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Ergonomia e Acústica Luiz Carlos Myashiro 55 6. ACÚSTICA O agente físico ruído é um dos itens mais discutidos dentro da higiene ocupacional, pelo seus efeitos “silenciosos” e sua condição de irreversibilidade quando atinge níveis críticos de danos ao sistema auditivo. Há esta importância também pelo fato do ruído estar presente em todos os locais de trabalho, em menor ou maior grau, mas que exige a atenção mesmo no caso de ambientes administrativos. Sua importância atinge também o lado pessoal em vista do uso do aparelho celular cujos limites impostos de nível de ruído não são respeitados levando o usuário à perdas auditivas de forma gradual. Na área ocupacional, pela facilidade de verificação e monitoramento dos níveis de ruído, as empresas providas de profissionais da área de segurança do trabalho mantém ações preventivas, cuja eficácia dependem do nível de conscientização dos gestores e do ritmo de vistorias e observações. Ainda existem maquinários com geração de níveis não permissíveis de ruído, seja pelo projeto da máquina, seja por problemas mecânicos não resolvidos nas ações de manutenção. O ato inseguro ainda é a maior causa de incidência de problemas auditivos e no momento em que a fiscalização, o nível de comprometimentos dos empresários, a cultura organizacional regional, evolui, os efeitos de não adoção de medidas preventivas, também decaem, proporcionalmente. 6.1 Mecanismo do som No momento em que as pessoas vão conhecendo o mecanismo do sistema auditivo humano mais precavidas serão na preservação dos minúsculos órgãos que compõem o ouvido humano. O sistema auditivo humano é sensível, frágil, mas de uma importância fundamental no equilíbrio corporal, não apenas pelo poder de ouvir mas pelo papel deste sistema na condução do movimento corporal junto com o cérebro. Embora este órgão suporte grandes pressões mecânicas cujos efeitos podem ser reversíveis, a falta de cuidado com os níveis sonoros, permitindo exposições constantes, podem trazer 56 efeitos irreversíveis. A questão principal da não ação é o efeito retardatário que oculta graves problemas fisiológicos, cujos sintomas podem ocorrer meses depois da exposição. Vídeo do Discovery Channel sobre o mecanismo do som Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=okJOgjXEtN0 Os órgãos do sistema auditivo exercem duas funções para o corpo humano, uma no sentido de captar o som e enviar sinais ao cérebro, outra no papel de equilibrar o corpo humano sinalizando posições de partes do corpo. O aparelho receptor dos sons começa com as orelhas que tem formato distinto entre a orelha direita e a esquerda, cada qual com uma função peculiar. Pelo canal de 2,5 mm. Chega-se ao tímpano cuja membrana vibra à cada som captado. Em uma cavidade de 8 mm chega-se ao martelo e a bigorna até ao estribo que é o menor órgão do corpo humano, menor que um grão de arroz. Na cóclea que fica dentro de uma estrutura óssea, 15 mil células em forma de pelos manda sinais elétricos ao cérebro. 6.2 Lesões decorrentes do ruído excessivo A surdez temporária ou definitiva pode vir precedida de vários sintomas como o zumbido, dores de cabeça, insônia, irritabilidade, cuja não investigação pode resultar em lesões maiores. O exame admissional com audiometria pode revelar atividades anteriores ou não vinculadas a empresas, com exposição excessiva ao ruído, gerando lesões na empresa que o trabalhador irá exercer atividades mesmo sem exposição ao ruído. Pequenos sinais, como elevado volume na fala, podem esconder problemas graves de audição. Video da empresa 3M Link: https://www.youtube.com/watch?v=dJfQM6DhzIs A exposição excessiva ao ruído pode trazer inúmeros sintomas que agravados podem resultar em uma perda auditiva permanente. Acima de 85 decibéis de nível de ruído continuo durante um dia de trabalho podem surgir sintomas como: - aumento da pressão sanguínea; 57 - ansiedade; - zumbidos frequentes; - dificuldade de dormir. Com o tempo, tais sintomas ou uma surdez podem desaparecer. A continuidade de exposição pode agravar os sintomas citados e a surdez ora temporária pode transformar-se em uma surdez definitiva ou irreversível. O vídeo apresenta uma simulação de perda auditiva cuja fala de um trabalhador não é ouvida. A seguir é mostrado a mesma cena, porém com nível de som audível. Deve ser realizado em toda empresa com níveis elevados de ruído a emissão do PCA – Programa de Conservação Auditiva e avaliações regulares de audiometria. 6.3 Conforto acústico e insalubridade O nível sonoro interfere também na qualidade do produto ou serviço a ser executado já que níveis inadequados (não confortáveis) embora não tenham risco de uma surdez (quando não ultrapassados os limites da NR 15) podem trazer efeitos cognitivos e resultar em irritabilidade, falta de atenção, principalmente em atividades intelectuais e que exijam alta concentração no processo produtivo. No caso de ambientes insalubres por ruído excessivo, sem adoção de medidas preventivas e corretivas, trazem uma série de efeitos negativos, tanto para o trabalhador como para a empresa. A medição adequada tanto para os níveis de conforto como para caracterizar ambientes salubres trazem respostas imediatas para as questões de tomada de ação. Videoaula Objetivos: • Relacionar os níveis de conforto acústico e insalubridade por ruído com as exigências legais; • Apontar valores de tolerância para os níveis de conforto e insalubridade por ruído; • Mostrar os efeitos para o trabalhador e para a empresa de um ambiente insalubre. 58 Conforto acústico: - Norma Regulamentadora NR 17 - NBR 10152 – Limites de conforto Insalubridade: - Limites de tolerância da Norma Regulamentadora NR 15 - Consolidação das Leis do Trabalho Norma Regulamentadora NR 17 17.5.2. Nos locais de trabalho onde são executadas atividades que exijam solicitação intelectual e atenção constantes, tais como: salas de controle, laboratórios, escritórios, salas de desenvolvimento ou análise de projetos, dentre outros, são recomendadas as seguintes condições de conforto: a) níveis de ruído de acordo com o estabelecido na NBR 10152, norma brasileira registrada no INMETRO; 17.5.2.1. Para as atividades que possuam as características definidas no subitem 17.5.2, mas não apresentam equivalência ou correlação com aquelas relacionadas na NBR 10152, o nível de ruído aceitável para efeito de conforto será de até 65 dB (A) e a curva de avaliação de ruído (NC) de valor não superior a 60 dB. NBR 10152 Níveis de ruído para conforto acústico Locais dB (A) Nível de conforto Hospitais – aptos, centro cirúrgico, enfermarias 35-45 30-40 Escolas – salas de aula 40-50 35-45 Hotéis - apartamentos 35-45 30-40 Residências – salas de estar 40-50 35-45 Escritórios – salas de reunião 30-40 25-35 59 Consolidação das Leis do Trabalho Art . 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. Art . 191 - A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá: I - com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II - com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. Art . 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e 10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundose classifiquem nos graus máximo, médio e mínimo. Norma Regulamentadora NR 15 – Graus de Insalubridade 60 Consequências de um ambiente insalubre: - Dor, mal estar, irritabilidade por parte dos trabalhadores em vista da exposição excessiva ao ruído; - Afastamentos, atestados, alta rotatividade, absenteísmo; - Custos de reposição, substituição de pessoal; - Problemas no processo produtivo em vista de falta de recursos humanos; - Processos trabalhistas devido ao não pagamento de adicionais; - Custos jurídicos provenientes dos processos; - Custos com perícias, defesas, acordos, pagamentos indenizatórios, perdas de processos; - Adequação do trabalhador no retorno do afastamento por auxilio doença; - Imagem da instituição afetada devido aos processos judiciais. 6.4 Avaliação do ruído A medição do ruído normalmente faz parte dos requisitos de laudos ocupacionais, daí sua atualização integral ocorrer conforme as emissões de laudos e relatórios. Incluem-se nestas documentações o PPRA, LTCAT, Laudos de insalubridade e o PCA (Programa de Conservação Auditiva) que é o documento específico para avaliações dos ruídos na instituição. Em casos específicos como mudança de equipamento, processo, problemas de infraestrutura, ocorrências de manifestações de lesão decorrente do ruído excessivo, se faz necessário a medição como dado de tomada de ações. Videoaula Objetivos: • Conhecer os meios e processos de medição do ruído contínuo ou intermitente e de impacto; 61 • Conhecer o requisito legal (Norma Regulamentadora NR 15) que estabelece as condições de medição do ruído. Temos dois tipos de avaliação: • Avaliação ambiental constituído de medições instantâneas no local do ruído da área e • Avaliação pessoal com a utilização de dosímetro de ruído junto ao corpo do trabalhador. Pontos a serem considerados na medição do ruído: - Calibração do aparelho por órgão credenciado; - Altura do aparelho mais próximo do ouvido do operador ou 1,5 m em relação ao solo; - Quando há variabilidade grande do ruído deve-se aumentar o número de amostras; - Desprezar dados com picos de origem impulsiva; - Em ambientes externos utilizar o protetor de vento; - Medidores tipo II conforme ANSI S1.4 – 1971 ou IEC 651/1979 ; - Tempo de estabilização de 5 segundos no mínimo; - Ruído contínuo ou intermitente utilizar escala slow e circuito de compensação A; - Ruído de impacto utilizar escala fast e circuito de compensação C. 62 Norma regulamentadora NR 15 anexo 1 1. Entende-se por Ruído Contínuo ou Intermitente, para os fins de aplicação de Limites de Tolerância, o ruído que não seja ruído de impacto. 2. Os níveis de ruído contínuo ou intermitente devem ser medidos em decibéis (dB) com instrumento de nível de pressão sonora operando no circuito de compensação "A" e circuito de resposta lenta (SLOW). As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. 3. Os tempos de exposição aos níveis de ruído não devem exceder os limites de tolerância fixados no Quadro deste anexo. 4. Para os valores encontrados de nível de ruído intermediário será considerada a máxima exposição diária permissível relativa ao nível imediatamente mais elevado. 5. Não é permitida exposição a níveis de ruído acima de 115 dB(A) para indivíduos que não estejam adequadamente protegidos. 6. Se durante a jornada de trabalho ocorrerem dois ou mais períodos de exposição a ruído de diferentes níveis, devem ser considerados os seus efeitos combinados, de forma que, se a soma das seguintes frações: C1 / T1 + C2/T2 + C3/T3 ... + Cn /Tn 63 exceder a unidade, a exposição estará acima do limite de tolerância. Na equação acima, Cn indica o tempo total que o trabalhador fica exposto a um nível de ruído específico, e Tn indica a máxima exposição diária permissível a este nível. 7. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores a níveis de ruído, contínuo ou intermitente, superiores a 115 dB(A) sem proteção adequada, oferecerão risco grave e iminente. NR 15 - ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES ANEXO Nº 2 LIMITES DE TOLERÂNCIA PARA RUÍDOS DE IMPACTO 1. Entende-se por ruído de impacto aquele que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a 1 (um) segundo, a intervalos superiores a 1 (um) segundo. 2. Os níveis de impacto deverão ser avaliados em decibéis (dB), com medidor de nível de pressão sonora operando no circuito linear e circuito de resposta para impacto. As leituras devem ser feitas próximas ao ouvido do trabalhador. O limite de tolerância para ruído de impacto será de 130 dB (linear). Nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo. 3. Em caso de não se dispor de medidor do nível de pressão sonora com circuito de resposta para impacto, será válida a leitura feita no circuito de resposta rápida (FAST) e circuito de compensação "C". Neste caso, o limite de tolerância será de 120 dB(C). 4. As atividades ou operações que exponham os trabalhadores, sem proteção adequada, a níveis de ruído de impacto superiores a 140 dB (LINEAR), medidos no circuito de resposta para impacto, ou superiores a 130 dB(C), medidos no circuito de resposta rápida (FAST), oferecerão risco grave e iminente. 6.5 Medidas preventivas As medidas de prevenção devem priorizar ações que envolvem a coletividade ou o público exposto ao invés de trabalhar com ações individuais como a recomendação do uso de equipamentos de proteção individual (abafadores de ruído). A não ocorrência deste tipo de ação esbarra em um conceito de que investimentos altos com segurança do trabalho podem não trazer compensações na redução de custos, daí a importância de esclarecer junto aos responsáveis pela liberação de recursos os benefícios que uma obra na fonte do ruído pode trazer à empresa e aos funcionários envolvidos. 64 Videoaula • Conhecer os controles do ruído excessivo na fonte, no meio e no homem; • Familiarizar-se com tipos de isolamento acústico; • Conhecer os tipos de abafadores de ruído. Controle na fonte, na trajetória, no homem. Controle na fonte: Troca de equipamento ou instalação de silenciador, manutenção preventiva, corretiva, lubrificação, isolamento acústico, mudança do processo, atenuação da vibração Controle na trajetória: Isolamento na propagação, isolamento na área à proteger, isolamento no receptor. Controle na trajetória. Materiais: lã de rocha, lã de vidro, mantas de borracha, cortiça, vidros, fibras de coco, chapas metálicas, madeira maciça, espuma elastomérica, dry wall (gesso acartonado), vermiculita, paredes duplas, janelas com vidros duplos. Controle no Homem: Limite de exposição conforme anexo 1 da Norma Regulamentadora NR 15; Utilização de protetores auriculares. SAIBA MAIS PCA – Programa de Conservação Auditiva O Programa de Conservação Auditiva (PCA), também denominado Programa de Prevenção de Perdas Auditivas (PPPA), corresponde a um conjunto de atividades que visam prevenir ou estabilizar as perdas auditivas ocupacionais por meio de um processo de melhoria contínua que requer conhecimento multidisciplinar, e se desenvolve por meio de atividades planejadas e coordenadas entre diversas áreas da empresa. A NR 7 estabelece que, quando existem indicativos sugestivos de desencadeamento ou de agravamento de perda auditiva induzida por níveis de pressão sonora elevados, o médico coordenador do PCMSO, ou o encarregado pelo mesmo do exame médico, deverá participar da implantação, do aprimoramento e do controle de programas que visem à prevenção da progressão da perda auditiva do trabalhador acometido e de outros expostos ao risco, levando-se em consideração a NR 9, que exige o controle médico quando o nível de ação para o ruído for superado, ou seja, dose de exposição superior a 50%. 65 Na elaboraçãoe gestão do PCA devem ser contemplados no mínimo os seguintes aspectos: 1. Introdução e objetivos 2. Política da empresa 3. Responsabilidades e competências 4. Avaliação da exposição 5. Gerenciamento audiológico e controle médico 6. Medidas de controle coletivo 7. Gestão de Equipamentos de Proteção Auditiva 8. Educação/capacitação e motivação de trabalhadores e demais envolvidos no programa 9. Manutenção de registros 10. Avaliação do programa Veja a matéria completa no manual da FUNDACENTRO intitulado “Guia de diretrizes e parâmetros mínimos para a elaboração e a gestão do PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO AUDITIVA (PCA)”. Fonte: http:www///C:/Users/Luiz/Downloads/GUIA_DE_DIRETRIZES_PCAF.PDF REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Trabalho. Normas regulamentadoras. Portaria 3214/78. Disponível em: <https://goo.gl/5MCzsy>. Acesso em: 13 nov. 2018. IIDA, Itiro. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Blucher, 2005. KROEMER, K.H.E; GRANDJEAN, E. Manual de Ergonomia: adaptando o trabalho ao homem. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. SPINELLI, Robson. Higiene ocupacional: agentes biológicos, químicos e físicos. 2. ed. São Paulo: Editora Senac, 2008.
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