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Fungicidas Sistemicos

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ABEAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curso de 
Especialização 
Por Tutoria à Distância 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Brasília – DF 
 
 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUACAÇÃO AGRÍCOLA SUPERIOR- ABEAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE PROTEÇÃO DE PLANTAS 
 
 
 
MÓDULO 7 – CONTROLE DE DOENÇAS DE PLANTAS 
 
 
 
Módulo 7.4 – Introdução ao Uso dos Fungicidas Sistêmicos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TUTORES 
 
 
Prof. Laércio Zambolim (UFV) 
Prof. Francisco X. Ribeiro do Vale (UFV) 
Marcelo Barreto da Silva (UFV) 
 
 
 
 
 
BRASÍLIA – DF 
1998 
CONTEÚDO 
 
 
 
 
 
 
 Página 
PRÉ – TESTE........................................................................................................... 4 
OBEJETIVOS............................................................................................................ 5 
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 6 
SIGNIFICADO DE UM COMPOSTO SITÊMICO...................................................... 6 
PENETRAÇÃO......................................................................................................... 9 
MOVIMENTO DENTRO DA PLANTA....................................................................... 9 
TOXICIDADE SELETIVA.......................................................................................... 12 
ESTABILIDADE METABÓLICA................................................................................ 14 
 
 
VANTAGENS DO USO DE FUNGICIDAS SISTÊMICOS........................................ 15 
COMPARAÇÃO ENTRE OS FUNGICIDAS SISTÊMICOS E OS PROTETORES... 16 
VIAS DE PENETRAÇÃO DE FUNGICIDAS SISTÊMICOS...................................... 17 
 Folha............................................................................................................ 17 
 Caule............................................................................................................ 19 
 Raiz.............................................................................................................. 20 
 Semente....................................................................................................... 23 
CONSEQÜÊNCIA DO USO DE FUNGICIDAS SISTÊMICOS................................. 24 
MECANISMOS DE RESISTÊNCIA.......................................................................... 25 
 Decréscimo da Permeabilidade................................................................... 25 
 Aumento na Desintoxicação........................................................................ 25 
 Decréscimo da Afinidade no Sítio de Ação.................................................. 26 
 Adaptação por Evitamento........................................................................... 26 
COMO RESISTÊNCIA SURGE EM CONDIÇÕES DE CAMPO............................... 26 
PÓS – TESTE........................................................................................................... 29 
 4 
 MÓDULO 7 – CONTROLE DE DOENÇAS DE PLANTAS 
 
 
MÓDULO 7.4 – Introdução ao Uso dos Fungicidas Sistêmicos 
 
 
 
 
 
PRÉ – TESTE 
 
 
1. Como está o seu conhecimento sobre fungicidas sistêmicos? 
2. Conceitue um fungicida sistêmico? 
3. Como os fungicidas translocam na planta? 
4. Como atuam os fungicidas sistêmicos no ciclo de vida dos fungos? 
5. Qual as conseqüências do uso contínuo dos fungicidas sistêmicos? 
6. Como resistência ocorre em condições de campo? Quais são as medidas que podem ser adotadas 
para minimizar este problema? 
 5 
 OBJETIVOS 
 
 
Ao final da leitura do módulo 7.4 – Introdução ao Uso dos Fungicidas Sistêmicos, você será 
capaz de: 
1. Discutir as condições em que um composto químico é considerado sistêmico na planta. 
2. Distinguir fungicidas protetores, de sistêmicos, explicando quando se aplicariam e as vantagens e 
desvantagens de um e outro. 
3. Citar as vias de penetração e discutir os fatores que interferem na translocação dos produtos 
sistêmicos. 
4. Discutir as conseqüências do uso de fungicidas sistêmicos. 
5. Discutir os mecanismos pelos quais as populações de fitopatógenos adquirem resistência aos 
produtos sistêmicos. 
 6 
 FUNGICIDAS SISTÊMICOS 
 
 
Introdução 
 
Muitos esforços foram feitos com o objetivo de desenvolver compostos químicos que, após 
serem aplicados nas raízes, nas folhas e nas sementes, possuíssem a capacidade de serem absorvidos, 
translocados na planta, erradicarem os patógenos já estabelecidos, e por fim proteger as plantas contra 
novas infecções. Os compostos que acumulam estas características são denominados de fungicidas 
sistêmicos, cuja era foi iniciada em 1964 com a publicação das propriedades sistêmicas do Thiabendazol 
e de alguns antibióticos. Mas o grande impulso no uso de fungicidas sistêmicos teve início com a 
descoberta do Carboxin e do Benomyl, no fim da década de 1960. Desde então, grande número de 
compostos sistêmicos apareceram no mercado. Atualmente, mais de 50 fungicidas sistêmicos e mais de 
100 fungicidas protetores são usados no mundo inteiro no controle de doenças de plantas. 
Os fungicidas sistêmicos pertencem a uma classe de produtos diferentes, pois, geralmente, são 
muito específicos quanto ao mecanismo de ação, e fungitóxicos em baixas concentrações, quando 
comparados com os produtos de contato. Quando foram descobertos, a dosagem recomendada era de 
aproximadamente 1 a 2 quilogramas ou litros por hectare. Hoje, cerca de trinta anos após a descoberta 
desses produtos, é comum encontrar fungicidas sistêmicos recomendados na dosagem de 250 cc por 
há, ou seja, dosagem de 4 a 8 vezes menor. 
 
 
Significado de um Composto Sistêmico 
 
Os fungicidas protetores são, geralmente, fitotóxicos às células das plantas; por este motivo 
são seletivos e devem permanecer na superfície da planta. Quando penetram na cutícula, podem causar 
injúrias às plantas. Os fungicidas sistêmicos devem coexistir com as células da planta hospedeira viva, 
requerendo, portanto, um tipo diferente de seletividade, que deve discriminar entre as células do 
hospedeiro e do patógeno. Os fungicidas sistêmicos, portanto, penetram na planta e são tóxicos, 
seletivamente, aos processos vitais pertencentes dos fungos. O processo da seletividade é, geralmente, 
tão específico que, entre centenas de diferentes fungos que atacam as plantas, somente certos 
taxonômicos são afetados particularmente por cada fungicida sistêmico. O composto químico sistêmico 
deve ser prontamente assimilado pela planta, translocado, e inibir infecções no local e à distância do 
local de aplicação, sem afetar os tecidos do hospedeiro; deve matar o patógeno no interior dos tecidos, 
resistir à rápida degradação e, se for decomposto nos tecidos da planta, seus subprodutos devem ser 
tóxicos ao patógeno. Nas plantas, os fungicidas sistêmicos podem ser metabolizados sofrendo 
oxidações, reduções, hidrólises, demetilação ou formação de compostos conjugados, podendo ser 
inativados na molécula, ou mesmo na degradação total a compostos simples como: CO2, H2O, nitrogênio 
orgânico, etc. Em certos casos, a aplicação de fungicidas sistêmicos induz a produção de compostos 
químicos na planta, que atuam como defesa à invasão do patógeno. 
Em síntese, o que se requer de um produto sistêmico é ação à distância do local da 
aplicação,estabilidade metabólica e persistência no interior da planta. Os produtos que possuem ação 
sistêmica local não apresentam esta propriedade. 
 7 
 O sítio de ação biológica varia, portanto, entre os fungicidas sistêmicos e protetores e 
entre os diferentes grupos de fungicidas sistêmicos (Figura 1). O sítio de ação biológica das fenilamidas 
no ciclo de infecção de vários Oomicetos, tem sido estudado. No caso da Plamopara viticola, o Metalaxyl 
não inibe a germinação do esporoe a penetração inicial do fungo nas velhas da parreira. Por outro lado, 
ele apresenta grande efeito inibidor a qualquer crescimento fúngico dentro da folha, após a formação do 
haustório. Os fungicidas protetores atuam apenas sobre a germinação dos esporos e sobre o tubo 
germinativo (Figura 1). 
Outra característica dos compostos sistêmicos é a translocação ao longo da rota de 
transpiração das plantas. As folhas são os órgãos primários de transpiração e o movimento dentro da 
planta é no sentido do sistema radicular para as folhas em expansão. Folhas muito jovens, flores e 
frutos, por não transpirarem quantidades significantes de água, recebem pequena quantidade de 
fungicidas aplicados ao solo ou às sementes. É de se esperar também que os frutos não recebem 
resíduos desses produtos. 
 
 
 
 
 
 
 8 
 
Figura 1. Sítio de ação de diferentes grupos de fungicidas Antioomicetos no ciclo de vida de 
Phytophthora infestans. (Schwinn e Staub, 1995) 
 
 
Os fungicidas sistêmicos são, portanto, produtos químicos orgânicos absorvidos e 
transportados dentro da planta. Poucos são os produtos considerados sistêmicos no sentido estrito da 
palavra, isto é, aqueles cujo ingrediente ativo move-se intacto dentro do planta. No interior da planta, 
esses produtos podem mover-se para sítios metabólicos ou translocar-se para órgãos de transpiração da 
planta. As folhas expandidas são o principal órgão de transpiração da planta; folhas novas, flores e frutos 
não transpiram quantidades significantes de água; por isto mesmo recebem somente pequenas 
quantidades de fungicidas. 
Muitos dos fungicidas sistêmicos atuam como fungistáticos. Alguns podem atuar diretamente, 
alterando o metabolismo do hospedeiro. As características ou propriedades dos compostos sistêmicos 
com propriedades fungicidas ou fungistática, em termos gerais, são: penetração, movimento dentro da 
planta, toxidade seletiva e estabilidade metabólica. 
 
 
Penetração 
 
No primeiro passo da translocação, o fungicida deve penetrar dentro da planta, seja por via 
foliar, radicular, através do caule ou da semente. A cutícula foliar obviamente atua impedindo que muitos 
 9 
 fungicidas penetram na planta, como ocorre no caso dos fungicidas protetores. O sucesso da 
penetração do fungicida depende de sua solubilidade relativa em lipídios. O fungicida deve, ainda assim, 
ser dissolvido num solvente, sendo o mais comumente usado é a água. Portanto, alterando a 
solubilidade em lipídios, obtém-se maior penetração do produto através da cutícula. Mas deve-se Ter em 
mente que a adição de grupos alquil ou grupos lipofibeos ao composto pode alterar sua fungitoxicidade. 
Em alguns casos, como o Tiofanato Metílico, que na superfície foliar se degrada em Metil Benzimidazole 
Carbamato, pela ação de luz ultravioleta e pH acima de 7,0, o fungicida pode atuar como protetor e 
sistêmico. 
Por outro lado, o uso de formulações em concentrado emulsionável e dispersão em óleo, ao 
invés de alterar a estrutura química dos compostos, tem sido muito efetivo no aumento da absorção e 
translocação. 
Sementes e frutos de plantas herbáceas possuem cutícula semelhante à da folhas, por isto 
apresentam os mesmos problemas de penetração de fungicidas. 
A penetração pelas raízes é muito eficiente devido ao fato destas não apresentarem barreiras 
como as existentes nas folhas. Obviamente, a penetração via raízes vai depender das características de 
cada fungicida sistêmico considerado. 
 
 
Movimento dentro da Planta 
 
Uma barreira importante no apoplasto das raízes é a faixa de Caspary da endoderme. Contudo, 
os fungicidas podem passivamente difundir-se através da membrana celular. 
O movimento dentro da planta envolve transporte no xilema e no floema. A translocação pode 
ser de uma face para a outra em uma folha (translaminar), ascendente em direção o crescimento da 
planta (apoplástica) ou descendente (simplástica), em raros casos. 
Após a penetração na planta, os fungicidas obrigatoriamente penetram no xilema ou floema do 
sistema vascular, para serem transportados a longas distâncias. 
Tanto por via foliar como na radicular , dependendo de suas propriedades, o fungicida pode 
translocar-se pelo floema. O movimento dos fungicidas dentro da planta depende também do fluxo livre 
dentro dos vasos. Há produtos que se aderem à parede do xilema, enquanto outros parecem livres. As 
rotas percorridas pelos fungicidas, que penetram ou pelas folhas ou pelas raízes das plantas, estão 
esquematizadas na figura 2. 
 
 
 10 
 
Figura 2. Caminhos percorridos pelos fungicidas que penetram pelas folhas (a) 
ou pela superfície das radicelas (b). 1. absorção pelas células externas; 2. transporte via 
simplasto; 3. transporte via apoplasto; 4a. absorção pelos tubos do floema; 4b. transferência 
para vasos; 5. absorção pelas camadas cuticulares. (Lyr, 1995) 
 
 
Por questões práticas, é importante que seja conhecida a extensão com que um determinado 
produto pode ser translocado em ambos caminhos, e se ele é capaz de atingir o órgão desejado, por 
exemplo, um fungicida aplicado com o objetivo de proteger folhas ou frutos jovens, deve ser capaz de 
ser translocado pelo floema após a aplicação em folhas completamente expandidas. 
As evidências de movimento de fungicidas no simplasto não têm sido muito convincentes, 
embora vários trabalhos já tenham sido publicados tentando provar este fato. A primeira condição para 
 11 
 movimento no simplasto é que o produto químico seja capaz de atravessar a plasmalema e entrar 
no protoplasma. Nos últimos 30 anos, vários estudos têm sido feitos sobre a absorção e translocação de 
substâncias químicas pelas plantas superiores. Um interessante especial, contudo, foi dispensado aos 
herbicidas, pois sua distribuição nas plantas se processa não somente pelo xilema, como também pelo 
floema. 
O transporte por meio do simplasto acompanha as relações fonte e dreno da planta. As folhas 
verdes e totalmente expandidas produzem e exportam assimilados, sendo consequentemente 
consideradas como fonte; enquanto órgãos em crescimento ou de armazenamento, com demanda por 
fotoassimilados, são os drenos. O movimento dos fungicidas no simplasto é inevitavelmente conectado 
com o transporte de fotoassimilados. Logo, é dependente da relação fonte-dreno presente em 
determinado estádio de desenvolvimento da planta. Assim, não existe exportação de fungicidas a partir 
de folhas muito jovens. Quando o transporte de assimilados cessa, o transporte de fungicidas é 
interrompido também. 
Os trabalhos tentando provar movimento de fungicidas tanto no simplasto como apoplasto em 
sua grande maioria envolvem estudos de controle de doenças. O transporte no apoplasto raramente é 
específico de uma planta em particular; em geral, o sucesso no tratamento de uma planta herbácea 
indica que se pode ter o mesmo efeito no tratamento de outras plantas herbáceas. 
Poucos são os trabalhos que mostram translocação do produto químico ativa da folha tratada 
para outras partes da planta, incluindo folhas, gemas terminais, frutos etc. Embora isto possa ocorrer em 
alguns casos, o movimento no simplasto não foi ainda claramente demonstrado, devido talvez à 
dificuldade da realização destes testes. 
O modelo de distribuição e a extensão do movimento no xilema é determinado pelo gradiente 
potencial hídrico entre a água e o solo. Então, o transporte se processa usualmente direto das raízes 
para as áreas em que ocorre a transpiração, principalmente para as folhas. Os fungicidas transportados 
pelo xilema não apresentam movimento descendente a partir das folhas expandidas. Se eles são 
aplicados na base de uma folha, são preferencialmente transportados para o topo. O transporte na 
direção oposta é extremamente raro. 
O uso de produtos químicos com baixa fitotoxidez abre a possibilidade para o controle de 
patógenos no solo e para tratamento de infecções internasjá estabelecidas, como as murchas 
vasculares. Como os fungicidas movem-se no apoplasto, o tratamento de enfermidades pode ser feito 
via aplicação do produto no solo; mas caso os produtos químicos sejam distribuídos pelo simplasto, 
esses poderiam ser usados no controle de doenças vasculares e de raiz com aplicação do fungicida nas 
folhas. Os produtos químicos que se movessem no simplasto poderiam abrir novo campo de controle de 
doenças, uma vez que seriam translocados das folhas tratadas para os tecidos jovens em crescimento, 
com possibilidade de redução do número de aplicações de fungicidas e de atingir locais inacessíveis aos 
fungicidas aplicados por via foliar. 
Tem-se observado também que o produto ativo dos fungicidas apresenta a tendência de 
acumular-se nas lesões de parasitas obrigatórios, nos tecidos afetados e no micélio fúngico. 
 
 
Toxidade Seletiva 
 
 12 
 A toxidade seletiva é condição requerida aos fungicidas sistêmicos, pois estes devem 
coexistir em íntimo contato com as organelas e os sistemas bioquímicos das plantas. Essa propriedade 
varia também com a espécie de planta envolvida. Carboxin, por exemplo, é muito mais tóxico à 
desidrogenase do ácido succínico de Ustilago maydis do que a do cultivar de feijão Pinto 111 (Phaseolus 
vulgaris). Outro produto análogo ao Carboxin, o 2,4-dimetilthiazole-5-carboxanilide, é mais tóxico a Pinto 
111 do que ao U. maydis. Na prática este produto não é usado devido sua alta fitotoxidez. A seletividade 
entre os sistemas do patógeno e da planta é devida a vários fatores, entre os quais destacam-se a 
sensibilidade diferencial das organelas do dois sistemas, diferenças na permeabilidade das organelas 
etc. Mas além de os fungicidas apresentarem seletividade entre a planta e o fungo, podem ser seletivos 
também para fungos (Quadro 1). Esta propriedade não é evidente entre os fungicidas protetores, mas é 
marcante entre os sistêmicos. Os fungicidas sistêmicos podem ser específicos para determinados 
grupos de fungos e/ou doenças como ferrugens, carvões, míldios pulverulentos etc. 
 
 
Tabela 1. Comparação entre o espectro de atividade (DE50 em mg/l) de alguns 
 fungicidas modernos 
Patógeno Fungicidas 
 Carboxin Tiofanato 
metílico 
Benomyl Talclo 
Phosmetil 
Estridiazole Tridiazole Triforini 
Phytophthora 
Cactorum 
100 100 100 50 0,5 200 20 
P. infestans 
 
500 - - - 1 - - 
Pythium 
Ultimum 
100 100 100 100 0,5 200 15 
Mucor 
Mucedo 
50 100 100 - 8 200 20 
Erysiphe 
Graminis 
20 100 7 - 20 0,006 1 
Penicillium 
Chrysogenum 
2 50 2 1,6 90 5 200 
Botrytis 
Cinerea 
10 3 0,4 1,9 20 40 20 
Fusarium 
Oxysporum 
200 70 2 100 70 50 20 
Gloesporium 
Frutigenum 
300 0,2 0,2 - 80 200 50 
Verticullium 
albo-atrum 
5 3 3 100 40 3 80 
Rhizoctonia 
Solani 
5 200 200 0,1 70 100 60 
Lyr (1995). 
 13 
 
 
Estabilidade Metabólica 
 
Quando o fungicida penetra nas células da planta, está sujeito a degradação por muitas 
enzimas. Para que seja efetivo, o fungicida deve resistir à degradação. 
Em resumo, para que um fungicida sistêmico tenha sucesso no controle de uma dada doença, 
deve possuir uma estrutura química que permita sua entrada a translocação na planta, sua penetração 
nas células da planta, onde deverá seletivamente inibir ou matar o patógeno, sem afetar a planta, Por 
fim, seu efeito na planta deve ser duradouro, sem se degradar, para manter a planta sadia. 
 
 
Vantagens do Uso de Fungicidas Sistêmicos 
 
 Atingir locais inacessíveis aos fungicidas protetores. Certos fungos transmitidos pela semente, como 
Diaporthe phaseolorum em soja, podem ser controlados pelo tratamento de sementes com produtos 
sistêmicos como o Benomyl, porque o ingrediente ativo do produto penetra no interior dos tecidos 
das sementes, o que não acontece aos protetores. 
 Certos fungicidas sistêmicos, como o Propiconazole,Cyproconazole,Azoxystrobin, Triadimenol, 
controlam eficientemente a ferrugem do cafeeiro pelo fato de, entre outros fatores, translocar-se para 
a face inferior (local de penetração do fungo), quando o produto é aplicado na face superior das 
folhas. A face inferior das folhas do cafeeiro quase sempre não é atingida em aplicações normais de 
fungicidas. 
 Matar o patógeno no interior dos tecidos da planta após o processo infeccioso já ter sido iniciado 
(efeito curativo - erradicante). Por exemplo, o agente causal da ferrugem do feijoeiro (Uromyces 
phaseoli var. typica) pode ser erradicado até 3 dias após a penetração nos tecidos da planta, pela 
aplicação de Oxycarboxin. 
 Conferir proteção de partes dos tecidos da planta por período de tempo maior que os protetores. 
Quando sementes de determinadas plantas são tratadas com produtos sistêmicos, o fungicida é 
absorvido e translocado para a região do hipocótilo, após a germinação, dando proteção às 
mudinhas, nos primeiros dias de vida, contra fungos que causam o tombamento como, por exemplo, 
Rhizoctonia solani. Há certos produtos que, quando são aplicados às sementes, protegem as plantas 
por um período de até 30 dias após a germinação, o que pode proporcionar a economia de uma 
pulverização. 
 Possibilita o emprego de menor dosagem do produto. Devido os produtos sistêmicos serem tóxicos 
em baixas concentrações, possibilitam redução de 50 a 75% na dosagem, em relação aos fungicidas 
protetores. 
 Translocação do produto na planta. A translocação dos compostos químicos denominados de 
sistêmicos, na planta, é influenciada por uma série de fatores. As vias normais de movimentação 
desses produtos ou de seus subprodutos formados pode-se processar no sentido ascendente, 
translaminar, dentro da folha (base para o ápice) e entre folhas. 
 14 
  A translocação ascendente é aquela que se processa quando o produto é aplicado ao solo, 
absorvido pelas raízes e se movimenta para a parte aérea das plantas. É considerada também 
translocação ascendente quando o produto é aplicado nas folhas inferiores ou basais da planta e se 
movimenta para as outras folhas situadas num plano superior. Na translocação transliminar, a mais 
comum, o produto move-se da face superior para a inferior, ou vice-versa. É importante ressaltar que 
nem todo fungicida sistêmico movimenta-se na planta em todos os sentidos descritos anteriormente. 
Outro ponto comum entre os produtos sistêmicos é que dificilmente translocam no sentido 
descendente (folhas superiores para inferiores ou raízes), muito embora alguns pesquisadores já 
tenham encontrado evidências que comprovam este fato, em pelo menos um grupo de fungicidas, o 
Efosite-Al. 
A translocação do produto na planta ou nas folhas possibilita a proteção de locais não atingidos 
pela pulverização, redistribuindo o ingrediente ativo dentro da planta. 
 
 
Comparação entre os Fungicidas Sistêmicos e os Protetores 
 
O conhecimento comparativo entre fungicidas sistêmicos e protetores pode proporcionar a 
melhor utilização dos produtos. A seguir será colocado, lado a lado, o comportamento de cada tipo de 
produto em relação algumas características escolhidas (Quadro 1). 
 
 
Quadro1. Comparação entre os fungicidas sistêmicos e protetores 
Característica Fungicida 
 Sistêmico Protetor 
Solubilidade Alta Baixa 
Translocação Sim Não 
Espectro de Ação Estreito Amplo 
Especificidade Alta Baixa 
Dosagem Menor Maior 
Resistência Comumente Raramente 
Necessidade de Adjuvantes Raramente Comumente 
Custo Maior Menor 
Modo de ação Específico Generalizado 
Efeito erradicante Sim Não 
Fitotoxidês Alta Baixa 
Penetração no tecido da planta Rápida Não penetra 
Depósito - Facilmente removido por 
chuva e água de irrigação 
Persistência na superfície das plantas 
Menor 
Maior, mas é função da 
formulação e da superfície da 
planta 
Persistência interna Sim Não 
 15 
 
Intervalo de aplicação Maior Menor 
Número de aplicações Menor Maior 
Resíduos Comum Raro 
Agente dedecomposição Luz, umidade, temperatura, 
Microorganismos, pH, misturas 
Usos Atomização, tratamento de sementes, solo, pós-colheita 
Formulação PM, CE, Flowable (Susp. Concentrada), PS, Granulada 
 
 
Vias de Penetração de Fungicidas Sistêmicos 
 
As principais partes da planta envolvidas na absorção de fungicidas sistêmicos são folhas, 
caule, raízes e sementes. 
 
 
Folha 
 
A maioria dos fungicidas sistêmicos foram desenvolvidas para o uso em pulverização na 
folhagem. Daí o movimento translaminar ou transcuticular constituir o fato vital para o sucesso dos 
compostos sistêmicos. Se aceitamos que uma das funções da cutícula é reduzir a perda de água da 
superfície da planta, compreendemos que os pesticidas, quando são pulverizados em solução aquosa, 
possuem baixa eficiência de penetração. 
A cutícula consiste de uma camada de lipídios que reveste a superfície da planta. 
Diferentemente da rizoderme, a epiderme das folhas não está adaptada para a absorção de substância 
dissolvidas. A camada mais externa da cutícula consiste de certos compostos de hidrocarbonetos de 
cadeia longa (21-35 carbonos), em vários estádios de oxidação, enquanto que a camada interna ou 
cutina é constituída de uma mistura de cadeias C16 a C18 interconectada por éster, peróxidos e ligações 
de ésteres formando os polímeros. As ceras são tidas como a mais importante barreira limitando o 
movimento de pesticidas através da cutícula. A penetração ou movimento transcuticular não é 
aparentemente dependente de espessura da cutícula, mas de diferenças qualitativas entre as espécies 
de plantas. 
Experimentos com a grande maioria dos compostos sistêmicos demonstram que a penetração 
é mais rápida através da cutícula da face inferior do que através da cutícula localizada na face inferior. 
Isto indica que suas propriedades polares favorecem a penetração na face inferior. 
Esta diferença em absorção pelas duas faces é explicada pela presença de maior quantidade 
de estômatos na face inferior. Mas é possível que haja outros fatores influenciando a taxa de penetração. 
Por exemplo, a cutícula da face inferior do gênero Malus contém menor quantidade de cera embebida do 
que a da face superior. Outra diferença que poderia ser citada seria a baixa intensidade luminosa 
incidida durante a formação da cutícula da face inferior, a qual poderia afetar a oxidação e, daí, a 
polaridade. 
 16 
 Há evidências também que a penetração nos tecidos da folha, via estômatos é 
influenciada pela tensão superficial do líquido, do ângulo de contato e de qualquer fator que influencie a 
abertura dos estômatos (luz, umidade relativa, temperatura, acúmulo de produtos fotossintetizados). 
Tem sido observado que a penetração é aumentada pela adição de certos surtactantes à calda 
fungicida, pela redução da tensão superficial da suspensão. Também há evidências de que, em dias 
quentes do verão, os estômatos podem fechar-se ao meio dia, impedindo a penetração de fungicidas 
através deles. Nas horas mais frescas do dia, á tarde, os estômatos poderiam reabrir-se, mas as gotas 
da pulverização na folha provavelmente já estarão secas, e consequentemente, a absorção será muito 
baixa. A alta umidade na câmara estomática e outros fatores do ambiente que promovem a abertura dos 
estômatos favorecem a absorção. Uma vez que as partículas do pesticida tenham secado na superfície 
foliar, apenas reduzida quantidade do produto químico irá ser absorvida. 
A penetração de fungicidas sistêmicos através da cutícula é, geralmente reduzida. Estima-se 
que, somente 5% de Benomyl penetre na face superior de folhas de pepino. Pequenas modificações na 
estrutura molecular dos compostos químicos podem influenciar grandemente a eficiência do movimento 
transcuticular de fungicidas. 
A solubilidade dos fungicidas na solução de pulverização parece ser de grande importância na 
penetração; se a concentração do fungicida excede a solubilidade em água, a concentração do fungicida 
que penetra decresce. Entretanto, a quantidade que penetra aumenta com o aumento na concentração. 
Freqüentemente observa-se aumento ou redução na penetração, quando se alteram o pH e a 
solubilidade. A penetração dos fungicidas sistêmicos é também influenciado pelo tipo de formulação. 
As formulações de fungicidas sistêmicos em concentrado emulsionável (CE) ou dispersão em 
óleo (DO) podem aumentar a penetração através da cutícula. Os CE são provavelmente mais eficientes 
porque permitem a participação rápida, líquido a líquido, entre as fases orgânicas e aquosa na gota de 
pulverização. As formulações DO operam de modo diferente. Os fungicidas podem não ser muito 
solúveis em óleo ou água. O óleo parece que difunde para dentro ou através da cutícula e aumenta 
rapidamente a penetração do fungicida e outros produtos químicos. Acredita-se que as formulações 
líquidas CE e DO podem proporcionar economia de 2 a 3 vezes na quantidade de fungicida requerida 
por hectare. 
 
 
Caule 
 
A penetração de fungicidas sistêmicos em caule de plantas herbáceas é dificultada pelas 
camadas epidérmicas e cuticulares, semelhantes às das folhas descritas anteriormente. O processo de 
penetração no caule é análogo ao da penetração nas folhas. 
Em plantas lenhosas, a camada externa do caule, a periderme, é composta de células do 
súber, felogênio e fuloderma. Na maturidade a parede celular do felum contém suberina e lamela de 
cera, que são repelentes a água. As células do súber e do feloderma originam-se do felogênio. O 
felogênio pode-se formar em diferentes níveis dentro do caule nas várias espécies de plantas. Acredita-
se que o sucesso relativo da aplicação de fungicidas pela casca do caule, nas várias espécies de 
plantas, está parcialmente relacionado ao sítio de desenvolvimento do novo feloderma. No gênero Pinus, 
é originado logo abaixo da epiderme; neste caso, somente pequena poção morta da casca está 
 17 
 presente. No gênero Prunus, o feloderma inicia-se mais profundamente nos tecidos do caule, 
resultando numa grande espessura de periderme e floema mortos, presente neste tipo de planta. 
As células do felum são compactadas, não tendo espaços para arejamento; mas as lenticelas 
na casca são compostas de células que permitem circulação de ar. A parede celular das lenticelas pode 
ou não ser suberizada. Variação considerável no arranjamento e suberização das células da lenticela 
existe entre as espécies. Há evidências de que fungicidas sistêmicos penetram na casca de ramos 
jovens de determinadas espécies de plantas, através das lenticelas. 
De um modo geral, há variação entre as espécies de plantas à resposta pelo tratamento da 
casca. Também tem sido mais difícil no tratamento de cascas de árvores maduras muito espessas. 
Há vários exemplos na literatura de aplicação de fungicidas sistêmicos através do caule, no 
controle de doenças. Também tem sido relatado que a adição de óleo às formulações aumenta a 
efetividade do fungicida. A razão do aumento da penetração dos fungicidas pela adição de óleo não está 
bem esclarecida, contudo, postula-se que o óleo pode causar mudança na estrutura da suberina e da 
camada de cera, que representam as principais barreiras à entrada dos pesticidas, acredita-se também 
que o óleo se dissolve, através dessas camadas, servindo de veículo do fungicida e não permitindo a 
secagem dos depósitos do fungicida na superfície tratada. A aplicação no caule pode-se processar por 
pulverização, principalmente durante o período de repouso vegetativo de determinadas espécies de 
plantas por pincelamento ou por injeção. A técnica de injeção do caule tem sido pouco eficiente no 
controle de algumas doenças, além de demandar aplicações constantes. 
 
 
Raiz 
 
Outro sítio de absorção de fungicidas sistêmicos é através das raízes. As raízes funcionam 
como órgão de absorção de água e de nutrientes minerais do solo. Grande quantidade de água e 
substâncias dissolvidas são absorvidas pelasraízes e transportadas para partes superiores da planta. 
No campo, os fungicidas podem ser aplicados às raízes das plantas através do tratamento no 
sulco de plantio, durante o semeio, ou em cobertura, porém em sulcos, durante o crescimento das 
plantas. Eles são absorvidos junto com a água, principalmente na região capilar das raízes, região esta, 
localizada entre 5 a 50 mm do ápice da raiz. Em contraposição às folhas, a rizoderme não é coberta por 
uma cutícula bem desenvolvida. 
As raízes de diferentes espécies de plantas variam em sua estrutura e permeabilidade à água e 
aos solutos. Uma raiz individual também mostra variação em permeabilidade ao longo de sua extensão. 
A região de maior absorção ocorre nas áreas mais jovens das raízes. Nas regiões mais velhas das 
raízes de muitas plantas, a epiderme torna-se suberizada ou forma-se a casca. Ambos eventos 
conduzem a uma progressiva perda da permeabilidade. As raízes das monocotiledôneas, que não 
apresentam ramificações secundárias e suberização, são mais uniformemente permeáveis à água ao 
longo de sua extensão. 
A epiderme de raízes jovens, ao contrário das partes aéreas das plantas, não é coberta com 
cutícula bem desenvolvida. Portanto, os fungicidas em solução possuem relativamente fácil acesso ao 
apoplasto das raízes. Muitos íons inorgânicos são absorvidos ativamente pelas raízes, num processo 
requerendo energia metabólica. Mas as evidências indicam que os fungicidas são absorvidos pelas 
 18 
 raízes num processo passivo. Há também a possibilidade de um produto químico penetrar nas 
raízes passivamente, decompor-se posteriormente, ou ligar-se a outros produtos dentro das raízes. 
Diferentes espécies de plantas absorvem quantidades variáveis de fungicidas. As raízes de 
plantas lenhosas, como macieira e videira, tendem a concentrar os fungicidas, enquanto que as raízes 
de plantas herbáceas, como o trigo e cucurbitáceas, não apresentam esta tendência. O aumento da 
absorção de fungicidas em raízes de plantas lenhosas pode ser parcialmente explicado por reações de 
ligação do ingrediente ativo dos fungicidas dentro das plantas. 
A penetração nas raízes pode ocorrer via apoplasto, acima da endoderme. Aí, a faixa de 
Caspary e a decomposição de suberina e de lignina na parede das células da endoderme (assim como 
na lamela média conectado as células) podem impedir o movimento de substâncias no apoplasto. Em 
alguns casos, a absorção de certos produtos químicos (Metil Benzimidazole Carbamato) processa-se por 
difusão através da faixa de Caspary ou penetram a plasmalema das células da endoderme, movendo-se 
através do simplasto para alcançar o xilema das raízes. 
Outro fator que pode interferir na absorção de fungicidas pelas raízes é a sua solubilização em 
lipídios. A fim de que um produto químico seja transportado para o resto da planta, após o tratamento 
das raízes, esse deve a barreira de lipídios, através do plasmalema das células da endoderme ou pela 
própria faixa de Caspary. Por outro lado, os produtos químicos que são muito solúveis em lipídios não 
são prontamente liberados na rota de transpiração, mas são retidos pelos lipídios das raízes. 
A quantidade de fungicidas translocada pelas raízes é função da concentração aplicada. À 
medida que a concentração aumenta, obtém-se, proporcionalmente, maior quantidade de substâncias 
transportadas. 
As pesquisas têm mostrado atualmente que determinados fungicidas sistêmicos 
comprovadamente na parte aérea das plantas, comporta-se como tal quando são aplicados também no 
solo, na região da rizosfera. Dentre esses, destacam-se as formulações em pó-molhável e granulada do 
Cyproconazol, e do Triadimenol quando aplicados em sulcos de cerca de 3-5 cm de profundidade na 
região de projeção da “saia” do cafeeiro. A aplicação destes produtos no solo, no início do período das 
chuvas em plantas de café, tem mostrado ser eficiente no controle da ferrugem do cafeeiro (Hemileia 
vastatrix Berk, et Br.). Isto demonstra que os produtos penetram nas raízes, atingem a região do 
apoplasto e seguem a rota da transpiração, acumulando-se nas folhas. Pesquisas no Departamento de 
Fitopatologia da Universidade Federal de Viçosa revelaram que, se as condições de precipitação 
pluviométrica são adequadas, os produtos citados, resíduos ou metabólitos destes podem ser 
encontrados nas folhas, trinta dias após a aplicação no solo. É possível que outros produtos sistêmicos 
sejam translocados do solo para a parte aérea das plantas; entretanto, dados de pesquisas neste campo 
ainda são escassos, até mesmo em outras culturas. 
Vários inconvenientes surgem quando compostos químicos são aplicados ao solo; há 
problemas de distribuição, absorção e decomposição dos fungicidas no solo, que influenciam a sua 
efetividade. Sempre que o produto é aplicado ao solo, somente pequena porção do ingrediente ativo é 
absorvida pelas raízes, para ser transportada para as partes superiores da planta. 
A absorção dos fungicidas é independente da concentração dp produto na solução externa do 
solo, já que a entrada do produto é efetuada por difusão. Por outro lado, ela é dependente do pH. 
Fungicidas catiônicos como Carbendazim, Tiabendazol e Ethirimol têm sua absorção dependente do pH, 
que pode ser inibida pela adição de cátions bivalentes (Ca+2 e Mg+2). 
 
 19 
 
Semente 
 
Em relação à penetração de fungicidas nas sementes, há inúmeras indicações de que os 
protetores são absorvidos parcialmente. Contudo, tem-se observado que esta absorção é ineficiente, 
devido falhas que estes produtos ocasionam no controle de fungos que apodrecem as sementes. O valor 
dos fungicidas sistêmicos no tratamento de sementes iniciou-se com “Von Schmeling e Kulka” em 1966, 
que controlou eficientemente o carvão de centeio, que é transmitido pelas sementes internamente, pelo 
tratamento com Carboxin. 
Uma questão que poderia surgir é quanto de fungicida penetra diretamente através da casca, 
comparando com a penetração nas radículas emergentes. Trabalhos neste sentido foram feitos com 
Benomyl, Oxicarboxin, Chloroneb e outros produtos, concluindo-se que os fungicidas atravessam 
diretamente a casca das sementes, acumulando-se no seu interior em diferentes períodos de tempo. 
Tem-se observado também, em certos casos, que o ingrediente ativo do fungicida ou de metabólitos 
translocam para a radícula e o hipocótilo, dando proteção a estas partes da planta. Há casos em que o 
tratamento de sementes protege as plantas até 30 dias após a germinação, reduzindo, portanto, o 
número de pulverizações na parte aérea. 
O uso de solventes orgânicos como veículo de fungicidas, embora uma técnica promissora, 
ainda não é recomendada. Por este método, os fungicidas sistêmicos são dissolvidos em solventes 
orgânicos como por exemplo o diclorometano, clorofôrmio ou acetona. As sementes imersas nesta 
mistura (solvente + fungicida) absorvem os pesticidas em escala linear, com o tempo. Pela remoção das 
sementes da mistura, o solvente evapora, deixando o fungicida dentro da semente. Este método embora 
aumente a eficiência de absorção de fungicidas pelas sementes, apresenta alguns inconvenientes, como 
fitotoxidez dos solventes às sementes, custos dos solventes, tempo gasto no tratamento, e o risco 
envolvido no manuseio dos solventes que são inflamáveis. 
Em geral, se um fungicida comporta-se como sistêmico quando aplicado em raízes ou folhas, 
comportar-se-á também como sistêmico quando aplicado às sementes. Muitos fungicidas são fitotóxicos, 
quando aplicados às sementes, devido serem empregados em altas concentrações; as mudinhas em 
germinação não toleram alta concentração do fungicida. Daí torna-se difícil ou impossível aplicar-se 
quantidade de fungicida suficiente às sementes, para controle de doenças na parte aérea das plantas, 
durante o ciclo de crescimento da cultura. Há casos em que a aplicação de fungicida sistêmico às 
sementes dá proteção às plantas até30 dias de idade, contra certas doenças; isto, se conseguido, 
resultaria em grande economia, pois reduzir-se-á o número de aplicações para controle de determinadas 
doenças. 
Quando as sementes são tratadas com fungicida sistêmico, parte do produto é absorvida e 
será diluída pelo crescimento da planta, e parte é submetida á decomposição e, mesmo que o produto 
permaneça intacto, poderá perder sua efetividade, devido ser transportado para a margem das folhas. A 
porção do fungicida que permanecer no solo, ao redor das sementes está também sujeita à degradação 
e absorção. Portanto, o tratamento de sementes visa o controle dos organismos transmitidos pelo solo e 
sementes, erradicando os fitopatógenos e protegendo-os contra tombamento de mudinhas, 
apodrecimento de sementes, raízes e hipocótilo e proteção as plantas nos primeiros dias de vida. 
 
 
 20 
 Conseqüência do Uso de Fungicidas Sistêmicos 
 
O uso de produtos sistêmicos no controle de uma determinada doença, com o tempo, causa o 
aparecimento de novas raças na população do patógeno que se tornam resistentes ao fungicida 
empregado. O fenômeno da resistência ocorre comumente com os fungicidas sistêmicos, tanto em 
condições de laboratório como no campo; ou em cultivos sob telados de plástica. Embora haja alguns 
relatos de resistência envolvendo os fungicidas protetores (por exemplo Dodine e Dyrene), na prática, 
são considerados de pouca importância. Um organismo adquire resistência, quando mostra redução na 
sensibilidade ou mesmo quando se torna insensível a um determinado pesticida nas concentrações nas 
quais outras raças do mesmo organismo de mostram sensíveis. 
O surgimento de raças resistentes aos fungicidas sistêmicos ocorreu logo após seu uso em 
escala comercial. Entre os grupos da fungicida onde se tem registrado maior número de formas 
resistentes, destaca-se o grupo dos Benzimidazoles, sendo o Benomyl um dos produtos onde há maior 
número de relatos. Mas, em todos os grupos de produtos sistêmicos, há casos de aquisição de 
resistência, embora sejam mais comuns a certos fungicidas do que a outros. 
A resistência adquirida pelos organismos na população é explicada, em parte, como 
conseqüência de mudanças no genoma do fungo; fatores não genéticos também têm sido observados. 
As mudanças genéticas na célula fúngica, que se originam de mutações, podem ser distribuídas na 
população. Em alguns casos, a resistência é governada por genes recessivos e, em outros, por genes 
dominantes. 
Uma das razões do aparecimento de formas resistentes na população de organismos sensíveis 
aos fungicidas sistêmicos diz respeito ao mecanismo de ação destes compostos. 
Os produtos protetores atuam de maneira generalizada, interferindo em vários pontos no 
metabolismo dos fungos; daí a resistência ser mais difícil de se processar, pois isto implica em 
mudanças ou mutações em vários sítios. Os produtos sistêmicos possuem modo de ação específico, isto 
é, atuam em somente um sítio do metabolismo dos organismos; daí não seria necessário mutações em 
vários pontos, como teria que ocorrer aos protetores, para que ocorresse resistência na população. 
Devido a este fato, facilmente os organismos adquirem resistência aos fungicidas sistêmicos. É comum 
denominar os fungicidas protetores de inibidores de sítios múltiplos e os sistêmicos, de inibidores 
específicos. 
O mecanismo de resistência dos fungos aos fungicidas pode ser explicado, em parte, devido a 
trocas nas células fúngicas, de tal modo que o fungicida não atinja o sítio de ação. Isto pode acontecer 
devido a decréscimos na permeabilidade da membrana do protoplasma, ou ao aumento da capacidade 
do fungo de desintoxicar o fungicida (conversão em compostos não tóxicos). Quando o produto químico 
atinge o sítio de ação, a resistência pode surgir devido ao decréscimo da afinidade pelo local de ação ao 
fungicida, ou a outros tipos de mudança no metabolismo dos fungos, resultando numa compensação do 
efeito inibido do sítio bloqueado. 
 
 
Mecanismos de Resistência 
 
 Decréscimo na Permeabilidade 
 21 
 Fenômeno que ocorre em certos grupos de compostos como os antibióticos, onde o 
produto químico não atinge o local de ação, devido ao decréscimo na permeabilidade da membrana do 
protoplasma do organismo resistente. 
 
 Aumento na Desintoxicação 
A desintoxicação pode ocorrer por modificações na molécula com concomitante perda da ação 
fungicida após entrada na célula fúngica. 
Em alguns casos pode ocorrer o inverso da desintoxicação. O organismo pode converter um 
composto inativo num produto ativo (com ação fungicida), que se denomina síntese letal. Este tipo de 
conversão tem sido observado “in vitro”. 
 
 Decréscimo da Afinidade no Sítio de ação 
Quando o fungicida alcança o local de ação sem ser metabolizado pelo organismo, a 
resistência pode ser explicada baseando-se na falta de afinidade do inibidor no sítio reativo. Por 
exemplo, quando um fungicida atua primariamente sobre uma enzima em particular, pequena mudança 
nessa enzima como resultado de mutação genética pode causar perda de afinidade ao fungicida e, 
consequentemente, surgir a resistência. 
 
 Adaptação por Evitamento 
Este fenômeno ocorre quando um fungicida bloqueia a reação num determinado sítio de ação 
do metabolismo e o fungo se adapta e esta situação, mudando o seu metabolismo de tal modo que o 
local bloqueado não seja utilizado. Há vários exemplos na literatura explicando este fenômeno. 
Em determinados organismos, a resistência é adquirida pelo fenômeno da compensação. Este 
mecanismo ocorre quando, por exemplo, uma enzima (sítio primário de ação de um fungicida) essencial 
ao metabolismo de um organismo é bloqueada por um fungicida; pelo mecanismo da compensação os 
organismos aumentariam a quantidade da enzima inibida. 
Em síntese, a aquisição de resistência de um organismo a um produto químico é um fato 
comprovado que varia grandemente com os diferentes grupos de fungicidas, com o mecanismo de 
resistência e o tipo de organismo. 
 
 
Como Resistência Surge em Condições de Campo 
 
O uso de fungicidas sistêmicos tende a aumentar a pressão de seleção, contribuindo ainda 
mais para surgimento de raças resistentes na população dos organismos na natureza. A pressão de 
seleção é aumentada nos seguintes casos: 
 
 Se um fungicida sistêmico ou fungicidas sistêmicos relacionados quimicamente são aplicados 
repetidamente, por exemplo Benomyl, Tiofanato Metílico, Metalaxyl, etc. 
 Se o fungicida é aplicado em concentrações letais ou subletais nas diferentes partes da planta, 
continuamente. Este é o caso quando um fungicida é aplicado freqüentemente ou quando o 
 22 
 suprimento contínuo do fungicida é mantido através de aplicações no solo, nas sementes e nas 
partes aéreas; 
 Se o fungicida é usado numa área isolada, em casa-de-vegetação, em telados de plástico ou em 
grandes extensões, onde não haja competição das diferentes raças dos organismos. 
 
Para que haja redução da possibilidade da emergência de raças resistentes em condições de 
campo, mais de um fungicida com diferentes mecanismos de ação devem ser aplicados, de preferência 
alternadamente. Por exemplo, aplicação de fungicidas protetores alternados com fungicidas sistêmicos, 
se o produto sistêmico for necessário. O uso de fungicidas sistêmicos deve ser restrito no tempo e no 
espaço, de maneira a se obter controle econômico da doença, adotando-se método de aplicação 
racional para que a pressão de seleção não aumente desnecessariamente. Vale ressaltar que, num 
programa de controle de doenças de plantas, nem sempre é necessária a inclusão de um fungicida com 
modo de ação específico, como os sistêmicos. A recomendação final dependerá de uma série de fatores 
tais como disponibilidade dos fungicidas, tipo de patógeno, preço do produto, tipo de cultura, método de 
aplicação, número de aplicação e condições do ambiente favoráveis como alta umidaderelativa, 
presença de nevoeiro, chuva, etc. 
Outro motivo que recomenda a limitação de aplicação de fungicidas sistêmicos diz respeito a 
sua influência no equilíbrio dos microorganismos no solo ou na superfície da planta: a atividade dos 
fitopatógenos pode ser influenciada pela presença de outros microorganismos que competem por 
espaço, nutrientes ou que produzem antibióticos. 
Quando tais organismos são eliminados, os fitopatógenos que são relativamente insensíveis ao 
fungicida podem ser favorecidos e causar novos problemas para a planta. Os desequilíbrios podem 
acontecer também quando dois organismos fitopatogênicos sendo um sensível e outro insensível a um 
determinado fungicida sistêmico, estão envolvidos. Uma pergunta que surge é se as raças resistentes 
desapareceriam da população, quando a aplicação do produto é suspensa e se o mesmo fungicida 
poderia ser novamente usado? Acredita-se que raças resistentes podem persistir na população por um 
determinado tempo, sendo muito difícil de se prever com exatidão; mas, eventualmente, a população das 
raças resistentes tenderá a decrescer, tão logo a pressão de seleção seja eliminada. Por esta razão não 
deve ser excluída a possibilidade da reutilização do fungicida; mas, neste caso também, sugere-se que 
um produto que tenha múltiplo sítio de ação seja incluído no programa de controle. 
 23 
 MÓDULO 7 – CONTROLE DE DOENÇAS DE PLANTAS 
Módulo 7.4 – Introdução ao Uso dos Fungicidas Sistêmicos 
 
 
PÓS-TESTE 
 
 
Assinale a letra C a afirmativa correta e com letra E, a falsa: 
 
 
1. ( ) A era dos fungicidas sistêmicos teve início no final da década de 1960, com a 
descoberta do Carboxin e do Ridomil. 
 
2. ( ) O sentido exato de um composto sistêmico é aquele em que seu ingrediente ativo deve penetrar 
na planta, translocar à distância do local de aplicação e matar o patógeno no interior dos tecidos. 
 
3. ( ) A absorção e translocação de fungicidas sistêmicos varia muito de acordo com a espécie de 
planta envolvida. 
 
4. ( ) Uma vez no interior dos tecidos da planta, os sistêmicos podem ser transformados em produtos 
não fungitóxicos; ser diluídos pelo crescimento das plantas ou induzir a produção de fitoalexinas. 
 
5. ( ) Todo composto sistêmico, para ser considerado fungicida, deve penetrar, mover-se dentro da 
planta, possuir toxicidade seletiva e estabilidade metabólica. 
 
6. ( ) A penetração por via foliar é grandemente dificultada devido os fungicidas terem que atravessar a 
camada de lipídios. As formulações em concentrado emulsionável têm sido efetivas no aumento da 
absorção e translocação. 
 
7. ( ) O apoplasto das plantas é a via normal de translocação dos fungicidas; entretanto, há também a 
possibilidade de movimento no simplasto. 
8. ( ) Se os compostos químicos com propriedades fungicidas se movessem eficientemente no 
simplasto, haveria a possibilidade de controle de doenças de raízes pela aplicação do produto por 
via foliar. 
 
9. ( ) A toxicidade seletiva, que é requerida aos sistêmicos, varia com a espécie de planta e o 
patógeno envolvidos. 
 
10. ( ) A decomposição enzimática e a diluição do produto na planta são os fatores que reduzem a 
efetividade dos sistêmicos nas plantas. 
 
 24 
 11. ( ) Uma das vantagens dos fungicidas sistêmicos é o seu efeito erradicante e curativo, livrando 
os tecidos das plantas de infecções fúngicas e bacterianas e conferindo período de proteção maior 
que os protetores. 
 
12. ( ) Quando se emprega fungicidas protetores, requer-se cobertura mais uniformes das gotas na 
superfície foliar do que quando se empregam sistêmicos. 
 
13. ( ) A penetração ou movimento translaminar de sistêmicos está mais ligada a diferenças entre 
espécies de plantas do que propriamente à espessura da cutícula. 
 
14. ( ) Grande quantidade de ingrediente ativo dos sistêmicos é absorvida pela face superior das 
plantas, pelo fato de este apresentar maior número de estômatos, do que a face inferior. 
 
15. ( ) A penetração dos sistêmicos é influenciada pelo pH, grau de solubilidade e concentração dos 
produtos, mas não é alterada pelo tipo de formulação. 
 
16. ( ) As formulações em concentrado emulsionável e as dispersas em óleo podem aumentar a 
penetração do ingrediente ativo dos sistêmicos na superfície foliar, mas estes tipos de formulações 
apresentam uso limitado. 
 
17. ( ) A função dos óleos nas formulações com sistêmicos é aumentar a efetividade dos fungicidas; 
isto é obtido porque está definitivamente comprovado que os óleos causam mudanças na estrutura 
da suberina e da camada de cera que representam as principais barreiras à entrada dos pesticidas. 
18. ( ) Quando os sistêmicos são aplicados ao solo, podem não controlar doenças na parte aérea 
devido sofrerem decomposição e diluição na planta. 
 
19. ( ) A penetração nas raízes dos sistêmicos ocorre via simplasto; contudo a faixa de Caspary e a 
camada de suberina e lignina na parede das células da endoderme podem impedir o movimento. 
 
20. ( ) O grau de solubilização dos sistêmicos na camada de lipídios, nas raízes das plantas, é fator 
importante na absorção dos fungicidas; contudo o alto grau de solubilização não implica 
necessariamente em alta capacidade de absorção. 
 
21. ( ) Um dos trabalhos pioneiros de demonstração de penetração de fungicidas sistêmicos no interior 
das sementes foi feito por Von Schmeling e Kulka, em 1966, com carvão do milho. 
 
22. ( ) O tratamento de sementes com sistêmicos apresenta a vantagem de erradicar fitopatógenos no 
seu interior, nas radículas e nas partes aéreas, após a germinação e o crescimento das plantas. 
 
23. ( ) O surgimento de populações resistentes em fungos fitopatogênicos ocorre comumente pela 
aplicação de sistêmicos indiscriminadamente; tal fenômeno tem sido verificado em condições de 
laboratório e no campo. 
 
 25 
 24. ( ) A resistência aos sistêmicos tem surgido pelo fato de estes compostos possuírem modo de 
ação generalizado, em opostos aos protetores, que são específicos. 
 
25. ( ) A falta de afinidade pelo sítio de ação, decréscimo na permeabilidade da membrana do 
protoplasma e conversão em compostos não tóxicos (desintoxicação) explicam, em parte, a 
aquisição de resistência aos sistêmicos. 
 
26. ( ) As mutações genéticas explicam todos os casos de aquisição de resistência. 
 
27. ( ) Na natureza, a pressão de seleção exercida pelos sistêmicos não é fator importante no 
surgimento de populações resistentes. 
28. ( ) Os produtos sistêmicos devem ser recomendados no controle de doenças de plantas, mesmo 
que haja protetores eficientes no comércio, porque são, geralmente, usados em baixas dosagens e a 
menores intervalos de aplicação. 
 
29. ( ) As populações resistentes dos fitopatógenos tendem a desaparecer ou reduzir, quando se 
paralisa aplicação de sistêmicos; de modo geral, seis meses são necessários para que formas 
resistentes desapareçam da população. 
 
30. ( ) O surgimento de populações resistentes independe da dosagem e do tipo de fungicida.

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