido. Acredita-se que a melhora clínica pode estar muito mais relacionada à evolução da infecção viral da via aérea superior do que ao tratamento com os antibióticos, embora seja relatado que até 81% dos pacientes tratados com antibióticos se tornem assintomáticos. Em caso de dúvida diagnóstica, recomenda-se não iniciar tratamento e reavaliar o paciente após 48 horas, a fim de confirmar ou excluir o diagnóstico. Sinusite aguda Os seios maxilares e etmoidais são os mais comumente envolvidos quando a drenagem das secreções está diminuída por infecções das vias aéreas superiores. É importante ressaltar que os seios etmoidais são os únicos que estão desenvolvidos ao nascimento. Os seios maxilares se tornam visíveis aos raios X no sexto mês, e o seio frontal não é visível até os três a nove anos. Nos casos com evolução insidiosa, é referida persistência de rinorreia anterior ou posterior acompanhada de tosse intratável, diuturna, que persiste por mais de dez dias. A febre geralmente de baixa intensidade e a dor com edema periorbital, ao acordar, são sintomas frequentemente presentes. Crianças maiores podem se queixar de dor de cabeça e dor nos seios da face envolvidos. A sinusite aguda pode também evoluir de forma súbita com febre alta, com dor ou inflamação periorbital mais intensa. A etmoidite causa dor retro-orbital; a sinusite maxilar, dor na região do arco zigomático ou na região acima dos molares; e na sinusite frontal, a dor é referida na região das sobrancelhas. Os patógenos que causam sinusite são usualmente o pneumococo, o hemófilo não tipável, a moraxella e o estreptococo beta hemolítico. As sinusites etmoidais podem evoluir com complicações graves, como celulites pré-septal e pós-septal, abscesso subperiostal ou orbital e trombose do seio cavernoso. Essas complicações são associadas com diminuição do movimento ocular, proptose e alteração da acuidade visual. Meningite e abscesso subdural, epidural ou cerebral são também complicações possíveis. Pacientes com sinais de envolvimento do sistema nervoso ou de doença invasiva devem ser hospitalizados. Casos menos graves devem receber amoxacilina na dose de 50 mg/kg/dia, dividida em duas doses a cada 12h, por dez dias. Falha terapêutica após 48h de tratamento sugere resistência bacteriana ou complicação, sendo recomendada a troca do antibiótico conforme prescrito nos casos de otite média não responsiva ao tratamento. Analgésicos, anti-inflamatórios, descongestionantes tópicos e sedativos da tosse podem ser prescritos, até que se inicie a drenagem das secreções. Faringite e amigdalite No caso das amigdalites purulentas, o agente etiológico mais comum é o estreptococo beta hemolítico do grupo A, sendo necessária a utilização de antibiótico para o tratamento. Nas amigdalites purulentas, o quadro clínico típico tem início com dor de garganta intensa acompanhada de febre alta (39/40ºC), de início súbito, e, frequentemente, cefaleia e vômito. Ao exame as amígdalas encontram-se hiperemiadas e hipertrofiadas com presença de secreção purulenta e petéquias no palato mole. Os gânglios da região cervical anterior encontram-se aumentados.A faringite com exsudato e a adenite cervical são pouco frequentes nas crianças menores de três anos, nas quais se observa um quadro clínico mais insidioso, com febre baixa, coriza concomitante e palidez. Nessa faixa etária, a etiologia viral é predominante. Laringite e laringotraqueobronquite (Crupe) A inflamação da laringe se apresenta com os quadros de Crupe (laringotraqueobronquite) e epiglotite. O quadro clínico da laringotraqueobronquite compõe-se de sintomas iniciais de infecção das vias aéreas superiores, especialmente em crianças pequenas, que evoluem com a característica “tosse de cachorro”, rouquidão e estridor laríngeo. O estridor, nos casos leves, só é percebido quando a criança se agita, porém pode ser audível mesmo em repouso, acompanhado de falta de ar, retrações e cianose nos casos mais graves. A febre é geralmente baixa ou ausente. Na epiglotite os pacientes apresentam um quadro súbito de febre, dispneia, disfagia e salivação abundante, voz abafada, retração inspiratória, cianose e estridor suave. Esse quadro é grave e pode evoluir para parada respiratória. O vírus para influenza é o agente mais frequente, porém outros vírus como o sincicial respiratório, o influenza, o adenovírus e o micoplasma também podem ser responsáveis. Na epiglotite os agentes etiológicos responsáveis são o H. influenza, o S. piogenes e o S. pneumoniae 3. Determinar as características dos vírus (definição, estrutura, tipos, ciclos, multiplicação) O qu� � u� víru�? Embora os vírus não sejam células, eles possuem um genoma de ácido nucleico que codifica as funções necessárias para sua repli- cação e uma forma extracelular, denominada vírion, que permi- te que o vírus viaje de uma célula hospedeira para outra. Os vírus são incapazes de replicarem-se, a menos que o próprio vírion (ou seu genoma, no caso de vírus bacterianos) penetre em uma célula hospedeira adequada, um processo denominado infecção. 1) Estrutura e atividades virais O vírion de um vírus consiste em um envoltório proteico, o capsídeo , que contém o genoma viral. A maioria dos vírus bacteria- nos são nus, sem camadas adicionais, enquanto muitos vírus de animais contêm uma camada externa consistindo de proteínas e lipídeos, denominada envelope. Em vírus envelopa- dos, a estrutura interna composta por ácido nucleico e proteínas do capsídeo é denominada nucleocapsídeo . O vírion protege o genoma viral quando o vírus está fora da célula hospedeira, e proteínas na superfície do vírion são importantes no ancora- mento à célula hospedeira. O vírion pode também conter uma ou mais enzimas virais específicas que desempenham papéis durante a infecção e a replicação, como discutido posteriormente. Uma vez dentro da célula hospedeira, um genoma viral pode orquestrar um de dois eventos bastante diferentes. O vírus pode replicar e destruir o hospedeiro em uma infecção virulenta (lítica) . Em uma infecção lítica, o vírus redireciona o metabolismo do hospedeiro para suportar a replicação do vírus e a montagem de novos vírions. Eventualmente, novos vírions são liberados, e o processo pode repetir-se em novas células hospedeiras. Alternativamente, alguns vírus podem submeter-se a uma infecção lisogênica ; neste caso, a célula hospedeira não é destruída, mas é geneticamente alterada, pois o genoma viral torna-se parte do genoma do hospedeiro. 2) Genomas virais Os vírus podem apresentar genomas de DNA e podem ser subdivididos baseados no fato de o genoma ser de fita simples ou dupla-fita. Os genomas virais podem ser lineares ou circulares, e ge- nomas virais de fita simples podem também ser de senso po- sitivo ou senso negativo, baseado na sua sequência de bases. Os genomas virais de senso positivo apresentam a sequência de bases exatamente igual ao do RNAm viral que será traduzi- do para formar as proteínas virais. Em contrapartida, os geno- mas virais de senso negativo são complementares à sequência de bases do RNAm viral. Os vírus podem ser classificados com base nos hospedei- ros que infectam, bem como pela sua estrutura do genoma. Assim, temos vírus bacterianos, vírus de arqueias, vírus de animais, vírus de plantas, de protozoários, e assim por diante. Vírus bacterianos são denominados bacteriófagos (ou sim- plesmente fagos). Estrutur� d� vírio� O ácido nucleico do vírion está sempre envolto pelo seu capsídeo. O cap sídeo é composto por um número de moléculas proteicas individuais, denominadas capsômeros, que se organizam em um padrão preciso e altamente repetitivo, ao redor do ácido nucleico. A informação requerida para o adequado dobramento e montagem das proteínas nos capsômeros e subsequentemen- te nos capsídeos está contida na sequência de aminoácidos das próprias proteínas virais. Quando este é o caso, a monta- gem do vírion é um processo espontâneo, denominado auto- montagem. Entretanto, algumas proteínas e estruturas virais requerem assistência de proteínas de dobramento da célula hospedeira para que ocorram o dobramento e a montagem adequados. 1) Simetria viral Os vírus são altamente simétricos. Dois tipos de simetria são reconhecidos nos vírus, correspondendo às duas principais formas, cilíndrica e esférica. Os vírus cilíndri- cos têm simetria helicoidal e os vírus esféricos exibem sime tria icosaédrica. O comprimento dos vírus helicoidais é determinado pelo comprimento do ácido nucleico, enquanto a largura do vírion helicoidal é determinada pelo tamanho e empacotamento das subunidades proteicas. A vantagem de construir uma partícula viral com subunidades proteicas idênticas é dupla: (1) há uma redução na necessida- de de informação genética, e (2) há favorecimento de automontagem. 2) Víru� envelopad� Os vírus envelopados possuem uma membrana circundando o nucleocapsídeo e podem possuir genoma de RNA ou DNA. Muitos vírus envelopados (p. ex., vírus influenza) infectam células animais, nas quais a membrana citoplasmática é diretamente exposta ao ambiente. O envelope viral é importante na infecção, uma vez que é o componente do vírion que entra em contato com a célula hos- pedeira. A especificidade da infecção pelo vírus envelopado e alguns aspectos da sua penetração são, assim, controlado em parte pela química dos seus envelopes. As proteínas de envelo- pe vírus-específicas são essenciais tanto para a ligação do vírion com a célula hospedeira durante a infecção quanto para a liber- tação do víriona partir da célula hospedeira após a replicação. 3) E�ima� e� vírion� Os vírus não realizam processos metabólicos e, desse modo, são metabolicamente inertes. No entanto, alguns vírus contêm enzimas em seus vírions que desempenham importantes pa- péis na infecção. Por exemplo, o vírus influenza possui proteínas do envelope chamadas neurami- nidases, que destroem glicoproteínas e glicolipídeos do tecido conectivo das células animais, promovendo assim a liberação dos vírions. Vírus de RNA carregam suas próprias polimerases de áci- do nucleico (denominadas replicases de RNA) que atuam na replicação do genoma de RNA viral e produção do RNAm vírus-específico. Essas enzimas são necessárias, uma vez que as células são incapazes de sintetizar RNA a partir de um molde de RNA. Visã� gera� d� cicl� d� vid� vira� Para um vírus replicar-se, ele deve induzir uma célula hospe- deira viva a sintetizar todos os componentes essenciais neces- sários à produção de novos vírions. Uma célula que suporta o ciclo completo de replicação de um vírus é dita permissiva para aquele vírus. Em um hospedei- ro permissivo, o ciclo de replicação viral pode ser dividido em cinco etapas:] 1.Ligação (adsorção) do vírion à célula hospedeira 2.Penetração (entrada, injeção) do ácido nucleico do vírion na célula hospedeira 3.Síntese de ácidos nucleicos e proteínas virais pela maqui- naria da célula hospedeira, de acordo com o redireciona- mento determinado pelo vírus 4. Montagem dos capsídeos e empacotamento do genoma viral em novos vírions 5.Liberação de novos vírions pela célula Forma-se então uma curva de crescimento de ciclo único , assim nomeada uma vez que o número de vírions no meio de cultura não mostra aumento durante o ciclo de replicação até que a célula se rompe e libera os novos vírions recém-sintetizados. Nos primeiros minutos após a infecção, diz-se que os vírus estão em fase de eclipse. Uma vez ligados a uma célula hospedeira permissiva, os vírions deixam de estar disponíveis para infectar outras células. Esse processo é acompanhado pela penetração do ácido nucleico viral na célula hospedeira. Se a célula infectada romper-se nessa fase, o vírion deixará de existir como entidade infecciosa, uma vez que o genoma viral não se encontra mais no interior de seu capsídeo. A fase de maturação é iniciada à medida que as moléculas de ácido nucleico recém-sintetizadas são empa- cotadas no interior dos capsídeos. Durante a fase de matura- ção, o título de vírions ativos no interior da célula aumenta de forma expressiva. Todavia, as novas partículas virais não podem ainda ser detectadas, exceto se as células forem lisadas artificialmente, a fim de promover sua liberação. Uma vez que os vírions recém-sintetizados ainda não surgiram externamen- te à célula, os períodos de eclipse e maturação, em conjunto, são denominados período de latência da infecção viral. Ao final da maturação, ocorre a liberação de vírions ma- duros como resultado da lise celular, ou de algum processo de brotamento ou de excreção, dependendo do vírus. O núme- ro de vírions liberados, denominado tamanho da população liberada (do inglês, burst size), depende do vírus e da célula hospedeira em particular, podendo variar de alguns poucos a milhares. A duração de um ciclo completo de replicação varia de 20 a 60 minutos (no caso de muitos vírus bacterianos) a 8 a 40 horas (para a maioria dos vírus de animais). Eventos específicos durante o ciclo replicativo Uma forma geral de descrever o ciclo de crescimento é a seguinte: (1) eventos precoces (i.e., adsorção, penetração e desnudamento ); (2) eventos intermediários (i.e., expressão gênica e replicação do genoma ); e (3) eventos tardios (i.e., montagem e liberação ). 1) Adsorçã�, penetraçã� � desnudament� As proteínas da superfície do vírion ligam-se a receptores pro- teicos específicos na superfície da célula por meio de ligações fracas não covalentes. A especificidade dessa ligação determina o espectro de hospedeiro do vírus. Alguns vírus possuem um espectro limitado, ao passo que outros possuem um espectro amplo. Por exemplo, os poliovírus podem entrar somente em células de seres humanos e outros primatas, ao passo que o vírus da raiva pode entrar em todas as células de mamíferos. A especificidade de órgãos de um vírus também é derivada da interação com re- ceptores. Os receptores celulares que já foram identificados são proteínas de superfície que possuem várias outras funções. Por exemplo, o herpes-vírus simples do tipo 1 liga-se ao receptor do fator de crescimento de fibroblastos, o vírus da raiva liga-se ao receptor de acetilcolina, e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) liga-se à proteína CD4 de linfócitos T auxiliares. A partícula viral penetra por meio de seu englobamento por uma vesícula pinocitótica, dentro da qual o processo de desnu- damento se inicia. O pH baixo no interior da vesícula favorece o desnudamento. O rompimento da vesícula ou a fusão da camada externa do vírus com a membrana da vesícula deposita o cerne do vírus no citoplasma. Os receptores para vírus na superfície celular são proteínas que possuem outras funções na vida da célula. Prova- velmente, o receptor celular usado por vírus mais conhecido é a proteína CD4, que funciona como um dos receptores para o HIV, mas cuja função normal é a ligação com proteínas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC, major his- tocompatibility complex) de classe 2, envolvidas na ativação de células T auxiliares. Alguns vírus de bactérias (bacteriófagos) possuem um me- canismo especial de entrada em bactérias que não possui equiva- lente em vírus de seres humanos ou em vírus de animais ou plan- tas. Alguns dos bacteriófagos do grupo T infectam Escherichia coli pela ligação de várias proteínas da cauda à superfície celular e, então, usam lisozimas da própria cauda para degradar uma porção da parede celular. Nesse ponto, a bainha da cauda contrai-se, fazendo a ponta do cerne cruzar a parede celular. O DNA viral, então, entra na célula pelo cerne da cauda, enquanto as pro- teínas do capsídeo permanecem do lado externo. 2) �pressã� gênic� � replicaçã� d� genom� O primeiro passo na expressão gênica viral é a síntese do mRNA. É nesse ponto que os vírus seguem caminhos diferentes dependendo da natureza de seu ácido nucleico e da parte da célula onde eles se replicam. Os vírus de DNA,com uma exceção, replicam-se no núcleo e usam a RNA-polimerase dependente de DNA do hospedeiro para sintetizar seu próprio mRNA. Os poxvírus são a exceção porque se replicam no citoplasma, onde não têm acesso à RNA-polimerase da célula hospedeira. Eles, portanto, carregam sua própria poli- merase dentro da partícula viral. O genoma de todos os vírus de DNA consiste em DNA de dupla-fita, exceto para os parvovírus, que possuem um genoma de DNA de fita simples. A maior parte dos vírus de RNA realiza seu ciclo replicativo inteiramente no citoplasma. As duas principais exceções são os retrovírus e os vírus influenza, que possuem um passo replicativo importante no núcleo. Os retrovírus integram uma cópia de DNA do seu genoma no DNA da célula hospedeira, e os vírus in fluenza sintetizam os genomas de sua progênie no núcleo. Os vírus de RNA dividem-se em quatro grupos com estraté- gias bastante diferentes para sintetizar mRNA. Essas diferenças explicam por que alguns vírus produzem ácido nucleico infeccioso, ao passo que outros não o fazem. Vírus que não necessitam de uma polimerase no vírion podem pro- duzir DNA ou RNA infeccioso. Em contrapartida, vírus como os poxvírus, os vírus de RNA senso negativo, os vírus de RNA de dupla-fita e os retrovírus, que requerem uma polimerase do vírion, não podem gerar ácido nucleico infeccioso. Depois que o mRNA dos vírus de DNA ou RNA é sintetizado, ele é traduzido pelos ribossomos da célula hospedeira em proteínas virais, sendo algumas proteínas precoces (i.e., enzimas necessárias para a replicação do genoma viral) e outras proteínas tardias (i.e., proteínas estruturais) da progênie viral. (O termo precoce é definido como o que ocorre antes da replicação do genoma, e tardio é definido como o que ocorre após a replicação do genoma.) Das proteínas precoces, a mais importante para os vírus de RNA é a polimerase que sintetizará muitas cópias do material genético viral para as partículas da progênie viral. Não importa como o vírus produz seu mRNA, a maioria dos vírus produz uma polimerase codificada pelo vírus (uma replicase) que replica o genoma (i.e., que faz muitas cópias do genoma parental que se tornará o genoma dos vírions da progênie). Alguns mRNAs virais são traduzidos em polipeptídeos precursores que precisam ser clivados por proteases para produzir as proteínas estruturais funcionais, ao passo que outros mRNAs são traduzidos diretamente em pro- teínas estruturais. A replicação do genoma viral é controlada pelo princípio da complementaridade, que requer a síntese de uma fita com sequência de bases complementares; essa fita serve, então, de molde para a síntese do verdadeiro genoma viral. Enquanto a replicação do genoma viral ocorre, as proteínas estruturais do capsídeo que serão usadas pelas partículas da pro- gênie viral são sintetizadas. Em alguns casos, os genomas virais recém-replicados podem servir como moldes para o mRNA tar- dio que codifica as proteínas do capsídeo. 3) Montage� � liberaçã� As partículas da progênie são montadas pelo empacotamento do ácido nucleico viral dentro das proteínas do capsídeo. Pouco é conhecido sobre os passos exatos do processo de montagem. Surpreendentemente, alguns vírus podem ser montados em tu-bos de ensaio apenas pelo uso de RNA e proteínas purificados. Isso indica que a especificidade para a interação reside no RNA e nas proteínas, e que a ação de enzimas e o gasto de energia não são necessários. As partículas virais são liberadas da célula por um dos dois processos descritos a seguir. O primeiro é a ruptura da membra- na celular e liberação das partículas maduras; isso geralmente ocorre com vírus não envelopados. O segundo, que ocorre com vírus envelopados, é a liberação dos vírus por brotamento através da membrana celular externa. O processo de brotamento inicia quando proteínas específicas virais se inserem na membrana celular em locais específicos. O nucleocapsídeo viral, então, interage com esses locais específicos na membrana por meio da proteína de matriz. A membrana celular evagina nesse local, e a partícula envelopada brota da membrana. O brotamento geralmente não danifica a célula, e, em certos casos, a célula sobrevive enquanto produz grandes números de partículas virais por brotamento. Lisogenia O ciclo de replicação típico, descrito anteriormente, ocorre na maioria das vezes em que o vírus infecta uma célula. Entretanto, alguns vírus podem usar uma via alternativa, chamada de ciclo lisogênico , na qual o DNA viral se torna integrado no cromossomo da célula hospedeira e nenhuma partícula viral da progênie é produzida nesse momento. O ácido nucleico viral continua a funcionar em seu estado integrado de várias maneiras. Umas das mais importantes funções da lisogenia do ponto de vista médico é a síntese de várias exotoxinas em bactérias, como diftérica, botulínica, colérica e toxinas eritrogênicas, codificadas por genes de um bacteriófago integrado (prófago). Conversão lisogênica é o termo aplicado para as novas propriedades que uma bactéria adquire como resultado da expressão dos genes de um prófago integrado. A conversão lisogênica é mediada pela transdução de genes bacterianos de uma bactéria doadora para uma bactéria receptora por bacterió- fagos. Transdução é o termo utilizado para se descrever a transferência de genes de uma bactéria para outra por meio de vírus O ciclo lisogênico ou “temperado” é descrito para o bacterió- fago lambda, pois ele é o modelo melhor entendido. Infecções por fago lambda em E. coli iniciam com a injeção do genoma de DNA de dupla-fita linear por meio da cauda do fago para o interior da célula. O DNA linear torna-se circular quando regiões de fita simples nas suas extremidades pareiam com suas bases complementares. Uma enzima de ligação faz uma ligação covalente em cada fita para fechar o círculo. A circula- rização é importante porque é a forma circular que integra no DNA da célula hospedeira. A escolha entre o caminho que leva à lisogenia ou à replicação completa é realizada quando a síntese das proteínas precoces começa. De forma simples, a escolha depende do balanço entre duas proteínas, o repressor, produzido pelo gene c-I, e o antagonista do repressor, produzido pelo gene cro. Se o repressor predomina, a transcrição de outros genesprecoces é interrompida e a lisogenia prossegue. A transcrição é inibida pela ligação do repressor em dois locais operadores que controlam a síntese de proteínas precoces. Se o produto gênico do gene cro impedir a síntese de repres- sores suficientemente, o resultado é replicação e lise da célula. Um correlato do estado lisogênico é que o repressor pode também impedir a replicação de fagos lambda adicionais que infectarem posteriormente. Isso é chamado “imunidade” e é, especificamente, dirigido contra fagos lambda, uma vez que o repressor se liga apenas aos locais operadores do DNA do fago lambda; outros fagos não são afetados. O próximo passo importante no ciclo lisogênico é a integração do DNA viral no DNA da célula. Isso ocorre pela correspondência de um local de ligação específico no DNA do fago lambda a um local homólogo no DNA da E. coli, e a integração (quebra e rejuntamento) dos dois DNAs é mediada por uma enzima de recombinação codificada pelo fago. O DNA viral integrado é chamado de prófago. A maior parte dos fagos lisogênicos integra em um ou poucos locais específicos, mas alguns, como o fago Mu (ou mutador), podem integrar seu DNA em muitos locais, e outros fagos, como o fago P1, na verdade nunca integram, mas per- manecem em um estado “temperado” extracromossomicamente, similar a um plasmídeo. Uma vez que o DNA viral integrado se replica junto do DNA celular, cada célula-filha herda uma cópia. Entretanto, o prófago não fica permanentemente integrado. Ele pode ser indu- zido a retomar seu ciclo replicativo pela ação de luz UV e de cer- tas substâncias químicas que danificam DNA. A luz UV induz a síntese de uma protease, que cliva o repressor. Os genes precoces passam a funcionar, incluindo os genes que codificam para as enzimas que excisam o prófago do DNA celular. O vírus então completa seu ciclo replicativo, levando à produção de progênie viral e lise da célula. Vírus de DNA 1) Parvovírus São vírus nus icosaédricos muito pequenos (22 nm de diâmetro) com um DNA linear de fita simples. Existem dois tipos de par- vovírus: defectivos e não defectivos. Os parvovírus defectivos (p. ex., vírus adenoassociados) necessitam de um vírus auxiliar para replicação. O DNA dos parvovírus defectivos é incomum porque a fita positiva de DNA e a fita negativa de DNA são car- regadas em partículas diferentes. Os parvovírus não defectivos são melhor ilustrados pelo vírus B19, que está associado a crises aplásticas em pacientes com anemia falciforme e com eritema infeccioso – uma doença inócua infantil caracterizada por man- chas avermelhadas na pele que se assemelham a “bofetadas”. 2) Poliomavírus São vírus icosaédricos nus (45 nm de diâmetro) com DNA dupla-fita circular superenovelado. Dois exemplos de poliomavírus humanos são o poliomavírus JC, isolado de pacientes com leucoencefalopatia multifocal progressiva, e o vírus BK, isolado da urina de pacientes imunossuprimidos submetidos a transplante de rins. O poliomavírus e o vírus vacuolante símio 40 (vírus SV40) são poliomavírus de camundongos e macacos, respectivamente, que induzem tumores malignos em uma gran- de variedade de espécies 3) Papilomavírus Os papilomavírus são vírus icosaédricos nus (55 nm de diâme- tro) com DNA de dupla-fita superenovelado. O patógeno huma- no nessa família corresponde ao papilomavírus humano (HPV, human papillomavirus). Ele causa papilomas (verrugas) em vários locais do corpo, e algumas linhagens causam carcinoma cervical. Muitas espécies de animais são infectadas por papiloma- vírus, mas esses vírus são específicos para cada espécie animal e normalmente não infectam seres humanos. 4) Adenovírus São vírus icosaédricos nus (75 nm de diâmetro) com DNA de dupla-fita linear. Eles causam faringites, doenças do trato respi- ratório superior e inferior e uma variedade de outras infecções menos comuns. Existem pelo menos 40 tipos antigênicos, alguns dos quais causam sarcomas em animais, mas não causam tumores em seres humanos. 5) Hepadnavírus São vírus com duplo envoltório (42 nm de diâmetro) composto por um capsídeo icosaédrico coberto por um envelope. O DNA é de dupla-fita circular, considerado incomum, pois a fita completa não é um círculo covalentemente fechado, e a outra fita é apro- ximadamente 25% menor que a fita completa. O vírus da hepati- te B é um patógeno humano dessa família. 6) Herpes-vírus São vírus envelopados (100 nm de diâmetro) com um nucleocap- sídeo icosaédrico e DNA de dupla-fita linear. Eles são conhecidos por causarem infecções latentes. Os cinco patógenos humanos mais importantes são os herpes-vírus simples 1 e 2, vírus da va- ricela-zóster, citomegalovírus e vírus Epstein-Barr (que causa a mononucleose infecciosa). 7) Poxvírus São os maiores vírus cujos hospedeiros principais são vertebra- dos, apresentam forma semelhante a tijolos, um envelope com uma aparência não usual, e uma simetria complexa de capsídeo. Eles são nomeados pelas lesões de pele, ou “pocks”, que causam. O vírus da varíola e o vírus do molusco contagioso são dois im- portantes membros. Vírus de RNA 1) Picornavírus Eles têm 28 nm de diâmetro e possuem RNA de fita simples, po- laridade positiva, linear e não segmentado dentro de seu capsídeo icosaédrico nu. O nome “picorna” é derivado de pico (pequeno) que contém RNA. Existem dois grupos de patógenos humanos: (1) enterovírus, como poliovírus, vírus de Coxsackie, ecovírus e vírus da hepatite A; e (2) rinovírus. 2) Hepevírus São vírus nus (30 nm de diâmetro) com nucleocapsídeo icosa- édrico. Eles possuem RNA de fita simples, polaridade positiva, linear, não segmentado. O principal patógeno humano é o vírus da hepatite E. 3) Calicivírus São vírus nus (38 nm de diâmetro) com um capsídeo icosaé- drico. Eles possuem RNA de fita simples, polaridade positiva, linear, não segmentado. O principal patógeno humano é o no- rovírus. 4) Reovírus São vírus nus (75 nm de diâmetro) com dois capsídeos icosaé- dricos. Eles possuem 10 ou 11 segmentos de RNA de dupla-fita lineares. O nome é um acrônimo de “respiratory enteric orphan”, uma vez que eles foram originalmente encontrados nos tratos respiratório e entérico e não foram associados a nenhuma doença humana. O principal patógeno humanoé o rotavírus, que cau- sa diarreia, principalmente em crianças. O genoma do rotavírus possui 11 segmentos de RNA de dupla-fita. 5) Flavivírus São vírus envelopados com um capsídeo icosaédrico e RNA de fita simples, polaridade positiva, linear, não segmentado. Os fla- vivírus incluem o vírus da hepatite C, o vírus da febre amarela, o vírus da dengue, o vírus do Oeste do Nilo, e os vírus da encefalite de Saint Louis e da encefalite japonesa. 6) Togavírus São vírus envelopados com um capsídeo icosaédrico e RNA de fita simples, polaridade positiva, linear, não segmentado. Nessa família, há dois principais grupos de patógenos humanos: os alfa- vírus e os rubivírus. O grupo dos alfavírus inclui os vírus da ence- falite oriental e ocidental; o grupo dos rubivírus consiste apenas no vírus da rubéola. 7) Retrovírus São vírus envelopados com um capsídeo icosaédrico e duas fitas idênticas (denominados diploides) de RNA de fita simples, pola- ridade positiva, linear. O termo retro trata da transcrição reversa do genoma de RNA em DNA. Existem dois grupos de interesse médico: (1) o grupo dos oncovírus, que contém os vírus de sar- coma e leucemia (p. ex., vírus linfotrófico de células T humanas [HTLV]) e (2) o grupo dos lentivírus (“vírus lentos”), que inclui o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e alguns patógenos de animais (p. ex., o vírus visna). 8) Ortomixovírus Esses vírus (mixovírus) são envelopados, com um capsídeo heli- coidal e oito segmentos de RNA de fita simples, polaridade nega- tiva, lineares. O termo mixo refere-se à afinidade desses vírus por mucinas, e orto foi adicionado para distingui-los dos paramixoví- rus. O vírus influenza é o principal patógeno humano. 9) Paramixovírus São vírus envelopados com nucleocapsídeo helicoidal e RNA de fita simples, polaridade negativa, não segmentado, linear. Os pa- tógenos humanos importantes são os vírus do sarampo, caxum- ba, da parainfluenza e sincicial respiratório. 10) Rabdovírus São vírus envelopados em forma de bala com um nucleocapsídeo helicoidal e RNA de fita simples, polaridade negativa, não segmentado, linear. O termo rabdo refere-se à forma de bala. 11) Filovírus São vírus envelopados com nucleocapsídeo helicoidal e RNA de fita simples, polaridade negativa, não segmentado, linear. Eles são longos filamentos altamente pleomórficos, com 80 nm de diâmetro, podendo ter milhares de nanômetros de comprimen- to. O termo filo significa “fio” e refere-se aos longos filamentos. Os dois patógenos humanos são o vírus ebola e o vírus Marburg. 12) Coronavírus São vírus envelopados com um nucleocapsídeo helicoidal e um RNA de fita simples, polaridade positiva, não segmentado, linear. O termo corona refere-se ao halo proeminente de espículas que saem do envelope. Os coronavírus causam infecções do trato respiratório, como resfriados comuns e síndrome respiratória aguda grave (SARS, severe acute respiratory syndrome), em seres humanos. 13) Arenavírus São vírus envelopados com um nucleocapsídeo helicoidal e um RNA de fita simples, polaridade negativa, circular, dividido em dois segmentos. (Uma parte de ambos os segmentos é de RNA polaridade positiva, e o termo RNA ambissenso é usado para des- crever esse genoma incomum.) O termo arena significa “areia” e refere-se aos grânulos na superfície viral que são ribossomos não funcionais. Dois patógenos humanos dessa família são o vírus da coriomeningite linfocitária e o vírus da febre do Lassa. 14) Buniavírus São vírus envelopados com um nucleocapsídeo helicoidal e RNA de fita simples, polaridade negativa, circular, dividido em três segmentos. Alguns buniavírus contêm RNA ambissenso em seu genoma (ver Arenavírus, anteriormente). O termo bunia refere-se ao protótipo, o vírus Bunyamwera, que foi nomeado pelo local onde foi isolado na África. Esses vírus causam ence- falite e várias febres, como a febre hemorrágica da Coreia. Os hantavírus e o vírus Sin Nombre são membros dessa família. 15) Deltavírus (sem classificação em Família – Deltavirus corresponde ao gênero) O vírus da hepatite delta (HDV) é o único membro desse gênero. Ele é um vírus envelopado com um genoma de RNA covalen- temente fechado em círculo que é fita simples, senso negativo. A simetria do nucleocapsídeo é incerta. Ele é um vírus defectivo porque não possui a habilidade de se multiplicar, a não ser que o vírus da hepatite B (HBV) esteja presente dentro da mesma célula. 4. Elucidar a patogênese viral (mecanismos de agressão e defesa) A célula infectada Existem quatro principais efeitos de uma infecção viral em uma célula: (1) morte, (2) fusão das células para formar uma célula multinucleada, (3) transformação maligna, e (4) nenhuma mudança morfológica ou funcional aparente. A morte da célula provavelmente ocorre devido à inibição da síntese de macromoléculas. A inibição da síntese de proteí- nas celulares do hospedeiro frequentemente ocorre primeiro e é provavelmente o efeito mais importante. A inibição da síntese de DNA e RNA pode ser um efeito secundário. É importante observar que a síntese de proteínas celulares é inibida, mas a síntese de proteínas virais ainda ocorre. Células infectadas frequentemente apresentam corpúsculos de inclusão , que são áreas distintas que contêm proteínas virais ou partículas virais. Eles possuem localização intranuclear ou intracitoplasmática característica, e sua aparência depende do tipo de vírus. *Um dos melhores exemplos de corpúsculos de inclusão que podem auxiliar no diagnóstico clínico são os corpúsculos de Negri, que são inclusões citoplasmáticas eosinófilas encontradas em neurônios cerebrais infectados com o vírus da raiva. A fusão de células infectadas por vírus produz células gigantes multinucleadas, que caracteristicamente se formam após in- fecções por herpes-vírus e paramixovírus. A fusão ocorre como resultado de mudanças na membrana celular, provavelmente causadas pela inserção de proteínas virais na membrana. Uma característica de infecções virais em uma célula é o efeito citopático (ECP). Essa mudança na aparência da célula infectada normalmente começa com arredondamento e escurecimento da célula, culminando em lise (desintegração) ou formação de células gigantes. A detecção de vírus em espécimes clínicos frequen- temente é baseada no aparecimento de ECP em cultivo celular. Além disso, o ECP é a base para o ensaio de placa, um método importante para quantificação de vírus emuma amostra. A infecção por certos vírus causa transformação maligna, que é caracterizada por crescimento descontrolado, sobrevivência prolongada e mudanças morfológicas, como áreas focais de células arredondadas e empilhadas. O paciente infectado A patogênese no paciente infectado envolve (1) transmissão do vírus e sua entrada no hospedeiro; (2) replicação do vírus e dano às células; (3) disseminação do vírus para outras células e órgãos; (4) a resposta imune, tanto como uma defesa do hospedeiro quanto como uma causa que contribui para certas doenças; e (5) persistência do vírus em algumas situações. Período de incubação durante o qual o paciente é assintomático, um período prodrômico durante o qual ocorrem sintomas não específicos, um período específico da doença durante o qual ocorrem sintomas e sinais característicos, e um período de recuperação durante o qual a doença diminui e o paciente recupera sua saúde. Em alguns pacientes, a infecção persiste e um estado carreador crônico ou uma infecção latente ocorre. 1) Transmissã� � port� d� entrad� Disseminação pessoa a pessoa ocorre pela transfe- rência de secreções respiratórias, saliva, sangue ou sêmen e pela contaminação fecal de água e de alimentos. A transferência de sangue, tanto por transfusão quanto pelo compartilhamento de agulhas durante uso de drogas intravenosas, pode transmitir vá- rios vírus (e bactérias). A transmissão também pode ocorrer entre mãe e filho no útero por meio da placenta, no momento do nascimento ou du- rante a amamentação. A transmissão entre mãe e filho é denominada transmissão vertical. Transmissão de pessoa a pessoa, que não seja de mãe para filho, é denominada transmissão horizontal. A transmissão de animais para seres humanos pode ocorrer tanto diretamente pela mordida de um hospedeiro reservatório, como na raiva, quanto indiretamente por meio da picada de um inseto-vetor, como um mosquito, que transfere o vírus de um reservatório animal para uma pessoa. 2) Infecçõe� local�ada� o� disseminada� A maior parte das infecções virais pode ser localizada na porta de entrada ou disseminada sistemicamente pelo corpo. Algumas infecções virais disseminam-se sistemicamente não por meio da corrente sanguínea, mas sim por fluxo axonal retrógrado no interior de neurônios. Quatro patógenos humanos importantes executam essa função: vírus da raiva, herpes-vírus simples do tipo 1, herpes-vírus simples 2 e vírus varicela-zóster. 3) Patogênes� � imunopatogênes� Os sinais e sintomas da maioria das doenças virais indubitavel- mente são o resultado da morte de células pela inibição da síntese macromolecular induzida por vírus. A morte das células infec- tadas por vírus resulta em perda de função e nos sintomas da doença. Entretanto, existem algumas doenças que não são ocasiona- das pelos danos ou pela destruição causados pelo vírus em células infectadas. Existem outras doenças nas quais a morte celular por ataque imune possui um papel importante na patogênese. Tanto células T citotóxicas quanto anticorpos possuem um papel considerável na imunopatogênese. *O sistema melhor estudado é o da coriomeningite linfo- citária (LCM) em camundongos; a LCM ocorre em seres humanos também, mas é muito rara. Quando o vírus da LCM é inoculado no encéfalo de camundongos adultos, a replicação viral ocorre seguida de morte. Entretanto, quando o vírus da LCM é inoculado no encéfalo de um camundongo adulto imunossuprimido ou de um camundongo recém-nascido, o animal permanece bem, apesar da extensiva replicação viral. Quando linfócitos imunes são inoculados nesses animais infectados, porém saudá- veis, a morte ocorre. Parece que a morte das células é causada por ataque imune das células T citotóxicas aos novos antígenos virais presentes na membrana celular, em vez de ser via inibição das funções celulares mediada por vírus. *A patogênese imunomediada também ocorre quando complexos vírus-anticorpo-complemento se formam e se depo- sitam em vários tecidos. Isso ocorre nas infecções pelo vírus da hepatite B, nas quais imunocomplexos exercem um papel impor- tante na produção da artrite característica dos estágios precoces da hepatite B. 4) Evasã� da� defesa� d� h�pedeir� Esses processos são normalmente de- nominados imunoevasão. Alguns vírus codificam receptores para vários mediadores de imunidade como interleucina 1 (IL-1) e fator de necrose tumoral (TNF). Quando liberadas da célula infectada por vírus, essas proteínas ligam-se aos imunomediadores e bloqueiam sua capacidade de interagir com receptores em seus alvos corretos, as células imunes que medeiam as defesas do hospedeiro contra infecções virais. Reduzindo as defesas do hospedeiro, a virulência do vírus é aumentada. Essas proteínas codificadas por vírus que bloqueiam imunomediadores do hos- pedeiro são geralmente chamadas de receptores isca. Além disso, alguns vírus (p. ex., vírus da imunodeficiência humana [HIV] e herpes-vírus como o herpes-vírus simples e o citomegalovírus [CMV]) são capazes de reduzir a expressão de proteínas do MHC (complexo principal de histocompatibilidade) de classe I, dessa forma reduzindo a habilidade de células T citotóxicas de matar células infectadas por vírus. Outros vírus (p. ex., herpes-vírus simples) são capazes de inibir a ação do complemento. Vários vírus (HIV, vírus Epstein-Barr e adenovírus) sintetizam RNAs que bloqueiam a fosforilação de um fator de iniciação (eIF-2), o que reduz a capacidade de os interferons bloquearem a replicação viral. Uma terceira forma importante pela qual os vírus evadem as defesas do hospedeiro é pela exibição de tipos antigênicos múltiplos (também conhecidos como sorotipos múltiplos). A importância clínica de um vírus possuir múltiplos sorotipos é que um paciente pode ser infectado com um sorotipo, recuperar-se e apresentar anticorpos que o protegerão de infecções por esse sorotipo no futuro; entretanto, essa pessoa ainda pode ser infectada por outro sorotipo daquele vírus. O exemplo clássico de um vírus com múltiplos sorotipos são os rinovírus, que apresentam mais de 100 sorotipos. Observa-se que apenas alguns vírus possuem múltiplos sorotipos. Muitos patógenos humanos importantes (p. ex., vírus do sarampo, vírus da rubéola, vírus da varicela-zóster e vírus da rai- va) possuem apenas um sorotipo, e alguns possuem apenas poucos sorotipos (p. ex., o poliovírus possui três sorotipos). Defesas não específicas 1. Interferons alfa e betaOs interferons α e β constituem um grupo de proteínas produzidas pelas células humanas em resposta a uma infecção viral (ou após a exposição a substâncias indutoras). Eles inibem a replicação dos vírus mediante bloqueio da síntese de proteínas virais, e o fazem por intermédio de dois mecanismos: um é por meio de uma ribonuclease que degrada mRNAs, e o outro é por meio de uma cinase proteica que inibe a síntese de proteínas. Os interferons são divididos em três grupos baseados na célula de origem, que são os leucócitos, fibroblastos e linfócitos. Eles também são conhecidos como interferons alfa, beta e gama, respectivamente. Interferons α e β são induzidos por vírus, ao passo que o interferon γ (célula T, imune) é induzido por antígenos e é um dos efetores da imunidade celular. 1.1. Induçã� d� interferon� alf� � bet� Os indutores mais fortes desses interferons são vírus e RNAs de dupla-fita. A indução não é específica para um vírus em particular. * O RNA de dupla-fita poli (rI-rC) é um dos mais fortes indutores e estava sendo considerado como um agente antiviral, mas efeitos colaterais tóxicos impediram seu uso clínico. Os indutores fracos de interesse microbiológico incluem uma variedade de bactérias intracelulares e protozoários, assim como certas substâncias de bactérias, como endotoxinas. Essa extensa lista de indutores evidencia que a indução desses interferons não é específica. Similarmente, sua ação inibidora não é específica para nenhum vírus em particular. Entretanto, eles são específicos quando se considera a espécie hospedeira em que funcionam (i.e., interferons produzidos por células humanas são ativos em células humanas, mas são muito menos efetivos em células de outras espécies). Fica claro, portanto, que outros animais não podem ser utilizados como fonte de interferons para terapia humana. 1.2. Açã� d� interferon� alf� � bet� Os interferons inibem a replicação intracelular de uma ampla variedade de vírus de DNA e RNA, mas produzem pouco efeito no metabolismo de células não infectadas. Os interferons não apresentam nenhum efeito sobre partículas virais extracelulares. Os interferons agem por meio de sua ligação a receptores na superfície celular que sinalizam para que a célula produza três proteínas, dessa forma induzindo um “estado antiviral”. Essas três proteínas são produzidas como precursores inativos até o momento em que são ativados por RNAs de dupla-fita sintetizados durante a replicação viral. Como resultado, essas proteínas são ativas em células infectadas por vírus, mas não em células não infectadas. As três proteínas celulares são (1) uma 2,5-oligo A sintase que sintetiza um trinucleotídeo de adenina (2,5-oligo A), (2) uma ribonuclease que é ativada pelo 2,5-oligo A e degrada mRNAs virais e celulares, e (3) uma proteína-cinase que fosforila um fator de iniciação (eIF-2) para a síntese proteica, inativando-o. Como os interferons são produzidos em poucas horas após o início da replicação viral, eles podem agir nas fases precoces das doenças virais para limitar a disseminação do vírus. Por outro lado, os anticorpos começam a surgir no sangue vários dias após a infecção. 2. Célula� natura� killer Elas são chamadas de células “natural killer” porque são ativas sem a necessidade de serem expostas ao vírus previamente e não são específicas para nenhum vírus. As células NK são um tipo de linfócito T, mas não possuem um receptor para antígenos. Elas reconhecem células infectadas por vírus por meio da ausência de proteínas do MHC (complexo principal de histocompatibilidade) de classe I na superfície das células infectadas. Elas matam células infectadas por vírus por meio da secreção de perforinas e granzimas, que causam apoptose da célula infectada. 3. Fagocitose Os macrófagos, principalmente macrófagos fixos do sistema reticuloendotelial e macrófagos alveolares, são os tipos celulares importantes na limitação de infecções virais. 4. α-Defensinas As α-defensinas são uma família de peptídeos positivamente carregados com atividade antiviral. Elas interferem no vírus da imunodeficiência humana (HIV) ligando-se ao receptor CXCR4 e bloqueando a entrada do vírus na célula. A produção deα-defensinas pode explicar por que alguns indivíduos infectados com HIV são “não progressores” em longo prazo. 5. E�im� apolipoproteín� B editor� d� RNA (APOBEC3G) A APOBEC3G é um importante membro das defesas inatas do hospedeiro contra infecções retrovirais, sobretudo contra HIV. É uma enzima que causa hipermutações no DNA retroviral pela desaminação de citosinas tanto do mRNA quanto do DNA retroviral, dessa forma inativando essas moléculas e reduzindo a infectividade. 6. Febre A febre age de duas formas: (1) inativar partículas virais, sobretudo os vírus envelopados, que são mais sensíveis ao calor do que vírus não envelopados; e (2) a febre pode inibir a replicação. 7. Depuraçã� mucociliar O mecanismo de depuração mucociliar do trato respiratório pode proteger o hospedeiro. 8. Circuncisã� Há evidências de que a circuncisão previne a infecção por três vírus transmitidos sexualmente: HIV, papilomavírus humano e herpes-vírus simples 2 (HSV-2) 9. Fatores que modificam as defesas do hospedeiro (1) A idade. . Em geral, infecções são mais graves em neonatos e em idosos do que em crianças mais velhas e adultos jovens. (2) Níveis aumentados de corticosteroides. Os corticosteroides podem causar uma série de efeitos pertinentes, como lise de linfócitos, recrutamento dimi- nuído de monócitos, inibição da produção de interferon e estabilização de lisossomos. (3) A desnutrição.Má nutrição causa produção diminuída de imunoglobulinas e de atividade de fagócitos, assim como integridade reduzida de pele e de membranas de mucosas. Defesas específicas 1. Imunidade ativa A imunidade ativa, na forma de anticorpos e células T citotóxicas, é muito importante para a prevenção de doenças virais. A primeira exposição ao vírus, causando tanto uma infecção não aparente quanto uma doença sintomática, estimula a produção de anticorpos e ativação de células T citotóxicas. O papel que os anticorpos e células T citotóxicas têm na recuperação dessa primeira infecção é incerto e pode variar de vírus para vírus, mas é evidente que eles possuem um papel essencial em proteger contra a doença quando expostos ao mesmo vírus em algum momento no futuro. A IgA confere proteção contra vírus que entram através da mucosa respiratória e gastrintestinal, e IgM e IgG protegem contra vírus que entram ou são disseminadospelo sangue. A proteção oferecida pela imunidade ativa pode ser afetada pelo fenômeno do pecado antigênico original. Esse termo refere-se à observação de que quando uma pessoa é exposta a um vírus que tem reatividade cruzada com outro vírus ao qual o indivíduo já foi exposto anteriormente, mais anticorpos podem ser produzidos contra o vírus original do que contra o vírus atual. Parece que as células imunes de memória podem responder contra a exposição antigênica original em um nível maior do que contra a subsequente. Existem dois mecanismos principais que um anticorpo inibe os vírus. O primeiro é a neutralização da infectividade do vírus pela ligação do anticorpo a proteínas da superfície externa do vírus. Essa ligação tem dois efeitos: (1) ela pode impedir a interação do vírus com o receptor celular, e (2) ela pode ligar as proteínas virais e estabilizar o vírus para que o desnudamen- to não ocorra. O vírus, portanto, não consegue se replicar. Além disso, um vírus coberto por anticorpos é mais rapidamente fagocitado do que um vírus normal.Anticorpos incompletos, também chamados de “bloqueadores”, podem interferir na neutralização e formar imuno- complexos, que são importantes na patogênese de certas doenças. O segundo mecanismo principal é a lise das células infectadas por vírus na presença de anticorpos e complemento. O anticorpo liga-se a novos antígenos vírus-específicos na superfície da célula e então se liga ao complemento, que enzimaticamente degrada a membrana celular. Como a célula é morta antes que uma produção completa do vírus ocorra, a disseminação do vírus é significativamente reduzida. A lise de células infectadas por vírus também é causada por linfócitos T citotóxicos. Essas células T CD8 positivas reconhecem antígenos virais apenas quando eles são apresentados em associação com proteínas do MHC de classe I. Eles matam células infectadas por vírus por três métodos: (1) pela liberação de perforinas, que formam cavidades na membrana celular de células infectadas; (2) pela liberação de enzimas proteolíticas, chamadas de granzimas, no interior da célula infectada, que degradam o conteúdo celular; e (3) pela ativação da proteína FAS, que causa morte celular programada (apoptose). Alguns vírus podem “regular negativamente” (reduzir) a quantidade de proteínas do MHC de classe I e classe II produzidas pelas células, o que pode ser um mecanismo pelo qual esses vírus suprimem a imunidade celular. 2. Imunidade Passiva A transferência de soro humano contendo os anticorpos apro- priados fornece imunidade de curta duração para indivíduos expostos a certos vírus. O termo passiva refere-se à administração de anticorpos pré-formados. Dois tipos de preparações de imunoglobulinas são usados para esse propósito. Um deles possui altos títulos de anticorpos contra um vírus específico, e o outro é uma amostra misturada de doadores de plasma que contém uma mistura heterogênea de anticorpos com títulos baixos. *Dois exemplos especializados de imunidade passiva incluem a transferência de IgG da mãe para o feto pela placenta e a trans- ferência de IgA da mãe para o recém-nascido pelo colostro. 3. Imunidade de rebanho A “imunidade de rebanho” (também conhecida como “imunidade de grupo”) é a proteção de um indivíduo a uma infecção pelo fato de os outros membros da população (o “rebanho”) serem incapazes de transmitir o vírus para aquele indivíduo. A característica importante quando se considera imunidade de rebanho é a indução de IgA, que impede a transmissão. A imunidade de rebanho pode ser obtida tanto por infecções naturais quanto por vacinas. *Por exemplo, se uma doença viral, como o sarampo, ocorrer em aproximadamente 90% de um grupo, e se os que se recuperaram da doença possuírem imunidade suficiente para evitar que se tornem infectados e sirvam como fonte de vírus para outros, então os 10% restantes estarão protegidos pela imunidade de rebanho.
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