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#LEGIS#LEGIS VIALLI, Igor. Lei Maria da penha (N. 11.340/06). Fortaleza: Ouse Saber, 2020. Lei Maria da Penha. Maria da penha. ISBN:– 978-65-990143-4-5. lei maria da penha (n. 11.340/06) Igor Henrique Vialli Graduado em Direito pelo Centro Universitário Curitiba | Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal Especialista em Direito Penal e Processual Penal E-mail: igorhevi@gmail.com #LEGIS Proposta do Legis A Coleção Legis tem como objetivo primordial preparar candidatos para os principais concur- sos públicos do país. Pela experiência adquirida ao longo dos anos estudando e lecionando para concursos públi- cos, bem como conversando com centenas e centenas de alunos aprovados, a conclusão a que cheguei é que, cada dia mais, torna-se indispensável para a aprovação em concursos, principalmente, na prova objetiva, o conhecimento adequado da legislação. Estudar a lei em sua literalidade, todavia, é algo árido e, normalmente, pouco estimulante. Para vencer essa dificuldade, o Ouse Saber idealizou o Legis, a sua melhor maneira de estudar a legis- lação. No Legis, a estrela é a “letra da lei”, mas um super time de Professores, com larga experiência na preparação para concursos, destaca os pontos mais importantes da legislação, além de fazer comentários rápidos e objetivos, apontar jurisprudência relevante sobre os temas e garantir questões para treinamen- to do conteúdo estudado. Tudo isso em um material de leitura agradável, com espaços para anotações e organização do estudo da lei em formato de plano dividido por dias. É realmente tudo que você precisa para aprender a legislação da forma mais rápida e agradável possível. Bons estudos e Ouse Saber! Filippe Augusto Defensor Público Federal Mestre e Doutor em Direito Coordenador do Legis #LEGIS Sumário Plano de Leitura da Lei: Dia 01................................................................................. Dos Arts. 1º ao 9º Dia 02............................................................................. Dos Arts. 13º ao 46º 5 #LEGIS 5 DIA 1 Disciplina: Legislação Criminal Extra- vagante - Lei n. 11.340/06 Responsável: Prof. Igor Vialli. Dia 01: Artigos 1º ao 9º Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 PREÂMBULO Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos ter- mos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe so- bre a criação dos Juizados de Violência Domés- tica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Exe- cução Penal; e dá outras providências. Comentários: Art. 226 da Constituição Federal: “A família, base da sociedade, tem especial pro- teção do Estado”. (…) § 8º “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Aprofundando: Antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988, no ano de 1984 foi realizada a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mu- lher, com sede no México, sob a organização da ONU. Todavia, mesmo com o advento da Constituição e a previsão constante no art. 226, §8º, somen- te no ano de 1996 foi adotado o primeiro passo de efetividade do combate aos referidos tipos de crimes, sendo promulgada através do Decreto n. 1973/1996 a Convenção Interamericana para Pre- venir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mu- lher, convenção esta realizada em Belém do Pará, no ano de 1994. Ainda assim, foi somente no ano de 2002 que o Presidente da República promulgou, por meio do Decreto n. 4.377/2002, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Finalmente, no ano de 2006, foi editada a Lei n. 11.340/06. O surgimento da lei somente ocorreu após vários casos graves de violência contra a mulher, dentre eles o mais conhecido: o caso “Maria da Penha”. A Cearense Maria da Penha foi vítima de diversos episódios de violência doméstica praticados por seu marido, desde descargas elétricas enquanto tomava banho à ferimentos causados por arma de fogo, dos quais ficou paraplégica. Ainda que o caso tenha sido levado a conheci- mento das Autoridades no ano de 1984, foi so- mente no ano de 2002 que o autor finalmente foi preso em razão de sentença condenatória defini- tiva, em razão da morosidade do sistema de per- secução penal. Tal mora foi denunciada à Comissão Interame- ricana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, sendo que, em 2001, a OEA responsabilizou o Estado Brasileiro pela demora, negligência e inefetividade da coibição da violên- cia doméstica e familiar contra a mulher. TÍTULO I DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coi- bir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência con- tra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violên- cia Doméstica e Familiar contra a Mulher; e es- tabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunida- #LEGIS 6 des e facilidades para viver sem violência, pre- servar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoa- mento moral, intelectual e social. Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justi- ça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convi- vência familiar e comunitária. § 1º O poder público desenvolverá políti- cas que visem garantir os direitos huma- nos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de res- guardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. § 2º Cabe à família, à sociedade e ao po- der público criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos enun- ciados no caput. Comentários: Os artigos introdutórios apenas retratam o fundamento constitucional da igual- dade entre homem e mulher (art. 5º, caput e art. 226, §5º, CF) e, sobretudo, a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF), assim como destaca o dever coletivo (família, sociedade e poder públi- co) na proteção de tal igualdade. Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar. Comentários: Positivação do norte da interpre- tação teleológica que deve guiar o operador do Direito. Anotações sobre os artigos anteriores: TÍTULO II DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, se- xual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de 2015) Comentários: Para caracterização de violência do- méstica e familiar contra a mulher há necessidade de cumulação de um dos âmbitos de incidência da lei (previstos em seu artigo 5º) com uma das formas de violência (previstas em seu artigo 7º), as quais podem ser praticadas tanto por ação como por omissão. Aprofundando:Chama atenção a disposição do caput do artigo, que deixa bem claro que o conceito de violência é toda ação ou omissão BASEADA NO GÊNERO que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial à mulher. Por isso, não basta que o sujeito passivo da conduta seja mulher, mas a MOTIVAÇÃO da ação ou omissão deve estar necessariamente relaciona- da à sua situação de vulnerabilidade ou hipossufi- ciência naquele ambiente da unidade doméstica, da família ou de qualquer relação íntima de afeto. Alguns entendem, também, por exemplificar situa- ções de “dominância” entre o sujeito ativo e o sujei- to passivo, demonstrando que o sujeito ativo deve possuir uma “hierarquia” ou “posição” superior ao sujeito passivo, seja do ponto de vista familiar, eco- nômico, social ou qualquer outra que caracterize essa relação de dependência de um (mulher) para com o outro (agressor ou agressora). I - no âmbito da unidade doméstica, com- preendida como o espaço de convívio per- manente de pessoas, com ou sem víncu- lo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; Comentários: Percebam a desnecessidade de vínculo familiar. Basta para sua caracterização 7 #LEGIS 7 que a mulher conviva, de modo permanente (não passageiro, não esporádico) com o agressor, como no caso de amigos (homem e mulher) que dividem um apartamento, sem relação de afeto entre os dois, ou até na hipótese de empregada doméstica para com seu empregador. II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indiví- duos que são ou se consideram aparenta- dos, unidos por laços naturais, por afini- dade ou por vontade expressa; Comentários: Diferentemente da hipótese ante- rior, aqui a unidade central é a configuração da entidade familiar, seja ela natural, por afinidade ou vontade expressa. Veja que o inciso não traz como requisito a coabitação, por exemplo, de modo que não há que se perquirir se agressor e vítima moram ou convivem no mesmo espaço de modo duradouro, bastando a caracterização dos laços familiares. São os casos, por exemplo, en- volvendo irmãos (ainda que não morem juntos), genro e sogra, dentre outros. Súmula 600, STJ: Para a configuração da violên- cia doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei n. 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor e vítima III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha con- vivido com a ofendida, independente- mente de coabitação. Comentários: Hipótese que traduz o relaciona- mento envolvendo a mulher independentemen- te da orientação sexual (como ressalta o parágra- fo único), ressaltando que o relacionamento não precisa envolver coabitação. É o caso de relacio- namento entre namorados, por exemplo. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orien- tação sexual. Aprofundando: Existe corrente que defende a não incidência da lei para transexuais, ainda que exista cirurgia de reversão genital e alteração do sexo no registro de nascimento (v.g RENATO BRASILEIRO). Já outra corrente entende pela possibilidade, sendo inclusive desnecessária eventual alteração de sexo no registro de nasci- mento, encontrando suporte na jurisprudência (v.g Acórdão n.1089057, 20171610076127RSE, Relator: GEORGE LOPES 1ª TURMA CRIMINAL, DJ: 05/04/2018 – TJDFT). Vale destacar existir projeto de lei em tramitação (PLS n. 191/2017) para inclu- são formal do âmbito de proteção da norma de qualquer um que se identificar como integrante do gênero feminino. Jurisprudência: PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AMEAÇA. LESÃO CORPO- RAL. APLICAÇÃO DA LEI N. 11.340/06. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO. I - A jurisprudência desta Corte Superior de Justi- ça orienta-se no sentido de que, para que a com- petência dos Juizados Especiais de Violência Do- méstica seja firmada, não basta que o crime seja praticado contra mulher no âmbito doméstico ou familiar, exigindo-se que a motivação do acusa- do seja de gênero, ou que a vulnerabilidade da ofendida seja decorrente da sua condição de mulher. II - No caso dos autos, embora o crime esteja sen- do praticado no âmbito das relações domésticas, familiares e de coabitação, o certo é que, em mo- mento algum, restou demonstrado que teria sido motivado por questões de gênero, ou mesmo que a vítima estaria em situação de vulnerabili- dade por ser do sexo feminino. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp 1842913/GO, Rel. Ministro LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGA- DOR CONVOCADO DO TJ/PE), QUINTA TURMA, julgado em 03/12/2019, DJe 19/12/2019) Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos. Anotações sobre os artigos anteriores: #LEGIS 8 CAPÍTULO II DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: Comentários: Lembre-se que o art. 7º comple- menta o art. 5º para a efetiva caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher. I - a violência física, entendida como qual- quer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emo- cional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desen- volvimento ou que vise degradar ou contro- lar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangi- mento, humilhação, manipulação, isola- mento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; (Reda- ção dada pela Lei nº 13.772, de 2018) III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a pre- senciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimida- ção, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qual- quer modo, a sua sexualidade, que a impe- ça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coa- ção, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure re- tenção, subtração, destruição parcial ou to- tal de seus objetos, instrumentos de traba- lho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessida- des; V - a violência moral, entendida como qual- quer conduta que configure calúnia, difa- mação ou injúria. Aprofundando: A palavra da vítima em casos en- volvendo violência doméstica e familiar contra a mulher possui especial relevância no contexto probatório, pois geralmente esse tipo de delito é praticado de modo clandestino, isto é, sem a presença de testemunhas e corriqueiramente até sem rastros materiais. Jurisprudência: “A palavra da vítima, em har- monia com os demais elementos presentes nos autos, possui relevante valor probatório, espe- cialmente em crimes que envolvem violência do- méstica e familiar contra a mulher” (HC 461.478/ PE, Rel. Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, DJe 12/12/2018). TÍTULO III DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CAPÍTULO I DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios e de ações não-governa- mentais, tendo por diretrizes: I - a integração operacional do Poder Judi- ciário, do Ministério Público e da Defenso- ria Pública com as áreas de segurança pú- blica, assistência social, saúde, educação, trabalhoe habitação; II - a promoção de estudos e pesquisas, es- tatísticas e outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqü- ências e à freqüência da violência domés- tica e familiar contra a mulher, para a sis- tematização de dados, a serem unificados nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das medidas adotadas; III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais da pes- soa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacer- bem a violência doméstica e familiar, de acordo com o estabelecido no inciso III do 9 #LEGIS 9 art. 1º , no inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal ; IV - a implementação de atendimento po- licial especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher; V - a promoção e a realização de campa- nhas educativas de prevenção da violência doméstica e familiar contra a mulher, vol- tadas ao público escolar e à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumen- tos de proteção aos direitos humanos das mulheres; VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos gover- namentais ou entre estes e entidades não- -governamentais, tendo por objetivo a im- plementação de programas de erradicação da violência doméstica e familiar contra a mulher; VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Cor- po de Bombeiros e dos profissionais per- tencentes aos órgãos e às áreas enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; VIII - a promoção de programas educa- cionais que disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia; IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os con- teúdos relativos aos direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. Anotações gerais sobre os artigos anteriores: CAPÍTULO II DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assis- tência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sis- tema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emer- gencialmente quando for o caso. § 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da mulher em situação de vio- lência doméstica e familiar no cadastro de programas assistenciais do governo federal, estadual e municipal. § 2º O juiz assegurará à mulher em si- tuação de violência doméstica e fami- liar, para preservar sua integridade física e psicológica: I - acesso prioritário à remoção quan- do servidora pública, integrante da administração direta ou indireta; II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do lo- cal de trabalho, por até seis meses. III - encaminhamento à assistência ju- diciária, quando for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anu- lação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competen- te. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) § 3º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar com- preenderá o acesso aos benefícios de- correntes do desenvolvimento científico e tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de emergência, a profi- laxia das Doenças Sexualmente Trans- missíveis (DST) e da Síndrome da Imu- nodeficiência Adquirida (AIDS) e outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos casos de violência sexual. § 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou patrimo- nial a mulher fica obrigado a ressarcir #LEGIS 10 todos os danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os custos relativos aos serviços de saúde prestados para o total tratamento das vítimas em situação de violência domés- tica e familiar, recolhidos os recursos as- sim arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pelas unida- des de saúde que prestarem os serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019). § 5º Os dispositivos de segurança desti- nados ao uso em caso de perigo iminente e disponibilizados para o monitoramen- to das vítimas de violência doméstica ou familiar amparadas por medidas prote- tivas terão seus custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) § 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza ao patrimônio da mulher e dos seus depen- dentes, nem configurar atenuante ou ensejar possibilidade de substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) Comentários: Importante novidade legislati- va do ano de 2019 que traz a responsabilidade civil do agressor no ressarcimento dos valores despendidos pelo Estado no tratamento das vítimas de violência doméstica e familiar. § 7º A mulher em situação de violên- cia doméstica e familiar tem prioridade para matricular seus dependentes em instituição de educação básica mais pró- xima de seu domicílio, ou transferi-los para essa instituição, mediante a apre- sentação dos documentos comproba- tórios do registro da ocorrência policial ou do processo de violência doméstica e familiar em curso. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) § 8º Serão sigilosos os dados da ofendi- da e de seus dependentes matriculados ou transferidos conforme o disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às informa- ções será reservado ao juiz, ao Ministé- rio Público e aos órgãos competentes do poder público. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) CAPÍTULO III DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de violência doméstica e familiar con- tra a mulher, a autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de ime- diato, as providências legais cabíveis. Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo ao descumprimento de me- dida protetiva de urgência deferida. Comentários: A inclusão tal dispositivo até mos- tra-se desnecessária em razão da já obrigação funcional-legal da Autoridade Policial de agir diante de notitia criminis. Seja como for, reforça- -se a preocupação do legislador com a IMEDIATA proteção da mulher. Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininterrupto e prestado por servidores - preferencialmen- te do sexo feminino - previamente capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Comentários: Atenção para trocas propositais de “preferencialmente” por “exclusivamente”. § 1º A inquirição de mulher em situação de violência doméstica e familiar ou de testemunha de violência doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluí- do pela Lei nº 13.505, de 2017) I - salvaguarda da integridade física, psí- quica e emocional da depoente, conside- rada a sua condição peculiar de pessoa em situação de violência doméstica e fami- liar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em situação de violência domés- tica e familiar, familiares e testemunhas terão contato direto com investigados ou suspeitos e pessoas a eles relaciona- das; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 11 #LEGIS 11 III - não revitimização da depoente, evi- tando sucessivas inquirições sobre o mes- mo fato nos âmbitos criminal, cível e ad- ministrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 2º Na inquirição de mulher em situação de violência domésticae familiar ou de tes- temunha de delitos de que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) I - a inquirição será feita em recinto espe- cialmente projetado para esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e ade- quados à idade da mulher em situação de violência doméstica e familiar ou testemu- nha e ao tipo e à gravidade da violência so- frida; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) II - quando for o caso, a inquirição será in- termediada por profissional especializado em violência doméstica e familiar desig- nado pela autoridade judiciária ou poli- cial; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou magnético, devendo a degra- vação e a mídia integrar o inquérito. (Incluí- do pela Lei nº 13.505, de 2017) Aprofundando: O objetivo da lei é evitar a cha- mada “revitimização”, estudada pela Criminolo- gia. A “vitimização”, com efeito, é chamada de PRIMÁRIA quando expressa os danos causados à vítima direta e imediatamente com a prática deli- tiva. Chama-se de SECUNDÁRIA quando a vítima, já tendo sofrido pela consequência inicial do cri- me, é demandada a esperar, a comparecer inú- meras vezes aos órgãos estatais (polícia, justiça), sofrendo novamente, portanto, com a burocracia estatal. Por fim, diz-se TERCIÁRIA quando ela novamente sofre julgamentos ou preconceitos por parte da própria sociedade. Art. 11. No atendimento à mulher em si- tuação de violência doméstica e familiar, a auto- ridade policial deverá, entre outras providên- cias: Comentários: Trata-se de rol EXEMPLIFICATIVO de providências a serem imediatamente adota- das, lembrando-se que qualquer outra que aten- der aos fins a que a lei se destina (interpretação teleológica do art. 4º) é indicável ao caso. I - garantir proteção policial, quando ne- cessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder Judiciário; II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Le- gal; III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver risco de vida; IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus perten- ces do local da ocorrência ou do domicílio familiar; V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços dispo- níveis, inclusive os de assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável. (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) Art. 12. Em todos os casos de violência do- méstica e familiar contra a mulher, feito o regis- tro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimen- tos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal: I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a ter- mo, se apresentada; II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas cir- cunstâncias; III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a conces- são de medidas protetivas de urgência; IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários; V - ouvir o agressor e as testemunhas; VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antece- #LEGIS 12 dentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele; VI-A - verificar se o agressor possui regis- tro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desar- mamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 2019) VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público. Comentários: Muitas das diligências traduzem repetições do já previsto no Código de Processo Penal. § 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter: I - qualificação da ofendida e do agressor; II - nome e idade dos dependentes; III - descrição sucinta do fato e das medi- das protetivas solicitadas pela ofendida. Comentários: As medidas protetivas de urgência estão previstas no art. 18 da Lei Maria da Penha e possuem natureza jurídica de “medidas cau- telares”, razão pela qual estão condicionadas à comprovação do fumus comissi delicti (indícios suficientes de situação de violência doméstica e familiar contra a mulher) e periculum libertatis (risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência domés- tica e familiar, ou de seus dependentes). Elas serão objeto de estudo no dispositivo pró- prio, valendo lembrar, por ora, que o rol é mera- mente exemplificativo, vigorando o que a dou- trina chama de “princípio da atipicidade das medidas protetivas de urgência” - RENATO BRA- SILEIRO. IV - informação sobre a condição de a ofen- dida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexisten- te. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019) § 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos os documen- tos disponíveis em posse da ofendida. § 3º Serão admitidos como meios de pro- va os laudos ou prontuários médicos for- necidos por hospitais e postos de saúde. Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na formulação de suas políticas e planos de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, darão prioridade, no âm- bito da Polícia Civil, à criação de Delegacias Es- pecializadas de Atendimento à Mulher (Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de equipes especializadas para o atendimento e a investigação das violências graves contra a mu- lher. Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) § 3º A autoridade policial poderá requi- sitar os serviços públicos necessários à defesa da mulher em situação de violência doméstica e familiar e de seus dependen- tes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) Comentários: Em 2017, houve a primeira tenta- tiva formal de inclusão da possibilidade de con- cessão de medidas protetivas de urgência pela Autoridade Policial, mas o dispositivo foi veta- do em razão da alegada inconstitucionalidade material, por violação aos artigos 2º e 144, § 4º, da Constituição, ao invadirem competência afe- ta ao Poder Judiciário e buscarem estabelecer competência não prevista para as polícias civis. Em 2019, no entanto, foi regularmente editada e publicada a Lei n. 13.827/19, abaixo estudada. Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar, domi- cílio ou local de convivência com a ofendi- da: (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) 13 #LEGIS 13 I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver dele- gado disponível no momento da denún- cia. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Comentários: Em regra, cabe a Autoridade Ju- dicial a concessão das medidas protetivas de urgência. A exceção trazida pela lei diz respeito à concessão da medida protetiva de urgência es- pecífica de “afastamento do lar, domicílio ou lo- cal de convivência com a ofendida”,a qual pode ser concedida pelo Delegado de Polícia, quan- do o município não for sede de comarca, ou até mesmo pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponí- vel no momento da denúncia. A concessão não é definitiva, no entanto, pois deve ser comunicada no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz, nos termos do abaixo §1º: § 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comu- nicado no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada, devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemen- te. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Aprofundando: Há corrente que defende a in- constitucionalidade do artigo 12-C da Lei n. 11.340/06 sob o fundamento de violação ao prin- cípio da jurisdicionalidade das medidas cautela- res. Há, inclusive, uma ADI (6138) em trâmite no STF ajuizada pela Associação dos Magistrados Brasileiros. § 2º Nos casos de risco à integridade fí- sica da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não será concedida liberdade provisória ao pre- so. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019); Anotações sobre os artigos anteriores: Para Fixação: Ano: 2016/ Banca: CESPE/ Órgão: TCE PA – Auditor de Controle Externo – Área Administrativa – Serviço Social A Declaração Universal dos Direitos Humanos re- conhece a liberdade, a justiça e a paz no mundo como os fundamentos para que os direitos sejam iguais. A esse respeito, julgue o item que se se- gue. A Lei Maria da Penha estabelece que a as- sistência a mulher vítima de violência deverá ser prestada de forma articulada e intersetorialmen- te, no entanto não aponta quais são as principais políticas setoriais para tanto. Para Fixação: Ano: 2019/ Banca: VUNESP/ Ór- gão: Câmara de Piracicaba - Advogado Maria é casada com João há 10 anos. Sempre dependeu financeiramente do marido. Recen- temente João passou a tratar a esposa de ma- neira diferente. Num primeiro momento, pas- sou a chamá-la de gorda e vagabunda. Depois disse que ela estava proibida de tomar anti- concepcional, pois era caro e ela que se virasse para não engravidar, porque ele não faria nada para evitar filhos. Por fim, disse em uma fes- ta de família que Maria era ladra, pois, se ele estava endividado, isso se dava por que Maria “roubava” o dinheiro dele. Diante desse qua- dro, nos termos da Lei n° 11.340/2006, é certo afirmar que: a) o primeiro ato de João contra Maria é exclusi- vamente de violência moral. b) de todos os atos praticados por João contra Maria, o da violência física foi o mais grave. c) impedir Maria de usar anticoncepcional pode ser enquadrado como violência sexual. d) a acusação de “roubo” contra Maria se confi- gura exclusivamente como violência psicológica. e) o ato de impedir que Maria utilize anticoncep- cional, alegando seu preço alto, é tanto violência patrimonial quanto moral. Para Fixação: Ano: 2019/ Banca: CEV-URCA/ Órgão: Prefeitura de Mauriti-CE – Assistente Social #LEGIS 14 Conforme o Artigo 12, da Lei Maria da Penha “Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial ado- tar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal”. Com base nos procedimentos previstos na Lei, podemos destacar: I – Remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao Juiz e ao Ministério Público; II – Determinar que se proceda ao exame de cor- po de delito da ofendida e requisitar outros exa- mes periciais necessários; III – Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; IV – Remeter, no prazo de 24 (vinte e quatro) ho- ras, expediente apartado ao juiz com o pedido da autoridade policial, para avaliar a necessidade da concessão de medidas protetivas de urgência; Estão corretos: a) I, II e IV. b) I, II e III. c) II, III e IV. d) II e IV. e) III e IV. Anotações gerais sobre as questões anteriores: GABARITO: “Errado”. | GABARITO: letra “c”. | “B” - atenção para confusão com o prazo: 48 horas! As provas sempre tentam colocar 24 horas. 15 #LEGIS 15 DIA 2 Disciplina: Legislação Criminal Extra- vagante - Lei n. 11.340/06 Responsável: Prof. Igor Vialli. Dia 01: Artigos 13º ao 46º. Estudado Revisão 1 Revisão 2 Revisão 3 PREÂMBULO Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos ter- mos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe so- bre a criação dos Juizados de Violência Domés- tica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Exe- cução Penal; e dá outras providências. TÍTULO IV DOS PROCEDIMENTOS CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decor- rentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as nor- mas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei. Art. 14. Os Juizados de Violência Domésti- ca e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Fede- ral e nos Territórios, e pelos Estados, para o pro- cesso, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária. Comentários: Como já consignado no preâmbu- lo da legislação, a lei em comento também inovou criando juizados de violência doméstica com com- petência mista (cível e criminal), a fim de facilitar o acesso ao Judiciário e conferir maior concretude e celeridade aos casos de violência doméstica e fa- miliar contra a mulher. Aprofundando: No caso de FEMINICÍDIO (art. 121, §2º, VI e §2º-A, do Código Penal), por se tratar de crime doloso contra a vida com competência cons- titucionalmente definida (art. 5º, XXXVIII, CF), o jul- gamento do caso pertence ao Tribunal do Júri. No entanto, prevalece o entendimento de que a primeira fase do procedimento do júri (fase de pronúncia), deve ocorrer no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de divórcio ou de dissolução de união es- tável no Juizado de Violência Doméstica e Fami- liar contra a Mulher. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) § 1º Exclui-se da competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a pretensão relacionada à parti- lha de bens. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) § 2º Iniciada a situação de violência do- méstica e familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de dissolução de união estável, a ação terá preferência no juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) Comentários: Atentem-se para a exclusão da par- tilha de bens da competência dos Juizados, assim como para o fato do não deslocamento de compe- tência de ação cível já ajuizada perante Vara Co- mum para o Juizado no caso de posterior situação de violência doméstica. Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: #LEGIS 16 I - do seu domicílio ou de sua residência; II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; III - do domicílio do agressor. Art. 16. Nas ações penais públicas con- dicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúnciae ouvido o Ministério Público. Comentários: Talvez o dispositivo mais cobrado em provas! O que a lei chama de “renúncia” é, na realidade, a retratação da representação, nos termos do art. 25 do Código de Processo Penal. No entanto, per- cebam a diferença do limite temporal entre a Lei Maria da Penha (a retratação deve ocorrer antes do RECEBIMENTO da denúncia) e o CPP (retra- tação pode ocorrer até o OFERECIMENTO da de- núncia). Essa audiência a que faz referência a lei não é au- tomática (como se parte do procedimento para “confirmação” da representação), de modo que só deve ser marcada se houver prévia manifesta- ção inequívoca da vítima nesse sentido, sempre com oitiva prévia do MP. Jurisprudência: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. INADEQUAÇÃO. LESÃO CORPORAL NO CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉS- TICA E ESTUPRO. REJEIÇÃO DA DENÚNCIA PELA RETRATAÇÃO DA VÍTIMA. RESE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PROVIDO NA ORIGEM. INOBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ART. 16 DA LEI Nº 11.340/06 E NOS ARTS. 25 DO CPP E 102 DO CP. IRRETOCÁVEL O ENTENDIMENTO. HABEAS CORPUS NÃO CO- NHECIDO. (…) 2. A Lei Maria da Penha disciplina procedimento próprio para que a vítima possa eventualmente se retratar de representação já apresentada. Des- sarte, dispõe o art. 16 da Lei n. 11.340/2006 que, “só será admitida a renúncia à representação pe- rante o juiz, em audiência especialmente desig- nada com tal finalidade” (HC 371.470/RS, Rel. Mi- nistro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2016, DJe 25/11/2016). 3. Considerando que, no caso em apreço, a retra- tação da suposta ofendida ocorreu somente em cartório, sem a designação de audiência específi- ca necessária para a confirmação do ato, correto posicionamento da Corte de origem ao elucidar tal ilegalidade e cassar a decisão que rejeitou a denúncia com base unicamente na retratação. (...) (HC 138.143/MG, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 03/09/2019, DJe 10/09/2019) Súmula n. 542, do STJ: “A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência doméstica e familiar contra a mulher é pública incondicionada”. Súmula n. 588, do STJ: “A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com vio- lência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos”. Súmula n. 589, STJ: “É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas”. Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de presta- ção pecuniária, bem como a substituição de pena que implique o pagamento isolado de multa. Anotações sobre os artigos anteriores: 17 #LEGIS 17 CAPÍTULO II DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA Seção I Disposições Gerais Art. 18. Recebido o expediente com o pedi- do da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas: Comentários: Percebam que tanto para a remes- sa do pedido da ofendida, como para a análise pelo juiz das medidas protetivas, é de 48 (quaren- ta e oito) horas. I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência; II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judi- ciária, quando for o caso, inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável perante o juízo competente; (Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis. IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo sob a posse do agressor. (In- cluído pela Lei nº 13.880, de 2019) Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida. Comentários: Pela redação legal, não cabe a concessão de medidas protetivas de urgência de ofício pelo Juiz. § 1º As medidas protetivas de urgência po- derão ser concedidas de imediato, inde- pendentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comuni- cado. Comentários: A concessão pode ocorrer inaudi- ta altera parte. § 2º As medidas protetivas de urgência se- rão aplicadas isolada ou cumulativamen- te, e poderão ser substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sem- pre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados. § 3º Poderá o juiz, a requerimento do Mi- nistério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedi- das, se entender necessário à proteção da ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. Art. 20. Em qualquer fase do inquérito po- licial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Públi- co ou mediante representação da autoridade policial. Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. Comentários: A Lei Maria da Penha, como se per- cebe, permite a decretação da prisão preventiva DE OFÍCIO pelo Juiz, ainda que na fase de Inqué- rito Policial. Tema bastante polêmico, especialmente diante das profundas alterações promovidas pela Lei n. 13.694/19, que sedimentou a ausência de inicia- tiva judicial na fase pré-processual, sobretudo. Há corrente, no entanto, que defende a manu- tenção da vigência do dispositivo da Lei Maria da Penha em razão do Princípio da Especialidade, até porque a impossibilidade de decretação da prisão de ofício pelo Juiz em tal fase já havia sido extirpada do CPP com a Lei n. 12.403/11. Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos processuais relativos ao agressor, especialmente dos pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da intimação do advogado constituído ou do defensor público. Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar intimação ou notificação ao agres- sor . #LEGIS 18 Seção II Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, en- tre outras: Comentários: Rol meramente exemplificativo. I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ; II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; Aprofundando: Lembre-se que essa medida em específico também pode ser aplicada pela Auto- ridade Policial ou por policial, nos termos do art. 12-C. III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus fa- miliares e das testemunhas, fixando o li- mite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de co- municação; c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psi- cológica da ofendida; IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar; V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. VI – comparecimento do agressor a progra- mas de recuperação e reeducação VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento indivi- dual e/ou em grupo de apoio. § 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre que a se- gurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser co- municada ao Ministério Público. § 2º Na hipótesede aplicação do inciso I [suspensão da posse ou restrição do porte de armas], encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezem- bro de 2003 [rol de pessoas que podem ter porte de arma, como policiais, militares, funcionários de empresas de segurança privada e transporte de valores, etc.], o juiz comunicará ao respectivo órgão, corpo- ração ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o su- perior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação judi- cial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, con- forme o caso. § 3º Para garantir a efetividade das medi- das protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento, auxílio da força policial. § 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil). Comentários: Normas que disciplinam a tutela judicial sobre cumprimento de obrigação de fa- zer ou não fazer. Seção III Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas: I - encaminhar a ofendida e seus depen- dentes a programa oficial ou comunitário de proteção ou de atendimento; II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo do- micílio, após afastamento do agressor; 19 #LEGIS 19 III - determinar o afastamento da ofendi- da do lar, sem prejuízo dos direitos relati- vos a bens, guarda dos filhos e alimentos; IV - determinar a separação de corpos. V - determinar a matrícula dos depen- dentes da ofendida em instituição de educação básica mais próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para essa instituição, independentemente da existência de vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou daqueles de pro- priedade particular da mulher, o juiz poderá de- terminar, liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida; II - proibição temporária para a celebra- ção de atos e contratos de compra, venda e locação de propriedade em comum, sal- vo expressa autorização judicial; III - suspensão das procurações conferi- das pela ofendida ao agressor; IV - prestação de caução provisória, me- diante depósito judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática de violên- cia doméstica e familiar contra a ofendida. Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins previstos nos incisos II e III deste artigo. Aprofundando: O e. STJ já admitiu o cabimento de Habeas Corpus para apurar eventual ilegalida- de (não discussão de mérito das medidas ou dila- ção probatória) na fixação de medidas protetivas de urgência (HC n. 298.499/AL). Anotações sobre os artigos anteriores: Seção IV (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Do Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) § 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) § 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá con- ceder fiança. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) § 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabí- veis. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) Comentários: Até o advento da Lei n. 13.641/18, no caso de descumprimento de alguma das me- didas protetivas de urgência fixadas pelo juiz, o agente descumpridor não respondia pelo crime de desobediência, cabendo ao juiz substituir as protetivas por mais gravosas, executar multa eventualmente imposta e, no máximo, decretar sua prisão preventiva (art. 313, III, CPP). Agora, o descumprimento de medida protetiva fixada pelo JUIZ (a fixada nos termos do art. 12- C, pelo Delegado de Polícia ou por Policial não é elementar do tipo) caracteriza a prática do crime em comento. Aprofundando: O crime é PRÓPRIO (só pode ser praticado pelo agente que deveria cumprir a de- terminação judicial), COMISSIVO ou OMISSIVO (omissão no caso de não pagamento de alimen- tos provisórios, por exemplo), evidentemente DOLOSO (não há previsão culposa) e pressupõe, por óbvio, o conhecimento do agente da existên- cia e vigência das referidas medidas protetivas de urgência. Atenção especial, por fim, ao fato de só caber fiança pela Autoridade Judicial no caso de prisão #LEGIS 20 em flagrante (ainda que a pena máxima abstra- tamente cominada ao tipo penal fique dentro do patamar previsto no art. 322, do CPP, que permi- te a fiança pela Autoridade Policial). Anotações sobre os artigos anteriores: CAPÍTULO III DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for parte, nas causas cíveis e cri- minais decorrentes da violência doméstica e familiar contra a mulher. Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, quando necessário: I - requisitar força policial e serviços públi- cos de saúde, de educação, de assistência social e de segurança, entre outros; II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e particulares de atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as medidas adminis- trativas ou judiciais cabíveis no tocante a quaisquer irregularidades constatadas; III - cadastrar os casos de violência domés- tica e familiar contra a mulher. Anotações sobre os artigos anteriores: 21 #LEGIS 21 CAPÍTULO IV DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA Art. 27. Em todos os atos processuais, cí- veis e criminais, a mulher em situação de vio- lência doméstica e familiar deverá estar acom- panhada de advogado, ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei. Comentários: A ressalva final diz respeito ao pedido de concessão de medidas protetivas de urgência, que não precisa ser intermediado por advogado, pois é formulado diretamente pela ofendida perante a Autoridade Policial (que en- caminha ao Juízo) ou requerido pelo Ministério Público. Art. 28. É garantido a toda mulher em si- tuação de violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de Defensoria Pública ou de Assis- tência Judiciária Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, mediante atendimento específico e humanizado. TÍTULO V DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR Art. 29. Os Juizados de Violência Domés- tica e Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a ser inte- grada por profissionais especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde. Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Públi- co e à Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver traba- lhos de orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e aos adolescentes. Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais aprofundada, o juiz pode- rá determinar a manifestação de profissional es- pecializado, mediante a indicação da equipe de atendimento multidisciplinar. Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta orçamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias. TÍTULOVI DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput. TÍTULO VII DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e do serviço de assistência judiciária. Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite das respectivas competências: I - centros de atendimento integral e mul- tidisciplinar para mulheres e respectivos dependentes em situação de violência do- méstica e familiar; II - casas-abrigos para mulheres e respecti- vos dependentes menores em situação de violência doméstica e familiar; III - delegacias, núcleos de defensoria pú- blica, serviços de saúde e centros de perí- cia médico-legal especializados no atendi- #LEGIS 22 mento à mulher em situação de violência doméstica e familiar; IV - programas e campanhas de enfrenta- mento da violência doméstica e familiar; V - centros de educação e de reabilitação para os agressores. Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Fede- ral e os Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. Art. 37. A defesa dos interesses e direitos transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida, concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação de atuação na área, regularmente constituída há pelo menos um ano, nos termos da legislação civil. Parágrafo único. O requisito da pré- constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há outra entidade com representatividade adequada para o ajuizamento da demanda coletiva. Art. 38. As estatísticas sobre a violência do- méstica e familiar contra a mulher serão incluí- das nas bases de dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim de subsi- diar o sistema nacional de dados e informações relativo às mulheres. Parágrafo único. As Secretarias de Seguran- ça Pública dos Estados e do Distrito Federal po- derão remeter suas informações criminais para a base de dados do Ministério da Justiça. Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro da medida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência serão registradas em banco de da- dos mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso do Mi- nistério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetivida- de das medidas protetivas. (Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Fe- deral e os Municípios, no limite de suas com- petências e nos termos das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada exercício financeiro, para a implementação das medidas estabelecidas nesta Lei. Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados. Art. 41. Aos crimes praticados com violên- cia doméstica e familiar contra a mulher, inde- pendentemente da pena prevista, não se apli- ca a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Comentários: Em razão da vedação legal, toda e qualquer infração penal cometida contra mulher em contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher (ainda que mera contravenção penal, como a de vias de fato) é apurada median- te Inquérito Policial, jamais Termo Circunstancia- do. Como consequência, não se aplicam aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher as medidas despenalizadoras da Lei 9.099.95, tais como a composição civil dos danos, transação penal e a suspensão condicional do processo. É justamente pelo afastamento da aplicação da Lei n. 9.099/95, inclusive, que a ação penal relativa ao crime de lesão corporal (ainda que de natu- reza leve) é incondicionada, pois a exigência de representação consta da Lei dos Juizados (que é afastada por imposição legal). Súmula n. 536, STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha. Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar acrescido do seguinte inciso IV: “Art.313. (…) IV - se o crime envolver vio- lência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência.” (NR) Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 23 #LEGIS 23 1940 (Código Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: “Art.61. (…) II - (…) f) com abuso de autori- dade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violên- cia contra a mulher na forma da lei específica”; Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vi- gorar com as seguintes alterações: “Art.129. (…) § 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hos- pitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (…) § 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de defi- ciência.” (NR) Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a seguinte redação: “Art.152. (…) Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz pode- rá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeduca- ção.” (NR) Comentários: A Lei Maria da Penha, por fim, pro- moveu diversas modificações no Código Penal, Código de Processo Penal e na Legislação Criminal Extravagante, sendo as mais importantes a nova hipótese de segregação provisória para garantir a execução das medidas protetivas de urgência e a nova figura do art. 129, §9º, do Código Penal, cri- me este cujo sujeito passivo não precisa ser neces- sariamente mulher (se for mulher, aí cumulam-se os dispositivos da Lei Maria da Penha). Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) dias após sua publicação. Anotações sobre os artigos anteriores: #LEGIS 24 Para fixação: Ano: 2017/ Banca: CESPE/ Órgão: Polícia Civil/GO – Delegado de Polícia À luz do posicionamento jurisprudencial e doutrinário dominantes acerca das disposições da Lei n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha), assinale a opção: Em se tratando dos crimes de lesão corporal leve e ameaça, pode o Ministério Público dar início à ação penal sem necessidade de representação da vítima de violência doméstica. GABARITO: “Errado” - A Lei n. 9.099/95 foi afas- tada aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, e não os dispositivos do Código Penal. Daí, a despeito da lesão corporal de natu- reza leve ser procedida mediante ação penal pú- blica incondicionada, os demais crimes do Códi- go Penal que exigirem representação continuam necessitando dessa condição especial de proce- dibilidade (como a ameaça, estupro, etc.). Para Fixação: Ano: 2015/ Banca: CESPE/ Órgão: TJDF – Juiz de Direito. Nas ações penais que visem reprimir violência doméstica e familiar contra a mulher, não se ad- mite a aplicação das medidas de natureza cível, e, se provocado, o juízodeve declinar da compe- tência de ofício. Para fixação: Ano: 2019/ Banca: QUADRIX/ Ór- gão: CRESS - GO – Agente Fiscal As legislações materializam e consolidam as conquistas de direitos na sociedade contem- porânea. Sendo assim, julgue o item , relativo ao Estatuto da Criança e do Adolescente, ao Es- tatuto do Idoso e à Lei Maria da Penha: É vedada a aplicação, nos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a substituição de pena que aplique o pagamento isolado de multa. Para fixação: Ano: 2017/ Banca: CESPE/ Órgão: Polícia Civil/GO – Delegado de Polícia À luz do posicionamento jurisprudencial e doutrinário dominantes acerca das disposi- ções da Lei n. 11.340/06 (Lei Maria da Penha), assinale a opção: No âmbito de aplicação da referida lei, as medi- das protetivas de urgência poderão ser concedi- das independentemente de audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, o qual deverá ser prontamente comunicado. Anotações sobre os artigos anteriores: GABARITO: “Errado”. | “Certo”. | “Certo”.
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