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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL LEI MARIA DA PENHA (LEI 11.340/2006) Por Roberto Lobo 2 SUMÁRIO 1 DISPOSIÇÕES GERAIS ................................................................................................................ 4 1.1 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E CONVENCIONAL. ......................................................... 4 1.2 HISTÓRICO NO BRASIL ........................................................................................................ 4 1.3 NATUREZA DA LEI............................................................................................................... 4 1.4 OBJETO DA LEI ................................................................................................................... 6 1.5 AÇÕES AFIRMATIVAS ......................................................................................................... 6 1.6 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA ......................................................................................... 7 2 DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER ...................................................... 7 2.1 CONDUTA .......................................................................................................................... 7 2.2 ÂMBITOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ................................................................................. 7 2.3 ELEMENTO SUBJETIVO NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ............................................................. 9 2.4 SUJEITOS DA VIOLÊNCIA DOMESTICA E IRRELEVÂNCIA DA ORIENTAÇÃO SEXUAL. ..............10 2.5 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA..................................................................................12 2.5.1 VIOLÊNCIA FÍSICA .......................................................................................................12 2.5.2 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA ............................................................................................13 2.5.3 VIOLÊNCIA SEXUAL .....................................................................................................13 2.5.4 VIOLÊNCIA PATRIMONIAL ...........................................................................................13 2.5.5 VIOLÊNCIA MORAL .....................................................................................................13 3 FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA ..................................................................14 4 FORMAS DE ASSISTÊNCIA À MULHER .......................................................................................15 5 DAS MEDIDAS TOMADAS PELO DELEGADO DE POLÍCIA .............................................................21 6 DOS PROCEDIMENTOS .............................................................................................................25 7 VEDAÇÃO À APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 ..................................................................................30 8 MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI 11.340/06 ..................................................................................35 8.1 NATUREZA JURÍDICA .........................................................................................................35 8.2 PROCEDIMENTO................................................................................................................35 9 DEMAIS DISPOSITIVOS .............................................................................................................45 9.1 DO MINISTÉRIO PÚBLICO ..................................................................................................45 9.2 DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA..............................................................................................46 9.3 DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR .............................................................46 9.4 DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS .............................................................................................46 9.5 DISPOSIÇÕES FINAIS ..........................................................................................................47 3 10 DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO ........................................................................48 11 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................48 4 ATUALIZADO EM 02/03/20201 LEI MARIA DA PENHA (LEI 11.340/06) 1 DISPOSIÇÕES GERAIS 1.1 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E CONVENCIONAL. A Lei n° 11.340/06 foi criada não apenas para atender ao disposto no art. 226, § 8°, da Constituição Federal, segundo o qual "o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações", mas também de modo a dar cumprimento a diversos tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil. 1.2 HISTÓRICO NO BRASIL Até 1990, a violência, em geral, tinha um tratamento uniforme, que era basicamente o Código Penal (não importa se contra idosos, crianças, mulher, etc). A partir de 1990 começou um “espírito de especialização da violência”. Houve a lei 8.069/90 (violência contra criança e adolescente – ECA). No mesmo ano veio a lei 8.072/90 (Hediondos), 8.078/90 (consumidor), lei 9.099/95, lei 9.455/97, lei 9.503/97, lei 9.605/98, estatuto do idoso. As estatísticas justificaram o novo tratamento dessas violências, já que o CP não tratava delas de maneira eficiente. Apesar do mandamento constitucional do art. 226, § 8°, e dos diversos Tratados Internacionais firmados pelo Brasil, a Lei n° 11.340/06 surgiu apenas no ano de 2006, para atender à recomendação da OEA decorrente de condenação imposta ao Brasil no caso que ficou conhecido como "Maria da Penha". Foi nesse espírito que nasceu a lei 11.340/06, sobre violência doméstica e familiar contra a mulher, também se baseando em estatística. 1.3 NATUREZA DA LEI Não se pode dizer que a presente lei tem conteúdo penal, uma vez que ela não prevê tipos penais que configurem violência doméstica e familiar contra a mulher. Da mesma forma, o seu conteúdo não tem nenhuma norma ligada ao exercício do jus puniendi. Na realidade, esta lei tem conteúdo processual penal (arts. 12, 15, 18, 19, 20, entre outros), mas, também trata de questões ligadas ao direito civil (arts. 23, 24, 25, ente outros). Assim, pode-se dizer que a lei tem conteúdo misto. 1 As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. 5 *#ATENÇÃO: Único crime da Lei 11.340/2006 Ao contrário do que muitos pensam, a Lei Maria da Penha não previa crimes. Este diploma traz uma série de disposições processuais e também de direito civil. O art. 24-A, agora inserido coma Lei 13.641, é o único delito tipificado na Lei nº 11.340/2006. § 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. As medidas protetivas de urgência da Lei nº 11.340/2006 não são exclusivas do processo penal. Isso significa que podem ser aplicadas em processos cíveis, independentemente da existência de inquérito policial ou processo criminal contra o suposto agressor. A Lei Maria da Penha foi editada com o objetivo de ampliar os mecanismos jurídicos e estatais de proteção da mulher vítima de violência doméstica. A referida Lei não se preocupa apenas com o viés da punição penal do agressor,sendo voltada também para a prevenção da violência, fornecendo, para tanto, instrumentos de natureza civil e administrativa. Desse modo, para que a Lei consiga atender seus propósitos de prevenção, é possível que sejam determinadas medidas judiciais de natureza não criminal, mesmo porque a resposta penal estatal só é desencadeada depois que, concretamente, o ilícito penal é cometido, muitas vezes com consequências irreversíveis, como no caso de homicídio ou de lesões corporais graves ou gravíssimas. Vale ressaltar que a definição de violência doméstica presente na Lei engloba situações que nem constituem crime, como o caso de “sofrimento psicológico”, “dano moral”, “diminuição da autoestima”, “manipulação” etc. Assim, fica ainda mais claro que a Lei não tem objetivos exclusivamente penais. Foi isso que decidiu o STJ: (...) 1. As medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006, observados os requisitos específicos para a concessão de cada uma, podem ser pleiteadas de forma autônoma para fins de cessação ou de acautelamento de violência doméstica contra a mulher, independentemente da existência, presente ou potencial, de processo- crime ou ação principal contra o suposto agressor. 2. Nessa hipótese, as medidas de urgência pleiteadas terão natureza de cautelar cível satisfativa, não se exigindo instrumentalidade a outro processo cível ou criminal, haja vista que não se busca necessariamente garantir a eficácia prática da tutela principal. "O fim das medidas protetivas é proteger direitos fundamentais, evitando a continuidade da violência e das situações que a favorecem. Não são, necessariamente, preparatórias de qualquer ação judicial. Não visam processos, mas pessoas" (DIAS. Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012). (...) STJ. 4ª Turma. REsp 1419421/GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/02/2014. 6 Confirmando essa natureza e a fim de que não houvesse dúvidas quanto à tipificação, o legislador previu expressamente que também haverá o crime do art. 24-A se o sujeito descumprir medida protetiva imposta em processo cível. 1.4 OBJETO DA LEI A lei nº 11.340/2006 positivou no Direito brasileiro a coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher e disciplinou diversas questões ligadas a essa temática, como a assistência à mulher em situação de violência doméstica, as medidas de integração e de prevenção, o atendimento da mulher pela autoridade policial e os procedimentos a serem adotados, a competência para o processo e o julgamento de casos que envolvam a violência doméstica e familiar contra a mulher, as medidas protetivas de urgência, a atuação do Ministério Público, a assistência judiciária e a equipe de atendimento multidisciplinar, além de outras questões. Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. São quatro as finalidades, nenhuma com ligação ao Direito Penal. • Coibir e Prevenir a Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; • Prestar assistência à mulher vítima de violência doméstica e familiar; • Proteção para a Mulher Vítima; • Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (não tem nada a ver com os Juizados da lei 9.099/95). 1.5 AÇÕES AFIRMATIVAS Conjunto de ações, programas e políticas especiais e temporárias que buscam reduzir ou minimizar os efeitos intoleráveis da discriminação em razão de gênero, raça, sexo, religião, deficiência física, ou outro fator de desigualdade. Buscam incluir setores marginalizados num patamar satisfatório de oportunidades sociais, valendo-se de mecanismos compensatórios. Esses programas de ação afirmativa não se colocam em rota de colisão com o princípio da igualdade, potencializando, pelo contrário, expectativas compensatórias e de inserção social de parcelas historicamente marginalizadas. Destinam-se, pois, a equacionar distorções arraigadas ou minorar-lhes as consequências antissociais. Não violam o princípio da igualdade, pois há uma discriminação positiva e não negativa: #DEOLHONAJURIS - Inf. 654 do STF - Não há violação do princípio constitucional da igualdade no fato de a Lei n. 11.340/06 ser voltada apenas à proteção das mulheres. 7 1.6 PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - Inf. 825 do STF - Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em violência doméstica. Não se aplica o princípio da insignificância aos delitos praticados em situação de violência doméstica. Os delitos praticados com violência contra a mulher, devido à expressiva ofensividade, periculosidade social, reprovabilidade do comportamento e lesão jurídica causada, perdem a característica da bagatela e devem submeter-se ao direito penal. O STJ e o STF não admitem a aplicação dos princípios da insignificância e da bagatela imprópria aos crimes e contravenções praticados com violência ou grave ameaça contra a mulher, no âmbito das relações domésticas, dada a relevância penal da conduta. Vale ressaltar que o fato de o casal ter se reconciliado não significa atipicidade material da conduta ou desnecessidade de pena. 2 DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. 2.1 CONDUTA O legislador discriminou o que configura a violência doméstica e familiar contra a mulher. Nesse sentido, abrangeu QUALQUER AÇÃO OU OMISSÃO que possa configurar a morte, a lesão, o sofrimento físico, sexual ou psicológico e o dano moral ou patrimonial na mulher em situação de violência doméstica e familiar. 2.2 ÂMBITOS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Estabeleceram-se nos incisos os 3 âmbitos onde estará configurada a violência doméstica e familiar contra a mulher (BASTA QUE SEJA EM UM DOS 3): ÂMBITO DA UNIDADE DOMÉSTICA ÂMBITO DA FAMÍLIA. QUALQUER RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO Espaço de convívio permanente de pessoas, COM OU SEM VÍNCULO Comunidade formada por indivíduos que são ou se Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva 8 FAMILIAR, INCLUSIVE AS ESPORADICAMENTE AGREGADAS. Leva em conta apenas o aspecto espacial. Nessa hipótese, o importante é que a mulher deve fazer parte desse espaço de convívio permanente. Não se exige o vínculo familiar, o que significa dizer que a violência doméstica contra a mulher pode ocorrer fora dos casos de marido e mulher, podendo ser vítima a empregada doméstica, por exemplo. consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; Indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidospor laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa Aqui importam os laços, pouco importando o lugar, pouco importando se há coabitação. ou tenha convivido com a ofendida, INDEPENDENTEMENTE DE COABITAÇÃO. Ao referir-se a qualquer relação íntima de afeto, o legislador abarcou a necessidade de o agressor conviver ou ter convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Na relação íntima de afeto, o importante é que haja um relacionamento entre duas pessoas, seja ele baseado na amizade, seja ele baseado em qualquer sentimento que um tiver pelo outro. É possível namorado e namorada, desde que não seja uma relação passageira, mas íntima. *#SÚMULA #NOVIDADE: Súmula 600 – STJ: Para configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da lei 11.340/2006, lei Maria da Penha, não se exige a coabitação entre autor e vítima. #DEOLHONAJURIS: - Inf. 499 do STJ - É possível a aplicação da Lei Maria da Penha para violência praticada por irmão contra irmã, ainda que eles nem mais morem sob o mesmo teto. É preciso que a relação existente entre o sujeito ativo e o passivo seja analisada em face do caso concreto. No caso julgado, segundo o STJ, o indivíduo se valeu de sua autoridade de irmão para subjugar a sua irmã, com o fim de obter para si o controle do dinheiro da pensão. Na hipótese, o indivíduo teria ido ao apartamento da sua irmã fazendo várias ameaças de causar-lhe mal injusto e grave, além de ter provocado danos materiais em seu carro, causando-lhe sofrimento psicológico e dano moral e patrimonial, no intuito de forçá-la a abrir mão do controle da pensão que a mãe de ambos recebe. Lei n. 11.340/06: Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. 9 A Lei 11.340/06 buscou proteger não só a vítima que coabita com o agressor, mas também aquela que, no passado, já tenha convivido no mesmo domicílio, contanto que haja nexo entre a agressão e a relação íntima de afeto que já existiu entre os dois. - Inf. 524 do STJ - Crime praticado por nora contra sogra. É do juizado especial criminal — e não do juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher — a competência para processar e julgar ação penal referente a suposto crime de ameaça (art. 147 do CP) praticado por nora contra sua sogra na hipótese em que não estejam presentes os requisitos cumulativos de relação íntima de afeto, motivação de gênero e situação de vulnerabilidade. - Inf. 551 do STJ - Aplicação da Lei Maria da Penha para agressão de filha contra a mãe. É possível a incidência da Maria da Penha nas relações entre MÃE e FILHA. O objeto de tutela da Lei é a mulher em situação de vulnerabilidade, não só em relação ao cônjuge ou companheiro, mas também qualquer outro familiar ou pessoa que conviva com a vítima, independentemente do gênero do agressor. O sujeito ativo do crime pode ser tanto o homem como a mulher, desde que esteja presente o estado de vulnerabilidade caracterizado por uma relação de poder e submissão. *#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ A posterior reconciliação entre a vítima e o agressor não é fundamento suficiente para afastar a necessidade de fixação do valor mínimo previsto no art. 387, inciso IV, do CPP, seja porque não há previsão legal nesse sentido, seja porque compete à própria vítima decidir se irá promover a execução ou não do título executivo, sendo vedado ao Poder Judiciário omitir-se na aplicação da legislação processual penal que determina a fixação do valor mínimo em favor da ofendida. CPP/Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória: (...) IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido; STJ. 6ª Turma. REsp 1.819.504-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/09/2019 (Info 657). 2.3 ELEMENTO SUBJETIVO NA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA À primeira vista, considerando-se que o art. 5° e os incisos do art. 7° não estabelecem qualquer distinção, poder-se-ia pensar que toda e qualquer infração penal dolosa ou culposa seria capaz de configurar violência doméstica e familiar contra a mulher. No entanto, se se trata de violência de gênero (art. 5°, caput: “ação ou omissão baseada no gênero”), DEVE FICAR EVIDENCIADA A CONSCIÊNCIA E A VONTADE DO AGENTE DE ATINGIR UMA MULHER EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE, O QUE SOMENTE SERIA POSSÍVEL NA HIPÓTESE DE CRIMES DOLOSOS. 10 2.4 SUJEITOS DA VIOLÊNCIA DOMESTICA E IRRELEVÂNCIA DA ORIENTAÇÃO SEXUAL. SUJEITO ATIVO - Para a caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, não é necessário que a violência seja perpetrada por pessoas de sexos distintos . O agressor tanto pode ser um homem (união heterossexual) como outra mulher (união homoafetiva). Basta atentar para o disposto no art. 5°, pú, que prevê que as relações pessoais que autorizam o reconhecimento da violência doméstica e familiar contra a mulher independem de orientação sexual. Portanto, lésbicas, travestis, transexuais estão ao abrigo da Lei Maria da Penha, quando a violência for perpetrada entre pessoas que possuem relações domésticas, familiares e íntimas de afeto. Quanto à violência doméstica perpetrada por uma mulher contra outra, a maioria da doutrina entende não há como se afastar a aplicação da Lei Maria da Penha, desde que comprovada uma relação de hipossuficiência e superioridade. Explico: Nas hipóteses de violência doméstica e familiar perpetrada por um homem contra a mulher, para Renato Brasileiro, há verdadeira presunção absoluta de vulnerabilidade. A desigualdade entre os gêneros feminino e masculino pode ser facilmente constatada, seja pela maior força física do homem, seja pela posição de superioridade que geralmente ocupa no seio familiar e social. Por outro lado, quando esta mesma violência é perpetrada por uma mulher contra outra no seio de uma relação doméstica, familiar ou íntima de afeto, não há falar em presunção absoluta de vulnerabilidade do gênero feminino. Trata-se, na verdade, de presunção relativa. Para a configuração da violência doméstica e familiar contra a mulher, é indispensável que a vítima esteja em situação de hipossuficiência física ou econômica, em condição de vulnerabilidade, enfim, que a infração penal tenha como motivação a opressão à mulher. Nesse contexto, como já se pronunciou o STJ, "delito contra honra, envolvendo irmãs, não configura hipótese de incidência da Lei n° 11.340/06, que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e econômica”. No entanto, se esta mesma violência for perpetrada no âmbito de uma união homoafetiva, demonstrando-se que a agressora ocupava uma posição de superioridade hierárquica em relação à vítima, que dela dependia economicamente por exercer funções meramente domésticas, não se pode descartar a possibilidade de aplicação da Lei Maria da Penha , porquanto evidenciada a posição de vulnerabilidade do sujeito passivo. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - Inf. 539 - A Lei presume a hipossuficiência da mulher vítima de violência doméstica. O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher para processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e de hipossuficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto, revela-se ipso facto, sendo irrelevante a sua condição pessoal para a aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de uma presunção da Lei. 11 SUJEITO PASSIVO - Especificamente em relação ao sujeito passivo da violênciadoméstica e familiar, há uma exigência de uma qualidade especial: ser mulher. Portanto, revela-se inviável a aplicação da Lei Maria da Penha nas hipóteses de violência contra homens, mesmo quando originadas no ambiente doméstico ou familiar. #ATENÇÃO – Apesar de não poder ser sujeito passivo na lei Maria da Penha, o homem pode ser vítima de violência doméstica e familiar, nas situações dos arts. 129, §§ 9, 10 e 11 do CP. § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006) § 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004) § 11. Na hipótese do § 9ºdeste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006) #DEOLHONAJURIS - Inf. 501 do STJ – Lesão corporal (qualificadora no caso de violência doméstica) - A qualificadora prevista no § 9º do art. 129 do CP aplica-se também às lesões corporais cometidas contra HOMEM no âmbito das relações domésticas. #OLHAOGANCHO - A lei 11.340/06 somente abrange mulher (violência de gênero), mas é possível aplicar-se as medidas de proteção para criança, adolescente, idoso, pessoa portadora de necessidades especiais e enfermo (são todos vulneráveis), mesmo que homens. Neste caso, o juiz se valerá do seu poder geral de cautela, na forma do artigo 313, inciso III, do CPP. Coach, é possível a aplicação da Lei Maria da Penha para o transexual? Primeiramente, cumpre esclarecer que transexual não se confunde com homossexual, bissexual, intersexual ou mesmo com travesti. O transexual é aquele que sofre uma dicotomia físico-psíquica, possuindo um sexo físico distinto de sua conformação sexual psicológica. Tem prevalecido que a lei Maria da Penha pode ser aplicada ao transexual. #ATENÇÃO - Na hipótese de uma mesma agressão ser perpetrada contra vítimas de sexos diferentes, estará sujeita à Lei Maria da Penha apenas a violência contra a vítima do sexo feminino. Entretanto, diante da conexão probatória entre os dois crimes, é possível a reunião dos processos perante o Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Nesse caso, os institutos despenalizadores da Lei 9.099/95 só poderão ser aplicados em relação à infração de menor potencial ofensivo cometida contra a vítima do sexo masculino, vez que não se admite a aplicação da Lei n° 9.099/95 aos crimes e contravenções praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher (Lei n° 11.340/06, art. 41). 12 2.5 FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. Percebe-se que a Lei Maria da Penha utiliza o termo "violência" em sentido amplo, abarcando não apenas a violência física, como também a violência psicológica, sexual, patrimonial e moral. Para o reconhecimento da violência contra a mulher, basta a presença alternativa de um dos incisos do art. 7°, em combinação alternativa com um dos âmbitos do art. 5° (âmbito da unidade doméstica, âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto). Logo, a violência doméstica e familiar contra a mulher estará configurada tanto quando uma mulher for vítima de violência sexual no âmbito da unidade doméstica, quando contra ela for perpetrada violência psicológica numa relação íntima de afeto, por exemplo. O art. 7° faz uso da expressão "entre outras", portanto não se trata de um rol taxativo, mas sim exemplificativo. Logo, é perfeitamente possível o reconhecimento de outras formas de violência doméstica e familiar contra a mulher. Tem-se aí verdadeira hipótese de interpretação analógica. 2.5.1 VIOLÊNCIA FÍSICA Qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da vítima. A ofensa à integridade corporal é a lesão que afeta órgãos, tecidos ou aspectos externos do corpo, como fraturas, ferimentos, equimoses e lesão de um músculo. Podemos citar as diversas espécies de lesão corporal (CP, art. 129), o homicídio (CP, art. 121) e até mesmo a contravenção penal de vias de fato (Dec.-Lei n° 3.688/41, art. 21). 13 2.5.2 VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA Qualquer conduta que cause dano emocional e diminuição da autoestima da mulher ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões. Pode causar neuroses, depressão, entre outras, ainda que de forma transitória. Crimes como o constrangimento ilegal (CP, art. 146), a ameaça (CP, art. 147), e o sequestro e cárcere privado (CP, art. 148), podem ser citados como exemplos de infrações penais que materializam essa violência psicológica. 2.5.3 VIOLÊNCIA SEXUAL Qualquer conduta ligada à dignidade sexual da mulher de forma não consentida por ela. 2.5.4 VIOLÊNCIA PATRIMONIAL Qualquer conduta ligada aos objetos, instrumentos de trabalho da vítima, bem como seus documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades. NOTE-SE QUE, MESMO NESSE CASO, CONTINUA A HAVER A INCIDÊNCIA DAS ESCUSAS ABSOLUTAS E RELATIVAS PREVISTAS, RESPECTIVAMENTE, NOS ARTS. 181 E 182 DO CÓDIGO PENAL. 2.5.5 VIOLÊNCIA MORAL Consiste na conduta ofensiva à honra da vítima, tendo em vista que ao referir-se a ela o legislador elencou os crimes contra a honra: calúnia, difamação ou injúria. #ATENÇÃO - A Lei n° 11.340/06 utiliza a expressão "violência moral" com significado distinto daquele tradicionalmente utilizado pelo CP. No CP, o termo "violência moral" é utilizado pelo legislador para se referir à grave ameaça, ao passo que a Lei Maria da Penha faz uso desse termo para se referir às condutas que configurem calúnia, difamação ou injúria, optando pela expressão "violência psicológica" para se referir à qualquer espécie de ameaça perpetrada contra a mulher. Em síntese: • Ação ou omissão • DOLOSA • Sujeito passivo mulher; • Prática de violência física, psicológica,sexual, patrimonial ou moral: para fins de incidência da Lei Maria da Penha, basta o cometimento de qualquer uma das hipóteses de violência previstas nos incisos I a V do art. 7°; • No âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família, ou em qualquer relação íntima de afeto: estas situações em que se presume a maior vulnerabilidade da mulher também são 14 alternativas. Logo, para fins de incidência da Lei Maria da Penha, basta a presença de uma delas. 3 FORMAS DE PREVENÇÃO NA LEI MARIA DA PENHA Art. 8o A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não- governamentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de segurança pública, assistência social, saúde, educação, trabalho e habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às consequências e à frequência da violência doméstica e familiar contra a mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; Já tem MP instaurando ACP contra programas de TV que violam este dispositivo. IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; V - a promoção e a realização de campanhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não-governamentais, tendo por objetivo a implementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; VIII - a promoção de programas educacionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. Merece destaque o inciso IV que trata da implementação de Delegacias especializadas no atendimento à mulher vítima de violência doméstica e familiar. Em alguns locais chamada de DEAM. A vítima deve ser http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm#art1iii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm#art3iv http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm#art221iv 15 encaminhada a esta Delegacia especializada para que lá seja adequadamente atendida e para que lá sejam tomadas todas as providências em relação a essa espécie de delito. 4 FORMAS DE ASSISTÊNCIA À MULHER Art. 9o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso. § 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de violência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal. § 2o O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica (aqui incluída a moral, sexual etc): I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da administração direta ou indireta; II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. *#DEOLHONAJURIS #DIZERODIREITO #STJ #IMPORTANTE O art. 9º, § 2º da Lei Maria da Penha prevê que: O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica, manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. A competência para determinar essa medida é do Juiz da Vara de Violência Doméstica ou do Juiz do Trabalho? Juiz da Vara de Violência Doméstica. O juiz da vara especializada em Violência Doméstica (ou, caso não haja na localidade, o juízo criminal) tem competência para apreciar pedido de imposição de medida protetiva de manutenção de vínculo trabalhista, por até seis meses, em razão de afastamento do trabalho de ofendida decorrente de violência doméstica e familiar. Isso porque o motivo do afastamento não advém da relação de trabalho, mas sim da situação emergencial que visa garantir a integridade física, psicológica e patrimonial da mulher. Qual é a natureza jurídica desse afastamento? Sobre quem recai o ônus do pagamento? A natureza jurídica do afastamento por até seis meses em razão de violência doméstica e familiar é de interrupção do contrato de trabalho, incidindo, analogicamente, o auxíliodoença, devendo a empresa se responsabilizar pelo pagamento dos quinze primeiros dias, ficando o restante do período a cargo do INSS. STJ. 6ª Turma. REsp 1.757.775-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 20/08/2019 (Info 655) § 3o A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. 16 *ATENÇÃO #NOVIDADES LEGISLATIVAS23: *LEI Nº 13.880, DE 8 DE 0UTUBRO DE 2019: Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para prever a apreensão de arma de fogo sob posse de agressor em casos de violência doméstica, na forma em que especifica. Art. 1º Os arts. 12 e 18 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passam a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 12.(...) VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento); (NR) “Art. 18. (...) IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor.” (NR) *LEI Nº 13.882, DE 8 DE 0UTUBRO DE 2019: Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para garantir a matrícula dos dependentes da mulher vítima de violência doméstica e familiar em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio. Art. 1º 1º Esta Lei altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para garantir a matrícula dos dependentes da mulher vítima de violência doméstica e familiar em instituiçãode educação básica mais próxima de seu domicílio. Art. 2º A Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 9º (...) § 7º A mulher em situação de violência doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apresentação dos documentos comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso. § 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus dependentes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 4º deste artigo, e o acesso às informações será reservado ao juiz, ao Ministério Público e aos órgãos competentes do poder público.” (NR) 2 Para mais comentários, vide: https://www.dizerodireito.com.br/2019/10/lei-138802019-determina-apreensao- da.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/rviB+(Dizer+o+Direito) 3 https://www.dizerodireito.com.br/2019/10/lei-138822019-garante-matricula- dos.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/rviB+(Dizer+o+Direito) https://www.dizerodireito.com.br/2019/10/lei-138802019-determina-apreensao-da.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/rviB+(Dizer+o+Direito) https://www.dizerodireito.com.br/2019/10/lei-138802019-determina-apreensao-da.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/rviB+(Dizer+o+Direito) https://www.dizerodireito.com.br/2019/10/lei-138822019-garante-matricula-dos.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/rviB+(Dizer+o+Direito) https://www.dizerodireito.com.br/2019/10/lei-138822019-garante-matricula-dos.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+com/rviB+(Dizer+o+Direito) 17 “Art. 23. (...) V - determinar a matrícula dos dependentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga.” (NR) LEI Nº 13.871, DE 17 DE SETEMBRO DE 2019: Altera a Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), para dispor sobre a responsabilidade do agressor pelo ressarcimento dos custos relacionados aos serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica e familiar e aos dispositivos de segurança por elas utilizados. Art. 9... 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação de violência doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. § 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramento das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas protetivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor. § 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada.” (NR) #AJUDAMARCINHO NOVO § 4º DO ART. 9 - Ressarcimento dos gastos com os serviços de saúde prestados à mulher Quando se fala em ressarcir todos os danos causados, isso significa que o agressor tem o dever, inclusive, de pagar ao Sistema Único de Saúde (SUS) as despesas que foram realizadas com os serviços de saúde prestados para o total tratamento da vítima em situação de violência doméstica e familiar. Ex: custos com cirurgia, com medicamentos, com atendimento de psicóloga etc. Assim, mesmo o SUS sendo um serviço oferecido gratuitamente à população, o agressor tem o dever de ressarcir os gastos que o poder público teve com isso. O legislador entendeu que não é “justo” que toda a coletividade tenha que arcar as despesas que o poder público teve com o tratamento da vítima considerando que o responsável por isso foi o agressor. Logo, o Estado http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art9%C2%A74 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art9%C2%A75 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art9%C2%A76 18 cumpre seu papel e presta toda a assistência à vítima. No entanto, posteriormente, cobra esse valor do real causador dos gastos. Como se calculará o valor desses tratamentos? Esse ressarcimento será feito de acordo com os valores previstos na tabela do SUS. Ex: se a vítima quebrou o braço em decorrência das agressões, o agente terá que pagar os custos de um atendimento médico, do gesso, dos exames e demais gastos necessários para o procedimento. Fundo de Saúde Os recursos arrecadados serão recolhidos ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unidades de saúde que prestarem os serviços. Ex: se a mulher foi atendida em um hospital da rede estadual de saúde, os valores pagos pelo agressor irão ser revertidos para o Fundo Estadual de Saúde. Caso não pague voluntariamente, o ente que custeou às despesas (União, Estado, DF ou Município) deverá ajuizar ação de indenização contra ele o agressor. Os gastos que a vítima teve em hospitais particulares, também deverão ser ressarcidos? SIM. No entanto, esse não foi o objetivo do novo § 4º. Isso porque nunca houve dúvidas de que o agressor tinha que indenizar as despesas que a própria vítima teve que desembolsar. Esse dever decorre das regras ordinárias de responsabilidade civil. A grande novidade da Lei nº 13.871/2019 foi exigir do causador da agressão os gastos que o Poder Público teve com a assistência integral da vítima. NOVO § 5º DO ART. 9º - Mecanismos para evitar a aproximação do agressor em relação à vítima É comum que o autor da violência doméstica, mesmo já sabendo que as autoridades estão apurando o crime praticado, tente procurar novamente a vítima, seja sob a alegação de que quer se desculpar, seja com o objetivo declarado de se vingar. Justamente por isso a Lei nº 11.340/2006 prevê que poderão ser concedidas medidas protetivas de urgência, sendo a mais comum delas a determinação imposta pelo juiz no sentido de que o agressor não deve se aproximar da vítima (art. 22, III, “a”). O agressor que descumprir essa medida pode ter a prisão preventiva decretada (art. 313, III, do CPP), além de responder por novo crime, previsto no art. 24-A da Lei nº 11.340/2006. Ocorre que, mesmo com isso tudo, ainda assim são frequentes os casos em que o agressor descumpriu a medida imposta, aproximou-se da ofendida buscando uma reconciliação e, como a vítima se recusou, acabou sendo morta.Diante desse cenário, percebeu-se que, por se tratarem de crimes passionais, não basta a ameaça 19 de sanção. É necessário utilizar a tecnologia para proteger a vítima evitando a aproximação mesmo que o agressor tente isso. “Botão do pânico”: Um exemplo desse mecanismo de proteção das vítimas de violência doméstica é o chamado “botão do pânico”, desenvolvido pelo Tribunal de Justiça do Espírito Santo em conjunto com o Município de Vitória (ES) e com o Instituto Nacional de Tecnologia Preventiva (INTP). Trata-se de um equipamento fornecido para mulheres que estão sob medida protetiva e que pode ser acionado caso o agressor não mantenha a distância mínima determinada na decisão judicial. Assim, se o agressor se aproxima da vítima, esta poderá acionar o “botão do pânico” e o equipamento, que conta com um GPS, enviará imediatamente a localização da mulher para uma central de monitoramento, de forma que uma equipeda polícia será enviada ao local a fim de garantir a segurança da mulher e eventual prisão do agressor. Essa experiência tem sido adotada em outros Estados. O aparelho também inicia um sistema de gravação do áudio ambiente, que fica armazenado e poderá ser usado, judicialmente, contra o agressor. Mais informações: http://www.tjes.jus.br/botao-do-panico-dispositivo-de- seguranca-que-ajuda-a-proteger-mulheres-vitimas-de-violencia-domestica-completa-6-anos/ Tornozeleira eletrônica com dispositivo de aproximação que fica com a mulher Outro exemplo de tecnologia preventiva para a proteção da mulher vítima de violência doméstica são as tornozeleiras eletrônicas. No entanto, além de o agressor ficar com a tornozeleira, a vítima utiliza também um dispositivo por meio do qual se o indivíduo se aproximar da mulher em distância inferior àquela que é permitida, a vítima e as autoridades são informadas, podendo assim garantir a sua segurança. Ressarcimento dos gastos com esses dispositivos Esses dispositivos tecnológicos de proteção preventiva da mulher acarretam despesas, tanto no momento do seu desenvolvimento como manutenção. A Lei nº 13.871/2019 acrescenta o § 5º ao art. 9º da Lei Maria da Penha prevendo que o agressor terá que ressarcir os custos com tais dispositivos de segurança, caso eles tenham que ser empregados para proteção da vítima. NOVO § 6º DO ART. 9º A Lei nº 13.871/2019 acrescenta o § 6º ao art. 9º com três importantes informações: 1) O ressarcimento não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes. Isso significa que, se o agressor for casado com a vítima ou com ela tiver filhos, o ressarcimento terá que ser feito pelo agente com seu patrimônio próprio, não podendo utilizar o dinheiro que seria comum do casal ou dos 20 filhos. Ex: João agrediu fisicamente sua esposa Laura; em virtude das agressões, Laura teve que fazer uma cirurgia de emergência em um hospital público, para onde foi levada; João terá que ressarcir os custos com o atendimento médico e hospitalar feito em Laura; suponhamos que João e Laura, casados em comunhão universal de bens, tinham um investimento financeiro de R$ 100 mil; Laura terá direito aos seus R$ 50 mil e João pagará o ressarcimento com a sua parte, ou seja, com os seus R$ 50 mil. 2) O fato de o agressor ter feito o ressarcimento não configura atenuante. O art. 65 do Código Penal traz uma lista de circunstâncias atenuantes. O inciso III, “b”, deste artigo prevê o seguinte: Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: (...) III - ter o agente: b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; O agressor que faz o ressarcimento poderia pretender invocar essa atenuante. Antevendo isso, o legislador incluiu no § 6º do art. 9º a proibição de que o juiz utilize o ressarcimento feito pelo agressor como uma circunstância atenuante. 3) O ressarcimento não enseja possibilidade de substituição da pena aplicada. O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º do art. 9º não configura pena restritiva de direitos. Assim, o fato de o agente ter feito esse ressarcimento não implica qualquer alteração na pena aplicada. Aliás, o art. 17 da Lei nº 11.340/2006 afirma que “é vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa.” Nesse sentido: Súmula 588-STJ: A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Esquematizando: O Juiz • Determinará, por prazo certo: o Inclusão de mulher em situação de violência doméstica no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal. • Assegurará, para preservar sua integridade o ACESSO PRIORITÁRIO A REMOÇÃO, QUANDO SERVIDORA PÚBLICA 21 o MANUTENÇÃO DO VÍNCULO TRABALHISTA, ATÉ 6 MESES, QUANDO NECESSÁRIO AFASTAMENTO DO LOCAL DE TRABALHO 5 DAS MEDIDAS TOMADAS PELO DELEGADO DE POLÍCIA Atenção cicleiro que estuda para Delegado de Polícia, os próximos artigos são bastante cobrados em provas para o cargo: Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, A AUTORIDADE POLICIAL deverá, entre outras providências: I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal; O encaminhamento ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal decorre da necessidade de realização de perícia, para que se forme o conjunto probatório ligado à prova de existência da infração penal, nos moldes do art. 158 do Código de Processo Penal ("Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado") III - FORNECER TRANSPORTE (CAI MUITO) para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; #CAIUEMPROVA – Para Delegado de São Paulo, em 2011, foi considerada correta a seguinte afirmação: A autoridade policial deverá fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida. IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis. Esse rol é exemplificativo, pois o caput fala “entre outras”. M ed id as d o D el eg ad o Proteção policial Encaminha ao hosital a ofendida Fornecer transporte a local seguro Acompanhá-la na retirada dos pertences Informá-la dos direitos e serviços disponíveis 22 O art. 12 também elenca medidas que devem ser tomadas pelo Delegado de Polícia: Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, DE IMEDIATO, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada; II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; III - remeter, no prazo de 48 (QUARENTA E OITO) HORAS, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência; IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - ouvir o agressor e as testemunhas; VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: I - qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes; III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida. § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida. § 3º SERÃO ADMITIDOS COMO MEIOS DE PROVA OS LAUDOS OU PRONTUÁRIOS MÉDICOS FORNECIDOS POR HOSPITAIS e postos de saúde (MITIGA A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO). *#NOVIDADELEGISLATIVA: Lei nº 13.836, de 4.6.20194 - Acrescenta dispositivo ao art. 12 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, para tornar obrigatóriaa informação sobre a condição de pessoa com deficiência da mulher vítima de agressão doméstica ou familiar. Vejamos: Art. 1º Esta Lei acrescenta dispositivo ao art. 12 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, para tornar obrigatória a informação sobre a condição de pessoa com deficiência da mulher vítima de agressão doméstica ou familiar. Art. 2º O § 1º do art. 12 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IV: “Art. 12. ................................................................................................... § 1º ........................................................................................................... 4 Para mais informações: https://www.dizerodireito.com.br/2019/06/lei-138362019-delegado-de-policia.html 23 IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. ................................................................................................................” (NR) Todos os incisos tratam de procedimentos que conduzirão ao esclarecimento da verdade sobre a infração penal cometida contra a mulher em situação de violência doméstica e familiar e a respectiva autoria. Trata-se de um dispositivo legal redigido nos moldes do art. 6º do Código de Processo Penal. No entanto, merece destaque o inciso III, que trata da remessa, pela autoridade policial, no prazo de 48 horas, de expediente apartado ao Juiz com o pedido da ofendida para a concessão de medidas protetivas de urgência (veremos adiante, no artigo 22). Note-se que, como o prazo é de 48 horas, ganha relevância a norma contida no inciso V do art. 11, uma vez que a ofendida, informada desse direito, poderá requerer à autoridade policial que ela represente ao Juiz competente pela decretação dessas medidas de urgência. O prazo é curto e a decisão por parte de ofendida deve ser tomada o mais rápido possível. #CUIDADO – O delegado não aplica medida protetiva, nem representa por ela. ELE APENAS ENCAMINHA AO JUIZ A REPRESENTAÇÃO DA OFENDIDA, NO PRAZO DE 48H. O parágrafo 3º, que diz que “serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde” MITIGA A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO. OS PRONTUÁRIOS PODEM SER USADOS TAMBÉM PARA CONVENCIMENTO DO JUIZ EM SENTENÇA CONDENATÓRIA. NÃO SÓ PARA RECEBIMENTO DA ACUSATÓRIA E CAUTELARES. *NOVIDADE LEGISLATIVA: LEI Nº 13.505 DE 8 DE NOVEMBRO DE 2017. (ALTERA A MARIA DA PENHA!) Art. 1o Esta Lei dispõe sobre o direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar de ter atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado, preferencialmente, por servidores do sexo feminino. Art. 2o A Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 10-A, 12-A e 12-B: “Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmente do sexo feminino - previamente capacitados. § 1o A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: I - Salvaguarda da integridade física, psíquica e emocional da depoente, considerada a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e familiar; II - Garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência doméstica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relacionadas; III - Não revitimização da depoente, evitando sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2013.505-2017?OpenDocument http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art10a 24 § 2o Na inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: I - A inquirição será feita em recinto especialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; II - Quando for o caso, a inquirição será intermediada por profissional especializado em violência doméstica e familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; III - O depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o inquérito.” “Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mulher.” “Art. 12-B. (VETADO). § 1o (VETADO). § 2o (VETADO. § 3o A autoridade policial poderá requisitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica e familiar e de seus dependentes.” *#NOVIDADE LEGISLATIVA. LEI 13.827/2019 Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: I - pela autoridade judicial; II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente § 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao preso. Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência. Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. *#AJUDAMARCINHO. COMPETÊNCIA PARA A CONCESSÃO DA MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art12a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art12b 25 Quem concede a medida protetiva de urgência? Em regra, a autoridade judicial (Juiz ou Desembargador). Até a edição da Lei nº 13.827/2019, essa regra não tinha exceções. A Lei nº 13.827/2019 trouxe uma exceção, permitindo que a medida protetiva de afastamento do lar seja concedida pelo Delegado de Polícia se o Município não for sede de comarca ou até mesmo pelo policial caso também não haja Delegado de Polícia no momento. Entendendo a novidade legislativa: Verificada a existência de... - risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, -ou de seus dependentes, - o agressor deverá ser imediatamente afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. Quem determina esse afastamento? 1º) em primeiro lugar, a autoridade judicial. 2º) se o Município não for sede de comarca: o Delegado de Polícia poderá determinar essa medida. 3º) se o Município não for sede de comarca e não houver Delegado disponível no momento: o próprio policial (civil ou militar) poderá ordenar o afastamento. Se a medida for concedida por Delegado ou por policial (situações 2 e 3), o Juiz será comunicado no prazo máximo de 24 horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente. 6 DOS PROCEDIMENTOS Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei. Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos 26 Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Parágrafo único. Os atos processuais PODERÃO REALIZAR-SE EM HORÁRIO NOTURNO (aquela típica pergunta de letra da lei que também cai), conforme dispuserem as normas de organização judiciária. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher é um órgão fracionário do Poder Judiciário que teve a sua criação autorizada por esta lei. Cabe aos Tribunais de Justiça dos Estados a criação desse órgão dentro das suas estruturas, de acordo com as normas de organização judiciária da cada Estado. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem competência mista, ou seja, cível e criminal. Ao mesmo tempo em que se julga o delito praticado em situação de violência doméstica e familiar contra a mulher, praticam-se atos de natureza cível, como a separação judicial, entre outros. Ademais, nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA: - Inf. 654 do STF - Nos locais em que ainda não tiverem sido estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, às varas criminais acumularão as competências cível e criminal para as causas decorrentes de violência doméstica e familiar contra a mulher. Esta determinação, que consta no art. 33 da Lei, não ofende a competência dos Estados para disciplinarem a organização judiciária local. Segundo o Relator, a Lei Maria da Penha não implicou obrigação, mas a FACULDADE de criação dos Juizados de Violência Doméstica contra a Mulher. - Inf. 550 do STJ - Juizado da Violência Doméstica possui competência para executar alimentos por ele fixados. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher tem competência para julgar a execução de alimentos que tenham sido fixados a título de medida protetiva de urgência fundada na Lei Maria da Penha em favor de filho do casal em conflito. - Inf. 572 do STJ - Competência para julgar ação de divórcio advinda de violência suportada por mulher no âmbito familiar e doméstico. A extinção de medida protetiva de urgência diante da homologação de acordo entre as partes não afasta a competência da Vara Especializada de Violência Doméstica ou Familiar contra a Mulher para julgar ação de divórcio fundada na mesma situação de agressividade vivenciada pela vítima e que fora distribuída por dependência à medida extinta. * #IMPORTANTE: A Vara Especializada da Violência Doméstica ou Familiar Contra a Mulher possui competência para o julgamento de pedido incidental de natureza civil, relacionado à autorização para viagem ao exterior e guarda unilateral do infante, na hipótese em que a causa de pedir de tal pretensão consistir na prática de violência doméstica e familiar contra a genitora. STJ. 3ª Turma. REsp 1.550.166-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/11/2017 (Info 617). 27 E se for crime doloso contra a vida? Por tratar-se de competência constitucional, ela deve prevalecer sobre a competência determinada na presente lei. Assim, em se tratando de crime doloso contra a vida em situação de violência doméstica e familiar, a competência para o processo e o julgamento será do Tribunal do Júri. No entanto, o STF abriu uma exceção para a primeira fase do Júri: #DEOLHONAJURIS - Inf. 748 do STF - Competência para o processamento de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. A Lei de Organização Judiciária poderá prever que a 1ª fase do procedimento do júri seja realizada na Vara de Violência Doméstica em caso de crimes dolosos contra a vida praticados no contexto de violência doméstica. Não haverá usurpação da competência constitucional do júri. Apenas o julgamento propriamente dito é que, obrigatoriamente, deverá ser feito no Tribunal do Júri. Esquematizando para memorizar: • Juizados de violência doméstica o Criados para dar celeridade o Pegam crimes ou contravenções em violência doméstica contra a mulher o Não podem ser confundidos com juizados comuns (até porque não se aplica a 9099 quando violência doméstica contra a mulher, como veremos). o Funcionam, em regra, perante a JE, com competência cível e criminal (competência cumulativa) o Podem ser criados pela União, estados e DF (municípios não) o Enquanto não forem criados, a lei prevê uma REGRA DE TRANSIÇÃO, PERMITINDO ÀS VARAS CRIMINAIS CUMULAREM COMPETÊNCIA CÍVEL E CRIMINAL. o SE O CRIME FOR DOLOSO CONTRA A VIDA, O JUIZADO PODE FICAR COMPETENTE NA PRIMEIRA FASE, PODENDO PRONUNCIAR, IMPRONUNCIAR, DESCLASSIFICAR (STJ). • Atos processuais o Poderão realizar-se em horário noturno (CAI MUITO) Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os PROCESSOS CÍVEIS regidos por esta Lei, o Juizado: I - do seu domicílio ou de sua residência; II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; III - do domicílio do agressor. Cuidado para não cair em pegadinha. Essa opção que a lei deu a vítima, quanto à competência, é para processos cíveis!!!! Quanto à competência para julgar os delitos, continuam se aplicando as regras do CPP. *#NOVIDADELEGISLATIVA. LEI Nº 13.894, DE 29 DE 0UTUBRO DE 2019. #AJUDA MARCINHOO Casos mais frequentes de aplicação da Lei Maria da Penha são entre cônjuges ou companheiros 28 É certo dizer que as hipóteses mais comuns de violência doméstica envolvem agressões de marido contra mulher (casamento) ou de companheiro contra sua companheira (união estável). Diante disso, mesmo após as agressões e o início da investigação ou do processo penal, existe uma importante situação a ser resolvida: o vínculo conjugal ou de união estável entre agressor e vítima. O réu e a vítima ainda estão casados ou viveram em união estável e essa relação jurídica entre eles necessita ser juridicamente desfeita ao mesmo tempo em que a mulher precisa retomar a sua vida, curar suas feridas físicas e emocionais e seguir em frente. Assim, a Lei nº 13.894/2019 buscou facilitar a situação para a vítima e alterou a Lei Maria da Penha para prever expressamente, em três dispositivos, que a mulher terá direito à assistência judiciária para propor: • ação de divórcio; • ação de separação judicial; • ação de anulação de casamento; ou • ação de dissolução de união estável. Vejamos os dispositivos inseridos ou alterados pela Lei nº 13.894/2019 na Lei Mariada Penha: ALTERAÇÕES DA LEI 13.894/2019 NA LEI MARIA DA PENHA Inserção do inciso III do § 2º do art. 9º O art. 9º da Lei nº 11.340/2006 prevê que a mulher vítima de violência doméstica deverá receber a assistência em diversos âmbitos, recebendo do poder público serviços de saúde, assistência social, segurança pública, entre outros. A Lei nº 13.894/2019 acrescentou um novo inciso ao § 2º do art. 9º prevendo que, se a vítima e o agressor forem casados ou viverem em união estável, a mulher deverá ser encaminhada à assistência judiciária para que possa ter a oportunidade de, assim desejando, desvincular-se formalmente do marido/companheiro agressor por meio da ação judicial própria: Art. 9º (...) § 2º O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica: (...) III - encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente. (Inserido pela Lei nº 13.894/2019) Alteração do inciso V do art. 11 O art. 11 da Lei nº 11.340/2006 prevê algumas providências que o Delegado de Polícia deverá adotar ao ter conhecimento da prática de crime de violência doméstica. A Lei nº 13.894/2019 alterou o inciso V do art. 11 para dizer que o Delegado de Polícia deverá explicar à vítima seus direitos e que um desses direitos é o de ela ter assistência judiciária caso ela queria ajuizar ação de divórcio, separação judicial anulação de casamento ou dissolução de união estável. 29 Alteração do inciso II do art. 18 A Lei Maria da Penha estabelece que, se a mulher quiser pedir alguma medida protetiva de urgência, o Delegado de Polícia deverá tomar a termo essa declaração, ou seja, transcrever esse pedido e encaminhá-lo ao Poder Judiciário. Uma dessas medidas protetivas de urgência que a vítima poderá pedir é justamente a assistência judiciária (art. 18, II, da Lei nº 11.340/2006). A Lei nº 13.894/2019 altera esse inciso II do art. 18 para deixar claro que essa assistência judiciária abrange o direito de ajuizar ações de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. Onde serão propostas essas ações? No próprio Juizado de Violência Doméstica? A Lei nº 13.894/2019 pretendia inserir o seguinte artigo na Lei Maria da Penha: Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à partilha de bens. § 2º Iniciada a situação de violência doméstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver. *#ATENÇÃO Esse dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República. No entanto o Congresso Nacional derrubou o veto, tendo sido promulgado pelo presidente Jair Bolsonaro. Isso significa que o Juizado de Violência Doméstica está proibido de julgar divórcio? NÃO. Não significa isso. O STJ possui precedente afirmando que a Lei de Organização Judiciária (que é uma lei estadual) pode prever que o Juizado de Violência Doméstica tenha competência para julgar divórcio. Assim, mesmo tendo sido vetado esse art. 14-A, a Lei de Organização Judiciária poderá prever a competência do Juizado de Violência para conhecer e julgar divórcio e dissolução de união estável. Quem deverá prestar esse serviço de assistência judiciária em favor da mulher? Apesar de a Lei nº 13.894/2019 não prever expressamente, esse serviço de assistência judiciária deverá ser exercido primordialmente pela Defensoria Pública, que é o órgão público incumbido pela Constituição Federal para a assistência jurídica integral e gratuita das pessoas necessitadas, nos termos do art. 5º, LXXIV c/c o art. 134 da CF/88. Vale ressaltar que a interpretação desses dispositivos constitucionais tem evoluído no sentido de que a Defensoria Pública tem a missão de atuar não apenas nos casos de necessidade econômica, mas também jurídica. Essa é justamente a situação na qual a mulher vítima de violência doméstica pode se encontrar. No mesmo sentido é o art. 28 da Lei nº 11.340/2006: 30 Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado. Desse modo, essas ações de divórcio, dissolução de união estável etc. devem ser propostas, em regra, pela Defensoria Pública, salvo se: • em razão do quadro insuficiente do órgão, não for possível, no momento, atender a toda a demanda exigida, situação na qual o Estado deverá oferecer núcleos de assistência jurídica, enquanto não for suprida essa deficiência; ou • caso a vítima prefira ser assistida por advogado de sua escolha. Assistência judiciária A Lei nº 13.894/2019, assim como faz a Lei nº 11.340/2006, utiliza a expressão “assistência judiciária”, expressão equivocada considerando essa palavra remete à ideia de assistência (ajuda) apenas para uma atuação restrita a atividades que ocorrem no âmbito do Poder Judiciário, ou seja, dá a entender que essa atuação é apenas no processo judicial. Isso não é verdade. O que a vítima receberá é algo mais amplo. A vítima receberá uma assistência jurídica, que abrange não apenas a mera propositura e acompanhamento de ações judiciais, mas também a consultoria e orientação jurídicas ou, ainda, a atuação extrajudicial do profissional que assistirá a vítima. Desse modo, seria mais adequado que a Lei tivesse utilizado a expressão “assistência jurídica”. E as ações de alimentos, por que não foram incluídas neste inciso III? Porque a concessão de alimentos já estava prevista no art. 22, V e no art. 23, III, da Lei nº 11.340/2006: Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: (...)V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: (...)III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; 7 VEDAÇÃO À APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. 31 O art. 41 dispõe que a lei 9.099 é inaplicável aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista. Esse dispositivo possui dois comandos: • As infrações penais praticadas nos moldes dessa lei não se considerarem infrações penais de menor potencial ofensivo • Evitar a aplicação das medidas despenalizadores Com efeito, a lei nº 9.099/95 trouxe para a ordem jurídica brasileira 3 medidas despenalizadoras: a composição civil dos danos (art. 74); a transação penal (art. 76); e a suspensão condicional do processo (art. 89). Todas essas medidas visam a evitar o processo ou evitar uma condenação. Como o legislador deu um tratamento mais severo aos crimes praticados no âmbito da violência doméstica e familiar contra a mulher, ele quis que não fossem aplicadas medidas que permitam uma alternativa ao processo ou que impliquem uma alternativa à condenação, que são justamente as medidas despenalizadoras previstas na lei nº 9.099/95. #DEOLHONAJURIS - Inf. 654 do STF - Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher
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