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Transmissão da Indenização aos Herdeiros por Responsabilidade Civil

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Aula41 - Cesar Rosalino - A Transmissão da Indenização aos Herdeiros
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1. RESPONSABILIDADE CIVIL
Nesta aula, abordaremos as questões da transmissão da indenização aos herdeiros, da legitimidade para requerê-la, dos critérios de pensionamento, e de como se fixa uma pensão indenizatória para os favorecidos de uma vítima que eventualmente faleceu; temas que certamente podem ser cobrados em prova.
1.1 TRANSMISSÃO DA INDENIZAÇÃO AOS HERDEIROS
Comecemos com a leitura do art. 943 do Código Civil:
O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
O direito à indenização, como qualquer outro direito de natureza patrimonial, pode ser transmitido por herança. Não é porque a vítima faleceu que a indenização ficará sem destinatário. Lembre-se: não se pode admitir uma ofensa irressarcida. Entretanto, faz-se necessário distinguir se o dano foi praticado contra o falecido ou seus sucessores.
ATENÇÃO: Questão relevante para fins de indenização por danos morais: muito embora se reconheça o caráter pessoal da referida ação, o STJ e a doutrina majoritária consideram que o direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se aos sucessores da vítima.
A partir do art. 948 do Código Civil, há uma série de dispositivos autoexplicativos, acerca dos quais não existe muita controvérsia. Em relação a eles, na maioria das questões que podem surgir em uma prova objetiva, será cobrada a letra da lei, exatamente o que está escrito nos artigos. É importante a leitura do Código, principalmente para uma prova de primeira fase.
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida da vítima.
Art. 949. No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.
Art. 950. Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu. Parágrafo único. O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.
Leia-se julgado do STJ de 2015, publicado no Informativo 561, referente ao pensionamento no caso de incapacidade (art. 950):
DIREITO CIVIL. FORMA DE PAGAMENTO DE PENSÃO FIXADA NOS CASOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL DERIVADA DE INCAPACITAÇÃO DA VÍTIMA PARA O TRABALHO. Nos casos de responsabilidade civil derivada de incapacitação para o trabalho (art. 950 do CC), a vítima não tem o direito absoluto de que a indenização por danos materiais fixada em forma de pensão seja arbitrada e paga de uma só vez, podendo o magistrado avaliar, em cada caso concreto, sobre a conveniência da aplicação da regra que autoriza a estipulação de parcela única (art. 950, parágrafo único, do CC), a fim de evitar, de um lado, que a satisfação do crédito do beneficiário fique ameaçada e, de outro, que haja risco de o devedor ser levado à ruína. Assim dispõe o art. 950 do CC: "Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença, incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu". O parágrafo único do referido artigo, por sua vez, prescreve que "O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a indenização seja arbitrada e paga de uma só vez". Embora a questão não seja pacífica, tem prevalecido na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que a regra prevista no parágrafo único não deve ser interpretada como direito absoluto da parte, podendo o magistrado avaliar, em cada caso concreto, sobre a conveniência de sua aplicação, considerando a situação econômica do devedor, o prazo de duração do pensionamento, a idade da vítima, etc, para só então definir pela possibilidade de que a pensão seja ou não paga de uma só vez, antecipando-se as prestações vincendas que só iriam ser creditadas no decorrer dos anos. Ora, se a pensão mensal devida em decorrência de incapacidade total ou parcial para o trabalho é vitalícia, como então quantificar o seu valor se, a princípio, não se tem o marco temporal final? A propósito, a Terceira Turma do STJ, em caso versando sobre pagamento de pensão a aluna baleada em campus universitário que ficou tetraplégica, decidiu que, "no caso de sobrevivência da vítima, não é razoável o pagamento de pensionamento em parcela única, diante da possibilidade de enriquecimento ilícito, caso o beneficiário faleça antes de completar sessenta e cinco anos de idade" (REsp 876.448-RJ, DJe 21/9/2010). Cumpre ressaltar, por fim, que o ordenamento jurídico cuidou de proteger o credor da pensão dos riscos decorrentes de uma futura insolvência do ofensor, mediante o mecanismo da constituição de capital com a possibilidade de prestação de garantia, conforme o atual art. 475-Q do CPC, orientação que já havia sido consolidada pela Súmula 313 do STJ, de seguinte teor: "Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do demandado". Desse modo, ainda que não estejam presentes os elementos que recomendem que a pensão deva ser paga em parcela única, a fim de assegurar o efetivo pagamento das prestações mensais estipuladas, nada impede, a depender do caso, a constituição de verba para esse fim, nos termos da Súmula 313 do STJ. Precedente citado: REsp 1.045.775-ES, TerceiraTurma, DJe de 4/8/2009. REsp 1.349.968-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/4/2015, DJe 4/5/2015
OBSERVAÇÃO: Quando a vítima, em razão de incapacidade, tem direito a um pensionamento e o ofensor foi condenado a pagá-lo, o pagamento pode ocorrer de uma única vez, nos termos do parágrafo único do art. 950.
Por exemplo, o sujeito que exercia um trabalho manual em uma fábrica e dependia de seus braços, mas um acidente diminuiu-lhe, de forma irreversível, a capacidade laboral (perdeu o movimento de um braço). Nesse caso, ele será indenizado por danos materiais, morais e lucros cessantes, além de um pensionamento proporcional à incapacidade sofrida.
A questão que surge é: O pensionamento pode ser pago de uma só vez? A vítima, por exemplo, tem 30 anos e receberá até sua estimativa de vida, de 70 ou 71 anos, ou seja, receberá mais de 40 anos de indenização. Essa parcela mensal, que receberia ao longo de 40 anos, pode ser exigida de uma única vez, pleiteando a vítima, por exemplo, o depósito do montante de R$ 2.000.000,00?
Não. O STJ, conforme se vê do julgado colacionado acima, entende que o direito previsto no parágrafo único do art. 950 não é absoluto, não pode ser imposto em todo caso.
Muitas vezes, quando há essa indenização por pensionamento e o devedor é uma empresa com notória capacidade financeira, o juiz determina a inclusão do pensionamento na folha de pagamento da empresa. Nessa situação, não há a necessidade de que o valor seja integralmente pago à vítima de uma só vez, inexistindo risco de que ela não receba a pensão. Porém, no caso de uma microempresa ou pequena empresa, um simples comércio familiar ou de bairro, se ela for obrigada a depositar integralmente o valor da pensão, possivelmente não terá capital para isso e certamente irá à falência. Deve-se, então, fazer um balanceamento entre o direito da vítima de receber a indenização e a necessidade da manutenção da atividade produtiva do devedor.
Art. 951. Odisposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu equivalente ao prejudicado. Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele.
Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido. Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.
Voltemos à questão do pensionamento aos sucessores da vítima falecida, ou seja, àqueles que dela dependiam economicamente. Como é fixada tal indenização e quem é o legitimado para requerê-la?
- 1ª Hipótese: o espólio não tem legitimidade para postular indenização pelos danos materiais e morais supostamente experimentados pelos herdeiros, ainda que se alegue que os referidos danos teriam decorrido de erro médico de que fora vítima o falecido. Nesse caso, a vítima falecida não havia ajuizado nenhuma ação de indenização.
O direito no qual se funda a ação é próprio dos herdeiros, e não um direito do de cujus que foi transmitido com a herança. Assim, os herdeiros da vítima detêm legitimidade para requerer o pagamento da indenização.
- 2ª Hipótese: o espólio tem legitimidade para ajuizar ou dar prosseguimento à ação se o direito à indenização pertencesse ao falecido e tivesse sido transmitido aos herdeiros com a morte. Nessa situação, a vítima sofreu um prejuízo e entrou com a ação de indenização antes de falecer.
Vale ressaltar que o direito de personalidade da pessoa morta não foi transmitido com a herança. O direito da personalidade extinguiu-se com a morte do titular. O que se transmitiu, nesse caso, foi apenas o direito patrimonial de requerer a indenização.
Caso a ofensa ocorra após a morte da vítima, será possível a propositura de ação de indenização por danos morais, e a legitimidade ativa para essa demanda é dos herdeiros, nos termos do parágrafo único do art. 12 do Código Civil.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Caso o dano ocorra depois da morte do titular, não produz efeitos jurídicos ao morto. Contudo, tal ofensa atinge, indiretamente, os familiares vivos da pessoa morta, caracterizados como “lesados indiretos”. Assim sendo, os herdeiros, considerados como “lesados indiretos” pelas ofensas, devem propor ação em nome próprio.
O espólio não tem legitimidade para buscar reparação por danos morais decorrentes de ofensa post mortem à imagem e à memória de pessoa. Logo, a legitimidade é dos herdeiros (e não do espólio). Nesse sentido: STJ. 3ª Turma. REsp 1.209.474/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/9/2013.
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO CELEBRADO APÓS A MORTE DO USUÁRIO. INSCRIÇÃO INDEVIDA NOS ÓRGÃOS DE PROTEÇÃO AO CRÉDITO. EFICÁCIA POST MORTEM DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE. LEGITIMIDADE ATIVA DA VIÚVA PARA POSTULAR A REPARAÇÃO DOS PREJUÍZOS CAUSADOS À IMAGEM DO FALECIDO. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 12, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO CIVIL. 1. Contratação de cartão de crédito após a morte do usuário, ensejando a inscrição do seu nome nos cadastros de devedores inadimplentes. 2. Propositura de ação declaratória de inexistência de contrato de cartão de crédito, cumulada com pedido de indenização por danos morais, pelo espólio e pela viúva. 3. Legitimidade ativa da viúva tanto para o pedido declaratório como para o pedido de indenização pelos prejuízos decorrentes da ofensa à imagem do falecido marido, conforme previsto no art. 12, parágrafo único, do Código Civil. 4. Ausência de legitimidade ativa do espólio para o pedido indenizatório, pois a personalidade do "de cujus" se encerrara com seu óbito, tendo sido o contrato celebrado posteriormente. 5. Doutrina e jurisprudência acerca do tema. 6. Restabelecimento dos comandos da sentença acerca da indenização por dano moral. 7. RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. (REsp 1209474/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/09/2013, DJe 23/09/2013)
1.2 CRITÉRIOS PARA FIXAÇÃO DE INDENIZAÇÃO E PENSIONAMENTO
Segundo o STJ, em se tratando de família de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado, dano este passível de indenização, na forma do inciso II do art. 948.
Qual o valor dessa pensão e o seu termo final?
Normalmente, o STJ utiliza os seguintes critérios:
- No período em que o filho falecido teria entre 14 e 25 anos: os pais devem receber pensão em valor equivalente a 2/3 do salário mínimo;
- No período em que o filho falecido teria acima de 25 anos até 65 anos: os pais devem receber pensão em valor equivalente a 1/3 do salário mínimo.
OBSERVAÇÃO: 14 anos é a idade em que a pessoa pode começar a trabalhar como aprendiz, segundo a CR/88 (art. 7º, XXXIII). Antes disso, ela não poderia ter nenhuma atividade laborativa remunerada.
O termo inicial, então, é a idade de 14 anos da vítima, quando ela iniciaria a atividade laboral, ainda que como aprendiz. O valor de 2/3 do salário mínimo se mantém até os 25 anos de idade da vítima, e dos 25 até a expectativa de vida, estabelece-se o montante de 1/3 do salário mínimo. Há uma redução gradativa porque, aos 14 anos, a vítima, em tese, começaria a trabalhar, e aos 25, teoricamente, já formaria uma nova família, passando a contribuir com menor quantia para os pais e destinando a maior parte para a nova entidade.
OBSERVAÇÃO: Essa realidade social pode mudar de tempos em tempos, mas é, por ora, a aceita pelo STJ, por tratar-se de um critério razoável, mediano.
- 13º salário: vale ressaltar, por ser interessante, que o autor do ilícito deverá pagar aos pais do falecido, ao final, de todos os anos, uma parcela extra desta pensão, como se fosse um 13º salário a que teria direito o filho, caso estivesse vivo e trabalhando (REsp 555.036/MT, Rel. Min. Castro Filho, Terceira Turma, julgado em 19/09/2006).
No entanto, para a inclusão do 13º salário no valor da pensão indenizatória, é necessária a comprovação de que a vítima exercia atividade laboral na época em que sofreu o dano-morte (REsp 1.279.173/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/4/2013).
RESPONSABILIDADE CIVIL. ATROPELAMENTO. MORTE DE FILHO MENOR. DANOS MATERIAIS. FAMÍLIA POBRE. PENSIONAMENTO DOS PAIS. TERMO INICIAL. DÉCIMO-TERCEIRO. INCLUSÃO. I - A morte de filho menor em acidente, mesmo que à data do óbito ainda não exercesse atividade laboral remunerada, autoriza os pais, quando de baixa renda, a pedir ao responsável pelo sinistro a indenização por danos materiais, resultantes do auxílio que futuramente o filho poderia prestar-lhes. II - O termo inicial para o pagamento da pensão, conforme decisão da Corte Especial (EREsp 107.617/RS), é a data em que a vítima completaria 14 anos, por ser aquela a partir da qual a Constituição Federal admite o contrato de trabalho, ainda que na condição de aprendiz. III - Coerente com essa evolução jurisprudencial, há de ser incluída no valor da pensão, e a partir dessa data, a parcela relativa ao décimo-terceiro salário, por se tratar de direito inerente a toda relação empregatícia, conforme dispõe o artigo7º, VIII, também do texto constitucional. Recurso parcialmente provido. (REsp 555.036/MT, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ 23/10/2006, p. 296)
RECURSOS ESPECIAIS. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE FERROVIÁRIO. MORTE. DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. PENSÃO POR MORTE DE FILHO COM 17 ANOS. 13º SALÁRIO. TAXA DE JUROS LEGAIS MORATÓRIOS APÓS O ADVENTO DO NOVO CÓDIGO CIVIL. TAXA SELIC. JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. 1. Ação de indenização por danos materiais e morais movida pela mãe de adolescente morto em acidente em estação de trem, em razão de falha na prestação de serviço da ré, acarretando a morte de seu filho, com apenas 17 anos (queda da composição ferroviária, em razão de uma porta que se encontrava indevidamente aberta). 2. Majoração do valor da indenização por dano moral na linha dos precedentes desta Corte, considerando as duas etapas que devem ser percorridas para esse arbitramento, para o montante correspondente a 400 salários mínimos. Método bifásico. 3. Concessão de pensão por morte em favor da mãe da vítima adolescente, fixada inicialmente em dois terços do salário mínimo, a partir da data do óbito até o dia em que completaria 65 anos de idade, reduzindo-se para um terço do salário mínimo a partir do momento em que faria 25 anos de idade. Aplicação da Súmula 491 do STF na linha da jurisprudência do STJ. 4. Fixação da taxa dos juros legais moratórios, a partir da entrada em vigor do artigo 406 do Código Civil de 2002, com base na taxa Selic, seguindo os precedentes da Corte Especial do STJ (REsp. 1.102.552/CE e EREsp 267.080/SC, em ambos o rel. Min. Teori Zavascki). 5. Exclusão da parcela relativa ao 13ª salário por não ter sido demonstrado que a vítima trabalhava na época do fato. 6. Sucumbência redimensionada, sendo reconhecido o decaimento mínimo da autora. 7. RECURSOS ESPECIAIS PROVIDOS.(REsp 1279173/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/04/2013, DJe 09/04/2013).
- Tratando-se de família de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado, dano este passível de indenização. É matéria, inclusive, sumulada pelo STF:
Súmula 491, STF: “É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho remunerado.
Observe-se o seguinte julgado do STJ, relativo às várias questões acima analisadas:
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL.RESPONSABILIDADE CIVIL. MORTE DE FILHA MENOR. PENSÃO DEVIDA AOS PAIS. TERMO INICIAL. TERMO FINAL. DÉCIMO-TERCEIRO SALÁRIO. 1. Tratando-se de família de baixa renda, presume-se que o filho contribuiria para o sustento de seus pais, quando tivesse idade para passar a exercer trabalho remunerado, dano este passível de indenização. 2. Pensão mensal de 2/3 (dois terços) do salário mínimo, inclusive gratificação natalina, contada a partir do dia em que a vítima completasse 14 anos até a data em que viria a completar 25 anos, reduzida, a partir de então, para 1/3 (um terço) do salário mínimo, até o óbito dos beneficiários da pensão ou a data em que a vítima completaria 65 anos de idade, o que ocorrer primeiro. 3. Agravo regimental provido. Recurso especial conhecido e provido. (AgRg no Ag 1217064/RJ, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 23/04/2013, DJe 08/05/2013).
1.3 REFLEXOS DA SENTENÇA PENAL NA SENTENÇA CIVIL
É importante ter em mente o art. 935 do Código Civil, pois o examinador pode cobrar sua redação e mudar alguma palavra:
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
LEMBRANDO: na seara criminal, apurar-se-á a culpa do agente que praticou um fato típico ilícito, verificando-se sua culpabilidade e impondo-se lhe uma penalidade conforme o ordenamento. No Direito Civil, na responsabilidade civil objetiva, não se tem essa preocupação com culpa, mas sim com o pagamento de indenização.
Porém, essa independência não é absoluta, mas sim relativa, porque, em algumas situações, o resultado da ação penal repercute diretamente no dever de indenizar. É o que se depreende da parte final do art. 935, por trás do qual se situa a ideia de que a apuração da responsabilidade penal exige uma instrução probatória muito mais rígida, com elementos de prova bastante convincentes para a aplicação da pena, diferente da indenização cível.
Podem existir casos em que, no juízo criminal, a pessoa foi absolvida, mas isso não a exime de pagamento de indenização no âmbito cível. Por exemplo, a absolvição por insuficiência de provas, por atipicidade, a sentença absolutória imprópria (medida de segurança), ou a que homologa transação penal no JECrim, que extingue a punibilidade por prescrição, decadência, anistia, graça ou indulto, ou o julgamento pelo Tribunal do Júri, todos esses casos não têm reflexos na responsabilidade civil do agente.
Por exemplo, a absolvição por falta de provas não significa que o agente não praticou o fato. Nesse caso, o juízo criminal decidiu apenas que não há elementos nos autos para a condenação do agente a uma pena privativa de liberdade. No juízo civil, pode haver uma instrução em que fique comprovada a questão da responsabilidade civil do agente, ou mesmo a ocorrência de uma revelia, presumindo-se verdadeiros os fatos narrados na inicial.
É a mesma situação da atipicidade: o fato praticado pela pessoa deixou de ser típico, de ser crime, e não é mais possível a imposição de uma pena. Contudo, não há um elo referencial direto entre a atipicidade e a questão da não responsabilização pelo pagamento da indenização na área cível.
O art. 91, inciso I, do Código Penal, traz um efeito automático da condenação:
Art. 91 - São efeitos da condenação: I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;
Há, também, hipótese de suspensão do processo prevista no art. 313 do CPC. O juiz pode suspender a ação de indenização enquanto está em trâmite a ação penal, atendidos os critérios e termos ali previstos. O art. 64 do Código de Processo penal, da mesma forma, dispõe sobre a ação de ressarcimento contra o responsável, estabelecendo que a suspensão é possível, de acordo com o caso concreto, mas não é obrigatória.
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o responsável civil. Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela.”.
ATENÇÃO: A suspensão em estudo atinge diretamente a prescrição, nos termos do art. 200 do Código Civil. Enquanto a ação está suspensa, não corre a prescrição.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
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No estudo das Sucessões, ao haver a morte do testador, verifica-se que, quando da aplicação do direito de Saisine, ocorre a transmissão automática do patrimônio, da posse e dos bens aos herdeiros (sucessores), legítimos ou testamentários.
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Esse inciso terá questões a serem debatidas em outro momento.
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Em hipótese de lesão em que a vítima fica sem exercer sua profissão, é evidente que ela deve receber lucros cessantes. Por exemplo, se o taxista teve seu carro danificado, deve receber indenização proporcional ao período em que seu carro ficou no conserto.
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Por conta desta passagem, nota-se que o art. 951 do CC tem aplicação muito restrita, valendo apenas para profissionais da área da saúde, seja médico, enfermeiro, dentista ou outro.
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Assim como os artigos 951 e 953, é um artigo deslocado no tema, pois, apesar de tratar de Responsabilidade Civil, aborda questões alheias a outras áreas específicas. Deve-se observar que o CPC tem orientação semelhante a esta ao tratar de reintegração de posse e esbulho.
6Essa idade de 65 anos vem sendo alterada. Se pegarmos julgados mais recentes, essa idade pode passar para 70, 71 anos, ante as tabelas do IBGE indicando a atual expectativa de vida do brasileiro.
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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998)
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Por exemplo, não há revelia no processo penal, ao passo que, em uma ação de indenização por dano moral, estando ausente a contestação, pode haver a revelia, de acordo com o caso concreto, entendendo o juiz que os fatos estão comprovados e julgando procedente o pleito indenizatório, mesmo sem a defesa do réu. No juízo penal isso não existe, é necessário apurar e realmente instruir o processo para haver uma condenação.
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A prescrição quer dizer que o Estado, por algum motivo, não conseguiu punir a pessoa no prazo fixado em lei; por isso, não é mais possível a aplicação da pena no âmbito criminal. Mas, mais uma vez, isso não significa que a pessoa não possa ser responsabilizada na esfera cível.
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Art. 313. Suspende-se o processo: I - pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; II - pela convenção das partes; III - pela arguição de impedimento ou de suspeição; IV- pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas; V - quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente; b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova, requisitada a outro juízo; VI - por motivo de força maior; VII - quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do Tribunal Marítimo; VIII - nos demais casos que este Código regula. IX - pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a única patrona da causa; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) X - quando o advogado responsável pelo processo constituir o único patrono da causa e tornar-se pai. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) § 1º Na hipótese do inciso I, o juiz suspenderá o processo, nos termos do art. 689. § 2º Não ajuizada ação de habilitação, ao tomar conhecimento da morte, o juiz determinará a suspensão do processo e observará o seguinte: I - falecido o réu, ordenará a intimação do autor para que promova a citação do respectivo espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, no prazo que designar, de no mínimo 2 (dois) e no máximo 6 (seis) meses; II - falecido o autor e sendo transmissível o direito em litígio, determinará a intimação de seu espólio, de quem for o sucessor ou, se for o caso, dos herdeiros, pelos meios de divulgação que reputar mais adequados, para que manifestem interesse na sucessão processual e promovam a respectiva habilitação no prazo designado, sob pena de extinção do processo sem resolução de mérito. § 3º No caso de morte do procurador de qualquer das partes, ainda que iniciada a audiência de instrução e julgamento, o juiz determinará que a parte constitua novo mandatário, no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual extinguirá o processo sem resolução de mérito, se o autor não nomear novo mandatário, ou ordenará o prosseguimento do processo à revelia do réu, se falecido o procurador deste. § 4º O prazo de suspensão do processo nunca poderá exceder 1 (um) ano nas hipóteses do inciso V e 6 (seis) meses naquela prevista no inciso II. § 5º O juiz determinará o prosseguimento do processo assim que esgotados os prazos previstos no § 4o. § 6º No caso do inciso IX, o período de suspensão será de 30 (trinta) dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que comprove a realização do parto, ou de termo judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação ao cliente. (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016) § 7º No caso do inciso X, o período de suspensão será de 8 (oito) dias, contado a partir da data do parto ou da concessão da adoção, mediante apresentação de certidão de nascimento ou documento similar que comprove a realização do parto, ou de termo judicial que tenha concedido a adoção, desde que haja notificação ao cliente.
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Não poderia ser diferente, pois a vítima não poderia ser prejudicada em razão da demora na apuração criminal do fato.
Material Complementar
Documento
40018_Aula41_D. Civil_ A Transmissão da Indenização aos Herdeiros.pdf
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1. RESPONSABILIDADE CIVIL
 
Nesta aula, abordaremos as questões da transmissão da indenização aos herdeiros, da 
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que certamente podem ser cobrados em prova.
 
1.1 TRANSMISSÃO DA INDENIZAÇÃO AOS HERDEIROS
 
Comecemos com a leitura do art. 943 do Código Civil:
 
O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá
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la transmitem
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se com a herança.
 
O direito à indenização, com
o qualquer outro direito de natureza patrimonial, pode 
ser
 
transmitido por herança
. Não é porque a vítima faleceu que a indenização ficará sem 
destinatário. Lembre
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se: não se pode admitir uma 
ofensa
 
irressarcida. Entretanto, faz
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se 
necessário distinguir se
 
o dano foi praticado contra o falecido ou seus sucessores.
 
ATENÇÃO:
 
Questão relevante para fins de indenização por danos morais: muito embora 
se reconheça o caráter pessoal da referida ação, o STJ e a doutrina majoritária consideram 
que o direito de ação 
por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite
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se 
aos sucessores da vítima.
 
A partir do art. 948 do Código Civil, há uma série de disp
ositivos autoexplicativos, acerca 
dos quais não existe muita controvérsia. Em relação a eles, na maioria 
das questões que 
podem surgir em uma prova objetiva, será cobrada a letra da lei, exatamente o que está 
escrito nos artigos. É importante a leitura do Código
, principalmente para uma prova de 
primeira fase.
 
Art. 948. No
 
caso de homicídio, a indenização con
siste, sem excluir outras reparações: 
I 
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no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da 
Aula41 - Cesar Rosalino - A 
Transmissão da Indenização aos 
Herdeiros 
 
Estudar em casa 
 
1. RESPONSABILIDADE CIVIL 
Nesta aula, abordaremos as questões da transmissão da indenização aos herdeiros, da 
legitimidade para requerê-la, dos critérios de pensionamento, e de como se fixa uma 
pensão indenizatória para os favorecidos de uma vítima que eventualmente faleceu; temas 
que certamente podem ser cobrados em prova. 
1.1 TRANSMISSÃO DA INDENIZAÇÃO AOS HERDEIROS 
Comecemos com a leitura do art. 943 do Código Civil: 
O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança. 
O direito à indenização, como qualquer outro direito de natureza patrimonial, pode 
ser transmitido por herança. Não é porque a vítima faleceu que a indenização ficará sem 
destinatário. Lembre-se: não se pode admitir uma ofensa irressarcida. Entretanto, faz-se 
necessário distinguir se o dano foi praticado contra o falecido ou seus sucessores. 
ATENÇÃO: Questão relevante para fins de indenização por danos morais: muito embora 
se reconheça o caráter pessoal da referida ação, o STJ e a doutrina majoritáriaconsideram 
que o direito de ação por dano moral é de natureza patrimonial e, como tal, transmite-se 
aos sucessores da vítima. 
A partir do art. 948 do Código Civil, há uma série de dispositivos autoexplicativos, acerca 
dos quais não existe muita controvérsia. Em relação a eles, na maioria das questões que 
podem surgir em uma prova objetiva, será cobrada a letra da lei, exatamente o que está 
escrito nos artigos. É importante a leitura do Código, principalmente para uma prova de 
primeira fase. 
Art. 948. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações: 
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da

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