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1 www.g7juridico.com.br DELEGADO CIVIL Silvio Maciel Direito Penal Aula 1 ROTEIRO DE AULA BIBLIOGRAFIA: Cleber Masson • 1- Lei Penal ➢ obs. Fontes do direito penal o a) Fonte material (fonte de produção; fonte substancial) ▪ É o Estado ▪ Somente o Estado pode produzir direito penal ▪ No Brasil, somente a União pode produzir direito penal ▪ art. 22, I da CF/88 (Privativo da União legislar sobre direito penal)1 - Exceção à essa regra: art. 22, parágrafo único – estados membros podem legislar sobre questões específicas em direito penal (interesse local do estado membro) o b) Fonte formal (fonte de conhecimento; fonte de cognição) ▪ b.1) imediata - Lei penal 1 art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; [...] Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. 2 www.g7juridico.com.br ▪ b.2) mediatas - Costumes - Princípios gerais do direito ➢ 1.1- Lei Penal o a) espécies de leis penais ▪ a.1) leis penais incriminadoras (normas penais incriminadoras; tipos penais incriminadores) - Criam a infração penal e preveem a respectiva sanção penal - Antes da lei incriminadora, o fato era atípico - Torna o fato atípico em fato típico - Lembre-se que é privativo da União legislar sobre direito penal incriminador ▪ a.2) leis penais não incriminadoras - i) leis penais não incriminadoras permissivas: autorizam a prática de uma determinada conduta em determinadas circunstâncias; Leis que tratam das excludentes de ilicitude; excludentes de culpabilidade; excludentes de punição ex. art. 23 do CP2; art. 25 do CP3 - ii) leis penais não incriminadoras explicativas (complementares; interpretativas): trazem conceitos penais; ex. art. 327 do CP4 (conceito penal de funcionário público); art. 36 da Lei 9.605/98 (conceito penal de pesca) - iii) leis penais não incriminadoras de aplicação (finais): estabelecem o campo de aplicação e validade das leis penais incriminadoras (campo de incidência; validade; abrangência); ex. art. 5º d o CP5 (territorialidade) 2 Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - em estado de necessidade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) II - em legítima defesa; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. 3 Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. 4 Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. 5 Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional. 3 www.g7juridico.com.br - iv) leis penais não incriminadoras integrativas (de extensão): tratam da tentativa, da omissão imprópria e da participação; (obs. assunto detalhado na aula de tipicidade) o b) lei penal em branco (norma penal em branco; norma cega; norma aberta) ▪ b.1) lei penal completa (perfeita) - Tipo penal que contém todos os elementos da conduta típica - ex. art. 1216; art. 1557; todos do CP ▪ b.2) lei penal incompleta (imperfeita) - Tipo penal que não possui todos os elementos da conduta típica - Por essa razão, precisa ser complementada (integrada) por outra norma jurídica ou pela atividade interpretativa do juiz - b.2.1) norma penal em branco: Norma que precisa ser complementada por outra norma jurídica - b.2.2) tipo penal aberto: Norma que precisa ser complementada pela atividade interpretativa do juiz Lembre-se que o juiz não é mero aplicador da lei; juiz também cria norma jurídica (norma jurídica do caso concreto) ao interpretar a lei e ao fazer a aplicação dela em determinado caso concreto ▪ Norma penal em branco - i) norma penal em branco em sentido lato (homogênea): Quando a norma for complementada por outra lei Homogênea pois é a mesma espécie normativa que a complementa (lei complementada por outra lei) ex. art. 236 do CP8 (esse tipo penal é complementado pelo CC/02 que define quais são os impedimentos para o casamento) - ii) norma penal em branco em sentido estrito (heterogênea) Quando a norma for complementada por outra norma jurídica diversa da lei ex. decreto; portaria; resolução; ou qualquer outro ato normativo diferente da lei 6 Art. 121. Matar alguem: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. 7 Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. 8 Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior: 4 www.g7juridico.com.br ex. art. 16 do Estatuto do desarmamento9 (remete para decreto para checar o rol de quais armas são de uso restrito ex. 2. tráfico de drogas (portaria relaciona quais as drogas proibidas) - Obs. note que a norma penal em branco possui o preceito primário incompleto e o preceito secundário completo Preceito primário – descrição da conduta criminosa Preceito secundário – descrição da pena - iii) norma penal em branco ao avesso Possui o preceito primário completo e o preceito secundário incompleto ex. art. 1º da Lei 2.889/5610 (há a descrição do que é genocídio, mas a pena é remetida para outra norma) ▪ obs. a revogação do complemento da norma penal em branco retroage para beneficiar o réu? - R- Depende - Se o complemento foi revogado em razão de o fato ter deixado de ser reprovável (deixou de merecer proteção penal): SIM, retroagirá para beneficiar o réu - Se o complemento foi revogado apenas por terem cessadas as circunstâncias excepcionais que o justificava: NÃO retroagirá para beneficiar o réu - ex. art. 33 do da Lei de drogas11 (é complementada pela portaria 344 do Ministério da Saúde que traz o rol de drogas) – supondo que essa portaria seja revogada/alterada para excluir a maconha em razão de estudos que provam que a substância não faz mal para a saúde (servindo como medicamento em alguns casos); essa alteração da maconha retroage para beneficiar o réu (quem está preso por tráfico de maconha se livrará do processo) – veja que vender maconha deixou de ser um fato reprovável - ex. 2. Durante período de grave crise econômica, o Governo edita portaria tabelando os preços da cesta básica; durante a vigência dessa portaria, um comerciante desrespeita a tabela e vende os produtos acima do preço 9 Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 10 Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal: [...] Será punido: Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a; Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b; Com as penas do art. 270, no caso da letra c; Com as penas do art. 125, no caso da letra d; Com as penas do art. 148, no caso da letra e; 11 Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:5 www.g7juridico.com.br tabelado; crime do art. 2º, VI da Lei 1.521/5112; dois meses depois, a economia se recupera e o Governo revoga a portaria, liberando os preços; a revogação dessa portaria não retroage para beneficiar o réu; o comerciante não será beneficiado – veja que a conduta não deixou de ser reprovável (vender mercadoria acima do preço tabelado pelo Governo continua sendo fato típico), a portaria apenas foi revogada pois passou a crise econômica - Obs. a doutrina aduz que se o complemento tem natureza de norma permanente, ele retroage; - Obs. 2. Se o complemento tem natureza de norma excepcional/temporária, não retroage ➢ 1.2 – Costumes o Costume é um comportamento realizado por todas as pessoas, de forma repetida e constante, de tal forma que passa a ser respeitado e visto como se fosse obrigatório o ex. filas; o Costume é composto de dois elementos: ▪ i) Objetivo: Repetição/reiteração de sua prática ▪ ii) Subjetivo: Convicção de sua obrigatoriedade o O costume não pode criar infrações ou sanções penais: ▪ Não existe o costume incriminador no direito brasileiro ▪ Direito romano-germânico (estrito) adotado no país ▪ O juiz não pode considerar como crime um comportamento repudiado pelos costumes se esse comportamento não estiver tipificado em lei como crime ▪ ex. assoviar para mulher casada viola os bons costumes, mas não é crime o O costume não pode ser utilizado como justificativa para o descumprimento de uma lei: ▪ Não existe o costume “contra legem” no direito brasileiro ▪ ex. jogo do bicho (contravenção) pode ser punido, mesmo que faça parte do costume brasileiro realizar essa prática; vendedor ambulante que vende CD pirata pode ser punido, ainda que a compra de CD pirata seja um costume do brasileiro ▪ Costume não revoga norma penal incriminadora ▪ obs. O Professor Sílvio entende que: jogar no bicho não é um costume; comprar CD pirata não é um costume: note que costume é algo que se entende obrigatório; essas condutas mencionadas não são obrigatórias e, portanto, não são costumes; tratam-se de hábitos 12 art. 2º, [...] VI - transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à venda ou oferecer ao público ou vender tais gêneros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado, assim como não manter afixadas, em lugar visível e de fácil leitura, as tabelas de preços aprovadas pelos órgãos competentes; 6 www.g7juridico.com.br - Costume é considerado algo obrigatório (como se fosse obrigatório), enquanto o hábito é algo repetido, mas que não é visto como obrigatório ➢ 1.3- Princípios gerais do direito o São premissas gerais extraídas do ordenamento que servem para interpretação e aplicação da lei e que também podem ser utilizados em favor do réu o Nunca poderão ser usados contra o réu o ex. princípio da insignificância ➢ 1.4- Analogia o Aplicação de uma lei na ausência de outra lei que regula o caso concreto o São uma forma de autointegração ou colmatação ou complementação da lei o Analogia não é fonte do direito o A doutrina diz que existem duas espécies: ▪ a) analogia legal (analogia “legis”): A lacuna é suprida por uma outra lei ▪ b) analogia jurídica: A lacuna é suprida pela aplicação de um princípio geral do direito o Somente pode ser utilizada em benefício do infrator (não existe analogia incriminadora) o A analogia somente pode ser utilizada quando há uma lacuna involuntária da lei ▪ Quando o legislador “esqueceu” de regular/tratar o assunto ▪ Não previu a hipótese quando estava elaborando a lei ▪ A analogia não pode ser utilizada quando ocorre o silencio eloquente da lei: - Silêncio eloquente: o legislador, propositalmente, não quis incluir determinada situação no âmbito de incidência da lei o O juiz não pode deixar de aplicar uma lei para aplicar outra que entende ser mais adequada ao caso concreto ▪ Nesse caso não há lacuna que autorize o uso de outra lei ▪ ex. no crime de furto o concurso de pessoas dobra a pena; no crime de roubo o concurso de pessoas somente aumenta a pena de 1/3 a metade; alguns doutrinadores dizem que não pode ocorrer essa diferenciação, já que no crime menos grave a pena é maior – entendem, então, que o juiz deve aplicar a causa de aumento de pena prevista para o roubo no furto; ▪ No exemplo, entende-se que essa prática não pode ocorrer, visto que o juiz não pode deixar de aplicar a qualificadora do concurso de pessoas do furto por achar melhor aplicar a causa de aumento de pena do roubo 7 www.g7juridico.com.br ▪ Veja que, no exemplo, trata-se de uma deficiência da lei e não uma lacuna. Essa deficiência deve ser corrigida pelo legislador e não pelo juiz • 2. Infração penal ➢ Infração penal é gênero ➢ Sistema bipartido (infração dividida em duas espécies) o Crime (sinônimo de delito) o Contravenção penal ➢ Sistema tripartido (infração dividida em três espécies) o Crime o Delito o Contravenção penal ➢ Brasil adota o sistema bipartido ➢ Diferenças entre crime e contravenção penal: o obs. ontologicamente não há diferenças: ▪ Na essência não há diferenças ▪ Ambos são infrações penais ▪ Ambos são violações da lei penal ▪ Ambos são ilícitos penais o ATENÇÃO: existem diferenças jurídicas: Crime (sinônimo de delito) Contravenção penal 1) pena: reclusão ou detenção cumuladas ou não com multa (Art. 1º da Lei de introdução ao código penal)13 1) pena: prisão simples, cumulada ou não com multa; ou apenas multa (art. 5º da Lei de contravenções penais – LCP)14 13 Art 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. 14 Art. 5º As penas principais são: I – prisão simples. 8 www.g7juridico.com.br Obs. há doutrina que sustenta que o art. 28 da Lei de drogas não é nem crime nem contravenção. Aduzem isso em razão de não ter nenhuma dessas penas citadas (reclusão, detenção, prisão simples e multa) – esse artigo é infração penal “sui generis"15 2) tentativa é punida 2) tentativa não é punida (Art. 4º da LCP)16 Obs. existe tentativa de contravenção. Apenas não é punida por questão de política criminal (opção do legislador) 3) ação penal: admite todas as espécies de ação penal (pública incondicionada.; pública condicionada; privada) 3) ação penal: SOMENTE existe ação pública incondicionada Obs. há doutrina que diz que a contravenção de vias de fato é de ação pública condicionada a representação. Justificam isso no fato de a lesão leve depender de representação e, portanto, a mera contravenção de vias de fato também deve depender de representação (princípio da proporcionalidade) – trata-se de corrente minoritária; o art. 17 da LCP17 diz que toda contravenção penal é de ação pública incondicionada. 4) extraterritorialidade: existe É possível aplicar a lei penal brasileira para um crime ocorrido fora do Brasil 4) extraterritorialidade: NÃO há Não é possível aplicar a lei penal brasileira para uma contravenção ocorrida fora do Brasil (Art. 2º da LCP)18 5) tempo máximo de prisão: tempo máximo de 40 anos (mudança apresentada pelo pacote anticrime – art. 75 do CP – alteração irretroativa)19 Obs. súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é considerada para a 5) tempo máximo de prisão: tempo máximo de 5 anos (art. 10 da LCP)20 II – multa. 15 Por isso há doutrina que sustentam que existem 3 tipos de infrações penais no Brasil: crime, contravenção e infração “sui generis”. Essa corrente é minoritária (por todos,Luiz Flávio Gomes) 16 Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção. 17 Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício. 18 Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional. 19 Art. 75. O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 40 (quarenta) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 20 Art. 10. A duração da pena de prisão simples não pode, em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos. 9 www.g7juridico.com.br concessão de outros benefícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável de execução” Ex. indivíduo condenado em 200 anos de prisão. A progressão de regime será calculada sobre os 200 anos e não sobre o tempo máximo de 40 anos. 6) competência: justiça estadual e justiça federal 6) competência: apenas na justiça estadual (ainda que atinja interesse da União) Art. 109 da CF/88 aduz que justiça federal não julga contravenção penal Obs. existe alguma situação em que a justiça federal julga contravenção penal? R- Sim, se o contraventor tem foro especial na justiça federal (ex. se o contraventor for um juiz federal) O Critério de fixação de competência em razão da pessoa do infrator prevalece sobre o critério em razão da matéria 7) necessário dolo ou culpa – teoria finalista 7) basta ação ou omissão voluntária (ainda que desprovida de qualquer finalidade) – A LCP adota a teoria causalista Obs. para a maioria da doutrina, a LCP está tacitamente revogada, nesse ponto, pela reforma penal de 84 que passou a adotar a teoria finalista 8) prazo da medida de segurança: prazo mínimo de 1 a 3 anos; 8) prazo da medida de segurança: prazo mínimo de 6 meses • 3 – Conflito aparente de normas ➢ 3.1 – Conceito o Há conflito aparente de normas quando, para o mesmo crime, aparentemente incidem duas ou mais normas penais o Veja que se fala em “aparentemente”: pois jamais duas ou mais normas podem incidir sobre o mesmo crime ▪ No direito penal é vedado o “bis in idem” (dupla punição pelo mesmo fato) o Esse conflito é meramente aparente pois é solucionado por 4 princípios que determinam qual a norma ser aplicada no caso concreto: princípios solucionadores do conflito aparente de normas 10 www.g7juridico.com.br ➢ 3.2 – Elementos (há o conflito aparente de normas quando): o a) unicidade de fatos: um só fato criminoso o b) pluralidade de normas incidentes: pluralidade de normas que são aptas a incidir no fato criminoso o c) efetiva aplicação de apenas uma dessas normas incidentes ➢ 3.3- Princípios o a) princípio da especialidade ▪ Resolve o conflito entre norma geral e norma especial ▪ Existe, entre a norma geral e especial, uma relação de gênero e espécie ▪ Ou seja, será aplicada sempre a norma espécie (especial) e não a norma gênero (geral) ▪ Na comparação entre a norma geral e a norma especial é feita em abstrato: - Não precisa que ocorra o fato criminoso (fato concreto) para identificar qual a norma geral e qual a norma especial - A identificação é feita em abstrato - É feita pela simples comparação abstrata entre as normas - Ex. homicídio (matar alguém) e infanticídio (matar sob estado puerperal o próprio filho); veja que a segunda se trata de hipóteses específica da primeira (sabe-se disso sem precisar que ocorra o fato concreto) ▪ obs. 1. A norma especial não é, necessariamente, a norma mais grave - A norma especial prevalece sobre a geral, ainda que seja mais leve (menos grave) ▪ obs. 2. A norma especial não precisa ser posterior a geral - A norma especial prevalece ainda que a norma geral surja depois ▪ obs. 3. A norma especial não é a que, necessariamente, está na parte especial do CP - Pode estar na parte geral, especial ou lei penal especial o b) princípio da subsidiariedade ▪ A norma primária prevalece sobre a norma subsidiária ▪ A norma subsidiária (norma famulativa) é aquela que descreve um crime que já é elemento ou forma de execução de uma outra infração mais grave ▪ ex. art. 147 do CP21 descreve o crime de ameaça; a ameaça é elemento/forma de execução do crime de roubo; o tipo penal de ameaça é uma norma subsidiária em relação ao crime de roubo 21 Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: 11 www.g7juridico.com.br ▪ A norma subsidiária descreve um grau menor de violação ao bem jurídico do que a norma primária ▪ A comparação somente pode ocorrer em concreto: - Somente pode dizer qual norma será aplicada, no caso concreto - Ex. se uma pessoa aponta arma para outra; somente poderá dizer se é ameaça ou roubo no caso concreto ▪ Essa subsidiariedade pode ser: - i) expressa (explícita) – quando o próprio tipo penal (própria norma subsidiária) se diz subsidiária (dispõe que somente será aplicada se o fato não constituir crime mais grave) ex. art. 15 do estatuto do desarmamento22 - ii) tácita (implícita) – a subsidiariedade é analisada no caso concreto o c) princípio da consunção/absorção ▪ Fato mais grave absorve os fatos menos graves que foram praticados como preparação, execução ou exaurimento desse fato mais grave ▪ ex. indivíduo pula em uma casa, arromba a porta e subtrai objetos; o fato mais grave –furto- absorve os fatos menos graves (violação de domicílio e dano) que constituírem fases da execução do fato mais grave do furto ▪ Diferença entre o princípio da consunção e da especialidade: - no princípio da especialidade são comparadas normas em abstrato para verificar qual a especial e qual a geral - no princípio da consunção são comparados fatos, no caso concreto, para verificar qual é mais grave e qual prevalece sobre os demais ▪ Prevalece o entendimento de que, pelo princípio da consunção, o fato mais grave absorve o menos grave. Entretanto, o contrário não é possível (o fato menos grave absorver o fato mais grave): - Essa regra não é absoluta - A jurisprudência já admitiu que o crime menos grave absorvesse o mais grave - Ex. Súmula 17 do STJ 23(crime de estelionato absorve o de falsidade documental) Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: 22 Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: 23 Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido 12 www.g7juridico.com.br o d) hipóteses de consunção (consunção ocorre): ▪ Crime progressivo ▪ Progressão criminosa ▪ Crime complexo ou composto
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