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1 Anielly Cella PROPEDÊUTICA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE Princípios bioéticos e aspectos psicodinâmicos Padrões de comportamento profissional e do paciente Paciente e grupos com necessidades especiais Relacionamento com as famílias Atuação do estudante com o paciente Técnicas de abordagem e ensino na relação médico-paciente A discussão de caso clínico a beira leito Atendimento humanizado e contextualizado HIPÓCRATES A medicina é um método de diagnóstico e prognóstico das situações do processo de saúde e doença. Sistematização Método clínico A semiotécnica faz parte de um conjunto de valores, que a partir da observação, história e raciocínio fisiopatológico torna a medicina uma arte. A relação médico-paciente: relação dialética entre o ser doente e aquele que lhe oferece ajuda, ou com pessoas saudáveis que procuram promoção da saúde ou prevenção de doenças, o fato de estar diante de um médico pode despertar questões de ordem emocional. Relação humana especial Inserida com uma variedade de sentimentos e emoções Angústia, medo, insegurança, ódio, confiança, desesperança, incerteza. Geralmente o paciente está fragilizado. PRINCÍPIOS BIOÉTICOS Dentre os vários fatores que ratificam a necessidade de aplicação dos princípios bioéticos na prática médica estão o rápido crescimento dos conhecimentos científicos e os avanços tecnológicos, além das novas modalidades de organização na prestação de serviços médicos e a judicialização da medicina. Por isso é preciso levar em consideração os princípios bioéticos da corrente principialista, proposta por Beauchamp e Chidress: Beneficência: buscar fazer sempre o bem para o paciente Não maleficiência: não fazer nada de mal ao paciente Justiça: fazer o que é justo ao paciente o Distribuição igual, equitativa e apropriada de tudo que diz respeito à saúde, na tentativa de oferecer oportunidades semelhantes a toda a sociedade. A equidade deve ser levada em conta independente do tipo de acesso ao sistema de saúde. o Levar em conta gênero, orientação sexual, cor, questões morais, sociais e religiosas, mas é imprescindível que esses fatores determinantes para o diagnóstico, tratamento e prognóstico, não sejam tomados com discriminação, tratar o paciente com justiça é necessário para garantir uma atitude ética do futuro médico e, respeito à dignidade humana pautada nos direitos humanos e na medicina humanizada. Autonomia: possibilitar que o paciente decida sobre o seu tratamento (consentimento informado). o Relacionamento igualitário: decisão compartilhada entre o médico e o paciente (substitui o paternalismo/autoritarismo). o Testamento vital na ficha médica ou no prontuário (reconhecido pelo Poder Judiciário e aprovado pelo CFM): os pacientes podem registrar quais procedimentos querem ser submetidos. VALORES BIOÉTICOS Aprendizagem + Bagagem cultural + Treinamento Cultivar princípios bioéticos/virtudes morais (indiossincráveis para o bom médico/profissional) Parte fundamental formação do novo médico (treinamento orientado). O conceito de aula prática deve incluir o que se chama de “encontro clínico”, pois, desde a primeira entrevista ou exame físico o estudante precisa ter consciência de que aquele momento tem significado especial para o paciente. e deve ter para ele. Exame clínico anamnese, exame físico, laboratório e imagens. Conhecimento psicodinâmico do ser humano Conhecimentos básicos da humanidade filosofia, psicologia e sociologia. 2 Anielly Cella Alteridade: respeitar a diferença do outro (não é possível excluir ou discriminar). Assim como não se deve excluir ou discriminar o outro pela sua diferença, também não se pode igualar a todos. Ex: -Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. -Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. -Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) Sigilo: respeitar o segredo sobre as informações do paciente, fundamental para preservar a relação médico-paciente e confiança (prevenção de processos). Ex: -Não expor os pacientes como necessidade narcisista, no meio social ou redes sociais. -Nos casos discutidos em sessões clínicas, o sigilo deve ser preservado mediante artifícios, como usar apenas as iniciais em lugar do nome ou, evitar dados que permitam identificar o paciente. -Em uma discussão clínica, todos os profissionais que participarem estão submetidos ao dever do sigilo. ÉTICA – NINGUÉM NASCE ÉTICO Adquirida no seu desenvolvimento psíquico, social e biológico. Condição subjetiva, afetiva e cognitiva adquirida desde a vida estudantil até a profissional. Depende da moral, é uma construção individual, incorporando valores e desenvolvendo atitudes, transformados em ações. BIOÉTICA É a parte mais complexa e angustiante da ética, o conflito entre o racional e emocional. O desgaste mais acentuado do profissional médico não se deve ao número de horas trabalhadas, mas à intensidade emocional com que vivencia seus atos. Na prática, o que mantém o vínculo afetivo da profissão é a confiança, empatia e compaixão. Médico curador: relatório Flexner no século XX, currículo hospitalocêntrico, pesquisas científicas e focado na doença (modelo biomédico). Médico cuidador: atende de modo global e holístico, amplia o papel do curador, que somente se envolve com a cura e quando não é alcançada produz frustração. Papel do médico cuidador: apresentação, vestimenta, higiene, vocabulário, atitudes firmes, compreensão, orientação e contato. MECANISMOS PSICODINÂMICOS DA RELAÇÃO MÉDICO- PACIENTE Hipócrates: sistematização da anamnese Tecnologia e métodos científicos: aumentaram a distância do aspecto humano, comprometendo a relação médico-paciente. Freud (XIX – XX): implantação dos aspectos psicodinâmicos da relação médico-paciente (equilíbrio do físico e emocional). Toda relação humana é ambivalente. Transferência: fenômenos afetivos que o paciente transfere ao médico (inconscientemente vividos em relacionamentos primitivos, familiares). o Transferência positiva: ocorre em pacientes com sofrimento físico e emocional intenso, quando o paciente pode se apoiar emocionalmente no médico, base da confiança na relação médico-paciente. Contratransferência: fenômeno que ocorre no sentido do médico para o paciente, parte de mecanismos inconscientes vividos pelo médico, com responsabilidade profissional e ética para manter a relação médico-profissional e evitar o desenvolvimento da erotização. o Contratransferência positiva: útil para doentes crônicos incuráveis. o Contratransferência negativa: sentimentos escondidos do médico que classifica o paciente como chato, irritante, enjoado. Resistência: fator ou mecanismo psicológico que compromete a relação médico-paciente. Podem ser interpretados como contestação à autoridade do médico. o Esquecimento de horário o Adiamento ou recusa de fazer exames o Abandono do tratamento ou regime alimentar o Ocultar ou deturpar sintomas o Negação de bebida alcoólica na vigência de intoxicação etílica Cabe ao médico detectar e neutralizar estas manifestações. A relação médico-paciente é assimétrica por natureza, pressupõe-se que o profissional tenha conhecimento científico e o paciente o senso comum, embora venha sendo modificado pela facilidade de acesso a informações. Robert Veatch definiu quatro modelos de relação médico-paciente, tendo em vista questões bioéticas: 3 Anielly Cella Modelo paternalista ou sacerdotal: o médico toma as decisões em nome da beneficência, desvalorizando o princípio da autonomia e o paciente em submissão. Modelo tecnicista ou engenheiral: o médico colhe dados dos exames complementares, informa e executa os procedimentos, mas deixa a decisão sob a responsabilidade do paciente. Modelo colegial ou igualitário: o médicoadota a falsa posição de colega do paciente. Modelo contratualista: as habilidades e conhecimentos do médico são valorizadas, preservando sua autoridade, mas deseja e valoriza a participação ativa do paciente que resulta em troca de informações e comprometimento de ambas as partes. É possível analisar levando em conta fatores da estrutura psicológica, sentimentos despertados pela duração da doença e condições de tratamento: Médico ativo/paciente passivo: paciente não mostra necessidade ou vontade de compreender os cuidados, característico da urgência e emergência. Quanto mais ativo e seguro se mostrar o médico, mais tranquilo e seguro ficara o paciente. Médico direciona/paciente colabora: o profissional assume seu papel de maneira, até certo ponto, autoritária. O paciente compreende, aceita e colabora. Ocorre em regime hospitalar. Médico age/paciente participa ativamente: o profissional define os caminhos e os procedimentos, e o paciente compreende e atua conjuntamente. As decisões são tomadas após troca de informações e análise de alternativas. O paciente assume responsabilidade frente ao processo de tratamento de sua doença. Há um redimensionar de papéis, uma parceria entre o médico e o paciente, corretamente designada aliança terapêutica. PACIENTE Angústia, incerteza, ansiedade, dúvida, fragilidade, entre outras, as queixas devem ser sempre respeitadas e valorizadas. MÉDICO Ansiedade em reconhecer e atuar sobre o paciente. Na primeira consulta, uma palavra ou gesto inadequado pode deteriorar a relação médico-paciente, isto acontece quando os aspectos psicológicos não são valorizados. Deve suspender seus preceitos religiosos e ideológicos e não deixar influenciar o julgamento clínico. Dedicação diuturnamente (sacerdócio), no sentido de desprover o valor do trabalho pois este é uma prestação de serviço, investido em uma função nobre mas não divina. Respeitar o direito do paciente em tomar as decisões, compreender que sofrimento físico e psíquico estão sempre juntos, cuidado para não se transformar em mecânico do corpo, mas médico com formação técnica cada vez mais aprimorada. Exercitar os aspectos éticos e morais, psicológicos, para formar um médico técnico, mas com capacidade humanística e relação médico-paciente ideal. PADRÕES DE COMPORTAMENTOS MÉDICOS Características pessoais, inconscientes, transferenciais, mecanismos de defesa, características da personalidade que se convencionou como vocação. O médico deve ter vocação mínima, traços de personalidade, bases socioculturais e familiares são o apoio para o exercício da profissão. Pressões familiares, sensação falsa de enriquecimento, lances de heroísmo, podem induzir o erro na escolha ou gerar frustração no decorrer do curso. Resiliência pessoal: protege no enfrentamento do estresse da profissão (capacidade de suportar sem adoecer – defesa do Burnout). Capacidade de engajamento no trabalho (atividades multidisciplinares) Personalidade persistente – 3 dimensões: -Compromisso: tendência em envolver-se em todas as atividades. -Controle: profissional tem disposição para pensar e atuar com convicção para intervir nos acontecimentos. -Desafio: profissional percebe o campo para aumentar suas próprias competências de atuação e não como ameaça. Medicina abrange 4 grupos: -Atividades clínicas (convívio com o paciente é fundamental) -Atividades laboratoriais e técnicas (manuseio de máquinas e equipamentos) -Atividades com trabalho e coletividade (medicina preventiva, grupos) -Atividades de gestão (gerenciamento de hospitais e cargos públicos) Padrão médico: -Paternalista e/ou autoritário (dependendo do contexto) -Competência científica (ciência médica – Medicina baseada em evidências) -Interesse pelo semelhante -Respeito -Capacidade de compreender o sofrimento (empatia) -Vontade de ajudar (compaixão) Médico ideal (aplicação dentro de uma visão humanística): -Trabalho conjunto do professor com o acadêmico e paciente (desenvolvimento da qualidade ética). -Personalidade amadurecida -Conhecer e dominar os mecanismos psicológicos envolvidos na relação médico-paciente. -Conhecimento fisiológico e fisiopatológico adequados para o raciocínio clínico. 4 Anielly Cella O PACIENTE O paciente e os padrões de comportamento A família O atendimento centrado na pessoa Curso de medicina fonte de ansiedade Processo de aprendizagem da relação médico-paciente O encontro do estudante de medicina com o paciente O ser humano é uma unidade biopsicossocial e espiritual, e seus aspectos afetivos são o que mais o diferenciam dos outros animais. O paciente é um ser humano, com uma identidade de gênero e uma determinada orientação sexual, de certa idade, com uma história individual e uma personalidade exclusiva. Não é um tubo de ensaio, uma cobaia ou uma máquina com seus componentes avariados, para avalia-lo, portanto, o médico deve estabelecer um relacionamento positivo ou favorável, valendo- se de empatia e compaixão. PADRÕES DE COMPORTAMENTO Ansioso: sentimento negativo em relação ao futuro, envolvente por meio de um mecanismo de círculo vicioso nos familiares. o Inquietude, voz embargada, mãos frias e suadas, taquicardia, dispneia suspirosa e boca seca. o Desejo inconsciente de reforçar as defesas psicológicas: esfregar as mãos, tremer, fumar seguidamente, debruçar-se na mesa (demonstrar interesse), sentar-se na borda da cadeira sem se recostar (pronto para levantar). o Como lidar: demonstrar segurança e tranquilidade, não indagar fatos que avivem o sentimento. Conversar sobre fatos aparentemente irrelevantes para evitar transferência negativa, desfazer a tensão e mostrar-se um ouvinte atento. o Saber escutar é mais importante que saber perguntar. o Não são adequadas tentativas de acalmar, exortanto-o a ficar tranquilo dizendo que sua doença não é grave. Deprimido: desinteresse por si e coisas ao redor. o Humor triste, desanimado, choroso, sem vontade de realizar tarefas, apresenta-se descuidado, entediado, apático, desinteresse sexual, sem vontade de viver, ideação suicida. Tendência a isolar-se, reluta em descrever seus padecimentos e responder perguntas. o Pode usar frases como “gostaria de sumir”, “dormir e não acordar”, “se eu morresse seria melhor”. o Como lidar: conquistar atenção e confiança, ser acolhedor e mostrar interesse. É conveniente deixa-lo chorar sem indagações (aliviar a tensão) e mostrar compreensão. o Avaliar o tipo de depressão e gravidade (o suicídio exitoso geralmente ocorre no período de melhora do humor), diferenciar de estado depressivo (luto, divórcio, dependência de drogas, doenças crônicas). Hostil: o Agressivo, muitas vezes é levado ao médico contra sua vontade, responde às perguntas com novas perguntas, muitas vezes deselegante e mal educado. o Como lidar: reconhecer sua condição de saúde e procurar entender a causa da sua raiva (insegurança, ansiedade, depressão, más experiências médicas, doenças estigmatizantes e uso de drogas). Devendo demonstrar serenidade e autoconfiança, nunca uma conduta agressiva. Sugestionável: o Medo excessivo de adoecer, vive procurando médicos, somatização de sintomas, mas medo do resultado de exames. o Evitar falar de doenças graves. Hipocondríaco: o “envelope gordo”, referindo-se ao prontuário. o Paciente hígido que procura o médico devido a indisposições sem importância, desejo de fazer exames laboratoriais ou “em algum aparelho”. o Adota um diagnóstico que lhe é conveniente. o Como lidar: nunca ridicularizá-lo, ouvi-lo e expressar opiniões claras e seguras. Eufórico: o Exaltação do humor, sente-se forte e sadio, muda de assunto inesperadamente. o Paciência no exame clínico. Inibido: o Não se sente à vontade, senta-se à beira da cadeira e fala baixo. Tende a falar pouco e responder afirmativamente. o Demonstrar interesse, palavras amistosas e compreensíveis. Psicótico:o Percepção delirante, alucinações auditivas características, eco ou sonorização do pensamento, roubo de pensamento e vivência de influência. Surdo: 5 Anielly Cella o Libras, acompanhante ou falar pausadamente para pacientes que tiveram perda progressiva da audição. Especiais: o Vítimas de alienação, inteligência reduzida ou retardo mental. o Usar linguagem simples e perguntas diretas. Grave: o Ser objetivo e direto, respeitar as conveniências e não agravar seu sofrimento. Fora de possibilidades terapêuticas: doença incurável/terminal. o Fases de Kübler-Ross (p/ todos os pacientes) Crianças e adolescentes: ser único com etapas do desenvolvimento bem definidas do ponto de vista orgânico e emocional. o Relação carinhosa com a criança, conquistar sua confiança e com os familiares. o Relação particular com adolescentes, suas particularidades e riscos/vícios da idade. o Dicas de segurança (crianças desaparecidas): Documentação do acompanhante ou autorização. Conhecer antecedentes da criança e desconfiar de respostas desconexas ou não souber informações básicas. Analisar atitudes da criança e marcas físicas. Idosos: o comportamento é um reflexo do que a vida lhes proporcionou. o Aceitar suas manias, agindo com paciência e delicadeza. o Evitar a superproteção e linguagem infantilizada. o Lidar com as doenças crônicas e morte, mas lembrar que isso não o define. Família: definição complexa, que deve ser tratada com bioética e foco na prevenção e promoção da saúde, bem como comunicação e orientação, principalmente nas consultas domiciliares. o Cuidados com contratransferências. ATENDIMENTO CENTRADO NA PESSOA Explorar a doença e a experiência da doença: por meio do exame clínico e dimensões da doença para o paciente em suas funções laborativas e expectativas. Entender a pessoa como um todo: alguém contextualizado/membro de uma família, comunidade, com ou sem apoio. Elaborar um plano conjunto de manejo dos problemas: junto ao paciente listar os problemas e prioridades, bem como o tratamento, manejo ou proposta terapêutica compartilhada. Incorporar a prevenção de doenças e a promoção de saúde: redução de complicações. Intensificar o relacionamento entre paciente e médico: compaixão, cura, desenvolver na pessoa atendida a consciência de si mesma (emancipação) e promover transferência e contratransferência positiva. Ser realista: gestão, otimização de acordo com o timing da consulta e recursos do paciente, família e comunidade. Ex: Um exemplo desta situação está no atendimento de uma paciente hipertensa que não adere ao tratamento porque, sendo analfabeta, não consegue ler o nome e as doses dos medicamentos. Outros problemas relatados por ela: filho estar envolvido com drogas, filha colocar muito sal no preparo dos alimentos, não ter dinheiro para comprar os medicamentos. Cabe ao médico, então, avaliar estes problemas e organizá-los juntamente com a paciente em uma lista de prioridades, buscando oferecer soluções. Assim o médico deve receitar medicamentos que constem da lista da RENAME para reduzir gastos, conversar com a filha da paciente para que ela reduza o sal no preparo dos alimentos encaminhar o filho para um CAPS-AD (Centro de Atenção Psicossocial do SUS especializado em dependência química) e, por m, orientá-la a buscar o AJA (Alfabetização de Jovens e Adultos). Merece destaque ao discutir a relação médico-paciente a consulta por telefone. Ainda que se condenem tais consultas por ser um meio inadequado de atendimento, já que a Resolução no 1.974/2011 do Conselho Federal de Medicina proíbe consultoria médica a pacientes e família pela internet ou telefone, elas vêm se firmando como um recurso auxiliar na atenção primária. O médico de família possui uma importante característica que diferencia seu atendimento dos de outros médicos, visto que a relação médico-paciente-família é desenvolvida durante anos a fio, constituindo um saber próprio: seja do médico com relação aos pacientes e suas famílias, seja do paciente com relação à sua doença e ao seu médico. Tal característica é chamada de longitudinalidade. Por conta da longitudinalidade, que embasa o conhecimento do paciente e da evolução de sua doença, o médico pode, por meio de conversas telefônicas ou por aplicativos (p. ex., WhatsApp), tirar algumas dúvidas, esclarecer alguns pontos ou orientar algumas condutas a serem tomadas frente a problemas simples que não necessitam obrigatoriamente de um “encontro clínico” presencial. 6 Anielly Cella Deve ficar claro, no entanto, que nem todas as consultas feitas por telefone podem ser tão simples. Caso o médico perceba a necessidade de uma consulta presencial, este irá orientar o paciente a procurar a unidade básica de saúde. ENCONTRO DO ESTUDANTE DE MEDICINA COM O PACIENTE Aparência: jaleco, calçado fechado/anti-derrapante e evitar adornos para proteção individual e coletiva, bem identificação e higiene. o Norma Regulamentadora nº31 (NR 32), discorre sobre a segurança de saúde no trabalho em serviços de saúde e os riscos biológicos. Atitudes, linguagem e comportamento. Higiene: evitar encostar-se a paredes, leitos e lavar as mãos antes e após o contado com o paciente. Sigilo, manter as portas do consultório fechadas durante as consultas, não adentrar para assuntos alheios e respeitar o momento de repouso e refeição dos pacientes. CURSO DE MEDICINA COMO FONTE DE ANSIEDADE Nada existe de absoluto: os mesmos sintomas podem decorrer de doenças diferentes; a mesma doença pode produzir sintomas diversos; cada paciente é um universo particular com apenas alguma semelhança com o próximo; cada paciente reage de maneira diferente ao mesmo tratamento; as verdades em medicina são relativas e provisórias. Divergência: opinião de dois professores sobre uma situação, o aluno deve ser capaz de buscar o conhecimento atualizado não apenas durante a graduação, mas por todos os anos em que se mantiver ativo profissionalmente. Conhecimento: generalizado e abrangente, evitar a especialização precoce. PRINCÍPIOS DO APRENDIZADO DA RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE Considerar acima de tudo a condição humana do paciente. No relacionamento estudante /paciente, a primeira manifestação do estudante deve ser de empatia e de interesse pelo doente. O paciente deve ser tratado humanamente e jamais como simples caso a ocupar um leito numerado; deve ser chamado respeitosamente por seu nome próprio, antecedido de Sr. ou Sra. quando se tratar de um adulto. O estudante deve lembrar -se de que o paciente é alguém muito importante para a própria família, que depende dele ou que espera por ele e deseja vê -lo recuperado. Enquanto o estudante está em aprendizado, o paciente encontra -se em seu momento de maior sofrimento, angústia e dor. Ele vai ao hospital em busca da saúde perdida e espera encontrar compreensão, ajuda e respeito por parte de todos os que o assistem para alcançar seu objetivo. A PROFISSÃO MÉDICA EXIGE Autodisciplina Conhecimentos bioéticos Sigilo Respeito Violência e assédio devem ser comunicados. MÉTODO BALINT Um método que pode ajudar na identificação dos aspectos psicodinâmicos da relação médico-paciente baseia-se na prática dos “grupos Balint”. Considerando que o momento ideal para iniciar o aprendizado da relação médico-paciente é quando os acadêmicos estão tendo os primeiros contatos com os pacientes, pode-se, nesse momento, adaptar para estudantes de medicina a experiência de Balint. Para isso, podem ser formados grupos de 6 a 12 estudantes sob a supervisão de um docente que tenha experiência em liderar grupos Balint. Esse método baseia-se na vivência do próprio estudante, nascida na realização do exame clínico. Sua essência é a análise dos acontecimentos surgidos antes, no decorrer e depois da entrevista, ao mesmo tempo que se estuda a técnica de elaboração da história clínica. O que sentiuo estudante ao se aproximar de um paciente? Qual foi sua reação frente às reações do paciente? Essas vivências, quando devidamente analisadas, evidenciam os problemas e as dificuldades emocionais vividas pelo estudante. Cada situação suscita novas questões e discussões em torno dos aspectos psicodinâmicos. Sem dúvida, não é qualquer professor que pode desenvolver este trabalho, nem em qualquer circunstância, nem em qualquer lugar, nem em qualquer profundidade. É necessário assegurar condições mínimas para desenvolver uma experiência pedagógica dessa natureza. A partir dessa metodologia, pode-se tentar reconhecer as dificuldades, reações e mudanças de comportamento e/ou de atitudes que os estudantes vão apresentando, ao mesmo tempo que eles começam a se observar mais, passando a perceber os seus movimentos emocionais em relação ao paciente e a si mesmos. ÉTICA Códigos, juramentos e orações orientadoras para aqueles que cuidam da saúde dos doentes existem há séculos. 7 Anielly Cella Segundo Robert Veith qualquer que seja a forma adotada, implica um imperativo moral a ser aceito tanto pelo profissional, individualmente, quanto por suas organizações profissionais, pela comunidade religiosa ou pelo corpo governamental. CÓDIGO DE ÉTICA Expressa através de código específico, a ética na medicina garante o respeito à vida, segurança nos procedimentos e cuidados prestados pelos médicos. Além de tomar decisões que impactam diretamente na vida e na saúde das pessoas, a categoria lida com uma série de questões polêmicas, como aborto, eutanásia e manipulação genética. Daí a necessidade de existir um documento que padronize e respalde o exercício da medicina de forma idônea e com equidade, ou seja, com a mesma qualidade para todos os pacientes. O QUE É ÉTICA Ética na medicina é um conjunto de normas e preceitos que devem ser respeitados e aplicados por todos os profissionais da área. Elas seguem os valores da sociedade, ou seja, estão baseadas em questões morais. Como os valores podem mudar com o tempo, o principal documento que a rege a ética médica no Brasil é constantemente revisado, a fim de se manter atual e acompanhar as transformações sociais. Conforme explica o médico cearense Fernando Monte, a ética pode ser analisada sob três aspectos na prática médica: a relação entre médico e paciente, dos médicos entre si e entre médico e sociedade. “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza à perda.” Hipócrates. Considerado o pai da medicina, Hipócrates exerceu a profissão na Grécia antiga, por volta de 430a.C. Ele ganhou notoriedade por diversos feitos, como a distinção entre sintoma (consequência) e doença (causa). Ao escrever seu famoso juramento, o estudioso criou um tipo de código de ética, no qual se comprometia a agir com honestidade, caridade e ciência. Para atuar de forma idônea, todo profissional precisa seguir princípios éticos. Para isso, os médicos precisam colocar o interesse do paciente acima de qualquer outro. Se não agir com ética, um profissional pode focar apenas nos lucros, exercendo a medicina de maneira mercantilista, ou usar sua condição para vender produtos que causam danos à saúde. Por ter força de lei, o Código de Ética Médica proporciona segurança aos profissionais e pacientes, estabelecendo regras para o cuidado com a saúde. Sem ele, práticas restritas aos médicos, a exemplo de cirurgias, ficariam liberadas a pessoas sem qualificação, levando a sequelas e aumentando o risco de mortes. Questões polêmicas, como pesquisa científica com humanos e alterações genéticas, também não seriam observadas e reguladas. Além disso, o código garante que médicos respeitem a escolha do paciente, familiares e responsáveis legais. NOVO CÓDIGO DE ÉTICA Após dois anos de discussões, o Conselho Federal de Medicina promoveu a revisão do documento, tendo em vista os avanços tecnológicos que impactaram profundamente a medicina nas últimas décadas. O novo código, que entra em vigor a partir de 1º de maio de 2019, é resultado da análise de 1.431 propostas de médicos, associações médicas, sociedades de especialidades, entidades de ensino médico e outras instituições. Antes dessa alteração, o texto havia passado por mudanças consideráveis em 2009, quando ficou estabelecida maior autonomia para médicos (que podem se recusar a trabalhar em condições inadequadas) e pacientes (que podem obter cópia de seu prontuário médico). A revisão recente do Código manteve a estrutura anterior do documento, com a mesma quantidade e temas dos capítulos. Algumas alterações foram feitas através da inserção de artigos que falam principalmente do tratamento entre médicos e pacientes e da adoção de novas tecnologias, disponíveis há pouco tempo. Confira alguns destaques do novo código de ética na medicina: Limites no uso das redes sociais por médicos, que devem evitar a autopromoção e focar em publicações de cunho informativo. Previsão do uso de meios técnicos e científicos disponíveis que visem aos melhores resultados como um dos princípios médicos fundamentais. Exigência da não discriminação de médicos com deficiência, que poderão exercer a profissão nos limites de suas capacidades, desde que seja seguro para o paciente. Proibição do tratamento de qualquer ser humano sem civilidade ou consideração, com desrespeito à sua dignidade ou discriminação de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. Exigência de que os médicos tratem colegas com respeito, consideração e solidariedade. A ÉTICA MÉDICA NA PRÁTICA A medicina presta um serviço essencial, pois o cuidado com a saúde está entre os direitos universais dos seres humanos. No entanto, lidar com a saúde e a vida de outras pessoas é uma tarefa difícil, que se torna mais simples quando há clareza sobre o comportamento esperado de um médico. O Código de Ética se presta a esse papel, recomendando a postura apropriada em cada caso. 8 Anielly Cella Essencialmente, ao colocar os princípios em prática, o documento pede que médicos tomem decisões embasadas pelo conhecimento científico, sem deixar de lado a humanização no atendimento. Inclusão, zelo, honra e dignidade devem nortear as ações desses profissionais. RELAÇÃO MÉDICO-PACIENTE Complexa, a relação entre médico e paciente deve ser construída sobre a confiança, sigilo profissional, equidade, respeito à vida e autonomia do paciente. A confiança é relevante porque, durante o atendimento prestado, médicos têm acesso a informações de saúde do paciente, que não podem ser compartilhadas sem autorização. Visando garantir esse direito do paciente, o CFM criou o conceito de sigilo profissional, que declara os dados como invioláveis, exceto se houver autorização para que sejam divulgados ou exigência legal. Outro fator importante é a equidade, que prevê tratamento igual para todos os cidadãos. Esse princípio, entretanto, ainda está distante de ser alcançado, pois há forte desigualdade no acesso à saúde, sob vários aspectos – econômico, social e até geográfico. Cidadãos que moram longe de grandes centros urbanos dificilmente conseguem os mesmos serviços de saúde que aqueles que habitam as capitais, em especial os que têm boa condição financeira. O respeito à vida parte do pressuposto de que médicos não devem prejudicar pessoas conscientemente. Esse pilar esbarra em assuntos polêmicos, como o aborto, autorizado pelo Código Penal em casos especiais – estupro ou risco à vida da gestante. Já a autonomia do paciente é citada muitas vezes no decorrer do Código de Ética, garantindo que a opção por qualquer tratamento seja respeitada pelos médicos. A relação entre colegas é tratada no Capítulo VII do Código, que prevê colaboração e solidariedade em prol da saúde. Um médico não pode descartar o tratamento prescrito por outro, a não ser que haja benefícios para o paciente. Também nãoé permitido negar o acesso a ferramentas ou tecnologias que auxiliem no tratamento de qualidade. Pode parecer utópico falar em solidariedade diante da grande concorrência entre profissionais e serviços de saúde. Mas a ideia é estabelecer limites para a disputa entre médicos, de forma que não prejudique ou exclua o paciente. Médicos têm um grande propósito moral: cuidar da saúde de todos os cidadãos. Nesse sentido, o Código de Ética orienta que sejam feitas ações visando não apenas o bem-estar de um paciente, e sim o bem-estar geral das pessoas – inclusive daquelas que ainda vão nascer. Essa visão mais ampla é fundamental para uma gestão eficiente dos recursos destinados à saúde, principalmente dos investimentos públicos, com a criação de políticas públicas para atender toda a população brasileira de forma digna, eficaz, justa e com humanidade. CONHECIMENTO DE ÉTICA E BIOÉTICA DOS ESTUDANTES DE MEDICINA Quando se fala na formação de profissionais que cuidarão de pessoas nas dimensões física, psíquica, emocional, social e familiar, deve-se pensar no conhecimento da bioética, que dá fundamentação técnica e teórica a esse cuidado. Conceitos de ética – em parte presentes no Código de Ética Médica (CEM) e no Código de Ética do Estudante de Medicina (Ceem) –, de bioética e filosofia precisam ser estudados e assimilados com clareza, sob orientação de profissionais que, além de teóricos, sejam exemplos para seus alunos. Ao pensar sobre os atuais conflitos da relação médico-paciente, deve-se voltar a atenção para a educação. O que se espera dos seis anos de formação em medicina é que a cada ano o aluno consolide ainda mais seus conhecimentos sobre ética médica e clareie seu discernimento sobre condutas diante das diversas situações encontradas no exercício da profissão. EXAME CLÍNICO Arcabouço básico da profissão médica, permite uma visão humana dos problemas do paciente e tem especial em três pontos cruciais da prática médica: formular hipóteses diagnósticas, estabelecer uma boa relação médico-paciente e tomar decisões. Correlacionar com precisão os dados clínicos aos exames complementares pode ser considerado a versão moderna do “olho clínico”, segredo do sucesso dos bons médicos, antigos ou modernos, cuja a essência é a capacidade de valorizar detalhes sem perder a visão do conjunto. Exame clínico = Anamnese + Exame físico Tripé da medicina moderna = Exame clínico + Exames complementares (que dependem dos dados clínicos para se transformarem em informações aplicáveis). Exame clínico = Hipóteses diagnósticas consistentes, que permitem a escolha e interpretação dos exames complementares, otimizando a relação custo/benefício Decisões terapêuticas eficazes. ANAMNESE Identificação (ID) Queixa principal (QP) História da doença atual (HDA) Interrogatório sintomatológico (IS) Antecedentes pessoais (fisiológicos e patológicos) e familiares (APF, APP e AF). 9 Anielly Cella Hábitos de vida Condições socioeconômicas e culturais EXAME FÍSICO Exame físico geral Exame dos órgãos ou sistemas POSIÇÕES DO EXAMINADOR E DO PACIENTE Para a anamnese é adequado que o paciente sente defronte ao médico, de maneira confortável. Em casos de pacientes acamados, cabe ao examinador sentar-se ao lado do leito, deixando o paciente na posição que lhe seja mais confortável. Para o exame físico: -Decúbito dorsal -Decúbito lateral (direito ou esquerdo) -Decúbito ventral -Posição sentada -Posição de pé ou ortostática -Na realização de exames especiais (ginecológico ou proctológico), adotam-se posições próprias. É clássica a recomendação para o examinador se colocar a direita do paciente, mas deve deslocar-se de maneira que lhe permita máxima eficiência. DIVISÃO DA SUPERFÍCIE CORPORAL Divisão proposta pela Terminologia Anatômica Internacional, para localização dos achados semióticos. ENTREVISTA A iniciativa da interação cabe ao paciente, ao sentir que algo não está bem consigo. Porém, sua plena execução cabe ao médico, que ao conhecer fatores capazes de interferir na entrevista, poderá criar condições que favoreçam a integração. Ambiente adequado, instrumental apropriado e anotações de próprio punho ou via digital (desde que não se dê mais atenção à este do que ao paciente). Logo, os estudantes devem aprender que as “consultas de corredor” e “consultas de festinhas” são inevitavelmente incompletas e tirar conclusões diagnósticas delas é um ato de adivinhação. 10 Anielly Cella O médico possui referências científicas, já o paciente possui referências paracientíficas ou anticientíficas, cabe ao médico conhecer e compreender os elementos culturais que orientam a ação do paciente, bem como analisar a si próprio, no sentido de tornar conscientes os valores básicos que orientam sua ação e uso de linguagem adequada. O médico deve conhecer os padrões normativos culturais que regem a sua conduta e do paciente, bem como o conhecimento das expectativas. Existem os objetos sociais (médico e paciente). Logo, existe uma interestimulação das ações e fisionomias do médico para o paciente e vice-versa. O médico, deverá controlar e alterar o comportamento do paciente, desenvolver intuição no sentido de captar no paciente indícios subliminares, como hesitação em dar uma resposta ou franzir a testa, levando a uma interação mais eficaz. RESUMINDO Objetos físicos o Ambiente (consultório, quarto ou enfermaria) o Instrumental Objetos culturais o Médico: Valores (ética médica) Linguagem adequada Apresentação pessoal o Paciente: Componentes culturais (nível educacional, padrões alimentares, medicina popular e religiosidade) Expectativas Linguagem o Comunidade: Recursos disponíveis Condições sanitárias Objetos sociais o Conseguir do paciente uma predisposição positiva para dar informações o Estar atento a indícios subliminares o Controlar suas próprias manifestações EXAME FÍSICO A inspeção, palpação, percussão e ausculta têm grande significado psicológico e de consolidação da relação médico-paciente que teve início na anamnese. Executado com devido respeito mútuo, seriedade e segurança. SEGUIMENTO OU FOLLOW-UP Parte integrante do exame clínico, é a observação sistemática do doente durante a evolução de sua enfermidade, torna-se usual a expressão monitorar por manter a constante observação os dados clínicos. Para simplificar, restringe-se aos sinais vitais: temperatura, pulso, pressão arterial, frequência respiratória, nível de consciência e dor. O seguimento poderá ser feito a curto, médio e longo prazo (ou resto da vida), seja pela anamnese, exame físico geral e dirigido ou dados clínicos, por meio dos quais é feita a avaliação dos resultados terapêuticos. Da mesma forma, serve para aprofundamento da relação médico-paciente. ANAMNESE Aná = trazer de novo e mnesis = memória Significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e a pessoa doente, se bem feita culmina em decisões diagnósticas e terapêuticas corretas. Objetivos da anamnese: Estabelecer as condições adequadas para uma relação médico-paciente. Conhecer os determinantes epidemiológicos que influenciam no processo saúde-doença. Fazer a história clínica, registrando cronologicamente o problema atual de saúde. Conhecer fatores pessoais, familiares e ambientais relacionados. Conhecer os hábitos de vida do paciente, bem como suas condições socioeconômicas e culturais. Deve-se ficar atento a comunicação não verbal, e lembrar que uma boa coleta permite: -Identificar problemas -Determinar o diagnóstico -Planejar e implementar a terapêutica Anamnese bem conduzida é responsável por 85% do diagnóstico. Instrumentos importantes: -Habilidade para comunicação -Acolhimento -Roteiro para condução da entrevista 11 Anielly Cella MANEIRAS DE FAZER ANAMNESE Ativa: o médico deixa o paciente relatarsem intercorrências. Passiva: com um roteiro o médico conduz a entrevista (anamnese dirigida), com o cuidado para não tendenciar as perguntas. Mista: o médico deixa o paciente iniciar o relato para depois conduzir objetivamente. Independente da técnica aplicada, os dados coletados devem ser elaborados. A histórica clínica, portanto, não é o simples registro de uma conversa, mas o resultado de uma entrevista com objetivo explícito, conduzido pelo examinador e cujo conteúdo foi elaborado criticamente por ele. Para uma entrevista de boa qualidade, o médico deve estar interessado no que o paciente tem a dizer, demonstrar compreensão e desejo de ser útil. Doenças agudas ou de início recente demandam menos tempo que doenças de longa duração e sintomatologia variada, aproveita-se também o exame físico para novas indagações. A falta de conhecimento sobre os sintomas e doenças limita a possibilidade de se obter uma investigação clínica completa. Mas o valor prático da anamnese não se restringe ao diagnóstico, a terapêutica sintomática só pode ser planejada com acerto se fundamentada no conhecimento detalhado dos sintomas relatados. O médico tem de estar imbuído da vontade de ajudar o paciente a relatar seus padecimentos, Bickley e Szilagyi (2010) sugerem as seguintes técnicas: Apoio: despertam segurança, dizer “eu compreendo” ou encorajá-lo a prosseguir o relato. Facilitação: por meio de sua postura, ações ou palavras que encorajem, como o gesto de balançar a cabeça. Reflexão: repetição das palavras que o médico considerar mais significativas. Esclarecimento: definir de maneira mais clara o que o paciente está relatando. Confrontação: mostrar ao paciente algo acerca de suas próprias palavras ou comportamento. Interpretação: observações a partir do que vai notando no relato ou comportamento do paciente. Resposta empática: palavras, gestos ou atitudes, como colocar a mão no braço, oferecer lenço ou dizer que compreende, desde que com cuidado, pois pode desencadear reações inesperadas. Silêncio: respeitar o tempo do paciente. Os sintomas serão descritos na linguagem comum, cabendo ao médico encontrar o termo científico correspondente. 12 Anielly Cella ELEMENTOS COMPONENTES DA ANAMNESE Data e horário Identificação (ID): perfil sociodemográfico que possibilita a interpretação dos dados individuais e coletivos. o Nome, idade, sexo/gênero, cor/etnia, estado civil, naturalidade (onde nasceu), procedência (de onde veio), residência (onde mora), religião e profissão. Queixa principal (QP): anota-se com as palavras do paciente o motivo da consulta. o Pergunta-se: qual o motivo da consulta? Porque o(a) senhor(a) me procurou? O que está lhe incomodando? História da doença atual (HDA): registro cronológico e detalhado do motivo que levou a paciente a procurar assistência médica, desde o início até a data atual. o Determine o sintoma-guia (mais significante ou queixa principal) e descreva-o. Início (agudo ou progressivo), fator desencadeante, características, fatores de melhora ou piora, relação com outras queixas, evolução e situação atual. Exemplos: Dor: início (agudo/progressivo e tempo), fator desencadeante, localização, tipo (pontada/queimação/aperto), irradiação, intensidade, fator/decúbito de melhora e piora, duração (intermitente/contínuo), evolução, situação atual e sintomas associados. Diarreia/vômito: início, fator desencadeante, intensidade, aspecto (cor, odor, densidade líquida/pastosa, presença de muco/sangue), duração (intermitente/contínua), fator de melhora/piora, evolução, situação atual e sintomas associados. Febre: início, fator desencadeante, intensidade (graus), duração (intermitente/contínua), fator de melhora/piora, evolução, situação atual e sintomas associados. Tosse: início, fator desencadeante, intensidade, seca ou produtiva/expectoração (quantidade, cor e odor), fatores de melhora/piora, evolução, situação atual e sintomas associados. o Estabeleça relações das outras queixas com o sintoma guia. o Não induza respostas Caso 1 – Paciente refere que há 5 dias iniciou tosse produtiva com expectoração inicialmente esbranquiçada, que se tornou amarelada, abundante e fétida. A tosse melhora com xarope e piora com o tempo frio. Relata febre diária (não medida) e dor torácica difusa associada. Refere que os sintomas pioraram há um dia e que não consegue trabalhar. Nega dispneia. Caso 2 – Paciente, 55 anos, masculino, DM desde os 30 anos, DRC em HD desde os 53 anos, relata dor precordial de forte intensidade (nota 9 de 10), que iniciou há cerca de três meses, desencadeado pelo esforço físico (subir uma ladeira ou escada), é contínua, irradia para o braço esquerdo e mandíbula. Acompanhada de sudorese e náuseas, que melhora em repouso e com uso de nitratos sublingual. Na última semana vem apresentando dispneia progressiva aos medianos esforços. Tais sintomas tem deixado a paciente muito preocupada, o que está prejudicando suas atividades cotidianas. Caso 3 – Paciente relata que há 3 dias iniciou com febre diária (não aferida), 1 pico febril por dia, com duração de aproximadamente uns 30 min, que melhora após o uso de antitérmico (paracetamol) e chás caseiros. Refere ainda tosse seca, coriza, espirros e dor no corpo. Conta que os sintomas se intensificaram nas ultimas horas. Nega dor torácica, nega dispneia. Caso 4 – Mãe refere início de lombalgia há cerca de uma semana, bilateral, de intensidade moderada, sem fator desencadeante, que melhora parcialmente com uso de ibuprofeno. No primeiro dia o quadro era associado com vômitos alimentares (4 episódios). Há cerca de 4 dias foi atendida nesta unidade, quando recebeu hidratação venosa e realizou um hemograma sem alterações (SIC). Recebeu alta no mesmo dia após remissão dos sintomas. Nas últimas 24 horas houve retorno do quadro de lombalgia bilateral e um episódio de disúria. Nega febre. Aceita bem a dieta. Fezes sem alterações macroscópicas. 13 Anielly Cella Interrogatório sintomatológico ou por sistemas (IS): complemento da HDA, documenta a presença ou ausência dos sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. Reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. o Antes de iniciar explique que fará perguntas de todos os sistemas do corpo. o Não induza respostas com perguntas que afirmam ou negam. o Ver anexo: definições para o IS. 14 Anielly Cella ANTECEDENTES PESSOAIS Fisiológicos: o Gestação e condições de nascimento o Desenvolvimento neuropsicomotor o Aproveitamento escolar o Puberdade, menarca, atividades sexuais, climatério. o Gestações, partos, abortos. Patológicos (História Médica Pregressa) o Infecções, infestações, doenças degenerativas/crônicas. o Alergias o Cirurgias o Traumatismos o Medicamentos (tipo e motivo) o Doenças psíquicas (evolução e tratamentos) ANTECEDENTES FAMILIARES Pessoas que convivem com o paciente, parentes (predisposição genética) ou não (estado de saúde e doenças infecciosas). Contato com vizinhos e animais. HISTÓRIA SOCIAL Habitação, saneamento básico, coleta de lixo, higiene, alimentação, atividade física, trabalho, tabagismo e alcoolismo (tempo, quantidade diária e tipo), uso de drogas, sono, recreação, nível educacional, ISTs. relação médico-paciente hipócrates princípios bioéticos ética – ninguém nasce ético mecanismos psicodinâmicos da relação médico-paciente padrões de comportamentos médicos o paciente atendimento centrado na pessoa encontro do estudante de medicina com o paciente curso de medicina como fonte de ansiedade ética código de ética exameclínico anamnese exame físico posições do examinador e do paciente divisão da superfície corporal entrevista exame físico (1) seguimento ou follow-up anamnese elementos componentes da anamnese antecedentes pessoais antecedentes familiares história social
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