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Anamnese ↠ Anamnese (do grego aná –trazer de novo + mnesis –memória) significa trazer de volta à mente todos os fatos relacionados com a doença e o paciente. (PORTO, 8ª ed.) ↠ De início, deve-se ressaltar que a anamnese é a parte mais importante da medicina: primeiro, porque é o núcleo em torno do qual se desenvolve a relação médico- paciente, que, por sua vez, é o principal pilar do trabalho do médico; segundo, porque é cada vez mais evidente que o progresso tecnológico somente é bem utilizado se o lado humano da medicina é preservado. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A anamnese, se bem feita, culmina em decisões diagnósticas e terapêuticas corretas; se mal feita, em contrapartida, desencadeia uma série de consequências negativas, as quais não podem ser compensadas com a realização de exames complementares, por mais sofisticados que sejam. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Como a anamnese é uma entrevista, são necessárias a ela a comunicação não verbal, a verbal e a escrita. Uma anamnese verdadeira sai da boca do paciente, mas o médico deve ser cooperativo, atento, cuidadoso e direcionador. (SOARES et al., 2014) POSSIBILIDADES E OBJETIVOS DA ANAMNESE ➢ Estabelecer condições para uma adequada relação médico-paciente; ➢ Conhecer, por meio da identificação, os determinantes epidemiológicos que influenciam o processo saúde-doença de cada paciente; ➢ Fazer a história clínica, registrando, detalhada e cronologicamente, o(s) problema(s) de saúde do paciente; ➢ Registrar e desenvolver práticas de promoção da saúde; ➢ Avaliar o estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais, familiares e ambientais que influenciam seu processo saúde- doença; ➢ Conhecer os hábitos de vida do paciente, bem como suas condições socioeconômicas e culturais; ➢ Avaliar, de maneira clara, os sintomas de cada sistema corporal. ↠ Em essência, a anamnese é uma entrevista, e o instrumento de que nos valemos é a palavra falada. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Em situações especiais (pacientes surdos ou pacientes com dificuldades de sonorização), dados da anamnese podem ser obtidos por meio da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras), da palavra escrita ou mediante tradutor (acompanhante e/ou cuidador que compreenda a comunicação do paciente). (PORTO, 8ª ed.) ↠ A anamnese necessita de entrevista organizada em métodos que privilegiam a solução da complexa relação médico-paciente, com o intuito de alterar o posicionamento do médico, deixando o lado entrevistador e favorecendo o lado ouvinte, capaz de promover a saúde e prevenindo as doenças que acometem os pacientes (LIMA et al., 2021 apud SOARES et al, 2016). ↠ O diálogo entre o médico e o paciente tem objetivo e finalidade preestabelecidos, ou seja, a reconstituição dos fatos e dos acontecimentos direta ou indiretamente relacionados com uma situação anormal da vida do paciente. (PORTO, 8ª ed.) Maneiras de se fazer anamnese A anamnese pode ser conduzida das seguintes maneiras: ➢ Deixar o paciente relatar, livre e espontaneamente, suas queixas sem nenhuma interferência, limitando-se a ouvi-lo. Essa técnica é recomendada e seguida por muitos clínicos. O psicanalista apoia-se integralmente nela e chega ao ponto de se colocar em uma posição na qual não possa ser visto pelo paciente, para que sua presença não exerça influência inibidora ou coercitiva. (PORTO, 8ª ed.) ➢ De outra maneira, denominada anamnese dirigida, o médico, tendo em mente um esquema básico, conduz a entrevista mais objetivamente. O uso dessa técnica exige rigor técnico e cuidado na sua execução, de modo a não se deixar levar por ideias preconcebidas. (PORTO, 8ª ed.) ➢ Outra maneira é o médico deixar, inicialmente, o paciente relatar de maneira espontânea suas queixas, para depois conduzir a entrevista de modo mais objetivo. (PORTO, 8ª ed.) Com a crescente capacidade de o paciente obter informações sobre sintomas, doenças, tratamentos, especialmente nos sites de busca da internet, está surgindo um novo tipo de entrevista que pode ser chamado de “anamnese dialogada”. Em vez do tradicional relato passa a haver um diálogo amparado nas informações obtidas pelo paciente e nos conhecimentos científicos do médico. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A história clínica, portanto, não é o simples registro de uma conversa. É mais do que isso: é o resultado de uma entrevista com objetivo explícito, conduzida pelo @jumorbeck examinador e cujo conteúdo foi elaborado criticamente por ele. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Para fazer uma entrevista de boa qualidade, antes de tudo o médico deve estar interessado no que o paciente tem a dizer. Ao mesmo tempo, é necessário demonstrar compreensão e desejo de ser útil àquela pessoa. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A pressa é o defeito de técnica mais grosseiro que se pode cometer durante a obtenção da história. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Há muitas doenças cujos diagnósticos são feitos quase exclusivamente pela história, como, por exemplo, epilepsia, enxaqueca e neuralgia do trigêmeo, isso sem se falar dos transtornos psiquiátricos, cujo diagnóstico apoia- se integralmente nos dados da anamnese. (PORTO, 8ª ed.) Recomendações práticas para se fazer uma boa anamnese ↠ É no primeiro contato que reside a melhor oportunidade para fundamentar uma boa relação entre o médico e o paciente. Perdida essa oportunidade, sempre existirá um hiato intransponível entre um e outro. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Cumprimente o paciente, perguntando logo o nome dele e dizendo-lhe o seu. Não use termos como “vovô”, “vovó”, “vozinho”, “vozinha” para as pessoas idosas. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Demonstre atenção ao que o paciente está falando e procure identificar de pronto alguma condição especial – dor, sonolência, ansiedade, hostilidade, tristeza, confusão mental – para que você saiba a maneira de conduzir a entrevista. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Conhecer e compreender as condições socioculturais do paciente representa uma ajuda inestimável para reconhecer a doença e entender o paciente. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Ter sempre o cuidado de não sugestionar o paciente com perguntas que surgem de ideias preconcebidas. (PORTO, 8ª ed.) ↠ O tempo reservado à anamnese distingue o médico competente do incompetente, o qual tende a transferir para as máquinas e o laboratório a responsabilidade do diagnóstico. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Sintomas bem investigados e mais bem compreendidos abrem caminho para um exame físico objetivo. Isso poderia ser anunciado de outra maneira: só se acha o que se procura e só se procura o que se conhece. (PORTO, 8ª ed.) ↠A causa mais frequente de erro diagnóstico é uma história clínica mal obtida. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Somente a anamnese possibilita ao médico uma visão de conjunto do paciente, indispensável para a prática de uma medicina de excelência (PORTO, 8ª ed.) Semiotécnica da anamnese ↠ Não basta pedir ao paciente que relate sua história e anotá-la. Muitos pacientes têm dificuldade para falar e precisam de incentivo; outros – e isto é mais frequente – têm mais interesse em narrar as circunstâncias e os acontecimentos paralelos do que relatar seus padecimentos. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Aliás, o paciente não é obrigado a saber como deve relatar suas queixas. O médico é que precisa saber como obtê-las. (PORTO, 8ª ed.) ↠ O médico tem de estar imbuído da vontade de ajudar o paciente a relatar seus padecimentos. Para conseguir tal intento, Bickley e Szilagyi (2010) sugerem que o examinador utilize uma ou mais das seguintes técnicas: apoio, facilitação, reflexão, esclarecimento, confrontação, interpretação, respostas empáticas e silêncio. (PORTO, 8ª ed.) ➢ Afirmações de apoio despertam segurança no paciente. Dizer, por exemplo, “Eu compreendo” em momento de dúvida pode encorajá-lo a prosseguir no relato de alguma situação difícil. ➢ O médico consegue facilitar o relato do paciente por meio de sua postura, de ações ou palavras que o encorajem,mesmo sem especificar o tópico ou o problema que o incomoda. O gesto de balançar a cabeça levemente, por exemplo, pode significar para o paciente que ele está sendo compreendido. ➢ A reflexão é muito semelhante à facilitação e consiste basicamente na repetição das palavras que o médico considerar as mais significativas durante o relato do paciente. ➢ O esclarecimento é diferente da reflexão porque, nesse caso, o médico procura definir de maneira mais clara o que o paciente está relatando. Por exemplo, se o paciente se refere @jumorbeck à tontura, o médico, por saber que esse termo tem vários significados, procura esclarecer a qual deles o paciente se refere (vertigem? Sensação desagradável na cabeça?). ➢ A confrontação consiste em mostrar ao paciente algo acerca de suas próprias palavras ou comportamento. Por exemplo, o paciente mostra-se tenso, ansioso e com medo, mas diz ao médico que “está tudo bem”. Aí, o médico pode confrontá-lo da seguinte maneira: “Você diz que está tudo bem, mas por que está com lágrimas nos olhos?” Essa afirmativa pode modificar inteiramente o relato do paciente. ➢ Na interpretação, o médico faz uma observação a partir do que vai notando no relato ou no comportamento do paciente. Por exemplo: “Você parece preocupado com os laudos das radiografias que me trouxe.” ➢ A resposta empática é a intervenção do médico mostrando “empatia”, ou seja, compreensão e aceitação sobre algo relatado pelo paciente. A resposta empática pode ser por palavras, gestos ou atitudes: colocar a mão sobre o braço do paciente, oferecer um lenço se ele estiver chorando ou apenas dizer a ele que compreende seu sofrimento. No entanto, é necessário cuidado com esse tipo de procedimento. A palavra ou gesto do médico pode desencadear uma reação inesperada ou até contrária por parte do paciente. ➢ Há momentos na entrevista em que o examinador deve permanecer calado, mesmo correndo o risco de parecer que perdeu o controle da conversa. O silêncio pode ser o mais adequado quando o paciente se emociona ou chora. Saber o tempo de duração do silêncio faz parte da técnica e da arte de entrevistar. Elementos componentes da anamnese ↠ A anamnese é classicamente desdobrada nas seguintes partes: identificação, queixa principal, história de doença atual (HDA), interrogatório sintomatológico (IS), antecedentes pessoais e familiares, hábitos e estilo de vida, condições socioeconômicas e culturais. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Esta divisão visa contemplar o paciente como um todo e promover sua saúde. (LIMA et al, 2021) COMPONENTES DA ANAMNESE IDENTIFICAÇÃO Perfil sociodemográfico que possibilita a interpretação dos dados individuais e coletivos do paciente. QUEIXA PRINCIPAL É o motivo da consulta. Sintomas ou problemas que motivaram o paciente a procurar atendimento. HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL Registro cronológico e detalhado do problema atual de saúde do paciente. INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO Avaliação detalhada dos sintomas de cada sistema corporal. Complementar a HDA e avaliar. ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES Avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatores pessoais. HÁBITOS DE VIDA Documentar hábitos e estilo de vida do paciente, incluindo ingesta alimentar diária e usual, prática utilização de outras substâncias e drogas ilícitas. CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS Avaliar as condições de habitação do paciente, além de vínculos afetivos familiares, condições escolaridade. IDENTIFICAÇÃO ↠ A identificação é o perfil sociodemográfico do paciente que permite a interpretação de dados individuais e coletivos. Apresenta múltiplos interesses; o primeiro deles é de iniciar o relacionamento com o paciente, saber o nome de uma pessoa é indispensável para que se comece um processo de comunicação em nível afetivo. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Além do interesse clínico, também dos pontos de vista pericial, sanitário e médico-trabalhista, esses dados são de relevância para o médico. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A data em que é feita a anamnese é sempre importante e, quando as condições clínicas modificam-se com rapidez, convém acrescentar a hora. (PORTO, 8ª ed.) Os elementos descritos a seguir são obrigatórios: ➢ Nome. Primeiro dado da identificação. Nunca é demais criticar o hábito de designar o paciente pelo número do leito ou pelo diagnóstico. “Paciente do leito 5” ou “aquele caso de cirrose hepática da Enfermaria 7” são expressões que jamais devem ser usadas para caracterizar uma pessoa. @jumorbeck ➢ Idade. Cada grupo etário tem sua própria doença, e bastaria essa assertiva para tornar clara a importância da idade. ➢ Sexo/gênero. Há enfermidades que só ocorrem em determinado sexo. ➢ Cor/etnia. Embora não sejam coisas exatamente iguais, na prática elas se confundem. Em nosso país, onde existe uma intensa mistura de etnias, é preferível o registro da cor da pele como faz o IBGE usando-se a seguinte nomenclatura: cor branca, cor parda, cor preta. ➢ Estado civil. Não só os aspectos sociais referentes ao estado civil podem ser úteis ao examinador. Aspectos médico-trabalhistas e periciais podem estar envolvidos, e o conhecimento do estado civil passa a ser um dado valioso. ➢ Profissão. É um dado de crescente importância na prática médica, e sobre ele teceremos algumas considerações em conjunto com o item que se segue. ➢ Local de trabalho. Não basta registrar a ocupação atual. Faz-se necessário indagar sobre outras atividades já exercidas em épocas anteriores. ➢ Naturalidade. Local onde o paciente nasceu. ➢ Procedência. Este item geralmente refere-se à residência anterior do paciente. ➢ Residência. Anota-se a residência atual. Nesse local deve ser incluído o endereço do paciente. As doenças infecciosas e parasitárias se distribuem pelo mundo em função de vários fatores, como climáticos, hidrográficos e de altitude. Conhecer o local da residência é o primeiro passo nessa área. ➢ Nome da mãe. Anotar o nome da mãe do paciente é uma regra comum nos serviços de saúde no sentido de diferenciar os pacientes homônimos. ➢ Nome do responsável, cuidador e/ou acompanhante. O registro do nome do responsável, cuidador e/ou acompanhante de crianças, adolescentes, pessoas idosas, tutelados ou incapazes (problemas de cognição, por exemplo) faz-se necessário para que se firme a relação de corresponsabilidade ética no processo de tratamento do paciente. ➢ Religião. A religião à qual o paciente se filia tem relevância no processo saúde-doença. ➢ Filiação a órgãos/instituições previdenciárias e planos de saúde. Ter conhecimento desse fato possibilita o correto encaminhamento para exames complementares, outros especialistas ou mesmo a hospitais, nos casos de internação. O cuidado do médico em não onerar o paciente, buscando alternativas dentro do seu plano de saúde, é fator de suma importância na adesão ao tratamento proposto. QUEIXA PRINCIPAL OU MOTIVO DA CONSULTA ↠ Registra-se a queixa principal ou, mais adequadamente, o motivo que levou o paciente a procurar o médico, repetindo, se possível, as expressões por ele utilizadas. (PORTO, 8ª ed.) ↠ É uma afirmação breve e espontânea, geralmente um sinal ou um sintoma, nas próprias palavras da pessoa que expressa o motivo da consulta. Pode ser uma anotação entre aspas para indicar que se trata das palavras exatas do paciente. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Não aceitar, tanto quanto possível, “rótulos diagnósticos” referidos à guisa de queixa principal . (PORTO, 8ª ed.) HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL ↠ A história da doença atual (HDA) é um registro cronológico e detalhado do motivo que levou o paciente a procurar assistência médica, desde o seu início até a data atual. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A HDA, abreviatura já consagrada no linguajar médico, é a parte principal da anamnese e costuma ser a chave mestra parachegar ao diagnóstico. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Histórias simples e curtas x Histórias longas e complexas. (PORTO, 8ª ed.) NORMAS PARA SE OBTER UMA BOA HDA ➢ Deixe que o paciente fale sobre sua doença. ➢ Identifique o sintoma-guia. ➢ Descreva o sintoma-guia com suas características e analise- o minuciosamente. ➢ Use o sintoma-guia como fio condutor da história e estabeleça as relações das outras queixas com ele em ordem cronológica. ➢ Verifique se a história obtida tem começo, meio e fim. ➢ Não induza respostas. ➢ Apure evolução, exames e tratamentos realizados em relação à doença atual. ➢ Resuma a história que obteve para o paciente, a fim de ele possa confirmar ou corrigir algum dado ou acrescentar alguma informação esquecida. @jumorbeck SINTOMAGUIA ↠ Designa-se como sintoma-guia o sintoma ou sinal que permite recompor a história da doença atual com mais facilidade e precisão. (PORTO, 8ª ed.) ↠ O passo seguinte é determinar a época em que teve início aquele sintoma. (PORTO, 8ª ed.) ↠ O terceiro passo consiste em investigar a maneira como evoluiu o sintoma. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Concomitantemente com a análise da evolução do sintoma- guia, o examinador estabelece as correlações e as interrelações com outras queixas. (PORTO, 8ª ed.) ESQUEMA PARA ANÁLISE DE UM SINTOMA ➢ Início; ➢ Características do sintoma; ➢ Fatores de melhora ou piora; ➢ Relação com outras queixas; ➢ Evolução; ➢ Situação atual. INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO ↠ O interrogatório sintomatológico documenta a existência ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A principal utilidade prática do interrogatório sintomatológico reside no fato de permitir ao médico levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação com o quadro sintomatológico registrado na HDA. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Em outras ocasiões, é no interrogatório sintomatológico que se origina a suspeita diagnóstica mais importante. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Enquanto se avalia o estado de saúde passado e presente de cada sistema corporal, aproveita-se para promover saúde, orientando e esclarecendo o paciente sobre maneiras de prevenir doenças e evitar riscos à saúde. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Para tirar o máximo proveito das atividades práticas, o estudante deve registrar os sintomas presentes e os negados pelo paciente. (PORTO, 8ª ed.) IMPORTÂNCIA DO INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO Embora o IS seja a parte mais longa da anamnese e pareça ao estudante algo cansativo e muitas vezes inútil, convém ressaltar que: (PORTO, 8ª ed.) ➢ A proposta de atender ao paciente de maneira global inclui o conhecimento de todos os sistemas corporais em seus sintomas e na dimensão da promoção da saúde. ➢ Pensando no paciente como um ser mutável e em desenvolvimento, é necessário que se registre o estado atual de todo o seu organismo, para se ter um parâmetro no caso de futuras queixas e adoecimento. ➢ Muitas vezes, o adoecimento de um sistema corporal tem correlação com outro sistema, e há necessidade de tal conhecimento para adequar a proposta terapêutica. ➢ Por fim, vale a pena incluir na fase de aprendizagem da anamnese o interrogatório sintomatológico, porque adquire-se uma visão de conjunto dos sinais e sintomas, conhecimento que será útil a todo médico. SISTEMATIZAÇÃO DO INTERROTAGÓRIO SINTOMATOLÓGICO ➢ Sintomas gerais: febre, sudorese, astenia, cãibras. ➢ Pele e fâneros: alterações da pele (cor, textura, lesões, sensibilidade), alterações dos fâneros (queda de cabelo, alterações nas unhas). ➢ Cabeça e pescoço: crânio, face e pescoço (dor, alterações do pescoço – tumorações), olhos (prurido, olho seco, diplopia), orelhas (dor, otorreia, zumbidos), nariz e cavidades paranasais (prurido, dor, espirros) cavidade bucal e anexos (halitose, dor de dente), faringe (dor de garganta, tosse, ronco), laringe (dor, dispneia, disfagia), tireoide e paratireoides (dor, nódulo), vasos e linfonodos (dor, linfadenomegalias). ➢ Tórax (parede torácica, traqueia, brônquios, pulmões e pleuras, diafragma e mediastino, coração e grandes vasos – palpitações, esôfago – pirose). ➢ Abdome (parede abdominal, estômago, intestino delgado, cólon, reto, anus, fígado e vias biliares, pâncreas). ➢ Sistema geniturinário (rins e vias urinárias, órgãos genitais masculinos, órgãos genitais femininos). ➢ Sistema hemolinfopoético. ➢ Sistema endócrino. ➢ Coluna vertebral, ossos, articulações e extremidades. ➢ Músculos. ➢ Artérias, veias, linfáticos e microcirculação. ➢ Sistema nervoso ➢ Exame psíquico e avaliação das condições emocionais. ↠ Antes de iniciar o interrogatório sintomatológico (IS), explique ao paciente que você irá fazer questionamentos sobre todos os sistemas corporais (revisão “da cabeça aos pés”), mesmo não tendo relação com o sistema que o motivou a procura-lo. Assim, você terá @jumorbeck preparado o paciente para a série de perguntas que compõe o IS. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Inicie a avaliação de cada sistema corporal com essas perguntas gerais. Exemplos: “Como estão seus olhos e visão?”, “Como anda sua digestão?” ou “Seu intestino funciona regularmente?”. A resposta permitirá que você, se necessário, passe para perguntas mais específicas, e, assim, detalhe a queixa. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Não induza respostas com perguntas que afirmem ou neguem o sintoma, como por exemplo: “O senhor está com falta de ar, não é?” ou “O senhor não está com falta de ar, não é mesmo?” Nesse caso, o correto é apenas questionar: “O senhor sente falta de ar?” (PORTO, 8ª ed.) ANTECEDENTES PESSOAIS ↠ Considera-se avaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo fatores pessoais e familiares que influenciam seu processo saúde-doença. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Os passos a serem seguidos abrangem os antecedentes fisiológicos e antecedentes patológicos. (PORTO, 8ª ed.) Antecedentes pessoais fisiológicos ➢ Gestação e nascimento: como decorreu a gravidez, condições de parto (normal, fórceps, cesariana), ordem do nascimento (se é primogênito, segundo filho etc.), número de irmãos. ➢ Desenvolvimento psicomotor e neural: dentição, fala, controle dos esfíncteres. ➢ Desenvolvimento sexual: início da puberdade, menarca, sexarca, menopausa, orientação sexual. Antecedentes pessoais patológicos ➢ Doenças sofridas pelo paciente: mais comuns na infância (sarampo, varicela, amigdalites) e passando às da vida adulta (pneumonia, hepatite, hipertensão arterial, diabetes) ➢ Alergia: existência de alergia a alimentos, medicamentos ou outras substâncias. ➢ Cirurgias: os motivos que determinaram. ➢ Traumatismo: indagar sobre o acidente em si e sobre as consequências deste. ➢ Transfusões sanguíneas: número de transfusões, quando ocorreu e por quê. ➢ História obstétrica: número de gestações (G), de partos (P), de abortos (A), de prematuros e de cesarianas (C) (G_P_A_C_). Caso o paciente seja do seco masculino, indaga-se o número de filhos. ➢ Vacinas: anotar quais vacinas e a época de aplicação. ➢ Medicamentos em uso: anotar nome, posologia, motivo, quem prescreveu. ↠ Perguntas sobre a sexualidade devem ser feitas após já se ter conversado algum tempo com o paciente; assim, ele fica mais descontraído e o estudante não se sente tão constrangido. ↠ Lembre-se sempre que o que é perguntado de maneira adequada, sem demonstrar preconceito, é respondido também com tranquilidade. ↠ Mostre-se sempre tranquilo, sem sinais de discriminação, seja qual for a informação do paciente. ANTECEDENTES FAMILIARES ↠ Os antecedentes começam com a menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente. Se for casado, inclui-se o cônjuge e, se tiver filhos, estes são referidos. Não se esquecer dos avós, tios e primos paternos e maternos do paciente. Se tiver algum doente na família,esclarecer a natureza da enfermidade. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Em caso de falecimento, indagar a causa do óbito e a idade em que ocorreu. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Quando o paciente é portador de uma doença de caráter hereditário torna-se imprescindível um levantamento genealógico mais rigoroso. (PORTO, 8ª ed.) HÁBITOS E ESTILO DE VIDA ↠ Item, muito amplo e heterogêneo, documenta hábitos e estilo de vida do paciente e está desdobrado nos seguintes tópicos: alimentação; ocupação atual e ocupações anteriores; atividades físicas; hábitos. (PORTO, 8ª ed.) ALIMENTAÇÃO ↠ Toma-se como referência o que seria a alimentação adequada para aquela pessoa em função da idade, do sexo e do trabalho desempenhado. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Induz-se o paciente a discriminar sua alimentação habitual, especificando, tanto quanto possível, o tipo e a quantidade dos alimentos ingeridos – é o que se chama anamnese alimentar. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Devemos questionar principalmente sobre o consumo de alimentos à base de carboidratos, proteínas, gorduras, @jumorbeck fibras, bem como de água e outros líquidos. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Assim procedendo, o examinador poderá fazer uma avaliação quantitativa e qualitativa, ambas com interesse médico. (PORTO, 8ª ed.) Sintetizadas as conclusões mais frequentes: ➢ Alimentação quantitativa e qualitativamente adequada ➢ Reduzida ingesta de fibras ➢ Insuficiente consumo de proteínas, com alimentação à base de carboidratos ➢ Consumo de calorias acima das necessidades ➢ Alimentação com alto teor de gorduras ➢ Reduzida ingesta de verduras e frutas OCUPAÇÃO ATUAL E OCUPAÇÕES ANTERIORES ↠ Obter informações sobre a natureza do trabalho desempenhado, com que substâncias entra em contato, quais as características do meio ambiente e qual o grau de ajustamento ao trabalho. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Devemos questionar e obter informações tanto da ocupação atual quanto das ocupações anteriores exercidas pelo paciente. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Os dados relacionados com este item são chamados história ocupacional. Voltamos a chamar a atenção para a crescente importância médica e social da medicina do trabalho. (PORTO, 8ª ed.) ATIVIDADES FÍSICAS ↠ Torna-se cada dia mais clara a relação entre muitas enfermidades e o tipo de vida levado pela pessoa no que concerne à prática de exercícios físicos. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Devemos questionar qual tipo de exercício físico realiza, frequência.); duração e tempo que pratica. (PORTO, 8ª ed.) Uma classificação prática é a que se segue: ➢ Pessoas sedentárias ➢ Pessoas que exercem atividades físicas moderadas ➢ Pessoas que exercem atividades físicas intensas e constantes ➢ Pessoas que exercem atividades físicas ocasionais. HÁbitos ↠ A investigação deste item exige habilidade, discrição e perspicácia. Uma afirmativa ou uma negativa sem explicações por parte do paciente não significa necessariamente a verdade! (PORTO, 8ª ed.) ↠ Deve-se investigar sistematicamente o uso de tabaco, bebidas alcoólicas, anabolizantes, anfetaminas e drogas ilícitas. (PORTO, 8ª ed.) Uso de tabaco: ↠ O consumo de tabaco, droga socialmente aceita, não costuma ser negado pelos pacientes, exceto quando tenha sido proibido de fumar. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Diante disso, nenhuma anamnese está completa se não se investigar esse hábito, registrando-se tipo, quantidade, frequência, duração do vício e abstinência. (PORTO, 8ª ed.) Bebidas Alcoólicas: ↠ A ingestão de bebidas alcoólicas também é socialmente aceita, mas muitas vezes é omitida ou minimizada por parte dos pacientes. (PORTO, 8ª ed.) ↠ O próprio etilismo, em si, uma doença de fundo psicossocial, deve ser colocado entre as enfermidades importantes e mais difundidas atualmente. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Não se deve deixar de perguntar sobre o tipo de bebida e a quantidade habitualmente ingerida, bem como frequência, duração do vício e abstinência. (PORTO, 8ª ed.) Uso de anabolizantes e anfetaminas: ↠ O uso de anabolizantes por jovens frequentadores de academias de ginástica tornou-se uma preocupação, pois tais substâncias levam à dependência e estão correlacionadas com doenças cardíacas, renais, hepáticas, endócrinas e neurológicas. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A utilização de anfetaminas, de maneira indiscriminada, leva à dependência química e, comprovadamente, causa prejuízos à saúde. (PORTO, 8ª ed.) Consumo de drogas ilícitas: ↠ As drogas ilícitas incluem maconha, cocaína, heroína, ecstasy, LSD, crack, oxi, chá de cogumelo, inalantes (cola de sapateiro, lança perfume). (PORTO, 8ª ed.) ↠ A investigação clínica de um paciente que usa drogas ilícitas não é fácil. Há necessidade de tato e perspicácia. O médico deve integrar informações provenientes de todas as fontes disponíveis, principalmente de familiares. (PORTO, 8ª ed.) @jumorbeck CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS ↠ As condições socioeconômicas e culturais avaliam a situação financeira, vínculos afetivos familiares, filiação religiosa e crenças espirituais do paciente, bem como condições de moradia e grau de escolaridade. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Este item está desdobrado em: habitação, condições socioeconômicas, condições culturais, vida conjugal e relacionamento familiar. (PORTO, 8ª ed.) HABITAÇÃO ↠ Importância considerável tem a habitação. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Na zona rural, pela sua precariedade, as casas comportam-se como abrigos ideais para numerosos reservatórios e transmissores de doenças infecciosas e parasitárias. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Na zona urbana, a diversidade de habitação é um fator importante. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A habitação não pode ser vista como fato isolado, porquanto ela está inserida em um meio ecológico do qual faz parte. (PORTO, 8ª ed.) ↠ É importante questionar sobre as condições de moradia: se mora em casa ou apartamento; se a casa é feita de alvenaria ou não; qual a quantidade de cômodos; se conta com saneamento básico (água tratada e rede de esgoto), com coleta regular de lixo; se abriga animais domésticos, entre outros. Indaga-se também sobre o contato com pessoas ou animais doentes. Se afirmativo, questiona-se sobre onde e quando ocorreu e sobre a duração do contato. (PORTO, 8ª ed.) ↠ A poluição do ar, a poluição sonora e visual, os desmatamentos e as queimadas, todos são fatores relevantes na análise do item habitação, podendo propiciar o surgimento de várias doenças. (PORTO, 8ª ed.) CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS ↠ Os primeiros elementos estão contidos na própria identificação do paciente; outros são coletados no decorrer da anamnese. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Se houver necessidade de mais informações, indagar- se-á sobre renda mensal, situação profissional, dependência econômica de parentes ou instituição. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Todo médico precisa conhecer as possibilidades econômicas de seu paciente, principalmente sua capacidade financeira para comprar medicamentos e realizar exames complementares.. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Quanto à escolaridade, é importante saber se o paciente é analfabeto ou alfabetizado. Vale ressaltar se o paciente completou o ensino fundamental, o ensino médio ou se tem nível superior. Tais informações são fundamentais na compreensão do processo saúde- doença. (PORTO, 8ª ed.) VIDA CONJUGAL E RELACIONAMENTO FAMILIAR ↠ Investiga-se o relacionamento entre pais e filhos, entre irmãos e entre cônjuges. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Em várias ocasiões temos salientado as dificuldades da anamnese. Chegamos ao tópico em que essa dificuldade atinge seu máximo. (PORTO, 8ª ed.) ↠ O estudante encontrará dificuldade para andar nesse terreno, pois os pacientes veem nele um “aprendiz”, adotando, em consequência, maior reserva a respeito de sua vida íntima e de suas relações familiares. (PORTO, 8ª ed.) Anamnese abrangente x Anamnese focalizada ↠ No caso de pacientes vistos pela primeira vez no consultório ou hospital, geralmente a opção adotada é conduziruma avaliação abrangente, que inclui todos os componentes da anamnese e um completo exame físico. (BATES, 12ª ed.) ↠ No entanto, em muitas situações, é indicada uma avaliação orientada para problemas ou focalizada mais flexível, principalmente no caso de pacientes que você conheça bem e estejam retornando para uma consulta de rotina ou de pacientes com preocupações específicas e “mais prementes”, como dor de garganta ou dor no joelho. (BATES, 12ª ed.) ↠ A escolha do tipo de anamnese vai depender de diversos fatores: (BATES, 12ª ed.) ➢ Magnitude e a gravidade dos problemas do paciente; ➢ A necessidade de ser minucioso; ➢ O ambiente clínico – hospital ou ambulatório; ➢ Atendimento primário ou especializado; ➢ Tempo disponível. @jumorbeck ANAMNESE ABRANGENTE ANAMNESE FOCALIZADA É adequada para pacientes novos no consultório ou hospital. É adequada para pacientes já conhecidos, principalmente durante consultas de rotina ou urgência. Fornece dados fundamentais e personalizados sobre o paciente Aborda queixas ou sintomas localizados. Fortalece a relação entre o paciente e o profissional de saúde Aplica métodos de exames relevantes à avaliação das queixas ou problemas da maneira mais detalhada e cuidadosa possível Constitui uma linha de base para avaliações futuras Avalia sintomas restritos a um sistema corporal específico ↠ A avaliação abrangente faz mais do que avaliar sistemas de órgãos. É fonte de conhecimentos fundamentais e personalizados sobre o paciente que reforça a relação médico-paciente.. (BATES, 12ª ed.) ↠ No caso do exame mais focalizado, você selecionará os métodos pertinentes para realizar uma avaliação minuciosa do problema em questão. Os sinais/sintomas, a idade e a história de saúde do paciente ajudam a determinar a abrangência do exame focalizado, assim como seu conhecimento sobre padrões das doenças. (BATES, 12ª ed.) Dados subjetivos x Dados objetivos ↠ Os sintomas são dados subjetivos ou o que o paciente conta a você. Os sinais são considerados informações objetivas, ou o que você observa. (BATES, 12ª ed.) DADOS SUBJETIVOS DADOS OBJETIVOS O que o paciente conta a você. O que você detecta durante o exame, os resultados dos exames laboratoriais e dados do exame. Os sintomas e a anamnese, desde a queixa principal até a revisão de sistemas Todos os achados do exame físico ou sinais. Aspectos éticos da comunicação interpares ↠ O encontro entre o paciente e o médico desperta uma grande variedade de sentimentos e emoções, configurando uma relação humana especial, designada através dos tempos, como relação médico-paciente. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Não é uma relação interpessoal como outra qualquer, pois está inserida nela uma grande carga de angústia, medo, incerteza, amor, ódio, insegurança, confiança, que determina uma relação dialética entre o ser doente e aquele que lhe oferece ajuda. (PORTO, 8ª ed.) Relação Médico-Paciente e Princípios Bioéticos ↠ É importante compreender que princípios bioéticos e virtudes morais são partes indissociáveis do exame clínico e estão no núcleo da relação médico-paciente. (PORTO, 8ª ed.) Princípios bioÉticos segundo Beauchamp e Chidress Beneficência: buscar fazer sempre o bem para o paciente. Não maleficência: não fazer nada de mal ao paciente. Justiça: fazer sempre o que é justo ao paciente. Autonomia: possibilitar que o paciente decida sobre o tratamento. Valores BioÉticos Alteridade: respeitar a diferença no outro. Sigilo: respeitar o segredo sobre as informações do paciente. Classificação da relação médico-paciente ClassificaÇÃo da relaÇÃo mÉdico-paciente (Veatche, 1983) Modelo paternalista ou sacerdotal: O médico toma as decisões em nome da beneficência sem valorizar os valores, a cultura e a opinião do paciente, que se coloca em uma posição de completa submissão. Modelo tecnicista ou engenheiral: O médico informa e executa os procedimentos necessários, mas deixa a decisão inteiramente sob a responsabilidade do paciente. Modelo colegial ou igualitário: O médico adota a falsa posição de “colega” do paciente, não levando em conta a inevitável assimetria desta relação. Modelo contratualista. As habilidades e os conhecimentos do médico são valorizados, preservando sua autoridade, mas deseja e valoriza a participação ativa do paciente que vai resultar em uma efetiva troca de informações e um comprometimento de ambas as partes. Características do encontro médico-paciente: Médico ativo/paciente passivo: o paciente abandona-se por completo e aceita passivamente os cuidados médicos, sem mostrar necessidade ou vontade de compreendê- los. Médico direciona/paciente colabora: o profissional assume seu papel de maneira, até certo ponto, autoritária. O @jumorbeck paciente compreende e aceita tal atitude, procurando colaborar. Médico age/paciente participa ativamente: o profissional define os caminhos e os procedimentos, e o paciente compreende e atua conjuntamente. Transferência, contratransferência e resistência ↠ Os principais fenômenos psicodinâmicos da relação médico-paciente são os mecanismos de transferência e contratransferência. Tais conceitos provêm da psicanálise e, na prática médica, constituem um arsenal terapêutico que independe de técnicas psicoterápicas especiais e que é indissociável do trabalho de qualquer médico. (PORTO, 8ª ed.) Transferência Transferência diz respeito aos fenômenos afetivos que o paciente passa (transfere) para a relação que estabelece com o médico ou o estudante. São sentimentos inconscientes vividos no âmbito de seus relacionamentos primários com os pais, irmãos e outros membros da família. Resistência Chama-se resistência qualquer fator ou mecanismo psicológico inconsciente que comprometa ou atrapalhe a relação médico-paciente Contratransferência Os fenômenos relatados também ocorrem em sentido contrário, ou seja, do médico (ou do estudante), para o paciente, sendo denominados contratransferência, ou seja, é a passagem de aspectos afetivos do médico ou do estudante para o paciente. O médico ↠ Na primeira consulta, uma palavra ou um gesto inadequado pode deteriorar a relação entre médico e paciente e aumentar os padecimentos deste último. Isso acontece frequentemente quando os aspectos psicológicos não são valorizados. Compete ao profissional direcionar este encontro a fim de torná-lo o menos angustiante possível (PORTO, 8ª ed.) PadrÕes de comportamento e caracterÍsticas da relaÇÃo mÉdico-paciente Padrão inseguro A insegurança, na maioria das vezes, é um traço de personalidade. Padrão autoritário Sempre impõe suas decisões. Médico sem vocação Desenvolve mecanismos – inconscientes ou claramente propositais – que inibem o paciente. Padrão otimista Não vê gravidade em nada, tudo lhe parece simples e sem gravidade. Padrão “rotulador” Tem sempre pronto um diagnóstico rotulado que agrada o paciente. Padrão “especialista” Não consegue ver o paciente como um todo. Padrão pessimista Vê maior gravidade nas doenças que a real. Padrão “frustrado” Quase sempre pessimista, pode tornar-se agressivo com os pacientes. Padrão agressivo A hostilidade pode se revelar em palavras ofensivas, porém é mais comum disfarçar-se como mau atendimento. Padrão paternalista Adota atitudes protetoras. O paciente ↠ O ser humano é uma unidade biopsicossocial e espiritual, e seus aspectos afetivos são o que mais o diferenciam dos outros animais. O paciente é um ser humano, com uma identidade de gênero e uma determinada orientação sexual, de certa idade, com uma história individual e uma personalidade exclusiva. Para avaliá-lo, o médico se vale de sua capacidade de sentir e de estabelecer um relacionamento positivo ou favorável, ou seja, é preciso que tenha empatia e compaixão. (PORTO, 8ª ed.) Padrões de comportamento dos pacientes↠As pessoas se comportam de maneiras diversas, em função de seu temperamento, suas condições culturais, modo de viver e circunstâncias do momento. (PORTO, 8ª ed.) ↠ Todas as enfermidades têm um componente afetivo, e, ao adoecer, o indivíduo acentua os traços de sua personalidade e expressa no bojo de seu quadro clínico seus distúrbios emocionais. (PORTO, 8ª ed.) Comunicação entre profissionais de saúde e pacientes ou familiares ↠ As más notícias são definidas como aquelas que alteram de forma drástica e negativa a visão do paciente sobre seu futuro. (NETO et al., 2013) @jumorbeck ↠ O processo de comunicação pode gerar sérios impactos psicológicos, de forma que quem recebe uma má notícia geralmente não esquece o local, a data e a forma como esta foi transmitida. (NETO et al., 2013) ↠ Robert Buckman, em 1992, criou o Protocolo SPIKES para orientar os profissionais de saúde a comunicarem más notícias, abordando diretrizes básicas, como: postura do profissional, percepção do paciente, troca de informação, conhecimento, explorar e enfatizar as emoções, estratégias e síntese. (NETO et al., 2013) PROTOCOLO SPIKES (CRUZ; RIERA, 2016) ➢ S - Setting up: Preparando-se para o encontro. Treinar antes é uma boa estratégia. Apesar de a notícia ser triste, é importante manter a calma, pois as informações dadas podem ajudar o paciente a planejar seu futuro. ➢ P – Perception: Percebendo o paciente. Investigue o que o paciente já sabe do que está acontecendo. ➢ I – Invitation: Convidando para o diálogo. Identifique até onde o paciente quer saber do que está acontecendo, se quer ser totalmente informado ou se prefere que um familiar tome as decisões por ele. ➢ K – Knowledge: Transmitindo as informações. Introduções como “infelizmente não trago boas notícias” podem ser um bom começo. Use sempre palavras adequadas ao vocabulário do paciente. ➢ E – Emotions: Expressando emoções. Aguarde a resposta emocional que pode vir, dê tempo ao paciente, ele pode chorar, ficar em silêncio, em choque. ➢ S – Strategy and Summary: Resumindo e organizando estratégias. É importante deixar claro para o paciente que ele não será abandonado, que existe um plano ou tratamento, curativo ou não. ↠ Comunicar más notícias não é uma tarefa fácil. O objetivo do protocolo SPIKES é, de alguma maneira, organizar este momento, ajudando profissionais e pacientes a manter uma comunicação clara e aberta. (CRUZ, RIERA, 2016) VISÃO DO PACIENTE E FAMILIAR A amostra foi constituída de 501 participantes, que responderam um questionário objetivo. Segundo 70,82% (n=347) dos entrevistados, o profissional estava preparado para informar a má notícia, enquanto 29,18% (n=143) o consideraram despreparado. Entre os participantes, 59,27% (n=294) não se consideravam aptos a receber a má notícia, enquanto 40,73% (n=202) se consideravam preparados. Os principais sentimentos citados após o recebimento da má notícia foram: tristeza 35,72% (n=210), indiferença 15,48% (n=91), angústia 12,24% (n=72), desespero 9,35% (n=55) e outros 15,48% (n=91). (NETO et al., 2013) Quanto aos aspectos definidos como mais relevantes no momento de receber uma má notícia, 11,24% (n=91) das pessoas consideraram como principal o local; 12,59% (n=102) afirmaram que a qualidade da informação é mais importante; já 31,11% (n=252) acreditam que a sinceridade do médico é fundamental; enquanto que 14,32% (n=116) acreditam ser a escolha do momento apropriado. Notou-se, ainda, que 25,43% (n=206) das pessoas valorizam a tranquilidade do médico e 5,31% (n=43) outros aspectos, entre os quais 13,95% (n=6) aludiram à necessidade da humanização. (NETO et al., 2013) Código de ética médica CAPÍTULO I – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS II – O alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional. XI – O médico guardará sigilo a respeito das informações de que detenha conhecimento no desempenho de suas funções, com exceção dos casos previstos em lei. XIX – O médico se responsabilizará, em caráter pessoal e nunca presumido, pelos seus atos profissionais, resultantes de relação particular de confiança e executados com diligência, competência e prudência. CAPÍTULO III – RESPONSABILIDADE PROFISSIONAL É vedado ao médico: Art. 1º Causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida. Art. 2º Delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivas da profissão médica. Art. 8º Afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro médico encarregado @jumorbeck do atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave. CAPÍTULO IV – DIREITOS HUMANOS É vedado ao médico: Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dignidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. CAPÍTULO V – RELAÇÃO COM PACIENTES E FAMILIARES É vedado ao médico: Art. 33. Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência quando não houver outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo. Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar dano, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal. Relação médico-estudante/ estudante-paciente ↠ O relacionamento do estudante com o paciente gera inúmeras dúvidas. Segundo Bates, grande parte da tensão nesse cenário envolve a dinâmica de uma equipe de saúde e seu papel como um membro da equipe. (BATES, 12ª ed.) ↠ O estudante deve ajudar no trabalho; contudo, sua função primária é aprender. (BATES, 12ª ed.) ↠ Os princípios de Tavistock, que formam um arcabouço de análise de situações de assistência à saúde que vão além do atendimento direto de pacientes individuais, abordando escolhas complicadas que envolvem interações de equipes de saúde e distribuição de recursos para o bem-estar da sociedade. (BATES, 12ª ed.) ↠ Os princípios de Tavistock são: direitos, equilíbrio, abrangência, cooperação, aprimoramento, segurança e franqueza. (BATES, 12ª ed.) Código de ética do estudante de medicina PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS II - O alvo de toda a atenção do estudante de medicina é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade intelectual. IX - O estudante guardará sigilo a respeito das informações obtidas a partir da relação com os pacientes e com os serviços de saúde. EIXO 3 – RELAÇÕES INTERPESSOAIS DO ESTUDANTE Art. 24: É vedado ao acadêmico de medicina identificar- se como médico, podendo qualquer ato por ele praticado nessa situação ser caracterizado como exercício ilegal da medicina. Art. 26: A realização de atendimento por acadêmico deverá obrigatoriamente ter supervisão médica. Art. 29: A quebra de sigilo médico é de responsabilidade do médico assistente, sendo esse ato vedado ao acadêmico de medicina. Art. 32: O estudante de medicina deve manusear e manter sigilo sobre informações contidas em prontuários, papeletas, exames e demais folhas de observações médicas, assim como limitar o manuseio e o conhecimento dos prontuários por pessoas não obrigadas a sigilo profissional. Referências: LIMA et. al. Anamnese: Uma reflexão da sua importância na relação médico-paciente dentro da formação médica. Pesquisa Unifimes, 2021. PINHO, F. M. O. et al. Exame Físico Geral. In: PORTO, C. C. Semiologia Médica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. BICKLEY, L. S. Bates: Propedêutica Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. SOARES et al. Reflexões contemporâneassobre anamnese na visão do estudante de medicina. Revista Brasileira de Educação Médica, v.3, nº38, páginas 314-322, 2014. NETO et al. Profissionais de saúde e a comunicação de más notícias sob a ótica do paciente. Revista Medica Minas Gerais, v. 4, nº.23, páginas 518-525, 2013. CRUZ, CAROLINA O.; RIERA, RACHEL. Comunicando más notícias: o protocolo SPIKES. Diagnostico e Tratamento, v. 3, nº 21, páginas 106-108,2016. @jumorbeck
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