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O Código Civil de 1916 estabelecia regra abrangente das ações pessoais (aquelas que se originavam de uma relação jurídica de cunho obrigacional) e as ações reais (as que se fundam em direito real). Fixava o lapso prescricional das primeiras em trinta anos (mais tarde reduzido a vinte anos ex vi da Lei 2.437, de 7 de março de 1955), e em dez e vinte anos (este último reduzido a quinze anos por força do mesmo diploma) das ações reais. Foi com o Projeto de Código de Obrigações de 1965 que desapareceu a distinção, sob fundamento de que a prescrição extintiva dos direitos reais é correlata à prescrição aquisitiva por parte de outrem. O titular de um direito real não o perde por desuso, porém somente no caso de se criar em favor de um terceiro uma situação jurídica incompatível com ele. E, como nesta parte somente se cogita da prescrição extintiva, não tem lugar aí a referência aos direitos reais. A lei conhece dois tipos de prazos: o geral e os especiais. Geral ou comum é o da prescrição de longo tempo - praescriptio longi temporis - abrangente de qualquer direito para cuja pretensão a lei não estabelecer prazo de extinção mais curto. Ao estabelecer para a prescrição geral ou ordinária o prazo de dez anos, levou o Código em consideração que as facilidades de transporte e dos meios de comunicação não mais se compadecem com a extensão dos prazos anteriormente consagrados. Na época do avião a jato e da ruptura da barreira do som, das telecomunicações instantâneas e da informação fácil, não mais se justifica mantenha-se aparelhada toda a ordem jurídica na proteção da inércia do credor por todo um tempo de 20 anos. Por isso, no Código de 2002, a prescrição ordinária reduziu-se de 10 anos. Não haveria mais direito que sobrevivesse a um decênio de inatividade de seu titular, diante de uma situação que lhe seja contrária. Sendo a prescrição instrumento de paz social, estatui que nenhum direito sobrevive ao decurso de dez anos (art. 205). Atendendo à conveniência de que se consolidem algumas situações jurídicas, fixa o legislador prazos curtos que variam de 1 a 5 anos, para os direitos que expressamente menciona. São as prescrições especiais, mencionadas no art. 206 do Código Civil.18 No tocante à praescriptio brevi temporis, o Código buscou simplificar o assunto, eliminando as demasias do velho Código. O nosso direito pré-codificado conhecia, ainda, a chamada prescrição imemorial, quando se passava tanto tempo sobre o estado de fato, que seu começo se perdia da memória dos homens. Já o direito romano distinguia a vetustas da prescrição de longo e longuíssimo tempo, medrando, todavia, entre os romanistas a discussão se somente se aplicava a certos direitos de caráter público,19 ou a qualquer direito.20 Segundo o conceito tradicional, filiando-se destarte à própria noção romana, nosso direito anterior entendia a imemorialidade não como a mera extensão de prazo, porém como o fenômeno da conversão de qualquer situação de fato em direito, e criação da presunção inatacável de sua legitimidade.21 Na prática, a prescrição imemorial acabou por se reduzir a um prazo de 40 anos, e foi abolida na Codificação de 1916. A contagem dos prazos prescricionais, no tocante ao decurso do tempo propriamente dito, sujeita-se às regras comuns já enunciadas.22 O que é preciso é estabelecer o seu momento inicial, podendo-se dizer, como regra genérica, que se a prescrição fulmina a pretensão jurídica pelo decurso do tempo aliado à inatividade do sujeito, tem começo no momento em que podendo ele exercê-la, deixa de o fazer. O Projeto de Código de Obrigações foi explícito (art. 284), estabelecendo que começa a correr "da data em que a pretensão pode ser utilmente manifestada em juízo". Posto não a tenha reeditado, o Código de 2002 mantém o princípio, que requer esclarecido: com a violação do direito subjetivo nasce para o titular a pretensão, que se extingue com a prescrição (art. 189). Esta norma, todavia, há que ser conjugada com a existência de causa impeditiva (arts. 197 e segs.). A rigor, portanto, a prescrição inicia-se na data em que o interessado pode, sem embaraço, manifestar a pretensão em juízo. O assunto é delicado, e a regra há de aplicar-se tanto para a contagem dos prazos de prescrição propriamente dita, como ainda de decadência. Não se pode a rigor dizer que principia um prazo de prescrição no momento em que o sujeito deixa de exercer o seu direito, pois nem sempre isto é verdade, já que nem sempre a falta de exercício pode ser tachada de inércia do titular. A doutrina alemã dá-nos uma palavra e uma regra: inicia o prazo de prescrição, como o de decadência, ao mesmo tempo em que nasce para alguém uma pretensão acionável (Anspruch), ou seja, no momento em que o sujeito pode, pela ação, exercer o direito contra quem assuma situação contrária, já que actio nondum nata non praescribitur.23 Em aplicação prática, se ao direito corresponde uma prestação positiva, o seu não-cumprimento ensancha ao sujeito ativo a ação, por via da qual visará a compelir o devedor a executá-la, iniciando-se, pois, com a sua pretensão, a causa extintiva do direito. Se a obrigação é negativa, a prescrição se conta do instante em que o devedor praticou o que lhe era vedado, porque data dele a pretensão do sujeito. Geralmente, confunde-se o termo inicial da prescrição com uma lesão ao direito. Mais corretamente dir-se-á que ela tem início quando se erige uma situação de fato contrária ao direito.24 Considerando o interesse público de afastar toda dúvida, a lei já declara em certos casos o momento de início do prazo prescricional, deixando ao interessado justapor a regra de contagem à norma específica determinante do termo inicial. Quando ocorre um motivo impediente do exercício dos direitos, não inicia o prazo prescricional. Assim é que a prescrição dos direitos condicionais não tem começo na pendência da condição, e a dos direitos a termo antes que seja este atingido.25 Se a violação do direito é continuada, de tal forma que os atos se sucedam encadeadamente, a prescrição corre a contar do último deles, mas, se cada ato dá direito a uma ação independente, a prescrição alcança cada um, destacadamente.26 Quando a obrigação se cumpre por prestações periódicas, porém autônomas, cada uma está sujeita à prescrição, de tal forma que o perecimento do direito sobre as mais remotas não prejudica a percepção das mais recentes. Problema que, por outro lado, desperta a atenção dos juristas é o que se contém na indagação se é possível a alteração convencional dos prazos prescricionais. Sendo de ordem pública, os prazos prescricionais não podem ser alterados por pactos privados: privatorum pactis mutari non possunt. Sua redução importa condenar a pretensão a uma vida mais curta, e, em conseqüência, a respectiva relação jurídica perde a exigibilidade em detrimento do credor. Sua extensão equivale a uma renúncia parcial, na proporção em que é alongado, e, desta sorte, de alongamento em alongamento, chegar-se-ia à renúncia à própria prescrição, o que é defeso (Código Civil, art. 191). A alteração dos prazos, admissível na decadência, não o é na prescrição (art. 192). Alterado em 24/03/05 03:59:59 121.Prescrição extintiva Para conceituar a prescrição, o Código partiu da idéia de pretensão. Foi a dogmática alemã que lhe deu origem. O titular de um direito subjetivo recebe da ordem jurídica o poder de exercê-lo, e normalmente o exerce, sem obstáculo ou oposição de quem quer. Se, entretanto, num dado momento, ocorre a sua violação por outrem, nasce para o titular uma pretensão exigível judicialmente - Anspruch. O sujeito não conserva indefinidamente a faculdade de intentar um procedimento judicial defensivo de seu direito. A lei, ao mesmo tempo em que o reconhece, estabelece que a pretensão deve ser exigida em determinado prazo, sob pena de perecer. Pela prescrição, extingue-se a pretensão, nos prazos que a lei estabelece (art. 189 do Código de 2002). Diferentemente da prescrição aquisitiva, que atua como força criadora, a extintiva ou liberatória conduz à perda da pretensão pelo seu titular negligente, ao fim de certo lapso de tempo, e pode ser, em contraste com a primeira, encarada como força destrutiva. Segundo os conceitos doutrinários incorporados, para apurar a prescrição requer- se o consenso de dois elementos essenciais: o tempo e a inércia do titular. Não basta o decurso do lapsus temporis. Pode ele ser mais ou menos prolongado, sem que provoque a extinção da exigibilidade do direito. Ocorre, muitas vezes, que a não utilização deste é mesmo a forma de o exercer. Para que se consume a prescrição é mister que o decurso do prazo esteja aliado à inatividade do sujeito, em face da violação de um direito subjetivo. Esta, conjugada com a inércia do titular, implica a cessação da relação jurídica e extinção da pretensão. No justificar a prescrição, fundamentos diversos vêm à tona. No plano puramente positivista, não há o que discutir. A lei estatui em que condições e em que prazos ocorre ela. No campo doutrinário há que estabelecer por que motivo um direito subjetivo deixa de ser exigível por haver perdido o titular a pretensão judicialmente exigível. O nosso direito pré-codificado via nela uma punição ao credor negligente,5 o que não é de boa juridicidade, pois que punível deve ser o comportamento contraveniente à ordem constituída, e nada comete contra ela aquele que mais não fez do que cruzar os braços contra os seus próprios interesses, deixando de defender os seus direitos. O tempo, dizia Pothier, faz presumir o pagamento ou o perdão da dívida, e este seria o fundamento da prescrição.6 Mas se assentada fosse nesta praesumptio, atentaria por demais contra a realidade, em face da prova aduzida, pelo credor, da inexistência de uma ou de outro.7 É, então, na paz social, na segurança da ordem jurídica que se deve buscar o seu verdadeiro fundamento. O direito exige que o devedor cumpra o obrigado e permite ao sujeito ativo valer-se da sanção contra quem quer que vulnere o seu direito. Mas se ele se mantém inerte, por longo tempo, deixando que se constitua uma situação contrária ao seu direito, permitir que mais tarde reviva o passado é deixar em perpétua incerteza a vida social. Há, pois, um interesse de ordem pública no afastamento das incertezas em torno da existência e eficácia dos direitos, e este interesse justifica o instituto da prescrição, em sentido genérico.8 Poder-se-á dizer que, assim procedendo, o direito dá amparo ao relapso, em prejuízo do titular da relação jurídica. E até certo ponto é uma verdade: em dado momento, o ordenamento jurídico é chamado a pronunciar-se entre o credor que não exigiu e o devedor que não pagou, inclinando-se por este. Mas se assim faz é porque o credor negligente teria permitido a criação de uma situação contrária ao seu direito, tornando-se a exigência de cumprimento deste um inconveniente ao sossego público, considerado mal maior do que o sacrifício do interesse individual, e tanto mais que a prolongada inatividade induzira já a presunção de uma renúncia tácita. É por esta razão que se dizia ser a prescrição patrona generis humani, produtora do efeito sedativo das incertezas. E é precisamente por seu fundamento social que não é admitida a renúncia prévia. Pode o devedor a ela renunciar, seja expressa, seja tacitamente, em razão de fatos com ela incompatíveis, porém sempre depois de consumada (Código Civil, art. 191), e mesmo assim sem prejuízo de terceiro que da sua verificação se tenha beneficiado. Pode o devedor a ela renunciar, repetimos, subordinada a validade da renúncia à circunstância de estar o renunciante na livre administração de seus bens,9 pois envolve indiretamente uma diminuição patrimonial, equiparável à alienação. Como exceção ou defesa, a prescrição não opera pleno iure nos direitos de natureza patrimonial. Requer seja invocada pela pessoa a quem beneficia, e só à solicitação da parte pode o juiz decretá-la. Daí a conseqüência de que a renúncia à prescrição e pagamento voluntário não equivalem à doação.10 Mas não implica renúncia o fato de o devedor deixar de argüi-la liminarmente, com a apresentação de sua defesa, pois que lhe é lícito invocá-la em qualquer grau de jurisdição (Código Civil, art. 193). Tem-se discutido a prescrição do direito do vencedor à execução do julgado. E, na solução da pendência, três teses se levantam: a da imprescritibilidade; a da prescrição longi temporis (dez anos pelo art. 205); e a do mesmo prazo do direito. A imprescritibilidade não pode ser acolhida, pela regra geral de não haver em nosso sistema direitos imprescritíveis. A do prazo geral, embora com amparo em Teixeira de Freitas, Corrêa Telles e Clóvis Beviláqua, encontra contradita em que é ilógico sustentar que o credor tem prazo curto para ser reconhecido seu direito, mas o tem longo para fazê-lo valer. Resta estabelecer que a execução do julgado prescreve no mesmo prazo da pretensão originária. Questão que tem sido discutida é a da prescrição intercorrente. Retomada a instância, com despacho do juiz e a citação do devedor, interrompe-se a prescrição (art. 202, I). Mas, se o autor deixa o feito sem andamento, por desídia sua, por tempo correspondente ao lapso da prescrição, opera-se esta. A matéria é polêmica, e, no tocante à ação rescisória, o Supremo Tribunal Federal proclamou a prescrição intercorrente (Súmula 264). Consulta à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, anterior ao Código Civil de 1916, revela diversos julgados, no sentido de que era um dos efeitos da contestação da lide a perpetuação da ação (Pedro Lessa, Clóvis Beviláqua). Nem o Código Civil de 1916, nem o Código de Processo Civil de 1939, nem o de 1973 atribuem esta conseqüência à litiscontestatio. É permitida, também, a accessio praescriptionis, isto é, a soma do tempo corrido contra o credor ao que flui contra o seu sucessor (Código Civil, art. 196). O artigo encerrou uma dúvida que se levantava no regime do Código de 1916. Aludindo ele a herdeiro, polemizava-se se compreendia também o sucessor a título singular. Neste sentido militava a melhor doutrina, com Clóvis Beviláqua, Carpenter, Numa do Valle, Ary Franco. O Código atual, usando o vocábulo genérico sucessor, encerrou a questão. Iniciada a prescrição contra uma pessoa, continua contra quem lhe sucede na relação jurídica, qualquer que seja o título por via do qual ocorre a transmissão do direito. Tanto as pessoas naturais quanto as jurídicas se sujeitam aos seus efeitos, ativa e passivamente, isto é, podem invocá-la para seu benefício ou sofrer-lhe as conseqüências quando alegada ex adverso. Mas é lícito ao relativamente incapaz ou à pessoa jurídica agir regressivamente contra os seus assistentes ou representantes legais (Código Civil, art. 195) no caso de terem estes dado causa à prescrição ou não a alegarem oportunamente, deixando perecer a exigibilidade do direito. O Código não alude ao absolutamente incapaz, e é natural porque de acordo com o art. 194 o juiz pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição. No mesmo rumo da responsabilidade pelas respectivas conseqüências, os representantes voluntários das pessoas físicas ou jurídicas podem ser chamados à reparação pelo dano causado se por culpasua houverem deixado perecer os direitos cuja defesa lhes é confiada, como será o caso do advogado quanto ao seu cliente, do administrador de bens alheios, e assim em diante, sob fundamento geral do princípio da responsabilidade civil. Muito se discutiu se, além do decurso do tempo e da inércia do credor, dever-se- ia exigir a boa-fé do devedor como elemento integrativo da prescrição. Hoje não mais. Cabia a dúvida em nosso direito pré-codificado, à vista da Ordenação do Livro IV, tít. 79, ter excluído os devedores de má-fé, "porque estes tais não poderão prescrever em tempo algum". No debate acabou prevalecendo a opinião que Teixeira de Freitas registra e defende, no sentido de se dispensar o requisito da boa-fé.11 No estado atual de nosso direito, tal qual acontece universalmente, o elemento anímico não se impõe como condição para invocar a prescrição extintiva, que opera independentemente da boa-fé do prescribente. Diversamente ocorre com a prescrição aquisitiva,12 campo em que se exige o requisito anímico, apenas dispensados, na usucapião extraordinária, justo título e boa-fé. Tampouco o requisito é exigível nas novas hipóteses de usucapião, previstas nos arts. 1.239 e 1.240 do Código Civil. Cabe agora indagar quais os direitos sujeitos à prescrição, ou, inversamente, que direitos escapam a ela. E à pergunta é jurídico responder que a prescritibilidade é a regra, a imprescritibilidade, a exceção. A prescritibilidade alcança todos os direitos subjetivos patrimoniais de caráter privado. Escapam-lhe aos efeitos aqueles direitos que se prendem imediatamente à personalidade ou ao estado das pessoas. Os direitos à vida, à honra, à liberdade, à integridade física ou moral não se sujeitam a qualquer prescrição, em razão de sua própria natureza. Imprescritíveis são, igualmente, os modos de ser peculiares do indivíduo, como o estado de filiação, a qualidade de cidadania, a condição conjugal. Por maior que seja o tempo decorrido de inatividade do titular, nunca perecerão os direitos respectivos que sempre se poderão reclamar pelas ações próprias, uma vez que não é lícita a constituição de um estado que lhes seja contrário. Como conseqüência da regra acessorium sequitur principale, com a prescrição prescrevem os direitos acessórios. O Código Civil de 1916 (art. 167) enunciava-o. Embora o Código de 2002 o tenha omitido, prevalece o princípio, pois que não se pode admitir que a prescrição extinga a relação jurídica, e subsista a pretensão tendo como objeto os seus efeitos. Não prescrevem, igualmente, as chamadas faculdades legais, também designadas como direitos facultativos, que pertencem ao sujeito como conseqüências naturais do próprio direito, e se distinguem das denominadas faculdades convencionais, suscetíveis de prescrição, como direitos que são. Assim, não está sujeita à prescrição a faculdade que tem o proprietário de utilizar a coisa sua (facultas inerente ao domínio), mas prescreve a que lhe concede o vizinho de atravessar seu prédio (servidão de trânsito, que é um direito). Imprescritível é o direito de propriedade, exerça-o ou não o dono, por qualquer tempo que seja. Mas se tolera que um terceiro o exclua da utilização da coisa, e se não se insurge contra a criação de uma situação de fato contrária ao seu direito, pode vir a perder o domínio por usucapião. A conciliação dos princípios está em que a falta de exercício das faculdades legais não importa em causa de sua extinção; mas, se tolera o titular que um terceiro adquira um direito contrário ao seu exercício, perde-as.13 Imprescritíveis diziam-se ainda as exceções, e já o afirmava o direito romano: "quae temporalia sunt ad agendum perpetua sunt ad excipiendum." Não se inscreve na casa dos direitos imprescritíveis, senão da faculdade ou do poder de opor uma defesa à pretensão de outrem, faculdade que subsiste enquanto permanece a actio do contendor, com fundamento em um princípio de justiça, uma vez que a utilização da exceptio não está, em regra, na dependência da exclusiva iniciativa do seu titular. Ao contrário, mantém-se na dependência do exercício da ação por parte do adversário, e não seria equânime que se extinguisse a oponibilidade da exceção, que é técnica de defesa, antes de ser formulada a pretensão a que visaria extinguir.14 Prescrita, entretanto, a pretensão, ipso facto cessa com ela a faculdade de defesa (art. 190 do Código Civil). A prescrição fulmina todos os direitos subjetivos patrimoniais, e, normalmente, estende-se aos efeitos patrimoniais de direitos imprescritíveis, porque estes, como acima ficou explicado, não se podem extinguir, o que não ocorre com as vantagens econômicas respectivas. Se é imprescritível a ação de estado, como, por exemplo, a faculdade de obter o reconhecimento de filiação, prescreve, no entanto, o direito de reclamar uma herança, em conseqüência da procedência da ação de investigação de paternidade, e é por não terem feito uma distinção tão singela que numerosos escritores, não podendo recusar a prescrição ao efeito patrimonial, erroneamente concluem pela prescritibilidade daquela faculdade.15 A Constituição de 1988, ao dispor dos direitos sociais, estabeleceu que os créditos resultantes das relações de trabalho prescrevem em cinco anos para o trabalhador urbano até o limite de dois anos após a extinção do contrato; e até dois anos para o trabalhador rural (art. 7º, XXIX). Alterado em 24/03/05 03:59:59 HUMBERTO THEODORO JUNIOR Comentários ao Código Civil – vol. III – tomo II – 3ª ed. 2005 373. A prescrição e o direito intertemporal Quando uma lei nova interfere nos prazos prescricionais, a preocupação histórica sempre se situou no plano do direito adquirido e, conseqüentemente, na necessidade de evitar efeitos retroativos que pudessem desestabilizar a situação jurídica consolidada. Nessa ordem de idéias, uma posição é tranqüila: as prescrições iniciadas e terminadas sob a vigência da mesma lei sujeitam-se apenas a ela; são imunes a qualquer efeito oriundo de modificação operada por lei nova em relação aos respectivos prazos. Assim, "prescrição iniciada e consumada sob o império de norma pretérita, regula-se pela mesma, quer a hodierna aumente, quer diminua os requisitos e prazos."247 Prevalece, plenamente, o direito adquirido, mantendo- se intacta a situação jurídica consolidada antes da inovação legislativa.248 Não se resolve, porém, pelo direito adquirido o conflito intertemporal de leis quando o prazo de prescrição não se completou sob o império da lei anterior e a inovação da norma superveniente resultou em redução ou ampliação do referido prazo. Não se pode impor a continuidade da regência da lei anterior, porque o curso de prazo inacabado não corresponde a direito adquirido nem a situação jurídica consolidada. Enquanto não se aperfeiçoa a prescrição, a parte que dela irá se beneficiar tem apenas uma esperança ou uma simples expectativa, tanto que a mera quebra da inércia pelo credor tem a força de eliminar, por completo, o prazo transcorrido de forma incompleta.249 Deve, por isso, prevalecer a norma antiga sobre o que sucedeu durante sua vigência, isto é, sobre o início do prazo e as vicissitudes de sua fluência como fatos impeditivos e suspensivos ocorridos antes do advento da lei inovadora.250 A questão mais complicada de que se tem ocupado a doutrina é como fazer a conciliação entre as parcelas do tempo prescricional que se passaram sob regimes de leis diversas. SAVIGNY251 e WINDSCHEID,252 entre outros, tentaram equacionar o conflito. Para SAVIGNY, a lei nova que aumenta o prazo deve ser aplicada imediatamente; e a que o diminui faz com que o prazo reduzido comece a ser contado do início da vigência da inovação, desconsiderando-se o tempo já escoado. Para WINDSCHEID, tanto numa como noutra hipótese, dever-se-ia computar o tempo já transcorrido, com certos temperamentos: a soma dos dois períodos não poderia ser maior do que o prazo anterior nem menor que o prazo atual; e de maneira alguma a lei nova poderia provocar a consumação do prazo em data anterior à sua vigência.253A Lei de Introdução ao Código Civil da Alemanha (art. 169) adotou expressamente esse critério, explicitando-o da seguinte maneira: "Se o tempo da prescrição conforme o Código Civil é mais breve do que segundo as leis anteriores, contar-se-á o prazo mais curto, a partir do advento do Código. Se, entretanto, o lapso maior fixado em normas antigas transcorrer mais cedo do que o menor determinado pelo Código Civil, a prescrição completar-se-á mediante o decurso mais longo".254 Entre nós, a jurisprudência tem seguido igual orientação, como se vê do seguinte aresto do Supremo Tribunal Federal, a propósito da redução do prazo prescricional provocado pelo Código Tributário Nacional: "Prescrição. Direito intertemporal. Caso em que o prazo prescribente fixado na lei nova é menor do que o prazo prescricional marcado na lei anterior. Feita a contagem do prazo prescribente marcado na lei nova (isso a partir da vigência dessa lei), e se ocorrer que ele termine em antes de findar-se o prazo maior fixado na lei anterior, é de considerar o prazo menor previsto na lei posterior, contado esse prazo a partir da vigência da segunda lei".255 Em obra clássica sobre o tema, PAUL ROUBIER sintetiza o efeito da lei nova sobre o prazo prescricional em curso nos seguintes termos: a) no caso de a lei nova ampliar o prazo para prescrever, a prescrição deve continuar até que o prazo se consume, computando naturalmente o tempo corrido sob a lei anterior. Se a lei nova poderia obstar à prescrição, pode com maior razão alongá-la; dá-se, simplesmente, a continuação do prazo iniciado ao tempo da lei velha, fazendo-o atingir o limite ampliado pela lei nova; b) no caso de a lei nova abreviar o prazo para prescrever, a nova disposição não poderá ser aplicada imediatamente ao prazo em curso, sem o risco de ser retroativa; com efeito, o novo prazo poderia já ter-se completado sob a lei anterior. Por isso, começa-se a contar o prazo novo (reduzido) a partir da data de vigência da lei nova. Todavia, sua fluência será adicionada ao tempo transcorrido durante a lei anterior e a soma não poderá ultrapassar o prazo maior, ou seja, aquele estipulado pela lei revogada. O prazo novo (menor) será interrompido no momento em que sua soma com o lapso anterior completar o tempo previsto na lei revogada. Somente correrá todo o prazo previsto na lei nova quando o seu termo se der antes de perfazer o tempo da lei velha; c) as alterações que a lei nova introduz acerca do início do prazo prescricional ou de seu termo final devem ser entendidas como ampliação ou redução da prescrição, pois é o que de fato provocam. Assim, o prazo inovado deverá ser aplicado da mesma forma prevista para as hipóteses cogitadas nas letras "a" e "b" supra;256 d) as causas de interrupção ou suspensão regulam-se pelas leis do momento em que se verificam; se são criadas pela lei nova, não retroagem e só interferem no prazo em curso a partir da vigência da nova regra.257 O novo Código brasileiro resolveu enfrentar o problema de direito intertemporal em suas disposições transitórias e o fez no tocante a todos os prazos inovados. Estatuiu-se no art. 2.028 uma regra relativa às reduções de prazo, porque para as ampliações não há problema algum, devendo simplesmente aplicar-se contagem do lapso instituído pela lei nova, computando-se o tempo já transcorrido sob o regime da lei anterior. Quanto ao encurtamento do prazo, a regra transitória do Código de 2002 manda conservar o regime da lei revogada, sempre que ao tempo da entrada em vigor da lei atual já houver transcorrido mais da metade do tempo previsto na regra antiga. Para os casos em que houver transcorrido menos da metade do prazo da lei antiga, dar-se-á, normalmente, a submissão ao prazo novo a partir da vigência do atual Código. Destarte, dois regimes de adaptação de prazos em curso deverão ser observados, conforme a dimensão do tempo transcorrido na vigência da lei antiga, ou seja: a) Se o prazo da lei velha já tiver sido consumado em mais da metade, continuará sob o comando da lei de seu início até o tempo nela estipulado. A lei nova não lhe será aplicada. b) Se apenas uma porção igual ou inferior à metade tiver se passado, ao entrar em vigor o novo Código, passará a ser aplicado o prazo reduzido instituído pela disposição atual. Para a hipótese "a", não haverá dificuldade alguma de direito intertemporal, porque o regime legal será um só. O prazo iniciado dentro do império da lei velha continuará por ele regido até o final. É para a hipótese "b" que se haverá de conciliar o tempo passado antes da lei nova com o transcorrido depois dela. Para tanto, ter-se-á de adotar o mecanismo tradicional preconizado por ROUBIER e que sempre mereceu a consagração da jurisprudência nacional em situações semelhantes: conta-se o prazo da lei nova a partir de sua vigência, mas não se despreza a fração já transcorrida antes dela. O prazo menor será aplicado, mas se antes de seu vencimento completar-se o prazo antigo (maior), este é que prevalecerá, pois não seria lógico que tendo a lei nova determinado a redução do prazo prescricional sua aplicação acabasse por proporcionar à parte um lapso maior ainda que o da lei velha. Se, porém, o prazo novo (o menor) terminar antes de ultimada a contagem do antigo, é por aquele e não por este que a prescrição se consumará. Veja-se o caso de um prazo de cinco anos que se reduziu para três (art. 206, § 3º, I, II e III): a) se, v.g., transcorreram três anos no regime velho, a prescrição se dará normalmente em cinco anos, como se não tivesse ocorrido a inovação do Código atual; b) se, no entanto, houvesse transcorrido apenas um ano, a prescrição se dará quando se completarem quatro anos (um da lei velha mais três da nova); c) se, finalmente, houvesse transcorrido dois anos e meio antes da lei nova, a prescrição se dará ao completarem-se cinco anos (dois anos e meio mais dois anos e meio depois da lei nova), porque o prazo antigo (maior) completou-se antes do prazo menor contado a partir da lei nova. Uma coisa é certa: não se pode de forma alguma, a pretexto de não ter transcorrido a metade do prazo antigo, aplicar-se retroativamente o prazo menor da lei nova a contar do nascimento da pretensão. Isto acarretaria um intolerável efeito retroativo, que, muitas vezes, conduziria a provocar a consumação da prescrição em data até mesmo anterior à vigência do novo Código. Imagine-se uma causa de reparação de ato ilícito, cujo prazo prescricional se reduziu de vinte para três anos. Se o evento danoso se passou cinco ou seis anos antes do novo Código, a se aplicar desde o início o lapso trienal, este estaria vencido muito tempo antes da vigência da lei inovadora. É claro que não se pode aceitar uma interpretação que conduza a um resultado injurídico como esse. Portanto, o art. 2.028 apenas deve incidir, para aplicar o prazo novo reduzido pelo atual Código, se este for contado a partir de sua entrada em vigor. Somente assim se evitará o risco do absurdo de provocar a lei superveniente a surpresa de uma prescrição consumada retroativamente (ou seja, em época que o Código não tinha vigência). Alterado em 22/06/05 04:00:00 377. A redução da prescrição e o direito intertemporal O problema da redução do prazo prescricional ordinário de 20 (vinte) para 10 (dez) anos já foi enfrentado e solucionado pela doutrina e jurisprudência nacionais, ao tempo do Código anterior, quando também houve uma redução de 30 para 20 (vinte) anos. No comentário feito à Seção IV (Dos prazos da prescrição), item nº 373, já se demonstrou o fundamento da orientação adotada. O acórdão do Supremo Tribunal Federal no RE 79.327/SP sintetiza com precisão como se deve fazer nos casos em que a prescrição se iniciou na vigência da Lei anterior e deve prosseguir sob império do Código novo, onde se prevê lapso menor: "Prescrição. Direito intertemporal. Caso em que o prazo prescribente fixado na lei nova é menor do que o prazo prescricional marcado na lei anterior. Feita a contagem do prazo prescribente marcado na lei nova (isso a partirda agência dessa lei), e se ocorrer que ele termine em antes de findar-se o prazo maior fixado na lei anterior, é de considerar o prazo menor previsto na lei posterior, contado esse prazo a partir da vigência da segunda lei".292 A operação de direito intertemporal para a adaptação dos prazos de prescrição em curso à redução imposta pelo Código Civil de 2002 foi muito simplificada pela disposição transitória do art. 2.028, que assim deverá ser aplicada: a) se, na entrada em vigor do novo Código, terão transcorrido mais de dez anos, a prescrição determinada pela lei anterior continuará vigendo, isto é, sua consumação dar-se-á aos vinte anos, levando-se em conta o tempo fluído antes da lei atual; b) se o prazo corrido antes do Código de 2002 limitar-se-á a dez anos ou menos, a nova prescrição decenal vigorará a partir da entrada em vigor da lei atual e, nesse caso, desprezar-se-á o tempo transcorrido anteriormente. Mesmo porque sendo igual ou inferior à metade do novo, este jamais se vencerá, antes de aperfeiçoar-se o lapso de vinte anos da lei revogada. No caso, porém, das ações reais, em que o prazo de quinze anos se reduziu para dez, pode tornar-se necessário o emprego da técnica tradicional de conciliação dos lapsos corridos antes e depois da lei inovadora. Não bastará, simplesmente, aplicar-se o prazo novo. É que tendo fluído metade (sete anos e meio), o prazo reduzido (dez anos), sendo contado a partir da vigência do Código de 2002, iria proporcionar à parte uma prescrição de dezessete anos e meio, maior portanto que a traçada pelo Código velho. Antes, pois, de completarem-se os dez anos da lei nova, estarão completos os quinze anos da lei pretérita e, nessa altura, dever-se-á ter como consumada a prescrição. Do contrário, a norma que reduziu o prazo de prescrição acabaria por ampliá-lo. Alterado em 22/06/05 04:00:00 Art. 205. A prescrição ocorre em 10 (dez) anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Direito anterior - Código de 1916, arts. 177 e 179. Art. 177. As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20 (vinte) anos, as reais em 10 (dez), entre presentes, e entre ausentes em 15 (quinze), contados da data em que poderiam ter sido propostas. Art. 179. Os casos de prescrição não previstos neste Código serão regulados, quanto ao prazo, pelo art. 177. Direito comparado - Código Civil português, art. 309º; Código Civil argentino, art. 4.023; Código Civil alemão, § 195; Código Civil francês, art. 2.262; Código Civil italiano, art. 2.946; Código Civil de Quebec, art. 2.922. COMENTÁRIO 374. Prazo ordinário de prescrição Estipula o Código o prazo ordinário de dez anos como sendo aquele a ser observado sempre que outro específico não tenha sido previsto pela lei. Várias são as pretensões que no Código ou em leis especiais se acham contempladas com prescrições específicas, que obviamente hão de prevalecer sobre a regra geral do art. 205. O decênio ordinário, portanto, é destinado às pretensões para os quais não se tenha previsto prazo diferente seja no Código, seja em lei extravagante. O art. 205 é, outrossim, regra pertinente ao direito privado. Em nada afeta as prescrições estabelecidas pelo direito público, como, v.g., as tributárias etc., que continuam regidas pela legislação própria. No entanto, havendo lacuna na própria disciplina publicística, o teto do Código Civil torna-se aplicável, pela função supletiva que se lhe reconhece dentro do ordenamento jurídico em geral, no que se relaciona com os atos jurídicos em sentido lato. Houve sensível redução do prazo ordinário, entre o Código anterior e o atual, pois aquele o fixava em vinte anos, enquanto este o faz em apenas dez anos. Não merece censura alguma a inovação, que se afina com a orientação que vem sendo seguida por Códigos modernos como o da Itália (art. 2.946) e o de Québec (art. 2.922). Ambos adotam o mesmo prazo que o novo Código brasileiro escolheu.258 Países como a Alemanha e a França, que conservam Códigos antigos, nos quais a prescrição ordinária chega ao longo tempo de trinta anos, tiveram que recorrer à jurisprudência criativa para evitar os inconvenientes de prazos incompatíveis com a agilidade dos negócios no mundo atual. Ao invés de literalmente aplicar-se a prescrição ordinária tem-se dado preferência, na prática, a buscar na analogia com casos assemelhados um meio de aplicarem-se prazos menores. Com isso se tenta contornar a disposição codificada que se reconhece totalmente inadequada às necessidades do comércio jurídico moderno.259 Reconhece-se na França que prazos como o do Código Napoleão não coadunam com o contexto econômico e social de nossa época, e que a tendência legislativa, no direito comparado, se manifesta pela redução do prazo de prescrição ordinário rumo ao limite de dez anos.260 Projeto de reforma da prescrição na Alemanha adota o prazo de dez anos como o aplicável à prescrição ordinária.261 O moderníssimo Código de Quebec, editado no final do Século XX, fixou, também, em dez anos a prescrição geral, para as ações reais, e em apenas três anos para as pessoais (arts. 2.922 e 2.923). Como se vê, andou bem o novo Código brasileiro na redução que fez operar no tempo prescritivo máximo. Alterado em 22/06/05 04:00:00 395. Dívidas líquidas documentadas Considera-se líquida a obrigação certa quanto à sua existência e determinada quanto ao seu objeto. Quando o crédito consta de instrumento público ou de documento particular e é líquida, porque sua existência e seu objeto se acham definidos documentalmente, a prescrição aplicável à pretensão do respectivo titular sujeita-se ao prazo de cinco anos (art. 206, § 5º, I). Contar-se-á o prazo em questão a partir do vencimento da obrigação, ou de cada serviço prestado, se mais de uma tarefa se realizou entre as partes. Não havendo previsão de vencimento em data certa, a prescrição correrá a partir da constituição em mora do devedor, por interpelação (arts. 394 e 397, parágrafo único). Alterado em 22/06/05 04:00:00 388. Enriquecimento sem causa O enriquecimento, sem justa causa, é fonte da obrigação de restituir tudo o que o beneficiário lucrou à custa do empobrecimento de outrem (art. 884). A ação para recuperar a perda sofrida nasce para o prejudicado no momento em que o beneficiário absorve em seu patrimônio o bem a que não tinha direito. Ao mesmo tempo que sofre o prejuízo, adquire o prejudicado o direito ao ressarcimento, acompanhado da imediata pretensão. Tudo se passa simultaneamente. Por isso, do próprio fato do enriquecimento sem causa começa a correr a prescrição da pretensão de recuperá-lo. A situação é a mesma do ato ilícito: o responsável se coloca em mora desde o momento em que o praticou (art. 398). Alterado em 22/06/05 04:00:00 Art. 205. A prescrição ocorre em 10 (dez) anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Direito anterior - Código de 1916, arts. 177 e 179. Art. 177. As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20 (vinte) anos, as reais em 10 (dez), entre presentes, e entre ausentes em 15 (quinze), contados da data em que poderiam ter sido propostas. Art. 179. Os casos de prescrição não previstos neste Código serão regulados, quanto ao prazo, pelo art. 177. Direito comparado - Código Civil português, art. 309º; Código Civil argentino, art. 4.023; Código Civil alemão, § 195; Código Civil francês, art. 2.262; Código Civil italiano, art. 2.946; Código Civil de Quebec, art. 2.922. COMENTÁRIO 374. Prazo ordinário de prescrição Estipula o Código o prazo ordinário de dez anos como sendo aquele a ser observado sempre que outro específico não tenha sido previsto pela lei. Várias são as pretensões que no Código ou em leis especiais se acham contempladas com prescrições específicas, que obviamente hão de prevalecer sobre a regra geral do art. 205. O decênio ordinário, portanto, é destinado às pretensões para os quais não se tenha previsto prazo diferente seja no Código, seja em lei extravagante. O art. 205 é, outrossim, regra pertinente ao direito privado. Em nada afeta as prescrições estabelecidas pelo direitopúblico, como, v.g., as tributárias etc., que continuam regidas pela legislação própria. No entanto, havendo lacuna na própria disciplina publicística, o teto do Código Civil torna-se aplicável, pela função supletiva que se lhe reconhece dentro do ordenamento jurídico em geral, no que se relaciona com os atos jurídicos em sentido lato. Houve sensível redução do prazo ordinário, entre o Código anterior e o atual, pois aquele o fixava em vinte anos, enquanto este o faz em apenas dez anos. Não merece censura alguma a inovação, que se afina com a orientação que vem sendo seguida por Códigos modernos como o da Itália (art. 2.946) e o de Québec (art. 2.922). Ambos adotam o mesmo prazo que o novo Código brasileiro escolheu.258 Países como a Alemanha e a França, que conservam Códigos antigos, nos quais a prescrição ordinária chega ao longo tempo de trinta anos, tiveram que recorrer à jurisprudência criativa para evitar os inconvenientes de prazos incompatíveis com a agilidade dos negócios no mundo atual. Ao invés de literalmente aplicar-se a prescrição ordinária tem-se dado preferência, na prática, a buscar na analogia com casos assemelhados um meio de aplicarem-se prazos menores. Com isso se tenta contornar a disposição codificada que se reconhece totalmente inadequada às necessidades do comércio jurídico moderno.259 Reconhece-se na França que prazos como o do Código Napoleão não coadunam com o contexto econômico e social de nossa época, e que a tendência legislativa, no direito comparado, se manifesta pela redução do prazo de prescrição ordinário rumo ao limite de dez anos.260 Projeto de reforma da prescrição na Alemanha adota o prazo de dez anos como o aplicável à prescrição ordinária.261 O moderníssimo Código de Quebec, editado no final do Século XX, fixou, também, em dez anos a prescrição geral, para as ações reais, e em apenas três anos para as pessoais (arts. 2.922 e 2.923). Como se vê, andou bem o novo Código brasileiro na redução que fez operar no tempo prescritivo máximo. Alterado em 22/06/05 04:00:00 392.1. Títulos cambiários e cheque Perante os títulos cambiários há prazos decadenciais e prazos prescricionais: são decadenciais os que se referem à diligência de protesto para assegurar o direito de regresso contra sacadores e endossantes (Lei Uniforme, arts. 44 e 53, e Dec. nº 2.044/1908, art. 32); e prescricionais os relativos à execução do débito cartular (Lei uniforme, art. 70; Dec. nº 2.044/1908, art. 50). Dois, outrossim, são os prazos de prescrição fixados, contra o beneficiário do título, pela Lei Uniforme: a) três anos, a contar do vencimento, para as ações contra o aceitante da letra e o emitente da nota promissória; b) um ano, a contar do protesto, para as ações contra o sacador e os endossantes. Se o título vem a ser honrado por um endossante, a prescrição é de seis meses, a contar do pagamento, no regresso de endossante contra endossante, ou contra o sacador (art. 70). O mesmo se passa com o cheque: a) há um prazo legal de apresentação ao sacado (trinta dias da emissão). Dentro do qual deve-se tirar o protesto ou obter- se o comprovante do sacado ou da câmara de compensação de que o cheque foi apresentado (Lei nº 7.357/85, arts. 33 e 47, II); trata-se de prazo decadencial; b) há, outrossim, o prazo de seis meses, a contar da expiração do prazo de apresentação, destinado ao ajuizamento da ação executiva (Lei nº 7.357/85, art. 59), que é de prescrição. No caso do cheque o prazo da ação executiva é único - seis meses - tanto contra o emitente, como os endossantes, e até mesmo o de regresso entre os vários endossantes. Os prazos de apresentação e protesto são insuscetíveis de interrupção e suspensão. Referem-se à constituição do direito de regresso, que se extingue, a seu termo. Os prazos de execução são tipicamente prescricionais, pois referem- se ao exercício da pretensão de exigir o pagamento da soma inadimplida pelo obrigado. Submetem-se, portanto, às interrupções e suspensões previstas na disciplina legal da prescrição (Lei nº 7.357, art. 60; Lei Uniforme, art. 71). Além da ação executiva, que prescreve em três anos, a contar do vencimento da cambial, ou em seis meses, a contar da expiração do prazo de apresentação do cheque, a lei admite ação de locupletamento, a ser exercitada após a prescrição da ação cambiária. A ação de locupletamento refere-se ao negócio subjacente à cártula e segue o procedimento ordinário, e não o executivo (Dec. nº 2.044/1908, art. 48; Lei Uniforme, Anexo II, art. 15).317 A ação de enriquecimento contra o emitente e coobrigados do cheque prescreve em dois anos, contados do dia em que se consumar a prescrição da ação executiva (Lei nº 7.357, arts. 61 c/c 59 e seu parágrafo). Quanto à letra de câmbio e à nota promissória, não há prazo especial na Lei Cambiária. Deve-se, portanto, aplicar, após a prescrição da ação executiva, o prazo previsto ao Código para as ações de enriquecimento sem causa, que é de três anos (art. 206, § 3º, IV). Conta-se esse triênio a partir da data em que se consumar a prescrição da ação executiva cambial, pois é daí que nasce a ação ordinária de locupletamento.318 Alterado em 22/06/05 04:00:00 392. Títulos de crédito As pretensões relativas aos títulos de crédito sujeitam-se aos prazos de prescrição estatuídos pela legislação própria. Sendo omissa a lei específica, prevalecerá o prazo de três anos, previsto no art. 206, § 3º, VIII, cuja contagem será feita a partir da data de exigibilidade da obrigação cartular, ou seja, o seu vencimento. É o caso, v.g., das cédulas de crédito rural (Dec.-Lei nº 167, de 14.02.1967), cédulas industriais (Decreto-Lei nº 413, de 1969), cédulas de exportação (Lei nº 6.313, de 1975); cédulas comerciais (Lei nº 6.840 de 1980); a cédula de crédito bancário (MP nº 2.160/25, de 23.08.2001, publicada no DOU de 24.08.2001), a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e a Cédula de Crédito Imobiliário (CCI) (Medida Provisória nº 2.223, de 04.09.2001, publicada no DOU de 05.09.2001). Alterado em 22/06/05 04:00:00 375. Ações reais e ações pessoais Outro ponto de insatisfação com o regime prescricional do Código de 1916 situava-se na estipulação de prazos ordinários diferenciados para as ações pessoais e as reais, submetendo estas a lapsos menores do que o estipulado para aquelas.262 Esse problema foi também superado. O prazo da prescrição ordinária de dez anos aplica-se indistintamente a todas as pretensões para as quais não se tenha previsto prazo menor. Pouco importa verse o litígio sobre direito pessoal ou real. O prazo extintivo máximo é único. Seguiu-se, também, nesse tema o exemplo de codificações modernas como a portuguesa (art. 309º), e a italiana (art. 2.946). A quebequeana (arts. 2.922 e 2.923) manteve os tetos diferentes, reduzindo-os porém sensivelmente. Segundo a jurisprudência, sujeitam-se ao prazo da prescrição maior (hoje 10 anos): a ação de adjudicação compulsória;263 ação de cobrança do empréstimo, após a prescrição do cheque;264 ação de ressarcimento decorrente da venda a non domino;265 ação de cobrança de despesas condominiais extraordinárias;266 ação de indenização por inadimplemento do contrato;267 ação de adimplemento ruim;268 ação de sonegação de juros e correção monetária de caderneta de poupança;269 ação sobre falta de documentação de importação;270 ação de retrocessão;271 ação de desapropriação indireta;272 ação de reparação de danos por prejuízos de defeitos graves de mudas para plantio;273 ação de anulação de partilha por exclusão de herdeiro;274 ação de sonegados;275 ação de estranho prejudicado pelo inventário e partilha;276 ação de proteção ao nome comercial e à marca;277 ação de indenização pelo uso indevido de marca;278 ação de petição de herança;279 ação de prestação de contas;280 ação de nulidade de partilha ofensiva de fideicomisso;281 ação de resolução de doação;282 ação de revogação de doação;283 ação de proteção à própria imagem;284 ação cominatória de desocupação de passeio público;285 ação de evicção;286 ação de retrocessão;287 ação de nulidade absolutada partilha de separação consensual288 ou de divórcio289 etc. Alterado em 22/06/05 04:00:00 ARNALDO RIZZARDO – PARE GERAL DO CODIGO CIVIL 22.2.1. A pretensão para o pagamento das despesas de hospedagem e de alimentação O prazo de um ano, consoante § 1º, inc. I, do art. 2096 (§ 5o, inc. V, do art. 178 do Código anterior) assegura-se para "a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos". A redação do dispositivo revela certa dificuldade. Resta, porém, certo que a prescrição é da ação de cobrança, e que o prazo inicia a partir da homologação judicial do penhor legal requerido judicialmente sobre as bagagens e quaisquer bens que estiverem com as pessoas hospedadas ou os consumidores. Deve-se buscar a homologação do penhor legal, não bastando a apreensão dos bens. Para tanto, em obediência aos arts. 874, 875 e 876 do Código de Processo Civil, o hospedeiro ou dono do hotel, bem como o fornecedor de alimentos, devem apresentar um pedido ao juiz, com a relação das despesas, tomando como base os preços colocados em tabela impressa e afixada ostensivamente em lugares de maior freqüência dos hóspedes ou freqüentadores, como em salas, nos quartos ou apartamentos, e na entrada do prédio. Cita-se o hóspede ou devedor, assegurando-se o prazo de vinte e quatro horas para pagar ou se defender. Resta evidente que se procede o chamamento por edital se desconhecido o endereço. Vindo a defesa, apreciará o juiz a matéria, definindo a existência ou não da obrigação. Não impugnado o pedido, haverá uma simples homologação pelo juiz. Incidirá o pagamento nos bens apreendidos, que deverão, obviamente, ser previamente avaliados. Depois de quarenta e oito horas da homologação serão os autos entregues ao autor do pedido, independente de traslado, salvo se a parte contrária houver requerido certidão. Nesta eventualidade, depois de fornecido o documento, entregam-se os autos. Todavia, cumpre observar o início do prazo após o trânsito em julgado da decisão, conforme refere Humberto Theodoro Júnior: "O processo é contencioso e dessa sentença cabe apelação; de maneira que o prazo de quarenta e oito horas para a entrega dos autos, a que alude o art. 876, deve ser contado do respectivo trânsito em julgado, e não da homologação".69 Unicamente depois de obedecidos os trâmites exigidos para a homologação é que inicia o prazo de um ano da prescrição. Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.2.21. Pretensão nas obrigações da União, dos Estados, Municípios, e de outros órgãos públicos Previa o inc. VI do § 10 do art. 178 do Código de 1916 a prescrição em cinco anos das "dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, e bem assim toda e qualquer ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal; devendo o prazo da prescrição correr da data do ato ou fato do qual se originar a mesma ação". Nada dispõe o atual Código sobre o assunto, porquanto próprio da legislação específica. A matéria já restou estudada no item 12 do presente Capítulo. Salientam-se alguns pontos capitais. O Decreto no 20.910, de 06.01.1932, no art. 1o, limita em cinco anos o prazo para reclamar qualquer direito e propor as ações de cobrança de dívidas: "As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja de que natureza for, prescrevem em 5 (cinco) anos, contados da data do ato ou fato do qual se originaram". O art. 2o, em relação a pensões e direitos e outros direitos: "Prescrevem igualmente no mesmo prazo todo prazo e as prestações correspondentes a pensões vencidas ou por vencerem, ao meio soldo e ao montepio civil e militar ou a quaisquer restituições ou diferenças". Estende o Decreto-lei no 4.597, de 19.08.1942, às autarquias e aos demais órgãos públicos o mesmo prazo prescricional: "O Decreto no 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrição qüinqüenal, abrange as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições exigidas em virtude de lei federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os mesmos". Prescreve a ação popular em cinco anos, forte no art. 21 da Lei no 4.717, de 29.06.1965: "A ação prevista nesta Lei prescreve em 5 (cinco) anos". A repetição de indébito ou de tributo pago indevidamente contra as pessoas jurídicas de direito público deve ser exercida também no prazo de cinco anos, em consonância com o art. 168 do Código Tributário Nacional (Lei no 5.172, de 25.10.1966): "O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados: I - nas hipóteses dos incisos I e II do art. 165, da data da extinção do crédito tributário; II - na hipótese do inciso III do art. 165, da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória". Os incisos I e II do art. 165 concernem à cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face de legislação tributária aplicável, ou em face da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; e a erro na identificação do sujeito passivo, na determinação de alíquota aplicável, no cálculo do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer documento relativo ao pagamento. Já o inciso III refere-se à reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória. Necessário distinguir quando prescrevem as prestações ou o direito. Desde que não enfrentado o fundo do direito, unicamente as primeiras são atingidas pelo lapso prescricional. Do contrário, se é necessário a declaração ou o enfrentamento de um ato, o próprio direito está à mercê da caducidade, o que importa em decadência, se decorridos mais de cinco anos desde o momento de sua exigibilidade. Nessa linha a jurisprudência: "Quando a ação busca configurar ou restabelecer uma situação jurídica, a prescrição deve ser contada a partir do momento em que a parte teve o seu direito atingido, de forma inequívoca, passando a ter a possibilidade de acionar o Poder Judiciário para satisfazer a sua pretensão; a prescrição, conseqüentemente, faz-se sobre o próprio fundo do direito". O que seja o fundo de direito, ou quando uma lide versa sobre o mesmo, vem explicado no curso do voto, que transcreve lição do Ministro Moreira Alves, colhida no Recurso Extraordinário no 110.419/SP, de 8.03.1989: "Fundo de direito é expressão utilizada para significar o direito de ser funcionário (situação jurídica fundamental) ou os direitos a modificações que se admitem com relação a essa situação jurídica fundamental, como reclassificações, reenquadramentos, direito a adicionais por tempo de serviço, direito à gratificação por prestação de serviços de natureza especial etc. A pretensão ao fundo do direito prescreve, em direito administrativo, em cinco anos a partir da data da violação dele, pelo seu não conhecimento inequívoco. Já o direito a perceber as vantagens pecuniárias decorrentes dessa situação jurídica fundamental ou de suas modificações ulteriores é mera conseqüência daquele, e sua pretensão, que diz respeito a quantum, renasce cada vez em que este é devido (dia a dia, mês a mês, ano a ano, conforme a periodicidade em que é devido o seu pagamento), e, por isso, se restringe às prestações vencidas há mais de cinco anos, nos termos exatos do art. 3o do Decreto no 20.910/32, que reza: 'Quando o pagamento se dividir por dias, meses ou anos, a prescrição atingirá progressivamente as prestações, à medida que completarem os prazos estabelecidos pelo presente decreto'. Se o Estado paga, reconhece, portanto, a existência incontroversa do 'fundo do direito', mas paga menos do que é constitucional ou legalmente devido, o direito ao pagamento certo renasce periodicamente".81 Num outro exemplo, enquadra-seno fundo do direito a discussão sobre a situação funcional da pessoa em um cargo: "Em se tratando de ação para rever o enquadramento funcional, a prescrição alcança o próprio fundo do direito".82 Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.2.14. Pretensão para haver o pagamento de títulos de crédito Também de três anos o prazo prescricional para a pretensão ao pagamento de título de crédito, a contar do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial, em razão do art. 206, § 3º, inc. VIII, do Código Civil, sendo que o Código anterior não continha regra correspondente. Como está no dispositivo, ressalvam-se as disposições das leis especiais. Nesse sentido, unicamente se nada consignar em contrário a lei que regula o título de crédito incide a norma do Código Civil. Quanto à letra de câmbio e à nota promissória, já vinha estabelecido o prazo de prescrição de três anos, segundo deflui do art. 70 da Lei Uniforme de Genebra em matéria de letra de câmbio e nota promissória (Decreto no 57.663, de 24.01.1966): "Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em 3 (três) anos a contar de seu vencimento". Já as ações do portador contra os endossantes e o sacador seguem a segunda parte do mesmo dispositivo, pela qual "prescrevem num ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data do vencimento, se se trata de letra que contenha cláusula 'sem despesas'". Por sua vez, de acordo com a alínea terceira ainda do art. 70, "as ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem em 6 (seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele próprio foi acionado". Em relação à duplicata, a disciplina está no art. 18 da Lei no 5.474, de 18.07.1968: "A pretensão à execução da duplicata prescreve: I - contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 (três) anos, contados da data do vencimento do título; II - contra endossantes e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do protesto; III - de qualquer dos coobrigados, contra os demais, em 1 (um) ano, contado da data em que haja sido efetuado o pagamento do título". Relativamente ao cheque, encontra-se o prazo no art. 59 da Lei no 7.357, de 02.09.1985: "Prescreve em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta lei assegura ao portador". No que endossa a jurisprudência: "Se o cheque é apresentado ao sacado fora do prazo de apresentação, que é de trinta dias na mesma praça, a prescrição ocorre em seis meses, contados da data de expiração do prazo de apresentação, ou seja, a prescrição ocorre em sete meses a contar da data da emissão".79 E se apresentado antes do prazo, também inicia a prescrição quando da expiração: "O lapso prescricional do art. 59 da Lei do Cheque (Lei no 7.357/85) somente tem início a partir da expiração do prazo para apresentação do cheque, independentemente de o credor havê-lo feito em data anterior".80 Quanto ao regresso, segue o parágrafo único do art. 59: "A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado". A ação de enriquecimento contra o emitente e outros obrigados, que se locupletaram injustamente com o não-pagamento do cheque, completa o art. 61, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo". Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.2.4. A pretensão contra os peritos, pela avaliação de bens que entram para a formação do capital de sociedade anônima Estabelecido, no § 1º, inc. IV, do art. 206 do Código Civil, o prazo de um ano para a eventual pretensão dos que participam de sociedades anônimas, contra os peritos, "a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo". A norma envolve a prescrição em direito societário, não vindo prevista no diploma anterior. Pressupõe a avaliação de má- fé do perito destacado para estimar economicamente os bens com que os sócios formam sua participação no capital social de uma sociedade anônima. Com efeito, estabelece o art. 7º da Lei nº 6.404, de 15.12.1976, que "O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro". E sobre a avaliação, o art. 8º fornece o procedimento: "A avaliação dos bens será feita por 3 (três) peritos ou por empresa especializada, nomeados em assembléia-geral dos subscritores, convocada pela imprensa e presidida por um dos fundadores, instalando-se em primeira convocação com a presença de subscritores que representem metade, pelo menos, do capital social, e em segunda convocação com qualquer número". De acordo com as normas que seguem, apresenta-se laudo fundamentado, com o critério de avaliação e os elementos de comparação adotados e instruído com os documentos relativos aos bens avaliados. Finalmente, o § 6º do art. 8º contempla a responsabilidade dos avaliadores e do subscritor perante a companhia, os acionistas e terceiros, pelos danos que "causarem por culpa ou dolo na avaliação dos bens, sem prejuízo da responsabilidade penal em que tenham incorrido". Justamente para ensejar a reparação dos danos que causarem com a avaliação é que se previu o lapso de tempo de um ano, que se conta a partir da publicação da ata da assembléia que vier a aprovar o laudo de avaliação. Na previsão do art. 287, inc. I, letra 'a', da Lei nº 6.404, também consta de um ano o prazo de prescrição da ação, contra os peritos, e estendendo-o também contra os subscritores do capital, para deles haver reparação civil pela avaliação de bens, contado o prazo da publicação da ata da assembléia geral que aprovar o laudo. Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.2.2. A pretensão do segurado contra o segurador, ou deste contra aquele Em matéria que envolve seguro, embora mantendo o prazo de um ano, como vinha no anterior, o vigente Código tentou explicitar melhor o início da contagem da prescrição, ao inserir, no inc. II do § 1º, do art. 206 (art. 178, § 6º, II, do diploma civil de 1916), que prescreve em um ano "a pretensão do segurado contra o segurador, ou deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão". Conforme vem explícito no item 'a', está regulado o prazo de prescrição no seguro de responsabilidade civil, quando assiste ao responsável o ressarcimento junto à seguradora. Especialmente nos acidentes de veículos, existindo o contrato de seguro para a cobertura da indenização a que está obrigado o causador do dano, começa o prazo de um ano a partir da data em que se dá citação na ação ressarcitória promovida pelo terceiro. Nota-se que, ingressando em juízo a demanda, desde o momento da citação terá um ano o responsável que contratou a cobertura do seguro, para promover o recebimento do valor correspondente. A redação assinala o prazo de um ano, a iniciar na data da citação, mesmo que continue em andamento o pleito no curso do lapso de tempo, o que traz certa dificuldade, pois há a possibilidade de ser julgada improcedente a lide, que importa em não se dever o seguro. Na verdade, em face da redação da norma, o que se viabiliza é a denunciação da lide à seguradora, para que a integre, e fique ciente de sua responsabilidade, nos termos do art. 70, inc. III, do diploma processual civil. Acorrendo o responsável à indenização em favor do terceiro, cumpre que dê ciência ao segurador, iniciando o prazo de um ano da data do pagamento. Na hipótese, não importa em automática obrigação do segurador em repor a quantia entregue. Garante-se ao mesmo o exame da obediência dos requisitos do contrato. Fixa a lei unicamenteo prazo de prescrição, não envolvendo aspectos contratuais. Nos demais contratos de seguro, quando cabe ao segurado o direito à cobertura de sinistros previstos, como no seguro de vida e de saúde, o prazo de um ano inicia a partir da ciência do fato gerador da pretensão. Desde a data da ciência do fato gerador que importa em cobertura do seguro começa o lapso de um ano. Nesta parte, é mantida a tradição do direito anterior, contando-se o prazo do dia em que o interessado tiver conhecimento do mesmo fato. A Súmula no 101 do Superior Tribunal de Justiça solidificou dita prescrição ânua, ao alardear: "A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em 1 (um) ano". Já vinha consolidada, no entanto, a interpretação de que a contagem do prazo inicia a partir do momento da ciência da recusa em pagar pela seguradora, ou da obstinação do segurado em cumprir a sua obrigação. Se em período anterior desenvolviam-se tratativas para o acerto amigável, inafastável que não era, ainda, ocasião de propor a demanda pertinente. Envolvendo seguro de vida, flui o prazo desde a constatação definitiva da incapacidade, como se colhe dos seguintes exemplos pretorianos: "Seguro de vida em grupo. Prescrição. Prazo. Termo inicial. Fluência a partir da constatação da redução da capacidade total e permanente. Não existindo data indicativa ou consolidação das moléstias que teriam acometido o autor, o termo a quo do lapso prescricional conta-se a partir da constatação da redução da capacidade total e permanente".70 "... O prazo prescricional, na hipótese de seguro de vida em grupo, passa a fluir da data em que o segurado tem conhecimento inequívoco da moléstia profissional".71 Não se pode olvidar que o lapso de um ano restringe-se unicamente à relação entre segurador e segurado, sem qualquer repercussão quanto ao beneficiário ou pessoa designada como favorecida. Outrossim, desde que incida o Código de Defesa do Consumidor, importantes conseqüências se extraem. Vem expresso, no art. 3o, § 2o, da Lei no 8.078, de 1990, o significado de "serviço qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito, securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista". O art. 1o declara expressamente o objetivo da lei, que é a proteção e defesa do consumidor. O caput do art. 2o dá o conceito de Consumidor: "é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final". Por conseguinte, resta evidente a proteção do serviço de seguros no âmbito do Código de Defesa do Consumidor. A Lei no 8.078, pois, incluiu a atividade securitária na relação dos serviços, para efeito de aplicação dos princípios gerais de defesa ao consumidor. Embora o contrato de seguro venha regido pelo Código Civil, aplicáveis, concomitantemente, os dispositivos da Lei no 8.078. Nesta ótica, aduz Antônio César Siqueira, incidem as regras que "definem as cláusulas abusivas, a propaganda enganosa, bem como aquelas regras que esclarecem a responsabilidade pelo fato do serviço. Neste ponto, o art. 14 e seus parágrafos fixam os parâmetros para a responsabilidade civil dos fornecedores pelo fato do serviço. Pelo § 1o, é defeituoso o serviço quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em conta, entre outras circunstâncias, o modo de seu fornecimento, o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam e a época em que foi fornecido".72 Igualmente apropriado o art. 27 do mesmo Código de Defesa do Consumidor, o qual fixa em cinco anos o prazo de prescrição para as pretensões reparatórias formalizadas unicamente pelos segurados, e não pelos fornecedores, eis que se encontram estes fora da proteção do referido ordenamento. Eis a redação do dispositivo: "Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria". A Seção II cuida da responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, ou seja, dentre outros assuntos, da falta de qualidade do produto ou serviço, de seus defeitos, das informações insuficientes e inadequadas ou enganosas. De modo que, pelo menos no que diz respeito às ações que procuram responsabilizar o fornecedor com amparo nos preceitos inseridos na Seção II do Capítulo IV da Lei no 8.078 (do art. 12 ao art. 17), mostra-se coerente considerar o prazo prescricional de cinco anos. Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.2.3. A pretensão na percepção de emolumentos, custas e honorários de árbitros e peritos É de um ano o prazo de prescrição para os tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e peritos promoverem a percepção de emolumentos, custas e honorários, em consonância com o § 1º, inc. III, do art. 206 do Código Civil (art. 178, § 6º, inc. VIII, do Código revogado). Inclui-se nesse prazo a pretensão de todos os que desempenham atividades ligadas à justiça e aos cartórios judiciais e extrajudiciais, como escrivães, oficiais de justiça e oficiais dos registros públicos. Não alcança a parte vencedora de uma lide, e que adiantou as custas, para reembolsar-se junto ao perdedor. Consoante os termos do dispositivo, a regra dirige-se aos que desempenham as atividades acima. Aquele que despendeu custas ou quaisquer despesas tem assegurado o prazo de cinco anos para a devida cobrança, de acordo com o 206, § 5º, inc. III, da lei civil. Normalmente, segundo os regimentos locais de custas e emolumentos, antes da realização do ato procede-se o depósito prévio, sendo, pois, difícil a ocorrência de hipóteses de exigibilidade judicial. Tanto na esfera da atividade judicial, como na extrajudicial, adianta o interessado as custas e emolumentos, em obediência ao que determina, quanto às despesas dos Atos judiciais, a regra do art. 19 do Código de Processo Civil. Já no pertinente às custas dos árbitros e peritos, é igualmente normal que sejam antecipadas, ordenando o juiz que a parte faça o depósito, em obediência do assinalado pelo art. 33 e seu parágrafo único, da mesma lei processual. Para a cobrança, nas situações pendentes, o prazo será de um ano, contado sempre da data da exigibilidade definitiva. Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.2.20. A pretensão nas dívidas trabalhistas Havendo vínculo empregatício ou relação de trabalho, a prescrição opera-se em cinco anos, com a permissão de cobrar até dois anos depois de encerrado o contrato de trabalho. Por outros termos, pode a parte abranger o período de cinco anos na reclamatória ou ação trabalhista. Reconhece-se a faculdade, porém, de reclamar os direitos até dois anos do encerramento do contrato, seja o trabalhador urbano ou rural, tendo desaparecido a diferença de prazo, que desfavorecia o último, com a Emenda nº 28, de 25.05.2000. Assegura-se unicamente a cobrança dos direitos pelo período que vai até os dois anos posteriores ao encerramento do contrato, não importando que o trabalho seja de natureza urbana ou rural. Daí para trás engloba-se o período de cinco anos para buscar os direitos trabalhistas. É o que se encontra no art. 7o, inc. XXIX, na Emenda nº 28: "Ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com o prazo prescricional de 5 (cinco) anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de 2 (dois) anos após a extinção do contrato de trabalho". Lembra-se que o art. 11 da Consolidação das Leis do Trabalho simplesmente limitava em dois anos o lapso de tempo. A partir do momento do ingresso da ação em juízo, assegurava-se a reclamação de direitos até dois anos para trás. Não vinha reservado algum prazo para o ingresso judicial, durante o qual não corresse a prescrição. Alterado em 25/05/06 04:06:32 22.1. Prazo ordinário Pela prescrição ordinária, nos casos não especificamente regulados pela lei, segue-se a regra do art. 205: "A prescrição ocorre em 10 (dez) anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor".Bem diferentemente tratava o assunto o Código Civil anterior, no art. 177, que rezava: "As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em 20 (vinte) anos, as reais em 10 (dez), entre presentes, e entre ausentes em 15 (quinze), contados da data em que poderiam ter sido propostas". A este dispositivo fazia expressa menção o art. 179: "Os casos de prescrição não previstos neste Código serão regulados, quanto ao prazo, pelo art. 177". No Código em vigor, a regra equivalente se encontra no seu art. 179, consignando que, para a hipótese de não vir contemplado algum prazo, fica o mesmo em dois anos: "Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear a anulação, será este de 2 (dois) anos, a contar da data da conclusão do ato". A regra geral, no regime do Código anterior, discriminava os prazos em consonância com a natureza das ações em pessoal ou real. Quanto às ações que envolviam direitos pessoais, o prazo prescricional era de vinte anos. Essas ações decorrem de obrigação que a pessoa deve cumprir, e, assim, obrigação positiva (de dar e de fazer), ou deve abster-se, isto é, obrigação negativa (de não fazer). Esse era o interregno para as ações de responsabilidade, como para a reparação de danos, para a indenização, para a cobrança, para cumprir, para a desconstituição de um negócio, para a abstenção de um ato. Incidia sempre que omissa a lei em especificar um prazo diferente. Já no tocante às ações reais, ou fundadas em um ius in re, tendo como objeto a coisa sobre a qual recaía o direito real, o prazo encurtava-se para dez anos se corria a ação entre pessoas presentes, ou seja, residentes no mesmo município; e para quinze anos na eventualidade de dirigida a demanda contra pessoas sitas em municípios diversos daquele onde estava o autor. De duas maneiras protegia- se e ainda protege-se o domínio: a) pela proteção defensiva, exercida através das ações possessórias; b) pela proteção ofensiva, que se executa mediante as ações petitórias, em que se procura recuperar o domínio. Salienta-se que nunca prescreve o direito de recuperar o domínio, e mesmo a posse. Sempre mostra-se oportuna a ação. A parte demandada é que suscitará a execução de aquisição do domínio pela prescrição aquisitiva. Todavia, outras ações existem, também ligadas ao domínio, e que versam sobre os direitos restritivos, as que envolvem o usufruto, as servidões, a enfiteuse, os direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese). Unicamente a estas últimas, e às aforadas para discutir algum aspecto sobre uma aquisição, ou para reclamar contra a instituição de direitos de garantia, é que se aplicavam os prazos de prescrição de dez ou quinze anos. Não abrangia o prazo de dez ou quinze anos as ações petitórias, ou admitidas para reclamar o domínio, a posse, a reivindicação. Com efeito, e ainda é assim no vigente Código Civil, ao titular do domínio não se delimitava e não se delimita um prazo para buscar o imóvel do poder de quem se apossou ilegalmente dele, ou para se reclamar contra invasões. Se demorou mais de quinze anos, daquele que praticou o esbulho ou se apossou é que se exige a prova da posse com determinados requisitos para invocar a seu favor a prescrição aquisitiva, que se fixa como exceção. Oportuna a conclusão de Nelson Godoy Bassil Dower: "Em realidade, a regra do art. 177 é para as ações pessoais que têm o seu tempo de prescrição fixado em vinte anos. As ações reais, que aparecem neste artigo, seguem a regra concernente ao usucapião e, assim, só pelo usucapião é que prescreve o direito de propriedade. Por exemplo, a ação real de reivindicação não prescreve enquanto o imóvel não for usucapido, ou seja, a ação real prevista pelo art. 177 deve ser entendida em relação direta com a perda do domínio pela prescrição aquisitiva (usucapião). Chega-se à seguinte conclusão: a prescrição extintiva não ocorre nas ações reais, porque só se extingue a ação em função da prescrição aquisitiva, ocasionando-se o usucapião em favor do novo titular. Portanto, é defeituosa a redação do art. 177 que induz a pensar que a propriedade prescreve em dez anos entre presentes, e em quinze entre ausentes".65 Lembra-se que o art. 177 citado corresponde ao art. 205 do Código em vigor. Observa-se que a prescrição atingia unicamente às ações que tratavam de algum aspecto dos direitos reais, como para reclamar contra uma escritura pública, ou um ato de registro imobiliário, além das situações acima destacadas. Eram as ações de usufruto, de servidões, enfiteuse, direitos reais de garantia (penhor, hipoteca e anticrese). Presentemente, em face do art. 205, não mais se faz a distinção em ações pessoas ou reais, e a estas não importando se correm entre presentes ou entre ausentes. O prazo é sempre de dez anos. Quanto à petição de herança, que envolve direito pessoal, de acordo com uma corrente com raízes no direito anterior, dá-se a prescrição em dez anos (antes o prazo era de vinte anos), mas iniciando a partir do reconhecimento da paternidade. A investigação de paternidade é que se apresenta imprescritível, segundo argumentação ditada pelo Supremo Tribunal Federal: "Ação de investigação de paternidade, cumulada com petição de herança. Não há que falar em ação única de investigação de paternidade. Não tem pertinência a alegação de negativa de vigência ao disposto no art. 473 do Código de Processo Civil. Infrutífera é a argüição de negativa de vigência ao disposto no art. 178, § 9o, inc. V, letra b, do Código Civil. A ação de investigação de paternidade é imprescritível, enquanto a prescrição de petição de herança é vintenária (art. 177 do CC). O dies a quo do prazo prescricional é o da abertura da sucessão do pretendido pai, eis que não há sucessão de pessoa viva. Na espécie não fluiu o prazo prescricional".66 Os mencionados arts. 178, § 9º, inc. V, e 177 correspondem aos arts. 178, caput, e 205 do Código atual. A Súmula no 149 do STF dispôs em idêntica aplicação: "É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição de herança". O direito a investigar a paternidade é imprescritível porque trata-se de um direito de estado civil. Ponderam Planiol e Ripert: "Como el tiempo no puede hacer desaparecer el derecho de alegar un estado civil, tampoco puede hacer adquirir el derecho de alegar otro estado, el cual sería necesariamente la negación del precedente. Poco importa que durante un largo período se haya poseído un estado civil contrario a la realidad legal; siempre se puede acreditar el verdadero estado".67 Já quanto ao início do prazo para a petição de herança, lavra forte dissídio, havendo uma corrente que inicia a contagem a partir do reconhecimento da paternidade, e não da abertura da sucessão. Mário Moacyr Porto é desse sentir: "É princípio universalmente aceito que o prazo de prescrição somente se inicia quando surge o direito à ação. O Código Civil italiano, em seu art. 2.935, acolhe o princípio, ao dispor: 'A prescrição começa a correr do dia em que o direito pode ser exercido'. Parece-nos, assim, que, antes do julgamento da ação de investigação de paternidade ilegítima, o filho natural, não reconhecido pelo pai, jamais poderá propor a ação de petição de herança para o fim de lhe ser reconhecida a qualidade de herdeiro, com o direito à herança do seu indigitado pai. A ação de investigação de paternidade, na hipótese em causa, é um inafastável pressuposto, uma prejudicial incontornável, para que o filho possa intentar a ação de petição de herança...".68 Efetivamente, essa é a melhor exegese, porquanto não pode iniciar a prescrição sobre um direito não formado judicialmente. Com o Código vigente, introduzido pela Lei nº 10.406, altera-se o tratamento da questão. Ademais, resta evidente que a não inclusão de herdeiro no inventário revela nulidade absoluta, tornando a omissão suscetível de invocação a qualquer momento, por força do art. 169 da lei civil em vigor, proclamando a impossibilidade de confirmação do negócio jurídico nulo, sequer convalescendo pelo decurso
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