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Ética e Legislação Farmacêutica Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Luciana Nogueira Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Farmácias e Drogarias • Introdução; • Boas Práticas em Farmacêuticas; • Boas Práticas de Manipulação em Farmácias (BPMF); • Manipulação de Preparações Magistrais; • Serviços Farmacêuticos. • Compreender a importância da ética e legislação para o farmacêutico nas suas relações profi ssionais e com a sociedade (do ponto de vista regulamentar e de comportamento ético esperado), proporcionando ainda a base de conhecimento indispensáveis para o exercício da profi ssão. OBJETIVO DE APRENDIZADO Farmácias e Drogarias Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Farmácias e Drogarias Introdução A farmácia é um estabelecimento de saúde, sendo o recurso mais acessível à maior parte da população brasileira. Conforme descrito na Lei n.° 13.021/2014, a farmácia é um estabelecimento de prestação de serviços de saúde destinado a dar assistência farmacêutica, assistência e orientação sobre saúde tanto individual como coletiva (campanhas), podendo manipular, fracionar, administrar e dispensar medicamentos magistrais, oficinais, farmacopeicos ou industrializados, cosméticos, insumos farmacêuticos, produtos farmacêuticos e correlatos (BRASIL, 2014). São classificadas em: 1. Drogarias ou farmácias sem manipulação: estabelecimentos de dispensação de produtos industrializados (medicamentos, insumos, correlatos), ou seja, em suas embalagens originais; 2. Farmácias com manipulação: estabelecimentos que realizam a manipulação de medicamento alopáticos ou homeopáticos, magistrais ou oficinais, po- dendo também dispensar produtos industrializados. Dentro dessa categoria, é possível ainda encontrar farmácias de manipulação de atendimento priva- tivo de unidade hospitalar – por exemplo, as farmácias oncológicas. Documentos Mínimos para Funcionamento Os documentos necessários para o funcionamento de uma farmácia podem variar dependendo do tipo de produto ou serviço prestado. A petição pode ser para uma concessão (quando a empresa não tem autorização e pretende iniciar sua atividade), para renovação (pode ser uma renovação periódica, quando aplicável), alteração ou cancelamento, em alguns casos por meio eletrônico e, em outros, diretamente nos municípios, geralmente com pagamento ou recolhimento das respectivas taxas. Os mais comuns são: • Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE): documento emitido pela Anvisa, solicitado pela farmácia. É um cadastramento da empresa; • Autorização Especial (AE): também emitido pela Anvisa, é uma autorização para as empresas que optam por trabalhar com produtos de controle especial (atualmente, Portaria MS n.° 344/98). Para solicitar a AE, a empresa já deve ter a AFE; • Licença de Funcionamento: emitidas pelos estados ou municípios, autoriza o exercício de atividades sujeitas à vigilância sanitária; • Certidão de Regularidade Técnica: documento emitido pelo Conselho Regional de Farmácia, onde consta inclusive o horário de assistência dos farmacêuticos; • Manual de Boas Práticas: de acordo com o ramo de atuação, deve ser ela- borado e deve conter a estrutura organizacional que a empresa adota para 8 9 garantir as Boas Práticas Farmacêuticas, seja ela na dispensação ou na mani- pulação de medicamentos; • Plano de Gerenciamento de Resíduos de Saúde: pode ser elaborado por uma empresa terceirizada ou pela própria empresa quando o município oferece coleta para os resíduos de saúde gerados; • Licença da Polícia Federal e/ou da Política Civil: alguns produtos são contro- lados também pelas políticas, podem, por exemplo, ser precursores de drogas ou utilizados na fabricação de explosivos. Somente são necessárias essas licen- ças quando o estabelecimento opta por trabalhar com esses produtos. Para saber mais sobre concessão, alteração e cancelamento da Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE) e Autorização Especial (AE) para farmácias e drogarias, acesse a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n.° 275, de 9 de abril de 2019. Acesse em: http://bit.ly/2L3a1dq Ex pl or Infraestrutura Antes de projetar a farmácia, é importante verificar pontos como localização e dimensões e, se necessário, adaptar a estrutura para manter as condições sanitárias mínimas para o funcionamento e adequadas para as atividades que se pretende realizar. Dentre as estruturas consideradas mínimas, estão: • Espaço para atividades administrativas; • Área para recebimento; • Área para armazenamento; • Área para dispensação; • Depósito de material de limpeza; • Área para guardar pertences dos funcionários. Quando a farmácia também realiza manipulação, alguns laboratórios e áreas espe- cíficos também devem ser projetados, conforme descritos na RDC n.° 67/2007, como: • Vestiário; • Sala de paramentação; • Áreas para quarentena, vencidos, reprovados, devolvidos; • Área ou sala para armazenamento; • Área ou sala para controle de qualidade; • Salas ou locais para pesagem; • Salas de manipulação; • Áreas ou local para lavagem de utensílios e embalagens. 9 UNIDADE Farmácias e Drogarias Devem ainda ser observadas para o funcionamento as condições e as instalações, as quais devem ser lisas, permitindo a higienização de forma a não reter resíduos (in- clusive pisos, teto e paredes), ou seja, precisam ser facilmente laváveis. Deve-se consi- derar ainda a proteção contra insetos, roedores e outros animais (inclusive com plano para controle de pragas: desinsetização e desratização periódicas), as condições de ventilação e iluminação, o abastecimento de água e limpeza da caixa d´água, além de um plano de saúde ocupacional para os colaboradores (conforme PCMSO – plano de controle médico de saúde ocupacional, PPRA – programa de prevenção de risco ambientais e LTCAT – laudo técnico de condições de ambiente de trabalho). Boas Práticas em Farmacêuticas Com o objetivo de garantir o uso racional e a melhoria na qualidade de vida dos usuários de produtos farmacêuticos, as Boas Práticas Farmacêuticas foram definidas e são aplicáveis para farmácias, drogarias, farmácias públicas e unidades volantes (no que for aplicável) paraassegurar a qualidade e segurança dos produtos e serviços prestados e, para isso, deve-se manter um farmacêutico presente durante todo o horário de funcionamento. As farmácias hospitalares ou equivalentes possuem regulamentação específica. Ex pl or Documentos Necessários ao Estabelecimento Farmacêutico • Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE); • Autorização Especial (AE), opcional às farmácias que trabalham com produ- tos controlados; • Licença Sanitária Local; • Certidão de Regularidade Técnica emitida pelo Conselho Regional de Farmá- cia da região; • Manual de Boas Práticas Farmacêuticas. As seguintes informações devem estar fixadas em local visível ao público: • Licença ou Alvará Sanitário; • Certidão de Regularidade emitida pelo Conselho de Farmácia; • Razão Social e número de inscrição no CNPJ; • Número da AFE; • Número da AE (quando aplicável); • Nome do responsável técnico e substituto com respectivos horários de assistência; • Telefone do CRF local; • Telefone da Vigilância Sanitária local. 10 11 Infraestrutura A infraestrutura deve ser adequada às atividades que a farmácia realiza. Por exemplo, se a farmácia planeja prestar serviços farmacêuticos, deve prever uma área para esse atendimento. São estruturas mínimas obrigatórias: • Área para atividades administrativas; • Área para recebimento e armazenamento dos produtos; • Área para dispensação; • Depósito para material de limpeza. Como condições gerais, as áreas devem ter iluminação e ventilação adequadas, as superfícies devem ser lisas e impermeáveis, permitindo a higiene (facilmente laváveis). As condições de higiene devem ser mantidas e os ambientes devem ser protegidos de pragas (insetos, roedores, aves). Ainda falando sobre limpeza, obser- var que os produtos utilizados para limpeza e sanitização devem ser regularizados pela Anvisa. Importante! Sempre que em uma regulamentação estiver escrito “deve”, durante uma fiscalização o fiscal verificará se esse requisito está sendo cumprido. Algumas exigências são fáceis de visualizar – por exemplo, “A empresa deve ter uma área para recebimento” –, porém, em alguns casos, são necessários registros de atividades para comprovar que uma ativi- dade está sendo feita. Um exemplo disso é o controle de pragas, deve-se manter os registros de desinsetização e desratização, para que o fiscal consiga visualizar que essa exigência está sendo cumprida. Os registros são importantes ferramentas para comprovar a execução de uma atividade. Trocando ideias... Outros pontos sobre infraestrutura que devem ser observados são: • A farmácia deve manter também equipamentos de combate a incêndios; • Os sanitários devem ser de fácil acesso, com pia, lixeira com pedal, toalhas descartáveis e sabonete líquido; • Os pertences dos funcionários devem ser armazenados em local específico; • Refeitório e sala para descanso são opcionais, mas, quando existentes, devem ser separadas dos outros locais; • A caixa d´água deve estar protegida e ser limpa periodicamente (a informação sobre a periodicidade de limpeza da caixa d´água geralmente é encontrada no código sanitário do munícipio ou estado); • As instalações devem ser independentes de outras construções, exceto quando a farmácia for localizada em shoppings e supermercados. 11 UNIDADE Farmácias e Drogarias Recursos Humanos Atualmente, sabe-se que os colaboradores são peças-chave de qualquer tipo de em- presa e, claro, isso não é diferente em uma farmácia. Sendo assim, seus responsáveis devem proporcionar os treinamentos necessários para o exercício da função, além de fornecer uniformes, identificação e os equipamentos de proteção individual necessários. Os funcionários devem conhecer as responsabilidades e atribuições das funções atribuídas, que devem constar no Manual de Boas Práticas Farmacêuticas – inclusi- ve as atribuições do farmacêutico, as exclusivas e as que devem ser supervisionadas por esse profissional. A farmácia deve ainda escrever procedimentos operacionais (POPs) detalhando as atividades realizadas pelos técnicos auxiliares e qual o limite de suas competên- cias. Já a alta direção (responsável legal) tem como atribuições proporcionar as con- dições adequadas ao funcionamento da empresa, do ponto de vista regulamentar e social (uso racional de medicamentos), por meio do aporte de recursos financeiros, humanos e materiais. Todos os funcionários devem ser treinados para exercer sua função, cumprir as normas internas (procedimentos) e externas (regulamentações). O treinamento deve ser inicial e continuado, em temas como higiene, autocuidado, contaminação e segurança para profissionais de saúde, inclusive treinamento no Programa de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS). Deve constar no registro de treinamentos: • Descrição do treinamento; • Data e carga horária; • Conteúdo ministrado; • Nome e assinatura dos participantes; • Identificação e assinatura do ministrante; • Avaliação de treinamentos.* *Existem várias formas de avaliar um treinamento, as quais não precisa ser por testes. Uma forma interessante é a avaliação in loco, onde verifica-se na prática a aquisição da habilidade/competência e atitude transmitidas no treinamento. Aquisição e Recebimento O procedimento para recebimento é um dos documentos solicitados pela legis- lação, lembrando que deve existir uma área específica para essa atividade antes da aquisição de um produto, a farmácia deve verificar se o produto e o fornecedor estão regulares perante a Anvisa. Para garantir que os produtos adquiridos tenham a qualidade esperada, procedimentos devem ser estabelecidos com os critérios para a aquisição e exclusão de fornecedores e produtos. 12 13 O recebimento deve estar vinculado com a aquisição, através da conferência da equivalência entre o solicitado e o recebido, além de critérios obrigatórios na nota fiscal, como o número do lote e o nome do fabricante. Também se verifica no rece- bimento a integridade do produto, as condições de transporte (por exemplo, produ- tos termolábeis devem chegar em temperatura adequada), limpeza, legibilidade do lote e se esse coincide com o descrito na nota fiscal, a validade etc. Importante! Quando no recebimento há a suspeita de adulteração, falsificação, desvios de qualidade, ou seja, quando o produto está impróprio para uso, deve ser segregado, separado dos demais produtos para não ocorrer uso indevido, e a autoridade sanitária deve ser notificada. Importante! Armazenamento Os ambientes destinados ao armazenamento devem possibilitar uma organiza- ção ordenada e que mantenha as condições de conservação dos produtos, longe do piso. Limpeza, proteção da luz solar, umidade e calor são requisitos para preservar as características físico-químicas e microbiológicas, garantindo assim a qualidade do produto até o momento do uso. Não esqueça de manter os registros de temperatura para comprovar as temperaturas de armazenamento, especialmente dos produtos que são armazenados em condições especiais, como geladeiras, e de considerar em procedimentos as medidas que devem ser tomadas no caso de oscilações. Para os estabelecimentos que optarem por dispensarem produtos controlados, devem contar ainda com um armário com chave para garantir o acesso restrito a esses produtos, e a chave deve ficar em poder do farmacêutico. Importante! Apesar de existirem termômetros e termo-higrômetros que conseguem verificar as tempera- turas e umidades máximas e mínimas dentro de um intervalo, algumas vigilâncias solicitam a verificação da temperatura em mais de um horário, geralmente nos horários de maior osci- lação de temperatura ou de movimento. A legislação somente pede para se definir a faixa de medida considerando o horário de maior temperatura e umidade. Esses detalhes podem ser verificados diretamente com a vigilância ou com outras farmácias da região. Trocando ideias... Organização, Exposição e Dispensação Podemos dividir a dispensação de uma farmáciaem duas grandes partes: a área de circulação comum e a área de circulação restrita aos funcionários. A organização dos produtos nessas áreas depende da categoria do produto. Na área de circulação comum podem ficar disponíveis os produtos de venda livre como cosméticos, produtos de higiene, correlatos, alguns fitoterápicos, entre outros. Todos os medicamentos 13 UNIDADE Farmácias e Drogarias devem estar na área restrita, e na área destinada aos medicamentos deve constar a frase, em tamanho adequado para leitura: “MEDICAMENTOS PODEM CAUSAR EFEITOS INDESEJADOS. EVITE A AUTOMEDICAÇÃO: INFORME-SE COM O FARMACÊUTICO”. O site da Anvisa disponibiliza uma lista com os medicamentos isentos de prescrição, essa lista é periodicamente atualizada. Acesse em: http://bit.ly/2MxpfKWEx pl or A dispensação é o ato de entrega do medicamento, que deve ser acompanhada das devidas orientações quanto ao uso desse, cumprimento da posologia, conser- vação, possíveis interações medicamentosas ou reações adversas e outras informa- ções relevantes. O paciente deve ter acesso à lista de medicamentos genéricos e os medicamen- tos sujeitos à prescrição só podem ser dispensados com a apresentação da receita. Itens verificados pelo farmacêutico na análise do receituário: • Legibilidade; • Ausência de rasuras e emendas; • Identificação do paciente; • Identificação do medicamento (concentração, dosagem, forma farmacêutica equantidade); • Modo de usar ou posologia; • Tempo de tratamento; • Local e data da emissão; • Assinatura e identificação do prescritor com o número de registro no respectivo conselho profissional. Nenhuma receita deve ser dispensada em caso de dúvida, devendo o prescritor sem contatado para esclarecimentos. Figura 1 Fonte: Getty Images Outros pontos que devem ser observados na dispensação: • Durante a dispensação, conferir os dados do medicamento na embalagem e sua integridade, inclusive se a validade do produto é suficiente para o período de tratamento; • A intercambialidade deve ser feita pelo farmacêutico, de acordo com a regula- mentação; • É proibido realizar a captação de receitas (revender medicamentos magistrais e oficinais). Nos dias atuais, é impossível excluir a possibilidade de uma dispensação remota, feita por meios eletrônicos, como e-mails, websites e até redes sociais. Somente 14 15 as farmácias que possuem uma loja física com farmacêutico presente durante todo horário de funcionamento podem realizar dispensação por esse meio, porém, as regras quanto à apresentação da receita e as orientações adequadas devem ser garantidas. Também devem ser observadas as condições de transporte do medicamento da loja até o local de entrega, que devem ser adequadas para garantir a qualidade do produto. Todas as informações da empresa devem constar no website, como endereços, números de autorizações, telefones para contatos, entre outros determinados em legislação. É proibida a venda de produtos controlados por esse meio. Boas Práticas de Manipulação em Farmácias (BPMF) Considerações gerais As Boas Práticas de Manipulação de preparações magistrais e oficinais para uso humano é um assunto muito amplo, pois, além dos aspectos gerais, abrange também áreas específicas da manipulação, denominadas na legislação de grupos. Nesta etapa, abordaremos os principais pontos das BPMF, com ênfase nos aspectos gerais. O Regulamento Técnico sobre Boas Práticas de Manipulação de Preparações Magistrais e Oficinais para Uso Humano é dividido em grupos, de acordo com a natureza dos insumos manipulados. Na regulamentação, cada grupo é encontrado em um dos anexos da resolução. Tabela 1 – Grupos de atividades desenvolvidas pela Farmácia Grupos Atividade/Natureza dos Insumos Manipulados Grupo I Manipulação de medicamentos a partir de insumos/matérias-primas, inclusive de origem vegetal. Grupo II Manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico. Grupo III Manipulação de antibióticos, hormônios, citostáticos e substâncias sujeitas a controle especial. Grupo IV Manipulação de produtos estéreis. Grupo V Manipulação de medicamentos homeopáticos. Grupo VI Manipulação de doses unitárias e unitarização de dose de medicamentos em serviços de saúde. Fonte: Brasil, 2007 Definimos Boas Práticas de Manipulação em Farmácia (BPMF) como o conjunto de medidas adotadas com o objetivo de garantir que os produtos manipulados estejam corretos e controlados, de acordo com um padrão de qualidade adequado para o uso pretendido. A farmácia é responsável pela qualidade das preparações que manipula, conserva, dispensa e transporta e deve assegurar a qualidade físico- química e microbiológica. Para isso, estabelece requisitos mínimos para: 15 UNIDADE Farmácias e Drogarias • aquisição e controle de qualidade de matérias-primas; • manipulação; • fracionamento; • conservação; • transporte; • dispensação. As documentações necessárias para o funcionamento são as mesmas requeridas pelas drogarias, modificando apenas a área de atuação descrita na petição, onde deve constar a manipulação e os grupos de atividade que a farmácia manipula. Diversos outros requisitos já citados como necessários para drogarias também se aplicam à manipulação, como a necessidade de um plano de gerenciamento de resíduos, exigência de um Manual de Boas Práticas, controle de pragas, saúde ocupacional etc. Também se aplica às farmácias de manipulação a proibição da intermediação de receitas com outras empresas, e ainda entre filiais da mesma empresas. A unidade central de uma farmácia pode optar por centralizar parte da manipulação, mas todas as lojas devem ter laboratórios funcionando. As atividades de controle de qua- lidade também podem ser centralizadas em uma das filiais de uma mesma empresa. A manipulação de produtos de uso hospitalar ou por empresas de diagnóstico pode ser realizada desde que o produto não esteja disponível no mercado e que seja para uso exclusivo nas unidades. Nesses casos, no lugar do nome do paciente, pode constar no rótulo a identificação da instituição requerente. Uma das vantagens da manipulação de medicamentos é conseguir ajustar o medicamento de acordo com as necessidades individuais de cada paciente. Para isso, a farmácia de manipulação pode transformar especialidades farmacêuticas quando a matéria-prima estiver indisponível no mercado, adequando assim a prescrição. Somente é permitido esse ajuste a partir de especialidades se inexistir no mercado o produto prescrito, quando a matéria-prima não estiver disponível e a mudança for tecnicamente possível. Ex pl or Fonte: Baseado na Resolução RDC n° 67/2007 Manipulação de Preparações Magistrais Assim como outros tipos de medicamento, as prescrições só podem ser realiza- das por profissionais habilitados, em receituário e deve contar as informações bá- sicas de qualquer receituário (identificação do paciente, posologia e modo de usar, data, identificação do prescritor, duração do tratamento). A principal diferença é que, no lugar do nome do medicamento industrializado, a receita de manipulação deve conter a composição daquilo que se deseja manipular. 16 17 Sr. Fulano Beltrano do Nome Comprido R. Rua dos Bobos, n. O 30 anos Nome do paciente Nome do Paciente: Endereço: Idade: Assinatura:Date: Prescrição: Manipular: Uréia 10% Óleo de amêndoas ____ 5% Creme hidratante ____ qsp ____ 100g Modo de usar: Aplicar nas rachaduras dos pés 2x ao dia, por 40 dias. Dr. Curatudo Sabichão20/06/2017 CRM: 00000 Figura 2 – Modelo de prescrição. Nomes e dados imaginários, para fi ns didáticos Fonte: Adaptado de Getty Images Diferente das drogarias, onde a avaliação da prescrição é feita antes da dispensação, na manipulação, a avaliação farmacêutica da prescrição deve ser feita antes da manipulação, devendo o farmacêutico entrar em contato com o prescritor para confirmação ou ajustes, podendo ainda o farmacêutico se recusar a avisar e/ou dispensar o produto. De acordo com a regulamentação,os seguintes itens devem ser verificados na avaliação da prescrição: • legibilidade e ausência de rasuras e emendas; • identificação da instituição ou do profissional prescritor com o número de re- gistro no respectivo Conselho Profissional, endereço do seu consultório ou da instituição a que pertence; • identificação do paciente; • identificação dos componentes da formulação (em DCB ou DCI), com concen- tração/dosagem, forma farmacêutica e quantidade; • modo de usar ou posologia; • duração do tratamento; • local e data de emissão; • assinatura e identificação do prescritor. 17 UNIDADE Farmácias e Drogarias Importante! Atualmente, a maior parte das farmácias possui softwares de gerenciamento que realizam os cálculos das prescrições. É importante ressaltar que a validação do sistema e dos cálculos são de responsabilidade do farmacêutico. Informações como o teor, a diluições e o fator de equivalência devem ser adicionadas e revisadas quando necessário (mudança de lote), para garantir que o sistema realize corretamente os cálculos. Importante! Os documentos de manipulação devem conter todas as informações de rastre- abilidade, como lote, data, número da manipulação do livro de registro, cálculos, responsáveis por cada etapa (conferência, manipulação, controles etc.) e deverão ser arquivados. Recursos Humanos Quanto aos recursos humanos, as regras de organograma, descrição de funções e treinamentos inicial e contínuo são as mesmas aplicadas às drogarias, tendo somente um acréscimo de atribuições ao farmacêutico que, além das já descritas, também deve: • Supervisionar todas as etapas da manipulação; • Definir as especificações e supervisionar as etapas de aquisição, recebimento e armazenamento; • Garantir que somente pessoas autorizadas circulem pela área de manipulação; • Assegurar o cumprimento das BPMF; • Determinar os prazos de validade dos produtos manipulados; • Aprovar os procedimentos operacionais relacionados com as BPMF; • Validar processos e qualificar equipamentos; • Promover treinamentos e educação continuada; • Supervisionar e promover auto inspeções; • Realizar e manter atualizada a escrituração dos livros (inclusive informatizado). É também atribuição da farmácia garantir que os colaboradores tenham condi- ções adequadas de saúde, higiene, vestuário e conduta, por meio da promoção da saúde e prevenção de acidentes, exigindo que as normas de segurança e conduta e o uso de EPIs sejam cumpridos. O programa de controle médico de saúde ocu- pacional (PCMSO) deve ser realizado, incluindo os exames médicos admissionais e periódicos, sendo que os funcionários com lesões expostas ou enfermidades devem ser afastados das atividades de manipulação. 18 19 Infraestrutura Bem mais complexa que a estrutura de uma drogaria, as farmácias de manipu- lação devem ter a infraestrutura adequada às atividades que serão desenvolvidas. Além das estruturas comuns às drogarias já citadas, a manipulação deve possuir: • Área ou sala de armazenamento (que mantenha as condições adequadas para conservação, incluindo local para quarentena e produtos reprovados ou impró- prios para uso em segurança); • Local com acesso restrito ao farmacêutico para guarda de controlados e substân- cias de baixo índice terapêutico; • Área ou sala de controle de qualidade; • Sala ou local de pesagem com sistema de exaustão adequado; • Sala de manipulação (segregando a manipulação de sólidos dos semissólidos e líquidos); • Vestiário (com local para guardar os pertences dos funcionários); • Sala ou antessala de paramentação: acesso às áreas de manipulação, de prefe- rência com barreira sujo/limpo, com pia e sabonete líquido antisséptico; • Área ou local para lavar os utensílios e materiais de embalagem: não precisa ser um espaço segregado, podendo ser dentro dos laboratórios, desde que o procedimento determine horários distintos aos da manipulação; • Local para arquivo com as documentações (que pode ser na área administrativa); • Local para guarda de produtos inflamáveis, cáusticos, corrosivos e explosivos e capela de exaustão para sua manipulação. São materiais, equipamentos e utensílios básicos para a farmácia de manipulação: • Balanças de precisão calibradas, no mínimo uma por laboratório; • Pesos padrões rastreáveis; • Vidrarias calibradas ou verificadas contra um padrão calibrado; • Sistema de purificação de água; • Refrigerado para termolábeis; • Bancadas de material liso, resistentes e de fácil limpeza; • Lixeiras com tampa, pedal, sacos apropriados; • Armários fechados, resistentes e de fácil limpeza. As calibrações devem ser realizadas por empresa certificada, no mínimo uma vez ao ano ou de acordo com o uso, e os registros das calibrações devem ser mantidos. Nem todo equipamento ao ser calibrado é ajusta- do, como ocorre com as balanças. É necessário analisar e validar os cer- tificados de calibração, avaliando se o erro do equipamento é aceitável ao processo. Os equipamentos devem ser verificados antes do início das atividades (manter os registros) e manutenções preventivas devem ser realizadas de acordo comum programa pré-definido ou sempre que necessário. 19 UNIDADE Farmácias e Drogarias Compras e Recebimento Assim como os outros processos, as compras também devem ser supervisionadas pelo farmacêutico, que deve manter as especificações técnicas de matérias-primas e materiais de embalagem atualizados. As especificações podem estar cadastradas em meio digital, tendo a identificação sempre que possível em DCB ou DCI, CAS, teor, nome popular e científico no caso de drogas vegetais, referências de monografias de farmacopeias aceitas, limites de aceitação, orientações sobre amostragem e metodologias de análise, condições de armazenamento e outras informações importantes como incompatibilidades. Os fornecedores devem ser aprovados e qualificados por meio da comprovação da regularidade sanitária, de análises dos laudos, análises do recebimento, avalição do histórico do fornecimento e auditorias, mantendo-se registros dessas avaliações. Os materiais recebidos devem ser inspecionados, verificando-se a integridade da embalagem, correspondência ao pedido e a nota fiscal, presença dos laudos de análise e se os rótulos possuem todas as informações necessárias: identificação do fornecedor com nome, endereço, telefone e CNPJ, identificação do insumo farmacêutico com DCB, DCI e CAS, nome científico e popular quando a droga for vegetal, quantidade, lote, fabricação e validade, condições especiais de armazenamento, data de fracionamento, responsável técnico e origem. Controle de Qualidade As análises do controle de qualidade devem ser baseadas em farmacopeias reconhe- cidas, que devem estar disponíveis no estabelecimento. Na ausência de monografias, a farmácia pode utilizar como referência as especificações do fabricante. São análises mínimas que devem ser realizadas na farmácia (quando aplicáveis): • Características organolépticas; • Solubilidade; • pH; • Peso e volume; • Ponto de fusão; • Densidade; • Avaliação do laudo do fornecedor/fabricante; • Determinação de materiais estranhos (drogas vegetais); • Aspectos macroscópicos (drogas vegetais). Os equipamentos utilizados no controle de qualidade, assim como os utilizados nos laboratórios, devem passar por manutenções preventivas e calibrações. Como a far- mácia geralmente não realiza todos os ensaios descritos em farmacopeias, é possível aceitar os ensaios do fornecedor – desde que esse seja um fornecedor qualificado. 20 21 Quando a compra é realizada de um fornecedor ainda não qualificado, todos os testes devem ser realizados, podendo ser em empresas terceirizadas, mas sob responsabili- dade da farmácia. Os insumos devem ser mantidos em condições adequadas e identificados, com as mesmas informações exigidas ao fornecedor e com identificação de seu status: qua- rentena, aprovado ou reprovado. Toda reprovação de insumos deve ser notificada às autoridades sanitárias.Importante! Muitos produtos são utilizados em quantidades tão pequenas que precisam ser diluídos para utilização. Nesses casos, tanto o diluído quanto o concentrado devem estar clara- mente identificados com as frases: Diluídos: “SUBSTÂNCIA DILUÍDA” – Nome da substância e fator de diluição. Concentrados: “ATENÇÃO! ESTÁ SUBSTÂNCIA SOMENTE DEVE SER UTILIZADA QUANDO DILUÍDA”. Importante! Água • A água purificada é uma matéria-prima produzida pela farmácia pela purifi- cação da água potável; • A água de abastecimento (potável) deve passar por testes físico-químicos e microbiológicos semestrais para monitora sua qualidade e a água purifica- da por testes mensais; • Análises mínimas para água de abastecimento: • pH; • cor aparente; • turbidez; • cloro residual livre; • sólidos totais; • contagem total de bactérias; • coliformes totais; • E. coli; • coliformes termorresistentes. • A água para ser considerada purificada deve atender às especificações farma- copeicas; • O sistema de purificação de água também deve ser higienizado conforme procedimento estabelecido; • O tempo máximo para armazenamento da água purificada é de 24 horas; • Ações devem ser tomadas e registradas em resultados insatisfatório das aná- lises da água. 21 UNIDADE Farmácias e Drogarias Manipulação Já vimos que no mínimo duas áreas de manipulação são previstas em uma farmácia, uma para manipulação de sólidos e outra para manipulação de semissólidos e líquidos. É comum encontrarmos outros laboratórios, como para a manipulação de homeopatia (anexo V da regulamentação), ou ainda as cabinas, exigidas para a manipulação de substâncias de baixo índice terapêutico. Independente da forma de divisão dos laboratórios, algumas regras de segurança e biossegurança devem ser observadas dentro dos laboratórios: • Não comer, beber ou mascar, nem manter esses produtos dentro dos laboratórios; • Não é permitido o uso de cosméticos, perfumes, joias ou outros adornos; • Não fumar; • Não manter plantas; • Não manter medicamentos e objetos pessoais; • Utilizar a paramentação; • Higienizar as mãos e antebraços, antes da manipulação (de preferência na sala de paramentação); • Evitar conversas não relacionadas ao trabalho. Todo processo de manipulação deve ser rastreável, ou seja, quando solicitado, deve ser possível identificar todos os lotes utilizados na preparação e seus respecti- vos fornecedores. Todas as formulações devem ser identificadas corretamente e as embalagens devem ser compatíveis com a formulação e higienizadas antes do uso. Tabela 2 – Rotulagem Rotulagem Preparações Magistrais Preparações Oficinais • Nome do prescritor; • Nome do paciente; • Número de registro no Livro de Receituário; • Data da manipulação; • Validade; • Componentes e quantidades; • Unidades; • Peso/volume; • Posologia; • Identificação da farmácia (nome, endereço, CNPJ); • Identificação do farmacêutico responsável (nome e CRF). • Denominação farmacopeica do produto; • Componentes e quantidades; • Indicação do formulário oficial de referência; • Data da manipulação; • Validade; • Unidades; • Peso/volume; • Posologia sugerida; • Identificação da farmácia (nome, endereço, CNPJ) • Identificação do farmacêutico responsável (nome e CRF). Etiquetas de advertência quando necessário: “agite antes de usar”, “conservar em geladeira”, “não utilizar em menores de 2 anos” ou outras como “tarjas preta e vermelha”. A regulamentação ainda exige a padronização dos excipientes utilizados e o registro das fórmulas manipuladas em livro de receituário. Os softwares disponíveis atualmente no mercado atendem a essas exigências. 22 23 Deve constar no livro de receituário geral: • N° de ordem; • Nome e endereço do paciente (ou leito hospitalar); • Nome do prescritor com n° de registro no conselho; • Descrição dos componentes e concentrações; • Lote, fornecedor e quantidade utilizada de cada componentes; • Informações sobre excipientes utilizados, inclusive n° e cor de cápsulas; • Nome do responsável pela manipulação; • Data do aviamento. As medidas para evitar a contaminação cruzada devem ser tomadas e descritas em procedimentos, incluindo as regras de limpeza e desinfecção de superfícies de trabalho e equipamentos, antes e após cada manipulação e instalação e manuten- ção de sistema de exaustão para manipulação de pós. Controles do processo também devem ser promovidos em todas as manipula- ções realizadas e registradas da ordem de manipulação, sendo no mínimo: • Formas farmacêuticas sólidas: descrição, aspecto, caracteres organolépticos e peso médio (desvio padrão e coeficiente de variação); • Formas farmacêuticas semissólidas: descrição, aspecto, caracteres organo- lépticos, pH (se aplicável), peso; • Formas farmacêuticas líquidas (não estéreis): descrição, aspecto, caracteres organolépticos, pH, peso ou volume antes do envase. Importante! De nada adianta realizar controles se você não souber o que fazer com os resultados encontra- dos. É necessário estabelecer limites de aceitação (o que aprova e o que reprova) e determinar as ações nos casos de reprovação. Importante! A farmácia de manipulação geralmente não tem infraestrutura para realizar aná- lises mais detalhadas das formulações. Para monitorar o processo magistral a cada dois meses, análises de teor devem ser realizadas, de um diluído e de uma formula- ção, podendo ser em laboratório terceirizado. A análise da formulação deve ser em preparações com doses inferiores a 25 mg, dando preferência a doses menores do que 5 mg, e nessas formulações também devem ser realizadas análises de unifor- midade de conteúdo. Outro ponto que deve ser considerado na manipulação é a determinação do prazo de validade. A farmácia, diferente da indústria, não faz estudos de estabilidade para cada formulação, e nem é o objetivo manipular preparações para guardar por longos períodos, pois uma das características da manipulação é o uso por períodos 23 UNIDADE Farmácias e Drogarias curtos, somente para o período do tratamento, ou seja, a farmácia deve garantir que o produto esteja adequado ao uso durante esse período. Para determinar o prazo de validade, o farmacêutico deverá basear sua decisão nas características físico-química das drogas, informações obtidas em compêndios e literaturas disponibilizadas pelos fabricantes, estudos em revistas indexadas. Importante! Como você acha que deve ser a retirada de estoque de uma matéria-prima que será utilizada na manipulação? Analisaremos a seguinte situação: uma farmácia determinou que a validade das formas farmacêuticas sólidas padrão será de 6 meses, um cliente chega na farmácia com uma receita de Ranitidina 150 mg, 30 cápsulas para tomar 1 cápsula por dia, e a matéria-prima vencerá em 4 meses. Diante desse cenário, o profissional poderá manipulá-la? Se você disse imediatamente “não”, sua resposta está parcialmente correta. Se você disse “depende”, você acertou. Deverá ser analisado o tempo que o paciente levará para tomar o medicamento. Neste caso, o paciente terminará o tratamento em um mês, portanto, dentro do período de tratamento. Desde que ajustada a validade final do produto entregue, esse poderá ser manipulado e dispensado ao cliente. Nunca poderá ser dispensado um produto que vencerá durante o tratamento. Trocando ideias... Conservação e Transporte Os produtos manipulados devem ser conservados de acordo com suas característi- cas, respeitando a temperatura, umidade e luminosidades de estabilidade. Não é permitido transportar ou armazenar produtos manipulados com qualquer produto que possa afetar sua qualidade, eficácia e segurança, entre eles: • Alimentos ou outros perecíveis; • Animais; • Solventes, substâncias corrosivas ou tóxicas; • Gases; • Pesticidas e agrotóxicos; • Materiais radioativos. Dispensação A dispensação do produto manipulado é similar à realizada nas drogarias e deve ser acompanhada de orientação quanto ao uso, conservação do produto, interações e outras informações relevantes.As receitas aviadas devem ser carimbadas com a identificação da farmácia, data e número da manipulação. 24 25 Garantia de Qualidade Apesar dos nomes parecidos, a garantia de qualidade não é a mesma coisa que controle de qualidade. Denomina-se garantia de qualidade o conjunto de ativi- dades realizadas para garantir que as Boas Práticas sejam cumpridas, processo denominado Sistema de Garantida da Qualidade (SGQ). É responsabilidade do SGQ o monitoramento do processo de manipulação, elaboração e controle dos documentos (inclusive procedimentos), auditorias internas, calibrações, elaboração de procedimentos, elaboração de programa de treinamentos, entre outras. Tabela 3 Tempos de arquivo dos documentos em uma farmácia de manipulação Documento Tempo de arquivo Ordens de manipulação; 6 meses após o vencimento do produto manipulado; Ordens de manipulação com controlados; 2 anos após o vencimento do produto manipulado; Calibração e manutenção preventiva/corretiva; 2 anos; Registros de preparação de estéreis; 2 anos a partir da data de manipulação; Resultados de análises de monitoramento magistral; 2 anos; Certificado de análise do fornecedor; 6 meses após o vencimento do último produto com ele manipulado; Certificado de análise do fornecedor de controlados; 2 anos após o vencimento do último produto com ele manipulado; Justificativas técnicas (p.ex. preparações para uso hospitalar); 1 ano; Validação e revalidação; 2 anos; Documentos para os quais não foram estipulados prazos na regulamentação. 1 ano. Tabela 4 Algumas periodicidades de atividades determinadas na regulamentação • Auditorias internas (auto inspeção): no mínimo 1 ao ano; • Análise da água de abastecimento: semestral; • Análise de água purificada: trimestral; • Análise de uma fórmula: a cada 2 meses; • Análise de teor de produto diluído: trimestral; • Desinsetização e desratização: de acordo com o laudo da empresa, geralmente trimestral; • Limpeza de caixa d’água: de acordo com código sanitário dos municípios, geralmente semestral; • Recarga de extintores: de acordo com a validade descrita no equipamento; • Calibrações: no mínimo 1 vez ao ano ou mais vezes se necessário (frequência de uso); • Revalidações: 1 vez ao ano. 25 UNIDADE Farmácias e Drogarias Tabela 5 Exemplos de procedimentos operacionais que devem ser obrigatoriamente escritos • Procedimento do processo de manipulação das diferentes formas farmacêuticas; • Verificação dos equipamentos; • Manutenção preventiva e corretiva de equipamentos; • Limpeza e sanitização; • Aquisição e qualificação de fornecedores; • Recebimento de matérias-primas e materiais de embalagem; • Amostragem, inspeção e ensaios dos insumos farmacêuticos e dos materiais de embalagem; • Limpeza de caixa d’água; • Amostragem de água e periodicidade de análises da água potável; • Limpeza e manutenção do sistema de purificação de água, coleta e amostragem, inclusive do reservatório; • Prevenção de contaminação cruzada; • Monitoramento do processo magistral; • Controle de qualidade do estoque mínimo; • Conservação e transporte dos produtos manipulados; • Controles de qualidade das matérias-primas. Serviços Farmacêuticos A “nova” farmácia não é somente um ponto de venda e distribuição de medica- mentos, faz parte do sistema de saúde, sendo um local importante e de fácil acesso à população. Com isso, prestar serviços farmacêuticos não é somente um diferencial comercial, e sim uma atividade fundamental dentro da saúde coletiva. São considerados serviços farmacêuticos a atenção farmacêutica local ou do- miciliar (acompanhamento farmacoterapêutico), a perfuração de lóbulo auricular para colocação de brincos (com aparelho específico), a verificação de parâmetros fisiológicos e bioquímicos (para acompanhamento farmacoterapêutico) e a admi- nistração de medicamentos. Os parâmetros fisiológicos e bioquímicos permitidos atualmente são: glicemia capilar, pressão arterial e temperatura corporal. Ainda se discute a realização de outros testes rápidos em farmácia, mas, até o momento, somente esses são permitidos. A realização de testes em farmácia é somente para acompanhamento farmacoterapêutico, nunca para diagnósticos. Figura 3 Fonte: Getty Images Para farmácia prestar serviços farmacêuticos, é necessário solicitar a inclusão dessa atividade na descrição das atividades do licenciamento. Os serviços farmacêuticos 26 27 devem ser realizados em local separado específico para essa finalidade (consultório farmacêutico), garantindo a privacidade e o conforto do usuário e equipado com móveis adequados, lavatório com água corrente, toalha descartável, sabonete líquido, gel bactericida e lixeira com tampa e pedal. A limpeza da área deve ser feita sempre antes de todo atendimento, e procedi- mentos de limpeza específicos para esse espaço devem ser realizados diariamente, no início das atividades e no final do dia, mantendo-se registros. Importante! Deve ter disponível uma lista com o endereço e telefone dos estabelecimentos públicos mais próximos. Importante! Para a realização das atividades de atenção farmacêutica, protocolos devem ser desenvolvidos para o atendimento, baseado em literatura técnica. Os atendimentos devem ser registrados e os resultados avaliados. No registro deve conter no mínimo: • os dados pessoais do usuário (nome completo, endereço, telefone); • espaço para registrar as orientações e intervenções farmacêuticas e resultados; • os dados do farmacêutico que realizou o atendimento (nome e CRF); • local para autorização do paciente. Também deve haver procedimentos operacionais para atenção farmacêutica, inclusive sobre a aferição dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos, equipamentos utilizados, metodologias, interpretação dos resultados. Nesse procedimento, deve- se considerar o uso de EPIs, a forma de descarte de perfurocortantes e a conduta em casos de acidentes. Após a prestação do serviço farmacêutico, o paciente deve receber a declaração de serviço farmacêutico, documento com a identificação da farmácia, do usuário, e as informações. O Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo disponibiliza um modelo de decla- ração de serviços farmacêuticos em seu website, disponível em: http://bit.ly/2MxRx7VEx pl or Os principais serviços a serem executados em farmácia são: • Dispensação de medicamentos; • Dispensação de Produtos para a Saúde (correlatos); • Administração de medicamentos (incluindo inaloterapia e aplicação de injetáveis); • Prestação de Atenção Farmacêutica (com ou sem a prescrição farmacêutica); • Aferição de parâmetros fisiológicos (pressão arterial e temperatura corporal) e bioquímicos (glicemia capilar); • Perfuração de lóbulo auricular para colocação de brincos; • Realização de curativos. 27 UNIDADE Farmácias e Drogarias Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Oficio da Anvisa sobre testes rápidos em farmácia. Este documento esclarece sobre um tipo de kit de teste rápido e explica a permissão dos testes permitidos para acompanhamento farmacoterapêutico, com utilização de equipamentos de autoteste. http://bit.ly/30v7CP5 Procedimentos para a concessão, alteração e cancelamento da Autorização de Funcionamento (AFE) e de Autorização Especial (AE) de farmácias e drogarias RDC n.º 275, de 9 de abril de 2019. http://bit.ly/30v7fnx Guia Prático do Farmacêutico Magistral Documento emitido pelo Conselho Federal de Farmácia é um guia que tem a finalidade de prover orientações gerais para farmacêuticos magistrais, acerca dos requisitos mínimos necessários para o atendimento aos padrões regulatórios brasileiros e às Boas Práticas de Manipulação em Farmácia (BPMF). http://bit.ly/30tFn3d Cartilha de Plantas Medicinais e Fitoterápicos http://bit.ly/2MygsIs 28 29 Referências ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FARMACÊUTICOS MAGISTRAIS. Guia de Boas Práticas de Manipulação em Farmácias. 2. ed. São Paulo: Anfarmag, 2012. Disponívelem: <http://fqm.edu.br/20161/wp-content/uploads/2017/02/ ANFARMAG-Guia_de_Boas_Praticas_de_Manipulacao_em_Farmacia.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2019. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 328, de 22 de julho de 1999. Dispõe sobre os requisitos exigidos para a dispensação de produtos de interesse à saúde em farmácias e drogarias. Diário Oficial da República Fede- rativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 26 de julho de 1999, Seção 1. BRASIL. Conselho Federal de Farmácia. Guia prático do farmacêutico magistral. Brasília, Conselho Federal de Farmácia, 2017. Disponível em: <http://www.cff. org.br/userfiles/file/guia%20pr%C3%A1tico%20do%20farmac%C3%AAutico%20 magistral_08dez2017_WEB.pdf>. Acesso em: 6 jul. 2019. BRASIL. Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo. Farmácia. 2. ed. São Paulo: Conselho Regional do Estado de São Paulo, 2016. Disponível em: <http://portal.crfsp.org.br/component/phocadownload/category/cartilhas-das-co- missoes-assessoras-comites.html?download=5:cartilha-da-comissao-de-farmacia>. Acesso em: 6 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 67, de 8 de outubro de 2007. Dispões sobre as Boas Práticas de Manipula- ção de Preparações Magistrais e Oficinais para uso humano em farmácias. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 08 de outubro de 2007. Disponível em: <https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index. php/legislacao/item/rdc-67-de-8-de-outubro-de-2007>. Acesso em: 6 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolu- ção RDC n° 87, de 21 de novembro de 2008. Altera o Regulamento técni- co sobre Boas Práticas de Manipulação em farmácias. Diário Oficial da Re- pública Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 24 de novembro de 2008. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2008/ res0087_21_11_2008.html>. Acesso em: 6 jul. 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 44, de 17 de agosto de 2009. Dispõe sobre Boas Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da comercializa- ção de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e dro- garias e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 de agosto de 2009. Disponível em: <http://portal. anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/RDC_44_2009_COMP.pdf/2180ce5f- -64bb-4062-a82f-4d9fa343c06e>. Acesso em: 6 jul. 2019. 29 UNIDADE Farmácias e Drogarias BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n° 275, de 09 de abril de 2019. Dispõe sobre procedimentos para a con- cessão, alteração e cancelamento da Autorização de Funcionamento (AFE) e de Autorização Especial (AE) de farmácias e drogarias. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 10 de abril de 2019. Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/ content/id/70891263>. Acesso em: 6 jul. 2019. 30
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